UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA - LICENCIATURA
CRISTIANE RAQUEL DIEL FONTANA
DIFERENTES PROPOSTAS DE ALFABETIZAÇÃO:
UM OLHAR CRÍTICO
São Leopoldo
2010
1
CRISTIANE RAQUEL DIEL FONTANA
DIFERENTES PROPOSTAS DE ALFABETIZAÇÃO:
UM OLHAR CRÍTICO
Trabalho de Conclusão apresentado
como requisito parcial e obrigatório para
aprovação no curso de Pedagogia da
Faculdade de Educação da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, realizado
sob a orientação da Profª Drª Tania
Beatriz Iwaszko Marques.
São Leopoldo
2º Semestre 2010
2
Dedico este trabalho a todos os
que por mim passaram durante
minha caminhada acadêmica,
que me incentivaram e me
compreenderam,
dividindo
comigo angústias e esperanças.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, porque sem Ele eu nada seria;
Ao meu pai, que, com certeza, me protege, guiando e iluminando meus
passos;
À minha mãe por sempre se importar comigo em todos os momentos da minha
vida;
À minha família, que está sempre ao meu lado, cada um a sua maneira, mas
todos torcendo e vivenciando cada etapa de minha vida;
Aos amigos e colegas, pelo companheirismo e ajuda em cada etapa do
curso, e também a todos os que me acompanharam na minha caminhada de
formação docente;
Aos meus queridos alunos que participaram ativamente desta construção e
que muito me ensinaram;
A todos que um dia pensaram em promover este curso a fim de qualificar os
professores das redes públicas nas quais me incluo com muito orgulho;
À minha amiga e Professora Leila Chaves Baptista pela ajuda, mas
principalmente por sonharmos juntas em estar onde estamos hoje;
À minha querida colega e Professora Ida Cleonice Demarco pela sensibilidade
e seu olhar especial evidenciado nas fotografias que tanto enriqueceram meus
trabalhos no decorrer da minha caminhada acadêmica;
Em especial à minha cunhada Nara Maria da Cunha pelo apoio e incentivo no
início da minha caminhada como educadora ainda na cidade de São Paulo;
À minha orientadora Profª Drª Tania Beatriz Iwaszko Marques e à tutora
Denise Severo pelo carinho, perseverança e tranqüilidade.
4
“EU EDUCO HOJE com valores que recebi ONTEM
Para pessoas que são o AMANHÃ.
Os valores de ontem, os conheço.
Os de hoje, percebo alguns.
Dos de amanhã, não sei.
Se só uso os de ontem, não educo: condiciono.
Se só uso os de hoje, não educo: faço experiências a custo das crianças.
Se uso os três, sofro. Mas educo.
Por isso, educar é perder sempre, sem perder-se.
EDUCA quem for capaz de fundir ONTENS, HOJES E AMANHÃS
transformando-os num PRESENTE, onde o AMOR e o LIVRE ARBÍTRIO sejam
as bases.
Educa quem for capaz de dotar os seres dos elementos da interpretação dos
vários PRESENTES que lhes surgirão repletos de PASSADOS em seus
FUTUROS.”
Arthur da Távola
5
RESUMO
Este trabalho de conclusão de curso pretende analisar a relação entre o
Programa de Alfabetização Alfa e Beto e minha prática docente com alunos de
Primeiro e Segundo Ano das Séries Iniciais iniciada no ano de 2009 e
concluída no ano de 2010 com o estágio curricular obrigatório do curso em
Licenciatura em Pedagogia na Modalidade à Distância/PEAD. Este trabalho
fundamenta-se teoricamente em Freinet, Piaget, Ferreiro e Freire. Esta reflexão
tem por objetivo refletir sobre as situações observadas e vivenciadas em sala
de aula e suas conseqüências no processo de ensino e de aprendizagem no
que diz respeito à Alfabetização das crianças.
Palavras-chave: alfabetização-letramento,
reflexão sobre a prática docente.
Programa
de
Alfabetização,
6
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................8
2. MINHA CAMINHADA..................................................................................9
3. PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO ALFA E BETO................................13
3.1 PROPOSTA PEDAGÓGICA DO PROGRAMA........................................13
3.2 APLICAÇÃO DO PROGRAMA ALFA E BETO........................................16
4. REFLEXÕES SOBRE A MINHA PRÁTICA................................................17
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................27
6. REFERÊNCIAS............................................................................................29
7
8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso trata da relação entre o
Programa de Alfabetização Alfa e Beto e a proposta de Alfabetização e
Letramento proposto pela Licenciatura em Pedagogia na Modalidade a
Distância/PEAD. Por meio dele, procuro traçar um paralelo entre minhas
aprendizagens neste curso e o programa do qual fui aplicadora nos anos de
2009 e 2010 com meus alunos de primeiro ano do Ensino Fundamental de
nove anos e posteriormente no ano de 2010 com o segundo ano.
Os procedimentos metodológicos utilizados para a realização deste
trabalho foram a reflexão sobre minha própria experiência como acadêmica e a
prática docente na condição de aluna e professora. Procuro refletir, entender e
analisar as diferenças entre as metodologias, o ensino e a aprendizagem, o
relacionamento entre os alunos e o meu papel como educadora.
A seguir apresento A seguir apresento os objetivos deste trabalho de
conclusão: proporcionar uma reflexão crítica sobre diferentes metodologias de
alfabetização; analisar a aprendizagem e o comportamento dos alunos,
mediante a aplicação do Programa de Alfabetização e o Estágio Curricular
obrigatório vivenciado como aluna do curso de Pedagogia a Distância da
UFRGS; verificar as diferenças entre a proposta pedagógica do Programa Alfa
e Beto e as aprendizagens que construímos no decorrer deste curso; refletir
sobre a docência no dia a dia em sala de aula para aprimorar minha prática
como educadora, a fim de me tornar cada vez mais consciente da função social
que exerço na sociedade.
Este trabalho fundamenta-se teoricamente na Pedagogia do Bom
Senso, do Trabalho e do Êxito segundo as concepções de Freinet, na
construção do conhecimento evidenciada por Piaget e na proposta dialógica de
Paulo Freire que fala na importância de respeitar o outro como legítimo outro.
Esta reflexão tem por objetivo entender e valorizar toda experiência que ocorre
na relação professor-aluno como promotora de aprendizagem.
9
2.
MINHA CAMINHADA
“[...] o tempo é algo que não volta atrás, por
isso plante o seu jardim e decore sua alma, ao
invés de esperar que alguém lhe traga flores”
(William Shakespeare).
Pensei em várias possibilidades para a construção deste trabalho, mas
nenhuma foi mais significativa que a minha experiência como professora
aplicadora do Programa de Alfabetização Alfa e Beto e o quanto este me
angustiou durante os anos de 2009 e 2010 em que trabalhei com ele.
A Secretaria de Educação comprou alguns Programas de Alfabetização
com o objetivo de melhorar a qualidade da educação no Estado. Sou
professora da Rede Pública Estadual e então, juntamente com minha colega da
rede, fui convidada a escolher um dos Programas. Numa cerimônia promovida
pela Coordenadoria de Educação ocorreu a apresentação dos Programas e lá
estava eu, uma colega e a diretora da escola na época, e, enfim, tínhamos que
escolher um. Numa passada breve pelos materiais, escolhemos sem nos
preocupar com a aplicação, visto que bastava escolher um e a formação seria
dada durante a aplicação do Programa.
Materiais iam chegando à escola, eram caixas e mais caixas de livros,
uma grande quantidade que não havíamos visto na apresentação do
Programa. Alfabetos prontos, letras móveis, bonecos que representavam o
Programa e muitos livros para uso do professor com manuais. O susto foi geral,
pois além de nos sentirmos enganadas, não tínhamos como voltar atrás, já que
a diretora havia assinado o termo de compromisso. Iniciamos 2009 com as
turmas do primeiro ano seguindo o manual, sendo que havia para cada dia
uma aula pronta e acabada, e, a cada final de mês uma planilha a ser
preenchida constando o número das lições dos livros. Eram nada mais, nada
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menos do que quatro livros, dois de caligrafia, um didático para alfabetização e
o manual de consciência fonêmica, este último tratando do método fônico.
Como se não bastasse, recebemos a notícia que para 2010 haveria a
continuação, e os livros foram chegando. Para o segundo ano seriam usados
livro de ciências, alfabetização e matemática e as avaliações viriam prontas
para serem aplicadas ao final das lições pré-determinadas pela equipe que
gerencia o programa na coordenadoria.
Entre livros, grafemas e fonemas estavam os alunos, crianças de seis
anos, sentados individualmente, em cadeiras e mesas tradicionais, aprendendo
como se pega o lápis, o caderno e o livro e, o que é pior, repetindo palavras e
frases fora do seu contexto e sendo avaliadas a cada final de unidade do livro,
pois o Programa previa que ao final do primeiro ano os alunos deveriam estar
lendo com fluências sessenta palavras por minuto. Como se não bastasse tudo
isso, havia as visitas feitas pelas supervisoras do Programa que me causavam
desconforto, ainda que marcadas com antecedência, não pelo fato de assistir a
aula, mas pelo fato de serem colegas observando se o Programa estava sendo
aplicado corretamente. Sentia-me vigiada. Era como se estivesse perdendo a
autonomia que tanto lutamos para ter em sala de aula e tão evidenciada no
Projeto Político e Pedagógico da nossa escola, bem como em todo o decorrer
de minha caminhada acadêmica.
E no meio disso tudo, eu, professora e aluna construindo aprendizagens
e novas possibilidades no PEAD da invenção infância, sobre importância do
brincar, da oralidade, da linguagem, da música, da literatura infantil de
qualidade, aprendendo a fazer um Projeto de Aprendizagem, o significado das
Arquiteturas Pedagógicas. Bem mais do que isso, refletindo sobre a autonomia
de acordo com Paulo Freire, o letramento, a construção do conhecimento
evidenciado por Piaget, a Pedagogia do Bom Senso proposta por Freinet entre
outras tantas aprendizagens evidenciadas no decorrer deste curso.
Por vezes, sentia-me frustrada e ansiosa, pois, quanto mais se
aproximava o estágio obrigatório, mais angustiada ficava pensando em como
realizá-lo, visto que deveria aplicar o Programa com minha turma do segundo
11
ano sendo que os mesmos já haviam sido meus alunos no Programa, que
prevê a mesma professora nos dois primeiros anos. Angustiava-me pensar em
como os alunos iram reagir, pois, afinal, eram duas propostas completamente
diferentes, com caminhos muito diferentes.
Como não havia outro jeito, eu tinha que começar o estágio. Parei tudo
que estava fazendo. No começo não foi fácil, senti que os alunos também
estranharam principalmente pelo fato de não usar livros. Apesar de ser
cansativo, estavam acostumados com as atividades feitas exclusivamente com
livros, porém o que mais lhes incomodou foi o fato de terem que trabalhar em
grupos. Foi aí que tive mais dificuldade, pois eles não estavam acostumados,
e, mediar isto, confesso que não foi nada fácil. A turma não estava habituada a
realizar atividades cooperativas, eles se agitavam muito, falavam o tempo todo
e com muita frequência tinha que intervir para que as atividades fossem
concluídas.
Com o início do estágio, também percebi que meus alunos eram pouco
criativos e completamente dependentes de mim, esperando que eu mostrasse
passo a passo do que deveria ser feito. Essa atitude não poderia ser diferente,
pois eram sujeitos de um Programa de Alfabetização que os colocava num
mundo fora da realidade, em que não podiam relacionar suas aprendizagens
com o mundo real. Enfim, com o estágio percebi que havia muito que fazer
para que meus alunos fossem ao encontro dos objetivos propostos no Projeto
que construí para evidenciar minhas aprendizagens no PEAD. E aí também
surge meu tema para o TCC do nosso curso. Em meio à muita indignação,
desabafo e espírito crítico eis que me vem em mente um conceito de Freinet
(1973):
Examine lealmente cada uma das atividades que você
prevê para sua classe, impeça o trabalho de soldado e,
se for obrigado a eles provisoriamente, tenha presente
que são apenas trabalhos de soldados, sem finalidade
nem resultado. Galope, galope! Entusiasme seus alunos
para irem cada vez mais depressa e cada vez mais longe.
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Basta você prever atividades suficientes –felizmente, há
muitas -, para alimentar a necessidade de criar e realizar.
Assim, penso que essa passagem exprime o que pretendo mostrar neste
trabalho. A minha indignação como aplicadora do Programa de Alfabetização
Alfa e Beto é o fato de ser um programa que trata as crianças como
alunos/soldados, e, por outro lado percebo o quanto me realizei como
educadora durante o estágio supervisionado, vivenciando a forma como o
Projeto entusiasmou meus alunos na construção de novas e significativas
aprendizagens.
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3. O PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO ALFA E BETO
Receita de alfabetização
Pegue uma criança de 6 anos, e lave-a bem. Enxágüe-a com cuidado, enrolea num uniforme e coloque-a sentadinha na sala de aula. Nas oito primeiras semanas,
alimente-as bem com exercícios de prontidão. Na nona semana ponha uma cartilha
nas mãos das crianças. Abra a boca da criança e faça com que engula as vogais.
Quando estiverem digeridas as vogais, mande mastigar uma a uma as palavras da
cartilha. Cada palavra deve ser mastigada, no mínimo, 60 vezes. Se houver
dificuldades de engolir separe as palavras em pedacinhos. Mantenha a criança em
banho-maria durante quatro meses, fazendo exercícios de cópia. Em seguida faça
com que engula algumas frases inteiras. Mexa com cuidado para não embolar. Ao fim
do oitavo mês, espete a criança com um palito. Ou melhor, aplique uma prova de
leitura e verifique se ela devolve pelo menos 70% das palavras e frases engolidas. Se
isso acontecer considere a criança alfabetizada. Se a criança não devolver o que lhe
foi dado para engolir, recomece a receita desde o inicio, isto é volte aos exercícios de
prontidão. Repita a receita.
Fonte: Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Alfabetizar e Letrar: um
diálogo entre a teoria e a prática. Boletim Informativo 1. Jullho de 1989
3.1 Propostas pedagógicas do Programa Alfa e Beto
Para aplicar o Programa de Alfabetização Alfa e Beto participei dos
cursos de formação oferecidos pela 2ª Coordenadoria de Educação do Estado
do Rio Grande do Sul e gerenciados pelo Programa. No total somaram-se
quatro encontros, um para cada semestre. A formação baseava em
apresentação de vídeos que explicavam a proposta pedagógica do Instituto
Alfa e Beto/IAB, apresentado pelo próprio idealizador do Programa Alfa e Beto
de Alfabetização João Batista Araujo e Oliveira que produziu e implementou o
Programa em centenas de classes em mais de dez estados do Brasil.
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O que assisti me estimulou a fazer um breve resumo do muito que foi
apresentado e que tem caráter público no site do instituto1. Assim, as propostas
pedagógicas do Programa Alfa e Beto para Alfabetização baseiam-se:
Nas recomendações da Ciência Cognitiva da Leitura e
na análise das práticas dos países mais avançados, que também
se utilizam do sistema alfabético da escrita. O Programa ainda
destaca que nos últimos 30 anos, as descobertas permitiram um
notável avanço a respeito de como as crianças aprendem a ler e
de como devemos ensinar as crianças a aprender a ler.
Segundo o Programa, para aprender a ler, a criança precisa adquirir
o princípio alfabético, e isso significa que a criança deve ser capaz de entender
que uma palavra é diferente de um objeto real ou de uma imagem. Como no
exemplo da palavra Á R V O R E que usa uma forma de representação ou
código diferente da árvore plantada no jardim ou do desenho de uma árvore.
Assim, as palavras não são como desenhos, que representam os objetos de
maneira figurativa; são compostas por símbolos, as letras. Cada letra tem um
papel na palavra e representa um pedaço dos fonemas ou sons que formam
uma palavra.
Para adquirir o Princípio Alfabético, a criança precisa adquirir
competências como:
Segmentar palavra, identificar as letras, identificar os fonemas;
Aprender a decodificar (aprender o Princípio Ortográfico); Decodificar
significa decifrar o código. O código alfabético é uma representação,
isto é, codifica os fonemas da língua por meio de grafemas (letras
individuais ou dígrafos). Aprender o código significa identificar o valor
sonoro da letra e usar esse conhecimento para "decifrar" ou
"decodificar" o que está escrito.
1
www.iab.com.br
15
Para o Programa, a criança precisa aprender o valor do fonema isto é, o
som e sua forma de representação gráfica, qual letra pode representar esse
fonema e a emendar ou juntar os fonemas para pronunciar a palavra.
O mesmo vale para a escrita, o aluno decodifica o som em fonemas,
identifica os grafemas correspondentes e os registra no papel. Para aprender a
emendar ou juntar fonemas, para ler ou para aprender a soletrar, para
escrever, a criança precisa:
Aprender e praticar técnicas de análise e síntese de fonemas;
Desenvolver fluência de leitura. O desenvolvimento da fluência da
leitura passa por três etapas: decodificar, reconhecer palavras
automaticamente e ler com fluência. As etapas de aquisição da fluência
da leitura não são sucessivas nem automáticas. O aluno que está
aprendendo a ler pode ser capaz de ler algumas palavras
automaticamente, ler pequenas frases com algum desembaraço e
recorrer à decodificação para ler palavras novas, mais longas ou mais
difíceis do ponto de vista morfológico. Sem treino supervisionado,
dificilmente o aluno desenvolverá fluência adequada.
Para avaliar e atingir os objetivos citados, o Programa previa para o
Primeiro Ano seis testes que deveriam ser aplicados pelo supervisor da escola
no decorrer do ano. Os resultados eram enviados para a Coordenadoria de
Educação para que fossem gerenciados. No Segundo Ano as avaliações foram
enviadas pela Coordenadoria para serem aplicadas pelo próprio professor e os
resultados repassados para uma planilha e analisados para ver em que nível
os alunos se encontravam. Além das planilhas de avaliação, mensalmente a
escola deveria enviar dados sobre a lista de presença dos alunos e o número
das lições trabalhadas nos livros.
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3.2 Aplicações do Programa Alfa e Beto
A partir dos propósitos mencionados, apliquei o Programa. Os alunos
foram levados a treinar, repetir, tracejar, decodificar, identificar grafemas e
fonemas, usando livros e apostilas do Programa. As aulas prontas e acabadas
deveriam ser cronometradas, sendo que cada bloco de atividades deveria ser
dado num determinado tempo. Nesse processo, os alunos, sentados
individualmente, aprendiam a pegar no lápis, repetindo frases como: "Milu é
uma mula”; “A mula Milu é meio mole”; “O nome da índia é Luana”; “Luana
anda de anel no dedo e diadema”; “Adão anda na mão de Luana, a índia-Lua”;
“O jumento tem gesso na pata”; “O javali jantou a jaca”; “O jeca viu gema de
ovo de jibóia".
Isso tudo com um único objetivo, o de levar os alunos a se alfabetizarem
por meio do método fônico, ouvindo sons repetidos, com palavras
descontextualizadas e muitas vezes sem nexo. Em muitos momentos os
próprios alunos questionavam perguntando “O que é isso professora?” ou com
afirmações do tipo: “Que coisa mais esquisita!”
Quero aqui ressaltar que não sou contra o método fônico, bem pelo
contrário, sou adepta e estudiosa do mesmo. O que não concordo é com a
forma de como esses Programas são aplicados, visto que em sua grande
maioria são descontextualizados da realidade em que vivem os alunos,
servindo assim apenas como uma educação bancária. Como referiu Freire
(1967) ”Para o educador bancário, na sua anti dialogicidade, a pergunta
obviamente, não é a propósito do diálogo, que para ele não existe, mas a
respeito do programa sobre o qual dissertará”. É por isso que não me sinto a
vontade ao aplicar o Programa e este se transformou no símbolo de minha
indignação
como
educadora,
pois
tenho
características
dialógicas
e
problematizadora frutos das nossas construções no decorrer deste curso.
Paulo Freire (1967p. 83) afirma:
17
Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o
conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma
imposição – um conjunto de informes a ser depositado nos
educandos - mas a devolução organizada, sistematizada e
acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe
entregou de forma desestruturada. A educação autêntica,
repitamos não se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A
com B, mediatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e
desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista
sobre ele. Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de
esperanças ou desesperanças que implicitam temas
significativos, à base dos quais se constituirá o conteúdo
programático da educação.
Não há como retomar minhas inspirações durante a caminhada
acadêmica, sem continuar a mencionar Paulo Freire que pensava em um
método de educação construído a partir do diálogo entre educador e educando,
no qual o ato de educar deve ser solidário, coletivo e voltado para a realidade.
Assim, mergulhando no universo do aluno, o educador pode construir e
oportunizar temas capazes de envolver e aguçar o prazer de aprender e trocar
conhecimentos.
A educação problematizadora e emancipadora sugerida por Freire
rompe a barreira entre professor e alunos, predominando o diálogo, momento
no qual todos ficam envolvidos num processo de construção e interação
significativa com o mundo, problematizando, assim, o conteúdo que os une.
Freire (1967) afirma também que alfabetizar não pode ser um ato puramente
mecânico, ou seja, aprender a decodificar sinais, mas sim relacionando com a
prática da vida. O educador propõe um método ativo, dialógico e crítico levando
em conta a realidade vivenciada pelo aluno.
Para
a
construção
deste
modelo
de
educação
libertadora
o
conhecimento a ser trabalhado na escola deve ser democrático, com
significado e comprometido com a transformação social.
18
4.
REFLEXÕES SOBRE MINHA PRÁTICA
Alfabetização sem receita
Pegue uma criança de 6 anos ou mais, no estado em que estiver, suja ou
limpa e coloque-a numa sala de aula onde existam muitas coisas escritas para
olhar e examinar. Servem jornais, livros, revistas, embalagens, propaganda
eleitoral, latas vazias, caixas de sabão, sacolas de supermercado, enfim vários
tipos de materiais que estiverem a seu alcance. Convide as crianças para
brincarem de ler, adivinhando o que está escrito: você vai ver que elas já
sabem muitas coisas. Converse com a turma, troque idéias sobre quem são
vocês e as coisas que gostam e não gostam. Escreva no quadro algumas das
frases que foram ditas e leia-as em voz alta. Peça às crianças que olhem os
escritos por aí, nas lojas, ônibus, nas ruas, na televisão. Escreva algumas
dessas coisas no quadro e leia-as para a turma. Todos os dias, leia em voz
alta alguma coisas interessante: historinha, poesia, notícia de jornal, anedota,
letra de música, adivinhações. Mostre alguns tipos de coisas escritas que elas
talvez não conheçam: um catálogo telefônico, um dicionário, um telegrama,
uma carta, um bilhete, um livro de receita de cozinha. Desafie as crianças a
pensarem sobre a escrita e pense você também. Quando elas estiverem
escrevendo, deixe-as perguntar ou pedir ajuda ao colega, Não se apavore se
uma criança estiver comendo letra: até hoje não houve caso de indigestão
alfabética. Invente sua própria cartilha. Use sua capacidade de observação
para verificar o que funciona, qual o modo de ensinar que dá certo na sua
turma. Leia e estude você também.
Fonte: Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Alfabetizar e
Letrar: um diálogo entre a teoria e a prática. Boletim Informativo 1 julho de
1989.
Ao contrário do que evidenciei como aplicadora do Programa de
Alfabetização Alfa e Beto, minhas construções feitas no PEAD no que diz
respeito à alfabetização e ao letramento têm como proposta valorizar a livre
expressão, considerando a criança como o centro de sua própria educação,
sendo as atividades pensadas para que se tornem um trabalho útil, criativo e
cooperativo.
19
Sendo assim, o processo que envolve a avaliação se caracteriza por ser
inclusivo, diagnóstico e contínuo valorizando a construção do conhecimento. A
exemplo disso cito as construções que realizei no decorrer do estágio
obrigatório deste curso e que tanto colaborou e tem colaborado com o meu
crescimento pessoal e profissional.
Com uma postura reinterpretativa da minha realidade e de tudo que
vivenciei como acadêmica
iniciei o
estágio baseada
numa proposta
construtivista e que não se caracteriza como método como bem mencionou
Becker (2001, p. 72):
Construtivismo não é uma prática, ou um método; não é uma
técnica de ensino nem uma forma de aprendizagem; não é um
projeto escolar; é, sim, uma teoria que permite (re) interpretar
todas essas coisas, jogando-nos para dentro do movimento da
história – da humanidade e do universo
Sem um método específico, procurei em sala de aula com meus alunos
de seis anos reinventar situações que resgatassem a infância, pois brincar é
considerado uma forma das crianças se conhecerem, compreenderem e se
expressarem no mundo, mais do que isso, é uma forma de aprender a
relacionar-se com o outro. Segundo Vigotski (1987 p117): “no faz de conta a
criança tem a oportunidade de ser ainda que ela não é agir como se fosse
maior,exercitar-se na compreensão de papéis sociais e poder usar, de modo
simbólico objetos e ações que ainda não lhe são permitidos”.
Durante o estágio planejei atividades suficientes para que as aulas não
ficassem exaustivas como no Programa de Alfabetização. O brincar esteve
presente em muitos momentos de forma livre e criativa, proporcionando às
crianças realizarem construções e reinterpretações de seus cotidianos.
A cada semana que passava sentia meus alunos encantados e
motivados. Participavam das atividades com entusiasmo, o que proporcionava
20
um ambiente de criação. Envolvidos numa temática com significados,
assimilavam, problematizavam ações, se apropriavam e construíam seu próprio
conhecimento como bem evidenciava Piaget (1978).
Durante a primeira semana proporcionei várias atividades diferenciadas
do contexto do Programa de Alfabetização Alfa e Beto. Confesso que foi uma
semana difícil, pois a maioria das atividades planejadas foi realizada em grupos
ou duplas e os alunos não estavam habituados, em muitos momentos tinha que
intervir para que o trabalho fosse concluído. Ainda na primeira semana percebi
o quanto meus alunos demonstravam ser dependentes de mim, pois pediam a
todo o momento que mostrasse como deveriam ser realizadas as atividades,
mostrando o quanto o Programa os limitava a criar inventar de forma livre e
criativa.
Pude perceber que tinha um grande desafio pela frente para colocar em
prática nossas aprendizagens no PEAD, que vão ao encontro da construção do
conhecimento, partindo da curiosidade dos alunos, da "leitura do mundo” como
bem evidenciou Freire (1981, p15) quando falou do seu próprio mundo:
A decifração da palavra fluía naturalmente da leitura do
mundo particular. Não era algo que estivesse dando
superpostamente a ele. Fui alfabetizado no chão do quintal de
minha casa,á sombra de mangueiras,com palavras do meu
mundo e não do mundo maior de meus pais.O chão foi o meu
quadro-negro;gravetos,o meu giz
Na segunda semana, as aulas foram mais produtivas e cooperativas,
pois já não precisava chamar atenção dos alunos constantemente, fui
percebendo que na medida em que o trabalho ia avançando os alunos já
demonstravam de forma espontânea e criativa suas construções com mais
autonomia, demonstrando alegria e satisfação ao realizarem as atividades.
De forma coletiva e num ambiente mais lúdico, aprendizagens iam
sendo construídas carregadas de significado como queria Freire (198, p. 20):
21
Daí que sempre tenha insistido em que as palavras com
que organizar o programa de alfabetização deveriam vir do
universo vocabular dos grupos populares, expressando a sua
real linguagem, os seus anseios, suas inquietações, as suas
reivindicações, os seus sonhos. Deveriam vir carregadas da
significação da sua experiência existencial e não da experiência
do educador.
Passada a angústia das primeiras semanas, a terceira foi muito especial,
assim como eu, meus alunos demonstraram prazer em aprender, juntos
realizamos muitas construções. A cada aula que passava sentia os mais
encantados e curiosos com nossas temáticas. Dúvidas foram surgindo e
aprendizagens iam sendo construídas.
.
Percebi que o planejamento deve ser flexível, pois ao planejar
imaginamos uma proposta ou algo que poderia dar certo, mas ao aplicar nos
deparamos com situações inesperadas. Confesso que ao planejar as aulas
duvidei
da
capacidade
dos
meus
alunos,
pensei
que
muitos
não
acompanhariam, visto que estavam acostumados a realizarem cópias ou
esperar que ensinasse.
Para minha surpresa muitos alunos conseguiram realizar as atividades o
que me fez lembrar Freinet (1967 p75):
Felizmente, as crianças aniquilam de antemão os
projetos prudentes demais e metódicos demais dos pedagogos.
Descobrem, num celeiro, uma velha maquineta sem pneus nem
freios e,ás, escondidas, aprendem em poucos instantes andar de
bicicleta,como aliás aprendem todas as coisas: sem qualquer
conhecimento de regras e de princípios...
Durante esta semana pude sentir o quanto um Programa de
Alfabetização pode ser discriminatório na medida em que não oportuniza a
todos os alunos iguais condições para que possam criar e ousar nas
aprendizagens, percebi que basta oportunizar atividades interessantes que as
22
crianças descobrem por si, com sua curiosidade natural como se faz, basta o
professor dar condições para que isso ocorra,incentivando-a sempre!
A quarta semana se caracterizou pelo estudo, durante a semana fui
buscar amparo nos aportes teóricos do nosso curso, mais precisamente em
Carvalho, Nevado e Menezes (2005) que propõem idéias de Arquiteturas
Pedagógicas que são definidas como "suportes estruturantes" para a
aprendizagem. Assim, baseada em nossos estudos anteriores e no desafio de
educar para a autonomia e a cooperação, realizei uma Arquitetura Pedagógica
com minha turma. Apesar de um tema aparentemente simples confesso que
teve momentos que não conseguia organizar a turma e a sistematização dos
conteúdos ficou complicada, então resolvi montar um mapa conceitual sobre o
tema e nossas descobertas foram ficando mais organizadas e a sistematização
ocorreu com maior organização.
Concluí a semana na certeza de que o professor deve ser antes de tudo
um pesquisador e que numa Arquitetura Pedagógica o conhecimento vai sendo
construído junto com os alunos, o planejamento deve ser muito flexível e o
passo seguinte é sempre desconhecido.
A quinta semana considerei a semana do encantamento, senti
que com o desenrolar das atividades cada vez mais os alunos participavam
com entusiasmo e se dedicavam para realizar tudo o que era proposto.
Baseada na proposta freinetiana a qual me identifico e procuro dar ênfase no
meu trabalho, cada aula planejada teve como objetivo valorizar a livre
expressão onde a criança é o centro de sua própria educação e cada atividade
foi pensada para que se tornasse um trabalho útil, criativo e cooperativo.
Para Freinet, criar, se expressar, se comunicar, viver em grupo, ter
sucesso, agir-descobrir e se organizar, são necessidades vitais do ser humano.
Observando essas condições procurei realizar meu trabalho visando formar
“cidadãos autônomos e cooperativos”, como queria Freinet.
A sexta semana considerei a mais divertida de todas. Os alunos
chegaram à sala de aula perguntando sobre qual seria a atividade do dia,
esperavam ansiosos pelas surpresas nas quais já estavam acostumados em
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realizar. Nossas aulas eram puro prazer! Sentia meus alunos felizes, levandome às sábias palavras de Freinet (1967, p. 84):
[...] organize a Cooperativa escolar, essa sociedade de crianças
que nasce espontaneamente logo se trata de construir a cabana
de índios;dê aos seus alunos ferramentas de trabalho...lápis de
cor para desenhar,fichas ilustradas para consultar e classificar,
livros para ler,um jardim e uma coelheira,sem esquecer o teatro
e os fantoches- e a Escola será esse canteiro em que a palavra
trabalho aparecerá em todo seu esplendor, ao mesmo tempo
manual, intelectual e social,no seio do qual a criança nunca se
cansa de procurar, de realizar, de experimentar, de conhecer e
de subir, concentrada, séria, refletida, humana!
As atividades planejadas contemplaram o prazer em aprender e as
crianças vivenciaram na prática o espírito cooperativo. Procurei deixar que se
organizassem de forma livre, auxiliando e interferindo apenas quando não
conseguissem chegar a um acordo. Pois na educação para a autonomia como
queria Freire “às situações de aprendizagem buscam ativar as discussões de
pontos de vista divergentes em detrimento da pura repetição de idéias e
crenças, porém auto-subordinados ás regras de respeito mútuo e da
cooperação”. Assim, priorizando a criação dos alunos, a construção livre, a
cooperação e liberdade, o trabalho virou brincadeira, alegria e aprendizado!
Na sétima semana aproveitei para avaliar o que estava sendo
construído. Por meio de observações diárias, atividades em grupos e
individuais. Pude perceber que os objetivos estavam sendo alcançados.
Percebi que as temáticas trabalhadas abrangiam todos os alunos de
modo que não se sentissem discriminados por quaisquer que fossem suas
limitações, todos demonstravam interesse e participavam de alguma forma das
atividades. Para Freire (1982, pag.77):
Não é possível praticar sem avaliar a prática. Avaliar a
prática é analisar o que se faz, comparando os resultados
obtidos com as finalidades que procuramos alcançar com a
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prática. A avaliação da prática revela acertos, erros, imprecisões.
A avaliação corrige a prática, melhora a prática, aumenta nossa
eficiência. O trabalho de avaliar a prática jamais deixa de
acompanhá-la.
Na oitava semana planejei com enfoque na avaliação que realizei na
semana anterior, alterei o planejamento várias vezes e priorizei a leitura e a
escrita direcionada ao letramento. Os alunos escreveram textos informativos
relacionados à temática da semana, construíram, analisaram e levantaram
hipóteses baseadas no cotidiano. Assim, percebi que meus alunos interagiam e
ampliavam o conhecimento e a capacidade de interpretar e produzir diferentes
tipos de textos. Aos poucos desenvolviam habilidades referentes à leitura e à
escrita levando em conta seus conhecimentos de mundo, assim, aprendiam
com significado e não apenas codificando e decodificando letras e sons como
bem enfatizou Soares (1998, p.92):
A alfabetização – a aquisição da
tecnologia da escrita – não precede nem é pré- requisito para o
“letramento”, ou seja, para a participação nas práticas sociais de
escrita, tanto é assim que os analfabetos podem ter um certo
nível de “letramento” : sem que hajam adquirido a tecnologia da
escrita, utiliza a quem a tem para fazer uso da leitura e da
escrita, além disso, na concepção psicogenética de
alfabetização atualmente em vigor, a tecnologia da escrita é
aprendida não como em concepções anteriores com textos
construídos artificialmente para a aquisição das técnicas de
leitura e escrita, e sim por meio de atividades de “letramento’, ou
seja, de leitura e produção de textos reais, de práticas sociais de
leitura e escrita.
Nas duas últimas semanas senti prazer em planejar, me envolvi na
procura de livros de literatura na biblioteca, pesquisei a temática, busquei
informações, resgatei histórias referentes à escola e dividi com meus alunos
minha curiosidade. Juntos, vivenciamos momentos de aprendizagem numa
relação de companheirismo, respeito e amizade num ambiente lúdico e criativo.
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Exploramos todos os espaços da escola, dialogamos com outras
turmas, entrevistamos professores, enfim, tomamos consciência do nosso
ambiente social. Saímos da sala de aula, nos apropriamos do mundo a nossa
volta e transformamos em conhecimento. Para Emília Ferreiro (1988, pág. 66):
A construção de um objeto de conhecimento implica muito mais que
mera coleção de informações. Implica a construção de um esquema
conceitual que permita interpretar dados prévios e novos dados (isto é,
que possa receber informação e transformá-la em conhecimento)
Realizamos muitas construções e vivenciamos momentos de descoberta
e prazer. Com o término do estágio percebi que havia estabelecido um diálogo
afetivo com meus alunos, em momento algum assumi a posição de detentora
do saber e sim, reconheci que todos de alguma forma são portadores de
conhecimento. Assumi minha condição de facilitadora de aprendizagem, criei
vínculo com meus alunos, promovi a autonomia numa relação de troca,
cumplicidade, respeito e confiança. Nesse sentido, Freire (1996, p.96) afirma
que:
O fundamental é que o professor
e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos,é
dialógica,aberta,curiosa,indagadora e não apassivada, enquanto fala ou
quanto ouve. O que importa é que o professor e alunos se assumam
epistemologicamente curiosos.
Penso que a escola deve ser um lugar para aguçar a curiosidade como
bem evidenciava Freire (1981, p.44):
Na etapa da alfabetização, o que se pretende não é ainda uma
compreensão profunda da realidade que se está analisando, mas
desenvolver aquela posição curiosa, estimular a capacidade crítica dos
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alfabetizando enquanto sujeitos do conhecimento, desafiados pelo
objeto a ser conhecido.
Mais do que isso, a escola deve ser um lugar especial para viver
momentos agradáveis e inesquecíveis que só a infância permite sentir e foi
exatamente isso que propiciei a meus alunos durante o estágio curricular.
Juntos, realizamos muitas construções, mas o mais importante é que
aprendemos tudo com significado lendo o mundo a nossa volta.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta reflexão procurou mostrar, entender e diferenciar métodos de
alfabetização e o quanto influenciam no processo de ensino e aprendizagem
dos alunos.
Este trabalho de conclusão propiciou-me uma excelente reflexão sobre
minha prática docente e minha caminhada acadêmica. Durante o estágio tive a
oportunidade de colocar em prática tudo que aprendi no PEAD, pude perceber
na prática como se constrói as aprendizagens relacionadas a embasamentos
teóricos e o quanto foi e está sendo fundamental para meu crescimento
profissional e pessoal.
Assim, num processo constante de avaliação e auto avaliação da minha
prática docente, penso que as aulas planejadas durante o estágio
supervisionado vão ao encontro dos objetivos propostos pelo PEAD, pois cada
temática trabalhada abrangeu todos os alunos que demonstraram interesse e
participaram com entusiasmo de todas as atividades, demonstrando que a
escola deve ser um espaço aberto para a curiosidade, a cooperatividade,
autonomia, humanização e transformação, cabendo a nós professores
aperfeiçoar cada vez mais nossas práticas, concretizando-as no ambiente
escolar num processo de reflexão constante como enfatizou Freire (1988 p.
p.36):
Parece-me interessante salientar que o fato de haver tratado várias
vezes este assunto não mata em mim nem sequer diminui um certo
estado de espírito, típico de quem discute pela primeira vez um tema. É
que, para mim, não há assuntos encerrados. É por isso que penso e repenso o processo de alfabetização como quem está sempre diante de
uma novidade, mesmo que, nem toda vez, tenha novidades sobre o que
falar. Mas, ao pensar e ao repensar a alfabetização, penso ou re-penso
a prática em que me envolvo.
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Tudo que senti e vivenciei no decorrer deste trabalho nada seria possível
sem a brilhante participação dos meus alunos que engrandeceram este
trabalho me legitimando enquanto profissional em formação
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REFERÊNCIAS:
[1] Publicado no Boletim Informativo 1 da secretaria Municipal de Educação do
Rio de Janeiro; Julho de 1989; Alfabetizar e Letrar: um diálogo entre a teoria e
a prática\ Marlene Carvalho-Petrópolis,RJ: Vozes, 2005
BECKER, Fernando. O que é construtivismo? in Educação e construção do
conhecimento. Porto Alegre: ARTMED, 2001.
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre Alfabetização. cortez editora,1988
FREINET, C. Pedagogia do Bom senso. São Paulo: MartinsFontes,1991
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1988
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 10. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 18.ed.Rio de Janeiro:Paz e
Terra,1988.
NEVADO, R.A. C. S Menezes, Carvallho, M.J.S. (2006) Educação à Distãncia
mediada pela Internet: uma abordagem interdisciplinar na formação docente.
RENOTE, v.4
OLIVEIRA, Batista. João Livro 3 Todas as Letras(Instituto Alfa e Beto)
OLIVEIRA, João Batista Araujo,ABC do ALFABETIZADOR (Instituto Alfa e
Beto,2008)
PIAGET. Jean. Psicologia e Epistemologia. Editora Forense Universitária, 1978
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica
1998
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1987.
WWW.instituto alfae beto acessado em 10-10-2010
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“Uma criança sempre me inspira duas coisas: ternura pelo que é, e respeito
pelo que poderá vir a ser.”
Paulo Freire
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Diferentes propostas de alfabetização: um olhar crítico