Coluna Agronegócios O Alimentando o mundo em 2050 mundo tem os recursos e a tecnologia necessários para erradicar a fome e assegurar comida para alimentar a população, no longo prazo, apesar dos múltiplos desafios e inúmeros riscos. Para tanto, será necessário mobilizar a vontade política e construir as instituições necessárias para garantir que as principais decisões sobre investimento e políticas de erradicar a fome serão tomadas e implementadas de forma efetiva. Estima-se que, em 2050, a população mundial atingirá 9,1 bilhões, 34% maior que hoje. Quase todo esse aumento populacional ocorrerá nos países em desenvolvimento. A urbanização vai continuar em um ritmo acelerado, e aproximadamente 80% da população do mundo será urbana (em comparação com 50% em 2011). Para alimentar uma população maior, mais urbana, mais rica, mais idosa e mentos. Portanto, políticas públicas de emprego e renda, de inclusão social, de garantia de acesso à alimentação necessitarão ser implementadas e este aspecto tem se mostrado mais resiliente e difícil de atingir que aumentar a produção mundial de alimentos. 2. Incremento da produtividade - Será cada vez mais difícil incorporar novas áreas para a produção agropecuária, ao mesmo tempo em que a agricultura será demandada a atender não apenas a demanda de alimentos, porém uma plêiade de utilidades sociais, como energia, fitoterápicos, fibras, produtos madeireiros ou insumos para a indústria química. Para tanto, avanços ponderáveis deverão ocorrer na geração de novas tecnologias apropriadas, bem como deverá aumentar a velocidade de transmissão de conhecimentos para o sistema produtivo, lizar a exposição ao risco da agropecuária com outras atividades econômicas, são necessárias políticas públicas, como oferta adequada de crédito, com taxas de juros compatíveis; seguro agrícola contra riscos climáticos e seguro renda para proteção contra oscilações do mercado; garantias de comercialização e de escoamento da produção. 5. Redução de perdas - Estima-se que aproximadamente um terço da produção mundial de alimentos seja perdida entre o momento do plantio e a mesa do consumidor. Durante o processo produtivo, tecnologias necessitam ser desenvolvidas e adotadas para reduzir as perdas por fatores bióticos (pragas) ou abióticos (seca, alagamento, deficiência nutricional) e minimizar as perdas na colheita. Após a porteira programas devem ser delineados e implementados para reduzir à metade (ou ainda menos Nosso país deverá apresentar o maior crescimento, em escala global, tanto na produção quanto na comercialização no mercado internacional, de produtos agrícolas em geral melhor informada, a produção de alimentos deve aumentar em, no mínimo, 70%, porque incluirá a parcela da população hoje à margem do mercado, em estado de fome endêmica ou, no mínimo, de deficiência nutricional. A produção anual de cereais deverá atingir cerca de três bilhões de toneladas (contra 2,1 bilhões de hoje) e a produção de carne deverá aumentar das atuais 200 milhões para 470 milhões de toneladas. Os cinco desafios 1. Acesso à alimentação - Apenas produzir mais alimentos não garante que a fome será erradicada do mundo. Desde a década de 1980 a FAO tenta comprometer os países membros com programas de erradicação da fome no mundo, estabelecendo metas e cronogramas que são sistematicamente descumpridos. Como resultado, a fome no mundo tem aumentado, tanto em termos relativos (proporção da população) quanto em termos absolutos. A estimativa é que entre 800 milhões e um bilhão de pessoas sofrem algum grau de restrição alimentar. O problema central não é a oferta de alimentos, porém, o acesso à alimentação, em especial os meios financeiros para adquirir ali- e a sua consequente adoção. Atenção: não basta gerar novas tecnologias, estas devem ser sustentáveis por qualquer ângulo que se examine, seja no aspecto ambiental, social ou econômico. 3. Infraestrutura - Não basta produzir, é necessário levar a produção aos locais de consumo. Antes disso, obviamente os insumos agrícolas necessitam ser transportados aos locais de produção. Para tanto, necessita-se de logística e infraestrutura adequada. Os países ricos já dispõem da infraestrutura necessária. Porém, nos países emergentes, onde deverá ocorrer 80% do aumento da produção agrícola nos próximos 40 anos, esta infraestrutura é precária e está muito longe de atender às necessidades. O Brasil é um exemplo didático do descasamento entre o alto potencial do agronegócio e a deficiente infraestrutura disponível, porém o quadro se repete em outros países com potencial agrícola, em especial na África. 4. Políticas de apoio - Entre as atividades econômicas legais, a agropecuária é a que apresenta a maior taxa de risco, devido à imponderabilidade do clima, ao ataque de pragas ou às flutuações abruptas de preços de insumos ou dos produtos agrícolas. Para equa- que isto) as perdas na colheita, no transporte, na armazenagem, nos canais de distribuição, nos restaurantes e nos lares. Brasil Nosso país deverá apresentar o maior crescimento, em escala global, tanto na produção quanto na comercialização no mercado internacional, de produtos agrícolas em geral, mormente alimentos. Destaque deve ser dado à dobradinha soja e milho e ao conjunto de proteínas animais (gado, frangos e suínos). Ao mesmo tempo, o Brasil caminha para consolidar-se como o grande ícone da produção e uso de agroenergia, tanto no segmento de biocombustíveis quanto de bioeletricidade. Paralelamente, os negócios florestais estarão em alta nas próximas décadas, devido às estimativas de incremento espetacular na demanda internacional de produtos florestais. Quero crer que nunca antes na história do agronegócio deste país vivemos uma perspectiva de negócios florescentes como a que se descortina para as C próximas décadas. Décio Luiz Gazzoni Assessor da SAE/Presidência da República www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2011 37