Número Especial 40 Anos Boletim Mensal OS NOSSOS RESIDENTES E O 25 DE ABRIL... MENSAGEM DO VICE PRESIDENTE OS “CUCOS” DE ABRIL A Revolução de Abril aconteceu, em Portugal, por vontade do POVO, concretizada pelos militares, corajosos, e pelos civis, altruístas, que queriam derrubar o Governo, acabar com a guerra colonial e criar uma democracia. Naquela manhã de Abril, o Povo exultou de alegria, começava a acreditar na descolonização, na democratização e no desenvolvimento. Em toda a parte, manifestações populares acompanhavam os acontecimentos com gritos de pão, saúde, educação, habitação e trabalho. Somos livres! A palavra de ordem. As expectativas eram enormes. As Forças Armadas garantiam segurança e proteção, em vez de tiros, atiravam cravos vermelhos e recebiam abraços. Portugal parecia um ninho rodeado de papoilas e cravos donde se esperavam gaivotas a voar. Mas, à semelhança do que acontece no mundo das aves, alguns “cucos”, aproveitaram as circunstâncias e deixaram aí os seus ovos. Depois, nasceram aves de Abril e outras, os “cucos”. E andam por aí. Nas festas do 40 º aniversário do 25 de Abril de 1974, é nosso dever ”dar o seu a seu dono”, ajudar a cumprir o que falta das promessas e, não aceitar os seus contrários. VIVA PORTUGAL. 1. Onde estava no dia da revolução do 25 de Abril de 1974? 2. Qual o significado que teve para si e o que mudou no país a partir desse dia? Beatriz Silva, 70 anos 1. Estava a trabalhar e não dei conta de nada. Só depois é que fiquei a saber. 2. Para mim, o 25 abril foi bom. Eu não estava na Caixa e depois do 25 de abril fomos todos postos na Caixa. Antes não se podia falar com ninguém, porque não sabíamos para quem falávamos. Mas depois isso acabou. Para a juventude é que foi melhor, porque passou a haver mais liberdade. Mas depois também passou a haver muitos abusos. Para mim e para a minha vida, o 25 de abril foi muito bom. Filipina Santos, 78 anos 1. No dia 25 de abril de 1974 era feira no Fundão. O meu marido estava para lá e eu e a minha filha estávamos em casa. Depois a minha filha começou a ouvir no rádio que havia uma revolução em Lisboa, ficámos as duas muito aflitas porque o meu marido não estava em casa e começaram a dizer que não se podia passar nas estradas. E o resto da manhã, lá fomos ouvindo no rádio o que se ia passando. Entretanto o meu marido chegou a casa, e chegou bem. No Fundão não se passou nada, era só em Lisboa. 2. Até por volta do ano 2000 as coisas melhoraram muito. Mas agora está pior a nível de educação e de respeito, não há respeito pelos velhos. E aqueles que governam também não estão a fazer bem às pessoas. Mas na altura do 25 de abril as coisas ficaram melhores, porque antes havia muita repressão e o ambiente era muito pobre. Depois do 25 de Abril ficámos a viver melhor, as coisas mudaram muito. Helena Nogueira, 71 anos 1. Eu acho que estava em casa e ouvimos no rádio o que se estava a passar, mas não sabíamos no que ia dar. E na aldeia estávamos com medo. 2. Até agora foram 40 anos muito bons, mas agora as coisas estão a ficar muito difíceis. Na altura os ordenados aumentaram, havia muito trabalho e as coisas melhoraram muito. Trabalhava-se muito, mas conseguia-se ganhar para arranjarmos a vida. E agora não, as pessoas não têm trabalho ou ganham mal. José Branco Barata N E S T A E D I Ç Ã O : 40 ANOS... Manuel Ribeiro, 68 anos 1. [Estava]Em casa. Nem acreditei, ainda hoje não acredito. No momento senti medo que eles pudessem vir pela aldeia adentro. 2. Aumentaram as reformas, mas não houve grande alteração na minha vida, ESTAMOS NA WEB! EXEMPLO.MICROSOFT.COM Emília Proença, 80 anos 1. Lembro-me perfeitamente. Estava em casa a fazer cortes e a cuidar da minha neta, foi na televisão que soube da notícia. 2. Para mim foi uma liberdade, foi muito bonito, mas por outro lado foi uma tristeza, não souberam aproveitar a liberdade, não souberam viver. Agora tiraram-nos tudo. A minha vida melhorou em tudo menos no trabalho, pois era uma escrava. O patrão era muito exigente, só faltava nos bater com o chicote. [A Liberdade] É uma coisa boa, podemos falar à vontade que ninguém nos prende. No Casal da Serra oito foram presos por falar de mais, tínhamos que calar a boca. José Figueira, 81 anos 1. Estava na oficina a trabalhar, a falar com um amigo padeiro. Ele é que me contou que em Lisboa estava a haver uma revolução, que parecia que as coisas iam começar a ir por bons caminhos. Ficámos entusiasmados com aquilo que estava a acontecer, e depois daí foi sempre há espera de dias melhores. 2. Nem acreditei, foi uma mudança para melhor. Fiquei contente, ficámos todos satisfeitos. Foi uma glória para todos nós os Portugueses. A minha vida melhorou, mudou tudo! Podemos falar à vontade, dizer o que sentimos. Na altura só os ricos podiam falar e estudar. Só os filhos dos Doutores é que poderiam ser Doutores, nenhum filho de operário podia estudar. Mas Salazar foi um grande homem, naquele tempo ainda havia barras de ouro, agora já não há nada. João Fonseca, 87 anos 1. Estava a trabalhar em Lisboa. Fiquei com medo. 2. Houve mais dinheiro, mais facilidade em abrir negócios, mais patrões, mais consistência nas famílias e mais liberdade para falar. Leopoldina Silva, 90 anos 1. Estava em casa. Pensei que era o fim do mundo. Tinha a minha sobrinha em Lisboa e fiquei com muito medo porque pensava que ia tudo pelos ares. Pensei que iam matar toda a gente, fiquei muito nervosa, liguei várias vezes à minha sobrinha. 2. Fiquei contente que ia mudar. Sofremos muito antes. Antes mandavam-os para Caxias e muitos deles, se calhar, eram mandados ao mar. Pensei que ia melhorar, tinha esperança. [Mudaram] muitas coisas, mais liberdade, já podíamos falar à vontade, aumentaram os ordenados... Antes não havia greves de trabalhadores, os polícias, em cima dos cavalos, andavam sempre a fazer a ronda nas fábricas a controlar se todos os operários estavam a trabalhar, era um pesadelo que a gente tinha. [Após a Revolução] vivi um bocadinho melhor, mas passei muitas dificuldades na mesma. Vivia sozinha com a minha irmã que era deficiente e não podia trabalhar e o pouco que ganhava tinha que dar para as duas. [A liberdade] é boa para quem a sabe manobrar. Após a revolução houve liberdade a mais, abusaram. As pessoas achavam que tinham a liberdade para fazer e dizer tudo, mas há que ter maneiras e maneiras. Antes não podíamos fazer nada, depois foi muita liberdade que a juventude não soube aproveitar, foi muita malandrice. Manuel Pereira, 80 anos 1. Em casa. 2. Foi uma novidade. Fiquei admirado, surpreendido pelo acontecimento. As Forças Armadas foram eficazes, não houve sangue derramado, ninguém sofreu, só cravos vermelhos. [Mudou] muita coisa, mas não sei dizer se foi bom ou se foi mau, tenho dúvidas. A vida de operário melhorou bastante. A minha vida não melhorou muito, continuou mais ou menos igual, apenas pude dizer tudo aquilo que queria. Mas também agora há mais sem-abrigo a dormir na rua, antes não havia gente a dormir na rua. Salazar era um intelectual, naquele tempo ainda havia ouro, agora já não há nada. Não sei explicar, pensei que seria bom devido à liberdade, mas por outro lado também senti que abusaram e acabaram. Com o 25 de Abril criaram o abono familiar e as reformas aumentaram. Manuel Santiago, 78 anos 1. A trabalhar na fábrica. Soube pelo rádio. 2. Pensei que fosse uma coisa má para os pobres e boa para os ricos. Na minha vida, só me deu prejuízos. Piorou em todos os sentidos: na saúde, na poupança. No tempo de Salazar andava tudo mais direitinho. Eu tinha uma vida normal, o pouco dinheiro que consegui juntar foi no tempo dele. No meu tempo, éramos como as galinhas, o sol punha -se e os jovens tinham que estar em casa, se não levávamos porrada. Agora não, há muita liberdade. Manuel Esteves, 84 anos 1. Estava na fábrica a trabalhar e nesse mesmo dia à tarde tinha torneio de sueca, que entretanto já não houve por causa da revolução. Soube pela rádio e pela televisão. 2. Tinha esperança que ia melhorar. Antes recebíamos o ordenado por semana, o meu era 900$, depois da revolução passámos a receber mensalmente e aumentaram para 13 contos, ganhava bastante para a altura. Antigamente, éramos “obrigados” a votar no Salazar, caso contrário, éramos presos. Agora, já podemos falar à vontade, aumentaram os ordenados, começou a haver o subsídio de férias que antes não havia. Antigamente, até policias à paisana andavam nos bares a controlar as conversas, a ver se apanhavam alguém. Para mim foi igual, eu nunca dei com a língua nos dentes, por isso nunca me aconteceu nada, nem tenho razão de queixa. Mas o 25 de abril também foi mau porque acabou com as fábricas na Covilhã. Largo Eduardo Malta—Apartado 80—6200-352 COVILHÃ Tel.: 275 322 053—Fax: 275 322 370—Correio electrónico: [email protected]