Governo lança hoje plano para salvar empresas em risco que promete congestionar tribunais Publico, 08-02-2012 Programa poderá aumentar casos de recuperação, num momento em que as insolvências continuam a disparar. Mas falta ainda resolver problemas de base O Governo vai apresentar hoje o programa Revitalizar, que permitirá às empresas em dificuldades desenhar um plano de recuperação financeira, com o consentimento dos credores. A reforma, que pretende travar a escalada das insolvências e o encerramento de sociedades em Portugal, promete, no entanto, congestionar ainda mais os tribunais. E não há administradores judiciais suficientes para acompanhar estes novos processos. O programa, que foi aprovado em Conselho de Ministros em Janeiro, e que faz parte do rol de exigências das autoridades externas, será apresentado hoje pelo ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, e pela ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz. Trata-se da solução encontrada para aumentar os casos de recuperação de empresas, que actualmente representam cerca de 1% dos processos de insolvência no país. Na prática, as empresas que se encontrem em dificuldades vão poder negociar directamente com os credores um plano de viabilização, que, se for aceite, poderá evitar que sigam para a insolvência e, no limite, António Pragal Colaço & Associados – Sociedade de Advogados Rua Rodrigues Sampaio, n.º 96, R/C Esq. 1150-281 Lisboa Tel.: 21 355 39 40 / Fax: 21 355 39 49 [email protected] / www.apcolaco.com 1 para a liquidação. Porém, essa negociação terá sempre de passar pelos tribunais, necessitando, por exemplo, da autorização de um juiz. E, por isso, teme-se que aumente o congestionamento que hoje já se verifica. Os tribunais têm tido dificuldades em lidar com a escalada dos processos de insolvência. Os dados mais recentes, referentes ao terceiro trimestre do ano passado, mostram que, nesse período, o número de casos pendentes subiu 25% face a 2010. A esperada adesão ao programa Revitalizar promete entupir ainda mais a Justiça. Revisão em curso Este não é, porém, o único problema que o Governo terá de resolver quando o programa avançar, com a entrada em vigor do novo Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CI- RE), que foi aprovado na generalidade no Parlamento, mas que terá ainda de passar na especialidade. É que não há, em Portugal, administradores judiciais suficientes para tratar estes novos processos. Tal como acontece com as insolvências, terão de ser nomeados pelos tribunais gestores para acompanhar os planos de revitalização e os concursos de admissão de novos profissionais estão parados desde 2004. Também falta ainda resolver a questão das nomeações destes administradores, que, ao contrário do que estava previsto, não estão a ser feitas aleatoriamente. O PÚBLICO sabe que o Ministério da Justiça está a preparar uma revisão do Estatuto do Administrador da Insolvência, que regulamenta as António Pragal Colaço & Associados – Sociedade de Advogados Rua Rodrigues Sampaio, n.º 96, R/C Esq. 1150-281 Lisboa Tel.: 21 355 39 40 / Fax: 21 355 39 49 [email protected] / www.apcolaco.com 2 admissões e as nomeações. Só quando este trabalho estiver finalizado é que poderá ficar assegurado o acompanhamento dos processos que vão surgir do programa Revitalizar. Na resolução publicada a 3 de Fevereiro, o Governo explicava que este novo programa vai ser gerido por uma comissão interministerial, que abrangerá quatro ministérios: Economia, Justiça, Finanças e Solidariedade Social. Caberá aos seus elementos apresentar, até ao início do próximo mês, o primeiro conjunto de iniciativas que vão pôr em marcha Revitalizar. Uma delas prevê uma mudança de paradigma na relação do fisco e da Segurança Social com as empresas devedoras, já que o Estado passará a articular a sua posição no que diz respeito à aprovação ou rejeição dos planos de recuperação, tendo de aceitá-los caso estes recebam luz verde da maioria dos credores. Além disso, serão criados fundos de apoio à revitalização, conforme noticiou o Jornal de Negócios. Poderão candidatar-se ao Revitalizar empresas em dificuldades que consigam convencer os credores da possibilidade de viabilização. De acordo com declarações recentes do ministro da Economia, terão “dois ou três meses” para desenharem esse plano e conseguirem a sua aprovação. António Pragal Colaço & Associados – Sociedade de Advogados Rua Rodrigues Sampaio, n.º 96, R/C Esq. 1150-281 Lisboa Tel.: 21 355 39 40 / Fax: 21 355 39 49 [email protected] / www.apcolaco.com 3