Jornal Propaganda e Marketing - Pág. 11 ( 20 julho 2009) O Conar que eu sonhei Escrevo com certo atraso sobre a campanha desenvolvida pela AlmapBBDO para o Conar. Mas o fato é que a imagem do Conar desenhada pela agência é exatamente aquela que idealizei em minhas elucubrações. Talvez, aliás, o conceito do Conar tenha sido sempre esse e eu é que, em minha estupidez, não tenha me apercebido. Ou, ainda, quem sabe, como a própria campanha sugere, é a imagem que o Conar, humildemente, gostaria de construir para si por supor, não menos humildemente, ser a imagem que ainda não tem. Não importa. O que vale é a qualidade do posicionamento adotado. É a coragem de se assumir uma instituição tocada “humanamente”, portanto, sujeita a falhas, equívocos, leviandades e humores. Nada mais justo. O Conar não tem que ser outra coisa senão um retrato fiel da sociedade, um caldo em que se dissolvem todos os seus ingredientes. Tenho repetido, incansavelmente, em palestras, a minha rebeldia contra a presunção das “certezas absolutas”. Essa mania recorrente, em todas as áreas do pensamento, de cagarem-se regras a torto e a direito sobre qualquer assunto, sejam contra, sejam a favor, do que quer que seja. Por que, meu Deus, as pessoas têm tanto medo de não saber das coisas, de não ter certeza de nada, de carregar dúvidas gloriosas? Por que precisam, a cada passo que pretendem dar, da bengala das regras, dos postulados, das convicções, tantas vezes pateticamente irracionais? Gosto da campanha da AlmapBBDO porque ela atinge um ponto fundamental para a preservação da credibilidade do Conar: nada aqui é definitivo e, muito menos, perfeito; portanto, não encham o saco com suas ortodoxias medievais! Genial! É de uma pretensão intolerável tentar estabelecer parâmetros morais rígidos num país com a diversidade cultural e racial como a nossa. (Uma brasileirinha, menor de idade, com uma derrière de parar o trânsito, tirou do eixo duas das maiores autoridades mundiais e o planeta, de cabo a rabo, curvou-se, mais uma vez, à sensualidade brasileira; ah!, o autor que mais vende livros no Irã é brasileiro. Viva o Brasil!). Por ter sido gestado e parido de um corpo inseminado por uma inabalável vocação democrática, tem o Conar uma necessidade original de ser flexível, de vagar, livre e assumidamente, ao sabor da evolução do comportamento da sociedade. Sem favorecimentos de cunho moral, religioso ou cultural. A campanha me encantou, ainda mais, por um mérito sutil e de extrema relevância filosófica: ela blinda o Conar contra o radicalismo dos inimigos da publicidade. Claro, pois o que sempre escutei dessa militância ocupada em instigar a censura à publicidade, foi que o Conar não tinha “poder de polícia”, digamos assim. Pois não tem e não deve ter! Pelo contrário, o Conar está muito mais para escola do que para polícia. O Conar ouve e recomenda, guiado pelo juízo do momento da realidade social. Sem dogmatismos, sem preconceitos, sem nenhuma obrigação com “certezas absolutas”. É isso aí. Graças a Deus, as necessárias alterações que são feitas em nosso código de ética nunca estiveram à mercê dos interesses variados e suspeitos dos membros do Poder Legislativo; graças a Deus, o nosso código de ética não depende dos prazos da Poder Judiciário; graças a Deus, o nosso código de ética não necessita atender aos acordos políticos do Poder Executivo. Essa independência é o nosso mais valioso patrimônio. E sua força está, justamente, naquilo que a campanha ensina: somos imperfeitos e permanentemente sujeitos à mudança. Nada melhor para deixar a “oposição” sem discurso. Quanto mais democráticos, quanto mais abertos ao diálogo, quanto mais humildes com relação à própria sabedoria, quanto mais atentos às tendências da sociedade, mais obrigaremos aqueles que não nos toleram a deitar fora suas máscaras e revelarem suas vocações totalitárias. Portanto, não contém conosco em seus projetos de tutela do pensamento nacional. Não contém conosco na busca do controle da opinião pública. Não contém conosco em seus objetivos políticos, sejam eles quais forem. Pois o nosso principal objetivo nunca será outro senão a busca permanente da maior fidelidade possível à liberdade de expressão e ao direito à informação. Stalimir Vieira