CCG 005 - AVALIAÇÃO INTERDISCIPLINAR: PERCEPÇÕES DE ALUNOS E PROFESSORES DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS Viviane Theiss Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis – Universidade Regional de Blumenau Rua Antônio da Veiga, 140 – Sala D 203- Bairro Victor Konder. E-mail: [email protected] Rita Buzzi Rausch Doutora e Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis – Universidade Regional de Blumenau Rua Antônio da Veiga, 140 – Sala D 203- Bairro Victor Konder. e-mail: [email protected] Área Temática: Controladoria e Contabilidade Gerencial AVALIAÇÃO INTERDISCIPLINAR: PERCEPÇÕES DE ALUNOS E PROFESSORES DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS RESUMO Este estudo tem como objetivo identificar as percepções de alunos e professores acerca da avaliação interdisciplinar praticada no curso de Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau. Como método de pesquisa, trata-se de uma pesquisa descritiva quanto aos objetivos; um estudo de caso quanto aos procedimentos e qualitativa quanto à abordagem do problema. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas com o coordenador do curso e a assessora pedagógica, além de um questionário com perguntas abertas distribuídas para todos os professores e alunos da 3ª a 6ª fase do Curso de Ciências Contábeis, o montante de respondentes caracterizou-se um total de 92 pessoas, destes 79 são alunos e 13 professores. Procedeu-se também análise documental de relatórios de planejamento, do Plano Político Pedagógico do curso e dos planos de ensino das disciplinas. Com os resultados processados é possível concluir que a interdisciplinaridade deve permanecer no curso de Ciências Contábeis, com a realização de encontros entre os professores no decorrer dos semestres, revisão das estratégias e adaptação de melhorias sugeridas pelos alunos e outros professores, pois cada turma é diferente, merecendo um tratamento específico. Palavras-chave: Trabalho interdisciplinar. Avaliação. Percepção. 1 Introdução A universidade é um ambiente onde se promove a prática de investigação científica, assim como, proporciona-se a formação do conhecimento de alunos críticos e criativos. Para Gomes et. al. (2007), a investigação científica tem como objetivo a geração de conhecimento e tecnologia, além de favorecer a expansão do saber. Os pesquisadores, como agentes da pesquisa, contribuem para a promoção do processo da comunicação científica. Entretanto, o modelo de educação, caracterizado como disciplinar e fragmentado, está esgotado e não consegue gerar respostas aos problemas existentes, deste modo, o mundo atual demanda profissionais com capacidade cognitiva e com competências sociais de nível elevado, assim como flexibilidade, autonomia e disposição para adequação a ocorrências 1 novas (ALTHOFF, 2008). Neste contexto, as atividades dos docentes são caracterizadas pelo desafio permanente em estabelecer relações interpessoais com os educandos, de modo que o processo de ensino-aprendizagem seja articulado, além de fazer com que os métodos utilizados cumprem com os objetivos a que se propõem (MAZZIONI, 2009). Altheman (1998) apresenta a interdisciplinaridade como suporte à ciência e à pesquisa no processo educacional, ajudando a minimizar o espaço vazio que se coloca entre a atividade profissional e a formação acadêmica do indivíduo. Planejamento é imprescindível para qualquer prática, inclusive a interdisciplinar. Silveira (2005, p. 1) esclarece que “o planejamento é um processo que exige organização, sistematização, previsão, decisão e outros aspectos na pretensão de garantir a eficiência e eficácia de uma ação”. Neste caso, o projeto interdisciplinar deve, antes de tudo, ser discutido e aprovado entre os docentes, para que haja uma harmonia no decorrer de sua realização, inclusive para a sua posterior avaliação. Avaliar, para Fazenda et al. (2009, p. 2), é “[...] atividade associada à experiência cotidiana do ser humano, por isso, freqüentemente analisamos e julgamos os nossos semelhantes, os fatos de nosso ambiente e as situações das quais participamos”. É por isso que a prática interdisciplinar é um desafio para o professor, por ser mais dinâmica, se comparada com outras formas de avaliação como, a prova escrita, por exemplo. O desafio para o aluno, de ir a busca desse conhecimento fora da sala de aula, possibilita a existência de uma ligação entre os conteúdos trabalhados e as disciplinas que compõem as matrizes curriculares dos cursos de formação. Por esses motivos que a questão problema deste estudo voltou-se a investigar: Qual a percepção de alunos e de docentes acerca da avaliação interdisciplinar praticada no curso de Ciências Contábeis da FURB? Deste modo, o objetivo deste estudo é identificar a percepção dos alunos e professores acerca da avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis. Este artigo justifica-se pela interdisciplinaridade, no curso de graduação de Ciências Contábeis, ter papel fundamental para a formação do contador, abrindo portas para múltiplas compreensões dos fatos que norteiam a sua profissão, por meio da articulação das disciplinas do curso, com outras áreas do conhecimento. De acordo com Fazenda (1993), o problema da interdisciplinaridade geralmente é a integração entre professores das equipes, conteúdos e metodologias das disciplinas adotadas, programação dos cursos e expectativa dos educandos, com a formação recebida e a execução das funções, posteriormente assumidas. Desta forma, é interessante verificar a efetivação da interdisciplinaridade, analisando-se a percepção de professores e alunos, por meio da avaliação interdisciplinar que ocorre em uma instituição de ensino superior, levantando os principais avanços e limitações que estão ocorrendo no momento da prática, com a possibilidade de adequação e sugestões de melhoria. A escolha da instituição se justifica pelo curso de graduação em Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau realizar uma prática de avaliação interdisciplinar desde o ano de 2008, por meio de um trabalho envolvendo diversas disciplinas ao longo de cinco semestres consecutivos. Neste caso, analisou-se a percepção de alunos e professores, por meio de entrevistas com o coordenador do curso responsável pelo planejamento e acompanhamento da prática interdisciplinar, a assessora pedagógica do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e um questionário adaptado para professores e alunos do curso de Ciências Contábeis, além de análise documental, como relatórios de planejamento, o Plano Político Pedagógico do curso e os planos de ensino das disciplinas, no intuito de ver se o conceito de interdisciplinaridade e a maneira como está sendo aplicada a proposta está adequada, bem como analisar entre as 2 percepções de alunos de diferentes fases, se a prática interdisciplinar contribui para a sua formação acadêmica. 2 Interdisciplinaridade na educação superior A universidade é o espaço constituído culturalmente na sociedade, em que permeia as relações humanas com o conhecimento, demarcando o encontro do homem com o já estabelecido e visando a possibilidade de construção de novos saberes. A interdisciplinaridade como alternativa de ensino requer do professor disponibilidade para acompanhar, investigar e apresentar alternativas adequadas ou soluções aos problemas propostos. A pesquisa baseada em procedimentos científicos, norteada por padrões metodológicos e pela procura de resolução efetiva de problemas reais, relevantes, condizentes com a identidade dos alunos, torna-se condição necessária para o diálogo e a integração que conduzirão a interdisciplinaridade (ALTHEMAN, 1998). Já a pesquisa interdisciplinar, de acordo com Fazenda (1993), é a superação do dualismo: pesquisa teórica versus pesquisa prática, permitindo uma educação permanente. De acordo com Padoan e Clemente (2006), o Sistema Educacional é constantemente questionado e repensado, pelo fato de ocorrer uma incapacidade de preparar profissionais para as demandas do futuro. No que diz respeito à Contabilidade, o problema da qualidade do ensino é antigo e passa por um fator determinante, que é o professor. Desta forma, existe uma constate busca por novos horizontes, ao se estudar o ensino superior em Contabilidade, sugerindo o desenvolvimento de novas metodologias. Interdisciplinaridade, nesta perspectiva, é um assunto muito complexo. Fazenda (1993, p. 14) esclarece que a interdisciplinaridade, “consiste num trabalho em comum tendo em vista a interação das disciplinas científicas, de seus conceitos e diretrizes, de sua metodologia, de seus procedimentos, de seus dados e da organização de seu ensino”. A autora esclarece que o termo interdisciplinaridade não possui um sentido único e estável, tratando-se de um neologismo cuja significação nem sempre é compreendida de forma ampla por todos. No Figura 1 apresenta-se algumas definições de interdisciplinaridade: Japiassú (1976) Zabala (1998) A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo projeto de pesquisa. É a interação de duas ou mais disciplinas. Essas interações podem implicar transferências de leis de uma disciplina a outra, originando, em alguns casos, um novo corpo disciplinar. A interdisciplinaridade a que se almeja deve ser encarada na sua dimensão histórica, e sua prática Bufrin exige um processo em que as ciências não sejam tratadas como disciplinas isoladas e os objetos (1998) passem a ser tratados em seu contexto. Processo que envolve a integração e engajamento de educadores, num trabalho conjunto, de integração das disciplinas do currículo escolar, entre si, e com a realidade, de modo a superar a fragmentação do ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que possam exercer Luck criticamente a cidadania, mediante uma visão global de mundo a serem capazes de enfrentar os (1995) problemas complexos, amplos e globais da realidade atual. Na interdisciplinaridade se estabelece uma interação entre duas ou mais disciplina, em que cada Passos disciplina em contato é modificada e passa a depender, claramente, das outras. O enriquecimento é (2004) recíproco e acontece uma transformação de suas metodologias de pesquisa e de seus conceitos. Figura 1 - Definições de interdisciplinaridade Fonte: Adaptado de Padoan e Clemente (2006) e Fazenda (1993). A partir das definições apresentadas, interdisciplinaridade é uma troca de conhecimentos e informações de diversos campos de conhecimento, por meio de diferentes 3 disciplinas aplicadas em sala de aula, que proporcionam uma visão geral do contexto da profissão pretendida. Contudo, Fazenda (1993) esclarece que nas universidades, a prática interdisciplinar é praticamente inexistente, existindo somente em uma escala bastante reduzida, ou de modo escamoteado, quase imperceptível, de certos encontros pluridisciplinares. Todavia, geralmente tais encontros se realizam apenas com práticas individuais, deixando de lado, o que a autora esclarece, como uma atitude feita de curiosidade, de sentido da aventura, das relações existentes entre as coisas e que escapam da observação comum, pois o interdisciplinar cultiva o desejo de enriquecimento por enfoques novos, combinação das perspectivas, ultrapassando os caminhos já batidos e dos saberes já adquiridos, instituídos e institucionalizados. 2.1 A interdisciplinaridade no curso de Ciências Contábeis O curso em Ciências Contábeis começou a vigorar no Brasil em 1945. De acordo com Passos (2004), teve como foco inicial o conhecimento técnico para a escrituração dos livros contábeis. Com a expansão do mercado de capitais, a obrigatoriedade das demonstrações financeiras e do parecer de um auditor independente, esse profissional tornou-se essencial, no qual passou a ter o dever de possuir o título de Bacharel em Ciências Contábeis. A Resolução CNE/CES n. 10/2004 institui que nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Ciências Contábeis, deva-se apresentar a interdisciplinaridade como uma qualidade essencial para a formação do perfil do egresso, na montagem dos currículos e na filosofia do processo ensino-aprendizagem, formando uma visão sistêmica e interdisciplinar da atividade contábil. Além das diretrizes, Miranda e Miranda (2006) reforçam a ideia de que o contabilista é uma pessoa que necessita possuir habilidades interdisciplinares, com visões capazes de produzir informações para usuários externos e internos para o processo de tomada de decisão. O Conselho Federal de Contabilidade – CFC também faz inúmeras considerações relevantes a respeito da interdisciplinaridade. Neste contexto, Fazenda (1993) apresenta a prática interdisciplinar como um novo princípio de reorganização epistemológica das disciplinas científicas. Para isto, o coordenador de curso tem papel importante, já que cabe a ele como gestor do curso buscar um melhor entendimento para a articulação das matrizes curriculares com os professores de forma geral, a fim de criar condições técnicas e de atitudes para a implantação e manutenção de atividades interdisciplinares. (ALTHOFF, 2008). 2.2 Avaliação interdisciplinar Avaliação interdisciplinar, por ser uma forma de unir o que há de semelhante entre as disciplinas, pode ser um diferencial no processo de ensino, no qual os alunos podem ter uma visão ampla de seu contexto profissional, ainda mais se unidos com pesquisa. Para Rabelo (2004), uma avaliação só é possível se realizada como um dos elementos de um processo de ensino e de aprendizagem que estejam nitidamente definidos por um projeto pedagógico. As alterações no processo de avaliação poderão conduzir a uma transformação de ensino. Neste sentido, a avaliação não deve ser entendida somente como uma nota de prova, mas sim como forma de ajudar os alunos a descobrir, perceber e tentar buscar resolver o problema, ocorrendo desta forma o processo de aprendizagem. Fazenda et al. (2009) informam que no cotidiano escolar, desde a pré-escola até a universidade, o que ocorre não é a avaliação. Os autores apresentam que a avaliação tem sido utilizada como aspecto controlador por parte dos professores, que estabelecem os 4 instrumentos de verificação da aprendizagem do aluno, como provas, chamada oral ou exercícios de múltipla escolha, nos quais consideram como correta uma única resposta a uma determinada questão. O que ocorre é o enfoque nos conteúdos que foram transmitidos, não se considera as diferenças individuais do aluno, desvalorizando conhecimentos que possam mostrar suas experiências e suas diversas fontes, o que muitas vezes pode limitar a sua criatividade. A proposta de uma pedagogia interdisciplinar, todavia, é uma alternativa que pode ser efetivada, por se contrapor nitidamente à fragmentação do saber, por não se limitar à mera justaposição de disciplinas, compondo o objeto de conhecimento pela simples adição de informações, pois a interdisciplinaridade afasta o isolamento característico da especialização e retira do professor a condição de agente único responsável pelo desenrolar do processo ensino aprendizagem (ALTHEMAN, 1998). Padoan e Clemente (2006) afirmam que no curso de Ciências Contábeis pode ser encontradas disciplinas de Administração, Economia, Matemática, Direito, entre outras, por se tratar de conhecimentos que o Contador deve apresentar e poder desenvolver bem sua profissão. Neste caso, além da oferta de tais disciplinas, o aluno deve saber da importância delas para o seu desenvolvimento, e não tê-las apenas em seu currículo como uma obrigatoriedade. Por meio das informações que foram apresentadas, é interessante verificar, como está sendo o processo de avaliação de uma proposta interdisciplinar, para o professor, avaliar a compreensão do aluno. E dos alunos, a visão dos docentes, do processo de ensino e aprendizagem. Padoan e Clemente (2006) afirmam que é urgente a necessidade de buscar novas formas metodológicas, pois entre os docentes há profissionais com grande conhecimento técnico e teórico, mas que não se têm evidências se estes estejam igualmente qualificados para o ensino ou que realizam pesquisas voltadas para o ensino. A busca por maior compreensão da realidade, visando proporcionar ao aluno uma formação mais crítica, cabe somente ao educador provocar, por meio de incentivos ao debate, reflexão, competências e habilidades indispensáveis aos futuros profissionais da área contábil. Moraes Júnior, Araujo e Araujo (2009) afirmam que as implicações de por em prática uma atitude interdisciplinar está no próprio docente em oferecer condições para que o aluno consiga construir o conhecimento. O professor como peça-chave do processo educativo quebra barreiras entre as disciplinas, aproximando-se mais do discente. Por isso, Fazenda (1993) esclarece que a real interdisciplinaridade é antes uma questão de atitude, supõe uma postura única frente aos fatos a serem analisados. Não é anular a contribuição de cada ciência em particular, mas apenas, uma maneira que venha a impedir que se estabeleça a supremacia de determinada ciência, em detrimento de outros aportes igualmente importantes. Desta forma, para que seja considerada válida, a avaliação deve ser realizada em função dos objetivos previstos. É a partir da formulação dos objetivos que norteiam o processo de aprendizagem que se define o que e como julgar, ou seja, o que e como avaliar. Os discentes esperam dos professores das disciplinas específicas, segundo Mazzioni (2009), uma atuação mais destacada, tendo-os como modelos profissionais e dos quais espera a construção de conhecimentos e métodos necessários para um destaque na sua futura atuação no mercado de trabalho. Entretanto, a interdisciplinaridade, conforme Fazenda (1993), abre a porta de múltiplas disciplinas, ou até a possibilidade de carreiras em novos domínios, pois ela não pretende a construção de uma superciência, mas uma mudança da atitude frente ao 5 problema do conhecimento, uma substituição da concepção fragmentária para a unitária do ser humano. Isso quer dizer que os alunos, a partir da prática interdisciplinar, poderão ter livre acesso a diversos campos do conhecimento, não se fixando exclusivamente da didática e do conteúdo apresentado em sala de aula, sendo estes, muitas vezes insuficientes ou limitados, impossibilitando conhecimentos extras, que geralmente só a prática profissional estabelece e que os alunos estarão convivendo após a sua formação. 3 Metodologia Neste estudo identificam-se as percepções de alunos e professores acerca da avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis, configurando-se quanto aos objetivos, como uma pesquisa descritiva. Quanto aos procedimentos da pesquisa, caracteriza-se como um estudo de caso, no qual o pesquisador aprofunda seu conhecimento a respeito de determinado caso específico. Para Yin (2005, p. 20), “[...] estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real”. Neste caso, foi definida uma instituição de ensino superior para analisar-se a prática da avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis. A instituição escolhida foi a Universidade Regional de Blumenau – FURB, que desenvolve a prática interdisciplinar há três anos no curso. Esta prática é realizada em cinco fases, das oito que compõem a matriz curricular deste curso, ou seja, em um bom período da formação acadêmica. Desta forma, quanto à abordagem do problema desta pesquisa, enfatiza-se a abordagem qualitativa, que segundo Raupp e Beuren (2009), trata de uma análise mais profunda em relação ao fenômeno que está sendo estudado, destacando características não observadas por meio de um estudo quantitativo, podendo ser uma forma adequada para conhecer a natureza de um fenômeno social. De acordo com o objetivo deste artigo, os dados foram coletados por meio de entrevistas realizadas com a coordenação do curso de Ciências Contábeis e a assessora pedagógica do Centro de Ciências Sociais Aplicadas. A documentação utilizada foi à disponível no sítio eletrônico da universidade, relatórios de planejamento efetuado pelos organizadores da prática, o PPP do curso e os planos de ensino das disciplinas, além de um questionário com perguntas abertas distribuído para todos os professores das disciplinas envolvidas, bem como os alunos do curso. 3.1 Amostra e população Para Lakatos e Marconi (2005), população é um conjunto de elementos que apresentam pelo menos uma característica em comum. A amostra, para os autores, é um subconjunto da população, parcela devidamente selecionada do universo para estudo e para pesquisa. A população deste estudo se divide em dois grupos, a dos alunos e professores que participam da avaliação interdisciplinar na universidade escolhida. A amostra total corresponde a 92 respondentes, composto por 79 alunos e 13 professores. Em seguida está representada uma figura com a população e amostra correspondente a esta pesquisa. 6 Universo Amostra Alunos e professores que realizam a prática interdisciplinar do curso de Ciências Contábeis, do segundo ao sexto semestre Alunos e professores que já realizaram e estão realizando a prática interdisciplinar do curso de Ciências Contábeis, do terceiro ao sexto semestre 179 157 A amostra da pesquisa foi subdividida em dois grupos: grupo de alunos e de professores que responderam Alunos que responderam 79 Professores que responderam 13 Total de 92 respondentes: (79 alunos) e (13 professores) Figura 2 - População e amostra da pesquisa Fonte: dados da Pesquisa 3.2 COLETA DOS DADOS Foram utilizados como coleta de dados as seguintes fontes: 1. Entrevistas com o coordenador do curso e a assessora pedagógica, responsáveis pelo planejamento e controle da prática da avaliação interdisciplinar no curso; 2. Site institucional da Instituição para a verificação dos planos de ensino e das disciplinas que apresentam a prática da avaliação interdisciplinar da 3ª a 6ª fase; 3. Documentos disponíveis pela secretaria, referentes ao planejamento e relatórios da avaliação interdisciplinar realizados desde a implantação da proposta na instituição, além do Plano Político Pedagógico do Curso; 4. Aplicação do questionário com perguntas abertas, destinadas aos alunos e aos professores do curso de Ciências Contábeis, de acordo com a matriz curricular vigente no primeiro semestre de 2011. Optou-se pela aplicação de um questionário com perguntas abertas, visando verificar: (i) a percepção sobre o conceito de interdisciplinaridade de alunos e professores do curso; (ii) As opiniões sobre a avaliação interdisciplinar realizada; (iii) A participação dos docentes no planejamento da avaliação interdisciplinar; (iv) A maneira como está sendo aplicada a proposta interdisciplinar no curso; (v) A contribuição desta avaliação na formação acadêmica dos alunos; e (vi) A permanência da avaliação interdisciplinar no curso. 4 Analise dos dados Este capítulo contém a análise dos dados, apresentando inicialmente uma breve contextualização e um breve histórico da prática interdisciplinar na universidade pesquisada. Em seguida, destaca a definição da interdisciplinaridade na percepção de alunos e professores das fases integrantes da amostra deste estudo, em que, pretende-se relacionar com a teoria enfatizada no referencial teórico. Finalmente, serão descritos os avanços e as limitações da avaliação interdisciplinar realizada a partir da percepção dos alunos e professores, que apresentam uma visão ampla do contexto interdisciplinar vivenciado. 4.1 Contextualização da prática interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis da Furb A proposta de avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis da FURB iniciou pela iniciativa do Colegiado do Curso e pelos professores no ano de 2008, com uma proposta interdisciplinar que integra as disciplinas do segundo ao sexto semestre do curso, culminando na elaboração de um novo plano político pedagógico – PPP do curso. Neste documento re-elaborado, encontra-se destacado um capítulo que dispõe sobre o trabalho interdisciplinar, no qual constam as seguintes informações. 7 Com o trabalho interdisciplinar, pretende-se superar a lógica disciplinar com a organização do trabalho interdisciplinar que será inserido da 2ª a 6ª fase do curso, podendo trabalhar com disciplinas da mesma fase ou entre fases distintas. Os professores titulares das disciplinas do departamento de contabilidade envolvidas no trabalho interdisciplinar deverão apresentar um plano de trabalho, que será discutido com os professores titulares das disciplinas envolvidas e aprovado pelo Colegiado de Curso de Ciências Contábeis, antes do início das aulas do semestre. (PPP CIÊNCIAS CONTÁBEIS, 2008, p. 22) Conforme recomendado no PPP do curso, é necessária a elaboração de um plano de trabalho, que deverá ser discutido e aprovado pelo colegiado. Conforme entrevista realizada com a assessora pedagógica, em todos os anos são organizados encontros e palestras sobre a interdisciplinaridade para que os professores possam se inteirar do processo. Nestes momentos de formação são discutidas as novas propostas de assuntos que serão abordados no semestre, a partir das dificuldades enfrentadas pelos professores com cada turma de alunos. Nesta direção, o coordenador do curso de Ciências Contábeis ressaltou que todos os docentes recebem orientações e sabem da importância da interdisciplinaridade para a formação dos alunos. No questionário elaborado exclusivamente aos professores, foi estabelecida a seguinte pergunta: Você participa do planejamento da avaliação interdisciplinar do seu curso? De que forma? Os professores descreveram algumas opiniões a respeito, desta forma, foram selecionadas as principais percepções, expressas a seguir: “Participo das reuniões para definir objetivos, temas, procedimentos dos trabalhos interdisciplinares”. “Participo das reuniões de departamento, onde se define as metas de cada fase”. “Não me sinto participante do planejamento apesar de fazer parte das disciplinas integradas na interdisciplinaridade”. “Em partes, somente no planejamento do semestre, ou melhor, na turma em que leciono”. “Sim, na formação do tema e do problema a ser pesquisado, bem como no acompanhamento que se refere à elaboração do trabalho”. Figura 3 - Participa do planejamento da avaliação interdisciplinar Fonte: Dados da pesquisa A maioria dos professores destacou participar das reuniões iniciais, do planejamento com todos os professores, no qual são definidos os temas, procedimentos e as metas de cada fase. Existe a preocupação da coordenação do curso com o planejamento da atividade por meio de encontros semestrais, palestra, minicursos entre outros, conforme aborda a assessora pedagógica. Entretanto, é possível verificar que ainda há professores que não se sentem participantes do planejamento, apesar de fazer parte das disciplinas integradas na interdisciplinaridade. Um dos motivos apresentados foi à falta da realização de uma avaliação formal da proposta aplicada nos diferentes semestres com todo o corpo docente. Evitando situações, como a dos professores que só participam das reuniões que competem a sua disciplina no qual lecionam. Em uma questão seguinte, foi perguntado ao professor como é aplicada a avaliação interdisciplinar no seu curso? Quem aplica e quem avalia? A avaliação dos trabalhos é feita pelos professores do semestre, sendo atribuída uma nota para o trabalho escrito individual, também avaliada ao longo do semestre, e uma nota de apresentação. A apresentação dura cerca de “20 minutos”, realizada no auditório da universidade e avaliada pelos professores do semestre em conjunto. De um modo geral, os professores avaliam em conjunto a apresentação oral e individualmente o trabalho escrito, sendo esta avaliação correspondente a uma nota de prova. 8 A mesma questão foi enviada aos alunos. Em suas respostas os alunos mencionaram que a aplicação da avaliação acontece por meio de um trabalho escrito, que contêm os assuntos das matérias estudadas no decorrer do semestre, que depois de finalizado, é apresentado para todo o grupo de estudantes que participam da prática interdisciplinar. Quem aplica são os professores de cada fase, sendo avaliada pelos mesmos. O conceito final se estabelece a partir da avaliação do referencial teórico, em que cada professor avalia exclusivamente a sua disciplina, representando 50% da nota final, e o restante desta avaliação, pelo do desempenho do grupo na apresentação. É interessante destacar as dificuldades enfrentadas por esses alunos, no qual muitos trabalham e não conseguem ter tempo, disposição ou oportunidades para a realização da pesquisa, por isso o que geralmente acontece, é uma “distribuição” entre os membros das equipes, pela responsabilidade de elaborar o referencial teórico uma única disciplina, ou seja, cada membro da equipe aprofunda uma disciplina no trabalho, não se constituindo neste caso uma reflexão interdisciplinar. Neste contexto, pode-se verificar que todo o trabalho desenvolvido pelos alunos somente é representado por estas duas formas, ficando prejudicada a avaliação do processo em que o aluno esteve desenvolvendo este trabalho. Cabe lembrar, de acordo com Fazenda et al. (2009), que não é possível medir toda a aprendizagem, mas apenas amostras dos resultados alcançados. Para que a medição seja considerada válida, é preciso que seja extensa, e que as amostras sejam representativas do conjunto. Dessa maneira, a avaliação não tem um fim, mas é um meio a ser utilizado pelos professores para o aperfeiçoamento do processo de aprendizagem para que este obtenha o sucesso necessário, em todo seu desenvolvimento. 4.2 Definições de interdisciplinaridade de alunos e professores Com o intuito de analisar a compreensão tanto dos alunos, como dos docentes do curso de Ciências Contábeis sobre o conceito de interdisciplinaridade, buscou-se relacionar o conteúdo apresentado no referencial teórico, com as percepções das pessoas envolvidas, perguntando para ambos: O que é interdisciplinaridade para você? No que tange aos professores, destacou-se a percepção da interdisciplinaridade como um processo que consegue integrar assuntos relacionados a várias disciplinas, no qual os alunos têm contato, integrando informações de forma a ampliar o conhecimento e facilitando a relação entre teoria e prática. Apresenta-se a seguir algumas das percepções dos professores, conforme a Figura 4: “É uma atividade a ser desenvolvida de forma que utilize conhecimentos de diversas áreas, integrando informações de forma a ampliar o conhecimento e facilitando a relação teoria versus prática”. “A interdisciplinaridade é diferentes disciplinas que se inter-relacionam, normalmente por conteúdos ou práticas de pesquisa”. “Trabalhar um problema comum aos alunos cuja solução deve ser buscada nas diferentes disciplinas da fase”. “É um processo de interação entre várias disciplinas e campos de conhecimento, embasado por projeto e planejamento claramente definido discutido exaustivamente entre os professores do curso, atentando para objetivos comuns do curso”. “Vejo o interdisciplinar como uma proposta de integrar conceitos e aplicação, rompendo com o paradigma da fragmentação disciplinar, muito fortemente enraizado no nosso ensino”. “É a compreensão e aplicação dos conhecimentos adquiridos de forma holística e transversal, indo além de visão unitária dos conteúdos de cada disciplina”. “É uma atividade que consegue trabalhar de forma conjunta assuntos relacionados a várias disciplinas”. “É o estudo de um tema com base em diversas disciplinas. Ganho: uma visão ampliada e fundamentada dos assuntos estudados”. Figura 4 - Conceito de interdisciplinaridade na percepção dos docentes Fonte: Dados da pesquisa 9 Na percepção dos alunos, a interdisciplinaridade é uma atividade de aplicação de vários conhecimentos aprendidos em sala. É interligar as disciplinas e encontrar um ponto comum entre elas. Relacionar a teoria com a prática, conciliando as disciplinas. Dentre as respostas dadas pelos alunos, apresentam-se algumas que evidenciam seu entendimento sobre o que seja interdisciplinaridade: “A relação entre as disciplinas, representado entre as diversas áreas de estudo da contabilidade e afins”. “É aplicar tudo o que aprendemos em sala de aula em situações reais, para melhor fixação e aplicação do conhecimento”. “É a junção de todas as disciplinas, visando maior entendimento sobre como cada uma faz parte da outra, e como deverão ser usadas na nossa futura profissão”. “Interdisciplinaridade é colocar a teoria na prática fora da sala de aula, aprofundando assim os conhecimentos e temas”. “Outra visão sobre todo o assunto”. Figura 5 - Conceito de interdisciplinaridade na percepção dos alunos Fonte: Dados da pesquisa Desta forma é possível verificar que os alunos entendem os conceitos de interdisciplinaridade, fato importante para que haja continuação do estabelecimento deste trabalho na matriz curricular do curso analisado. Conforme as percepções descritas, a definição de interdisciplinaridade entre alunos e docentes é entendida como a interação entre as disciplinas, que dá possibilidade de ampliação dos conhecimentos em uma relação entre teoria e prática. 4.3 Avaliações interdisciplinares na percepção de alunos e professores. 4.3.2 Opinião dos professores sobre a avaliação interdisciplinar que ocorre no curso de Ciências Contábeis da FURB. De acordo com os dados apurados, apresenta-se na Tabela 1: Tabela 1 - Percepção professores na avaliação interdisciplinar Percepções Positiva Indiferente Professores 38% 31% Fonte: Dados da Pesquisa. Negativa 31% Na visão dos docentes é possível verificar que as opiniões estão divididas. Os professores satisfeitos com o processo desenvolvido representam 38% das respostas. Em seguida apresentam-se evidências destas opiniões: “A turma aceita bem o processo e os alunos mostram-se interessados em produzir um bom trabalho“. “Considero que o processo é adequado. Os grupos apresentam seus trabalhos em seminários e são avaliados tanto pela apresentação oral como o conteúdo”. “A ideia é válida. Com este processo o aluno encontra a aplicabilidade do conteúdo administrado”. “A interdisciplinaridade evolui bastante, todavia uma dificuldade relaciona-se com sua aplicação em semestres com novos professores”. Figura 6 - Opinião dos professores satisfeitos com a avaliação interdisciplinar Fonte: Dados da pesquisa 10 Alguns professores informaram estar cientes da necessidade de um aprimoramento constante no processo, sendo representados pela Tabela 1, correspondendo 31% das percepções, conforme alguns exemplos a seguir: “Considero muito interessante e proveitosa esta forma de aplicação e avaliação. Há necessidade, no entanto, de verificar a inserção das disciplinas, pois nem todas são de fácil conexão com as demais dentro do semestre”. “Acho a proposta válida, porém, como está em fase de desenvolvimento, acredito que pode melhorar”. “A avaliação pelo pouco que pude participar está embrionária, tendo muito ainda que se desenvolver”. Figura 7 – Percepções de aprimoramento da avaliação interdisciplinar pelos professores Fonte: Dados da pesquisa Entretanto, alguns professores apresentaram opiniões contrárias, representando 31% das percepções analisadas, criticando a forma como vem se desenvolvendo este processo no curso: “A aplicação é sobre um trabalho em grupo, onde não beneficia os alunos mais esforçados porque a nota é única. É falha para os alunos que faltam no dia, não possibilitando outra data para apresentar”. “A avaliação é fraca. A primeira avaliação deveria ser com os professores, que poucos conhecem sobre a existência de um projeto eficaz. O tempo envolvido por parte dos professores deveria contar como atividade vinculada há horas aula (fora das aulas normais)”. “Acho que ainda não consegue realizar de fato a interdisciplinaridade. Deve ser remodelada”. Figura 8 - Opinião dos professores insatisfeitos com a avaliação interdisciplinar Fonte: Dados da pesquisa Por meio das percepções apresentadas, e de acordo com Fazenda (1993; 2009), cada professor tem a sua maneira de aplicar a interdisciplinaridade, bem como o processo de avaliação, desta forma, ambos devem ser considerados como um processo contínuo. É necessário para este caso, conscientização e interesse por parte do professor em unir e construir conhecimentos, usando o artifício de interdisciplinaridade para melhor ensinar ao aluno. 4.3.3 Opinião dos alunos sobre a avaliação interdisciplinar que ocorre no curso de Ciências Contábeis da FURB. Para uma melhor compreensão das opiniões dos alunos de diferentes semestres de estudo, em relação à avaliação interdisciplinar que ocorre, apresenta-se a seguir na Figura 9: Semestre Sexto Semestre Quinto Semestre Percepções “É uma iniciativa boa, mas que ainda é muito desorganizada no sentido de assuntos a serem aplicados e tempo para fazer”. “É como um trabalho complexo que acaba tirando a atenção para outras matérias”. “Um trabalho demorado e enrolado, onde muitas vezes nem os professores entre si sabem o que é pra fazer”. Apesar de, “a avaliação interdisciplinar ser muito interessante, pois faz com que os alunos coloquem em prática os assuntos que são ensinados pelos professores no semestre”. “A intenção é interessante, apesar de que a metodologia aplicada deixa a desejar em alguns aspectos, seja por parte dos professores, seja por parte dos acadêmicos. Sobre a avaliação já discordo um pouco, pois é a nota que mais vale então o aluno se dedica mais no interdisciplinar do que nas provas”. “É falha. Não há uma organização adequada para que o trabalho seja feito corretamente. Temos prazo para entregar, mas os professores é que acabam não cumprindo com seus prazos, para que possamos nos prepara com antecedência”. “Vejo que é feito de modo incorreto, pois cada professor se preocupa somente com sua matéria, assim como nós alunos também, pois dividimos o trabalho. Desta forma, cada um “aprende” um pouco das matérias específica que fez. Também acredito que são mal coordenados, não sendo ouvidas as opiniões de 11 quem faz e nunca disponibilizando antecipadamente a parte prática”. “O interdisciplinar atrapalha todo o desenvolvimento do semestre, pois os alunos que estudam no Quarto período noturno, mal têm tempo para resolver os exercícios passados em sala. O aprendizado é Semestre baixo, e o nível de “estresse” é muito alto, o que prejudica o aluno”. “Vejo essa avaliação com bons olhos. Acredito que seja importante essa “experiência” para o aluno. Aprendemos coisas que em sala de aula não aprendemos no dia a dia”. “É boa, pois faz os alunos interagirem e trabalharem em equipe. Simplesmente faz o grupo “correr” atrás de aprendizado, o que poderá ser muito efetivo para os que realmente que aplicam, no futuro”. “Estamos vendo na Terceiro prática que todas as disciplinas se cruzam em determinados momentos e que é de fundamental Semestre importância essa ligação para alcançar-nos bons resultados”. “É um bom método de aprendizado, somos obrigados, de certo modo, a ler pesquisas e se aprofundar, não estudamos apenas para provas. Porém, acho que ainda há muito a melhorar, pois há bastante falta de comunicação entre os professores e os alunos” Figura 9 - Opinião dos alunos sobre a avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis da FURB Fonte: Dados da pesquisa É possível verificar as diferenças entre os distintos semestres. Do sexto ao quarto semestre, por exemplo, os alunos estão implorando por maiores organizações por parte dos professores, estando até pré-dispostos a realizar a avaliação interdisciplinar, por entender que ela é realmente importante, porém sentem a falta da presença de uma orientação adequada por parte do professor. Outro ponto a ser destacado é a satisfação da turma do terceiro semestre, se comparada com as demais, apesar de já haverem indícios de má preparação da interdisciplinaridade, por meio do trabalho que está sendo realizado. Esse fato pode ser justificado pelo plano estabelecido entre os semestres. No aspecto de contribuição da interdisciplinaridade para a formação acadêmica, é interessante verificar se esta avaliação realmente contribui para a formação do acadêmico, na visão do professor e do próprio aluno. Para melhor análise, foi estabelecida a Tabela 2, para uma visão mais abrangente acerca desta questão. Tabela 2 - Percepções sobre a contribuição da avaliação interdisciplinar para a formação acadêmica Percepção Participantes Positiva Negativa Indiferente 6ª Semestre 31% 46% 23% 5ª Semestre 43% 54% 4% Alunos por semestre 4ª Semestre 33% 67% 0% 3ª Semestre 86% 9% 6% Professores 69% 31% 0% Fonte: dados da Pesquisa A percepção dos professores abrange docentes entusiasmados com a prática da avaliação interdisciplinar da forma com vem sendo desenvolvida, como também, professores que percebem a necessidade de algumas adaptações de melhoria no processo de avaliação e até na aplicação deste processo, como descrito a seguir: “A avaliação interdisciplinar contribui e muito, tenho percebido uma grande evolução na formatação dos alunos”. “Pelo trabalho acadêmico, existe uma relação teórica e prática que sem dúvida contribui para a formação discente”. “O acadêmico começa a enfrentar uma nova situação que é de expor-se a defender suas idéias e conhecimento adquirido, o que representa o maior desafio para muitos acadêmicos”. “A prática contribui sim e muito, pelos seguintes motivos: a) Pesquisa; b) Apresentação escrita; c) Apresentação oral e; e) pelo aprendizado, teoria e prática”. Figura 10 - Professores que abordam melhorias com o processo de avaliação interdisciplinar Fonte: Dados da pesquisa 12 Entretanto, em seguida são estabelecidas algumas ressalvas de outros professores: “A prática interdisciplinar é boa, mas está sendo de forma fragmentada. Eles fazem este trabalho no “desespero”, pois precisam dar conta de todos os outros compromissos do semestre. Devido a isto cada aluno fica responsável por uma disciplina. Neste sentido seu conhecimento fica focado numa disciplina”. “Os alunos geralmente dividem as matérias, cada um faz um pedaço. Portanto a contribuição em relação ao conhecimento adquirido é pequena. Entretanto no aspecto de exposição (apresentação pública) o trabalho contribui e muito com o desenvolvimento acadêmico”. “Contribui no sentido da oportunidade dos mesmos participar nos debates, porém prejudica com a participação de alunos na apresentação de outros semestres onde diminui o número de horas aula e os alunos não participarem das apresentações”. “Avaliação serve para medir conhecimentos adquiridos, mas no curso não é um trabalho feito por diversas pessoas, cada qual um pedaço, não caracterizando um trabalho interdisciplinar”. Figura 11 - Percepções de ressalvas sobre a contribuição da avaliação interdisciplinar Fonte: Dados da pesquisa Percebe-se que é necessária uma maior integração do professor com o aluno, pois a avaliação contribui sim na formação, possibilitando a oportunidade de conhecer o que acontece na realidade, compreendendo os fatos. Entretanto, deve ser mais bem planejada, fato este descrito na percepção do aluno, em que apresentam as seguintes argumentações, ao considerar se a avaliação interdisciplinar contribui para a sua formação acadêmica: “Sim, o objetivo é fazer com que os alunos trabalhem o lado pessoal e profissional, as apresentações melhoram e o ato de falar em público”. “Facilita a comunicação entre as pessoas do mesmo curso sem falar do conhecimento”. “Nós acadêmicos nos esforcemos para poder aprender mais para não ficar só no que há em sala”. “Concordo que agrega muitos valores, dentre eles, ética profissional para podermos ter uma visão geral e específica, analisando caso a caso. Conforme os semestres vão passando o nível de cobrança fica maior. Contribui também para discutirmos o certo e o errado que muitas vezes acontece dentro dos escritórios sendo as empresas”. Figura 12 – Contribuições sobre a avaliação interdisciplinar pelos alunos Fonte: Dados da pesquisa Entretanto, a maioria dos alunos percebe que este processo poderia ser melhorado, tanto que alguns apresentaram estar desmotivados com a avaliação. “Deveria contribuir, mas não está acontecendo porque tudo tem ficado para as últimas semanas (desorganização), e acabamos tendo que fazer de qualquer jeito”. “Talvez se fosse mais organizado sim. Porém do jeito que está acontecendo, não me contribui com muita coisa”. “Não. Atualmente desde sua aplicação até a apresentação essa atividade é dividida entre os acadêmicos. Logo, cada um fica com apenas uma disciplina e com isso o conhecimento fica restringido apenas à pessoa que ficou responsável pela sua parte”. Figura 13 - A percepção dos alunos desmotivados sobre a contribuição interdisciplinar Fonte: Dados da pesquisa De acordo com o exposto, os alunos realmente entendem a essência e importância da interdisciplinaridade, porém apontam necessidade de melhor planejamento da proposta. É por estes reflexos declarados e observados pelos alunos que apresentam-se os dados da seguinte questão: Você defende que esta avaliação deva permanecer no curso de Ciências Contábeis? Justifique? Diante desta questão os alunos apresentaram as seguintes percepções: 13 “Acredito que deve permanecer, pois em um ambiente profissional tão disputada, como é a área de contabilidade, os profissionais que conseguiram trabalhar de uma maneira interdisciplinar, sem dúvidas têm a seu lado um diferencial”. “Deve sim, porém somente se for feito um planejamento muito superior ao atual, onde o aluno sinta gosto em fazer e não sentimentos contrários, a inter é muito bom, o que falta é a maneira correta de desenvolver”. “Não, pois todos os semestres os alunos não recebem explicações adequadas, os professores deixam tudo para entregar em cima da hora e com isso, os alunos acabam se desesperando por que o trabalho é entregue de qualquer maneira pela falta de tempo”. “Não, por que não há interdisciplinaridade. Há apenas um encontro de disciplinas feitas por cada membro do grupo juntas em um único trabalho”. “Se não houver melhoria, não defendo, pois não está agregando mais conhecimento e sim atrapalhando a concentração em sala de aula”. Figura 14 – Opiniões dos alunos, que a avaliação interdisciplinar deva permanecer no curso de contabilidade Fonte: Dados da pesquisa É notória a percepção dos alunos. Eles entendem que falta planejamento e envolvimento por parte dos professores. Além das percepções abordadas, foi possível organizar as respostas que indicam uma opinião positiva e/ou negativa. Para uma melhor observação entre os semestres pesquisados, foi elaborado o figura a seguir: Tabela 3 - Análise da permanência da avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis na percepção dos alunos Percepção Fases Positiva Negativa Indiferente Sexto Semestre 46% 46% 8% Quinto Semestre 36% 64% 0% Quarto Semestre 50% 50% 0% Terceiro Semestre 77% 17% 6% Fonte: dados da Pesquisa É possível verificar que a turma do quinto semestre é a mais crítica, com 64% da opinião da turma estar defendendo que a avaliação interdisciplinar não deva mais ocorrer no curso. Percebe-se também que as turmas do sexto e do quarto semestre estão parcialmente igualadas e divididas, com a opinião de continuar com a prática interdisciplinar ou não. Porém, conforme demonstra a Tabela 3, a terceira fase se diferencia das demais apresentadas, no qual se percebe uma opinião mais positiva. Destaca-se que esta turma participou da avaliação interdisciplinar uma única vez. 5 Considerações finais Este estudo teve como objetivo identificar a percepção dos alunos e professores acerca da avaliação interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis, por meio de entrevistas, com a coordenação do curso de Ciências Contábeis e a assessora pedagógica do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, análise da documentação disponível no sítio eletrônico da universidade, relatórios de planejamento efetuado pelos organizadores da prática, o PPP do curso e os planos de ensino das disciplinas, além de um questionário com perguntas abertas distribuído para todos os professores e alunos das disciplinas envolvidas. Na entrevista, a assessora pedagógica destacou que em todos os anos são organizados encontros, palestras para discutir as novas propostas da prática interdisciplinar. Da mesma 14 forma, o coordenador do curso argumentou que todos os docentes recebem orientações e estão conscientes da importância interdisciplinar para a formação dos alunos. Nos questionamentos direcionados aos professores, na questão que trata do planejamento da avaliação interdisciplinar, foi possível verificar que as percepções da maioria dos professores é positiva, participando das reuniões iniciais, do planejamento junto com todos os professores, em que são definidos os temas, procedimentos e metas. Entretanto, existe a necessidade de realização de uma avaliação formal da proposta entre os professores de cada semestre individualmente, junto com a coordenação, no decorrer do procedimento, além da verificação dos planos estratégicos realizados. Em se tratando da aplicação da avaliação interdisciplinar no curso, os professores apresentam como um trabalho realizado no semestre, no qual é atribuída uma nota para o trabalho escrito individual, e uma nota de apresentação, caracterizada como sendo uma nota de prova. Quando esta mesma pergunta é direcionada para os alunos, a percepção que eles apresentam deste trabalho, é por ser avaliado somente por duas maneiras, o trabalho escrito e a apresentação, não sendo considerada a dedicação que o aluno teve em desenvolver este trabalho. Com o intuito de verificar a compreensão tanto dos alunos, como a dos docentes do curso de Ciências Contábeis, sobre o conceito de interdisciplinaridade, os resultados são satisfatórios. Na análise da opinião dos professores sobre a avaliação interdisciplinar realizada, os docentes apresentaram opiniões diferenciadas, das quais 38% das percepções apresentam dados satisfatórios, apóiam a ideia da avaliação interdisciplinar; 31% das percepções corroboram com a prática que está sendo realizada, porém admitem a necessidade de melhorias. Contudo, é possível destacar que 31% dos docentes manifestaram percepções negativas, destacando que a prática interdisciplinar que realizada deve ser remodelada. Entre os alunos é possível verificar as diferenças nos distintos semestres. Do sexto ao quarto semestre os alunos apontam por maiores organizações por parte dos professores ao aplicarem a prática interdisciplinar, estando até pré-dispostos a realizar tal avaliação, por entenderem que o trabalho interdisciplinar é importante. Os alunos sentem a falta da presença de uma orientação adequada por parte do professor. Outro ponto a ser destacado foi a satisfação da turma do terceiro semestre, se comparada com as demais, apesar de já haverem indícios de má preparação da interdisciplinaridade, por meio do trabalho que está sendo realizado, conforme suas opiniões. Verificou-se também se a avaliação interdisciplinar contribui para a formação do acadêmico, na visão do professor e do próprio docente. Entretanto, evidenciou-se a necessidade de uma maior integração entre professor e aluno, pois a avaliação contribui sim na formação do aluno, possibilitando a oportunidade de conhecer o que acontece na realidade, compreendendo os fatos. Portanto, deve ser mais bem planejada, fato este descrito na percepção do aluno, que realmente entende a essência e a importância da interdisciplinaridade na sua formação, porém percebe falta de planejamento. Depois destas observações, foi analisado se a avaliação deve permanecer no curso. As percepções são claras, o trabalho deve permanecer, porém de forma melhor organizada. Cabe destacar que esta metodologia de aplicação da interdisciplinaridade na universidade pesquisada, está em vigor há apenas três anos. A coordenação preocupa-se com a conscientização da importância de uma prática interdisciplinar, procurando-se trazer palestrantes e realizar minicursos, orientando os professores de como realizar a prática e avaliar os alunos, porém sua aplicação vai ao encontro da perspectiva teórica metodológica de ensino de cada professor, ocasionando contradições com o descrito na análise. Como proposta de melhoria, para este caso, cabe a realização de encontros entre os professores no decorrer 15 dos semestres, revisando as estratégias traçadas no início, e adaptando melhorias sugeridas pelos alunos e outros professores, pois cada turma é diferente, merecendo um tratamento específico. Sugere-se para pesquisas futuras a verificação da percepção dos alunos e docentes que apresentam a prática interdisciplinar em outras universidades. Outra sugestão será analisar como ocorre o planejamento ou a metodologia que os docentes utilizam, qualificando o processo interdisciplinar no curso de Ciências Contábeis. REFERÊNCIAS ALTHEMAN, E. A interdisciplinaridade no ensino superior de administração de empresas: possibilidades e dificuldades de efetivação. Trabalho apresentado no III Semead, FEA/USP, São Paulo, 21- 23.10.1998 ALTHOFF, N. S. Práticas interdisciplinares no ensino de graduação em Ciências Contábeis nas Instituições de Ensino Superior da Mesorregião do Vale do Itajaí, SC. 2008. 100 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) - Programa de Pós- Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2008. FAZENDA, I. C. A. Interação e interdisciplinaridade no ensino brasileiro: Efetividade ou ideologia. Edição Loyola. São Paulo, 1993. FAZENDA, I. C. A; SOARES, A. Z; KIECKHOEFEL, L; PEREIRA, L. P. Avaliação e interdisciplinar. Revista Internacional d’Humanitats 17 set-dez 2009. GOMES, R. 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