Desafios e demandas para o agronegócio: o engenheiro agrônomo do futuro
Antonio Roque Dechen *
Qual seria o cenário politico e econômico do Brasil se não tivéssemos a
produção de alimentos que temos hoje? A agricultura e a agroindústria formam
um dos segmentos mais complexos e dinâmicos da nossa economia. A recente
crise mundial e, principalmente a brasileira, evidenciam a importância do
agronegócio em nossa sustentabilidade e estabilidade econômicas. Este ano a
produção de grãos deverá superar a marca de 200 milhões de toneladas,
colocando o Brasil no seleto grupo de países que produzem uma tonelada de
grãos por habitante (segundo dados da Agrocunsult/2015).
Nos acostumamos tão rapidamente com o sucesso do agronegócio brasileiro
que temos a impressão de que sempre foi assim. Não nos lembramos de como
era a nossa agricultura nos anos 70, época em que 35% população era rural e
65% urbana. Hoje a população rural é de 13% e a urbana 87%, e a produção
de alimentos aumentou consideravelmente. A que devemos o
desenvolvimento, sucesso e eficiência da agricultura brasileira?
O ensino e pesquisa agrícola no Brasil tiveram inicio com a inauguração da
Escola Imperial de Agronomia da Bahia em 1877 e da Estação Agronômica de
Campinas em 1887 pelo Imperador D. Pedro II, instituições essas pioneiras em
ensino e pesquisa e ainda jovens, 138 e 128 anos, respectivamente.
A revolução verde de Norman Borlaug nos anos 70, com o desenvolvimento de
novas variedades de milho, com respostas a adubação, mudaram o cenário
mundial de produção de alimentos. No Brasil, a conquista dos cerrados, uma
das últimas fronteiras agrícolas, graças à transferência dos resultados de
pesquisa, estabeleceu com sucesso a integração lavoura e pecuária. A adoção
do sistema de plantio direto no Paraná mudou os paradigmas da agricultura
brasileira. Hoje a agroenergia e os avanços da biotecnologia estão
transformando e ampliando as oportunidades na agricultura e na bioindústria.
O Brasil, pela sua extensão territorial, disponibilidade de água, biomas diversos
e condições climáticas favoráveis para a produção agrícola com grande
diversidade de culturas, tem merecido atenção internacional, tornando-se
referência na geopolítica da produção agrícola mundial.
Hoje o mundo exige a produção agrícola com sustentabilidade e rastreabilidade
associadas à adequação ambiental. Portanto, para o Brasil se firmar nas
posições de lideranças da produção agrícola será necessário também que seja
líder na adoção de ações de sustentabilidade.
A Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG), em recente congresso, adotou
o tema “Sustentar é integrar”. Na abertura do evento, o presidente da
Embrapa, Maurício Antonio Lopes, fez uma brilhante abordagem do “Futuro sob
a lente do agronegócio”. A sustentabilidade será uma ação imperativa, sem ela
não teremos mercados.
Como as nossas universidades, escolas e instituições de pesquisas estão se
posicionando para a expressiva demanda de profissionais capacitados para
este cenário futuro de alta tecnologia que nos espera?
Estamos preparados ou nos preparando para os trabalhos em rede de
pesquisas e inovação, para a integração das cadeias produtivas, preparados
para um sistema agroindustrial moderno, atentos às mudanças de
comportamento e de hábitos da população urbana, preparados para a
agregação de valor nos produtos agrícolas?
Nossos governantes estão atentos ou são sensíveis a essa novas demandas:
apoiam e estimulam os setores de ensino e pesquisa agrícolas?
A economia brasileira só conseguiu destaque internacional graças ao sucesso
de nossa agricultura, sucesso alcançado graças às boas práticas de base
tecnológica e adoção de manejo sustentável de boas práticas agrícolas. Cabe,
portanto, às instituições de ensino e pesquisa, a missão de continuar formando
técnicos qualificados, e desenvolver novas tecnologias para cumprirem a nobre
missão de semeá-las e garantir a sustentabilidade nos campos deste imenso
Brasil.
Estamos em uma era de mudanças aceleradas, são enormes os impactos da
revolução tecnológica. O Google, por exemplo, já lançou o carro autônomo.
Mas não conseguiremos a autonomia de comida: os drones não trarão
automaticamente alimentos do campo para a mesa sem o labor diário do
agricultor e sem a participação dos profissionais de ciências agrárias no
acompanhamento contínuo da produção agrícola e desenvolvimento de novas
tecnologias.
Neste 12 de outubro, quando comemoramos o Dia Nacional do Engenheiro
Agrônomo, nossos cumprimentos aos Engenheiros Agrônomos pela nobre
missão de produzir alimentos e construir a paz. Norman Borlaug, Nobel da Paz
em 1970, dizia: “Não se constrói a paz em estômagos vazios”.
* o autor é Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Professor
Titular do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP, Presidente da Fundação Agrisus e
Membro do Conselho do Agronegócio (COSAG-FIESP).
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