700 empresas já fecharam este ano
ILÍDIA PINTO
Número de processos cresceu 15% face a igual período de 2009. Maioria dos casos são no
Porto e Lisboa.
708 empresas portuguesas pediram a insolvência só nos primeiros dois meses deste ano. São
mais 91 (14,75%) do que em igual período de 2009, altura em que havia 617 processos a correr
nos tribunais. E é quase o dobro dos 397 casos existentes no final de Fevereiro de 2008, de
acordo com os dados divulgados pelo Instituto Informador Comercial, a que o DN teve acesso.
O comércio por grosso e a retalho, com 177 pedidos de insolvência, lidera a lista de sectores
em dificuldades. Mas as actividades ligadas à construção civil e à promoção imobiliária (154
empresas) e a indústria têxtil e do vestuário (77) também não escaparam às crescentes
dificuldades das empresas em manterem as portas abertas, devido à recessão no consumo e
às dificuldades no crédito.
A surpresa é o crescente número de empresas a pedirem insolvência em áreas que
tradicionalmente enfrentam melhor os ciclos negativos da economia. É o caso do aluguer de
automóveis (cinco pedidos contra apenas dois no mesmo período do passado) e até as
actividades de colocação de emprego, onde há agora seis empresas em processo insolvência
quando há um ano atrás se registavam apenas duas.
"Tínhamos a sensação que este princípio de ano ia ser complicado. Toda a gente se queixou
das vendas de Natal, o que não admira atendendo à desregulamentação do sector que leva a
que se façam saldos e promoções constantes e que esmagam de forma brutal as margens das
PME. Só podia ter este resultado", diz Vasco de Mello, presidente da União das Associações do
Comércio e Serviços (UACS).
Estes são números "extremamente preocupantes" e que vêm "provar a inoperacionalidade dos
apoios estatais". Mas, ironiza Vasco de Mello, o secretário de Estado do Comércio "deve dispor
de dados diferentes porque ainda esta semana, na Assembleia da República, disse que o
comércio tem resistido bastante bem à crise e deu como exemplo da vitalidade do sector a
abertura do Ikea de Loures".
Para o presidente da UACS a situação é tanto mais preocupante quanto é certo que "se gera
aqui um ciclo vicioso, porque quanto maior for o número de falências maior é o desemprego e
quanto mais crescer o desemprego, menor é o consumo".
A solução terá de passar "pela reabilitação e reconstrução dos centros urbanos e pelo repensar
de toda a política económica r do direito do trabalho". Vasco de Mello considera que "a
liberalização dos grandes espaços comerciais vai, necessariamente, ter de ser repensada
atendendo a que as grandes superfícies têm um grande peso económico mas só asseguram
10% do emprego". Ou seja, o desaparecimento do comércio tradicional põe em causa 720 mil
postos de trabalho, lembra.
O Porto é o distrito em alerta vermelho: 154 empresas pediram insolvência só em Janeiro e
Fevereiro. Mesmo assim, são menos nove pedidos que no ano passado. Lisboa regista 109
empresas em dificuldades, quase 10% menos que nos primeiros dois meses de 2009.
A situação também melhorou nos distritos de Braga, com 98 processos de insolvência (menos
10 do que há um ano), e em menor escala em Bragança, Leiria, Santarém, Açores e Madeira
(ver infografia).
Em contrapartida, Évora mais do que duplicou os casos de empresas em dificuldades, de seis
passaram para 15, enquanto Setúbal, uma das regiões mais afectadas pelo desemprego, viu o
seu tecido empresarial igualmente fragilizado, com mais seis empresas em processo de
insolvência, num total de 22. Viseu tem 16 e Viana do Castelo 11.
E, como lembra Reis Campos, da indústria de construção, "os processos de insolvência são
lentos e os números pecam sempre por defeito. Se nada for feito vão agravar-se muito mais".
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