Pesquisa: O que é, porque se faz,
como se faz e o que se espera.
Caio Mário Castro de Castilho
Instituto de Física – UFBA.
IV SEMPPG – Novembro de 2003
Pesquisa (Houaiss): substantivo feminino
1 conjunto de atividades que têm por
finalidade a descoberta de novos
conhecimentos no domínio científico,
literário, artístico etc.
2 investigação ou indagação minuciosa
3 exame de laboratório.
Ciência: substantivo feminino
1 conhecimento atento e aprofundado de alguma coisa
Ex.: ter c. das responsabilidades
1.1 esse conhecimento como informação, noção precisa;
consciência
Ex.: <c. do bem, do mal> <tomei c. das irregularidades
administrativas>
1.2 conhecimento amplo adquirido via reflexão ou
experiência
Ex.: <a c. do bom convívio> <c. dos negócios>
2 processo racional us. pelo homem para se relacionar
com a natureza e assim obter resultados que lhe sejam
úteis
Ex.: a c. da pesca
3 corpo de conhecimentos sistematizados que,
adquiridos via observação, identificação, pesquisa e
explicação de determinadas categorias de fenômenos e
fatos, são formulados metódica e racionalmente
Ex.: <homem de c.> <dedicar-se à c.> <os progressos da
Porque a natureza da ciência é tão mal
compreendida e porque não cientistas
apresentam tanta dificuldade em compreender
idéias científicas?
Esta falta de compreensão parece estar ligada a
um certo medo, com respeito à ciência,
havendo mesmo uma certa hostilidade à ciência
e aos seus resultados.
Mas, afinal, o que é mesmo ciência?
Ciência = Tecnologia?
O mundo moderno, com seus recursos e utilidades,
em grande parte resultado da investigação
científica, leva a que, com freqüência, se faça a
associação entre ciência e tecnologia.
Na verdade, até o século XIX, a ciência não teve
impacto significativo sobre a tecnologia.
Tecnologia é a atividade mediante a qual se
manipula a natureza, enquanto com a ciência se
aprende sobre a natureza.
A ciência produz idéias, enquanto a tecnologia
produz objetos úteis.
Ciência e tecnologia utilizam alguns
procedimentos semelhantes:
- observação sistemática;
- formulação de hipóteses;
- experimentação.
Historicamente a tecnologia veio primeiro.
A tecnologia começa com a produção de
instrumentos de trabalho (ferramentas), que
facilitam a ação do homem sobre a natureza e a
sua sobrevivência.
A tecnologia é tão importante que a ela nos
referimos, ainda que indiretamente, para falar da
História do ser humano:
- a idade da pedra;
- a idade do bronze;
- a idade do ferro;
- ...
A agricultura estava estabelecida (em algumas
regiões) por volta de 7 000 AC, quando o homem
começou a deixar a sua condição de
simplesmente coletor/caçador.
Por volta de 1 600 AC a técnica de produção de
vidros era conhecida na região em que hoje se situa
a Iraque.
A produção de cobre era bem desenvolvida no
Peru, por volta de 500 AC – mil anos antes da
chegada dos espanhóis.
Galileo 1564 – 1642 (que aperfeiçoou o telescópio)
estava convicto de que o mesmo foi inventado por
algum artesão de óculos, tendo isto ocorrido num
processo de tentativa e erro.
O parafuso e as engrenagens eram conhecidos à
época da civilização clássica grega, tendo sido
empregados por Aristóteles: 384 – 322 AC.
A invenção da roda ilustra bem a diferença entre
tecnologia e ciência.
Porque a roda facilita o transporte de uma carga?
A maior parte do esforço (trabalho) necessário ao
transporte de uma carga resulta da dificuldade em
superar o atrito entre o objeto a ser movido e a
superfície de apoio.
A introdução da roda reduz o atrito por duas razões:
- a existência de um eixo, que é liso, reduz o atrito;
- a roda possui um movimento de rotação.
Esta compreensão, baseada na ciência, é
completamente desnecessária, tanto para a
invenção da roda como para a avaliação da sua
utilidade.
A roda não era uma necessidade universal.
Evidência de transporte com rodas cerca de 2 000
AC.
Na América Central ela aparece só com os
espanhóis.
No sul da África a roda aparece só nos tempos
modernos (após as grandes navegações).
A tecnologia é gerada em razão da necessidade.
Diferentes tecnologias surgiram em diferentes
pontos da Terra em diferentes momentos
históricos.
A tecnologia, para o seu desenvolvimento, não
requer uma explicação, baseando-se assim, em
muito, no senso comum.
Cozinhar é uma ciência?
Ao cozinhar fazemos testes, observamos,
repetimos, alteramos, provamos, fazemos
hipóteses sobre com apurar ou reduzir um ou
outro sabor, ....
Até livros e revistas especializadas no tema
existem!
Não há (ou usualmente não se faz), no entanto,
uma teoria. Não há uma construção racional
sobre o ato de cozinhar.
Apenas experimentamos, num processo de
tentativa e erro, na busca do melhor sabor.
APENAS?
Ciência: Onde tudo começou?
A ciência teve origem apenas uma vez na
História e em apenas um local: A Grécia.
A razão para isto ter sido assim não é
absolutamente clara!
Thales de Mileto – c.620 – c.555 AC.
O primeiro (pelo menos ao que se sabe) a tentar
explicar o mundo não a partir de mitos, mas em
termos concretos, estes portanto sujeitos à
verificação.
Pergunta básica de Thales: De que era constituído
o mundo?
Resposta:
Água.
Claro que a água está presente na chuva, nas
nuvens, nos rios, é essencial à vida, ...
Sabemos todos que esta resposta, além de
simplista, está errada. O que então há de
importante na tentativa de Thales de explicar a
constituição de todas as coisas a partir da água?
A tentativa de encontrar uma unidade fundamental
na natureza.
A resposta, ainda que errônea, encerra uma
atitude, diante da natureza, muito importante: a
de que, sub-jacente às várias formas e materiais
existentes na natureza, há a possibilidade de se
buscar encontrar um princípio unificador.
A possibilidade de encarar a natureza numa
perspectiva objetiva e crítica tinha assim
começado.
Anaximander (611 – 547 AC) achava que a
substância fundamental, em lugar da água, seria o
ar.
Temos aí um novo e essencial ingrediente à
prática científica diante da natureza: a proposta e
a contra-proposta – o confronto entre idéias
opostas.
Faltava, no entanto, um outro ingrediente
fundamental:
O EXPERIMENTO!
Com Thales, e mais tarde os gregos, ocorre a
transição na atitude de deixar de explicar as
coisas a partir de mitos mas sim a partir de
exposições que eram em si auto-consistentes e
abertas a uma análise crítica.
Na Grécia a atitude científica é
emblematicamente representada por Aristóteles.
As suas contribuições em Astronomia,
Anatomia, Biologia e Comportamento Animal
foram de grande importância.
Resta de pouca importância o fato de que muitas
das suas explicações estivessem erradas.
Estar errado é uma constante característica do
fazer ciência.
A contribuição de Aristóteles (Escola Peripatética)
é expressiva e, para muitos, representa
simbolicamente o que de mais importante houve
em Ciência na Grécia Antiga.
Aristóteles introduz a noção de causa em dois
sentidos:
- causa como algo que influencia (ou
determina) outra coisa;
- causa no sentido de que serve a um certo
fim.
Porque os patos possuem patas com membranas?
Para nadar!
Explanação Teleológica: substantivo feminino
Rubrica: filosofia.
1
qualquer doutrina que identifica a
presença de metas, fins ou objetivos últimos
guiando a natureza e a humanidade,
considerando a finalidade como o princípio
explicativo fundamental na organização e nas
transformações de todos os seres da realidade;
teleologismo, finalismo
1.1
doutrina inerente ao aristotelismo e a
seus desdobramentos, fundamentada na idéia
de que tanto os múltiplos seres existentes,
quanto o universo como um todo direcionam-se
em última instância a uma finalidade que, por
transcender a realidade material, é
inalcançável de maneira plena ou permanente
O mundo de Aristóteles era composto por:
- terra
- fogo
- ar
- água
Cada um destes componentes possuiria duas de
quatro qualidades primárias:
- Umidade
- Secura
- Frieza
- Quentura
Aristóteles nunca chegou, no entanto, a um
requisito fundamental da atitude científica: o
experimento relacionado à teoria.
Não obstante estabeleceu bases para o que
mais tarde se veio a denominar de experimento
pensado.
A Mecânica de Aristóteles.
Força constante para um movimento em
velocidade constante.
E o movimento dos astros?
Resposta:
Matéria celeste distinta da matéria existente
na Terra.
Queda dos corpos
Um corpo mais pesado cai mais rápido.
Isto é verdade?
Observação de Galileo: “Duvido que Aristóteles
tenha testado, pela experimentação, que um corpo
dez vezes mais pesado que outro caia de tal modo
que difiram, na mesma proporção, na velocidade
com que chegam ao solo.
E a praça onde fica a Torre de Pisa foi o cenário
para mostrar que as coisas não se passavam do
modo que Aristóteles dizia.
Resumo
Tecnologia e Ciência, ainda que hoje muito
relacionadas não são a mesma coisa.
Nem nos seus objetivos nem nas suas relações
históricas.
Enquanto a tecnologia desenvolveu-se em
várias partes do mundo, a Ciência tem uma
única origem: A Grécia.
Diferentemente da Tecnologia a Ciência exige uma
Teoria para justificar as suas afirmativas.
A Ciência (atitude científica) tem como
características:
Elemento(s) unificador (es) na formulação das
suas explicações.
Utiliza a observação, a descrição e a
experimentação. Nisto, ciência e tecnologia,
apresentam características comuns.
Mas, afinal de contas, Ciência
é algo bom ou ruim?
Pesquisa: O que é, porque se faz,
como se faz e o que se espera.
Parte II
Caio Mário Castro de Castilho
Instituto de Física – UFBA.
IV SEMPPG – Novembro de 2003
Porque pesquisar?
O que leva as pessoas e as instituições a
realizarem pesquisas?
Utilidade:
- Entender as doenças.
- Compreender melhor os fenômenos
da natureza e assim fazer melhor uso dos
fenômenos e dos recursos naturais.
- Construir melhor (edificações,
dispositivos eletrônicos, aperfeiçoar meios de
transporte, ....)
Pesquisa voltada para o bem estar das pessoas.
Sempre para o bem estar? Claro que há o poder!
Esta motivação para a pesquisa, isto é, uma
pesquisa voltada para uma possibilidade de
retorno, é relativamente recente.
Como vimos, só a partir do século XIX a ciência
passou a contribuir mais significativamente para
com a tecnologia.
Aristóteles achava que a ciência não oferecia
outro retorno além da satisfação intelectual.
A situação atual, e mesmo o exame da História,
mostra que esta é uma visão bastante romântica.
O conhecimento (seja conhecimento científico ou
conhecimento tecnológico) sempre foi, ao longo
da História, utilizado como instrumento de poder.
Exemplos de relação entre conhecimento e poder:
Os sacerdotes egípcios e os Faraós.
Qual a razão das Universidades Brasileiras
terem sido criadas tão tardiamente?
Os portugueses não eram tolos...
A pesquisa que hoje se realiza em empresas é,
na sua quase totalidade, objeto de segredo.
Nos Estados Unidos da América, à época da
escravidão, haviam penas pesadas a quem
ensinasse um escravo a ler.
1828: Frederick Bayley – menino, negro,
arrancado dos braços da mãe, vendido para uma
cidade desconhecida: Baltimore.
Passa a viver e trabalhar como doméstico na casa
do Capitão Hugh Auld. Interessa-se pelos livros do
filho do casal. A esposa do capitão (talvez por
desconhecer a proibição), auxilia o garoto.
O fato chega ao conhecimento do Capitão que, de
imediato, proíbe as lições dizendo à mulher:
“Um preto deve saber apenas obedecer ao seu
senhor – deve cumprir as ordens. O conhecimento
estragaria o melhor preto do mundo. Se você
ensinar este preto a ler não poderemos ficar com
ele. Isso o inutilizaria para sempre como escravo”.
O Capitão Auld estava certo numa coisa:
O conhecimento inutiliza as pessoas para
continuarem a ser escravos!
Curiosidade
Pesquisa sem vínculo previsível com a
utilidade, com a consecução de um produto.
Matemática, Astronomia, Astrofísica,
Antropologia, Lingüística, Línguas em processo
de Extinção, ...
Há exemplos (vários) de produtos e processos
que advieram de pesquisas inicialmente
“desinteressadas”.
No processo investigativo algumas características
e práticas podem ser observadas.
A autoridade em ciência.
O cientista rejeita, de partida, a autoridade como
base última da verdade.
Neste aspecto há uma atitude bem distinta do homem
enquanto cientista para o homem enquanto religioso.
Ainda que utilizando fatos, princípios, dados, etc,
produzidos por outros, o cientista reserva a si a
decisão sobre a validade, adequação e
confiabilidade dos resultados.
Muitas vezes é seu dever central repetir e testar os
resultados de outros, desde que ache necessário
ou desejável.
O que dá validade ao resultado do trabalho científico?
A contrapartida à autoridade individual do cientista
é o julgamento coletivo por parte de outros
cientistas. É esta concordância coletiva que dá
validade ao trabalho individual.
O trabalho de outros cientistas, por também
testarem, medirem, compararem e racionalmente
chegarem a conclusões semelhantes, é o
elemento que valida uma conclusão científica.
Isto não impede que, às vezes, todos estejam
errados e assim permaneçam por longo tempo.
“A Ciência está longe de ser um instrumento
perfeito de conhecimento. É apenas o melhor que
temos”.
Carl Sagan, O Mundo Assombrado pelos Demônios.
A atividade em Ciência começa com a Observação.
A observação implica em seleção.
Esta é uma questão temática (o que vai ser
observado), mas também de escala (dimensão).
Uma floresta pode ser observada como uma
floresta, mas não tão facilmente como cem mil
árvores.
Uma árvore pode ser observada no seu todo mas
não tão facilmente como milhares de folhas.
Procede-se portanto diferentemente se o objeto
de estudo é a floresta ou a árvore.
Isto resulta de qual é o interesse no objeto de
estudo e também da limitação humana.
A observação conduz à descrição.
Há aqui a necessidade de uma linguagem concisa,
específica e adequada.
Definições precisas são essenciais, de modo que
o que é dito por um cientista signifique o mesmo
para outro cientista da mesma área.
Isto às vezes soa como pedantismo. Contudo
cada termo possui significado específico para as
observações realizadas.
A precisão da linguagem é um dos elementos que
diferenciam o conhecimento científico do
conhecimento vulgar.
A observação leva à descrição e esta exige a
existência de registros.
O registro não é o registro na memória do
pesquisador. A memória humana é falha demais
para ser confiável numa atividade de pesquisa.
Registra-se mediante:
- caderno de laboratório (log-book);
- um gravador;
- um sistema eletrônico de aquisição de dados.
Simples ou sofisticado, antigo ou moderno, o
registro do que se observa é parte essencial da
investigação.
No observar e no descrever há, inevitavelmente,
componentes pessoais do investigador:
- a “inclinação”
escola de pensamento, preconceitos, ...
- os resultados “ desejados”.
Não há neutralidade absoluta por parte do cientista.
A despeito disto sugerir “não isenção” e préjulgamento, resta inevitável e até mesmo desejável
(não deve ser confundido com fraude na observação).
Há que se ter uma hipótese anterior.
De outra forma, como saber o que se vai observar?
O fundamental é que as condições de observação
sejam adequadas, de modo que os “desejos” do
observador não distorçam as observações.
A melhor garantia de que os desejos e vícios de
um pesquisador não comprometam as suas
conclusões é que outros pesquisadores repitam
e confirmem/neguem as suas conclusões.
Neste sentido o pesquisador, enquanto tal, nunca
teme (mas até deseja) que outros verifiquem os
seus resultados.
Não sejamos, no entanto, ingênuos:
O pesquisador deseja ser o primeiro a descobrir
algo.
Isto deseja. E o deseja fortemente!
A vaidade é ingrediente sempre presente na
atividade científica.
A descrição não pode ser apenas qualitativa.
Precisa, de alguma forma, ser traduzida em
números (análise quantitativa).
Lord Kelvin dizia que uma ciência que não pode
ser traduzida em números não é ciência.
Assim, é necessário medir. Produzir números.
Mas, o que é medir?
Medir é comparar quantidades da mesma espécie.
Não é, no entanto, igualmente fácil de medir os
vários objetos de estudo.
Dificuldades na Medicina.
Dificuldades nas Ciências Humanas.
A medida não pode ser realizada exclusivamente
confiando-se nos órgãos dos sentidos.
O uso de instrumentos na observação.
Os instrumentos estão sujeitos a testes, calibração,
níveis de confiabilidade, etc.
Neste sentido o papel de instrumentos, simples ou
sofisticados, é o mesmo.
Causa e Efeito
Estritamente falando um evento é único. Não
pode assim ser observado de novo.
Em termos práticos, no entanto, vários eventos
podem apresentar entre si similaridades, em um
grau que os tornam “idênticos”, sendo assim
possível que sejam tratados de modo similar.
Podem ser então provocados, repetidos várias
vezes, e então lhes ser aplicados um tratamento
estatístico.
Há eventos que se sucedem.
Ocorrendo um, um outro ocorre em seguida.
Neste caso, muitas vezes, o primeiro é dito causa
do segundo ou, de outra forma, o segundo é efeito
do primeiro.
A sucessão entre eles não é, no entanto, suficiente
para a sua caracterização como causa e efeito.
Um mesmo evento pode ser conseqüência de
distintas causas.
Em Ciência (Ciências Naturais, pelo menos) buscamos, no
estudo de um fenômeno:
1. O conhecimento – no sentido de existência do
mesmo.
2. O descrever
3. O controlar (nem sempre possível)
4. O predizer
Isto constituiria a “explicação”de um fenômeno.
Se uma conexão entre eventos é percebida, de
modo que:
Se um evento se realiza (ou é provocado) e o
outro necessariamente se segue,
e
Se o primeiro não ocorrendo (ou não se
permitindo a sua ocorrência), o segundo também
não acontece:
O primeiro evento é dito causa do segundo.
Análise e Síntese
Qualquer fenômeno é suficientemente complexo
para que possa ser explicado em completo detalhe.
Assim: Ignoramos uma série de aspectos do
evento e discutimos uma versão idealizada do
mesmo.
Quão adequada é esta versão depende:
Da precisão que se deseja na análise;
Da possibilidade de, de fato, ser factível conceber
esta versão de modo que a mesma faça sentido.
Neste contexto, portanto, mesmo as Ciências
ditas Exatas, são de fato:
Ciências Aproximadas.
Além da necessidade da “versão idealizada”,
muitas vezes temos de “quebrar” o objeto de
estudo em partes para tratamento em separado.
É necessário ANALISAR o problema.
A possibilidade da análise depende da existência
ou não de partes aproximadamente independentes
ou, no máximo, interagentes entre si de uma
maneira relativamente simples.
Exemplo: O funcionamento do organismo dos
animais pode ser feito considerando:
O sistema circulatório;
O sistema digestivo;
O sistema respiratório;
O sistema urinário;
Etc.
Estes sistemas, claro, não são completamente
independentes!
Quando as partes do problema foram resolvidas
é necessário, é necessário considerar o
“funcionamento coletivo”.
Aproxima-s portanto da situação “real”
mediante a síntese das partes relativamente
mais simples.
Para que o resultado da síntese guarde
semelhança com o fenômeno concreto, é
necessário que as interações entre as partes
tenham sido adequadamente consideradas.
Após a seleção, observação e descrição do
objeto de estudo é necessário:
Formular a Hipótese, i. e., a idéia tentativa de
conexão entre os fenômenos observados.
A seqüência referida, na verdade, não é
cronológica. A hipótese, às vezes, antecede às
observações ou é construída simultaneamente
com elas.
Hipóteses diferem em engenhosidade e
criatividade. Às vezes são meras generalizações
das observações. Outras, mais complexas,
postulam conexões entre eventos e o
encadeamento entre causas e efeitos.
A qualidade, a criatividade e mesmo a
“genialidade”do cientista tem a sua melhor
oportunidade de manifestar-se justamente na
formulação da hipótese.
A possibilidade de formular hipóteses resulta da
suposição de que há, “alguma ordem” na
natureza.
Se duas hipóteses distintas são igualmente
adequadas às observações, usualmente se faz a
opção pela mais simples (pelo menos até que
algo venha a sugerir o contrário).
Não há razão para assim ser, mas é o que
usualmente se faz.
A hipótese é apenas uma idéia tentativa. Uma
possibilidade a ser verificada. Pouco mais que
uma conjectura.
Não pode ser confundida com uma Lei, pelo
menos enquanto não for exaustiva e
sistematicamente testada.
Em algumas áreas (Ciências Sociais e Medicina, por
exemplo) tem sido freqüente o abreviamento desta
“fase de testes”, com conseqüências às vezes
trágicas.
Plausibilidade não pode ser
confundida com evidência!
O método básico da ciência é a generalização, i. e.:
INDUÇÃO
Indução – operação mental que consiste em se
estabelecer uma verdade universal, ou uma
proposição geral, com base no conhecimento de
certo número de dados singulares ou de
proposições de menor generalidade.
Neste processo, retiramos conclusões sobre toda
uma classe a partir da observação de parte dos
seus membros.
Não é fácil justificar a indução, do ponto de vista
filosófico, no entanto é prática corrente entre os
humanos.
Não encontramos, facilmente, pessoas que
esperem que amanhã a Lei da Gravidade deixará
de funcionar. Funciona há tempos, funcionou
ontem, funciona hoje. Deverá funcionar amanhã!
Dedução.
Dedução – Processo pelo qual, com base em
uma ou mais premissas, se chega a uma
conclusão necessária, em virtude da correta
aplicação das Regras da Lógica.
A - Todos os corpos celestes próximos à Terra
brilham continuamente (não “piscam”)
B – Todos os planetas são corpos próximos da
Terra.
Logo: Todos os planetas são corpos que brilham
continuamente.
Quando uma hipótese é concebida e se mostra
adequada às observações realizadas, torna-se
possível a aplicação das regras da Lógica Formal
e então deduzir várias conseqüências.
Lógica e Matemática estão intimamente
relacionadas. Em muitos ramos da Ciência formas
de Matemática existem e são adequadas para
deduzir as conseqüências das observações
científicas.
Se isto acontece pode-se usar o grande potencial
da notação matemática e dos seus métodos.
Isto permite que deduções sejam feitas de forma
mais simples.
A Ciência é mais do que
um corpo de
conhecimento.
É um modo de pensar.
Pesquisa: O que é, porque se faz,
como se faz e o que se espera.
Parte III
Caio Mário Castro de Castilho
Instituto de Física – UFBA.
IV SEMPPG – Novembro de 2003
Onde se realiza a pesquisa?
Qual o seu papel institucional?
Universidades
Institutos de Pesquisa
Empresas
Como a pesquisa é conduzida?
Por grupos de pesquisa.
A realização da pesquisa tem um caráter gregário.
Gregário: adjetivo
1 relativo a grei
2 diz-se de animal que faz parte de uma grei, de
um rebanho
3 que tende a viver em bando
O que caracteriza um Grupo de Pesquisa?
Um tema, um objeto de interesse.
Uma liderança científica.
A pesquisa não é uma realização democrática!
Que pesquisa deve ser realizada?
Pesquisa de Qualidade!
O selo de qualidade tem emissão externa.
É o reconhecimento da comunidade científica
externa (no seu sentido mais amplo) que atesta a
qualidade do trabalho científico.
A Ciência é internacional. Não há uma Física
baiana, uma Medicina nordestina, uma Biologia
brasileira. E internacional precisa ser a sua
qualidade.
É possível fazer Ciência de qualidade no Terceiro
Mundo?
É possível fazer Ciência de qualidade no Brasil?
É possível fazer de qualidade no Nordeste?
É possível fazer Ciência de qualidade na Bahia?
A resposta a todas estas perguntas é clara e uma só:
SIM!
O que então é necessário para a realização local
da pesquisa?
Pesquisadores com competência.
Temas propostos que sejam atuais, viáveis e
factíveis face às condições objetivas do local.
Uma liderança científica.
Um ambiente de liberdade que possibilite o
exercício pleno da criatividade.
Não estaria faltando algo?
$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$
Sim, claro que são necessários recursos,
financiamento, apoio em dinheiro.
Mas de nada adiantam recursos, ainda que
expressivos, sem que as características
anteriores pré-existam!
Pergunta de Maria, hipotética estudante de
Biologia: A possibilidade de me envolver com
uma atividade de pesquisa me fascina. Que devo
fazer? Sou apenas um estudante de graduação...
Que temas a interessam?
Fisiologia Vegetal, Biologia Marinha, Animais
Peçonhentos, Bio-monitoramento, ...
Dentre os temas, inicialmente interessantes, em
qual deles há pessoas na instituição que com
eles trabalham?
Sim, há alguns... Quem?
Veja o seu curriculum.
Veja o LATTES: www.cnpq.br
Publica regularmente?
Tem orientado, com sucesso, outras pessoas?
É exigente? Se sim é uma boa indicação.
Trabalha duro? Idem.
Os critérios para a escolha de um orientador
não podem ser os mesmos que presidem um
concurso de simpatia, nem deve ser reflexo da
popularidade!
Qual a importância que tem a realização de
pesquisas, para o país, para a região?
O conhecimento da História, das
comunidades, dos recursos naturais, das
relações de trabalho, da cultura, ....
Enriquece a sociedade em vários planos.
O conhecimento agrega valor ao trabalho.
O conhecimento é fator de independência.
Quais são as agências brasileiras de
financiamento à pesquisa?
Como os recursos públicos chegam aos
pesquisadores, instituições e estudantes?
CNPq, CAPES, FINEP, MCT,
FAPs ... O que vem a ser
tudo isto?
A apresentação realizada neste seminário
estará disponível para “download” no seguinte
endereço, a partir da próxima semana:
www.superficie.ufba.br
Download

Pesquisa: O que é, porque se faz, como se faz e o que se espera.