Fome de que?
Compulsão Alimentar como Manifestação do Falso Self e Intervenção
Terapêutica Breve - Um estudo de caso em uma clinica de obesidade em salvador
Fernanda Teixeira Carneiro – Especialista em Psicologia Clínica
INTRODUÇÃO
O artigo propõe a reflexão sobre a compulsão alimentar por intermédio de um estudo de caso em
uma Clínica de Obesidade utilizando a técnica da psicoterapia breve operacionalizada. Pretende-se
compreender a compulsão alimentar, principalmente no que se refere às questões subjetivas que
envolvem o ato de comer. Busca-se pensar a obesidade não somente como uma doença de
etiologia genética e/ou orgânica, mas como um sintoma com raízes sociais e psíquicas. Pretendese entender melhor a compulsão, o significado da “fome” e dessa “voracidade” percebida nos
quadros de obesidade.
MÉTODO
Através do acompanhamento psicoterápico de algumas pacientes na clínica de obesidade busca-se
entender o sentido da compulsão alimentar, os mecanismos psíquicos envolvidos, fazendo referencia
a. vinhetas clínicas de casos atendidos individualmente, por um período médio de cinco meses.Nas
vinhetas que serão apresentadas utilizou-se a técnica da psicoterapia breve operacionalizada
apoiada no método da psicanálise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ficou claro no discurso das pacientes a dificuldade em se permitir viver, lidar com as frustrações,
bancar seus desejos e lutar por eles. Percebe-se um afastamento do self verdadeiro e uma vida
construída pelo outro, para o outro, com uma anulação completa de si, com a prevalência absoluta
do falso self e os sofrimentos advindos desse funcionamento. Algumas falas que demonstram essa
dinâmica: “A perda de peso está me deixando mais triste, parece que tinha algo escondido por trás
desses pesos. À medida que vou ficando mais magra, vou entrando em contato com algumas coisas
que não estou suportando”. “eu vivi a minha vida para o outro, cuidei do meu marido que tem
diabetes, ele já emagreceu 09 quilos, cuidei da minha filha, sai da minha cidade para morar na
capital e ajudá-la com a minha neta. Parei de fazer os meus esportes, as coisas que gostava e
quando vi já estava na casa dos 100 quilos, fiquei deprimida e com vergonha”. “eu tento, mas não
consigo, quando eu vejo, já comi” (Sic...)
CONCLUSÃO
Percebeu-se através do acompanhamento semanal com a técnica da psicoterapia breve
operacionalizada que foi possível proporcionar às pacientes um maior nível de compreensão
interna, com melhor integração psíquica e conseqüente diminuição da compulsão por escolhas
melhores e mais adaptadas diante das situações de conflito. Vinhetas das mesmas pacientes
citadas anteriormente: “estou conseguindo entrar em contato com o meu eu e com as minhas
“feridas”, eu vivia escondida pela “capa” de proteção”. Em outra vinheta a paciente faz referencia a
forma como responde hoje as demandas do marido: “esse é o meu momento, já esperei por você
diversas vezes em suas viagens a trabalho, mas agora estou cuidando de mim”. “sai para passear
esse final de semana e percebi que a minha relação com a comida é outra, não preciso mais comer
muito, estou me contentando com pouco”.
REFERÊNCIAS
1. WINNICOTT, D. O Ambiente e os Processos de Maturação. Porto Alegre: Artmed, 2008.
(Original publicado em 1983).
2. SIMON, R. Psicoterapia Breve Operacionalizada: Teoria e Técnica. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2005.
3. SILVA, A.B.B. Mentes Insaciáveis. Anorexia, Bulimia e Compulsão Alimentar: Saiba como
Identificar e superar esses transtornos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005
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