Altas Habilidades: O que é isso? Carlos Eduardo Paulino 1 Autor: Carlos Eduardo Paulino Organizadores: Alana da Fonseca Lima e Carlos Eduardo Paulino 2 Inteligência: o que é isso? Há tempos a humanidade se digladia para definir esta função característica de nossa espécie, para alguns é a capacidade de resolver problemas, para outros a de adaptação, outros, ainda, a caracterizam como a propriedade que nos permite viver em sociedade, onde os mais socializáveis teriam mais sucesso, mas a definição que mais se assemelha a realidade é característica única que nossa espécie possui de a partir do concreto criar conceitos abstratos e vice-versa. Nenhuma espécie viva neste planeta é capaz de ao ouvir um conceito imaginá-lo, descrevê-lo, desenhá-lo, ou registrar, de forma escrita, suas características, assim quando o leitor vê uma árvore ele é capaz de dizer o que viu, desenhar a mesma, ou guardar suas particularidades para no futuro reproduzi-las, o contrário, também é verdadeiro, ou seja, se mostrar uma figura de uma árvore para o leitor o mesmo é capaz de transpor o conceito abstrato de árvore representada em um papel e identificar uma árvore de verdade. Você pode estar imaginando que esta característica pode não ser verdadeira para deficientes intelectuais (DI), o que não é verdade, pois mesmo tendo dificuldades maiores, esta característica é preservada, experimente conviver com um, e perceberá que ele cria códigos para demonstrar suas necessidades. Acontece que definir inteligência não revela sua complexidade uma vez que para cada atividade podemos usar uma de suas facetas, sendo assim, a ciência moderna admite que, no momento, temos 13 inteligências que são: linguística, lógico-matemática, musical, espacial, corporal-cinestésica, naturalista, existencial, interpessoal, intrapessoal, analítica, criativa, prática e sintética, mas enquanto escrevo estas linhas uma 14ª esta sendo pesquisada, a inteligência informacional, tão ligada ao nosso tempo de realidades virtuais, redes sociais e informática. Nos próximos artigos pretendemos analisar cada uma das inteligências acima descritas. Até breve. 3 Grupos de inteligências: como assim? Como vimos no artigo anterior, temos muitas inteligências para lidar, afinal são 13, porém as habilidades que as compõe são 257, logo agrupá-las parece ser mais sensato, afinal nossa memória tem limites, ou mesmo nosso interesse não precisa estar voltado para entender as inteligências humanas, quem resolveu encarar esse desafio e com toda a sua paciência resolveu encarar esse segundo artigo, temos que procurar critérios para agrupá-las. E foi isso que fizemos, logo podemos eleger quatro grupos para facilitar ajudar nosso conhecimento nessa área. O primeiro grupo é composto pelas Inteligências analítico-simbólicas, assim chamadas, pois utiliza decomposição, agrupamentos, representações da realidade através de letras e símbolos, fazem parte desse grupo as inteligências linguística e lógico-matemática, consideradas as mais conhecidas, e amplamente utilizadas no ambiente escolar, bem como no cotidiano. O segundo grupo é formado por quatro inteligências, certamente nos deparamos com elas, nossos parentes ou mesmo nós a temos, porém são reconhecidas a pouco tempo, sendo elas a musical, a espacial, a corporal-cinestésica e a naturalista. O terceiro grupo, são as inteligências pessoais tão utilizadas, hoje, por pessoas de sucesso, ou por profissionais que precisam da socialização para ganhar seus dias, caso da existencial, interpessoal e intrapessoal; finalmente o quarto grupo, as chamadas inteligências canônicas, de nomes difíceis, mas de fundamental importância para tarefas específicas, são elas a analítica – que você leitor está usando para ler, entender e refletir sobre este texto – a criativa, a prática e a sintética. Como prometido no primeiro artigo, a partir do próximo, descreveremos, daremos exemplos, de cada uma delas. Quaisquer dúvidas, comentários, por favor, entrar em contato, através do e-mail. 4 Falar, escrever, ler e interpretar A capacidade de nos comunicarmos está ligada intimamente a capacidade de reconhecermos códigos, podendo ser simbólicos, pictográficos, oralizados, ou mesmo representados, pois essas capacidades estão ligadas a inteligência linguística, ora como se percebe, as mesmas dependem do reconhecimento e utilização dos símbolos e de nossa interpretação e análise, por isso, essa inteligência faz parte, ao lado da lógico-matemática, da família das inteligências analítico-simbólicas. Essa inteligência, a linguística, é facilmente reconhecida, na escola, no tribunal, neste jornal, no cotidiano. Crianças que falam bem, desde cedo, são destaques em suas salas, normalmente, exercem liderança, pela habilidade de convencer. Todos admiram grandes escritores, um bom cronista, um belo artigo esportivo, é também uma das habilidades da inteligência linguística – escrever bem. Ler bem, reconhecer o que se leu, é uma habilidade fundamental para estudantes que querem seguir a carreira de Direito, ou a vida Acadêmica (Graduação, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado). Entender o que se leu, a mensagem que o autor quis nos passar, seja direta ou indireta, entender os tipos de discursos, as modalidades da redação (dissertação, descrição, narração, carta), tais capacidades estão ligadas a habilidade de interpretar. Temos também, a facilidade com as línguas estrangeiras, que para alguns parecem impossíveis, enquanto outros parecem ter nascido para entendê-las. Toda a discussão deste texto são exemplos, de características, capacidades e habilidades que compõe o universo que forma a inteligência linguística, para a próxima semana faremos a discussão da inteligência lógicomatemática. Até lá. 5 Contar, reconhecer padrões, jogar, entender gráficos Ficamos assustados a primeira vez que vemos uma lousa cheia de números e equações, mas aparentemente esse susto não é para todos, muitas pessoas veem sentido neles, mais do que em palavras, sentimentos, ou pessoas, quando tentamos entender essa forma de pensar, lógica, aparentemente, fria, adentramos a inteligência lógico-matemática, a mesma que usamos, ao dirigirmos um carro, só não percebemos isso porque nos habituamos ao que fazemos no trânsito, veja o caso de um motorista experiente, aquele que conversa com fluência no trânsito, mas ao perceber uma situação de risco, reage instantaneamente, e se concentra somente na ameaça, pois bem esse cidadão está usando a Inteligência apresentada hoje, afinal ele procura padrões de segurança para evitar uma colisão, faz uma rápida leitura das possibilidades, tantos das suas quanto a dos outros veículos para evitar uma colisão, preservando a sua vida e a de quem está com ele. Toda essa situação, para ficar em algo que vivenciamos diariamente, se assemelha muito a ativação de nossa inteligência que faz uma aposta na Mega-Sena, entende uma jogada do futebol, por exemplo a triangulação, ou o impedimento, dá um troco rápido no comércio, calcula quantos tijolos são necessários para uma fiada de parede, ora então a lógica e a matemática não são tão distantes assim como queremos crer ao ter uma aula de probabilidade, ou ao olharmos a curvatura de um parábola, ou mesmo uma tabela para construirmos uma equação do 1º grau, a bem da verdade não vivemos sem essa inteligência. Claro, uns mais, outros menos. Assistimos ao filme Uma Mente Brilhante, e vimos que o jovem John Nash, com pouco mais de 20 anos, desbancou 250 anos de Teoria Econômica fundamentadas nos pensamentos de Adam Smith e o incrível é que o mercado financeiro internacional, atualmente, todo funciona segundo a lógica de Nash, ou seja, ganhar dinheiro, hoje, em uma bolsa de valores, significa usar a lógica de Nash. Espero que ao ler esse artigo, vocês leitores, fiquem mais amigos da matemática e da lógica. Até a próxima. 6 Uma moda de viola, uma sonata, um heavy metal ou um sertanejo universitário Muitas pessoas vivem seus dias embalados por diversos tipos de canções, de todos os estilos, o importante é aquele som harmônico no fundo dos nossos ouvidos. Alguns preferem com letras, outros apenas a melodia, mas, o que é bom mesmo, é uma boa música. São muitos estilos, o importante é que nos traga boas recordações. Agora falando mais sério, você já deve ter conhecido aquele instrumentista que nunca estudou, mas toca qualquer instrumento, ou aquele cantor da família que não sabe o que é nota musical, mas varia os tons como uma cotovia, pois bem, trata-se dos “ouvidos absolutos”, fato raro, mas presente em nossas vidas, pois bem, tanto aquelas pessoas que não vivem seus dias sem uma boa música, quanto os “ouvidos absolutos” desenvolveram a inteligência musical, uns mais, outros menos. Curiosamente a diferença está em qual hemisfério do cérebro se “ouve” os sons, em pessoas comuns, como esses autores, a música sensibiliza o lado direito do cérebro, mais chegado a uma criatividade, atividades artísticas, gosta de cores, de harmonia, de felicidade. Para os “ouvidos absolutos” o canal é diferente, pois eles “ouvem” a música, como um matemático decompõe a curva que embarriga nosso varal, a mesma que está na superfície de um bombom, ou na curva da barriga de um peixe, ou seja, um músico talentoso, “ouve” a matemática das notas, a função dos acordes, pois para ele o som é combinação matemática das notas, por isso, músicos famosos, que ficaram surdos, encostavam os ouvidos na caixa de ressonância de seus instrumentos, para poder “ouvir” a vibração desses instrumentos, em seguida, reproduziam aquelas notas sentindo as vibrações das cordas, dos pedais, ou das teclas. Um espetáculo A música é sublime, uma criação espetacular do Homem, mas entendêla enquanto uma de nossas inteligências chega a ser poético. Recentemente, as escolas brasileiras adotaram a música como disciplina. Oxalá descubram 7 Baden Powells, Velosos, Tião Carreiros, Mozarts, Chopins, etc, etc....E porque não grandes matemáticos? 8 Da neurocirurgia a intuição Sabemos da complexidade de uma cirurgia no cérebro ou do coração, o quanto é necessário estudar, praticar, para salvar vidas, sobretudo quando se trata de crianças, pois essa especialidade envolve uma de nossas inteligências mais sutis. Sabe aquele garoto que anda com sua moto costurando no trânsito em alta velocidade? Sabe aquele aluno que no intervalo joga pebolim, ou sinuca, como ninguém? Sabe aquela avó que tece tapetes, faz crochê, tricô? Pois bem, essas pessoas mostram uma coordenação perfeita, entre o pensamento, os olhos e as mãos, e isso não é fácil. Tente fazer duas coisas ao mesmo tempo, por exemplo, escrever em uma lousa, um conteúdo de História, ao mesmo tempo em que fala sobre seu time preferido. Não é fácil. Agora imagine coordenar três funções, a concentração, o olhar e transmitir, perfeitamente, esses comandos para suas mãos. Não é, nada, fácil. Os professores de medicina, enfermagem, biologia, educação física, entre outros, lidam com essa inteligência diariamente, e precisam atentar para ela, pois um bom médico neurocirurgião vai precisar dela ao longo de sua carreira. E muito! Além de quase uma década de preparação teórico-prática, o profissional que trabalha com esse setor precisa dessa inteligência, ou ao menos exercitá-la. Em nosso cotidiano ela também está presente, em nossas intuições, “previsões”, antecipações, e que parece estar mais presente nas mulheres, provavelmente, por sua emoção mais afinada, mais desenvolvida, ou mesmo, pelo mecanismo cerebral de processamento dos fatos, ligado tanto ao hemisfério direito, quanto ao esquerdo. Por isso, elas parecem mais intuitivas, suas inteligências espaciais são mais aguçadas, resultado do desempenho de suas funções como mulheres, esposas, mães, avós, enfim todos os nobres papéis que elas executam. 9 Pelé, Ayrton Senna, Michael Jordan e Michael Phelps O Brasil é um país tropical, de clima quente e úmido, ideal para aproveitar uma vida ao ar livre, tanto que gostamos muito de sair, de estar em lugares públicos, tudo isso, favorece a prática esportiva, no entanto, há países com clima muito rigoroso nos quais os esportistas são excelentes, pois bem, o domínio da bola, seja ela de qual cor for, o comando de um bastão, de um veículo, a feitura de uma jogada perfeita, depende da inteligência corporalcinestésica, precisamos dominar nosso corpo e tornar o objeto de nosso esporte uma extensão dele, pelo menos é assim que os grandes esportistas reconhecem ou definem seus objetos de trabalho. O dançar, o sapatear, um jogo de bocha, mostra à coordenação, a antecipação, a visão, as estratégias utilizadas por um esportista, claro, todos possuímos a inteligência corporal-cinestésica, porém muitos a utilizam mais, ou a descobrem mais cedo, por isso, parecem mais habilidosos, de forma extrema são usadas pelos grandes esportistas, por isso Michael Jordan parecia voar no “garrafão”, por isso parece que a bola está colada nos pés de Messi. É comum em alguns esportes a utilização da inteligência espacial, discutida por nós no artigo anterior, por exemplo, no xadrez quando o jogador antecipa ou lê várias jogadas na frente, ou ainda no automobilismo quando o piloto guia com tanta precisão que parece um relógio, como fazia Ayrton Senna em suas “flying laps”, ao cravar as 65 pole positions de sua carreira, ou Michael Schumacher quando das voltas “ideais” para seguir a risca a estratégia que lhe deu 91 vitórias na Fórmula 1, dessa forma seus apelidos estão plenamente justificados. Ayrton era conhecido como o “Mágico” e Michael como a “Máquina”. Portanto quando revir os saltos de Daiane dos Santos ou de Nadia Comaneci, lembre-se que está apreciando a inteligência corporal-cinestésica. 10 Gostar de flores, entender os animais, defender o meio ambiente Nos últimos 50 anos tomamos consciência que alguma coisa deve ser feita para preservar a natureza, desde a I Reunião Internacional do Meio Ambiente ocorrida em Estocolmo, na Suécia em 1972, depois repetida de 10 em 10 anos, Nairóbi (Quênia), Rio de Janeiro e Johannesburg (África do Sul) e agora na Rio + 20, tentamos amarrar acordos para que os países e suas populações preservem os recursos naturais para as futuras gerações. Está na pauta do dia, faz parte de nosso presente e do futuro de nossos filhos. Cuidar da água, das árvores, planejar o consumo, evitar o consumismo, respeitar a atmosfera, os solos, as rochas, são questões cotidianas, porém está claro, que devido a urbanização, ao crescimento urbano, as migrações e a disseminação da tecnologia, que estamos nos afastando da natureza, deixando de apreciá-la, de respeitá-la, de entendê-la. Nossos ancestrais dependiam dela para sobreviver, e por isso, conviviam harmonicamente com ela, interpretavam seus sinais de “amizade” ou de “inimizade”, tanto que as mais antigas religiões, conhecidas hoje, como animistas ou fetichistas, atribuíam caráter divino à esses sinais. Mais recentemente começamos a estudá-la e, portanto a entender seu funcionamento, seus padrões, sua capacidade termorregularizadora, seu papel de filtro a radiações nocivas, sua função purificante. Muitos naturalistas, assim eram conhecidos, até bem pouco tempo, os pesquisadores que se dedicavam a entender toda essa dinâmica, entre eles, Spix, Martius, Humboldt, Wallace e Darwin, para ficar nos mais conhecidos. Hoje temos cursos universitários que se dedicam a formar pessoas que continuem a estudar suas importâncias, bem como divulgá-las, pois parece, que o caminho que seguimos não é o melhor. Portanto se o leitor, gosta de passar parte de seu tempo junto as flores, ou próximo a um rio, que gosta da paz de espírito proporcionada pela natureza, que entende o comportamento dos animais, ou faz a leitura do “tempo” olhando o deslocar das nuvens, saiba que você faz parte daqueles que usam a 11 inteligência naturalista, saiba também que a estamos perdendo, e ainda, que precisamos e precisaremos muito dela, para enfrentar o que vem por aí. 12 Maomé, Jesus Cristo, Buda, Chico Xavier Bilhões de pessoas em todo o mundo tem experiências místicas, sentimentos sobrenaturais, fatos inexplicáveis, que são interpretados das mais diversas maneiras dependendo de suas religiões, porém sabemos que este campo está longe de ser um ponto de concordância para o Homem, mas parece que não há muita discussão quando o assunto é fé. Até os mais descrentes demonstram respeito por uma pessoa de fé, algumas vão além e dedicam suas vidas a praticá-la, criando para isso uma série de preceitos morais, valores e éticas. Independente da escala, muitas pessoas vivem dessa manifestação, para o bem ou para o mal, como em quaisquer atividades humanas, certamente há uma discórdia com a ciência quando se pensa nessas manifestações, pois as mesmas não podem ser replicadas, mas não conheço muitos pesquisadores que não reconheçam que o filho de um carpinteiro, que viveu numa região desértica, inóspita, difícil, foi o homem mais influente da História. No Oriente, por sua vez, também existem homens que criaram doutrinas morais que influenciam bilhões de seres humanos. Recentemente um brasileiro de origem humilde escreveu quatro centenas de livros doando a maior parte dos recursos adquiridos para os necessitados. Gestos desta magnitude, influências do tamanho de um mundo parecem não ser para qualquer um. Saber tocar o interior das pessoas, trazer esperanças, despertar forças adormecidas, avivar emoções e principalmente, trazer alívio a nossa insignificância, faz parte das habilidades da Inteligência Existencial. Como dissemos acima, alvo de discórdias, mas sem dúvida, um alívio para quem a usa e para quem precisa de quem a use, para dirimir ódios, desavenças, rancores, trazendo calma, paciência e amor. 13 Gostar de gente. Ser professor, cuidador, enfermeiro As pessoas que possuem a inteligência são facilmente reconhecíveis, são amáveis, socializáveis, carinhosas, causam empatia, sorriso fácil, gostam de conversar. As profissões mais procuradas por pessoas assim, são as da área das humanidades, muito embora, o pessoal da saúde não fique longe, sobretudo os enfermeiros. Gostamos de pessoas que se interessem por nós, que nos entenda, que cuidem de nossos idosos e de nossas crianças. Que tenham disposição para trabalhar com as necessidades educacionais especiais, é possível, no entanto, observar pessoas que não gostam tanto de gente, cuidar de gente, normalmente, isso não dá bons resultados, daí, muitas vezes, conflitos, agressividade e violência, como se vê noticiado quase todos os dias. É preciso se conhecer, se avaliar, entender se gostamos da diversidade humana. Se somos tolerantes, as pessoas tem suas qualidades, mas também defeitos, o que inúmeras vezes torna insuportável a convivência, porém para muitas pessoas esse é mais um desafio a ser vencido e elas gostam de saber que são capazes, gostam de outras culturas, de outros valores, respeitam normas, regras e leis completamente diferentes das suas, tornando-se grandes cuidadores, excelentes amigos, ótimos membros da comunidade. No mundo de relações efêmeras, de impaciência, da velocidade alucinante, parar para conversar, ouvir, trocar impressões, parece coisa do passado. Não é bem assim. Nós brasileiros temos essa conduta. Somos muito socializáveis. Orgulhamos-nos disso. Podemos dizer que nosso povo tem um imenso patrimônio de inteligência interpessoal, é verdade que nem sempre bem aproveitado, mas que faz parte de nós é inegável, o mesmo não podemos dizer de outros povos. Em parte isso se explica por nossas raízes étnicas com origens indígenas, africanas e ibéricas, todos povos com grande facilidade e agilidade na comunicação. 14 Entender nosso interior Somos resultado de nossa forma de ver o mundo, de nossas experiências, de nossas crenças, de nossa família, de nossos cônjuges, nossos ancestrais e descendentes, o ambiente que nos rodeia, nossa estrutura genética, valores, normas, leis, história e cultura, mas também de nosso complexo cérebro que na verdade são três. Dentro de nossa cabeça existe um órgão maravilhoso divido em dois (hemisférios), ou em quatro (lobos), ou ainda em três (Límbico, R e Córtex), dentro dessa divisão física, habitam ‘seres’ não tão físicos assim como o ego, o alter ego, o superego e o id. Todos batalham para definir o que somos. Nossos limites, nossas ações, enfim para nos controlar. Pessoas, mentalmente, saudáveis, sentem a presença das várias manifestações, sejam as físicas, ou as não físicas. Quando ocorre o desequilíbrio temos um problema mental. Assim pessoas muito reprimidas estão sobre o capataz superego, pessoas incontidas que buscam o prazer a todo o custo estão sobre outro tirano o id. Assim somos nós. Porém esses ‘personagens’ que habitam nossa cabeça não se revelam facilmente e aí precisamos dos ‘médicos de almas’, aqueles profissionais que ‘enxergam’ esses personagens, sabem controlá-los, entendê-los, às vezes, curá-los, o que tanto fizeram Freud, Jung, Klein, Lacan, entre outros. Se você é daqueles que gosta de ouvir, se entende as entrelinhas das palavras, as estratégias humanas, se consegue ver o mundo da ‘cabeça’, ou mesmo se ficou curioso com a leitura dos ‘personagens’ de nossa cabeça, você possui uma inteligência, muito usada pelos psicólogos, analistas, psicanalistas, que é a inteligência intrapessoal, não por nada, as grandes empresas recrutam tanto profissionais destas áreas para os departamentos de recursos humanos, justamente para entender os futuros profissionais que trabalharão nessas empresas, seu desempenho individual, em grupo, sua resistência, resiliência, enfim mapeiam o candidato certo para a vaga que se pretende preencher. 15 Todos os ângulos de um assunto O que tem acontecido com as mulheres? Qual a razão de tanto sucesso profissional? O que acontece com tantas em cargos de chefia? É verdade que elas estão aumentando sua participação na vida acadêmica e política do nosso país? Pois é caros leitores, principalmente, os do século masculino, parece que o mundo deseja que as pessoas consigam analisar todos os pontos de vista, opiniões, análises sobre um assunto, e no momento, quem tem feito isso são as mulheres, daí sua ascensão em todas as áreas das atividades humanas. Mais tolerantes, concentradas, com a capacidade de ouvir, e depois decidir, as pessoas com inteligência analítica, praticam tais habilidades com grande frequência. Consideradas mais pacientes, conciliadoras as mulheres se destacam nessa inteligência. Nós homens, somos mais objetivos, o que é muito bom em certas circunstâncias, mas não em todas, por isso, tendemos a ser mais impulsivos, agressivos, muito diretos, pouco maleáveis, isso tem reflexo até em nosso jeito de viver, tanto que o homem vive, em média, 69 anos no Brasil, enquanto a mulher 76 anos, uma das maiores diferenças existentes no mundo. Com tanta diversidade, diferenças, integração, inclusão e empoderamento que estamos convivendo, em razão de acordos internacionais que participamos como o Acordo de Jomtien, assinado na Tailândia em 1990, ou a Declaração de Salamanca (1994), precisamos de profissionais que se coloquem no lugar do outro, que imagine o que o próximo precisa, que entenda as necessidade especiais de 25 milhões de pessoas no caso brasileiro, tais profissionais precisam utilizar, sobretudo, a inteligência analítica. Com esse artigo começamos a explicar as múltiplas inteligências com uma visão um pouco diferente, mais voltada à prática, a todos os tipos de pessoas e profissionais, ao gosto de um grande pesquisador norte-americano chamado Robert Sternberg. Até então analisamos o ponto de vista, sobre as inteligências, segundo a visão de Howard Gardner. 16 Fazer diferente. Improvisar. Inovar. Empreender. Uma das características mais notáveis do ser humano é a capacidade de criar. Assim , quando no final do século XIX anunciava-se a morte da física, um professor alemão tentando resolver o problema do corpo negro, criou, sem tomar consciência imediata, a física do século XXI, a que nos deu os aparelhos de Raios-X, a tomografia computadorizada, a ressonância magnética nuclear, entre outros inventos que revolucionaram a medicina, consequentemente, a saúde humana e contribuíram para aumentar nossa expectativa de vida de 35 anos, no início do século XX, para 70 anos, no início do século XXI. Sem saber de todas essas consequências Max Planck criou a mecânica quântica. Claro. Nem tudo são flores. Advinda da mesma invenção surgem às armas nucleares, com toda sua capacidade imensa de causar mortes, como ocorreu em Hiroshima e Nagasaki. E que nos sirva de lição. O mesmo se pode dizer da física do cosmos. Um humilde funcionário de um escritório de patentes da Suíça, abala toda nossa compreensão do universo, ao introduzir uma interpretação não euclidiana sobre o espaço, e ao acrescentar uma quarta dimensão ao mesmo, conhecida como tempo. Cabe ao professor Einstein, a teoria dos covariantes e dos tensores, popularmente, chamada de Teoria da Relatividade. Recentemente, em outra área, dois jogadores de futebol da América Latina vêm espantando o mundo com seus feitos, logo em um esporte que é praticado do mesmo jeito a mais de cem anos, em que todos conhecem as regras, caminhos táticos e técnicos, porém frente à inventividade humana, não existe estatística, ou estudos que resistam. Neymar e Messi vêm dando uma lição ao mundo do futebol, do que é criatividade, inovação e improviso. Pessoas assim têm em comum, embora em áreas díspares, a inteligência criativa. Quando algo parece esgotado, elas criam novas possibilidades, novas soluções, quando não, novos mundos, como são os casos de Bill Gates, Steve Jobs e Mark Zuckerberg. 17 Atividades manuais. Laboratório. Exercitar o corpo. Você conhece um tipo de pessoa que é um excelente prático, mas não consegue explicar o que faz? Foi um excelente aluno nas aulas de educação física, era um exímio montador de brinquedos, quando na faculdade, se arrastava nas aulas teóricas, tinha dificuldade de concentração, mas ao chegar às aulas práticas se transformava demonstrando toda a sua destreza. Pois bem, é possível que você estivesse diante de uma pessoa com inteligência prática. Ao longo de nossas vidas nos deparamos com pessoas que enriqueceram, mas com um nível de escolaridade bem elementar, isso ocorre, pois essas pessoas “leram” a principal lei do capitalismo, e que não está escrito em nenhum dos cânones da legislação, que é a lei da oferta e da procura, ou seja, perceberam que no mundo precisamos ser diferentes, fazer o que ninguém faz, enfim sermos algo raro, pois assim a procura por nossos talentos, habilidades, capacidades ou produtos será elevada, ou se pagará muito por isso, obviamente se perguntar o segredo de seus sucessos, eles jamais usarão tal explicação, tendo em vista que não precisam da mesma. Bill Gates, Steve Jobs, aliás, até demais, abusou da inteligência prática, a ponto de negligenciar tratamento médico para um tumor, tranquilamente curável; Werner von Braun, o engenheiro de foguetes nazista, que atormentou o Reino Unido, durante a II Guerra Mundial (1939-1945) com seus primeiros mísseis, o V1 e o V2, e que depois se tornaria um dos homens que levou o homem a lua; Nicolas Sadi-Carnot que com suas equações colocadas em prática nos permitiu entender tudo sobre o calor, suas trocas, e enfim, a refrigeração que hoje se traduz em geladeiras, micro-ondas, freezers, condicionadores de ar, câmaras frigoríficas, entre tantos utensílios industriais e domésticos que nos trazem conforto; são exemplos de pessoas de inteligência prática, muito adiante de seus tempos, e que hoje permitem a muitos 18 empresários desfrutarem de seus inventos, mesmo não reconhecendo a contribuição dos mesmos, aliás mais um exemplo de inteligência prática. 19 Sites. E-mail. Redes de relacionamento. Vocês percebem que as crianças parecem ter mais facilidades com o mundo virtual? Que aprendem, com a maior naturalidade, o último lançamento do mundo da informática? Que parecem discutir qualquer assunto do dia? Pois bem, amigo leitor, estamos diante da inteligência sintética. Sim, esta é uma inteligência atual, destas que nós desenvolvemos para lidar com os novos problemas, pois nosso problema atual é lidar com um volume de informações crescente. As mudanças são tão significativas nos dias atuais, que qualquer ramo do conhecimento dobra a cada dez meses, e mesmo os valores humanos são efêmeros ao ponto de uma geração humana durar cinco anos, pois frente a essa efemeridade, as pessoas mais tradicionais, mais tranquilas, sofrem, às vezes, até, se deprimem. Quanto à nova geração, parece adorar este novo mundo, pois nasceram e se desenvolveram nele, consomem a informação em volume rápido e constante, mesmo que isso traga consequências. Entre os mais jovens a dificuldade de se concentrar por longo tempo, não é incomum. Ficam entediados com muita facilidade. Têm dificuldades de se aprofundar nos assuntos, muitos assistem a uma aula como a coisa mais difícil deste mundo. Explica-se. Com o excesso de informação, pesquisou-se o tempo médio de concentração de uma pessoa normal, e concluiu-se que dura seis minutos! Tanto que os meios de comunicação, principalmente a televisão e os sites usam exatamente este tempo como duração máxima de seus tempos (takes) prendendo assim a atenção do espectador por horas. Acontece que aprender matemática, outro idioma, leva mais tempo, demanda mais concentração, o que parece ser um problema da nova geração. Substituiu-se a memória de curta e longa duração, pela memória sensorial e de trabalho, logo a escola está perdendo para a mídia. O grande problema está que precisamos de concentração para ensinar, mas há uma geração com concentração difusa, muito deles, infelizmente, tem 20 sido diagnosticado como transtornos de déficit de atenção com hiperatividade, como se fosse possível decidir a vida de um sujeito em 50 minutos de conversa. Dá-lhe medicamento para acalmá-los! 21 A história do estudo da inteligência Depois de tantos artigos definindo a inteligência e seus tipos, chegou a hora de contar, em breves linhas, um pouco de sua história. Tudo começou com a II Revolução Industrial, a do século XIX, quando dominamos a eletricidade e os motores químicos, nesse momento de ebulição do conhecimento, o Homem queria quantificar tudo, medir tudo, ter controle sobre tudo. Foi a Era da Razão. Neste tempo, os pesquisadores, que acumulavam 200 anos de estudo do cérebro vão perceber sua importância, tornando-se o principal órgão do corpo humano, em substituição ao coração, portanto, o centro de nossa inteligência passa a ser esse incrível processador de dados, responsável pela memória, fala, visão, audição, enfim todas as funções cognitivas. Disseca-se o cérebro procurando localizar em cada parte do mesmo os centros responsáveis por comandar suas funções, pois neste período aparece Francis Galton, parente de Charles Darwin, que esboça testes para quantificar a inteligência. A intenção era medi-la. Do outro lado do Canal da Mancha, no grande rival da Inglaterra, que era a França, um pesquisador, mais renovado, chamado Alfred Binet vai iniciar estudos em 1905, concluídos em 1916, que darão origem ao famoso teste de QI (Quociente de Inteligência). O QI compara a idade mental ou intelectual com a idade cronológica, de onde sai um índice, de tais indicies foram apontados intervalos, entre os quais o considerado de inteligência normal, variava de 0,9 a 1,1, ou se preferirem de 90 a 110, assim sendo, se o leitor for submetido a um teste de QI, e seu índice variar neste intervalo, sinta-se a vontade, pois possui inteligência normal. No entanto, embora estes testes tenham evoluído muito há fortes críticas sobre eles, entre as mais contundentes, a do paleontólogo, já falecido, e grande divulgador científico Stephen Jay Gould, que em seu, espetacular, livro A Falsa Medida do Homem, disserta sobre as razões 22 ideológicas existente por trás de sua descoberta e disseminação como meio de controle. 23 Da abordagem psicométrica as múltiplas inteligências De 1911 a 1954, os testes de QI, atingiram seu auge. Tudo era medido pelo QI. Nos EUA o exército usava os resultados para se orientar em quem seria soldado e quem seria promovido, isso também ocorria nas empresas daquele país, para saber quem se tornaria gerente e quem sempre seria operário. Pena que, naquela época, o teste permitia se ter ideia, embora com pouca precisão, das inteligências linguística e lógico-matemática, aliás, as mais valorizadas, e pior, as vezes as únicas valorizadas, nas escolas. Afinal dizemos que um aluno é bom quando ele sabe ler bem, escrever bem, interpretar bem, ou entender as relações das variáveis no gráfico, as equações, os números e os conjuntos, nunca afirmamos ser bom um aluno, que conserta bem um carro, que atende bem numa padaria, que pratica bem um esporte ou que toca bem um violão. Contra a padronização que se tornou a ditadura do QI, o professor yankee J. P. Guilford levantou sua voz, pois percebera, em várias escolas pesquisadas, que havia ‘pérolas’ nas artes, na música e nos esportes. Durante uma década e meia, de 1954 a 1967, principalmente, o intelectual pesquisou ardentemente e desse trabalho todo sai o primeiro esboço do que seria a Teoria das Múltiplas Inteligências, tido como filha de Howard Gardner, mas o pai da mesma foi Guilford. O apaixonado mestre afirma que há pelo menos quatro inteligências entre nós, sendo as duas tradicionais, a linguística e a lógica-matemática, e ele nunca falou contra a importância das mesmas, a artística-cultural (a dos artesãos, pintores, desenhistas, escultores, músicos, poetas) e a cinestésicacorporal (praticantes de esportes, dançarinos, músicos). É desta abertura que nasce um novo trabalho, já no ano de 1973, com o pesquisador ítalo-americano Joseph Renzulli, mas que trataremos na próxima semana. Tenham sorte. 24 A Teoria dos Três Anéis Em 1973 o pesquisador yankee Joseph Renzulli começa as pesquisas sobre pessoas com maior facilidade de aprendizagem, criatividade aguçada, comportamento social diferente, ou seja, inteligência diferenciada, a partir destas pesquisas define características que apontam para uma pessoa superdotada. Para os norte-americanos a superdotação é um dom, nasce com a pessoa, é de origem genética, ou divina, dependendo da concepção, no entanto, a mesma só se manifesta através do desempenho. É preciso, na sua área de atuação, ser o melhor, fazer diferente, persistir no que faz daí o estudioso definir a Teoria dos Três Anéis para identificar as características de uma pessoa superdotada. Como o próprio nome da Teoria anuncia são necessárias três características, coexistindo simultaneamente, para se afirmar a condição de superdotação. A primeira é a Habilidade Acima da Média, característica facilmente perceptível entre as pessoas, uma vez que em cada quatro pessoas, uma possui tal característica, ou seja, é Habilidosa. A segunda é a Criatividade, ou seja, o inventar, o empreender, o fazer diferente, o ser original, característica, também, facilmente identificada, o problema está em coexistir as duas características, nesse caso, para cada 10 pessoas apenas uma possui a Habilidade Acima da Média e a Criatividade, simultaneamente, a esse tipo de pessoa, chamamos de Talentosa. A terceira característica, considerada, o ‘calcanhar de Aquiles’ da Teoria, é o compromisso com a tarefa, ou seja, a pessoa se envolve espontaneamente com o que gosta de fazer, faz tanto e com tanta vontade e concentração, que é difícil demovê-la da mesma. Quando as três características coexistem, chamamos o indivíduo de superdotado, fato raro. Apenas 1 em cada 100 indivíduos estão nesse grupo. Porém é uma das características mais democráticas da natureza humana, pois aparece de forma homogênea em quaisquer grupos sociais. 25 No próximo artigo trataremos de aprofundar o trabalho desta semana. Até lá. Tenham sorte. 26 O Modelo multifatorial da superdotação Em 1992, um especialista na área da superdotação colega de Renzulli, Mönks, percebe que as três características da superdotação (motivação, criatividade e habilidade acima da média) eram reveladas por três grupos diferentes. Curioso é que em 1990 Renzulli, também, havia percebido isso, mas anunciado de forma diferente. Enfim os dois pesquisadores por métodos diferentes perceberão, que para investigar com fidedignidade a superdotação era necessário conhecer três “universos” da vida de uma pessoa. O escolar, o familiar e as amizades. Para Renzulli (1990) e Mönks (1992), quem, primeiro, percebe a existência de uma habilidade acima da média, lembrando ao leitor que são 257 habilidades, e que elas se manifestam em quaisquer esferas das atividades humanas, não só na vida escolar, são os familiares, pois, pai e mãe convivem com a criança desde o primeiro momento, às vezes convivem com muitos filhos, sobrinhos ou irmãos, facilitando a eles a identificação das diferenças, qualidades e defeitos. Qualquer trabalho sério nesta área tem que levar em conta o trabalho com os pais. Ainda para os pesquisadores, ninguém melhor que os colegas e/ou amigos para revelar a criatividade de uma criança. E essa criatividade é revelada quando eles estão com eles, ou seja, à vontade. Longe de nós. Somos mais altos, mais fortes, nossa voz é mais forte e nossos olhares os censuram. Portanto, somente, quando estão entre eles, é que são naturais. Daí que o investigador tem que criar uma atividade lúdica, para com toda paciência, captar entre as crianças as características da criatividade, que são 14. Na próxima semana continuaremos a analisar o Modelo multifatorial. Até breve e tenham uma ótima semana. 27 A precocidade Como sabemos a fragilidade no trabalho de identificação da superdotação está no compromisso com a tarefa, ou seja, alguém gosta de um assunto, de uma atividade, mas não se compromete com a mesma, não a faz de forma apaixonada e espontânea, significa que a caracterização não pode ser finalizada, por isso, a pessoa pode ser habilidosa ou talentosa, mas não superdotada. Logo para que se observe essa característica, compromisso ou envolvimento com a tarefa, é necessário que o pesquisador ou profissional, faça um trabalho ao longo do tempo, aliás, a identificação nunca é uma atividade apressada. Desconfie de quem faça um diagnóstico em uma sessão ou consulta, pois levamos de 8 meses a 1 ano para observar e afirmar que alguém é comprometido com uma tarefa. Podemos abreviar, no entanto, esse trabalho, segundo Mönks, conversando com os professores. Como eles passam muito tempo com os alunos, atribuem-lhes tarefas, tanto na escola, quanto para casa, os mesmos observam quem é dedicado, quem é esforçado, quem faz com prazer ou é estimulado. Esta última característica precisa ser profundamente investigada, para que o observador não seja enganado, não são poucas as crianças que são superestimuladas pelos pais, dando a impressão de serem muito mais inteligentes que as demais, o que não é verdade. Estamos, neste caso, diante de uma criança precoce, ou seja, aquela que faz as coisas muito antes que as outras crianças, e isso não, necessariamente, quer dizer que a mesma seja superdotada. É muito comum que a criança precoce, usada pelos pais, se canse do papel, ou seja, suas emoções não acompanham o nível de seu conhecimento, quando isso ocorre à criança se torna normal, depois de um tempo, passa a ter 28 o mesmo nível de desempenho que as outras. Temos, também, os prodígios, mas isso é assunto para o próximo artigo. Até lá. 29 Do prodígio a legislação Quando uma criança ou jovem realiza qualquer atividade no mesmo nível de um adulto estamos diante de um prodígio. Ao conhecer um prodígio ficamos admirados com tanta facilidade, habilidade e beleza na execução da atividade por ele escolhida, mas essa condição, ainda, não representa o superdotado. Claro que temos prodígios superdotados, inclusive, para alguns estudiosos este é um estágio ou gradação da superdotação, assim como os precoces, mas se a habilidade ou o talento surgir de uma estimulação tem que ter muito cuidado. Conhecido o trabalho de Renzulli e Mönks, além das definições para precoces e prodígios, precisamos comentar o trabalho de Ellen Winner, esposa de Howard Gardner (um dos mentores das Inteligências Múltiplas). Essa pesquisadora norte-americana escreve, em 1989, uma obra seminal na área (Crianças superdotadas: mitos e verdades), em que discute a questão do termo superdotado. Infelizmente, esse termo traz mais problemas que vantagens, a começar pelo prefixo super. As pessoas pensam que se alguém é super em alguma atividade, a mesma não precisa de nenhum auxílio, e que por si mesmo encontrará seu caminho na vida. Falsa impressão. As pessoas superdotadas precisam de atendimento educacional especializado (AEE), tanto quanto um autista, um síndrome de down ou qualquer deficiente. É lei. Desde 2008 temos uma legislação específica para as necessidades educacionais especiais que incluem, amplamente, os superdotados, inclusive quando os mesmos são identificados à escola que o assiste passa a receber em dobro, o que, acaba beneficiando todos os alunos. O mesmo deve ser atendido em contraturno em salas multifuncionais por uma equipe multidisciplinar, ou por alguém capaz de enriquecê-lo. 30 Da superdotação a altas habilidades O choque provocado pela obra de Winner levou a uma forte reflexão entre os pesquisadores da área no mundo todo. Aqui no Brasil os centros de pesquisa começaram a questionar o termo superdotado propondo altas habilidades, dotados e talentosos. Ainda vivemos a discussão da terminologia, no entanto, para estes articulistas afinados com os centros de pesquisas da área, localizados em Brasília (DF), Lavras (MG), Rio de Janeiro (RJ), Santa Maria (RS), Marília (SP) e Assis (SP), adotarão, a partir de agora, o termo altas habilidades, lembrando que o Ministério da Educação (MEC), utiliza a terminologia Altas Habilidades/Superdotados ou AH/SD (sigla para o termo). Quanto a você leitor, sinta-se a vontade, desde que entenda que uma pessoa altas habilidades, ou superdotada, apresenta as seguintes características: habilidade acima da média, compromisso com a tarefa e criatividade. Tendo em conta a sequência de nossas discussões, escreveremos, a partir daqui sobre a criatividade, para isso pedimos licença aos pesquisadores brasileiros, que definiram 14 características para descrever uma pessoa criativa, que são: fluência e flexibilidade de ideias, pensamento original e inovador, alta sensibilidade interna e externa, fantasia e imaginação, inconformismo e independência de julgamentos, abertura a novas experiências, uso elevado de analogias e combinações incomuns, ideias elaboradas e enriquecidas, preferência por situação de risco/ousadia, alta motivação e curiosidade, elevado senso de humor, impulsividade e espontaneidade, confiança em si mesmo ou autoconceito positivo e sentido de destino criativo. 31 A criatividade Considerado um dos aneis do trabalho de Renzulli, a criatividade tem várias características, entre elas à fluência e flexibilidade de ideias, ou seja, quando estamos diante de alguém que sempre tem uma sugestão, seja correta ou não, mas que participa na intenção de ajudar, ou que discute sua ideias mostrando a intenção de aprender, de modificar, de melhorar, ou ainda, que tem, tantas, ideias durante o dia, que muitas vezes precisa anotá-las em um caderno, estamos diante de um candidato a ser uma pessoa criativa, mas não é só isso. Outra característica de uma pessoa criativa é o pensamento original e inovador, nessa característica reside à inovação, a invenção, o fazer diferente, o improviso, o empreender, o fazer pouco com muito. Quando disseram aos irmãos Wright ou a Santos Dumont que era impossível fazer voar um objeto mais pesado que o ar foi essa característica que usaram para desafiar a sociedade e inventar o avião. Seguindo na caracterização de uma pessoa criativa, outro viés que lhe é comum é a sensibilidade interna e externa, tão comum nos escritores, nos filósofos, às vezes nos políticos, quando são perceptivas as necessidades alheias, mas também as suas. Normalmente, são pessoas bastante sinceras, e por isso, se assim forem tratadas, são, mais fácil de lidar. Gostam da verdade mesmo que as machuque. Tal característica, infelizmente, é cada vez mais rara em nossa sociedade da encenação. A fantasia e imaginação levou o Homem a Lua, a construção de pontes imensas, túneis de mais de 50 km, a criar obras religiosas, filosóficas e de literatura sem precedentes, mas também o conduziu a guerras e armas horrendas, no entanto, é mais uma nuance de um criativo. Continuaremos com esse trabalho no próximo artigo. Até lá. 32 A inovação Continuando a série sobre a criatividade, vamos a mais algumas de suas características a começar pelo Inconformismo e independência de julgamentos, foi esse tipo de ação que levou Albert Sabin a contrariar aqueles que afirmavam que a paralisia infantil era resultante da ação de forças sobrenaturais, em sendo assim era destino, e, portanto, que se conformassem. Sabin lutou a vida toda contra esse misticismo descabido e acabou por descobrir a vacina contra a poliomielite, muito mais eficaz que quaisquer ações ligadas ao sobrenatural. Graças ao contrariar de Sabin que milhões de crianças vivem saudáveis. O mesmo aconteceu quando o Dr. Blalock e seu parceiro, um prático, Dr. Vivien Thomas. Desafiando os cânones, sobretudo os místicos, realizaram cirurgias cardíacas, o que salvou e, continua salvando, milhões de vidas ao redor do mundo. Essa belíssima história podemos testemunhar no filme Quase Deuses. Outra peculiaridade de uma pessoa criativa é estar Aberta a novas experiências, portanto, uma pessoa, criança, jovem, que não se liga as tradições, pois quando isso ocorre, passamos a seguir passos já trilhados e que foram bons para outros e não para nós. Exemplos de pessoas que odiavam as tradições, Steve Jobs e Bill Gates, assim mudaram o mundo. O Uso elevado de analogias e combinações incomuns, também é marcante em uma pessoa criativa. Quando um jovem, uma criança, concatena assuntos diferentes, para dar uma explicação, além de demonstrar sua poderosa memória de Longa Duração, fato incomum em nossos dias, ela está criando uma nova explicação para um fato, para isso utilizada explicações já dadas e muitas vezes de áreas completamente diferentes. Claro, estamos diante de alguém de pensamente original, logo criativo. 33 Atingimos no segundo artigo sobre a criatividade, sete (7) das 14 características que trabalhamos para identificar uma pessoa criativa. Continuaremos esta análise no próximo. Até lá. 34 A produção de ideias A propriedade de pensar, pensar por longo tempo, pensar independentemente, utilizando ideias elaboradas aquelas que ligam vários conceitos, vários momentos de nossas histórias, vários argumentos que vimos, ouvimos ou lemos, ideias enriquecidas por inúmeras experiências que tivemos no tempo e no espaço, são fundamentais na vida de uma pessoa enriquecida. É comum que pessoas criativas sejam mais ousadas, se arrisquem mais durante a vida, são mais ousadas, veem e aproveitam oportunidades, que a maioria de nós, sequer consegue identificar, por isso, são sonhadoras, empreendedoras, vão mais longe, quebram paradigmas. Adoram ser desafiadas. Mesmo contrariadas, chamadas ao senso da realidade, apresentam uma motivação imensa, acompanhada de curiosidade inata. Não desistem nunca. É comum entre os criativos um elevado senso de humor, desde o cotidiano, através de ironias e piadas, até a crítica social fina e aguda, que se manifesta nos veículos impressos ou falados. Sua forma de ver a sociedade leva-os a não considera-la tão a sério, até por isso, ferem muitas pessoas e interesses, pois os criativos são espontâneos, logo as vezes falam, escrevem ou apontam sem analisar todas as combinações, é o que chamamos de impulsividade. Muitos veem a impulsividade como uma característica negativa, pois seu usuário fere egos suscetíveis. Outros a reconhecem, como a fonte primeira da criatividade e da espontaneidade, o fato é que o criativo a usa com frequência, pois tem confiança em si mesmo ou autoconceito positivo, como gostam outros, por isso, não se levam tão a sério, estão cientes que também erram, mas não querem mascarar seus erros. 35 Por fim, o criativo sente que terá um destino apropriado, que fará coisas diferentes dos outros, que terá uma vida boa, que será admirado por isso, sua confiança é inabalável, independentemente do local ou do tempo onde vive. Sendo assim, terminamos as 14 características que são elencadas para identificar uma pessoa criativa, para que o leitor sinta-se mais a vontade voltamos a agrupá-las: fluência e flexibilidade de ideias; pensamento original e inovador; alta sensibilidade interna e externa; fantasia e imaginação; inconformismo e independência de julgamentos; abertura a novas experiências; uso elevado de analogias e combinações incomuns; ideias elaboradas e enriquecidas; preferências por situações de risco/ousadia; alta motivação e curiosidade; elevado senso de humor; impulsividade e espontaneidade; confiança em si mesmo ou autoconceito positivo e sentido de destino criativo. Até o próximo. 36 Características das Altas Habilidades Carlos Eduardo Paulino, 43, Psicopedagogo, Especialista em Saúde Mental, Licenciado em Geografia e História. [email protected] A esta altura de nosso trabalho, neste que é nosso 26º artigo, discutimos, vários assuntos, entre eles as diferentes inteligências, a história do estudo da inteligência, as definições sobre a superdotação e as características de uma pessoa criativa, não se esquecendo da questão das nomenclaturas. Pois bem, tendo em vista, essa trajetória, a partir deste artigo, vamos definir as características de uma pessoa altas habilidades (PAH), superando então as características gerais de Renzulli e Mönks. Quando uma pessoa apresenta um nível de conhecimento muito além de sua idade temos um bom início de caracterização de um altas habilidades, a essa característica chamamos de Habilidade Cognitiva Avançada. Podemos citar como exemplo o grande físico escocês James Clerk Maxwell (1831-1879). De seu trabalho, teórico, surgiu tudo que usamos, atualmente, em computação e eletrônica, portanto, não haveria internet, muito menos celulares, se não fossem os trabalhos desse gênio assombroso. Precoce, alto didata, alto suficiente, tratava as doenças da mulher, sabia mais que os médicos de seu tempo, difícil de lidar. Steve Jobs era muito parecido com Maxwell. Einstein (1879-1955) utilizou muito do trabalho do escocês, inclusive a constante c (velocidade da luz), para concretizar seu trabalho. Sua maneira fina e extraordinária de escrever, bem como suas ideias, faz de Maxwell, um físico moderno, 50 anos antes de a física moderna aparecer. Um aluno muito perguntador, que desmonta os aparelhos para saber o que há dentro dele, por vezes circunspecto, leitor voraz, é outra característica que somada à primeira, pode nos revelar um PAH, tal capacidade é denominada de Curiosidade intelectual. Einstein e Michael Faraday são grandes exemplos. Einstein não se conformava com os limites da Física Clássica e desde adolescente perguntava-se como seria ver o universo na 37 velocidade da luz, pois durante toda a sua vida passou respondendo e aperfeiçoando esta resposta. Até o próximo artigo. 38 Outras características das Altas Habilidades Carlos Eduardo Paulino, 43, Psicopedagogo, Especialista em Saúde Mental, Licenciado em Geografia e História. [email protected] Entre as várias características que apontam para uma pessoa altas habilidades, existem algumas que são cognitivas e outras não. Entre as últimas temos a Sensibilidade e a Criatividade. Muitas pessoas passam a vida pensando no impacto social de suas criações, na aplicação correta de seus inventos, no desenvolvimento didático e produtivo de suas ideias, entre essas pessoas se enquadram, o brasileiro, Alberto Santos Dumont, um dos inventores do avião, e a professora, e Prêmio Nobel, Dorothy Hodgkin, que mesmo com uma doença degenerativa seguiu ensinando, criando esquemas, para que seus alunos entendessem bioquímica, e ajudando na síntese de novos medicamentos. Outra qualidade dos altas habilidades é sua intensa motivação, ou seja, outra maneira de dizer que são comprometidos com a tarefa. Para esse tipo de pessoa, não importa o ambiente, o meio social, a origem familiar, a cor de sua pele, para eles, desde que gostem de uma atividade, a praticam até a perfeição, por isso, encontramos brilhantes estudantes, não somente de escolas particulares, mas também, de bairros periféricos. A grande capacidade para demonstrar emoções, ou seja, a incapacidade de mentir, pois, se o fizer ficará evidente em suas expressões faciais; o não se comportar politicamente, uma vez que suas convicções são mais fortes que quaisquer falsidades, o que muitas vezes, pode levá-lo a se distanciar do convívio social é outra de suas nuances. Talvez a capacidade que mais fique evidente para um leigo, seja a habilidade de processar informações rapidamente, pois os altas habilidades, normalmente, parecem ter uma memória prodigiosa, versando em vários assuntos com o mesmo nível de competência. Para quem convive com alguém assim, chega a ser um assinte, pois é humilhante. Leigos, neste caso, 39 cometem discriminação contra os altas habilidades, pois ao se sentirem humilhados, reagem com a ira, invariavelmente, o humilhado, começa uma campanha para desacreditar o mais dotado, buscando nele as características negativas que são o embotamento, a impulsividade, o dificuldade de socialização e a agressividade. Até o próximo, ainda com características das altas habilidades. Até lá. 40 Ainda características das Altas Habilidades Carlos Eduardo Paulino, 43, Psicopedagogo, Especialista em Saúde Mental, Licenciado em Geografia e História. [email protected] Enfim, chegamos às três últimas características que notamos nas pessoas altas habilidades. Entre elas as Preocupações éticas e estéticas em tenra idade. Sim. Nota-se com facilidade, que quando crianças, essas pessoas, já demonstram preocupações com a integridade, honestidade, coerência, responsabilidade, sendo, normalmente, intolerantes com a incoerência. São pessoas corretas, cumprem aquilo que se propõe, porém tem dificuldades com a incoerência, por exemplo, se alguém lhe promete alguma coisa e depois não cumpre, sentem-se desobrigadas de cumprir sua parte. Não lidam bem com pessoas instáveis, muito menos com quem rouba-lhe uma ideia, querendo assumir a paternidade por uma descoberta sua. Se, eventualmente, toleram as situações descritas acima, é porque já embotaram suas altas habilidades, ou seja, a obrigação da flexibilidade, para conviver com o medíocre, as leva a abandonar sua criatividade, abundância de pensamentos, clareza de ideias, por isso, tais pessoas precisam de atendimento educacional especializado. Também se preocupam com a beleza, padrões, organizações, traçados e agrupamentos, por isso, podem ter facilidade, com artes, música e matemática. Outra de suas características marcante é seu Pensamento Independente, por isso, questionam muito, querem saber a razão dos fatos e dos mecanismos, não se dão bem com a tirania da mediocridade, por isso, são boicotadas em vários lugares, pois não aceitam passivamente, a ordem dos fatos, a não ser que sejam justificados. São inconformistas. Por último, tem uma habilidade rara entre as pessoas, principalmente entre as de hoje, que é a Habilidade de Auto-avaliação. Sim. Pensam, continuamente, no que fazem, são sinceros em suas avaliações, coerentes, 41 não são afeitas as mentiras. Acontece que essa sinceridade consigo mesmo, também acontece para com os outros, não raro, um altas habilidades, avalia com muita clareza e sinceridade, as capacidades e limitações de outrem, o que muitas vezes gera contra si antipatia e ódios, porém segue adiante, sendo realista quanto ao mundo que o rodeia. No artigo de hoje, fechamos as nove características de uma pessoa altas habilidades, para recordá-las deixamos o leitor com um resumo das mesmas. Até o próximo artigo. - Habilidade cognitiva avançada; - Curiosidade intelectual; - Sensibilidade e criatividade; - Intensa motivação; - Grande capacidade para demonstrar emoções; - Habilidade para processar informações rapidamente; - Preocupações éticas e estéticas em tenra idade; - Pensamento independente; - Habilidade de auto-avaliação. 42 A Teoria das Mentes Carlos Eduardo Paulino, 43, Psicopedagogo, Especialista em Saúde Mental, Licenciado em Geografia e História. [email protected] Depois de caminharmos dentro das inteligências e definirmos as características das altas habilidades, compete a nós respondermos a um questionamento constante. O porquê não escrevermos sobre a Inteligência Emocional? Primeiro porque não acreditamos que ela exista. Aliás, nós e milhares de respeitados, pesquisadores no mundo todo. Segundo porque o estudo do cérebro nos dá esse suporte. Se fizermos um corte vertical no cérebro, reconheceremos um cérebro, ancestral, específico para a emoção e quando utilizamos o mesmo para tomarmos decisões, que envolvam o cérebro racional, sabemos que teremos sérios problemas, não por nada, temos tantos problemas de relacionamentos, casamentos desfeitos, e até depressões aumentadas exponencialmente. Se, ainda, fizermos um corte horizontal no cérebro, notaremos que as inteligências, e as emoções, utilizam-se de mecanismos diferentes, validando mais uma vez nossa afirmação de discordarmos dessa expressão, muito embora a respeitamos, ainda assim, temos certeza que se trata de, mais, uma forma de palestrantes de autoajuda ganharem dinheiro. O mesmo se dá quando se diz neurolinguística, a programação consciente do cérebro, na verdade, trata-se de outro engodo. No entanto, é impossível não reconhecer a importância das emoções para a condução de nossas vidas, para isso, gente mais séria, recentemente, tem tratado da Teoria das Mentes, que além das inteligências, englobaria nossas outras funções e necessidades humanas. A partir da Teoria das Mentes classificamos as pessoas em cinco grandes grupos, os de Mentes disciplinada, sintetizadora, criadora, respeitosa e 43 ética, é importante salientar que essa classificação tem em conta o comportamento das pessoas, Temos outra classificação de Mentes, que leva em conta o comportamento, também, mas que revela a estrutura cerebral envolvida, diferente do primeiro tipo que tem em conta as relações, os valores, os métodos de trabalho, o convívio social, o ambiente e a cultura. Nos próximos artigos trataremos da Teoria das Mentes. Até lá. 44 A origem Carlos Eduardo Paulino e Alexandre Menossi Mendonça Há cerca de 5 bilhões de anos antes do presente (AP) o lugar que ocupamos no universo era ocupado por uma imensa bolha de gases, sobretudo os gases hidrogênio e hélio, que são os elementos químicos mais simples da natureza, com um e dois prótons (partícula subatômica que se localiza no núcleo do átomo), respectivamente. Pois bem, essa imensa bolha de gases, com um raio de cerca de um ano-luz (medida astronômica que mede cerca de 10 trilhões de km), estava bastante estável, até que uma anomalia em uma estrela próxima, possivelmente o Sol (nossa estrela) formava no passado um sistema binário, junto com outra estrela que chamamos Nêmesis (evidências gravitacionais apontam para sua existência nos limites, do atual, Sistema Solar), atualmente uma anã marrom ou negra (um dos estágios de evolução da vida das estrelas). A tal anomalia provocou rompimento no equilíbrio do sistema, e foi esse desequilíbrio que permitiu a condensação dos gases no centro da nebulosa e em alguns pontos espalhados por ela. No centro do sistema, a pressão provocada pela anomalia da estrela próxima fez com que átomos de hidrogênio se atraíssem formando uma massa maior, acontece que quando isso ocorre ao atingir uma determinada massa o hidrogênio começa a se fundir originando o hélio. Nesse processo, de fusão, ocorre à liberação de energia, e a massa de gases se expande, mas até determinado limite, pois puxando os gases no sentido contrário temos a força da gravidade. O leitor deve estar lembrado que a massa atrai a massa, como afirmou o físico inglês Isaac Newton (1643-1727). Portanto essa bolha central de hidrogênio se convertendo em hélio e se equilibrando entre a expansão termodinâmica e a contração gravitacional, nada mais é que uma estrela. Nasce assim, o Sol. Nesse início turbulento, com gases à vontade na nebulosa, a queima é desajustada, a estrela se expande e se contrai, com um comportamento anômalo, porém nesta fase de ajuste da 45 fusão, temos a síntese de elementos bem mais pesados, como o carbono, cálcio, ferro, que são expulsos para o espaço próximo a estrela, graças às explosões estelares, ou pelo processo de expansão e contração muito rápido, pois bem, é desse processo de síntese de elementos mais pesados, da proximidade com o Sol e das anomalias provocadas pelo comportamento irregular da companheira, hoje escura, de nossa estrela que se formam grãos de matéria, bem menores que o Sol, mas ao mesmo tempo mais densos, dessa forma, mesmo nos mais distantes, onde os elementos químicos mais pesados não se acumularam, não foi possível a formação da fusão de elementos e, portanto de novas estrelas. Esses corpos mais densos e vizinhos ao Sol, presos por sua atração gravitacional, mas que conseguiram limpar suas órbitas graças aos seus tamanhos e, consequente, atração gravitacional, são os planetas. Assim há 4,6 bilhões de anos AP, aparecem os, hoje, 8 planetas que formam a família do Sol, entre eles, a nossa, Terra. Nesse tempo, era uma esfera grande de rocha derretida (magma), sem atmosfera, orbitando o Sol. No entanto, com o passar de milhões de anos a crosta (camada em contato com o espaço) foi se solidificando, pois embora a temperatura das rochas variasse entre 3.000ºC e 2.000ºC, a temperatura do espaço era de – 270ºC. Imagine o choque térmico. Há que se alertar que o interior continuava extremamente quente, apenas a superfície foi se solidificando lenta e desigualmente. No próximo artigo continuaremos esta fantástica saga. Até lá. 46 A origem da Terra Carlos Eduardo Paulino e Alexandre Menossi Mendonça A solidificação diferenciada da superfície da Terra ocorreu principalmente em razão da diversidade dos elementos químicos, que tem pontos de fusão (temperatura em que uma substância muda de estado, no caso do sólido para o líquido) diferentes. Assim sendo enquanto algumas partes estavam sólidas outras ainda estavam fundidas, é dessa maneira que se formam imensos pedaços da crosta sólida (chamadas de placas tectônicas), que embora encaixados, se movimentarão sobre a camada de magma logo abaixo da superfície. Portanto, bem no início da Terra se formam as Placas Tectônicas que não, necessariamente, tinham o formato atual, no entanto, as mesmas passaram a se deslocar sobre a camada de magma logo abaixo (hoje chamada Astenosfera), graças ao interior quente, sobretudo o núcleo muito quente, que formava correntes de convecção (deslocamento da matéria devido ao calor, assim leitor que você consegue ferver o leite pela manhã) que forçava as placas verticalmente, como as mesmas estavam sólidas e eram espessas, dificilmente as correntes do interior conseguiam extravasar, normalmente elas escorriam para as bordas, forçando a saída, dessa forma deslocavam as placas (esse movimento ocorre até hoje, por isso, nos afastamos da África cerca de 2 cm por ano) Acontece que quando o magma extravasava nas bordas das placas, junto com o material derretido, conhecido por lava (chamamos magma o material derretido, somente, quando, no interior da Terra, quando o mesmo extravasa a superfície passa a chamar-se lava), a temperatura desse material era tão alta que muitos de seus componentes tornavam-se gases (por isso, quando se vê uma erupção vulcânica, além do material sólido – piroclástico, pastoso – magma, se vê muitos gases, inclusive no borbulhar da lava), logo a Terra começou a produzir gases em volume muito grande, e muitos desses gases ficaram presos por ação da gravidade, logo ganhamos uma Atmosfera, bem diferente da atual, mas era uma esfera de gases. 47 A tênue atmosfera primitiva era formada por gases bastante leves e simples, como o hidrogênio (dois átomos de hidrogênio), o hélio (um único átomo do elemento, trata-se um gás nobre, portanto, raramente se mistura), o vapor d’água (um átomo de oxigênio e dois de hidrogênio), o metano (um átomo de carbono e quatro átomos de hidrogênio) e a amônia (um átomo de nitrogênio e três átomos de hidrogênio), além de outros, bem mais raros. Portanto, antes que avancemos com os gases, é importante dizer que as correntes de convecção (hoje Plumas) do interior do planeta, além de serem responsáveis pelo deslocamento das placas, também deformavam a Crosta, quando as mesmas não encontravam muita resistência. Dessa forma, essa força endógena, começou a modelar a superfície da Terra, ou seja, aparece o relevo (modelado aparente da superfície terrestre, como as planícies, os planaltos e as montanhas). Aliás, muitas vezes a Crosta não suportava a pressão exercida pela corrente de convecção e a rompia, permitindo que o magma extrudisse (lava). Surgem os vulcões. Bem, por hoje, é só. Avançamos bastante no artigo de hoje, com as placas tectônicas, as correntes de convecção, a atmosfera primitiva, o relevo e os vulcões. Até o próximo. 48 A atmosfera primitiva Carlos Eduardo Paulino e Alexandre Menossi Mendonça O aparecimento dos primeiros gases, presos pela ação da gravidade dá ao planeta Terra, sua primeira atmosfera, que como vimos, era bastante diferente da atual. Entre os primeiros gases, dois foram fundamentais para condicionar os acontecimentos futuros. O primeiro foi o vapor d’água. O segundo o gás carbônico. No caso do vapor d’água, na medida em que ascendia, devido a sua baixa densidade, encontrava camadas de gases mais próximas ao espaço e, portanto mais frias, logo o gás se condensava e voltava na forma líquida para a superfície. Esse mecanismo foi ajudando a resfriar a superfície do planeta, ao mesmo tempo, com o passar dos milhões de anos, as gotas d’água que caiam sobre esta superfície, lentamente, iam desgastando a mesma (erosão), ajudando a esculpir essa superfície (relevo), mas não era só isso, em áreas rebaixadas onde a rocha era impermeável à água se acumulou, formando os primeiros rios, lagos e mares, já onde a superfície era permeável a água foi se misturando, lentamente, com as rochas, criando uma superfície diferente, uma mistura de rocha decomposta, água e gases, dando origem aos solos. A quantidade de vapor d’água só aumentou com o passar do tempo, pois agora tínhamos a evaporação dos rios, lagos e mares, além das fontes originais (mecanismo das placas tectônicas e vulcões), sendo assim, grandes tempestades castigarão o planeta durante eras, aliadas as superfícies formadas por metais (ferro, alumínio, manganês) e seus compostos, favorecem o aparecimento das grandes descargas elétricas (raios), que além da eletricidade, faz descer muitos gases ionizados (como a carga elétrica era bastante intensa e a mesma provoca polarização nos gases, muitos se dissociaram dando origem aos íons, ou seja, compostos eletricamente carregados). Temos então uma composição química cada vez mais rica, além dos gases, os íons. 49 Para tornar mais rico esse zoológico de compostos químicos, temos a ação do gás carbônico, que ao se misturar com a água, o que acontecia facilmente graças ao poder da eletricidade (raios), origina o ácido carbônico, que ao cair em direção à superfície ajuda no seu desgaste (erosão), bem como torna a água da superfície da Terra levemente ácida. Acontece que durante milhões de anos, essa é uma ação poderosa que além de modelar as profundidades de rios, lagos e mares (relevo aquático) vai destruindo e reconstruindo moléculas. Ou seja, as superfícies aquáticas, tornam-se um imenso caldeirão químico, que destroem, mas ao mesmo tempo, favorecem o aparecimento de novas moléculas. O mar torna-se uma sopa de moléculas variadas, isoladas, combinadas, arranjadas, enquanto isso a superfície sólida ainda, muito, quente para os padrões atuais recebe a chuva de compostos químicos do céu, que ao entrar em contato com essa alta temperatura são desfeitas, alguns desses novos compostos reagem com o solo, outros são levados para água devido ao carrear da água das chuvas, tornando o solo variado e a água, ainda, mais rica em novos compostos. Neste artigo ficou claro a importância da atmosfera primitiva tanto para a configuração da superfície terrestre, quanto para a formação dos solos, mas principalmente para a formação de novos compostos químicos, que diferenciaram tanto a Terra de outros planetas. Até o próximo artigo. 50 O grande laboratório Carlos Eduardo Paulino A presença de uma atmosfera com gases variados como o vapor d’água, o gás carbônico, a amônia, o metano, o hidrogênio e o hélio, combinados em várias altitudes e mediante diferentes temperaturas cria uma condição não existente que é a filtragem dos raios infravermelhos e ultravioletas que bombardeavam a Terra ininterruptamente, principalmente os vindos do Sol. Agora com essa mistura de gases, sob condições físicas e químicas diferentes, as radiações acima citadas, continuam chegando à superfície, mas de forma discreta, ou seja, em intensidade menor, em comprimentos de ondas específicos e com ação temporal menor. O ajuste das radiações, a imensa quantidade de descargas elétricas atmosféricas, as chuvas abundantes, o mar levemente ácido e a superfície, ainda, quente, cria condições adequadas para que nosso planeta torne-se um imenso laboratório químico. Se não bastasse, havia muito tempo. Bilhões de anos, para que tais substâncias se misturassem. Pois bem, algumas dessas misturas criaram moléculas, ou seja, substâncias químicas que são resultado da mistura de um radical de um gás com radicais diferentes de outros gases. Não é preciso ser matemático, para saber que com os seis gases citados nesse artigo, através de arranjos e combinações, podemos obter 720 combinações, ou seja, nossa fauna química cresce muito, porém se acrescentarmos os fatores químicos e físicos, essa combinação pode, até, aumentar. O fato é que esse imenso laboratório combinante e recombinante de substâncias torna a Terra, um planeta rico de possibilidades, e na prática as possibilidades se concretizam com o aparecimento de várias substâncias a base de Carbono (C), Hidrogênio (H), Oxigênio (O), Nitrogênio (N), Enxofre (S) e Fósforo (P), entre elas os aminoácidos, que como o próprio nome sugere é uma substância a base de um ácido carboxílico (substância química que 51 agrega a mistura de gás carbônico com a água) e de uma amina (substância química com base no gás carbônico e no nitrogênio). Há vários tipos de aminoácidos, que com as substâncias adequadas, condições físico-químicas adequadas, como aquelas que existiam no início da história da Terra, são facilmente sintetizados. Aliás, sob supervisão de Harold Urey, prêmio Nobel de Química, dois de seus orientandos (Experiência de Fox-Miller) reproduziram tais condições em laboratório e obtiveram uma substância escura e densa com base nos formadores dos aminoácidos. Portanto, com milhões de anos e condições adequadas, a Terra estava pronta para dar suporte a grande transformação físico-química que a diferenciou de todos os planetas por nós conhecidos. Até hoje. 52 O nascimento da consciência Carlos Eduardo Paulino O aparecimento de moléculas mais complexas, graças às condições físico-químicas, vistas nos artigos anteriores, deu origem a moléculas ainda mais complexas, o fato é que com o aparecimento de aminoácidos, teremos moléculas terminando em radicais hidroxilas (- OH) e hidrogênio (- H), e todas as vezes que isso acontece, forma-se uma molécula de água e temos a liberação de duas extremidades que for afinidade eletrônica se ligam. A essa ligação chamamos de ligação peptídica ou proteica. Ora a formação de uma dessas ligações pode acontecer de forma isolada ou em cadeia, e quando esse, último caso, acontece, estamos diante de um polipeptídeo. Devido às combinações atômicas, moleculares e as ligações químicas podemos observar centenas de polipeptídeos na natureza, alguns são estruturais (proteínas), outros são catalisadores – aceleram novas reações químicas ou ajudam na construção de novas moléculas, foi com o aparecimento dos polipeptídeos, em razão das ligações proteicas, que os mares da Terra, passam a ser povoados por proteínas e catalisadores. Acontece que os catalisadores agem como moléculas construtoras e selecionam as matérias-primas no meio para construir as novas moléculas que sua conformação atômica e molecular especifica isso significa que temos uma substância que ‘come’ moléculas para organizar outras substâncias, logo teremos uma grande competição dentro dessa sopa orgânica que tem abrigo nos mares primitivos da Terra. Outro fato que ocorre é que na medida em que as moléculas vão crescendo para que elas fiquem estruturalmente coesas é necessário que tenha uma estrutura global, no caso, a circunferência, pois é a melhor maneira que a natureza encontrou para acomodar a área e o volume. Ao mesmo tempo a formação dessa micela prende do lado de dentro as substâncias necessárias para mantê-la coesa, inclusive as enzimas, e do lado externo expõe, apenas, 53 as substâncias quimicamente inertes, para que o meio ou outras enzimas venha a destruir essa micela. Não por acaso, as nossas células, tem, em geral, o formato arredondado, também, não é por acaso que a membrana, dessas mesmas células são tão seletivas quanto as reações com o meio externo. Dessa maneira as necessidades das substâncias químicas, o ambiente físico-químico e as várias reações que vão aparecendo graças às novas moléculas vão determinando o arranjo espacial das cada vez mais complexas macromoléculas, que solucionaram um formato geral, para as condições impostas pelo ambiente, solução que persiste até hoje, tendo em conta, claro, as novas variáveis que surgiram com o tempo. 54 Duas funções importantes Carlos Eduardo Paulino A micela, com forma arredondada, ou esférica, no sentido tridimensional, foi uma solução inteligente das moléculas que se encadearam afinal essa é a forma mais perfeita da natureza, pois equaciona na menor área possível o maior volume, ao mesmo tempo em que cria um ambiente interno responsável pela sua manutenção, bem como uma proteção externa contra as agressões do meio. Acontece que a natureza testou milhões de formas até que essa desse certo, quando aconteceu, a mesma, precisava se repetir, e isso não foi impossível, uma vez que tínhamos as enzimas que guardavam a memória da construção, no entanto, faltava a molécula para que ocorresse a reprodução dessa micela. Havia o construtor (enzimas) e, também, as matérias-primas, moléculas e aminoácidos a base de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e fósforo. Pronto. Depois de milhões de combinações, surge uma molécula capaz de reproduzir a forma da micela esférica, melhor solução aos desafios do meio e da preservação, era o ácido ribonucleico (RNA) e, em seguida, o ácido desoxirribonucleico (DNA). A natureza, através do incrível mecanismo de seleção, que funciona a partir de tentativa e erro, numa escala de milhões de anos, tinha presenteado a micela, ou coacervado como gostava Aleksandr Ivanovich Oparin, com a função da reprodução. Porém para que se protegesse a micela, das agressões do meio, e ao mesmo tempo permitisse que ela se reproduzisse, era necessária uma nova função. A membrana externa, com função de proteção, precisava agora, obter a matéria-prima do meio, para isso se torna seletiva, criando canais moleculares, para obter esse material. 55 Dessa forma, temos uma micela, que se protege, se reproduz e se alimenta, num sistema coerente, parcialmente fechado e que regula as condições físico-químicas internas, para poder sobreviver. Estávamos diante das células, aliás, mais que isso. A vida começa na Terra. 56 Coletividade Carlos Eduardo Paulino Da mesma forma que os átomos se acumularam em estruturas maiores buscando a estabilidade, e as moléculas, por sua vez, se organizavam através de ligações químicas para enfrentar as agressões do meio, e dessa maneira foram ganhando complexidade e se desenvolvendo frente às dificuldades impostas pela natureza, talvez mais importante que isso, ‘ganhando a corrida’ frente à diversidade de organizações moleculares que apareceram nos mares primevos, o que tornou esse modelo à base da vida; as células primitivas foram se agrupando em pequenas comunidades para otimizar a energia, o alimento e sobreviver aos riscos, dessa forma aparecem organismos maiores, que percebem com o experimentar de milhões de anos que a vida em grupo é sempre mais vantajosa que a individual, não que organismos unicelulares não tenham evoluído desde então, muito pelo contrário, no entanto, a solução por organismos pluricelulares altamente especializados parece ter sido o caminho preferido pelas moléculas que originaram a vida. Entre a formação da Terra, há cerca de 4,6 bilhões de anos e o aparecimento dos primeiros organismos pluricelulares, temos um hiato de 2,6 bilhões de anos. É muito tempo. Tempo suficiente, frente a condições físicoquímicas adequadas para o surgimento da vida. Esse período de tempo é chamado pelos geocientistas de Era Arqueozóica ou Arqueano, tratam-se de escalas de tempo de milhões de anos, que permitem analisar, tanto a evolução das rochas, minerais, metais, minérios, continentes, oceanos, atmosferas, quanto da vida. Temos, basicamente, cinco grandes períodos de tempo em escala geológica, agrupados em dois grandes grupos, ou seja, o Éon Criptozóico, que abriga as Eras Arqueozóica e Proterozóica, e o Éon Fanerozóico formado pelas Eras Paleozócia, Mesozóica e Cenozóica (a nossa, a atual). Portanto, como já 57 dito várias vezes, com tempo suficiente e uma centena de variáveis ‘precisas’ a evolução do planeta Terra e da vida por ele abrigada foram possíveis. 58 A primeira Era Carlos Eduardo Paulino Os primeiros 2,6 bilhões de anos mudaram, radicalmente, a superfície da Terra, graças ao resfriamento da Crosta, bem como do aparecimento da Atmosfera. Os mares, também, foram ganhando novos contornos, com a água levemente ácida, profundas transformações ocorreram entre elas o aparecimento de estruturas orgânicas com propriedades fundamentais, entre elas, a da especialização, reprodução e autorregulação. O próximo passo foi a vida coletiva, no entanto, essa forma de organização levou a especialização das partes dessa coletividade, daí o aparecimento de células com funções específicas, ou no mínimo, de organelas celulares específicas, dessa maneira teremos os núcleos, nucléolos, membranas em mosaico fluido, citoplasma ativo, complexo de Golgi e assim por diante, não bastasse algumas células se diferenciaram tanto, que acabaram se distanciando tanto que originarão células para Reinos diferentes. Uma dessas células metabolizavam seu próprio alimento, a partir de gases abundantes na atmosfera, como o vapor d’água e o gás carbônico, aparecendo a glicose, o alimento para essas células, as mesmas são conhecidas como as células vegetais, entre seus produtos, temos um novo gás que mudará a superfície da Terra e acelerará a evolução da vida, trata-se do oxigênio. Outra célula, dependerá do meio para obter o alimento, temos então uma célula ‘predadora’, um célula animal, que vai se desenvolver ainda mais quando ‘aprende’ a metabolizar o oxigênio. Portanto, o aparecimento de células e organelas específicas acelarará a diversidade da vida, permitindo além de novas espécies, uma multiplicação bastante acelerada da vida que vai se assenhorando do mar e superando aos poucos a condição de vida em colônias para originar organismos cada vez mais complexos e específicos. Nesse momento encerramos a Era 59 Arqueozóica, que durou 2,6 bilhões de anos, de 4,6 bilhões de anos antes do presente até 2,0 bilhões de anos antes do presente. Tendo início a Era Proterozóica (2 bilhões de anos antes do presente até 600 milhões de anos antes do presente). 60