UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ANA PAULA DE OLIVEIRA RAMOS VÉU, GRINALDA E DIÁLOGO: UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA CONJUGALIDADE PARA MULHERES CASADAS E PARA MULHERES SEPARADAS Palhoça 2009 ANA PAULA DE OLIVEIRA RAMOS VÉU, GRINALDA E DIÁLOGO: UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA CONJUGALIDADE PARA MULHERES CASADAS E PARA MULHERES SEPARADAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação em Psicologia, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo. Orientador: Prof. Leandro Castro Oltramari, Dr. Palhoça 2009 ANA PAULA DE OLIVEIRA RAMOS VÉU, GRINALDA E DIÁLOGO: UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA CONJUGALIDADE PARA MULHERES CASADAS E PARA MULHERES SEPARADAS Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Psicólogo e aprovado em sua forma final pelo Curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina. Palhoça, 22 de junho de 2009 _______________________________ Prof. e orientador Leandro Castro Oltramari, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina _________________________________ Profª. Nádia Kienen, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina __________________________________ Profª. Regina Ingrid Bragagnolo, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina 3 AGRADECIMENTOS A meu querido amado André Ricardo Vilela, que se mostrou um companheiro entusiasmado e paciente durante todos os momentos que precisei. Aos meus pais, Cleonice Marques de Oliveira Ramos e Carlos Antônio de Oliveira Ramos que apesar da distância sempre estiveram nos meus pensamentos. Amo vocês! Ao professor Leandro Castro Oltramari que com paciência e dedicação iluminou meus caminhos nesta jornada. A meus colegas e amigos que sempre me apoiaram. A todos o meu sincero muito obrigado e a certeza da minha gratidão. 4 RESUMO A conjugalidade tem sido objeto de discussão no campo das ciências sociais, pelo fato de ter aumentado o número das dissoluções conjugais. Ainda não se têm explorado muito as justificativas para essas dissoluções. O presente trabalho referese às representações sociais de conjugalidade para mulheres casadas e para mulheres separadas. A presente pesquisa é classificada como exploratória e qualitativa. Utilizou-se como delineamento o estudo de campo, sendo a coleta de dados realizada por meio de uma entrevista com o roteiro semi-estruturado, aplicado em cinco mulheres casadas e cinco mulheres separadas. As respostas foram agrupadas, para fins de estabelecer as categorias, de acordo com os objetivos específicos, e, em seguida, foram feitas as análises de conteúdo do material pesquisado. Ao final da pesquisa, constatou-se que as expectativas das entrevistadas casadas e separadas sobre casamento eram de união para formar uma família nuclear, sendo uma resposta representativa para os dois grupos. As mulheres casadas trouxeram o ritual do casamento como uma expectativa que também tinham sobre o matrimônio. As separadas consideraram que tinham antes de se casarem uma expectativa positiva da união conjugal, assim como o amor romântico. Atualmente, as expectativas das mulheres casadas e separadas sobre o enlace matrimonial relacionam-se aos seguintes aspectos: confiança no parceiro, a figura do marido como gestor da família, amor confluente, diálogo, relação de compartilhar tarefas e também a constituição de família. Na percepção de casamento no momento atual, as mulheres apontaram aspectos como companheirismo, diálogo e fidelidade conjugal. Em geral, verificou-se que as participantes dos dois grupos trouxeram representações sociais semelhantes em relação ao enlace matrimonial. Palavras-chave: Representações Sociais. Conjugalidade. Mulheres 5 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Caracterização das mulheres casadas................................................... 34 Tabela 2 – Caracterização das mulheres separadas................................................ 35 Tabela 3 – Referente às respostas das expectativas que mulheres casadas e mulheres separadas tinham sobre casamento.......................................................... 42 Tabela 4 – Referente às respostas das expectativas que mulheres casadas e mulheres separadas têm sobre casamento.............................................................. 47 Tabela 5 – Referente às respostas da percepção que mulheres casadas e mulheres separadas têm sobre casamento.............................................................................. 52 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 8 1.1 PROBLEMÁTICA.............................................................................................. 9 1.2 JUSTIFICATIVA................................................................................................ 12 1.3 OBJETIVOS...................................................................................................... 15 1.3.1 Objetivo geral............................................................................................... 15 1.3.2 Objetivos específicos.................................................................................. 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 16 2.1 CASAMENTO.................................................................................................... 16 2.2 FAMÍLIA ............................................................................................................ 22 2.3 SEPARAÇÃO.................................................................................................... 23 2.4 CONJUGALIDADE E GÊNERO........................................................................ 25 2.5 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ....................................................................... 29 3 MÉTODO.............................................................................................................. 33 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA................................................................ 33 3.2 PARTICIPANTES.............................................................................................. 34 3.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS...................................................................... 36 3.4 SITUAÇÃO E AMBIENTE................................................................................. 36 3.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS.................................................. 37 3.6 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS....................................................... 38 3.7 PROCEDIMENTO............................................................................................. 38 3.7.1 Seleção dos participantes.............................................................................. 38 3.7.2 Contato com os participantes......................................................................... 39 3.7.3 Coleta e registro dos dados........................................................................... 39 3.7.4 Organização, tratamento e análise de dados................................................. 40 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ................................................... 41 4.1 Expectativas que mulheres casadas e separadas tinham sobre casamento.... 41 4.2 Expectativas que mulheres casadas e separadas têm sobre casamento........ 47 4.3 Identificar a percepção que mulheres casadas e separadas têm sobre casamento............................................................................................................... 52 5 CONSEIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 56 REFERÊNCIAS....................................................................................................... 60 7 APÊNDICE ............................................................................................................. 65 APÊNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecimento...................... 66 APÊNDICE B - Roteiro de pesquisa..................................................................... 68 8 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa tem como propósito investigar as representações sociais da conjugalidade para mulheres casadas e mulheres separadas. Tal temática está vinculada ao campo de atuação do serviço de mediação familiar, no Fórum da cidade de São José, Santa Catarina. Os objetivos específicos da pesquisa pretendem entender como as mulheres compreendem o casamento, além de apresentar um estudo que irá comparar as percepções das mesmas sobre a conjugalidade. Esta pesquisa será apresentada da seguinte forma: problemática, justificativa, objetivo geral e os objetivos específicos, compondo assim o primeiro capítulo. O segundo capítulo se traz o referencial teórico que sustenta esta pesquisa, partindo da discussão acerca do casamento, amor e sexualidade, separação, conjugalidade e gênero e, por fim, representações sociais do casamento. Inicialmente, no referencial teórico, fez-se uma contextualização da história do casamento, contemporânea. bem como suas transformações na sociedade Paralelamente, buscou-se ponderar como a condição feminina modificou-se ao longo da história, e como isso repercutiu numa série de mudanças relativas ao casamento. Procurou-se também apontar quais as consequências advindas do amor e da sexualidade para alterar as relações conjugais. Posteriormente, tratou-se de apontar o modo pelo qual o modelo de família nuclear vem se constituindo e se mantendo consolidado na sociedade ocidental. Em seguida, apresenta-se uma discussão sobre o processo de separação conjugal, suas implicações em relação ao fim do enlace matrimonial, bem como suas consequências na organização familiar. Posteriormente, o referencial trata das novas formas de conjugalidade e como o gênero está implicado nessas transformações. Finalizando o referencial teórico, discutiram-se as representações sociais do casamento, conceitos de representações sociais e as implicações em relação ao matrimônio. Em seguida, apresenta-se o terceiro capítulo, que engloba os procedimentos metodológicos, compostos pela caracterização da pesquisa, descrição do instrumento de coleta de dados e a forma de análise desses dados. O 9 quarto capítulo traz a análise dos resultados, em que são apresentadas as categorias estabelecidas através da análise de conteúdo e sua relação com o marco teórico, a fim de responder aos objetivos da pesquisa. Concluindo, o quinto capítulo traz as considerações finais, que pontuam os resultados alcançados e as sugestões de temas para pesquisas futuras. 1.1 PROBLEMÁTICA No século V, a união conjugal e a celebração do casamento aconteciam em uma cerimônia privada entre os nobres, com o objetivo de transmitir a herança e proporcionar a formação de alianças políticas. Nessa época, a escolha pessoal e a paixão não faziam parte da união conjugal, e o ritual do casamento não tinha nenhuma intervenção da Igreja. Com o Cristianismo, a Igreja começa a exercer seu poder sobre o casamento, determinando-o como único lugar legítimo para o uso da sexualidade e com o intuito apenas da procriação. Ao impor o casamento religioso, a intervenção clerical passa a ser fator determinante e obrigatório na união do casal, tornando-o monogâmico e indissolúvel. A partir de então, o ritual do casamento tem como local tradicional a Igreja e passa a ser realizado por um padre. (ARAÚJO, 2002). A família formada sob a “bênção” de um representante de Deus tinha uma espécie de contrato celestial em que a quebra contratual era considerada uma falta grave. (ALMEIDA, 1992). Segundo Morgado (1987) e Norgren (2004), na Antiguidade Clássica, existiam alguns costumes dentro da união matrimonial que colocavam a mulher na função de procriadora e administradora da casa. Já no Século XVII, a união conjugal tinha que ser mantida a qualquer custo, conforme a expressão “até que a morte nos separe”. Nessa sociedade, a mulher teria que demonstrar fidelidade e dedicação ao marido e aos filhos, obedecendo e sendo submissa ao seu cônjuge. (NETO e FÉRES CARNEIRO, 2005). Com a modernidade, algumas mudanças aconteceram em relação ao casamento, passando o matrimônio a ser estabelecido por amor, com a livre escolha e o predomínio da sexualidade na união conjugal. Tais mudanças foram alcançadas pela emancipação feminina, possibilitando uma nova organização social dentro do casamento. (FÉRES CARNEIRO, 1998 e LINS, 1997). 10 De modo geral, algumas mudanças ocorreram em relação ao casamento tradicional. Dentre elas, Jablonski (1998) aponta um declínio na religiosidade, decorrente da modernidade e da industrialização. Apesar disso, a família do século XXI ainda se preocupa e segue os rituais e cerimônias do casamento, sendo uma importante base de formação familiar, formando um dos principais vínculos sociais existentes para a constituição de uma família nuclear. (JABLONSKI, 1998). No entanto, o casamento e a família nuclear passam por uma crise, já que várias transformações sociais, culturais e econômicas influenciam as atitudes e comportamentos dos indivíduos, o que talvez esteja provocando um possível aumento das dissoluções conjugais. Jablonski (1998) aponta algumas das mudanças que podem estar relacionadas ao crescente no número de separações, dentre elas: o novo papel feminino desempenhado na sociedade, a dupla jornada de trabalho das mulheres, suas novas expectativas conjugais e profissionais, a liberdade sexual, a diminuição da influência religiosa, além da aceitação da sociedade em relação ao divórcio. (JABLONSKI, 1998). De acordo com Féres Carneiro (2003), existe uma diferença de opinião entre homens e mulheres a respeito do casamento, pois a população feminina define o matrimônio como uma “relação de amor”, e para os homens, o casamento é principalmente a “constituição de família”. Portanto, para os homens, o fato do relacionamento amoroso não estar bem é algo insuficiente para o fim do casamento. Desse modo, esse pode ser um dos indicativos que explica a separação conjugal, na maioria dos casos, ser um processo requerido pelas mulheres. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2002) corroboram com tal afirmação, pois os gráficos estatísticos ressaltam que as mulheres são frequentemente as maiores requerentes do processo de dissolução conjugal. Elas requerem mais de 70% das separações e em torno de 55% dos divórcios não consensuais. Dados estatísticos também retratam o aumento no número de separações e casamentos, segundo o IBGE, demonstrando que no período de 1991 a 2002, as separações subiram de 76.223 para 99.693, um aumento de 30,7%. Os divórcios passaram de 81.128 para 129.520, um crescimento de 59,6%. O recasamento de divorciados passou de 5,3% do total, em 1991, para 10,8% em 2002. (IBGE, 2002). Podemos identificar, a partir de estudos de Bertollo (et al., 2007), que uma das representações sociais do casamento é a possibilidade de constituição de uma 11 vida em comum. Sendo assim, os indivíduos se casam e recasam na expectativa de uma união conjugal pois, conforme Bertollo (et al., 2007), o casamento tem sua representação social significando um fenômeno construído histórica e socialmente compartilhado pelos sujeitos e orientando suas práticas sociais. Estudar as representações sociais pode nos permitir compreender como os sujeitos sociais apropriam conhecimentos compartilhados pelo senso comum, e de que forma eles dão significados para seus comportamentos, organizando suas práticas sociais. O ato matrimonial representa, numa sociedade contemporânea, a preservação de alguns costumes e crenças que são compartilhados coletivamente numa sociedade. Segundo Moscovici (1981 apud OLIVEIRA e WERBA, 2000, p. 106), as representações sociais estão atreladas a crenças e mitos de uma sociedade tradicional; entretanto, hoje são teorias do senso comum sobre fenômenos da modernidade. (...) por Representações Sociais entendemos um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crença das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum. (MOSCOVICI, 1981 apud OLIVEIRA e WERBA, 2000, p.106). As representações sociais estão vinculadas às nossas interações sociais, sendo criadas e internalizadas num processo coletivo e orientando o pensamento individual, sendo produtos das nossas ações e comunicações. Contudo, vale esclarecer que as representações sociais são criadas em grupos e não de forma individual. São construídas, portanto, socialmente, e norteiam os comportamentos das pessoas no seu meio social. (MOSCOVICI, 2003). Podemos identificar que o processo histórico do casamento esteve relacionado aos interesses políticos, econômicos e religiosos de uma época (PERLIN e DINIZ, 2005). Dessa forma, as transformações sociais levaram ao questionamento dos casamentos tradicionais, gerando mudanças na conjugalidade. Logo, os sujeitos buscam em seus relacionamentos atuais um envolvimento sentimental, como amor, confiança, carinho e respeito, além de uma relação de companheirismo para enfrentar as dificuldades na rotina conjugal. (PERLIN e DINIZ, 2005). 12 Em relação ao casamento, não existe apenas uma representação social, determinada e homogênea; desse modo, as mudanças da sociedade contemporânea comprovam novas formas de vivenciar a vida conjugal. Diante disso, tem-se como proposta apresentar a compreensão das mulheres a respeito da conjugalidade. Para responder a essa questão será necessária a seguinte pergunta: Quais as representações sociais da conjugalidade para mulheres casadas e para separadas? 1.2 JUSTIFICATIVA No Fórum de São José, é realizado o Serviço de Mediação Familiar que tem como objetivo atender a casais que buscam a dissolução conjugal, sendo um atendimento que prioriza prevenir conflitos familiares. No local, foi verificado que, na maioria dos casos, quem solicita a dissolução conjugal são as mulheres. Portanto, o interesse desta pesquisa surgiu a partir do estágio realizado nesse local, onde são comuns os casos de separação. Partindo dos processos de mediação realizados pela acadêmica no Fórum, passou a existir, então, o questionamento sobre a compreensão de casamento para mulheres. Ao se propor um estudo sobre casamento, compreende-se que na sociedade contemporânea serão abordadas várias formas de conjugalidade e seus significados no processo histórico, pois se sabe que todas as mudanças da sociedade estão comprovando novas formas de viver essa vida conjugal. Segundo Scabello (2007, p.13), “digerimos as mudanças tão vagarosamente que não sabemos ao certo qual o retrato de família que deve ser pintado, de modo que a percepção de um fragmentado, descontínuo e diversificado coloca questões que desafiam o saber acumulado pelas teorias das Ciências Sociais”. A partir daí, vale ressaltar que a importância desse estudo vem frente ao entendimento que os conflitos sociais, culturais e morais podem ser provocados pelas mudanças que os fenômenos casamento e separação podem trazer para uma família. A partir do momento em que o casamento passa a ser uma escolha do casal, movido pelo próprio desejo dos indivíduos e também aliado ao momento de rápidas e profundas transformações sociais encontradas no século XXI, este estudo 13 procurará compreender as várias formas de conjugalidade e assim o entendimento que mulheres têm sobre o casamento. Desta forma, as transformações ocorridas na instituição casamento têm como propósito, nesse trabalho, de colaborar e acrescentar conhecimento sobre as representações que orientam as práticas sociais. Assim, profissionais e familiares, diretamente relacionados com tal realidade, poderão ampliar o entendimento sobre as representações sociais que possam influenciar o processo de separação. Dessa maneira, o estudo contribuirá com dados e informações, proporcionando o entendimento que as mulheres têm sobre casamento, além de apontar as representações sociais que orientam os comportamentos e que podem estar atrelados às causas das dissoluções conjugais, que repercutem não só no casal, mas em todos os envolvidos na relação. A pesquisa deverá promover conhecimento acerca das representações sociais do casamento. Isso contribuirá para que profissionais que trabalham com mediação familiar e outros profissionais que se interessem pela temática, compreendam o quanto casamento e separação podem acarretar alterações na vida das mulheres e suas famílias. Dessa forma, a pesquisa poderá auxiliar profissionais no empoderamento de mulheres que estão se separando, promovendo-lhes uma melhor qualidade de vida. A velocidade das transformações ocorridas na sociedade no mundo contemporâneo refletiu em alterações significativas na estrutura da união matrimonial. Isso caracteriza uma fragilidade do casamento, o que pode trazer prejuízos na configuração da família, acarretando problemas emocionais para os filhos e para o próprio casal. (FÉRES-CARNEIRO, 1998). É necessário, portanto, estudar essas novas configurações de família, a fim de preparar as pessoas a suportarem o fim do relacionamento e poder colaborar na construção e elaboração de projetos de políticas públicas que apóiem e contribuam para o acolhimento psicológico das pessoas afetadas com o fim do relacionamento. Existe uma premente necessidade de que os profissionais atuantes na mediação familiar sejam institucionalizados no poder judiciário, para fins de mediar o conflito existente no término do casamento. Esses profissionais teriam um material de conhecimento capaz de esclarecer as fontes de conflitos surgidos no decorrer do andamento do processo de mediação, tornando-se mais capacitados no que diz respeito aos conflitos psicológicos advindos de uma separação. 14 Assim, o conhecimento sobre as representações sociais do casamento poderá identificar as possíveis diferenças ou semelhanças das visões de mulheres casadas e mulheres separadas, ou em processo de separação, com relação à conjugalidade, podendo tornar-se de grande auxílio para profissionais interessados no assunto. Além disso, os mediadores poderão ter maior discernimento em relação aos aspectos sociais existentes nesse contexto, compreendendo e reconhecendo aspectos comuns referentes a sentimentos e idéias sobre o enlace matrimonial. 15 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo geral Compreender as representações sociais da conjugalidade para mulheres casadas e para mulheres separadas. 1.3.2 Objetivos específicos • Identificar as expectativas que mulheres casadas e mulheres separadas tinham sobre o casamento. • Identificar as expectativas que mulheres casadas e mulheres separadas têm sobre o casamento. • Identificar a percepção que mulheres casadas e mulheres separadas têm sobre casamento. 16 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 CASAMENTO, AMOR E SEXUALIDADE No século IV, não existia o casamento entre homem e mulher e, sim, um casamento que simbolizava a união entre Deus e o homem, pregando assim a castidade. Já o casamento que unia homens e mulheres, estava muito longe da santidade, pois em tal união existia a sexualidade que, até o momento, não era aceita pela Igreja, cujos valores primordiais eram a virgindade e a castidade. A concepção de casamento correspondia a um aspecto negativo e pregado como fonte de angústia e inquietação, contrária à serenidade da alma, sendo para os cristãos da época equivalente à escravidão dos cônjuges. A vida conjugal, portanto, era hostilizada na Antiguidade, sendo vista como algo que trazia riscos à virgindade de homens e mulheres expostos a uma união matrimonial. (VAINFAS, 1986). Na história das sociedades ocidentais, a Igreja teve um papel preponderante na união conjugal. No século V, inúmeras modificações ocorreram na sociedade ocidental, inclusive no campo do casamento, onde a união do casal e a celebração do matrimônio passaram a acontecer com maior frequência, tornando-se uma prática rotineira, vinculada à formação de uma descendência e também a uma transmissão do patrimônio. (VAINFAS, 1986). Os pensamentos e regras da Igreja Católica relativos ao casamento começaram a dominar a sociedade apenas na Idade Média, quando o casamento foi estabelecido como sacramento; já no século XII, tornou-se monogâmico e indissolúvel. Em seguida, no século XIII, foram estabelecidas regras em relação ao comportamento sexual. Dessa forma, a sexualidade encontrou um lugar legítimo dentro do casamento, sendo que seu objetivo seria a procriação. O casamento cristão tinha como premissa a promessa da fidelidade ao cônjuge, o que garantia a fidelidade feminina e a legitimidade dos filhos. (SCABELLO, 2007). Além da cobrança da fidelidade e da virgindade feminina até o casamento, outras regras eram impostas, tais como: a abstinência sexual nos dias santos, na gestação e nos períodos pós-parto e pós-menstrual, bem como a proibição dos métodos contraceptivos e do sexo antes e fora do casamento. Casos 17 de bigamia eram penalizados com a excomunhão, o abandono ou até a morte da esposa infratora. (SCABELLO, 2007). Com a aceitação do casamento pela sociedade e também pela Igreja, começou a surgir uma relação de dominação, exercida pelo homem sobre a mulher, reforçando a união entre o casal, uma vez que a Igreja pregava uma mentalidade patriarcal, em que a esposa estava condenada a ser uma escrava doméstica exemplarmente obediente e submissa. Sua existência justificava-se por cuidar da casa, cozinhar, lavar a roupa e servir ao chefe da família. (DEL PRIORE, 2005). Na Idade Média, a mulher, ao se casar, tornava-se submissa ao marido e teria que retirar seu sobrenome para incorporar o sobrenome do esposo, além de romper com seus laços do passado para acompanhá-lo. Outra questão primordial era que a mulher devia ao marido a sua virgindade ao casar-se e também a fidelidade eterna. O homem, como chefe da família, assegurava o poder econômico e sua esposa passava a pertencer a sua família, como uma espécie de propriedade. (BEAUVOIR, 1980). Conforme Jablonski (1998), no século XVIII, a união conjugal também era celebrada basicamente para a transmissão do patrimônio, sendo sua origem fruto de alianças familiares, tendo em vista a questão econômica, política e financeira dos cônjuges, ou seja, eram casamentos arranjados. Os recém-casados, na maioria das vezes, não se conheciam, não existindo o amor no momento da união conjugal. A celebração da união do casal ocorria na casa da futura esposa, onde se reuniam parentes dos noivos e testemunhas. Aconteciam algumas trocas de palavras e, por fim, a união dos bens; o pai da moça entregava a tutela da filha para o marido que o pagava com a entrega de uma donatio puellae (garantia do contrato). Deste modo, a mulher era uma parte do patrimônio familiar, e sua união com um homem selava a união de duas famílias reais ou nobres. Outra questão que fazia parte do casamento era a fidelidade da mulher, já que a infidelidade poderia provocar o abandono ou até mesmo a morte da esposa infiel. (ARAÚJO, 2002). Segundo Del Priore (2005), Feres Carneiro (2003) e Scabello (2007), para a Igreja, os cônjuges deveriam se unir não por amor, mas para formar uma união entre as famílias dos noivos, tornar possível a procriação, permitindo dessa forma a continuidade das gerações, e, principalmente, impedir que o ato sexual acontecesse fora do casamento, evitando a promiscuidade. Sendo assim, percebe-se que o amor não fazia parte do enlace matrimonial. O pensamento cristão pregava a abstinência 18 como fator primordial antes do casamento e assim o amor era um sentimento irrelevante para a união entre o casal. Para Pretto (2003), O amor nesse momento estava encarcerado na instituição casamento, servo de Deus e não um meio para os homens adquirirem sua realização existencial. É um aprisionamento que vem com a paixão [...] o amor se faz incondicional: tudo suporta, tudo releva, e sacrifício, abdicação e dedicação. (PRETTO, 2003, p. 20). No final do século XVIII, a mulher tinha como principal função os afazeres do lar, os cuidados com o marido e a criação e educação dos filhos. Em contrapartida, ao homem cabia a função de provedor da família e chefe da casa. (JABLONSKI, 1998). Para Del Priore (2005), a função da mulher no casamento estava vinculada aos interesses do marido, cabendo a ela reverenciá-lo e cobri-lo de suas vontades. Com a modernidade, acontecem mudanças nos valores do casamento, visto que começa a predominar o amor na relação conjugal. Torna-se possível a existência de um casamento constituído com amor, onde o casal se une porque se ama e passa a ter perspectivas a respeito do amor e da felicidade no matrimônio. (ARAÚJO, 2002). De acordo com Féres-Carneiro (2003), o processo de mudanças pelo qual passam as relações conjugais, em que se viu a possibilidade da escolha do parceiro para a união matrimonial, torna possível a complementaridade mútua conjugal, proporcionando um envolvimento mais prolongado entre o casal. No entanto, a possível existência do amor nas relações conjugais leva o cônjuge a questionar-se sobre seu relacionamento a respeito da predominância desse sentimento. Giddens (1993) relata que, com a decadência do poder patriarcal, abre-se a possibilidade de se falar de amor no casamento. Sabe-se que casamento e amor não estavam vinculados; o que existia era um amor ligado à responsabilidade dos cônjuges no cuidado da casa e da família. Deste modo, no século XIX, surge a idéia de amor romântico, acarretando mudanças significativas na união matrimonial, onde o casamento passa a ocorrer por amor e tornando-se a experiência mais desejável da vida do casal. Para explicar a construção histórica do amor, recorremos a Giddens (1993), que afirma que o amor romântico é “a possibilidade de estabelecer um vínculo emocional durável com 19 o outro, tendo como base as qualidades intrínsecas desse próprio vínculo. É o precursor do relacionamento puro, embora também permaneça em tensão em relação a ele”. (p.10). O autor também comenta sobre o amor confluente, que difere do amor romântico, que é mais próximo do relacionamento puro por pensar a igualdade na doação e nos recebimentos emocionais. O amor progride no mesmo ritmo em que se desenvolve a intimidade, “[...] até o ponto em que cada parceiro está preparado para manifestar preocupações e necessidades em relação ao outro e está vulnerável a esse outro”. (GIDDENS, 1993, p. 73). A idéia de um casamento “para sempre” e “único amor” é abandonado pela busca de relacionamentos escolhidos e da realização sexual. "Na época atual, os ideais do amor romântico tendem a fragmentar-se sob a pressão da emancipação e da autonomia sexual feminina". (GIDDENS, 1993, p.72). O amor confluente é uma forma de amor que estaria mais próxima ao contexto contemporâneo. No amor confluente a relação de igualdade nas relações de gênero exige equivalência, confluência de interesses e desejos e que institui relacionamentos contingentes, negociados e duráveis, não até a morte, mas sim até a finitude dos interesses de uma ou de ambas as partes, ou seja, não se propõe ao “para sempre”, característico do amor romântico. (GIDDENS, 1993) O amor romântico, segundo Lins (1997), é entendido como uma projeção e idealização sobre o companheiro e, logo, algo momentâneo: “Enquanto estamos apaixonados por alguém, o mundo se reveste de tamanho significado que a cada encontro somos transportados para fora da realidade e cria-se um estado de exaltação”. (p. 80). O amor romântico tem como alvo a busca de uma pessoa especial e a crença nessa busca causa frustração no sujeito que está apaixonado, a partir do momento em que percebe que o outro é um ser humano e não mais aquele sujeito idealizado. No entender de Giddens (1993), existe uma diferença do amor confluente para o amor romântico; o amor confluente é aquele que recusa as idealizações e fantasias, características próprias do amor romântico, tendo em vista o amor confluente se pautar na realidade com envolvimento emocional dos parceiros e igualdade na relação. A visão de amor romântico acredita-se na idéia de indissolubilidade dos parceiros. Oltramari (2007) comenta que o amor, mesmo na sociedade ocidental, é entendido de forma idealista. As pessoas vivem com a certeza de que o eleito é 20 “único” e “eterno”. Contudo, a sociedade contemporânea vem passando por mudanças que provocam alterações significativas no contexto social, bem como no amor e na sexualidade. Giddens (1996) considera essas mudanças na sociedade como "modernização reflexiva", que para ele têm uma diferença em relação à modernização simples. No caso da modernização simples, os hábitos e costumes da sociedade são previsíveis. Na reflexividade, o sujeito passa a ter um grau de autonomia de suas ações, tendo em vista sua possibilidade de escolher e tomar decisões, provocando mudanças significativas no contexto social. "É institucional por ser o elemento estrutural básico da atividade social nos ambientes modernos. É reflexivo no sentido de que os termos introduzidos para descrever a vida social habitualmente chegam e a transformam - não como um processo mecânico, nem necessariamente de uma maneira controlada, mas porque tornam-se parte das formas de ação adotadas pelos indivíduos ou pelos grupos". (GIDDENS, 1993, p. 39). Giddens (1993) explica que a reflexividade altera as relações amorosas, visto que as pessoas estão num movimento de individualização, resultando em alterações na união conjugal constituída por amor. Com a reflexividade, a sexualidade também adquiriu um novo caráter na sociedade moderna, saindo de uma finalidade reprodutiva e passando a ser alvo de negociação, pois a mulher agora faz exigências em relação à sexualidade. Cabe lembrar que a Igreja Católica resistiu em aceitar o casamento (GIDDENS, 1993). Após a aceitação, a Igreja uniu o matrimônio o amor e também a sexualidade como condição necessária e, dessa forma, encontrou uma maneira de dominar e reprimir a sexualidade dos cristãos. (SCABELLO, 2007). Sendo assim, faz-se necessária a compreensão a respeito do sentido da sexualidade na relação conjugal, pois, de acordo com o cenário sócio-cultural atual, as transformações sociais vêm redefinindo as práticas afetivas e sexuais no matrimônio. A emancipação sexual e a autonomia feminina trazem uma descentralização da sexualidade em relação à procriação, e o prazer sexual passa a ser uma reivindicação das mulheres. (GIDDENS, 1993). Michel Bozon (2003), teórico que traz contribuições sobre a sexualidade, a partir do século XIX, explica que o ato sexual era benquisto apenas no casamento. Atualmente, na conjugalidade contemporânea, ele passou ser fator necessário à 21 vida conjugal. “A sexualidade, que era ontem um dos atributos do papel social do indivíduo casado, tornou-se uma experiência interpessoal indispensável à existência da união”. (BOZON, 2003, p.134). Segundo o mesmo autor, a mulher, ao assumir uma nova atitude em relação às relações afetivas e sexuais, provoca uma nova maneira de se posicionar frente ao seu casamento e em alguns casos podendo levar à ruptura conjugal. A mulher vivenciou mudanças mais acentuadas do que o homem no decorrer da sua vida sexual. (BOZON, 2003). Conseqüentemente, o posicionamento feminino frente a sua sexualidade vem rompendo obstáculos e, com isso, as mulheres vêm adquirindo um espaço mais autônomo e liberal na sociedade. Lins (1996) e Bozon (2003) refletem que as mudanças de costumes aconteceram com o aparecimento da pílula anticoncepcional, nos anos 1960. A sexualidade não era mais associada à procriação, pois a mulher começava a definir o que quer fazer do seu corpo, e o casamento não mais considerado, para algumas mulheres, como o espaço central para manter relações sexuais. Nos anos 1970 algumas mulheres achavam perdoável a infidelidade de um homem casado; já na década de 1990, a opinião das mulheres sobre as relações extraconjugais difere e tais infidelidades já não são aceitas por elas. Em relação à moral sexual, dois pontos de vista substantivamente diferentes se opõem. Dois terços dos homens estão de acordo com a idéia segundo a qual “pode-se ter relações sexuais com alguém sem ser apaixonado”, ao passo que dois terços das mulheres desaprovam esta idéia. Os homens são também mais numerosos em pensar que “pode-se ter aventuras sexuais durante o casamento”, do mesmo modo que “a atração sexual leva forcosamente a transar com alguém” e que “pode haver amor sem fidelidade”, ou que “as infidelidades passageiras reforçam o amor.” As mulheres, ao contrário, muito mais que os homens, se mostram chocadas com as “trocas de parceiros”, tanto quanto com a pornografia. (BOZON, 2003, p. 149). As mulheres viveram mudanças mais significativas do que os homens na trajetória da sexualidade. A preocupação com a satisfação sexual dos parceiros tem ganhado destaque quando, principalmente, se fala em manter um casal unido. A insatisfação sexual pode ser um fator crescente entre as causas que levam a mulher a requerer a separação. Segundo Jablonski (1998), pesquisas apontam que a mulher se destaca como a parte que solicita a separação, mesmo que, em alguns casos, tal atitude possa gerar um dano na sua condição financeira. Desta maneira, 22 podemos dizer que a emancipação da mulher e a liberdade sexual são fatores que possibilitam, na sociedade atual, mudanças necessárias que ensejam novas possibilidades para as mulheres traçarem outros caminhos, sem se entregarem a uma condição de insatisfação plena oriunda de união indesejável. 2.2 FAMÍLIA A história da família está intimamente ligada à do casamento. Na Idade Média, a família baseava-se na linhagem, ou seja, era constituída pela solidariedade entre todos os descendentes e com um ancestral em comum, sendo que nem todos se reuniam num mesmo espaço. A família, portanto, compunha-se dos pais, filhos, sobrinhos e primos solteiros que viviam uma mesma propriedade e mantinham relações familiares. Como não havia a divisão da propriedade, surgiu a grande família moderna patriarcal com seus valores. No final da Idade Média, “a família conjugal tornou-se novamente independente”. (ARIÈS, 1981, p.212). O domínio do paterno foi fortalecido para garantir que o patrimônio familiar não fosse dividido. Sendo assim, a mulher, a partir do séc. XIV, perdeu seus direitos, passando a ser considerada impossibilitada para tomar qualquer decisão. O poder paterno estabelece uma espécie de monarquia familiar, a qual a mulher e os filhos deveriam obedecer, submetendo-se aos domínios do pai. A Igreja legitimou, nesse contexto, essa forma de organização familiar. (ARIÈS, 1981). A relação familiar no contexto matrimonial tinha como principal objetivo a formação de alianças políticas e transmissão de patrimônios. Neste sentido, a relação afetiva entre familiares não existia e, portanto, não havia uma vida familiar em sua intimidade. (ARIÈS, 1981, SCABELLO, 2007). De acordo com Ariès (1981), entre o século XV e XVIII, as relações afetivas entre os familiares começaram a mudar, em virtude de uma preocupação com a educação dos filhos. Assim, a criança passou a ser vista pelos adultos de forma diferente, e, portanto, considerada parte importante no contexto familiar. Deste modo, a organização familiar começou a envolver a criança, ensejando uma modificação a respeito dos afetos existentes na dinâmica familiar. (ARIÈS, 1981). 23 Roudinesco (2003) pontua que existem três grandes períodos na evolução da família. No primeiro momento, configura-se a família tradicional, que serve para garantir a transmissão do patrimônio, além de casamentos arranjados entre os pais, sem existência de vida sexual e afetiva dos futuros noivos. Nessa esfera, a família viveu uma relação durável e dominada pela autoridade patriarcal. No segundo período, a família dita moderna, entre o final do século XVIII e meados do XX, tornou-se envolvida por relações afetivas. Surge o amor romântico, onde a família admite o acordo mútuo do sentimento e os desejos carnais por mediação do casamento. Nessa fase, começou-se a aceitar a divisão do trabalho entre os cônjuges. Por fim, o terceiro período, distinguido pela autora como a família contemporânea, no qual, dois indivíduos se unem em busca de relações íntimas ou realização sexual. De acordo com Roudinesco (2003, p.20), “a família ocidental permanece a instituição humana mais sólida da sociedade”. Portanto, formar uma família é algo desejado e sonhado pelos indivíduos, sendo o único valor seguro a que muitas pessoas não querem renunciar. Sendo assim, a família tem uma representação significativa na vida das pessoas. (ROUDINESCO 2003 e NOGREN, 2004). 2.2 SEPARAÇÃO Para os cônjuges, o casamento é considerado um momento de realização social e que solidifica o relacionamento. (BERGER e KELLNER, 1970 apud FÉRESCARNEIRO, 1998). No entanto, algumas pessoas acabam se divorciando, não pelo motivo do casamento não ser importante, mas por acreditarem que seja um ato tão importante que os cônjuges não aceitam a insatisfação de suas expectativas. Assim, muitos indivíduos que se divorciam acabam buscando um novo casamento. Portanto, a solução para alguns casais que não conseguem enfrentar as dificuldades da vida a dois é o fim do casamento, independentemente de ser um momento doloroso e estressante. “[...] A separação provoca no casal sentimento de fracasso, impotência e perda”. (FÉRES-CARNEIRO, 1998, p. 7). No entender de Féres-Carneiro (1998), o casamento é a união de duas individualidades numa conjugalidade criando uma “identidade conjugal” na união 24 matrimonial; portanto, com o processo de separação, vai se desfazendo a “identidade conjugal” que foi construída na união e, com o fim do casamento, os sujeitos terão que definir sua nova identidade individual. De acordo com Féres-Carneiro (1998) e Jablonski (1998), o desejo de separação parte predominantemente das mulheres, pois elas levam muito em consideração a relação afetiva no casamento, e os homens conseguem levar o casamento sem conflitos internos, porque a constituição masculina de casamento está pautada no modelo familiar, sendo mais relevante do que a questão amorosa. (FÉRES-CARNEIRO, 2003). Para Jablonski (1998), a emancipação feminina contribuiu na busca pela separação, pois muitas mulheres, ao conquistarem um espaço no mercado de trabalho, obtiveram sua independência financeira, o que modificou papéis antes instituídos de mãe e de esposa. A pílula anticoncepcional também possibilitou às mulheres a escolha de ter ou não filhos, diminuindo de certa forma suas obrigações domésticas, bem como a dedicação à família. (JABLONSKI, 1998). Independentemente do aumento no número de separações, sabe-se que muitos homens e mulheres ainda buscam constituir uma família através do casamento. Considera-se, assim, que a condição de felicidade está atrelada à união conjugal. (ABREU, 2005). O que constatamos é que os indivíduos têm se divorciado, não por considerarem o casamento menos importante, mas, justamente, porque sua importância é tão grande que eles não aceitam que a vida conjugal não corresponda as suas expectativas. Com o aumento das separações, crescem também, em número e em diversidade, as novas configurações familiares. (FÉRES- CARNEIRO, 2002 apud ABREU, 2005, p. 22). Para tanto, estudos de Marcones, Trierweiler e Cruz (2006) verificaram que existem algumas características emocionais e psicológicas que fazem parte do momento da separação e, de acordo com os estudiosos, foi constatado que existem diferenças em relação ao sofrimento entre mulheres e homens, logo após o fim do casamento. “A dor da separação é, com frequência, fisicamente sentida”. (p.1). Dessa forma, podemos entender que a separação ocorre em alguns momentos quando o casamento não satisfaz os cônjuges. Acontece, portanto, a dissolução do vínculo matrimonial, e assim se busca uma nova situação que irá satisfazer a individualidade de cada sujeito. Para tanto, a separação pode provocar 25 dor e sofrimento para todas as pessoas envolvidas, tornando-se um momento complicado e com perdas significativas que provocam mudanças evidentes na organização familiar e na vida de cada uma das partes envolvidas na separação. 2.3 CONJUGALIDADE E GÊNERO Para que se possa entender algo a respeito de conjugalidade, é necessário, em primeiro momento, definir o termo conjugalidade. Segundo Matos (2000, p. 163, grifo do autor), Conjugalidade deve ser entendida como uma forma possível de gestão compartilhada da sexualidade e dos afetos, onde ideologias e práticas de amor conjugal e gênero se expressam e realizam, positivamente, um lócus ou uma cena onde se situam as trocas afetivas, sexuais e cognitivas entre os gêneros. O casamento tem assumido novas formas de união entre as pessoas, podendo ser visto como um sinal de ultrapassar um modelo que não estaria mais correspondendo às transformações que ocorrem com o indivíduo contemporâneo. A idéia de conjugalidade é a união entre duas pessoas, sem necessariamente, a existência de um contrato formal entre elas. O surgimento dessa nova postura do casal se dá pelas transformações sociais e culturais pelas quais vem passando a família na atualidade. (DIHEL, 2002 apud ABREU, 2005). Abreu (2005) explica que as mudanças em relação às novas formas de conjugalidade têm interferido nos projetos de vida de cada pessoa, pois, segundo a autora, o sujeito perde as referências tradicionais para a construção da família e dessa forma é obrigado a buscar outros padrões de conjugalidade. Contudo, “(...) os novos arranjos matrimoniais fazem parte de um contexto social em reorganização (especialmente se pensarmos que a família não é um fato natural, mas sim uma construção cultural)”. (ABREU, 2005, p. 23). Transformações vêm ocorrendo em relação à estrutura familiar. No Código Civil de 1916, somente a família fundada no casamento era reconhecida pelo Estado. Em 1988, com a Constituição Federal, estabeleceram-se os princípios do 26 direito familiar. (CERVENY, 2004). Sabe-se que o tamanho da família diminuiu, e cresceu o número de uniões conjugais sem vínculos legais. (ABREU, 2005). Jablonski (2003) afirma que a mudança do papel da mulher na conjugalidade tem interferido nas transformações da configuração do casamento. Existem vários fatores que são responsáveis pelas transformações nos padrões de conjugalidade. O autor cita que umas das prováveis mudanças estão relacionadas à entrada da mulher no mercado de trabalho, o que proporcionou casamentos mais tardios, diminuição no número de filhos e aumento da busca por igualdade de direitos, além da queda da submissão à religião católica, que perdeu seu domínio na manutenção do vínculo matrimonial. As transformações sociais provocaram alterações em relação ao contrato matrimonial clássico e isso gerou modificações na relação conjugal, colocando-as em um campo muito diferente do já visto anteriormente na história do casamento. A falta de igualdade na divisão de tarefas domésticas, na administração da casa e na educação e cuidado dos filhos são fatores que originam conflitos na esfera familiar. Em muitos casos, à mulher cabe a tarefa de abandonar seus interesses pessoais a serviço dos planos do cônjuge ou das necessidades do grupo familiar. Essas diferenças na forma de acordar os interesses do casal, principalmente das mulheres, afetam ou causam a insatisfação no casamento. (PERLIN e DINIZ, 2005). Em relação à insatisfação no casamento, Jablonski (1998) ressalta que as mulheres demonstram certo descontentamento quando se sentem sobrecarregadas pela dupla jornada de trabalho, e, de certa forma, por estarem casadas com maridos que ainda mantêm uma visão tradicional em relação aos papéis domésticos. Portanto, a mulher ainda é cobrada das funções tradicionais de esposa, dona de casa e mãe. E agora, ainda passa a compartilhar e assumir papéis que antes eram exclusivamente masculinos. (PERLIN e DINIZ, 2005). As mulheres, ao longo dos séculos, vêm redefinindo seu papel dentro da sociedade, trazendo mudanças significativas em relação à sexualidade, a escolha do parceiro e sua carreira profissional. Essas alterações possibilitam às mulheres sua inclusão igualitária na sociedade contemporânea, contribuindo para sua emancipação. Essa transformação reflete nas relações de gênero, e assim possibilita a modificação na postura masculina e feminina dentro da relação matrimonial. (ARAÚJO, 2002). 27 As mulheres tiveram um papel de revolucionárias emocionais da modernidade e prepararam o caminho para expansão da intimidade. Algumas disposições psicológicas têm sido a condição e o resultado desse processo, assim como também as mudanças materiais e sociais que permitiram as mulheres reivindicar a igualdade e propor mudanças nas relações de gênero. (ARAÚJO, 2002, p.7). A conjugalidade representa uma relação de forte significado para a vida dos sujeitos. Féres-Carneiro (2003) contextualiza que a relação entre o casal é um momento de alto grau de proximidade, de intimidade e de intenso envolvimento afetivo; portanto, o casamento é considerado uma escolha pessoal, com responsabilidade e autonomia, baseada em laços de afeto e afinidade. Para FeresCarneiro (1998), o casamento contemporâneo caracteriza-se por conter ao mesmo tempo: [...] duas individualidades e uma conjugalidade, ou seja, de o casal conter dois sujeitos, dois desejos, duas inserções no mundo, duas percepções do mundo, duas histórias de vida, dois projetos de vida, duas identidades individuais que, na relação amorosa, convivem com uma conjugalidade, um desejo conjunto, uma história de vida conjugal, um projeto de vida de casal, uma identidade conjugal. (FÉRES-CARNEIRO, 1998, p. 3). Reis (1992) assevera que o amor companheiro faz parte da relação conjugal, proporcionando uma ligação intensa e estável entre o casal, sendo que a amizade, o companheirismo e o respeito também fazem parte do enlace matrimonial, contribuindo para que os sujeitos dividam seus projetos e interesses, possibilitando uma construção da união entre o casal. A relação de conjugalidade perpassa sobre as relações de gênero, pois de acordo com Scott (1990, p. 15), “[...] o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder”. Sendo assim, segundo o autor, dentro do quesito gênero existe uma relação de poder e hierarquia que acaba por reforçar as práticas enraizadas na cultura. De acordo com Strey (2000), gênero é uma construção histórica, cultural, e social. Existem diferenças e semelhanças em relação aos homens e mulheres, onde os indivíduos simbolizam o contexto social/cultural no qual estão inseridos, dando significações próprias, o que irá determinar sua identidade de gênero. 28 A relação de gênero está presente desde a nossa infância, pois somos criados numa sociedade que determina o que a menina e o menino podem fazer, ou ser, ou seja, os padrões de comportamentos determinados e diferentes para cada sexo. Atitudes e comportamentos são ensinados desde muito cedo para diferenciarmos homens e mulheres. Das meninas, é esperado que sejam gentis, delicadas, educadas e que não saiam sozinha, sendo ensinadas para a dependência. Já os meninos são estimulados a serem independentes, poderosos, fortes e sem nenhuma característica que remeta à feminilidade. Criam-se, assim, estereótipos que acompanham a sociedade, pois se sabe que tanto homens quanto mulheres têm as mesmas necessidades de afeto, amor e assim expressarem suas emoções. (LINS, 1997). De acordo com Lins (1997) e Beauvoir (1980), as mulheres acreditavam que para conquistarem sua dignidade e segurança financeira seria essencial a união matrimonial. O casamento como a “única fonte de segurança para a mulher é usado como uma arma ideológica contra a mulher” (p.116). Para Beauvoir (1980), a união matrimonial não poderia ser uma carreira para uma mulher, pois tal situação se torna uma fonte de angústia para homens e mulheres. Dessa forma, a questão do gênero destaca a visão tradicional do papel feminino e masculino perante a sociedade, caracterizando uma divisão social, porém tais divisões não acontecem de forma natural, mas, sim, são parte de um contexto construído cultural e historicamente. Portanto, o modelo tradicional de divisão de papéis entre homens e mulheres começou a modificar com o movimento feminista, desencadeado nos Estados Unidos e em alguns países da Europa e no Brasil, no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. (ABREU, 2005). Outra questão que também podemos pontuar em relação à diferença de gênero é a questão da fidelidade conjugal, pois de acordo com Matos (2000), a cultura tradicional e patriarcal tolera estimular a infidelidade masculina, sendo algo até mesmo associado à virilidade. A sociedade contemporânea, com suas ideologias feministas, buscando a igualdade entre os sexos, torna a infidelidade cada vez menos aceita pelas mulheres. Sendo assim, a traição configura-se uma quebra do contrato amoroso, isso para casais que mantêm uma convivência exclusiva, ou seja, um relacionamento fechado. Porém, quando o vínculo conjugal é aberto, onde os cônjuges permitem as relações extraconjugais, a fidelidade não é um compromisso e, portanto, não provoca o rompimento do vínculo conjugal. As novas escolhas de 29 conjugalidade indicam mudanças tanto no casamento quanto na família tradicional, apontando para o surgimento de novas formas de configurar a conjugalidade. (MATOS, 2000). 2.4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO CASAMENTO A Teoria das Representações Sociais é um modelo sociológico de Psicologia Social surgida na Europa, tendo como principal colaborador Serge Moscovici, que propôs estudar as representações sociais da psicanálise na sociedade francesa, a fim de compreender como esta elabora, através do senso comum, o conhecimento científico nas suas relações cotidianas. (FARR, 1998). Moscovici (1978 apud OLTRAMARI, 2007) se propôs a entender como as pessoas nas suas interações sociais constroem e produzem sentido em suas práticas cotidianas, construindo uma compreensão de mundo, a partir das representações sociais, indo de acordo com as explicações do senso comum. Todavia, as representações sociais são expressões, significados, opiniões, valores e atitudes dos grupos frente a fenômenos sociais que são compartilhados e construídos historicamente; afinal, são importantes e necessários para organizar e orientar as suas práticas sociais. (JOVCHELOVITCH, 2008). A partir disso, os sujeitos elaboram seus valores e significados para se posicionarem frente ao mundo. (MOSCOVICI, 2003). Sendo assim, as representações sociais são conceitos e explicações que surgem na vida cotidiana dos sujeitos, através da comunicação interpessoal, podendo ser entendidas como os mitos e as crenças que são incorporadas pela sociedade. Portanto, as representações sociais não são criadas por um sujeito individualmente, mas por uma coletividade que, através da linguagem, confere significado e movimento às representações sociais. (MOSCOVICI, 2003). Todos os sujeitos são entendidos dentro de sua rede social; sendo assim, nenhuma pessoa está livre da influência das representações sociais, da linguagem ou da cultura. Segundo Moscovici (2003, p 35), “nós pensamos através de uma linguagem; nós organizamos nossos pensamentos, de acordo com um sistema que está condicionado, tanto por nossas representações como por nossa cultura”. Assim, 30 entende-se que as RS são construções coletivas, com a finalidade de informar o sujeito sobre o mundo que o cerca e assim, orientando sua forma de agir. As representações sociais são determinadas por grupos sociais específicos e com características próprias. De acordo com Jodelet (2002 apud ARRUDA, 2002, p. 138): “as representações sociais são uma forma de conhecimento socialmente elaborado e compartilhado, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Arruda (2002) explica que as representações sociais nos dão possibilidade de entender como se constrói a realidade através da interação entre o sujeito e a sociedade. As representações sociais não estão relacionadas somente à forma com que o mundo se apresenta e tampouco com as construções subjetivas dos sujeitos. Elas são construídas simbolicamente pelas inter-relações Eu, Outro e objetosmundo, dando significado e sentido a uma realidade. As representações, portanto, são sociais, políticas e históricas. (JOVCHELOVITCH, 2008). Jovchelovitch (2008) explica que as representações emergem através do sentido e da função simbólica. Na análise do sentido, entende-se que as pessoas, em contextos e tempos diferentes, vão produzir diferentes visões, símbolos e narrativas sobre o real. Na função simbólica, utilizam-se os símbolos para dar significado ao real. Dessa forma, é pelas representações sociais que os indivíduos e comunidades vão demonstrar quem realmente são, o mundo social que habitam e o que consideram relevante nas inter-relações em que estão envolvidos. Segundo Jodelet (2001, p. 17), “não somos (apenas) automatismos, nem estamos num vazio social”, pois estamos em constante relacionamento com os outros no mundo. Esse relacionamento proporciona-nos momentos ora de apoio, outrora de conflitos, e, dessa forma, estamos sujeitos a diversas situações, nas quais nos farão tomar decisões e nos posicionarmos frente à realidade cotidiana, mediada pelas representações sociais. Criamos, assim, representações sociais que podemos considerar como o resultado de uma construção pessoal e social sobre um determinado fenômeno, levando em conta questões afetivas, mentais e sociais, assim como, a cognição, a linguagem e a comunicação. (JODELET, 2001). “A particularidade do estudo das representações sociais é o fato de integrar na análise desses processos a pertença e a participação, sociais ou culturais, do sujeito”. (p.27) Dessa maneira, as representações são fenômenos complexos e estão sempre em 31 ação na vida social (JODELET, 2001, p. 27). Jovchelovitch (2008) ressalta as representações sociais, parte dos saberes da vida cotidiana e do senso comum dos grupos sociais: [...] chamo de fenomenologia da vida cotidiana, preocupada em compreender como pessoas comuns, comunidades e instituições produzem saberes sobre si mesmas, sobre outros e sobre a multidão de objetos sociais que lhe são relevantes. [...] Este saber, que é sempre plural, está profundamente ligado ao mundo da vida e à experiência vivida de uma comunidade, demarcando seus referencias de pensamento, ação e relacionamento. (JOVCHELOVITCH, 2008, p.87). Segundo Moscovici (1979 apud SÁ, 1996), a primeira forma de elaboração da teoria das representações sociais é pautada em duas estruturas que são conceptual e figurativa, ou seja, seria um processo que torna o conceito e a percepção de certo modo iguais, visto que, de algum modo, estão ligados e estabelecem entre si a possibilidade de dar significado às coisas. Partindo disso, entende-se que, na ausência de um objeto, podemos dar um sentido ao mesmo e na forma conceitual ou figurativa seria dar concretude ao objeto, conferindo sentido aos objetos. (MOSCOVICI, 1979 apud SÁ, 1996). Dentro das representações sociais encontram-se também dois processos referentes à RS: a ancoragem e a objetivação. Dessa forma, o conceito ancoragem “é um processo de organização e de classificação em que o não-familiar deve estar relacionado com um conhecimento já familiarizado e conhecido”. (OLTRAMARI, 2007, p. 32). Já o conceito de objetivação consiste em modificar conceitos abstratos em imagens concretas, ou seja, “(...) reproduzir um conceito em uma imagem”. (MOSCOVICI, 1984 apud SÁ, 1996, p.47). Sendo assim, pode-se concluir que as representações sociais apresentam um caráter dinâmico e complexo e, além disso, norteado pela cultura, pela história e por questões psicológicas. Portanto, é possível perceber que a conjugalidade pode ser estudada a partir das representações sociais, uma vez que se constitui um fenômeno social compartilhado e construído historicamente Bertollo (et al., 2007) pontua em suas pesquisas que as representações feitas pelos casais acerca do casamento estão relacionadas a amor, confiança, carinho, respeito e companheirismo. Bertollo et al. (2007) explicam que, em relação ao casamento, aparecem representações sociais referentes ao papel do homem e da mulher dentro 32 do casamento, respectivamente. O homem se identifica como provedor, sustentando economicamente o lar, e assim é considerado um bom marido; e a mulher é considerada uma boa esposa quando apresenta características como: afetuosa, carinhosa, companheira e compreensiva. As representações sociais são construídas a partir das relações entre grupos, em que os sujeitos elaboram seus conceitos e explicações da vida, sempre com o intuito de compreender o mundo e as interações sociais, partindo assim de explicações do senso comum. (MOSCOVICI, 1981 apud OLIVEIRA e WERBA, 2000). As RS são um produto de nossas interações e comunicações, podendo influenciar o comportamento do sujeito participante de uma coletividade (MOSCOVICI, 2003). “[...] dessa maneira que elas são criadas, internamente, mentalmente, pois é dessa maneira que o próprio processo coletivo penetra, como o fator determinante, dentro do pensamento individual”. (MOSCOVICI, 2003, p. 40). As Representações Sociais, portanto, são um conjunto coletivamente partilhado de crenças, imagens, metáforas e símbolos num grupo, comunidade, sociedade ou cultura. (WAGNER, 2000, p.3). Segundo o mesmo autor, o termo sobre representação social é elucidado como: [...] conteúdo mental estruturado, isto é, cognitivo, avaliativo, afetivo e simbólico, sobre um fenômeno social, relevante que toma a forma de imagens ou metáforas e que é conscientemente compartilhado com outros membros do grupo social. Wagner (2000, p.4) entende que a “representação social é definida como a elaboração de um objeto social pela comunidade”. As Representações Sociais são configurações objetivas e subjetivas do sujeito, representadas por valores e crenças; sendo assim, é tornar familiar o que não é familiar. Diante disso, as relações conjugais, assim como todas as nossas relações, estão diretamente atingidas pelas nossas representações sociais sobre o mundo. Sendo assim, procuramos conhecer através das Representações Sociais o comportamento do sujeito, quais suas opiniões, atitudes, imagens, explicações para certos fenômenos, além de compreender quais as representações sociais que mulheres têm acerca do casamento. Isso nos dará possibilidades de definir os diferentes aspectos da realidade de cada uma delas. 33 3 MÉTODO 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA Esta pesquisa é caracterizada como exploratória e de caráter qualitativo, intentando compreender, de forma adequada, a natureza do fenômeno, para fins de produção de conhecimento. Sobre a pesquisa do tipo exploratória, Gil (1999, p. 43) afirma: Muitas vezes as pesquisas exploratórias constituem a primeira etapa de uma investigação mais ampla. Quando o tema escolhido é bastante genérico, tornam-se necessários seu esclarecimento e delimitação, o que exige revisão da literatura, discussão com especialistas e outros procedimentos. O produto final deste processo passa a ser um problema mais esclarecido, passível de investigação mediante procedimentos mais sistematizados. Faz-se necessária a utilização do método qualitativo, pois segundo Turato (2003), o método visa à elaboração de forma interpretativa, permitindo trabalhar com um pequeno número de sujeitos escolhidos e possibilitando, a partir de resultados, melhor compreensão de significados do fenômeno para os indivíduos e para a coletividade. Quanto ao delineamento, este trabalho caracteriza-se como pesquisa de campo, já que esta modalidade busca levantar dados no próprio local onde o fenômeno ocorre. Conforme estudos de Marconi e Lakatos (2005), este tipo de pesquisa objetiva conseguir informações e conhecimento acerca de um problema, dando um maior aprofundamento e compreensão do fenômeno que se pretende estudar. Assim, esse tipo de delineamento, segundo Gil (1999), é muito mais amplo o que possibilitou um maior entendimento a respeito das representações sociais, foco da presente pesquisa, permitindo que se levantassem hipóteses ou novos questionamentos a serem pesquisados. Portanto, a pesquisa se caracterizou como exploratória, qualitativa e estudo de campo, à medida que buscou-se 34 compreender as representações sociais de conjugalidade para dois grupos de mulheres: casadas e separadas. 3.2 PARTICIPANTES As participantes desta pesquisa foram mulheres casadas e mulheres separadas, tendo sido entrevistadas cinco mulheres separadas e cinco casadas, todas com idades entre 18 a 54 anos, como veremos nas tabelas 1 e 2. O local escolhido para entrevistar as mulheres separadas foi o Serviço de Mediação que atende à população do município de São José, em Santa Catarina, no qual um dos requisitos para o atendimento é que os casais tenham renda mensal que não ultrapasse o valor de cinco salários mínimos (R$1.750). As participantes foram mulheres separadas que passaram pelo processo de separação entre os anos de 2007 e 2008. No caso das mulheres casadas, as participantes foram quatro entrevistadas no Serviço de Psicologia da Unisul e uma entrevistada no Fórum da comarca de São José e, sendo as cinco mulheres casadas com renda aproximada à das mulheres separadas. As mulheres separadas foram selecionadas no serviço de mediação familiar do Fórum da Comarca de São José – em Santa Catarina. As mulheres separadas foram aquelas que assinaram o acordo no processo de mediação. Foi entrevistada uma mulher casada que trabalha no serviço de limpeza no Fórum de São José e quatro mulheres casadas que utilizam o serviço de Psicologia na Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. No caso de mulheres casadas, poderiam participar aquelas que vivem em união estável e as que possuem certidão de casamento. A pesquisadora deixou claro que não mantinha, com as mulheres, nenhum tipo de relação prévia. As características das participantes estão explicitadas nas Tabelas 1 e 2: Tabela 1 – Caracterização das mulheres casadas Mulheres casadas Flor Idade 45 anos Tempo de casamento 15 anos Escolaridade 2°grau completo Tempo de namoro 1 ano Filhos Não tem filhos 35 Paula 22 anos 1 ano e 3 meses 2° grau cursando 6 meses Não tem filhos Lara 34 anos 13 anos 2°grau completo 1 anos Carol 28 anos 8 anos 2°grau completo 1 ano 2 filhos (8 anos e 11 anos) 1 filho (8 anos) Margarida 30 anos 10 anos 2°grau incompleto 2 anos 3 filhos (4 anos, 10 anos e 11 anos) Nomes fictícios para proteger a identidade das mulheres entrevistadas. Fonte: elaboração da autora, 2009. Participaram desta amostra cinco mulheres casadas, adultas entre 22 e 45 anos. Entre as mulheres casadas destacamos; Flor, Paula e Margarida casadas com certidão de casamento. Lara e Carol vivem em união estável. Os participantes da pesquisa são identificados com nomes fictícios para preservar suas identidades. Na tabela 1, também apresentamos dados como tempo de casamento, escolaridade e se as mulheres têm ou não filhos do relacionamento. Tabela 2 – Caracterização das mulheres separadas Mulheres separadas Idade Tempo de casamento Maria 23 anos 5 anos Joana 49 anos 2 casamentos (6 anos e 20 anos) Glória 39 anos 18 anos Clara 27 anos 8 anos Silvia 54 anos 17 anos Escolaridade 2°grau cursando 1º grau completo 1º grau completo 1° ensino fundamental 2°grau completo Tempo de namoro 6 meses 1 ano 1 ano e meio 6 meses Aproxima damente 4 ano Nomes fictícios para proteger a identidade das mulheres entrevistadas. Fonte: elaboração da autora, 2009. Filhos 1 filho (2 anos) 3 filhos (12 anos, 16 anos e 21 anos) 1 filha (17 anos) 2 filhos (3 anos e 8 anos) 2 filhos (20, 19 anos) Tempo de separação 1 ano 10 meses 1 ano 8 meses 2 anos Na tabela 2, apresentamos a amostra de cinco mulheres separadas, adultas entre 23 e 54 anos. As participantes da pesquisa foram mulheres separadas oficialmente, através do Serviço de Mediação do Fórum de São José, entre os anos de 2007 e 2008. As mulheres da pesquisa são identificadas com nomes fictícios para proteger suas identidades. Nessa tabela, também apresentamos dados como tempo de casamento, escolaridade, mulheres com filhos gerados no enlace matrimonial e tempo de separação. 36 3.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS Para a realização da coleta de dados, foi necessária a utilização de livros e trabalhos relativos ao tema, folhas A4, canetas, impressora, gravador e computador. 3.4 SITUAÇÃO E AMBIENTE A coleta de dados realizada com as mulheres separadas ocorreu em uma sala no Serviço de Mediação no Fórum em São José. O cômodo era longe de ruídos externos, para garantir que não houvesse a interferência de terceiros. O primeiro contato com todas as mulheres separadas foi via telefone, ocasião em que a pesquisadora informou sobre a pesquisa e, a partir do interesse das mulheres, eram marcadas as entrevistas, conforme seus horários disponíveis. A primeira participante da entrevista foi uma mulher separada, a entrevista com a participante teve uma duração de 40 minutos, sem interrupções de terceiros. A segunda participante da pesquisa foi uma mulher separada e a entrevista durou 30 minutos, igualmente sem interrupção de terceiros ou presença de ruídos. A entrevista foi realizada na sala do Fórum de São José. A entrevista realizada com a terceira mulher separada transcorreu sem intromissões, na sala do Fórum de São José, a portas fechadas, durando aproximadamente 40 minutos. A quarta entrevista foi realizada com uma mulher separada, com duração de 30 minutos, sem interrupções, sendo a entrevista realizada em uma sala do Fórum de São José. A quinta entrevista com uma mulher separada ocorreu no Fórum de São José, também sem interrupções, com duração de aproximadamente 35 minutos. A primeira entrevista com uma mulher casada ocorreu no Fórum de São José, visto que ela é funcionária do Fórum. A entrevista durou cerca de 50 minutos na sala do Fórum de São José, sem ruídos ou interrupções. A segunda entrevista com uma mulher casada foi realizada no Serviço de Psicologia na Universidade Sul 37 de Santa Catarina - UNISUL, em uma sala, sem ruídos e interrupções, com duração de, aproximadamente, 30 minutos. A terceira mulher casada foi entrevistada numa sala no serviço de Psicologia na UNISUL. Ao ser convidada para realizar a entrevista, ela aguardava seu filho que estava em atendimento psicológico na Clínica Escola da UNISUL. Durante a entrevista, houve uma interrupção, em virtude de seu filho ter terminado o atendimento, mas logo a criança se retirou da sala e ficou esperando sua mãe. A entrevista teve duração de 50 minutos, porém considera-se que a interrupção não teve influência na entrevista. A quarta mulher casada foi entrevistada na sala da Clínica de Psicologia na UNISUL, a portas fechadas e sem interrupções de terceiros e ruídos. A entrevista teve duração de 40 minutos. A quinta mulher casada foi entrevistada em uma sala da Clínica de Psicologia na UNISUL, sem intromissões de terceiros, e durou aproximadamente 30 minutos. 3.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS As entrevistas para a pesquisa foram gravadas com o consentimento prévio das participantes, que receberam e assinaram um termo de consentimento, além de autorizarem a utilização do material para fins de estudo e pesquisa. As entrevistas foram realizadas individualmente. Para a coleta de dados, a pesquisadora utilizou um roteiro como base para a entrevista semi-estruturada, no intuito de atender aos objetivos específicos. Para tanto, a entrevista foi escolhida como instrumento para coleta de dados, em virtude de se tratar de uma pesquisa qualitativa. A entrevista é o método mais adequado, pois intenta explorar, de forma ampla e coerente, os dados apresentados pelas entrevistadas. Para o registro das informações colhidas, foi utilizado um gravador, tendo as gravações ocorrido com a autorização das entrevistadas. As entrevistas com as cinco mulheres separadas ocorreram no Serviço de Mediação Familiar no Fórum de São José. No início das entrevistas, explicava-se o tema e o objetivo da pesquisa; logo após, eram procedidas as entrevistas. 38 No Serviço de Psicologia da UNISUL, realizaram-se quatro entrevistas com mulheres casadas que aguardavam seus familiares. O convite para participar da pesquisa era feito pela pesquisadora na sala de espera da Clínica de Psicologia da UNISUL. As mulheres que aceitaram foram entrevistadas em uma sala disponível no Serviço de Psicologia. Realizou-se entrevista com uma mulher casada no Fórum de São José, através de contato pessoal, com a entrevista marcada para depois do seu expediente. O local das entrevistas para mulheres separadas foi na sala de Mediação Familiar do Fórum de São José, a fim de evitar que ocorressem influências externas, garantindo assim a fidedignidade das respostas. Já no caso das mulheres casadas, quatro mulheres foram entrevistadas em uma sala do Serviço de Psicologia na UNISUL, e uma entrevista com uma mulher casada foi realizada na sala de mediação no Serviço de Mediação no Fórum em São José. 3.6 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Para a coleta de dados, foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada (apêndice), individual, sendo conceituada como “uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica”, que “proporciona ao entrevistado, verbalmente, a informação necessária”. (MARCONI e LAKATOS, 2005, p. 198). O roteiro de entrevista foi adaptado de Jablonski (1998), visando a atender aos objetivos específicos da presente pesquisa. O instrumento foi escolhido por se tratar de uma pesquisa qualitativa, que busca investigar a compreensão de indivíduos sobre determinado fenômeno. Foi utilizado um gravador para registro das informações, que, conforme aludido, somente ocorreram com a autorização das entrevistadas. 3.7 PROCEDIMENTO 3.7.1 Seleção das participantes 39 As participantes foram selecionadas através de amostragem por conveniência ou intencional. Segundo Gil (1999), na amostra por conveniência, o pesquisador seleciona os participantes que têm acesso, entendendo que estes representam a população do estudo. Esse tipo de amostragem é utilizado em estudos exploratórios ou qualitativos, nos quais não se determina elevada condição de precisão. Na amostra intencional, Gil (1999) pontua que se forma um tipo de amostragem não probabilística, e assim é selecionado um subgrupo que possa ser considerado representativo de toda a população. Uma vantagem são os baixos custos de sua seleção, porém é requerido, por parte do pesquisador, um conhecimento da população e do subgrupo selecionado. 3.7.2 Contato com os participantes O contato inicial com os participantes ocorreu de duas formas. No caso das mulheres separadas, o contato foi via telefone, em que explicou-se o objetivo da pesquisa, além de bem esclarecidos o sigilo da sua identidade e a necessidade de gravação da entrevista. No caso das mulheres casadas, o contato inicial foi pessoal, esclarecendo a finalidade da pesquisa. Igualmente foram abordados o sigilo e a necessidade da gravação da entrevista. Foi lido, também, juntamente com todas as participantes, o termo de consentimento livre e esclarecimento. (apêndice A). 3.7.3 Coleta e registro dos dados Foi explicado o objetivo da pesquisa, e entregue o termo de consentimento devidamente esclarecido pela pesquisadora à participante. (apêndice A), e, com seu consentimento, o termo foi assinado. As entrevistas foram gravadas sem nenhum corte e transcritas na íntegra pela pesquisadora. 40 3.7.4 Organização, tratamento e análise de dados Num primeiro momento, foi feita a transcrição na íntegra das entrevistas feitas com as participantes. A partir dos dados transcritos, foi realizada a análise dos dados e posteriormente a elaboração de tabelas que explicitam a categorização dos dados coletados. Em seguida à transcrição das entrevistas, realizou-se a análise de conteúdo, para fins de elaborar as categorias que foram organizadas a partir das respostas das participantes, a fim de conseguir responder aos objetivos específicos da pesquisa. As informações referentes a cada categoria foram agrupadas e analisadas individualmente, de acordo com os objetivos, e assim realizada a análise de conteúdo. Marconi e Lakatos (2005) explicam que a análise tem como propósito esclarecer de forma sistemática o conteúdo, a fim de ampliar os conhecimentos sobre o fenômeno coletado. As categorias são apresentadas em quadros, sendo divididos por nomes das categorias. Em seguida, é trazida a UCE (unidade de contexto elementar), que é a fala das entrevistadas que representa a idéia geral da categoria e ao final colocase a freqüência de cada categoria apresentada. 41 4- APRESENTAÇÃO e ANÁLISE DOS DADOS Para a análise dos dados, inicialmente foi realizada uma organização das respostas das entrevistadas em categorias apresentadas nas tabelas; 3, 4 e 5. As tabelas de categorização foram elaboradas, após as transcrições das entrevistas gravadas, analisando assim os discursos apresentados. Foram retiradas das entrevistas apenas algumas partes consideradas relevantes para a discussão das categorias. As análises foram feitas a partir do referencial pesquisado. 4.1 EXPECTATIVAS QUE MULHERES CASADAS E SEPARADAS TINHAM SOBRE CASAMENTO O primeiro objetivo buscou identificar as expectativas que mulheres casadas e separadas tinham sobre casamento. De acordo com o referencial teórico, observou-se que as mulheres casadas e separadas apresentaram as seguintes categorias em relação ao casamento: o matrimônio ligado à constituição de família, a união conjugal atrelada ao ritual do casamento, o casamento como uma expectativa positiva, além do amor romântico. Através das categorias citadas, buscou-se, a partir das falas das entrevistadas, identificar e fazer uma correlação com o marco teórico da pesquisa. Desta forma, compreende-se que várias foram as expectativas que as entrevistadas, mulheres casadas e separadas, mostraram ter antes de se casarem, sendo que a categoria mais significativa e apresentada, tanto pelas mulheres casadas quanto pelas mulheres separadas, foi a constituição de família, sendo uma frequência de quatro mulheres casadas e quatro mulheres separadas. Em seguida, a próxima categoria apresentada pelas mulheres casadas foi a expectativa de se casarem nos moldes tradicionais, ou seja, um ritual tradicional de casamento, aspecto esse respondido por três mulheres casadas. Já as mulheres separadas responderam que tinham o casamento como fuga da família, atingindo freqüência de resposta de quatro mulheres separadas. Outra categoria apresentada por três 42 participantes separadas, em relação às suas expectativas sobre o casamento foi uma união motivada por uma relação de amor romântico. Tabela 3 – Referente às respostas das expectativas que mulheres casadas e mulheres separadas tinham sobre casamento. Categoria Constituição de família nuclear Ritual de casamento UCE F (mulheres casadas) “... construir uma vida 4 com uma família linda com filhos.” (Carol) “Eu sempre quis casar de 3 vestido de noiva com todos os detalhes. Meu vestido foi lindo, cheio de renda, véu, grinalda. Foi um conto de fada.” (Margarida) Categoria Constituição de família nuclear Casamento como fuga da família Amor romântico UCE F (mulheres separadas) “Quando eu casei, meu sonho 4 era ter uma família que eu não tive.” (Clara) “... fugi de casa para me 4 casar. Fugi porque minha família era muito rígida e meu pai me batia muito. Minha mãe não queria que eu me casasse com ele.” (Maria) “Eu acho que eu casei na 3 paixão e na empolgação de viver longe de casa. Para mim não era amor.” (Glória) Fonte: Elaboração da autora, 2009. Das dez entrevistadas (mulheres casadas e mulheres separadas), oito participantes relataram que tinham como expectativa, em relação ao casamento, a constituição de família, tendo uma frequência relevante na pesquisa, sendo uma categoria apresentada por quatro mulheres casadas e quatro mulheres separadas. Para essas entrevistadas, a constituição de família aparece relacionada ao enlace matrimonial, tendo como função unir um casal e gerar filhos dessa união. Conforme se pode observar, Maria, de 23 anos, foi casada por cinco anos, tem um filho e está separada há um ano. Ela relata: “Eu pensava em construir uma família de verdade, com filhos, uma casa e um marido que eu pudesse contar nas horas boas e ruins”. A fala de Maria contextualiza sua expectativa em relação ao casamento, ou seja, o desejo de formar uma família nuclear com mãe, pai e filhos. Assim, para a entrevistada o casamento e o anseio de formar uma família se complementam. Essa fala nos remete a Roudinesco (2003), ao pontuar que a família é algo almejado e idealizado por todo um grupo. Destaca-se que Maria também relatou em sua entrevista que atualmente está se relacionando com outra pessoa e pretende casar-se novamente. Segundo sua fala, “... quero casar de novo e tentar construir novamente uma família com essa 43 nova pessoa com quem eu estou agora”. Isso confirma ainda mais a relação que a entrevistada faz entre o casamento e a formação de uma família. Assim, entende-se, através da fala da entrevista, o que Jablonski (1998) cita no referencial teórico desta pesquisa: a sociedade moderna pensa na família como algo essencial ao casamento e que cabe ao casamento legitimar essa base familiar. Ainda dialogando com a categoria constituição de família nuclear, apresentamos Paula, 22 anos e casada há um ano e três meses. Sua fala vem corroborar com a mesma expectativa que Maria tinha em relação ao casamento. “... eu imaginava construir uma família feliz com meu marido e em seguida ter filhos”. Vale destacar que ela ainda não tem filhos, mas na sua entrevista comentou sua vontade de tê-los, deixando clara, novamente, a relação do casamento com a formação familiar. Deste modo, verifica-se o quanto a família é um fator importante no enlace matrimonial, pois nota-se, com o autor Ariès (1981), que a família tornouse o lugar de sentimento necessário entre os cônjuges, filhos e um contexto legitimado pela Igreja. Estudos mais atuais de autores como Jablonski (1998) e Roudinesco (2003) pontuam a importância da constituição da família na sociedade contemporânea. Nota-se nas entrevistadas que, apesar das transformações sociais que vêm acontecendo em relação à conjugalidade, ainda persiste o modelo de família nuclear cristã. Assim, o casamento é algo representativo na vida das pessoas, sendo um fenômeno vinculado à constituição de família (pai, mãe e filhos), o que foi percebido no decorrer das entrevistas. Recorrendo ao referencial teórico, podemos entender que a fala das entrevistadas nos remete às representações sociais, pois a idéia de casamento atrelado à formação de uma família influencia e orienta o seu comportamento, conforme a fala de Maria, que relata ainda querer viver outro casamento para constituir uma família com o novo parceiro. Por isso mesmo, esse grupo de mulheres tem opiniões do senso comum sobre o fenômeno casamento. Pode-se identificar, portanto, que se trata de um grupo social que orienta seus comportamentos dentro de um senso comum e assim compreendendo o mundo a partir das suas representações. (MOSCOVICI, 2003 e JODELET, 2001). Ainda sobre a categoria de constituição de família, Joana, 49 anos, dois casamentos e há 10 meses separada do último casamento, relatou: “Casamento para mim era viver com uma pessoa para o resto da vida, ter filhos e uma casa”. O discurso da entrevistada sobre sua expectativa sobre casamento estava também 44 relacionado a uma união matrimonial ligada à constituição de família e ainda uma visão de casamento associado a viver com a pessoa para o resto da vida. Entendemos, a partir de Scabello (2007), Morgado (1987) e Norgren (2004), que,no século XII, o casamento tinha como representação uma união indissolúvel. Essa compreensão estava presente na fala da entrevistada, ou seja, o casamento como uma parceria para a vida toda. Assim, nota-se que a entrevistada considera o casamento um sacramento indissolúvel com o qual os cônjuges devam se comprometer pela vida toda. De acordo com Norgren (2004), a família é algo significativo na vida dos indivíduos e faz parte da união conjugal. Nas entrevistas efetuadas, podemos verificar que oito das entrevistadas consideram a construção de uma família a expectativa que tinham com relação ao casamento. Com isso, verificase que a família ocupa um lugar de evidência na vida das entrevistadas. Das cinco mulheres casadas, três destacaram que tinham como expectativa sobre o matrimônio realizá-lo através do ritual do casamento, ou seja, um casamento na Igreja com “véu e grinalda”. Trazemos tal categoria como fator significativo por ter uma frequência de três entre as cinco mulheres casadas, e por fazer parte de um modelo historicamente compartilhado ao longo da história do Cristianismo. (ARAÚJO, 2002 e ALMEIDA, 1992). Desta forma, as entrevistadas casadas relataram que para oficializar o matrimônio era necessário realizar o ritual do casamento. Flor tem 45 anos e foi a mulher mais velha da amostra das mulheres casadas, sendo casada há 15 anos com o mesmo parceiro. Segundo ela: [...] eu sempre pensava em casar na Igreja e virgem e com a graça de Deus isso foi possível. (...) Tudo nos seus conformes. Com a graça de Deus, conseguimos nos respeitar. E sempre com aquele objetivo de estar realmente oficializando o relacionamento após o casamento.(FLOR). Vale destacar que Flor é evangélica, praticante desde os 20 anos de idade. Através da fala de Flor, destacamos que o casamento se consolida com um ritual religioso e com a permissão de Deus para a consolidação dessa união, sendo também a possibilidade de estabelecer a sexualidade, pois a Igreja, de acordo com o referencial citado, explica que a sexualidade só é permitida entre os parceiros após o casamento. (ARAÚJO, 2002, LINS, 1996, BOZON, 2003 e SCABELLO, 2007). Entende-se que Flor valorizou o ritual do casamento, pois se trata de algo importante e necessário para concretizar a união do casal e de fato permitir a 45 sexualidade entre eles. Aqui podemos dialogar com Jovchelovitch (2008) e Moscovici (2003), quando afirmam que as representações sociais estão atreladas a crenças, valores e mitos de uma sociedade tradicional, podendo estar relacionadas às suas idealizações. Assim, podemos trazer novamente as representações sociais como algo que orienta as práticas sociais dos sujeitos dando sentido e significado as suas compreensões frente ao mundo, de tal modo isto é percebido em nossa participante. Paula, 22 anos, também relata a necessidade de realizar o ritual do casamento, nota-se que a cerimônia do casamento faz parte da concepção de mulheres de diferentes gerações:Flor de 45 anos e Paula que tem 22 anos é a mais jovem da pesquisa. Assim, podemos destacar que a cerimônia do matrimônio ainda é presente na sociedade contemporânea. (JABLONSKI, 1998). Conforme a fala de Paula: “Meu sonho era casar de véu e grinalda (...) me casei no religioso como manda o figurino”. As mulheres casadas, de acordo com a pesquisa, priorizaram essa expectativa e entendem que o casamento permeia todo um ritual, inclusive religioso. De acordo com Jablonski (1998), os casais se preocupam e seguem as cerimônias do casamento, sendo fundamental para a constituição da família nuclear. Assim, entende-se que costumes e crenças são preservadas em relação ao casamento, sendo historicamente compartilhadas e presentes no comportamento das entrevistadas. Compreende-se que as representações sociais, no caso da presente pesquisa, representaram o pensamento de nossas entrevistadas, o mundo social em que elas habitam e o que consideram importante em suas relações sociais. Assim, compreende-se que, através da função simbólica, elas utilizam os símbolos véu e grinalda para darem significado ao contexto em que estão inseridas. (MOSCOVICI, 2003 e JOVCHELOVITCH, 2008). Em relação às expectativas que mulheres separadas tinham sobre o casamento foi quase unânime a categoria que traz o casamento como uma fuga da família, pois das cinco mulheres separadas quatro relataram que tinham tal expectativa. A entrevistada Glória, 39 anos, que ficou 18 anos casada e há um ano encontra-se separada, trouxe o seguinte relato; “Eu queria era fugir de casa. Não planejei nada”. Já Clara tem 27 anos, permaneceu 8 anos casada e há seis meses encontra-se separada, comentou: “Eu achava que casando eu ia me livrar de tudo, porque minha mãe me batia bastante e quando eu casei foi um alívio”. O casamento aparece para essas mulheres como uma forma de fugir de uma vida sofrida em suas 46 casas com seus familiares (pais e mães). Assim, elas idealizam um relacionamento de afetividade, onde criaram expectativas de uma vida diferente no casamento. Féres Carneiro (2003) entende que esse é um dos motivos que levam à separação, pois quando o casamento não corresponde mais a essas expectativas, as pessoas buscam um novo relacionamento. Outra expectativa das mulheres separadas foi o amor romântico, conforme a fala de Joana, 39 anos: “Naquela época, tu não sabia nem o que era amor.” (...) Eu acho que era mais uma ilusão. Assim, sei lá uma atração, sei lá uma coisa assim. Eu vivi seis anos com ele”. Confirma-se a expectativa com o relato de Maria, 23 anos: “A gente casa pensando que ama, mas depois vê que não ama; é só um momento de loucura”. Podemos destacar que das cinco entrevistadas separadas três trouxeram essa expectativa em relação à união conjugal. Assim, as entrevistadas apresentaram a idéia de amor romântico, no qual se idealiza um parceiro e ao se perceber que este é um ser humano, o amor se acaba, gerando a decepção. (LINS, 1996). No entender de Araújo (2002), Scabello ( 2007) e Giddens (1993), o casamento impõe aos cônjuges que se amem ou que tenham expectativas a respeito do amor e felicidade no matrimônio. Na medida em que isso não acontece, surge a desilusão e com isso sobrevêm as dissoluções conjugais. Ainda citando Lins (1996), o amor romântico não é verdadeiro; portanto, verifica-se que nossas entrevistadas confundiram amor com paixão, um sentimento intenso e incontrolável. Ainda de acordo com a categoria Amor romântico, destacamos a fala de Maria (23 anos): “A gente casa pensando que ama, mas depois vê que não ama e só um momento de loucura.” Podemos notar que na sociedade contemporânea existe uma preocupação com o amor no casamento, visto que para a Igreja Católica não era algo importante para o enlace matrimonial. (JABLONSKI, 1998, GIDDENS. 1993, SCABELLO, 2007). Portanto, é notória, na fala de Maria, a preocupação voltada para o amor no relacionamento conjugal. Maria apresenta em sua fala o sentimento de amor referente a um sentimento de loucura, uma paixão que se confundiu com amor, um sentimento completamente intenso que surge e que de alguma forma desaparece. Percebe-se que a entrevistada apresenta um conceito de amor romântico que faz com que as pessoas ajam sem refletir e, no decorrer do relacionamento, o amor acaba se dissolvendo no desenrolar da relação. (GIDDENS, 1993). 47 4.2 EXPECTATIVAS QUE MULHERES CASADAS E MULHERES SEPARADAS TÊM SOBRE CASAMENTO Nosso segundo objetivo foi identificar as expectativas que as mulheres casadas e separadas têm no presente momento em relação ao casamento. Podemos destacar que, atualmente, as expectativas das mulheres em relação ao casamento aparecem ligadas à confiança, o marido como gestor da família, o amor confluente, o diálogo, a relação de compartilhar tarefas e a constituição familiar. Tabela 4 - Referente a respostas das expectativas que mulheres casadas e separadas têm sobre casamento Categoria Confiança Relação de compartilhar tarefas UCE Mulheres casadas “... Dentro do casamento tem que haver confiança e fidelidade.” (Paula) “os dois tem que batalhar juntos, no trabalho, em casa e com os filhos.” (Lara) F 4 3 Categoria UCE Mulheres separadas F Gestor da família centrada no marido Amor confluente “Viver com uma pessoa que fosse um homem que assumisse a frente de tudo.” (Glória) “Amor é assim é uma coisa boa. Você tem vontade de ficar junto com a pessoa, mas para o amor não acabar os dois tem que respeitar a vontades um do outro.” (Joana) 4 Diálogo socialização “Eu acho que o casamento dá certo quando tem conversa. A gente chega em casa e fala sobre o dia-a-dia e com o outro não tinha isso.” (Maria) “Eu ainda quero encontrar uma pessoa e construir uma família com meus filhos.” (Clara) Constituição de família 4 4 3 Fonte: Elaboração da autora, 2009. Desta forma, notamos que a categoria de maior frequência em relação à população de casadas foi a categoria confiança, respondida por quatro entre as 48 cinco entrevistadas. Outra categoria bastante destacada pelas mulheres casadas é a relação de compartilhar tarefas, tendo sido respondida por três das cinco entrevistadas. Em relação às mulheres separadas, percebe-se que as categorias que mais se destacaram foram: o homem como gestor da família, respondida por quatro das entrevistadas. O amor confluente, categoria respondida por quatro das cinco entrevistadas. O diálogo também aparece como uma categoria relevante, e respondida por quatros das entrevistadas, bem como a categoria constituição familiar, que apareceu novamente entre as mulheres separadas, com frequência de três respostas. A confiança foi apontada como algo importante para as mulheres casadas, conforme a fala de Lara: “No casamento não dá para aceitar uma traição. Eu penso assim: se ele me traiu é porque ele não me ama. (...) tem que existir fidelidade”. As mulheres entrevistadas casadas buscam uma relação de confiança que está vinculada à fidelidade. Desta forma, podemos relacionar essa categoria ao que Bertollo (et al., 2007) explica em suas pesquisas: a confiança, o amor, o carinho, o respeito e o companheirismo são aspectos relacionados às representações sociais de conjugalidade para os casais contemporâneos. Aqui podemos identificar mudanças referentes aos relacionamentos atuais, pois nota-se que as idéias cristãs sobre o casamento estavam pautadas num enlace sem escolha, sem amor, e a infidelidade masculina era algo aceito; portanto, compreende-se que as RS são fenômenos complexos e construídos simbolicamente pelas inter-relações. (JODELET, 2001). Através da fala de Lara, percebe-se que ela faz uma relação entre a fidelidade e o amor, pois a entrevistada explica que quando dentro do casamento não pode haver uma relação extraconjugal, e quando isso acontece relaciona ao fim do amor. Através da entrevista de Lara, podemos deduzir, então, que o casal se une porque se ama e dessa forma não pode haver a permissão de uma relação paralela no matrimônio. (ARAÚJO, 2002). Pode-se notar que ela compartilha uma idéia de casamento monogâmico tradicional, sem permitir relações sexuais com outras pessoas. (MATOS, 2000). Podemos verificar, a partir da fala das entrevistadas, uma mudança em relação ao papel tradicional da mulher na sociedade patriarcal, onde antes era esperado que elas aceitassem a infidelidade masculina. Por isso mesmo, as entrevistadas da pesquisa mostraram uma mudança em relação à idéia de perdoarem uma traição de seus maridos. (LINS, 1996 e BOZON, 2003). 49 Outro aspecto apontado pelas mulheres casadas foi a categoria de compartilhar tarefas, algo que apareceu em três das cinco entrevistas. Carol relata: “eu acho que o homem tem que ajudar a mulher em casa, com os filhos, sair juntos. Sempre fazendo as coisas juntos”. Identificamos que as entrevistadas assumiram um papel diferente das mulheres separadas, sem admitir uma relação na qual a mulher é sempre a responsável pelos afazeres do lar. (JABLONSKI, 1998). Nota-se uma mudança de paradigma, na qual ao homem também compete as funções de cuidador dos filhos e do lar. Neste sentido, pode-se pensar no que Féres-Carneiro (2003) assevera, ao mencionar as mudanças ocorridas nas relações conjugais, onde se busca a complementaridade mútua conjugal, no qual o homem também tem que auxiliar nas responsabilidades da casa, e o que foi relatado por Flor: “Construímos a casa juntos, os dois com o salário dos dois. Nos dois trabalhamos e eu acho o homem tem que ajudar a mulher em casa”. Vale destacar que Flor não tem filhos e, segundo ela, não depende financeiramente de seu marido. Isso vai ao encontro do que Jablonski (2003) comenta: o papel da mulher na conjugalidade vem sendo alterado e de alguma forma vem mudando a configuração do casamento. A emancipação feminina trouxe um empoderamento das mulheres, algo que modificou o papel da mulher dentro da relação matrimonial. (FÉRES CARNEIRO, 1998 e LINS, 1997). Nesta categoria, pode-se perceber uma diferença em relação às mulheres casadas e as separadas: as casadas parecem querer uma relação simétrica em seus casamentos, e as mulheres separadas almejam que os homens tomem a frente de decisão em seus matrimônios. Conforme os dados da pesquisa, das cinco entrevistadas quatro pontuam a categoria: o marido como Gestor da família. A fala de Joana confirma essa premissa: Chegou uma hora que eu tive que ir trabalhar. Eu acho que eu não tinha que trabalhar mais do que ele. Ele só queria sair para jogar sinuca e ainda começou a beber. Quando você toma a decisão de fugir com um homem, ele tem que ser homem e assumir você.(JOANA). Pode-se notar, na fala de Joana, a presença de uma idealização da figura do homem como provedor do lar, ou seja, aquele que protege e cuida financeiramente da casa o que foi evidenciado para o grupo de mulheres separadas. (BEAUVOIR, 1980 e JABLONSKI, 1998). Tal apontamento se encontra conectado 50 com Perlin e Diniz (2005), ao afirmarem que a falta de igualdade na divisão de tarefas domésticas e na administração da casa são fatores que originam conflitos na esfera familiar, afetando e causando a insatisfação no casamento. O amor confluente foi uma categoria apontada pelas mulheres separadas em relação às suas atuais expectativas em relação ao casamento. Maria, 23 anos e separada há 1 ano, relatou: “Casamento hoje para mim é viver com uma pessoa que eu ame, mas tem que ser um homem que respeite as minhas vontades e as minhas decisões. Se não for assim prefiro ficar sozinha. Hoje eu busco um relacionamento especial, algo legal tanto para mim quanto para a pessoa que estiver ao meu lado”. Na fala da entrevistada percebe-se traços do amor confluente, no qual Maria não idealiza a pessoa amada com a qual quer viver, mas ela acreditar na possibilidade de ser feliz ao lado de alguém. Dessa forma, a noção de amor confluente é a possibilidade de ter um relacionamento especial, e não de ter uma pessoa especial. No amor confluente se respeita a individualidade do seu parceiro. Se o amor romântico era “para toda a vida”, o amor confluente é “eterno enquanto dura”. (GIDDENS, 1993). Dessa forma, compreende-se que, em alguns momentos, o fim do enlace matrimonial pode trazer perdas e sofrimentos a algumas pessoas, como é o caso de Silvia. (MARCONES, TRERWEILER e CRUZ, 2006 e FÉRES-CARNEIRO, 1998). Vale pontuar que Silvia, durante a entrevista, se mostrou muito emocionada e em alguns momentos chorou. A entrevistada relatou que se fosse por ela nunca teria se separado do marido. O diálogo foi apontado como fundamental para quatro das cinco entrevistadas separadas, em relação às suas atuais expectativas sobre casamento. Joana pontua que “um casamento precisa ter muita conversa”. Logo, compreendese que os sujeitos buscam nos seus relacionamentos um envolvimento com diálogo, confiança, respeito, e também uma relação de companheirismo para enfrentar os problemas na vida conjugal (PERLIN e DINIZ, 2005). Conforme menciona Reis (1992), a união do casal se faz com uma relação de amizade, companheirismo e respeito, contribuindo para que os sujeitos dividam seus projetos e interesses em comum. Clara também confirma o diálogo como sua presente expectativa sobre o casamento: “Os dois decidirem as coisas juntos. Os dois conversarem”. Podemos perceber que as entrevistadas separadas demonstram uma postura que nos remete as transformações que vêm acontecendo em relação à conjugalidade. Relembrando 51 Féres-Carneiro (1998), a conjugalidade seria um casal que contém duas individualidades com desejos e vontades distintas. Por isso, podemos entender o que o autor Giddens (1993) assinala como a reflexividade na contemporaneidade, pois os indivíduos em busca de sua individualidade acabam provocando alterações em suas relações conjugais podendo até provocar a dissolução conjugal. Assim, verificamos que as participantes da entrevista vislumbram o diálogo, como um projeto individual, e que de certa forma elas querem buscar em suas relações matrimoniais. Entende-se então que as pessoas querem atender a questões individuais com seus companheiros, mas vivendo uma relação de conjugalidade. A constituição de família apareceu novamente nas expectativas das mulheres separadas sobre o casamento. Assim, a categoria foi assinalada por três das cinco entrevistadas. Entende-se que, apesar de estarem separadas, essas mulheres relacionam o casamento com a possibilidade de constituição de família. Maria, que atualmente está namorando, desabafa: “A gente fala em trabalhar para construir uma casa, uma família. Eu tenho a esperança de dar certo. Agora a gente tem outra cabeça. A minha cabeça mudou bastante depois do meu casamento”. Independentemente de estarem separadas, as participantes apontam a vontade de recasamento e associam a união à construção de uma nova família. (BERTOLLO, 2007). Os dados do IBGE (2002) também corroboram com a fala de Maria, pois os gráficos trazem um número crescente de recasamento. Quanto ao que se refere às expectativas de casamentos para mulheres casadas e separadas, notamos diferenças em relação às respostas das entrevistadas. De acordo com suas falas, observa-se que as expectativas das mulheres casadas e separadas acerca do casamento estão pautadas nas suas representações sociais, haja vista que a conjugalidade para as mulheres desta pesquisa é um fenômeno que aparece em constante construção e reconstrução, em relação às suas histórias, o que possibilita dar sentido ao fenômeno casamento a partir das suas experiências e relações sociais. (JODELET, 2001). 52 4.3 IDENTIFICAR A PERCEPÇÃO QUE MULHERES CASADAS E SEPARADAS TÊM SOBRE CASAMENTO Quadro Tabela 5 - Referente às respostas da percepção que mulheres casadas e separadas têm sobre casamento Categoria Companheirismo Diálogo UCE Mulheres F casadas “... tem que existir 4 companheirism o.” (Paula) “no casamento tem que haver 3 conversa.” (Lara) Categoria Diálogo Companheirismo Casamento pautado na fidelidade UCE Mulheres separadas “... para dar certo é preciso muita conversa”. (Glória) “... eu quero uma pessoa que planejasse alguma coisa juntos e me desse uma força.” (Glória) “... a traição acaba com um casamento.” (Clara) F 5 3 3 Fonte: Elaboração da autora, 2009. Em relação ao terceiro objetivo, que foi identificar a percepção que as mulheres casadas e separadas têm sobre casamento, conclui-se que a percepção mais evidenciada em relação ao casamento foi relacionada ao diálogo. Tal categoria foi apresentada pelas mulheres casadas e pelas mulheres separadas dessa pesquisa, apresentando frequência total de oito mulheres para dez das entrevistadas. Cinco mulheres separadas apresentaram essa categoria, e três casadas relataram que o diálogo é fundamental no relacionamento conjugal. Como exemplo, eis o relato da fala de Carol, casada há 8 anos: “eu acho que dentro do casamento o marido tem que ser um amigo, aquela pessoa que a gente possa conversar de tudo, falar das tristezas e alegrias”. A fala da entrevistada vem ao encontro do comentário de Reis (1992) sobre o enlace matrimonial, ou seja, um casamento que perpassa por uma relação de amizade e companheirismo, no qual os cônjuges possam estabelecer projetos e interesses em comum, proporcionado uma união entre o casal. Fazendo uma relação das categorias apresentadas na pesquisa com as representações sociais, o principal foco da pesquisa, podemos perceber que as RS 53 das entrevistas estão apontando uma nova forma de vivenciar a conjugalidade, já que antes vimos no contexto do casamento que as mulheres viviam numa relação de aceitação e submissão em relação ao homem. Conforme Bertollo (et al., 2007), as representações sociais referentes ao papel do homem e da mulher, dentro do casamento na sociedade patriarcal, representava o homem como o provedor do lar, e à mulher cabia o papel de uma esposa afetuosa, carinhosa, companheira e compreensiva. Isso nos faz pensar que as relações estão modificando, pois, atualmente, a mulher busca um parceiro para dividir projetos, sonhos, frustrações no relacionamento e não mais um homem somente para sustentar a casa. Pode-se entender que as representações sociais de casamento vêm se alterando na sociedade contemporânea, pois depreende-se que as RS são processos pelos quais os sujeitos atribuem sentidos de acordo com suas experiências e relações. (JODELET, 2001). No entender de Lara “No casamento o casal tem que saber conversar, não pode deixar para amanhã”. Desse modo, compreende-se o pensamento da entrevistada, ou seja, para um casamento duradouro, é necessário que haja a interação e a comunicação entre o casal. O diálogo foi apontado como fundamental para as mulheres separadas na manutenção das relações conjugais. A fala de Joana aparece incisiva em relação ao diálogo no casamento: “... Acho que hoje se dura uma relação quando tem conversa. Se eu casar novamente quero um marido que eu possa conversar”. Compreende-se que a satisfação com o relacionamento demanda existência e possibilidade de se escolher um parceiro para a união matrimonial, tornando possível a reciprocidade conjugal. (FÉRES-CARNEIRO, 2003). Percebe-se, portanto, através da fala de Joana, que “... um casamento precisa ter muito diálogo entre o casal, onde o marido tem que escutar a mulher e a mulher escutar o marido. Eu acho que o casal tem que decidir as coisas juntos”. Dessa forma, o diálogo para a participante da pesquisa aparece como um fenômeno de igualdade entre o casal. Pode-se então relacionar o diálogo ao conceito de ancoragem, ou seja, ela, em seu relacionamento, quer tornar algo não-familiar em familiar, possibilitando modificar conceitos abstratos em uma realidade concreta (objetivação), no que se refere à vida conjugal com seu parceiro, ensejando a oportunidade de atribuir um novo sentido ao fenômeno casamento. (OLTRAMARI, 2007 e MOSCOVICI, 1984 apud SÁ, 1996). 54 Complementando o diálogo, as mulheres casadas e separadas da pesquisa pontuaram o companheirismo como parte da sua percepção de casamento. Segundo a entrevistada Carol, “tem que haver uma relação de companheirismo, onde um ajuda o outro”. Entende-se que para ela um relacionamento perpassa uma relação de parceria, ou seja, uma união em que os cônjuges compartilham entre eles. Constitui-se uma parceria sustentada pelo companheirismo, criando a possibilidade conjugalidade. de uma convivência (FÉRES-CARNEIRO, de duas 1998). individualidades Na pesquisa, unidas a pela categoria companheirismo foi apresentada por sete das entrevistadas, sendo quatro mulheres casadas e três separadas. Margarida relata: “casamento é os dois serem companheiros, conversar bastante sobre tudo, trabalho, filhos e dia-a-dia”. No relacionamento contemporâneo, existe uma preocupação e um envolvimento com sentimento, onde a relação de companheirismo fornece a possibilidade de enfrentar as dificuldades na rotina conjugal. (PERLIN e DINIZ, 2005). A categoria infidelidade apareceu nas entrevistas das mulheres separadas, onde, das cinco entrevistadas, três relataram que em sua percepção não pode haver a traição no relacionamento. Aqui podemos observar uma mudança em relação ao comportamento feminino, pois Matos (2000) afirma que a infidelidade masculina era algo tolerável e aceito, ligada à virilidade. Já na sociedade contemporânea, as mulheres não aceitam a infidelidade masculina, o que configura a quebra do contrato amoroso. (MATOS, 2000). Silvia relata que sua separação ocorreu em virtude de uma traição: “apareceu outra pessoa na vida do meu marido e isso acabou com o nosso relacionamento. Uma mulher traída é fogo. Eu senti muita dor quando eu fui traída” Isso demonstra que a separação traz muito sofrimento para algumas mulheres. (MARCONES, TRIERWEILER e CRUZ, 2006, FÉRES-CARNEIRO, 1998). A infidelidade apareceu novamente como causadora da dissolução conjugal, visto que antes era um fato aceitável pela sociedade, conforme foi apontado em nosso referencial teórico. Lins (1996) e Bozon (2003) explicam que, a partir dos anos 90, as mulheres já não aceitavam mais as relações extraconjugais, ocorrendo dessa forma os rompimentos conjugais. Joana também relata em sua entrevista que a traição foi um dos motivos para solicitar a separação: “eu não aceitei a traição (...) não consegui mais. Sempre que ele saía de casa, eu já ficava desconfiada”. Na fala de Joana, pode-se perceber a preocupação de ser traída, algo que não é tolerado 55 numa relação monogâmica tradicional, onde os cônjuges exigem exclusividade dos companheiros, não admitindo relações de intimidade extraconjugais. (MATOS, 2000). Nota-se que no caso de Joana e Silvia houve traição por parte do cônjuge, ocasionando a ruptura do casamento. Conforme citado no referencial teórico, na cultura tradicional patriarcal, a infidelidade dos homens não apenas era admitida como muitas vezes estimulada, já que estava ligada à masculinidade e à virilidade. Em compensação, na cultura pós-tradicional com a igualdade entre os sexos, a infidelidade conjugal se torna cada vez menos aceita pelas mulheres. (BOZON, 2003). 56 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa teve como objetivo compreender as expectativas que mulheres casadas e mulheres separadas apresentavam a respeito do enlace matrimonial. Fez-se um percurso das suas expectativas passadas e atuais, bem como sua percepção sobre a conjugalidade. Entendeu-se que tais informações são socialmente relevantes, pois contribuem para auxiliar profissionais que atuam com o fenômeno casamento, sejam mediadores, advogados, assistentes sociais ou psicólogos, pois, quanto mais informações obtenham, mais conteúdo de análise para as suas práticas. Para a melhor compreensão dos fenômenos que ocorrem em relação à conjugalidade, sugerimos a realização de novas pesquisas relacionadas ao tema. Seria interessante que um estudo semelhante a este fosse feito com mulheres da mesma faixa etária, com perfil sócioeconômico diferente das pesquisadas, mulheres recasadas, e também com homens, a fim de se fazer uma comparação entre os resultados e verificar se esses diferentes aspectos influenciam nas expectativas de conjugalidade. Esta pesquisa buscou retratar diferentes momentos relacionados ao matrimônio, resgatando desde antes do compromisso conjugal propriamente assumido, passando pelas questões que levaram à separação ou a permanência na relação conjugal, para enfim, entender a forma como as mulheres compreendem o fenômeno da conjugalidade. As expectativas que as entrevistadas apresentaram ter antes de se casarem estavam relacionadas à constituição de uma família, sendo a idealização da família nuclear, visto que tal categoria foi apresentada por um número relevante de mulheres da nossa pesquisa. Conclui-se, portanto, que a família, de acordo com as entrevistadas, está diretamente ligada à conjugalidade. Sendo assim, a formação da família faz-se como algo significativo na conjugalidade. Por outro lado, as mulheres casadas apresentaram expectativas ligadas ao ritual tradicional do casamento, no qual a confirmação do enlace matrimonial sustenta-se na cerimônia do casamento, bem como o ritual religioso. Nota-se que esse é um fator que ocorreu especialmente em relação às mulheres que possuem um ideal religioso, acreditando que o cerimonial é a consumação da união do casal perante a sociedade. 57 Em relação às mulheres separadas as expectativas que elas tinham sobre a conjugalidade estava relacionada o casamento a uma fuga da família assim, elas entendiam que com o casamento poderia melhorar suas vidas e achavam que o matrimônio era uma chance de se tornarem mais felizes. Contudo, o casamento para elas havia surgido como uma possibilidade de terem uma vida melhor com os cônjuges Nota-se que as mulheres separadas também tinham como expectativa a conjugalidade vinculada à questão do amor romântico, o que pode fazer que tal sentimento provocou nas entrevistadas uma ação sem reflexão, invadidas por um sentimento de “loucura” e “paixão”. Assim, elas agiram por impulso, o que nos faz pensar que o amor vinculado a paixão possa ter contribuído para a instabilidade no relacionamento matrimonial e conseqüentemente, a dissolução matrimonial. Em relação às expectativas apresentadas pelas entrevistadas no presente momento sobre o enlace matrimonial, notamos que as casadas relacionam a união a uma relação de confiança e também, uma união onde o casal compartilha tarefas. Assim, compreende-se que as mulheres casadas da pesquisa buscam um relacionamento pautado na igualdade entre os parceiros. Sendo notório que as entrevistadas buscam um relacionamento pautado na conjugalidade contemporânea, que prioriza uma igualdade maior de papéis, com um vínculo baseado no companheirismo, reforçado pelo diálogo, pela negociação, enfim, pela reciprocidade entre os cônjuges. Entre as mulheres separadas, no diz respeito às expectativas que elas têm no presente momento sobre conjugalidade, foi possível identificar características relacionadas ao homem como figura central do enlace matrimonial, em que ele ficaria como o provedor da casa. Pode-se notar que apareceu a centralidade na figura masculina, resquícios de um casamento tradicional pautado em papéis bem definidos entre os gêneros. Por outro lado, o sentimento de amor confluente destacou-se como fator que faz parte da relação conjugal, algo que não se pode desconsiderar nas entrevistadas separadas, sendo que é considerado pelas entrevistadas como um sentimento que reforça a conjugalidade. As mulheres separadas também relataram que têm como expectativas atualmente a relação de diálogo, algo paradoxal ao relatado anteriormente, ou seja, o casamento centrado no homem, mas entendemos que de alguma forma elas querer uma relação de igualdade entre o casal, já que cada sujeito tem sua 58 individualidade e quer ser respeitado dentro da conjugalidade. Portanto, as mudanças da conjugalidade fazem-se evidentes na contemporaneidade, ainda que apareçam marcas de um casamento nos moldes tradicionais. Em relação à percepção das mulheres casadas e separadas sobre o casamento, foi possível notar evidências em relação às entrevistadas, pois o companheirismo e o diálogo reaparecem como fatores significativos e necessários ao enlace. Novamente evidenciaram-se as marcas de uma conjugalidade contemporânea, em relação à união do casal, onde a individualidade e a igualdade aparecem como forma de vivenciarem a conjugalidade entre eles. A infidelidade masculina foi algo dito como não aceito pelas mulheres separadas, pois vimos que anteriormente na sociedade patriarcal a relação extraconjugal era aceita pela sociedade. Nos relacionamentos atuais, as mulheres pesquisadas não admitem a traição, sendo para elas motivo de dissolução conjugal. Assim, é possível afirmar que as mulheres conquistaram nas últimas décadas um novo espaço na sociedade. Em decorrência disso, cada vez mais as pessoas buscam relacionamentos, onde se estabelecem relações mais igualitárias entre os conviventes. Isso se evidenciou ao longo da pesquisa, tanto em relação às mulheres casadas quanto às mulheres separadas, pois procuram por um relacionamento fundamentalmente pautado no companheirismo e no diálogo. De maneira geral, os desejos foram unânimes entre as entrevistadas, no sentido de se sentirem coadjuvantes de uma relação de igualdade, mudança pela qual a mulher vem sendo responsável no decorrer dos tempos, através de mudanças sócio-históricas, manifestação de movimentos feministas e o nível crescente de informação e comunicação em tempos atuais. Compreende-se, assim, que as mulheres vêm buscando relacionamentos nos quais possam participar ativamente, dividindo projetos e interesses em comum com seus parceiros. Todavia, algumas diferenças apareceram e podem ser entendidas como características de um processo histórico de mudança que demanda tempo para efetivamente se consolidar. Entretanto, as pessoas continuam se casando e apenas se separam no momento que a relação deixa de satisfazê-las, pois ainda procuram na conjugalidade a possibilidade de estabelecerem uma relação na qual a individualidade possa ser respeitada. Assim, entende-se que o casamento ocupa de fato um lugar de grande importância na vida das entrevistadas, e, mesmo tendo passado por uma dissolução conjugal, essas mulheres continuam a acreditar no 59 casamento, relacionando-o à família, ao amor, à realização afetiva, ao companheirismo, à felicidade, e a uma oportunidade de estabelecerem a igualdade entre o casal. Assim, podemos identificar que as pessoas continuam a acreditar no casamento, desde que seja conforme uma das entrevistadas “[...] é preciso muito diálogo...”. 60 REFERÊNCIAS ABREU, Ana Keiserman de. O casamento em cena: representações da conjugalidade em duas peças de teatro. 2005. 95 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgibin/db2www/PRG_0651.D2W/SHOW?CdLinPrg=pt&Cont=6594:pt> Acesso em: 10 out 2008. ALMEIDA, Angela Mendes. 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Goiânia: AB, 2000. 65 APÊNDICES 66 APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecimento Termo de consentimento livre e esclarecimento Eu, ___________________________________________, RG: ________________, estou ciente de que participarei da pesquisa “As Representações Sociais da Conjugalidade para Mulheres em Processo de Casamento e para Mulheres em Processo de Separação ou Separadas”, sob orientação Prof. Dr. Leandro Castro Oltramari, realizada pela acadêmica Ana Paula de Oliveira Ramos, estudante da 10ª fase de Psicologia, para o desenvolvimento da pesquisa de TCC II em Psicologia. Declaro ainda que tenho conhecimento de que a minha participação nessa fase do projeto consiste em conceder entrevistas, que poderão ser gravadas sem remuneração financeira. Estou ciente que para participar deste estudo terei de responder a uma entrevista que não me identificará, e cujo conteúdo será sobre minha vida conjugal. Fui esclarecida também que poderei, a qualquer momento em que desejar, desistir de minha participação, sem sofrer nenhum tipo de consequência por esta decisão. Também fui informada de que, se precisar de maiores informações sobre esta pesquisa, poderei obtê-las entrando em contato com o orientador ou a pesquisadora. Este estudo tem caráter puramente científico e meus dados pessoais serão mantidos em sigilo sendo garantido meu anonimato. Minhas respostas apenas serão utilizadas para os propósitos deste estudo. Estou ciente de que minha participação é totalmente voluntária e não terei direito a remuneração. Assim, concordo em participar dessa pesquisa e que os resultados sejam divulgados por meio de trabalhos acadêmicos científicos. 67 Nome por extenso_________________________________________________ Local e data______________________________________________________ Contato da pesquisadora: Ana Paula de Oliveira Ramos Telefone: 8414-6085 E-mail: [email protected] Contato do orientador: Prof. Dr. Leandro Castro Oltarmari Telefone: 8404-7559 E-mail: [email protected] 68 APÊNDICE B – Roteiro de entrevista ROTEIRO DE ENTREVISTA: Mulheres casadas 1) Idade: 2) Escolaridade: 3) Profissão ou Ocupação: 4) Por quanto tempo está casada? 5) Namorou quanto tempo seu marido? 6) Você já teve algum convívio marital antes do atual? 7) Antes de se casar, qual era sua visão de casamento? Suas expectativas foram correspondidas? 8) Segundo seu ponto de vista, o casamento mudou nos dias de hoje? 9) Você imagina passar o resto de sua vida com seu esposo? 10) Em sua opinião, o que faz durar um casamento? 11) Houve alguma cerimônia ou festa para celebrar o casamento? 12) Com que idade se casou? Tem filhos? 69 Mulheres em processo de separação 1) Idade: 2) Escolaridade: 3) Profissão ou Ocupação: 4)Tem filhos? 5) Por quanto tempo esteve casada? 6) Você já teve algum convívio marital antes do atual? 7) Desde quando você está separada? 8) De quem foi a decisão de se separar? 9) Por que acha que acabou o casamento? 10) Você gostaria de ter outro casamento? Caso sim, como você gostaria que fosse seu casamento? 11) Namorou por quanto tempo seu ex-marido? 12) Antes de se casar, qual era sua visão de casamento? Suas expectativas foram correspondidas? 13) Em sua opinião, o que faz durar um casamento? 14) Houve alguma cerimônia ou festa para celebrar o casamento? 15) Com que idade se casou?