“Iniqüidades Sociais e na Saúde das Populações” Como enfrentar este problema? Maria do Carmo Leal [email protected] Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil Iniqüidades Sociais da Saúde Distinguindo conceitos: Desigualdades - diferenças sistemáticas na situação de saúde de grupos populacionais Iniqüidades - as desigualdades na saúde evitáveis, injustas e desnecessárias (Whitehead) Determinantes sociais de saúde – são as condições sociais responsáveis pelas iniqüidades Determinantes Sociais da Saúde São condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham, ou, de acordo com Tarlov, "as características sociais dentro das quais a vida transcorre”. Os DSS apontam tanto para as questões específicas do contexto social que afetam a saúde, como para a maneira com que as condições sociais traduzem esse impacto sobre a saúde. Os determinantes sociais de saúde que merecem a atenção imediata são aqueles que podem ser potencialmente alterados pela ação baseada em informações. Determinantes Sociais da Saúde O conceito de determinantes sociais de saúde surgiu a partir de uma série de estudos publicados nos anos 70 e no início dos anos 80, que destacavam as limitações das intervenções sobre a saúde, quando orientadas pelo risco de doença nos indivíduos. Um movimento "contrário à correnteza”, no que diz respeito tanto aos fatores de risco individuais quanto a padrões e modelos sociais que moldam as chances das pessoas serem saudáveis. Um ponto comum a essas críticas foi o argumento de a atenção médica não ser o principal fator de auxílio à saúde das pessoas. Pelo contrário, o conceito de DSS está ligado aos "fatores que ajudam as pessoas a ficarem saudáveis, ao invés do auxílio que as pessoas obterão quando ficarem doentes". Determinantes da Saúde (Dahlgren e Whitehead) Por que enfatizar os determinantes sociais? • • • Os determinantes sociais têm um impacto direto na saúde Os determinantes sociais estruturam outros determinantes da saúde: – Ambiente – Comportamento – Serviços São as ‘causas das causas’ A iniqüidade faz mal à saúde de todos Expectativa de vida ao nascer em relação ao PIB per capita (Daniels et al ) Riqueza e expectativa de vida em países com PIB per capita superior a US$10.000 (Daniels et al) Expectativa de vida e distribuição de renda nos países da OECD (Wilkinson) Mortalidade Infantil, Renda média e iniqüidade de renda entre países, 1990 Mortalidade Geral e Coeficiente de Gini nos estados dos EUA, 1990 (Kawachi) Mortalidade geral e falta de confiança interpessoal em estados dos EUA (Kawachi) Determinantes Sociais da Saúde Algumas evidências no Brasil e no Rio de Janeiro Desigualdades de renda O Brasil tem extrema disparidade na distribuição de renda. O decil mais rico da população brasileira detém 47% de toda a renda e o decil mais pobre somente 1%. Indicadores demográficos e de saúde por região Região Indicador N NE SE S CO % população de 15-49 anos com educação fundamental incompleta 63 66 46 49 54 % população vivendo em pobreza 39 54 20 19 27 Taxa global de fertilidade 2.9 2.5 1.9 1.8 2.0 Taxa mortalidade infantil (/1000 nv) 27 38 17 16 19 % Mortes com causa mal definida 21.6 26.8 9.2 6.3 6.6 % Mortes por doença infecciosa 11.9 12.8 7.1 6.4 8.8 28 31 9 5 12 % Mortes não notificadas Favela no Rio de Janeiro Um distrito rico do Rio de Janeiro Distribuição geográfica por status socioeconômico Município do Rio de Janeiro Distribuição geográfica da taxa de homicídio (/100,000) entre homens na idade de 15-49 anos, Município do Rio de Janeiro Indicadores socioeconômicos e de saúde, Município do Rio de Janeiro Indicador Área do Porto Área da Costa (Centro) (Zona Sul) Coeficiente de Gini Taxa de Pobreza % Analfabetismo Renda Média % População Favelada 0.61 22.70 10.17 3.10 30.69 0.45 6.21 4.10 12.50 12.40 Expectativa de Vida Taxa de Homicídio Taxa de Mortalidade Padronizada Mortalidade Infantil 64.01 211.17 11.23 26.00 73.25 72.08 6.39 17.52 Determinantes Sociais da Saúde Algumas evidências em Angola Desigualdades de renda Angola tem disparidades crescentes na distribuição de renda. Em Angola entre 2000 e 2004, o coeficiente de Gini aumentou de 0,52 para 0,62. Dois terços da população vive abaixo da linha de pobreza (correspondente a 1,70 dólares americanos por dia), e 26% encontra-se em situação de extrema pobreza (com menos de 0,75 dólar americano por dia). Mortalidade infantil (por 1.000 nascidos vivos) e nos menores de cinco anos (por 1.000 nascidos vivos) segundo categorias de rendimentos. Angola, 2001 Quintis de Mortalidade Infantil Mortalidade nos menores de 5 anos rendimentos I 167 288 II 155 261 III 155 260 IV 141 230 V 129 205 150 250 Total Fonte: PNUD, Relatório de Desenvolvimento Humano, Angola, 2005. Percentual de alfabetizados segundo categorias de rendimentos por sexo. Angola, 2001 Sexo Quintis de rendimento I II III Masculino 69,0 72,4 72,7 Feminino 47,6 52,8 56,3 57,5 62,3 64,2 Total Fonte: PNUD, Relatório de Desenvolvimento Humano, Angola, 2005. IV 79,1 60,3 69,3 V 87,9 74,8 81,3 Cobertura de parto segundo profissional de saúde que presta os cuidados por situação sócio-econômica e nível de educação da mulher. Angola, 2001 Médico (%) Técnicos de Saúde (%) Situação Sócio-Econômica Mais pobres (Quartil I) Mais ricos (Quartil IV) 3 11 16 53 Nível de educação da mulher Nenhuma Primária Secundária e Superior 3 6 12 19 35 63 6 32 Nacional Fonte: Ministério da Saúde de Angola, Plano estratégico para redução acelerada da mortalidade materno infantil em Angola, 2004-2008 Prevalência de desnutrição crônica moderada (abaixo de – 2 DP de altura mediana para idade) e cobertura vacinal de sarampo por situação de domicílio e regiões. Angola, 2001 Prevalência de desnutrição crônica Cobertura vacinal de sarampo Situação Urbana Rural 43,3 49,6 58,2 41,9 Região Norte Capital Oeste Leste Centro Sul Sul 44,8 34,7 40,9 39,3 54,8 53,4 69,2 65,1 52,8 43,5 52,1 41,8 45,2 53,4 Nacional Fonte: PNUD, Relatório de Desenvolvimento Humano, Angola, 2005. Determinantes Sociais da Saúde Evidências Mundiais Probabilidade de morrer abaixo de 5 anos (1000 nascidos vivos) em alguns países Serra Leoa 316 Bolívia 80 Kyrgyzstan 63 Sri Lanka 20 Islândia 3 FONTE: THE WORLD HEALTH REPORT 2004,WHO Probabilidade de morrer entre 15 e 60 anos para o sexo masculino em alguns países Lesotho 90.2 Rússia 46.9 Bolívia 26 Sri Lanka 23.8 Colombia 23.6 Paquistão 22.7 Suécia 8.3 FONTE: THE WORLD HEALTH REPORT 2004,WHO Desigualdades crescentes Tendência secular da probabilidade de sobreviver de homens russos segundo nível de instrução elementary university 0,7 45 p 20 0,65 0,6 0,55 0,5 0,45 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 0,4 Calendar year 45 p20 = probability of living to 65 yrs when aged 20 yrs Murphy et al, no prelo Expectativa de vida aos 20 anos em mulheres segundo escolaridade (Chile) Uma Crise que Cresce Grande número de idosos e o aumento das doenças crônicas criam um peso financeiro crescente para os sistemas de saúde Estimativa de % população com mais de 60 anos em alguns países (2025) % 35 30 25 20 15 10 5 0 Italy Sweden Japan USA 1997 Vaupel et al, 1998 China 2025 India Mexico Mortalidade de adultos o fardo duplo da doença (WHO 2005) Causas mais importantes de anos perdidos por morte ou incapacidade entre adultos (15-59) no mundo HIV/AIDS Doença depressiva unipolar Tuberculose Acidentes de transito Doença cardíaca isquemica 68661 57843 28380 27264 26155 19567 19486 18962 18749 18522 Doenças por abuso do alcool Perda auditiva (inicio adulto) Violencia Doença cerebrovascular Lesões auto-infringidas 0 World Health Report 2003 10000 20000 30000 40000 DALYS(000) 50000 60000 70000 80000 O que fazer? A Saúde na Constituição brasileira “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” Constituição Federal, art.196 Sistema de Saúde do Brasil Constituição de 1988 Sistema Público de Saúde Saúde como um direito de cidadania Acesso universal aos Serviços de Saúde Acesso baseado no critério de necessidade, não de capacidade para pagar Percentagem do PIB gasto em saúde: 3.5% Gasto per capita em saúde por ano: US$ 91 Setor privado com cobertura: 25%. iniqüidade social no acesso e no uso de serviços Taxa de utilização aumenta com o aumento de renda Para os que declararam necessidade de utilizar os SS, a taxa de utilização foi 50% maior para o quintil mais alto de renda quando comparado com o quintil mais baixo (PNSN,1989) Acesso e utilização dos Serviços de Saúde Percentagem de pessoas que declararam ter necessitado de assistência a que tiveram: 97.3% Percentagem de pessoas que puderam obter todos os medicamentos prescritos: 87% Percentagem de mulheres que fizeram teste de Papanicolau (últimos três anos): 65.5% Percentagem de partos hospitalares: 98.5% Acões do governo brasileiro para reduzir iniqüidades Programa Saúde da Família “Saúde da Família” é uma estratégia para organizar e fortalecer a atenção básica de saúde como primeiro nível de cuidado no Sistema Público de Saúde. Objetiva expandir o acesso, qualificando e reorientando as práticas de saúde com base nos princípios da Promoção da Saúde. Cobertura populacional do Programa Saúde da Família Brasil, 1998 a 2004 45,0 40,0 35,0 30,0 25,0 % 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 39,7 35,7 31,9 25,4 17,4 6,6 1998 8,8 1999 2000 2001 ANO 2002 2003 2004 Programa Saúde da Família Percentagem de população coberta Número de equipes de saúde Norte 34.5 1447 Nordeste 55.6 8632 Sudeste 29.1 6542 Sul 39.1 3176 Centro-Oeste 42.0 1602 Brasil 39.3 21399 Região Geográfica Programa de Saúde da Família Resultados do Programa Bolsa Família Brasil, 2005 Número de famílias com bolsa % em relação ao total do número de famílias pobres 526,941 46,4 Nordeste 3,322,318 63,2 Sudeste 1,730,318 56,8 Sul 698,475 63,6 Centro-Oeste 284,103 42,5 6.562.155 58,6 Regiões Geograficas Norte Brasil Total em quantidade de dinheiro empregado: US$ 230 milhões Economic and social security Participation in society Conditions in childhood and adolescence Healthier working life Environments and products SWEDISH PUBLIC HEALTH POLICY Alcohol drugs tobacco Eating Safe food Physical activity Sexual health Health promoting medical care Prevention communicable disease Criação de uma Comissão Global sobre os Determinantes Sociais da Saúde - OMS, 2005 Criação de uma Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde – Brasil, 2006 Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde Iniciativa de grande importância ética e humanitária, que visa: Identificar com maior precisão as causas de natureza social, econômica e cultural da situação de saúde da nossa população Identificar políticas públicas de saúde e extra-setoriais, assim como iniciativas da sociedade, que ajudem a enfrentá-las, buscando garantir maior eqüidade e melhores condições de saúde e qualidade de vida para os brasileiros Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde “A CNDSS possui todas as condições para incorporar-se e reforçar o processo da reforma sanitária brasileira, contribuindo para promover uma ampla tomada de consciência da nossa sociedade sobre as graves iniqüidades de saúde que ainda persistem e que somente poderão ser combatidas com intervenções sociais baseadas no conhecimento científico e numa ampla base de sustentação política” (Ministro Saraiva Felipe durante lançamento da CNDSS) LINHAS DE ATUAÇÃO 1- Produzir conhecimentos e informações sobre as relações entre os determinantes sociais e a situação de saúde, particularmente as iniqüidades de saúde, com vistas a fundamentar políticas e programas. 2- Promoção, apoio, elaboração, coordenação, seguimento e avaliação de políticas, programas e intervenções governamentais e não-governamentais realizadas em nível local, regional e nacional. 3- Desenvolver ações de promoção junto a diversos setores da sociedade civil sobre a importância das relações entre saúde e condições de vida e sobre as possibilidades de atuação para diminuição das iniqüidades de saúde. Composição da CNDSS • Adib Jatene • Aloísio Teixeira • Ana Lúcia Gazzola • César Victora • Dalmo Dallari • Eduardo E. Gouvêa Vieira • Elza Berquó • Jaguar • Jairnilson Paim • Lucélia Santos • Moacyr Scliar • Roberto Smeraldi • Rubem C. Fernandes • Sandra de Sá • Sônia Fleury • Zilda Arns • Paulo Buss (coord.) Grupo intersetorial da CNDSS • Casa Civil • Ministério do Trabalho e Emprego • Ministério da Fazenda • Ministério da Previdência Social • Ministério do Planejamento • • Ministério da Saúde Ministério do Desenvolvimento Agrário • Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome • Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial • Ministério da Educação • • Ministério da Ciência e Tecnologia Secretaria de Políticas para as Mulheres • Ministério da Cultura • CONASS • Ministério do Esporte • CONASEMS • Ministério das Cidades • Conselho Nacional Saúde • Ministério do Meio Ambiente • OPAS/OMS www.determinantes.fiocruz.br De que adianta tratar as doenças das pessoas ... e depois elas voltarem às condições que as deixaram doentes? Muito obrigada www.votecristo.com.br www.votecristo.com.br