O Sr. LUIZ BITTENCOURT (PMDB-GO) Pronuncia o seguinte discurso: Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados. Venho hoje a esta tribuna registrar a
indicação do Cardeal Joseph Ratzinger, como sucessor do Papa João
Paulo II. Trata-se de um momento de grande importância para a
comunidade católica mundial. Quero manifestar a nossa torcida para que o
novo Papa se volte para as teses do Concílio Vaticano II, imprimindo nos
trabalhos pastorais da Igreja Católica a luta pelas conquistas sociais e
pelas causas dos povos oprimidos. A propósito deste assunto quero
destacar aqui o editorial intitulado "Bento 16, Opção Ortodoxa", publicado
na edição de hoje no jornal Folha de S. Paulo, cujo teor transcrevo a
seguir:
"A escolha de Joseph cardeal Ratzinger para suceder João Paulo 2º no
trono de Pedro representa uma inequívoca vitória da ala mais
conservadora da Igreja Católica. Ratzinger, que reinará sob o nome de
Bento 16, é com certeza um dos sacerdotes intelectualmente mais
preparados para a missão.
O novo papa, que domina dez idiomas, fez brilhante carreira acadêmica e
lecionou teologia nas mais importantes universidades alemãs até sagrar-se
arcebispo de Munique, em 1977, e, quatro anos depois, já em Roma,
prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o novo nome da velha
Inquisição. Foi nesse posto que se tornou o braço direito de Karol Wojtyla
e o cardeal mais influente da igreja, sempre a impor a mais fiel
observância da ortodoxia doutrinária.
A eleição de Ratzinger evidencia a enorme capacidade de articulação de
João Paulo 2º no encaminhamento de seu sucessor. Seu nome emerge de
um colégio eleitoral cuja esmagadora maioria dos cardeais foi nomeada no
papado anterior. As exceções são apenas três, sendo uma delas o próprio
alemão.
A escolha não deixa, porém, de frustrar as expectativas dos setores mais
liberais, que confiavam, se não na eleição de um papa identificado com
seus anseios, ao menos na opção por um pontífice mais aberto à
colegialidade (descentralização) e à rediscussão de pontos tidos como
não-essenciais da doutrina (uso de preservativos, por exemplo).
Decepciona também os que esperavam uma maior abertura geográfica da
igreja, com a eleição de um pontífice latino-americano ou africano.
Ratzinger é o exato oposto disso tudo: europeu, centralizador,
arquiconservador. É visto como a voz que inspirou João Paulo 2º em suas
posições mais duras em relação à anticoncepção, ao aborto, à ordenação
de mulheres, ao homossexualismo, ao divórcio, à pesquisa com células-
tronco embrionárias. Tem relação de grande proximidade com prelazias
tradicionalistas, como o Opus Dei.
Ao contrário de seu antecessor, porém, Bento 16 não parece ter um
talento especial para lidar com a mídia. Também difere de João Paulo 2º
ao demonstrar menor entusiasmo pelo diálogo inter-religioso. É apontado
como o responsável pela edição, em 2000, do documento "Dominus Iesus"
("Senhor Jesus"), no qual o Vaticano reafirma uma superioridade do
catolicismo sobre outras denominações cristãs (e mais ainda sobre outros
credos). Foi uma ducha de água fria nos esforços ecumênicos que vinham
sendo registrados desde o Concílio Vaticano 2º.
Membros da chamada ala progressista da igreja, alguns dos quais
reagiram à escolha com os termos "devastadora" e "catastrófica", não têm
de fato motivos para comemorações. Como prefeito da Congregação,
Ratzinger fez a linha de frente na vitória sobre a teologia da libertação.
Embora o perfil do novo sumo pontífice prenuncie um período enérgico e
polêmico, este é considerado um pontificado de transição. Hoje com 78
anos, é pouco provável que Bento 16 permaneça à frente da Igreja
Católica
por
período
comparável
ao
de
seu
antecessor.
O colégio de cardeais fez uma aposta de risco ao escolher Ratzinger como
265º papa. O aprofundamento da ortodoxia, que deverá ser a marca de
seu pontificado, tende a afastar e não a agregar fiéis, num momento em
que a igreja se ressente da falta de novas vocações sacerdotais e já
encolhe em antigos bastiões como a Europa e a América Latina. Os
escritos de Ratzinger condenando o rock, a música pop e as
"showmissas", que ele qualifica como "cultos profanos", tampouco ajudam.
O problema não é de maneira alguma ignorado pelo próprio Bento 16, que
tem consciência do que está em jogo, mas fez uma opção muito clara pelo
que acredita ser o único caminho para a igreja. A visão do novo papa fica
evidente em textos que levam a sua marca, como a encíclica "Fides et
Ratio" ("Fé e Razão"), a penúltima do pontificado de João Paulo 2º, e na
homilia que fez na missa "pro eligendo papa" (para eleger o papa), que
antecedeu o conclave. Lá, condenou com veemência o relativismo
religioso e o materialismo e afirmou que a única saída para a igreja é a "fé
clara" -o que o aproxima de um fundamentalismo católico". Era o que tinha
a dizer. Muito obrigado.
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Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados. Venho hoje a esta tribun