Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2012, v. 15, edição especial, p. 54 – 57
ENTOMOFAUNA CADAVÉRICA NO INSTITUTO MÉDICO LEGAL DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
OLIVEIRA, Rodrigo Gonçalves de 1
RODRIGUES, Anselmo1
OLIVEIRA-COSTA, Janyra 2
BASTOS, Caroline Silva1
GENEROSO, Bruna de Carvalho1
Palavra-chave: Entomologia Forense. Perícia. IML. Checklist.
Problemática
O conhecimento da entomofauna necrófaga é a base para a aplicação da
entomologia forense (SMITH, 1986). Os insetos, frequentes no processo de
decomposição cadavérica, representam uma importante ferramenta para a medicina
legal que vem sendo aplicada pelos principais centros de investigação do mundo
(OLIVEIRA-COSTA, 2011). Durante o processo de decomposição cadavérica, a
presença dos insetos está associada aos fatores biogeoclimáticos a que estão sujeitos.
(MORENO, 2001). No Brasil, estes estudos tiveram início em 1908, com o trabalho de
ROQUETTE-PINTO e, posteriormente, com os trabalhos de Oscar Freire (1914 e
1923). As principais aplicações dessa ciência são o estudo do tempo decorrido desde a
morte, conhecido como intervalo pós-morte (IPM), deslocamento do corpo (ocultação
de cadáver) e a causa do crime (OLIVEIRA-COSTA, 2011). A literatura brasileira
conta com apenas dez artigos de entomologia forense utilizando cadáveres humanos
como modelo para pesquisa, que são: FREIRE, 1914; SALVIANO et al., 1996;
CARVALHO et al., 2000; OLIVEIRA-COSTA & LOPES, 2000; OLIVEIRA-COSTA
et al. 2001, OLIVEIRA-COSTA & MELLO-PATIU, 2004, ANDRADE et al. 2005,
PUJOL-LUZ et al. 2006, OLIVEIRA & VASCONCELOS, 2010 e KOSMANN et al.
2011. Desta forma, o presente trabalho tem o objetivo de listar as espécies com
1
Graduandos. Laboratório de Entomologia Forense, Centro de Estudos e Pesquisa Biológicas,
Universidade Castelo Branco, Av. Santa Cruz, 1631, Realengo, Rio de Janeiro, Brasil.
[email protected] e [email protected]
2
Doutora. Laboratório de Entomologia Forense – Universidade Castelo Branco – Professor;
Departamento de Polícia Técnico Científico – Instituto de Criminalística Carlos Éboli - Perito Criminal,
Rua Pedro Primeiro, 28 – Centro – Rio de Janeiro. [email protected].
ocorrência em cadáveres humanos para classificar aquelas que apresentam potencial
para serem utilizadas na estimativa de intervalo pós-morte.
Enquadramento Conceitual e Teórico
A diversidade reflete a interação entre os organismos que coexistem em uma
área geográfica usando a mesma origem alimentar ou mesmo habitat (WHITTAKER,
1967). Durante o processo de decomposição cadavérica, o número de insetos frequentes
é elevado e sua diversidade está relacionada a fatores bióticos e abióticos que estão
sujeitos. Sabe-se que os insetos representam o grupo taxonômico com maior
biodiversidade terrestre (MORENO, 2001). Assim, os insetos são uma ferramenta
importante para a medicina forense que tem sido aplicado com frequência crescente por
centros de pesquisa principais do mundo, com a aceitação do poder judiciário
(OLIVEIRA-COSTA, 2011).
Procedimentos Metodológicos
As coletas foram realizadas no Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto –
IMLAP, localizado no centro do município do Rio de Janeiro, no período compreendido
entre fevereiro e maio. Durante o período de coleta, insetos adultos e imaturos foram
capturados sobre 16 cadáveres, onde foram observados todos os estágios de
decomposição: fresco, gasoso, deterioração, deterioração avançada e esqueletização. Os
corpos que apresentavam lesões causadas por perfurocontundentes, no caso, projétil de
arma de fogo, estavam nas fases iniciais de decomposição (fresca e gasosa). Em
contrapartida, os cadáveres que não apresentavam ferimentos aparentes estavam em
estágio avançado de decomposição (deterioração avançada e esqueletização). Foi
utilizada uma rede de insetos modificada para coletar dípteros adultos (KHOURI,
1995). Um saco de plástico transparente foi conectado à rede de insetos para auxiliar o
transporte das amostras ao laboratório. Para a coleta de imaturos e adultos de outras
ordens de insetos e outras classes de Arthropoda, pinças e colheres foram utilizadas. Os
imaturos foram criados em potes de polietileno, fechado com tela fina e dentro equipado
com serragem para pupação e fragmentos de carne do próprio cadáver para se alimentar.
Após a emergência, os insetos foram sacrificados, montados e identificados através de
chaves dicotômicas de suas respectivas ordens com auxílio de especialistas.
Resultados Principais
Foram coletados 466 artrópodes e, dentre estes, 413 exemplares de Diptera, 40
exemplares de Coleoptera, oito exemplares de Blattodea, três exemplares de Dermaptera
e dois exemplares de Arachnida. A ordem Diptera apresentou maior diversidade, sendo
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os membros da família Calliphoridae os mais abundantes. Dentre esses, houve
predomínio de Chrysomya albiceps (Wiedemann, 1819). Essa espécie foi considerada
como aquela de maior importância forense para região, visto que coloniza, de forma
quase absoluta, o cadáver nas fases iniciais da decomposição. Esses dados corroboram
as conclusões de OLIVEIRA-COSTA et al., 2001, CARVALHO et al. 2000 e
SALVIANO et al., 1996. Quanto aos Muscidae, foi ratificada a importância forense de
Ophyra sp. já coletada em outros trabalhos na região Sudeste. E quanto aos
Sarcophagidae, ratificamos a importância de Sarcophaga (Liopygia) ruficornis
(Fabricius, 1794) e Sarcodexia lambens (Wiedemann, 1830). A segunda ordem em
importância forense foi a dos Coleoptera, apresentando o Cleridae Necrobia rufipes (De
Geer, 1775) e o Dermestidae Dermestes maculatus De Geer, 1774 como os mais
representativos. Staphylinidae foi encontrado com pouca representatividade (espécie
não identificada). Foram encontradas duas outras ordens de inseto que não foram
descritas anteriormente no Brasil: Dermaptera (Labiduridae) e Blattaria (Blattidae).
Verificando-se, também, a ocorrência de dois exemplares da classe Arachnida. Foi
observada maior frequência dos dípteros Calliphoridae, Sarcophagidae, Muscidae e
Phoridae nos estágios iniciais de decomposição (fresco e gasoso). Por outro lado,
Piophilidae, as outras ordens de inseto e as aranhas frequentaram o cadáver nos estágios
avançados da decomposição (deterioração, deterioração avançada e esqueletização).
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