PERFIL HEMATOLÓGICO, HEMOSTÁTICO E BIOQUÍMICO DE EQÜINOS SUBMETIDOS À ADMINISTRAÇÃO ORAL DE MELOXICAM Regina de Cássia Veronezi1, Armen Thomassian2, Cynthia Lucidi3, Veridiana Fernandes da Silveira3, Ana Liz Garcia Alves2, Carlos Alberto Hussni2, José Luíz de Mello Nicoletti2 1 Docente do Departamento de Clínica Médica Veterinária - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária - UFMT, Cuiabá. 2 Docente do Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária - FMVZ–UNESP, Botucatu. 3 Pós Graduando do Departamento de.Clínica Veterinária - FMVZ – UNESP, Botucatu. INTRODUÇÃO Os antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) são rotineiramente usados na medicina eqüina como analgésicos e antiinflamatórios. Entretanto, estes fármacos provocam alguns efeitos indesejáveis, como hipoproteinemia, hipoalbuminemia, alterações hemostáticas, lesões renais e gastrointestinais. O surgimento dos AINEs seletivos para COX-2, possibilitou o controle ou abolição de alguns destes efeitos colaterais. Contudo, existem poucos relatos sobre a ação destes fármacos na espécie eqüina. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos do AINE meloxicam em eqüinos através da avaliação clínica/física e laboratorial. METODOLOGIA Foram utilizados 10 eqüinos, da FMVZ de Botucatu, machos e fêmeas, de diferentes raças, com idade entre 04 a 15 anos e peso corpóreo de 330 a 600 kg, divididos em dois grupos de 5 animais cada. O grupo 1 foi submetido à administração de placebo (água) via oral, uma vez ao dia por 14 dias, e o grupo 2 foi submetido à administração de meloxicam, na dose de 0,6 mg/kg por dia, por via oral durante 14 dias consecutivos. No período experimental, os animais foram estabulados em baias individuais sendo soltos para caminhar e pastar 20 minutos por dia e a dieta consistiu de ração comercial, feno e água ad libitum. No momento zero (M0), realizou-se o exame clínico/físico, exames laboratoriais, tempo de sangramento, e avaliação do peso corporal. Posteriormente, foram realizados exames laboratoriais, tempo de sangramento e mensuração do peso corporal, no 7º dia (momento 1 - M1), e 14º (momento 2 - M2), para ambos os grupos. O exame clínico/físico foi realizado diariamente, consistindo de freqüência cardíaca (FC), freqüência respiratória (FR), temperatura corporal (T°C), coloração de mucosas, tempo de perfusão capilar (TPC) e auscultação gastrointestinal. Também se avaliou apetite, ingestão hídrica, fezes e urina. Os exames laboratoriais realizados foram: hemograma, proteína plasmática total (PPT), fibrinogênio, agregação plaquetária, e dosagens séricas de uréia, creatinina, aspartato aminotransferase (AST), -glutamiltransferase (GGT), fosfatase alcalina (FA), lactato desidrogenase (LDH), creatina cinase (CK), proteína total (PT) e albumina. A análise estatística para os exames laboratoriais e tempo de sangramento foi o teste de Tukey, para comparação entre grupos, momentos e interação entre grupos e momentos, a nível de 5% de significância (P<0,05). RESULTADOS Tabela 1- Médias (± desvio padrão) do hemograma, agregação plaquetária e tempo de sangramento dos eqüinos dos grupos 1 e 2 nos momentos 0, 1 e 2 (M0, M1 e M2). GRUPO 1 HEMOGRAMA GRUPO 2 M0 M1 M2 M0 M1 M2 Eritrócitos (x106/µL) 7,29 a (±0,8) 6,80 a (±0,5) 7,00 a (±0,6) 7,88 a (±0,4) 7,80 a (±1,1) 7,44 a (±0,8) Hemoglobina (g/dL) 11,8 a (±1,6) 11,0 a (±1,0) 11,4 a (±1,1) 13,6 a (±1,6) 13,3 a (±2,3) 12,8 a (±1,1) 35 a (±5,0) 34 a (±2,9) 35 a (±2,6) 41 a (±4,4) 41 a (±6,3) 39 a (±4,2) Plaquetas (x103/µL) 292,4 a (±42,2) 291,6 a (±40,2) 282,4 a (±48,6) 207,4 a (±137,9) 213,8 a (±83,5) 202,4 a (±86,1) Leucócitos (x103/µL) 7,6 a (±1,5) 6,6 a (±1,4) 7,6 a (±1,6) 6,7 a (±0,9) 6,9 a (±1,4) 6,2 a (±0,4) Neutrófilos (x103/µL) 3,8 a (±1,3) 3,4 a (±0,9) 3,9 a (±1,3) 4,0 a (±1,0) 3,7 a (±1,2) 3,0 a (±0,9) Linfócitos (x103/µL) 3,2 a (±0,6) 2,7 a (±0,6) 3,1 a (±0,4) 2,4 a (±0,3) 2,7 a (±0,7) 2,8 a (±0,7) Monócitos (/µL) 250 a (±99,4) 166 a (±70,1) 239 a (±60,2) 158 a (±193,7) 300 a (±88,0) 148 a (±170,9) Eosinófilos (/µL) 344 a (±233,9) 252 a (±113,4) 322 a (±238,2) 180 a (±109,0) 129 a (±54,2) 230 a (±187,5) 63 a (±88,6) 39 a (±37,6) 26 a (±35,7) 13 a (±28,2) 10 a (±23,3) 26 a (±35,9) 480 a (±228,0) 320 a (±178,9) 360 a (±89,4) 280 a (±109,5) 240 a (±89,4) 260 a (±134,2) 7,0 a (±0,4) 6,6 a (±0,1) 6,6 a (±0,3) 7,1 a (±0,7) 6,5 a (±0,5) 6,1 a (±2,8) A. PLAQ. (%) 29 a (±11,1) 41 a (±10,3) 33 a (±10,6) 32 a (±6,9) 36 a (±4,5) 41 a (±5,3) T. SANGRAMENTO (min.) 2,4 a (±0,9) 2,1 a (±0,8) 2,5 a (±1,0) 2,2 a (±0,8) 1,6 a (±0,4) 1,2 a (±0,4) Hematócrito (%) Basófilos (/µL) Fibrinogênio (mg/dL) PPT (g/dL) PPT: Proteína Plasmática Total; A. PLAQ: Agregação plaquetária: T.SANGRAMENTO (min.): Tempo de sangramento em minutos. Médias seguidas de letras iguais não diferem estatísticamente pela análise de variância para medidas repetidas, com o teste de Tukey, com 5% de significância (P<0,05). Tabela 2- Médias (± desvio padrão) da bioquímica sérica dos eqüinos dos grupos 1 e 2 nos momentos 0, 1 e 2 (M0, M1 e M2). BIOQUÍMICA SÉRICA GRUPO 1 GRUPO 2 M0 M1 M2 M0 M1 M2 Uréia (mg/gL) 28a (±3,3) 30 a (±4,3) 30 a (±2,6) 31 a (±4,1) 35 a (±3,8) 35 a (±4,6) Creatinina (mg/gL) 1,3 a (±0,1) 1,4 a (±0,1) 1,3 a (±0,1) 1,5 a (±0,2) 1,5 a (±0,2) 1,4 a (±0,3) AST (U/L) 321,8 a (±0,1) 268,4 a (±0,1) 265,6 a (±0,1) 379,0 a (±0,1) 402,0 a (±0,1) 397,0 a (±0,1) CK (U/L) 262,0 a (±72,5) 183,0 a (±63,7) 220,0 a (±90,1) 596,6 a (±904,2) 524,4 a (±700,9) 353,4 a (±319,5) GGT (U/L) 10,2 a (±3,4) 10,9 a (±2,9) 10,9 a (±5,7) 9,0 a (±4,1) 10,2 a (±4,4) 8,9 a (±2,3) LDH (U/L) 574,2 a (±57,7) 475,6 a (±48,8) 451,8 a (±123,5) 489,2 a (±169,1) 425,0 a (±172,9) 395,4 a (±138,8) FA (U/L) 454,4 a (±118,9) 433,1 a (±103,2) 404,6 a (±117,1) 291,2 a (±27,1) 255,5 a (±28,1) 247,3 a (±45,9) PT (g/dL) 6,4 a (±0,4) 5,9 a (±0,2) 6,1 a (±0,2) 9,0 a (±0,8) 8,0 a (±0,9) 7,9 a (±1,1) Albumina (g/dL) 3,7 a (±0,3) 3,8 a (±0,4) 3,7 a (±0,2) 3,9 a (±0,1) 3,8 a (±0,1) 3,6 a (±0,3) Aspartato aminotransferase (AST); Creatina cinase (CK); -glutamiltransferase (GGT); Lactato desidrogenase (LDH); Fosfatase alcalina (FA); Proteína total (PT). Médias seguidas de letras iguais não diferem estatísticamente pela análise de variância para medidas repetidas, com o teste de Tukey, com 5% de significânica (P<0,05). No exame físico, os parâmetros vitais como FC, FR, T°C, TPC, coloração das mucosas e auscultação gastrointestinal, apresentaram-se dentro da variação normal para a espécie em ambos os grupos em todos os momentos. O apetite e a ingestão hídrica foram considerados normais, havendo um leve aumento do apetite e do peso corporal de todos os animais. Não se observou alteração nas fezes e urina para os grupos 1 e 2. Os valores mensurados do hemograma, PPT, fibrinogênio, uréia, creatinina, AST, GGT, FA, LDH, CK, PT, albumina, e tempo de sangramento, mantiveram-se dentro dos parâmetros normais em ambos os grupos (tabelas 1 e 2). A porcentagem da agregação plaquetária foi similar entre os grupos, porém variável (tabela 1). Não houve diferença estatística para os exames laboratoriais e tempo de sangramento entre os grupos. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO A administração do meloxicam não interferiu sobre parâmetros vitais dos eqüinos, bem como sobre a ingestão alimentar, hídrica e nas características das fezes e urina; não exerceu efeitos colaterais no perfil hematológico (hemograma, proteína total e fibrinogênio), hemostático (contagem total de plaquetas, tempo de sangramento e agregação plaquetária) e bioquímico. Entretanto, a porcentagem da agregação plaquetária, similar entre os grupos, foi bastante variável, sugerindo que mais estudos devem ser feitos para determinar a causa da variabilidade bem como o efeito do meloxicam sobre a agregação. De acordo com os resultados, nas condições deste estudo, sugere-se que a administração do fármaco é segura para uso clínico em eqüinos, sem evidências de efeitos adversos e colaterais. Palavras chave: equinos, meloxicam, hematologia, hemostasia, bioquímica sérica