Educação para o encontro: possibilidades de construção de relações afetivas confiáveis e solidárias entre educadores e estudantes Renata Guedes Paines de Almeida1 Resumo: Este trabalho pretende convidar os leitores para uma leitura reflexiva acerca das relações que se estabelecem entre professores e estudantes, em comunidades educativas tradicionais, escolas conservadoras e hegemônicas e do quanto estas relações são distantes e superficiais, constituindo relações diárias extremamente utilitárias, que visam reproduzir ideias, seguindo o padrão estabelecido, há séculos, para os processos educativos. O âmago do trabalho encontra-se nas conversações sobre as possibilidades das relações se reconstruírem, de maneira que a liberdade, a autonomia e a amorosidade estejam fortalecendo os vínculos entre professores e estudantes. Discute as possibilidades de se construir relações desta natureza tanto em escolas que seguem os moldes do sistema, no espaço sala de aula, sagrado microcosmo, onde o professor pode reinventar, criar e produzir experiências de educar, movido pelo compromisso político de realizar a pedagogia do encontro assim como em outras alternativas educativas, em que as relações estejam sempre sendo revisitadas. Pretende ser uma leitura que evoque as possibilidades de desescolarização desde a sala de aula situada dentro de sistemas fechados e conservadores, cujos professores transgridam os clichês, como também em experiências alternativas de educação que fujam do padrão estabelecido e se experimentem em produzir com as pessoas, uma educação da luz, uma educação do encontro. Palavras-chave: Educação do Encontro. Professores e Estudantes. Abstract: This work intends to invite readers to a reflective reading about the relationships between teachers and students in traditional educational communities, conservative and hegemonic schools; the extent to which these relationships are distant and superficial, being extremely utilitarian daily relations, aimed at reproducing ideas , following the pattern established for centuries for educational processes. The core of the work is in conversations about the possibilities of reconstructing relationships, so that freedom, autonomy and loveliness are strengthening the bonds between teachers and students. Discusses the possibilities of building relationships of this nature both in schools that follow the lines of the system, within the classroom, sacred microcosm, where the teacher can reinvent, create and produce experiences to educate driven by political commitment to carry out the pedagogy of the encounter as other educational alternatives, where relationships are always being revisited. Intended to be a reading that evokes the possibilities of unschooling from the classroom located within closed systems and conservatives, whose teachers violate the cliches such as alternative education experiences to flee the established pattern and try to produce people with an education of light, an education of the Meeting. Keywords: Education of the Meeting. Teachers and Students. 1 Licenciada em História pela PUC/RS. Pós-Graduada em Psicologia Transpessoal, pela UNIPAZSUL. Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 95 Minha primeira experiência escolar foi no Jardim de Infância. Lá, encontrei um ambiente favorável, um ambiente no qual me senti segura para fazer escolhas e abertura suficiente para a expressão de meu ser. Conta minha mãe que eu trocava de turma para fazer as tarefas escolares, levava os temas da turma a qual pertencia para realizá-los na sala de uma professora que eu já conhecia - aquela com que eu me sentia melhor e lá fazia as tarefas. Assim, na minha primeira experiência institucional educativa encontrei a liberdade de poder fazer as tarefas que me eram pedidas onde me sentia mais confortável e acolhida. Encontrei ambientes e mestres que me permitiram ser livre, ou seja, escolher como e onde fazer as tarefas, tomar minhas próprias decisões e vê-las serem respeitadas. Na liberdade de eu me sentir bem acontecia a educação. Na liberdade de sentir-se bem se vive a educação. Pressionados, somos levados a procurar, nas entranhas do nosso ser, o que melhor convém. Mas não é aí, nem ainda, que deixamos reluzir o que de melhor existe em nós porque, aprisionados, acabamos fazendo “como” o outro espera de nós – eis, essa, uma das armadilhas das instituições educativas tradicionais. Escrever um trabalho de conclusão de curso é complexo, dada à instituição que me encontro no momento, por ser ela, a UNIPAZ, um espaço educativo que propõe uma revisita ao sujeito e às visões de mundo que lhes constituem. Mas também se faz complexo pelo tema que desejo explorar, refletir e problematizar: as relações entre professores e estudantes, entre a comunidade educativa, entre todos e todas que vivem a Escola. Neste sentido, desejo trabalhar na luz desta abordagem, na potência do que presume estas relações, e não no que as reduz, e que tanto já sabemos e temos consciência dos poderes e das violências que se atravessam nelas. Desejo fazer, desta minha reflexão, uma possibilidade de compartilhar e convidar outras pessoas a refletirem acerca das relações possivelmente solidárias e fraternas entre educandos e educadores, e na comunidade educativa como um todo. Minhas perguntas surgem na direção de que relações são possíveis de serem construídas quando vivemos mergulhados em um sistema que está à banca rota – o modelo tradicional de ensino, o qual foi constituído e formatado com o intuito de construir uma educação padronizada voltada para a reprodução de conhecimentos, para a homogeneização dos indivíduos, para a disciplinação dos corpos, para a alienação das mentes. Situados neste contexto, pergunto-me, que outras Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 96 possibilidades e alternativas são possíveis de construir, que recuperem a inteireza dos sujeitos e reorganizem as suas relações e as suas identidades? É desse lugar de esperança que desejo dialogar. É dessa luminosidade possível do que pode ser construído como relação fraterna, delicada, sensível entre as pessoas que estaremos, aqui, conversando e compartilhando. Decidi ser professora aos 12 anos e meio de idade por perceber que no processo educativo existe a grande possibilidade de mudar o mundo; naquela época, com a inocência e os sonhos de uma pré-adolescente, desejava mudar o sistema e entendia que não fazia parte dele. Existia em mim uma revolta, que ainda persiste, do modo como nos relacionamos com o que é exterior a nós, o outro, que pode ser o outro sujeito, a outra ideia, o outro ponto de vista, incluindo nisso, a visão fragmentada em relação à natureza, quando a percebemos fora de nós, ou seja, percebemos que somos apenas indivíduos e não natureza também. Esse incômodo tem a ver com as relações entre as pessoas, porque se existe a desconexão com o outro, com quaisquer outros, complica-se a construção da relação e da compreensão do que o outro seja, do que o outro representa, e então o encontro “entre” ambos não se realiza. O outro é percebido à distância, não ou pouco considerado, o que constitui o afastamento e o isolamento, produzindo lesões afetivas, lacunas relacionais, abismos e estranhezas. Busquei uma instituição educativa como a UNIPAZ para entender-me melhor, reconhecer-me como sujeito, e o tema deste estudo surgiu por conta, tanto da minha formação acadêmica como pela minha história de vida, que sempre esteve mediada pela reflexão da educação como potência para a transformação. Este Curso de PósGraduação tem sido parte de um processo de reeducação, um processo terapêutico educativo que não tem fim, porque ao me revisitar como sujeito, como pessoa e como indivíduo, revisito meu lugar no mundo, e ao fazer isso, naturalmente, revisito minhas relações com este mundo – minhas relações com o outro. Minha experiência como professora deu-se por duas ou três semanas numa instituição pública de ensino de Porto Alegre, o Colégio Júlio de Castilhos. Não aguentei. Bom ambiente de trabalho, tudo tranquilo, mas aquela atmosfera de que “existe um mundo lá fora e eu estou aqui, entre essas paredes, sem querer estar Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 97 trancada”. Quase me matou. Quase me matou esta atmosfera opressora, de algo que não é uma escolha de estar ali, não é um lugar que produz bem-estar. Não sabia o que fazer e fui passar “matéria” no quadro. Pedi para que copiassem e eles copiaram e, no outro dia, tivemos aula no pátio e não levei o “violão” - com adolescentes, o melhor que se faz como professor é ter um violão nos braços. Naquele momento, por não haver criado métodos de trabalho mais adequados à visão de educação que acredito - uma educação em que educandos e educadores escolhem e decidem juntos conhecimentos e maneiras de construí-los - por insegurança, acabei reproduzindo o “modelo” aprendido e senti o terror de estar caindo na armadilha de tudo o que critico, reflito e analiso, corroborando e fortalecendo o sistema tradicional de ensino. Ainda me dói não ter ficado e não ter feito o que acredito que deveria e poderia fazer. Dei “adeus” por não ter conseguido dar conta de atuar dentro deste esquema tradicional de ensino, em que professores e alunos encontram-se saturados de aprender nos mesmos moldes e formas em que seus pais e professores aprenderam. De primeiro momento, queria dar aula para pré-adolescentes, mas será que encontraria neles outro espaço para ser professora, encontraria nas crianças a criança que também sou e amou tanto estar na escola? E os professores? Encontraria com quem? Quando me encontro com o outro, esteja ele na idade que estiver, estou encontrando uma parte de mim. Lembrar-se disso é doloroso porque nem sempre estamos disponíveis para o encontro com o outro. Aceitar que, às vezes, o que queremos fazer é sair correndo, nos permite abrir os braços para outras possibilidades de encontro. Encontros com o coração, com a latência e o pulsar do outro, e assim, somos agraciados. Nada mais gratificante do que conhecer pessoas e ver-lhes brilhar os olhos pelo simples fato de estar juntos, vivendo a plenitude do encontro. Penso nos estudantes que deixei, e acredito que terei uma nova chance porque quero voltar. Há tanta beleza nestes corações que todos os dias lotam os colégios e as salas de aula. Não sei quanto tempo vai durar meu afastamento e nem sei se voltarei para o mesmo tipo de instituição. Mas realizei um sonho de entrar lá e vê-los como estão. E acredite: estão bem mal. Aprisionados, entre quatro paredes, na maioria, estudando “conteúdos” nada significativos, com metodologias reprodutoras, com avaliação classificatória, com disciplinação de corpos e mentes, e o massacre completa-se com a ausência de relação mais profunda e amorosa entre os sujeitos Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 98 envolvidos neste processo, encontram-se eles. Neste lugar, não tem como ser feliz, não existe espaço para a busca de realização, significação e ressignificação da caminhada. Não deixo de pensar nos desencontros que se fazem pelo caminho. Minha trajetória foi por um curto período de tempo, mas intensa o suficiente para talvez não voltar para o mesmo tipo de instituição; escuto relatos de quem ama seus estudantes e relatos de quem diz que a faculdade não os preparou para a sala de aula. E sabemos, não preparou, não prepara para encontrar com nossos medos e nossas angústias. Não prepara para encontrar com aquela pessoa que não quer estar ali. Não prepara para o encontro, porque ela mesma ainda é tradicional e conservadora. Pudesse eu dizer: - você que não quer ser professor, não seja. Transforme-se em um educador. Procure ser um educador onde quer que vá - isso é possível. Consideremos que, enquanto sujeitos, somos frutos de toda uma conjuntura social, política, econômica e cultural. É a partir dessas conjunturas que vamos nos tornando seres humanos com nossas peculiaridades, respeitando as diferentes formas de entendimento e atuação no mundo. Nos encontros escolares, nas escolas, nas comunidades educativas podemos fazer a soma de todas essas nossas diferenças e ir compondo, uns com os outros, quem somos, o que queremos do mundo e que mundo queremos. Vamos ensaiando sendo, e à medida que vamos nos encontrando, vamos nos construindo enquanto seres humanos coletivos. Assim, a escola é o ambiente onde podemos viver a liberdade experimentando a própria liberdade, pois é na experimentação de ser e estar que vamos nos conhecendo e reconhecendo como pertencentes a uma grande família humana. A Escola, enquanto ambiente tradicional, ainda vê o “aluno” como alguém que está lá para cumprir metas que o “professor” decide; ainda vejo muitos professores terem seus alunos como alguém sem luminosidade própria, como alguém que está lá para aprender e nada tem a ensinar. Mas defendo exatamente o contrário. Um ambiente produtivo e comprometido com as pessoas é aquele em que educando e educador se reconhecem como parte construtora do processo, sendo um ambiente de experimentação, de descobertas para ambos. Um ambiente de aprendizagem conjunta de todos os sujeitos. Estamos para aprender e ensinar. Somos todos aprendentes e não são professores e estudantes diferentes, mas todos pessoas, Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 99 todos humanos. Estamos todos neste processo de resgate das nossas relações. Quando nos descomprometemos com o encontro, surgem os estigmas, os estereótipos, os domínios, as exclusões, as violências explícitas e implícitas. Esses sinais e esta cultura só servem para nos afastarmos uns dos outros. Assim tem sido, há dezenas de anos, na escola. É urgente que possamos nos permitir, como professores, a ampliar nossas próprias consciências, as quais possam elas, provocarem as reflexões sobre estas relações, para que possamos construí-las com outro olhar, desconstruindo “modelos”, mitos, estereótipos, visões distorcidas dos sujeitos e das suas potências. Essa permissão se dá no momento em que o indivíduo se percebe como sujeito, também como sujeito coletivo, vivente em comunidades, portanto, comprometido consigo e com os demais que lhe circundam. Percebe-se, por meio de um trabalho de resgate e de recuperação de si, do seu próprio olhar sobre o mundo, da sua visão de ser e de relação, que se dá pela “incomodação”, diante de circunstâncias de viver e de si mesmo, que lhe deixa aflito e insatisfeito, com uma sensação permanente de irrealização de sua própria paz, de seu próprio bem-viver. Este incômodo pode lhe permitir, então, o salto para a mudança, a abertura para a transformação de si, da sua maneira de ver o mundo, de se relacionar consigo e com o outro e de desejar promover o encontro com o outro, negado até então, porque, neste processo, a escolha surge: a decisão pela mudança se coloca. Um encontro entre estudantes e professores se dá mediado por todas estas questões que precisam e podem estar sendo revisitadas a todo momento, como desdobramentos naturais da vida para serem pensadas, sentidas e problematizadas, sempre que surgir a necessidade. Desejo defender aqui a possibilidade do encontro entre professores e estudantes mesmo nas escolas tradicionais, diante do sistema engessado e enrijecido, mas como possibilidades em que os sujeitos possam transgredir as hierarquias e todas as maneiras de lidar com o poder. Acredito no encontro do educador com seus estudantes, numa sala de aula mediada pela liberdade, alimentada pela autonomia, nutrida pelo bem-querer – relação essa que se dá no afeto. Neste grupo de aprendizagens, em que todos os sujeitos, tanto educador/educadores e estudantes diluem suas humanidades, apostando alto nestes valores. Naquele microcosmo, naquela pequena sala de aula, o encontro se realiza, quando o educador se permite ser aprendiz, abrindo mão do controle de que sabe tudo, realizando uma escuta Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 100 sensível para sentir o outro, se permite desapegar de “hierarquias supostas” e de todos os modelos que lhe foram impostos também em seus processos vivenciados como estudante, os quais, de alguma maneira, modelaram sua professoralidade. Encontramos não poucos, mas muitos, muitos mesmos, professores que mesmo diante de toda a força do sistema tradicional escolarizado, promovem a desescolarização em seus espaços de trabalho efetivo com os estudantes. Pela decisão que tomaram, em respeito a si e aos estudantes, comprometem-se com novas maneiras de forjar e produzir saberes, conhecimentos , afetos e relações. Não precisa explicar o quão deve ser complexo dentro do próprio sistema que propõe a opressão, trabalhar pela autonomia e liberdade. Mas são inúmeros professores que, silenciosamente, revolvem as condições que lhes são “ofertadas”, reorganizando-as, redimensionando-as, reconstruindo-as, de maneira que fazem do morcego, um beija-flor. Estes professores trabalham na luz da Potência. Da própria e da potência do outro. E da Potência que sabe existir nas Relações. Da potência do Afeto. Da Potência da Confiança. Da Potência do Diálogo e das Conversações infinitas, que vão se entrelaçando e se transformando em um grande rizoma, onde não se sabe mais quem aprende com quem, nem quem ensina quem. Porque as relações são produzidas em meio à democracia plena, que defende, garante e realiza os diálogos e as conversações, as livres expressões como direito de todos, surgindo as interações e o estreitamento da confiança e do bem-estar. Estes professores que por terem sentido a necessidade urgente de se perceberem e se revisitarem, por uma decisão e escolha pressionadas pelo desejo de realizar novos movimentos, são pessoas que optaram pela esperança. Perder a esperança diante de caminhos sombrios é natural, absolutamente humano. Mas é a esperança que nutre a caminhada. Como usa o termo “esperança militante”, Paulo Freire lembra-nos de que a esperança não é um sentimento passivo, de quem espera algo, numa vã espera. Mas de uma esperança que luta, incessantemente, por isso, “militante”. Os olhares destes professores fazem-se diante do mundo e diante dos outros a partir do coração, numa militância e luta que não é como contraposição, ataque ou nutrição do conflito, mas como busca de superação do conflito, a partir das problematizações geradas, de maneira lúcida e consciente. Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 101 Resgatar o próprio valor é perceber-se, a todo momento, no processo educativo, colocando-se, de maneira sensível, a encontrar e ver a pedra preciosa, a pérola que foi produzida pelas dificuldades do caminho. Rubem Alves diz “Ostra feliz não faz pérola", referindo-se ao “corpo estranho” que a incomoda; a partir deste “corpo estranho”, se forma um novo ser. Lindo. Mas em nenhum momento este ser é exterior. Ele se faz exterior e sua beleza reluz no mundo quando a ostra se permite abrir e reluzir, no mundo, aos olhos de outro/a, revelando sua produção – a pérola. O processo educativo é esse abrir a ostra. Um processo no qual o educador é o facilitador que ajuda a revelar o ser em potência, dotado de luminosidade, que não pode ser aprisionado, precisando se descobrir e descobrir caminhos para se realizar enquanto sujeito. O educador cria espaços com o educando para desvelar suas potencialidades, facilitando para que essa luminosidade emerja e se expanda. Juntos, vão criando conhecimento de si e do mundo, aprendendo a estar e caminhar neste mundo. Neste exercício de professoralidade, vai produzindo e descobrindo, com as pessoas que fazem parte do processo educativo, as realidades e as suas possibilidades e construindo novas realidades, a partir de metodologias que vão se revelando e produzindo, de maneira coletiva, conforme os anseios, os desejos e necessidades destes seres que estão se experimentando e experimentando o mundo e que encontram, no facilitador, não alguém que lhe professa verdades ou lhe indica caminhos, mas o orienta na descoberta de quem é e na construção e andarilhagem em seus próprios caminhos, possibilitando que cada indivíduo reconheça sua autenticidade e sua individualidade, as suas potências, as expresse e as valorize. Entendo que este professor gere a manifestação de respeito às individualidades do outro. No exercício deste professor desejar ser ele mesmo, compreenderá o direito do outro ser ele mesmo. Por isso, a educação, neste sentido, é a educação dos encontros. Educar é um ato político. Educar é um ato de entrega e de amor. Para Hamilton Werneck, “educar é sentir as pessoas” (2004, p.8). Se continuarmos a nos afugentar de nossa sensibilidade e nos escondermos nesse calabouço seguro que é a racionalidade, estaremos correndo o risco de não percebermos a riqueza que se encontra diante de nós. Porque não a sentimos. Como manter a minha própria autoestima se me arredo do outro, me enclausuro no que conheço e deixo de Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 102 perceber a pérola que habita no outro? Como eu posso me nutrir e manter a minha esperança no processo educativo se são tantos os desafios e me comporto diante do outro como se ele fosse um inimigo a ser combatido? “Um educador é por natureza um garimpeiro”, expressa Werneck (2004, p. 8). Como garimpeiro, entendo alguém que está disposto a se colocar como um ser em construção e que entende que o outro está em construção como ser humano. Para chegar a esse entendimento podemos considerar que todos temos uma história particular, individual que precisa e deve ser respeitada, mas o meu convite é para que olhemos para nossas particularidades e possamos ver nelas as possibilidades do encontro, encontro do ser humano que sou com o outro ser humano que está diante de mim. Independente da idade ou da função que ele desempenhe numa instituição escolar, devemos nos perceber como constituintes de um processo que visa o bem comum, que visa à construção de um ambiente onde os participantes se sintam a vontade para serem e estar. Entre os mortos e feridos salvam-se todos, deveríamos dizer, mas como dentre os mortos achar os feridos e dizer-lhes ao coração que não se percam, pois alguém, mais sensivelmente consciente, pode lhes reorientar? Quando eu encontro o outro, mesmo que divergindo das minhas ideias e da minha postura, tenho tentado fazer o exercício de aceitar que ele tem os mesmos direitos de defender o que acredita quanto eu tenho de defender o que eu acredito. Poderíamos imaginar uma escola dos sonhos uma escola melhor do que a vida? Jamais. Então para que serve a escola, para que servem as instituições se não para promover esse encontro entre os diferentes? Minhas escolhas e os mestres que fui encontrando no caminho me ensinaram que cada encontro é necessariamente uma partida. Somos uma única família e não podemos mais nos esquivar deste sentir/saber. Se desacredito de mim, tenho terreno fértil para desacreditar do outro. Assim, também nas relações entre professores e estudantes é preciso construir autoestima, amor próprio, cuidado consigo, para que estes sentimentos possam ser compartilhados, de maneira a multiplicar o que seja construído. Durante as Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 103 tempestades alguém nos encontra e amorosamente nos convida a valorizar a pedra preciosa que somos. Se nos entregarmos sem reserva a esse convite poderemos nos conhecer melhor e conhecer o outro. É comum ver o que é alheio e estranho a nosso entendimento como ruim e nefasto. Existe um inimigo...quem é? Não é excluindo o que é alheio a mim e em hipótese alguma querendo que o outro seja o que sou, como sou, e muito menos veja com as mesmas formas, que eu construo a ponte necessária para a transformação do outro e de mim mesma. Existe um mundo a ser explorado e um mundo a ser ressignificado no outro e em mim. Um mundo a ser descoberto e construído e essa construção só pode ser feita se abrirmos mão da ilusão de separação do outro. O medo de ser visto como estranho e alheio é mais nocivo do que se pode imaginar. Não posso me enclausurar entre os pares e os amigos com medo ou por segurança, obtendo da vida o retorno que espero. É na diferença e é com o diferente que me construo enquanto uma ser humana. Estamos carentes de humanidade. De olhar humano e amoroso. Estamos carentes e correndo o risco de nos perdermos. A Escola é, antes de tudo, um centro irradiador de cultura que aproxima centenas de pessoas. É um espaço propício para desenvolver as humanidades e fortalecê-las, de maneira que possamos multiplicar sensibilidades. Todos os processos educativos são, em potencial, algo do qual não podemos saber o resultado definitivo. Não podemos esperar que da cria se faça a criatura que esperamos nascer. Somos feitos luz e dessa luz ressoa nosso ser. Ao encontrar o outro, podemos nascer e nos fazer viver. Doa o quanto doer, encontrar também o que nos é diferente e o que nos grita é uma experiência necessária; é neste processo que também podemos encontrar a nós mesmos. Querer que o outro aceite e se faça valer a partir do que somos e julgamos ser mais adequado é fácil e cômodo e podemos nos entregar a isso. Mas nisso não há nenhum sentido, não é nessa água límpida e clara que podemos encontrar o que nos torna humanos, muito pelo contrário, é no que nos é alheio e incômodo que nos percebemos, ou pelo menos podemos nos perceber. É neste gritar de estranheza e negação que podemos reparar as nossas arestas, abrindo caminho para perceber o que nos falta e nos construindo; construindo o que queremos e sonhamos que seja o mais próximo do que acreditamos ser mais digno. Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 104 Vivemos num mundo onde podemos nos entregar à ilusão de controle, procuramos no dia-dia fazer coisas e preencher nossas existências, acreditando que estamos fazendo o melhor. No processo educativo, também queremos ter essa segurança. Mas encontro-me com o outro e não sei o que ele me traz. Então, como querer garantias? Minha luta por me sentir normal e me adequar ao mundo me lembra as exigências comuns nas salas de aula tradicionais. Buscam os professores que seus aprendizes tenham a postura correta, façam a tarefa correta, no momento correto. Buscam, os alunos, adequar-se ao ambiente, mas esse ambiente lhes tolhe a liberdade porque exclui que ao errar podem estar abrindo caminho para o acertar. A escola que quer e busca acertos o tempo todo, tanto do aprendiz quanto do mestre, fecha caminhos, ao invés de criar possibilidades. São tantas as possibilidades que trazem os educandos quando encontram com um educador. Por que agarrarmo-nos, como professores, ao que conhecemos como verdade e nos privarmos da verdade do outro? Ao encontrar com a verdade do outro, não necessariamente devemos concordar, o que poderemos fazer e é o mínimo que um educador deve fazer é escutar, olhar nos olhos e ver que ali se encontra outro ser humano que pode estar nos oferecendo uma oportunidade de aprendizado e uma oportunidade de troca. O processo educativo é um processo de reeducação do ser e é um processo que convida a deixar ser, de maneira que também se coloca como um processo terapêutico, preocupado com o desenvolvimento do humano. Esse é o convite que nos fazem todos os dias os aprendizes quando nos encontramos com eles. Eles estão nos convidando a ser e, para tanto, é fundamental que saibamos e sintamos que se vamos nos entregar, estaremos nos entregando a um processo de aprendizagem que só pode ocorrer quando entendermos que para ser é preciso deixar o outro ser e expressar como é. Na escola e na proposta que defendemos aqui, neste trabalho, as subjetividades são respeitadas e consideradas, promovendo a plenitude da existência do outro, seja ele como for, mas como legítimo outro. Excesso de sensatez, preocupação exacerbada com a perfeição, a disciplina, a normalização são movimentos desnecessários e inexistentes nesta escola com proposta alternativa que promove o encontro. Nesta proposta, ao contrário, questiona-se o tempo inteiro o que é normalidade, o que é loucura, o que é verdade, para que existem as regras, as disciplinas, enfim, pergunta-se sobre o real sentido dos padrões. Jean-Yves Leloup escreve belamente: “quando a normalidade mata e Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 105 a loucura cura, orai por nós, os que desmaiam, a nobreza aflita, a esquisitice santa!...” (2003, p. 41). É muito cômodo olhar para o outro no processo educativo e dizer que “naquele lá” se encontra o problema, mas o que acontece e vejo que faz toda a diferença é abrir a mente e o coração para perceber que este que incomoda tem, na verdade, um grito a ser dito e a ser escutado. O que ele quer na verdade, é ser escutado. Quem não encontra espaço e se sente invisível dá um jeito de se fazer notado, como um pedido de socorro, obviamente. A escola precisa ser um ambiente onde professores e aprendizes se encontram para conversar e por isso aquele que é negado e não se sente ouvido e visto, perturba, porque ele tem uma demanda. E essa demanda precisa ser observada. Pois nela está a chance de construção de uma realidade melhor para ele e para todos. Os chamados alunos sem-limites, pelo sistema institucional tradicional de ensino estão cansados de serem enxergados enquanto tal. O que mais escuto é são sem-limites e não querem nada com nada. Pois sim, são sem limites. Mas sabem que não tem. A vida é ilimitada. Possuímos o infinito de possibilidades. E cobrar que na tenra idade se aja dentro dos limites do outro é cortar aquela partezinha da asa que permite voar. Como fazem alguns quando querem um pássaro em casa para companhia e o transformam num ser de enfeite. Talvez eles estejam só refletindo um esgotamento por parte dos próprios professores que se acomodaram nas formas escolares em que foram ensinados. Mudar requer trabalho, esforço e paciência, mas quanta paciência estão exigindo os professores de seus “alunos” querendo que eles aprendam para serem iguais uns aos outros, querendo que eles aprendam num formato que não os serve mais? Quanta paciência estão exigindo uns dos outros em vão? Se não nos entregarmos para ver que é naquele grito entalado que pode estar o que falta para mudança, pode se correr o risco da perda de oportunidade de construir o encontro como recurso terapêutico e construtivo e a reflexão do processo em si. O mestre é aquele que se apresenta diante de nós e nos permite expressar e descobrir quem verdadeiramente somos e permite que descubramos o que queremos fazer. Grande parte dos educadores formais está mais preocupado em exigir do estudante que ele cumpra metas que ele não estabeleceu, às vezes, nem para si mesmo. Neste cumprir metas estabelecidas por outrem da forma que alguém Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 106 estabeleceu pode se encontrar com uma armadilha e é nessa armadilha que educadores podem cercear a realização do ser do educando. O formato tradicional de educação desencoraja a expressão única e individual de cada aprendiz. Exige que cada um faça as mesmas tarefas, cumpra o mesmo cronograma ao mesmo tempo, exige dos educandos e exige dos professores também um comportamento padrão. Mas nessa padronização de comportamento tolhemos o direito à individualidade e à oportunidade de sermos e nos reconhecermos como diferentes e aprendermos com essa diferença. Percebo hoje que o aconteceu comigo foi que pude logo de início romper com esta padronização e pude escolher onde me senti melhor para fazer as tarefas e com quem fazer. Quando tive a minha primeira experiência como professora de adolescentes da escola pública pude sentir o esgotamento por parte de colegas e aprendizes. De tantos rostos os que me marcaram foram: o que estou fazendo aqui? Não queria estar aqui. Vim porque fui obrigada. Porque é obrigatório estar na escola aprendendo suas formas e seus métodos, seus conteúdos formatados não por mim, mas pelas suas ideias do que é mais correto para mim. Por ter sido educada em casa com liberdade saí correndo. Fugi e não foi a primeira vez. Aos seis anos de idade quando cheguei na escola e vi que a professora ensinaria a escrever a letra R e eu teria de passar a tarde inteira, escrevendo-a convidei uma colega para ir para casa e fomos para casa dela brincar de boneca. Quase matei meus pais de susto. Mas o que pode fazer alguém que simplesmente sente que há outra coisa melhor, mais interessante para fazer do que repetir algum aprendizado já feito? Obviamente fui castigada e me parece de forma exagerada. Como ainda acontece. Alguns olhares tanto de professores quanto de aprendizes são de castigo. Como disse antes ainda preciso fazer as pazes comigo mesma por não ter podido naquele momento por falta de maturidade levar minha forma de fazer o que sentia que era melhor para mim e para eles. Lembro de um colega que me disse: há um hierarquia. Um professor de teatro. Não tive estrutura para discordar e colocar minha opinião. Hierarquia pressupõe que alguns estão abaixo e outros acima. Como compactuar com tamanha injustiça, ainda mais se ouvida de alguém que trabalha com arte com seus aprendizes? O olhar humano exige que nos percebamos diferente e nos encontremos de igual para igual. Seguir algo é diferente de construir algo com alguém. Seguir algo requer que tenhamos encontrado o que queremos, que já o sintamos no coração, mas na idade Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 107 escolar estão os aprendizes na idade de experimentação. De construção de significado. Devemos nos permitir experimentar com nossos aprendizes e também com nossos colegas. Para mim, sentir é amar e é construir com. E educar só faz sentido se pudermos sentir o outro. Estamos testemunhando, nestes tempos e século, a queda e a ruína da escola tradicional tal como ela é e observando a emergência de novas alternativas que estão surgindo. Inúmeras experiências de desescolarização estão sendo realizadas no planeta inteiro. Experiências essas que superam e rompem com os modelos, mas que se criam e se reinventam a partir dos desejos das próprias pessoas envolvidas. Ensinâncias e aprendências são vividas em meio à hospitalidade, acolhimento e problematização pacífica das ideias e dos pensamentos de cada um; conhecimentos e saberes se entrelaçam e se diluem, onde todos podem aprender com todos e ensinar a todos; não existem formas nem fórmulas, nem métodos nem modos, mas jeitos, maneiras, metodologias criadas e produzidas pelos próprios grupos; não se estrutura, mas se processa; as disciplinas abrem lugar para os campos de conhecimentos; as avaliações são do processo e se colocam como emancipatórias; as relações são humanizadoras e afetivas; as experiências são únicas, de acordo com o que os seus grupos desejam viver; os tempos são expandidos e os espaços também. Perto de nós, de Porto Alegre, temos as Escolas Caminho do Meio, Amigos do Verde, Waldorf, Escola do Movimento Sem-Terra, Escolas Indígenas, Grupos de Aprendizagens Autônomos, Educação Familiar ( famílias que optaram por educar seus filhos em casa) e outros espaços múltiplos de aprendizagens. Nas próprias escolas tradicionais, inúmeras experiências escolares alternativas se fazem, de maneira independente, dando vazão às expectativas do que as crianças e jovens desejam. A Educação do Encontro é a educação para a sensibilidade. Para a escuta. Para o diálogo. Para as conversações. É a Educação para a Potência. Para a invenção, a descoberta e a redescoberta, para a pesquisa, para a criação. Aberta para a reinvenção, para as possibilidades. É uma educação que acolhe as diferenças, os pensamentos divergentes, tenta superar os conflitos pela problematização das questões. O Encontro acontece quando professores e estudantes ampliam seus olhares em direção uns aos outros, se compreendem como sujeitos, se veem como Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 108 humanos, se permitem viver suas humanidades, com humildade e entendimento. Vivem a experiência mediada pela afetividade e pelo estado de confiança mútua. Respeitam-se em seus limites e consideram as potências de cada um. Jorge Trevisol escreve algo que toma nossos sentidos: “Como seres humanos, estamos envolvidos com o destino da era planetária num contexto de mundialização, em que o mundo se mostra como é, tão dentro de nós e tão complexo que nos foge à construção. Conhecendo a história planetária, podemos abrir-nos a esta compreensão e perceberemos que todas as partes do mundo tornaram-se solidárias e em todas as partes houve dominações e opressões. Há uma consciência coletiva que perpassa toda esta história, a qual engendra experiências humanas que enriqueceram a humanidade e outras que devastaram e obscureceram seu significado. Tomar conhecimento de tudo isso, para o ser humano hoje, é formar uma consciência presente de que, tanto em relação à vida quanto à morte no planeta, caminhamos todos para a mesma direção e todos somos responsáveis. Se a consciência humana e da humanidade forem ampliadas, contribuiremos para que este destino seja cumpridor do significado humano e, portanto, realizador da humanidade”(2004, p.62). Durante o meu caminho, encontrei pessoas que levaram-me e levam-me a muitos encontros. Com certeza, foram cumpridores do significado humano e realizadores de humanidades. O processo educativo, antes de mais nada, permite ao ser que busque e encontre a si mesmo, sem jamais deixar de criar espaços para que crie e construa seus próprios sonhos. Temos hoje milhões de professores e professoras com vida e brilho nos olhos e no coração. Decidi que este trabalho deve ser uma declaração de amor aos mestres que encontrei no meu caminho. E ainda gostaria de, aos professores que estão em processo de transformação de si e de suas práticas educativas, lavar-lhes a alma, uma a uma, e recobrar-lhes o fôlego, lembrando-lhes do processo belo e único entre a ostra e a pérola. Ao me lembrar dele, também recobro o meu próprio fôlego. Referências TREVISOL, Jorge. O reencantamento humano: processos de ampliação da consciência na educação. São Paulo: Paulinas, 2003. WEIL, Pierre. Normose: a patologia da normalidade/ Pierre Wiel, Jean-Yves Leloup, Roberto Crema. Campinas, SP: Verus Editora, 2003. Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 109 WERNECK, Hamilton. Educar é sentir as pessoas. São Paulo: Idéias e Letras, 2004 Rev. Traj. Mult. – Ed. Esp. XVIII Fórum Internacional Vol. 5 – ISSN 2178 4485- Agosto/2014 de Educação 110