152 DETERMINAÇÃO DE BACTÉRIAS CAUSADORAS DE INFECÇÃO E INTOXICAÇÃO ALIMENTAR EM QUEIJOS DE CORTE (REQUEIJÃO NORDESTINO) COMERCIALIZADOS POR AMBULANTE EM FEIRAS LIVRES Karine Brandão Oliveira Rios ¹; Elinalva Maciel Paulo²; Jecicléa Souza Carvalho³; Ludmilla Teresa Ferreira de Lima Silva4 ; Suzi de Almeida Vasconcelos Barboni5 1. 2. 3. Iniciação Científica Voluntária, Graduando em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana , email: [email protected] Orientadora, Pos-doutorado no Centre Rapsodee/ Ecole des Mines DAlbi em Albi, França. Atualmente é professora adjunta da Universidade Estadual de Feira de Santana.(UEFS)., Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] Bolsista PIBIC/CNPq, Graduando em Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] 4. Bolsista FAPESB, Graduando em Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] 5. Doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (2003). Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Feira de Santana., Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana,e-mail: [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Queijo nordestino, segurança alimentar, infecção e intoxicação alimentar. INTRODUÇÃO Queijo de corte, também conhecido como requeijão do Nordeste é um tipo de queijo cuja produção é restrita à região nordestina (AQUINO, 1983). A sua fabricação e comercialização são atividades importantes para a economia regional, São desenvolvidos por pequenos produtores da zona rural, sendo largamente consumidos pela população local. Seu processamento consiste basicamente na coagulação do leite integral ou desnatado, dessoragem, acidificação e lavagem da massa com água e/ou leite, salga, fusão da massa com manteiga da terra, moldagem ou enformagem. Este queijo é comercializado em forma de barra, ficando exposto em ambientes insalubres (normalmente empoeirado e quente) sobre balcões de bares ou tabuleiros de ambulantes. O queijo de corte possui alto teor de proteínas , umidade na faixa de 54,9%, sendo classificado pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento (BRASIL,1996 ) como queijo de médio a alto teor de umidade. O pH final fica em torno de 5,5, sendo considerado um produto de média acidez (FRANCO; LANDGRAF, 2008). Estas características são propícias para a proliferação de muitas bactérias causadoras de infecção e/ou produtoras de metabólitos causadores de intoxicação ou processos alérgicos de origem alimentar, nos seres humanos (CÂMARA et al., 2002). Como representante destas bactérias podem ser citadas os Staphylococcus aureus, os Coliformes a 45° C, e as Salmonellas spp., veiculados por, utensílios e principalmente pelos manipuladores, que ao mesmo tempo em que vendem o produto recebem o dinheiro, sem qualquer cuidado higiênico. Assim, o objetivo deste trabalho consistiu em investigar as condições microbiológicas de amostras de queijo de corte comercializados na cidade de Feira de Santana. MATERIAL E MÉTODO Foram coletadas oito amostras de requeijão de corte na cidade de Feira de Santana, sendo provenientes de ambulantes de feira-livre e de comércio (padaria). No ato da coleta as amostras foram imediatamente acondicionadas em embalagem estéril, sendo imediatamente conduzidas ao Laboratório de Microbiologia Aplicada a Saúde publica – LAMASP, onde foram realizadas análises microbiológicas de Coliformes a 45º C/g, 153 Coliformes totais 30°C/g, Staphylococcus coagulase positiva, Salmonella spp., segundo a Instrução Normativa SDA nº62, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de 26 de agosto de 2003. 1. Contagem de coliformes a 30º C/g ou Coliformes totais – método tubos múltiplos (NMP) A partir de diluições 10-1 a 10-3 realizadas em solução salina 0,85%, foram inoculadas porções de 1mL de cada diluição em três séries de tubo com caldo lactosado, contendo no seu interior tubo de Duhram invertido. Estes tubos foram incubados a 35. ºC por 48h. Após o período de incubação as culturas que apresentaram presença de gás no tubo de Duhram, foram inoculadas para caldo Verde Brilhante, contendo no seu interior tubos de Durhan invertidos, utilizando alça de níquel cromo. Os tubos foram incubados a 35° C durante 24h, sendo depois realizada a leitura dos tubos positivos em uma tabela de números mais provável (NMP). 2. Contagem de coliformes a 45º C/g – método tubos múltiplos (NMP) A partir de diluições 10-1 a 10-3 realizadas em solução salina 0,85%, foram inoculadas porções de 1mL de cada diluição em três séries de tubo com caldo lactosado, contendo no seu interior tubo de Duhram invertido. Estes tubos foram incubados a 35. ºC por 48h. Após o período de incubação as culturas que apresentaram presença de gás no tubo de Duhram, foram inoculadas para caldo EC (contendo também no seu interior tubos de Durhan invertidos), utilizando alça de níquel cromo. Os tubos foram incubados a 45ºC / 24h, sendo depois realizada a leitura dos tubos positivos em uma tabela de números mais provável (NMP). 3. Contagem de Staphylococcuscoagulase-positiva Foi utilizada a diluição 10-1, da qual 0,1 mL foi semeada na superfície de dez placas contendo ágar Baird-Parker(acrescido de telurito de potássio a 3% e solução de ovo a 50%). Para cada amostra, o inóculo foi espalhado com o auxílio da alça de Drigaslky, as placas foram invertidas e incubadas a 35° C durante 48h. A partir das colônias típicas (enegrecidas brilhantes com halo esbranquiçados e/ou transparente) foram realizadas as provas de catalase e coagulase. 4. Pesquisa de Salmonella spp. 25 g de cada amostra foram transferidos para frascos contendo 225 mL de caldo de préenriquecimento e incubados a 35°C durante 18 a 24h. Posteriormente, foi realizado o enriquecimento seletivo:1mL de cada amostra foi transferido para 1 tubo, contendo Tetrationato ,incubados a 35° C durante 24h. O plaqueamento diferencial foi realizado a partir dos tubos incubados, semeando através de estrias uma uma alçada do caldo Tetrationato na superfície do ágar XLD e Hektoen. A leitura foi realizada pela identificação de colônias típicas (presuntivas) de Salmonella nos respectivos meios. RESULTADOS E DISCUSSÃO Amostra NMP/g de coliformes a 45°C 1 2 3 4 5 6 7 8 <3 <3 93 290 <3 <3 >1100 >1100 NMP/g de Coliformes Totais/ a 30°C <3 14 93 >1100 >1100 >1100 >1100 >1100 154 Tabela 1. Resultados das amostras para Coliformes. Legenda 1: NMP/g: Número Mais Provável por grama Tabela 2. Resultados das amostras para Staphylococcus. Amostra Colônias presuntiva de Staphylococcus spp. (UFC/g) Colônias confirmadas de Staphylococcus coagulase positiva (UFC/g) 1 1x105 UFC/g 2 1x10 4 UFC/g est. 3 5,4x10 5 UFC/g est. 4 8x105 UFC/g est. 5 1,4 x 10 6 UFC/g est. 6 2,1 x10 5 UFC/g est. 7 1,0 x105UFC/g est. 8 9 x10 4 UFC/g Legenda 2: UFC/g: Unidade Formadora de Colônia por grama 2,8 x 104 < 10 7,2 x 104 1,1 x 104 5,6 x 105 2,1 x 105 9,0 x 104 4,2 x 104 Tabela 3. Resultados presuntivos nos meios Hektoen e XLD para Salmonella nas amostras de queijo manteiga. Amostra Salmonella spp. 1 ausente 2 presente 3 ausente 4 ausente 5 ausente 6 ausente 7 ausente 8 ausente Das oito amostras de Coliformes totais/30°C, todas estão dentro dos padrões da legislação, segundo o Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, na Portaria Nº 146, De 7 De Março De 1996, estando abaixo da tolerância para amostra indicativa que nessa portaria para queijos de média umidade é de 5000 NMP/g. As análises para coliformes 45°C quando comparadas aos valores para queijos de média umidade (BRASIL,1996) indicaram que a maioria dos resultados encontram-se abaixo do valor estabelecido pela RDC nº12 de 02 de janeiro de 2001 da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária):das oito amostras duas apresentam valores maiores que 1000 NMP/g, já que a tolerância para amostras indicativas é a composta por um número de unidades amostrais inferior ao estabelecido em plano amostral constante na legislação específica de 103 NMP/g. Como visto, na tabela 1, seis das oito amostras estão abaixo de 3 NMP/g,deste modo, para coliformes a 45°C, todas as seis estão em conformidade com a legislação e as duas últimas amostras não atendem a legislação para este parâmetro, já que encontram-se acima do limite estabelecido. Nas placas que apresentaram colônias características para S.aureus, foram realizadas a contagem das colônias típicas e selecionadas 15 colônias para realizar os testes de confirmação (catalase e coagulase). Os resultados obtidos para estafilococos indicaram que somente uma amostra se encontra dentro dos níveis aceitáveis pelo padrão microbiológico conforme a RDC nº12 de 02/01/2001, para queijos de média umidade, onde a tolerância para amostras 155 indicativas é de 10³ UFC/g. Sendo que sete amostras encontram-se com valores muito acima do estabelecido por essa legislação. No caso das amostras com valores de Staphylococcus coagulase positiva acima do limite recomendado pela legislação, deve-se as condições precárias de manipulação do produto, já que ao mesmo tempo em que os vendedores manipulam o produto também recebem o dinheiro, havendo contato do manipulador com o alimento. Nas pesquisas para Salmonella, sete amostras apresentaram ausência de colônias típicas no teste presuntivo ( meios Hektoen e XLD), satisfazendo legislação da ANVISA (RDC nº12, de 02/01/2001), que preconiza ausência deste microrganismo nas amostras. Porém uma amostra houve crescimento de bactérias típicas nos meios presuntivos para Salmonella . Assim como os coliformes a 45ºC, a principal fonte de contaminação de Salmonella é de origem fecal. Como pode ser observado o microrganismo em questão é de risco a vida da população, devido a esse fato, a legislação determina ausência deste para a Salmonella em todos os alimentos listados na RDC n°12 de 02 de janeiro de 2001. CONCLUSÃO De acordo com os dados obtidos é possivel inferir que existe precariedade nas condições higiênicas da manipulação durante a comercialização das amostras de queijo de corte analisadas, já que foi encontrado alto índice de Staphylococcus coagulase positiva nas amostras. Este microrganismos é encontrado normalmente na pele, mãos, nariz, boca e cabelos de seres humanos. Quanto a presença de coliformes em altas concentrações em duas amostras e resultado presuntivo para Salmonella em uma das amostras, pode também ser consequência de práticas inadequadas de higiene dos manipuladores, já que estes microrganismos normalmente estão presentes nas fezes dos seres humanos. REFERÊNCIAS AQUINO, F.T.M. Produção de queijo de coalho no Estado da Paraíba: acompanhamento dascaracterísticas físico-químicas do processamento. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos). João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 1983. BRASIL, MINISTÉRIO Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 30, de 26 de junho de 2001. Brasília: Diário Oficial da União, 2001. BRASIL. Ministério da Agricultura. Portaria no° 146, de 7 de março de 1996. RegulamentoTécnico de Identidade e Qualidade de Queijos.Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 02/01/2001.Disponível em: <http://www.cidasc.sc.gov.br/html/servico_animal/Inspecao%20Animal/ORIENTA%C 7%D5ES%20SOBRE%20ROTULAGEM/LEITE%20E%20DERIVADOS/PORTARIA %20146_96_RTIQ%20produtos%20l%E1cteos.pdf >. Acesso em 07fev.2012 , 22:30. BRASIL, Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº. 12, de 02 de janeiro de 2001. RegulamentoTécnico sobre os Padrões Microbiológicos para Alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 2001. Disponível em:<http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_01rdc.htm>. Acesso em 06 jan. 2012, 20:00. CÂMARA, S.A.V. etal.Avaliação microbiológica de queijo tipo minas frescal artesanal, comercializados no mercado municipal de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. RevistaHigiene Alimentar, v.16, n.101, p.32-36, 2002. FRANCO, B, D. M.G.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos alimentos. São Paulo: Editora Atheneu, 2008.