CARTA A MARIA CLÉA Maria Ângela Alvim (1926-1959) Embora faça sol, a dor oprime a altura. Converso com você, mas sei que e conjetura. E sendo aqui montanha, verdade aprofundo: Por quê? Por que nos nutrirmos deste mundo? Deste mundo, exílio, — porta de nossas perdas onde o tempo nos soma pelas horas esquerdas. Não sabemos talvez, ou em saber não bastamos que o mundo é sedento e nós o desalteramos. Secam rios de pranto onde a sede se apura e deságua o labirinto de uma carne obscura. É preciso nos nutrirmos deste mundo, — quantos somos, sirvamos à sua fome, — fome de tantos.