PERCEPÇÕES DOS ALUNOS SOBRE O ENSINO DE NUTRIÇÃO E DIETOTERAPIA, EM UM CURSO DE GRADUAÇÃO NO PARANÁ Vanessa T. K. Scremin – [email protected] Marcia R. Carletto – [email protected] Universidade Tecnológica Federal do Paraná Ponta Grossa - Paraná Resumo: O estudo visou identificar lacunas e desafios a serem enfrentados pela disciplina de Dietoterapia, diante das demandas atuais para formação do profissional nutricionista. Participaram do estudo 22 formandos de um curso de Nutrição, no Paraná. O curso oportunizou aos formandos instrumentalização técnica segura para que possam atuar e sentem-se preparados para o mercado de trabalho. Reconheceram a importância da disciplina Dietoterapia para sua formação, contudo perceberam a necessidade de um incremento nas atividades práticas com variação dos locais das aulas práticas. A formação do nutricionista precisa empenhar-se pela superação de algumas lacunas, como o número de aulas práticas. O estudo indica caminhos de melhoria para a efetivação de disciplinas como Dietoterapia, que tem como missão capacitar futuros nutricionistas a atuarem como agentes de mudança de comportamento junto aos seus pacientes, visando à recuperação e ao aumento da qualidade de vida. Palavras-chave: Nutrição, Ensino superior, Educação em saúde 1 INTRODUÇÃO Desde a década de 1980, o Brasil vem passando por grandes transformações sociais, econômicas e culturais, desencadeadas por processos conhecidos como transição demográfica, epidemiológica e nutricional. Associadas, estas transições ocasionaram mudanças no padrão de saúde e consumo alimentar em todas as camadas da população brasileira, com destaque ao aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão arterial sistêmica. Outra consequência marcante deste processo é a mudança do estado nutricional da população, com redução dos casos de desnutrição e ascensão do excesso de peso, tanto sobrepeso como obesidade. Este novo cenário nutricional brasileiro gera novas demandas para a formação do nutricionista, na medida em que necessita se apropriar de competências necessárias à construção de uma visão crítica e ampla da situação dos pacientes, de modo a considerar não só aspectos biológicos, mas também os socioeconômicos, culturais e políticos. Hoje, os cursos de Nutrição são divididos em três grandes áreas: a área de Unidade de Alimentação e Nutrição – UAN, área de Saúde Pública e área Clínica. Dentro da área Clínica, voltada para a saúde do indivíduo, temos a disciplina de Dietoterapia. Ao estudo da Dietoterapia compete as adequações da alimentação que o tratamento de diferentes doenças exige, com o intuito de recuperar e preservar a saúde das pessoas (LONGO & NAVARRO, 2002). Assim, o objetivo deste estudo está focado em identificar lacunas e desafios a serem enfrentados pela disciplina de Dietoterapia, diante das demandas atuais para a formação do profissional nutricionista. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Atualmente, o Brasil enfrenta processos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional, que desencadearam mudanças no processo saúde/doença do brasileiro. A transição demográfica é marcada por diversos fatores, como o aumento da expectativa de vida, a redução da mortalidade infantil, a diminuição da taxa de fecundidade, o aumento da população urbana e as modificações na estrutura de empregos e ocupações, com redução das ocupações nos setores extrativos e da agricultura (RINALDI et al., 2008; TARDIDO & FALCÃO, 2006). Em conjunto, ocorre a transição epidemiológica, caracterizada por um processo de mudança na incidência ou na prevalência de doenças e nas principais causas de morte, ao longo do tempo. Característica marcante deste processo é a substituição das doenças transmissíveis ou infecciosas por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e causas externas (GOTTLIEB et al, 2011; SCHRAMM et al., 2004). A transição nutricional desenvolve-se associada a estas duas transições já citadas. É a mudança do estado nutricional da população, em todos os estratos sociais e faixas-etárias. Resulta, em parte, de modificações do estilo de vida, da alteração do padrão dietético e da inatividade física e determinada pela inter-relação dos fatores econômicos, demográficos e culturais ocorridos na sociedade durante o processo de modernização mundial (RINALDI et al., 2008). Wanderley e Ferreira (2010) afirmam que a transição nutricional é caracterizada pela passagem da desnutrição para a obesidade. Neste período, a obesidade se consolidou como agravo nutricional associado à alta incidência de outras DCNT, como as doenças cardiovasculares, câncer e diabetes, determinando as mudanças nos padrões de morbimortalidade da população (KAC & VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, 2003). O Ministério da Saúde, em 2013, divulgou os resultados de uma pesquisa realizada durante o ano de 2012, que revelou a ascensão da obesidade no país. A proporção de pessoas acima do peso avançou de 42,7%, em 2006, para 51%, em 2012 e o percentual de obesos subiu de 11,4% em 2006 para 17% em 2012 (BRASIL, 2013). A mudança dos hábitos alimentares do brasileiro é considerada um dos fatores determinantes do crescimento dos casos de obesidade. De acordo com Souza (2010), é evidente o aumento do consumo de ácidos graxos saturados, açúcares, refrigerantes, álcool, produtos industrializados com excesso de ácidos graxos “trans”, carnes, leite e derivados ricos em gorduras, guloseimas como doces, chocolates, balas, entre outros. Em contrapartida, houve redução considerável no consumo de carboidratos complexos, frutas, verduras e legumes. Estes novos hábitos alimentares geram um excesso calórico por conta da elevada ingestão de macronutrientes e, em contrapartida, ocorre a deficiência de micronutrientes. Assim, surge uma nova característica do processo de transição nutricional brasileiro: carências nutricionais de alguns micronutrientes, assim como as anemias nutricionais. Desta maneira, a transição nutricional brasileira adquiriu uma característica marcante: a ascensão do excesso de peso e a obesidade ocorrem, simultaneamente, aos agravos relacionados à carência de alimentos, como desnutrição e anemias carenciais (WANDERLEY & FERREIRA, 2010). Esta característica torna-se um grande desafio para o desenvolvimento de políticas públicas e para os profissionais de saúde. O cenário atual necessita de um modelo de atenção à saúde, voltado para a integralidade do indivíduo, com foco na promoção da saúde, conforme afirmam Coutinho, Gentil e Toral (2008). Desta forma, o profissional de saúde, incluindo o nutricionista, deve ser preparado com este perfil a partir da sua formação acadêmica. Para atuar como promotor da saúde é preciso que o graduando em Nutrição seja preparado para entender que se deve trabalhar o individuo na sua totalidade. Esse fato nos remete a pensar na formação voltada para a integralidade, conceito que tem, como um de seus sentidos, o atendimento ao paciente que não se reduza à compreensão dos processos biológicos envolvidos na doença, mas que seja pautado pela escuta e consequente percepção das necessidades mais amplas do sujeito (STAHLSCHMIDT, 2012). Porém, é possível observar que atualmente diversas características dos cursos de graduação em saúde acabam dificultando a formação do profissional com estas características. O ensino compartimentalizado em disciplinas é uma destas características que dificultam o processo de formação. Sobre isso Kopruszynski e Vechia (2011) acreditam que este modelo curricular tende a formar profissionais preparados para uma visão segmentada do paciente, com ênfase nas doenças, e não os capacitam para atuarem como promotores da saúde integral do ser humano. Esse modelo de formação desfavorece a visão crítica e ampla do futuro profissional. Outro fator complicador para o desenvolvimento da visão pautada na totalidade é a formação sobrecarregada pelas ciências biológicas, em detrimento de uma formação mais sólida em aspectos político-sociais, como afirma Boog (2008). Assim, os profissionais tendem a desenvolver práticas educativas pautadas na perspectiva biologicista, conteudista, normativa e cientificista e não conseguem obter sucesso. Gazzinelli et al. (2005) coloca que este modelo de prática educativa impossibilita a mudança efetiva de comportamento, já que a aquisição ou a transmissão de conhecimentos por si só não são suficientes para provocar a mudança, de modo a atingir o objetivo de promover a saúde. É assim que a formação do nutricionista tem se mostrado insuficiente frente às necessidades de saúde da população e pouco sensível ao entendimento de outros fatores, além dos biológicos, como questões políticas, socioeconômicas e culturais, que interferem no adoecimento e na manutenção da saúde de diferentes grupos sociais, assim como atuam na construção da conjuntura alimentar da população (FERNANDEZ, 2009). Nesta perspectiva, é preciso oportunizar um ensino que estimule a visão crítica e ampla do acadêmico, capaz de observar o indivíduo como um todo. Para isto, aliar a teoria à prática durante todo o curso facilitaria esta formação, aproximando o estudante de situações que vivenciará em sua prática profissional. Como mostra Boog (2008), as tendências mais recentes na educação apontam para a necessidade de voltar o ensino para a realidade da vida profissional futura, empregando uma metodologia presidida pela pesquisa-ação como importante estratégia de aprendizagem, de forma a propiciar a reflexão constante, tão necessária para construir e reconstruir a teoria a partir da prática, aprendendo a lidar com o inesperado. Pedroso e Cunha (2008) afirmam que a articulação entre a teoria e a prática constitui uma das possibilidades de transformação do ensino nas universidades, é o eixo dinamizador de inovações didático-curriculares. Esta necessidade de aliar a teoria à prática está descrita nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) dos cursos de graduação em Nutrição (BRASIL, 2001), o Art. 14, no inciso II, coloca que a estrutura do curso deve garantir que as atividades teóricas e práticas estejam presentes desde o início do curso, permeando toda a formação do Nutricionista, de maneira integrada e interdisciplinar. Além disso, colocar o aluno como sujeito do processo ensino-aprendizagem através da utilização de metodologias ativas é mais uma maneira de superar os desafios da mudança na formação profissional. A utilização de metodologias ativas possibilita a formação crítica e reflexiva, já que tem como eixo central a participação ativa dos estudantes em todo o processo, incluindo todos os novos e diferentes cenários de prática. Assim, o aluno aprende a aprender, garantindo que só se aprende a fazer, fazendo (FERNANDES et al., 2003). Nas metodologias ativas de ensino-aprendizagem os estudantes ocupam o lugar de sujeitos na construção da sua aprendizagem, tendo o professor como facilitador e orientador. Desta forma, torna-se possível a formação de profissionais críticos, criativos, reflexivos, com compromisso político e capazes de enfrentar os problemas complexos que se apresentam na sociedade e na área da saúde (FERNANDES et al., 2005). Diante deste contexto, torna-se evidente a necessidade de mudanças no processo de formação do profissional nutricionista, para que sejam formados profissionais preparados e capazes de atuar de forma efetiva de acordo com a realidade da sociedade na qual estão inseridos. 3 METODOLOGIA Para dar conta do objetivo proposto para este estudo, realizou-se uma pesquisa de caráter exploratório e natureza interpretativa. O estudo desenvolvido partiu da seguinte questão norteadora: como estão sendo preparados os alunos, de um curso de Nutrição, para enfrentarem os desafios decorrentes da transição nutricional e atuarem como verdadeiros promotores da saúde na prática clínica? O estudo envolveu 22 alunos formandos de um curso de Nutrição, de uma Instituição de Ensino Superior (IES), do estado do Paraná. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário, com questões mistas, sobre o ensino no curso de Nutrição e, em especial, na disciplina de Dietoterapia, disciplina ministrada por uma das pesquisadoras. Participaram do estudo os 22 alunos que cursavam o sétimo período do curso de Nutrição e já haviam cursado a disciplina de Dietoterapia, no semestre anterior. A escolha do público-alvo foi intencional, desde que se entende que os alunos formandos possuem uma visão mais ampla do curso e capacidade de análise do aprendizado recebido. Os resultados encontrados nas questões fechadas foram tabulados em planilha do Excel e, em seguida, transformados em porcentagem. As questões abertas referiam-se à disciplina de Dietoterapia 2, cujos dados foram confrontados, semelhanças e diferenças foram agrupados, donde emergiram 4 categorias: avaliação da disciplina por parte dos alunos, quantidade e qualidade das aulas práticas, eficiência das atividades avaliativas e possíveis mudanças na disciplina. Como garantia de anonimato, a identificação dos participantes do estudo se deu por meio de letras alfabéticas. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Participaram do estudo 22 acadêmicos, sendo 21 (95,45%) do sexo feminino e 1 (4,55%) acadêmico do sexo masculino, todos cursando o 7° período do Curso de Nutrição. Grande parte da amostra, 18 alunos (81,82%), tinham idade entre 21 e 25 anos, 2 (9,09%) entre 26 e 30 anos e 2 (9,09%) na fixa etária entre 30 e 40 anos. Dos acadêmicos participantes do estudo, 21 (95,45%) estudam na instituição de ensino em questão desde o início do curso e apenas 1 (4,55%) acadêmico iniciou o curso em outra instituição, sendo transferido para a atual enquanto cursava o primeiro período do curso. Desta forma, manteve-se o acadêmico na amostra, pois este, assim como os outros, estudou na instituição por um bom período de tempo, sendo possível ter uma visão ampla e capacidade de análise do aprendizado recebido. O curso de Nutrição é a primeira graduação para 20 (90,9%) dos acadêmicos e 2 (9,09%) já são graduados, um em Tecnologia de Alimentos e outro em Fisioterapia. O questionário utilizado para coleta de dados abordou diversas questões sobre o curso de Nutrição, sobre o ensino e aprendizagem oportunizados durante o curso e questões relacionadas à percepção dos alunos sobre estes aspectos. Foi dada maior ênfase às disciplinas voltadas à área clínica da Nutrição, de maneira especial, à disciplina de Dietoterapia 2. A seguir, passa-se a relatar os resultados encontrados nas questões objetivas do questionário. Quando questionados sobre a instrumentalização técnica fornecida durante o curso para a formação de profissionais nutricionistas, 14 (63,64%) estudantes consideraram que as disciplinas proporcionaram uma instrumentalização efetiva e 8 (36,36%) consideraram parcialmente efetiva. Porém, quando foram questionados sobre a segurança e preparo para atuarem efetivamente como nutricionistas, a maior parte dos alunos, 17 (77,27%), considerouse parcialmente preparados e apenas 5 (22,73%) relataram que sentem-se efetivamente preparados para atuar profissionalmente. O resultado encontrado pode estar relacionado ao sentimento de insegurança que assombra os estudantes nesta etapa final de formação. De acordo com Bardagi et a (2006), o período final da formação é marcado pela insegurança dos alunos frente ao início da atividade profissional. É comum o sentimento de responsabilidade aumentar e predominarem os sinais de impotência e a sensação de pouco saber para enfrentar o mundo do trabalho. Quanto à oportunidade oferecida durante o curso para a reflexão sobre o significado de ser nutricionista, 12 (77,27%) acadêmicos relataram que o curso sempre oportunizou este momento, porém 5 (22,73%) deles afirmaram que esta discussão ocorreu parcialmente. Ainda relacionado a esta questão, 12 (54,55%) acadêmicos afirmaram que as experiências que tiveram durante o curso possibilitaram ter noção de como se deve agir como nutricionista, enquanto 10 (45,45%) deles relataram que as experiências vividas foram parcialmente suficientes. Os acadêmicos, também, foram questionados sobre a contribuição das disciplinas e/ou conhecimentos básicos para a formação de conceitos necessários para sua futura profissão: 18 (81,82%) alunos responderam que estas disciplinas e conhecimentos sempre contribuíram para a sua formação e 4 (18,18%) alunos consideraram que estas disciplinas contribuíram parcialmente para a sua formação e atuação profissional. As disciplinas citadas foram Química Geral, Biomorfologia, Bioquímica, Microbiologia, Patologia Geral, Imunologia, Bioquímica dos Alimentos, Microbiologia dos Alimentos e Anatomia Humana. A partir desse momento, particularizou-se o estudo para questões referentes à disciplina relacionadas à área clínica da Nutrição. Foram questionados sobre a contribuição das disciplinas ligadas à área clínica para a formação profissional para atuar nesta área, a saber: consultórios, hospitais, clínicas, casas de repouso, entre outros. As disciplinas citadas na questão foram: Avaliação Nutricional, Patologias da nutrição, Nutrição e Dietética, Dietoterapia e Dietoterapia Materno Infantil. Dos 22 acadêmicos envolvidos no estudo, 20 (90,9%) responderam que estas disciplinas contribuíram para sua formação profissional e 2 (9,09%) alunos relataram que as disciplinas contribuíram parcialmente. Quanto à evolução do pensamento inicial do que é ser nutricionista, 16 (72,72%) alunos afirmaram que as práticas vivenciadas em atividades que possibilitaram o contato com pacientes, com a realidade, contribuíram para a modificação do pensamento inicial e 6 (27,27%) relataram que estes momentos práticos contribuíram parcialmente. Sobre a disciplina de Dietoterapia, 21 (95, 45%) acadêmicos relataram que a mesma oportunizou conhecimentos, reflexão e desenvolvimento de visões e posturas críticas a respeito das contradições presentes na clínica do nutricionista e 1 (4,54%) afirmou que a disciplina oportunizou estes momentos parcialmente. As questões abertas apresentadas a seguir, referem-se ao ensino e aprendizagem na disciplina de Dietoterapia 2. As questões foram analisadas com referência à avaliação da disciplina na perspectiva dos alunos, quantidade e qualidade das aulas práticas, eficiência das atividades avaliativas e possíveis mudanças na disciplina. Nas respostas fica nítido que os alunos reconhecem de forma unânime a importância da disciplina de Dietoterapia para a sua formação e o bom rendimento em sala de aula, conforme se verificou nas respostas de diferentes acadêmicos, como: “A disciplina teórica nos mostrou como agir e quais as condutas seguir em diferentes casos e, junto com a prática, reforçou ainda mais nosso conhecimento, pois mostrou a realidade no consultório” (Aluno L) e “na minha visão foi uma das matérias mais importantes, pois nos inteirou das doenças e, também, dos tratamentos dietéticos de cada uma” (Aluno A). Os acadêmicos também reconheceram a importância da disciplina e do profissional em relação a problemas de saúde pública, conforme ficou evidenciada no seguinte comentário do aluno G: “Todo conteúdo proposto refere-se a doenças que vêm tendo alta prevalência na população, seja ela de classe alta, média ou baixa e o estudo dessas doenças vem sendo de grande importância para a saúde pública”. Assim, percebe-se que os alunos realmente aceitaram a disciplina como essencial para a área clínica e, também, para a área de saúde coletiva, já que aborda as DCNT, em ascensão em nossa população. Pontos de melhoria citados por 12 (54,54%) dos 22 alunos foram a carga horária e o número de aulas práticas. O aluno B citou “Tanto a Dietoterapia 1 quanto a 2 precisam de uma carga horária maior, pois o conteúdo é muito extenso e falta tempo para abordagem de dúvidas”, já o aluno J afirmou “A disciplina é muito importante para a formação, mas acho que deveria ter mais aulas práticas, casos clínicos reais, aulas mais dinâmicas e perto da realidade” e o aluno V confirmou “...acho que é apenas com a prática que conseguimos realmente aprender”. Os dois últimos comentários, dos alunos J e V, vêm ao encontro do que é proposto pelas DCN’s dos cursos de graduação em Nutrição (BRASIL, 2001), a qual recomenda que as atividades teóricas e práticas estejam presentes desde o início do curso, permeando toda a formação do Nutricionista, de maneira integrada e interdisciplinar. De acordo com Franco e Boog (2007), a dicotomia entre a teoria e a prática na graduação é um complicador do bom desempenho profissional, pois dificulta o entendimento do contexto no momento da prática. O ensino não pode priorizar a teoria ou a prática, mas pode propiciar que as duas andem juntas, constituindo uma totalidade, para que todo potencial de ensino seja alcançado. As aulas práticas na disciplina de Dietoterapia 2 ocorreram através de atendimentos na clínica de Nutrição da instituição e a carga horária destinada a estas aulas foi 50% da carga horária total da disciplina. Ao serem questionados a respeito, alguns acadêmicos relataram que o número da práticas não foi suficiente para aplicar, na prática, toda a teoria vista em sala de aula, como escreveu o aluno B “Acho que poderíamos ter tido mais aulas práticas para reforçar ainda mais o que foi estudado em sala de aula” e o aluno F afirmou “... apesar de atendermos diversos pacientes com patologias ou interesses diferentes, ainda faltou colocar algumas aulas teóricas em prática”. Outro ponto destacado pelos alunos foi a baixa procura por parte dos pacientes, fator que dificultou as aulas práticas, o comentário do acadêmico P exemplifica esta situação “...poderia ser melhor se os pacientes comparecessem e retornassem às consultas, o número de aulas era suficiente, mas o comprometimento dos pacientes deixou a desejar”. Como as aulas práticas ocorreram apenas na clínica da instituição, alguns alunos perceberam que o público atendido não foi suficiente para aplicar todos os conteúdos abordados em aula teórica, como afirmou o aluno D “nem sempre pudemos aplicar todo o conhecimento, pois os pacientes nem sempre apresentavam as doenças abordadas em sala de aula” e o aluno E complementou “...teve matérias que adquirimos em teoria, mas não conseguimos atender nenhum paciente e poder vivenciar a realidade”. Sugestões para superar as dificuldades apresentadas em relação às aulas práticas foram citadas pelos alunos, como: realizar visitas técnicas a hospitais para ter contato com situações do âmbito hospitalar, atender grupos específicos de pacientes e atividades práticas simuladas. Sabendo das dificuldades enfrentadas nas aulas práticas, foram propostas atividades avaliativas, que em sua grande parte eram estudos de caso. Sobre essas atividades, os alunos responderam de forma unânime que foram úteis ao aprendizado, como pode ser observado nos comentários que seguem “...precisamos aprofundar os conhecimentos para responder e fixamos melhor o conteúdo”, “...os estudos de caso nos deixaram mais perto da realidade” e o último comentário “...através dos estudos de caso nos deparamos com as dificuldades que poderemos encontrar na prática clínica”. Na última questão aberta, foi questionado sobre possíveis mudanças nas aulas práticas, como a sua realização em outros locais (hospitais, clínicas e ambulatórios) e, também, foram solicitadas sugestões para melhorar a disciplina. Todos os acadêmicos afirmaram que as aulas práticas em outros locais enriqueceriam a disciplina e incrementaria o aprendizado, como pôde ser verificado no comentário do acadêmico C “atenderíamos mais pessoas e talvez de diferentes classes sociais, em ambientes e casos diferentes, isso nos deixaria mais preparados para o campo de trabalho depois de formados”, o acadêmico D disse “Em locais diferentes existem quadros clínicos diferentes, que nem sempre são encontrados na clínica de Nutrição” e o comentário foi complementado pelo acadêmico F: “...o público seria diferente e conseguiríamos colocar toda nossa teoria em prática” . Como sugestão para melhorar a disciplina, os acadêmicos sugeriram aulas práticas em locais diferenciados, aulas mais dinâmicas e com atividades em campo. Em resumo, pode-se dizer que os alunos consideraram que o curso oportunizou instrumentalização técnica para atuarem com segurança na prática profissional e sentem-se preparados para enfrentar o mercado de trabalho. Em relação à disciplina de Dietoterapia, relataram um bom conhecimento, mas perceberam a necessidade de um incremento nas atividades práticas com variação dos locais das aulas práticas, como por exemplo, em hospitais. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A realidade atual evidencia um novo perfil nutricional da população brasileira, situação que torna a intervenção nutricional urgente e necessária. Para enfrentar esta situação o profissional nutricionista deve estar preparado para atuar como promotor da saúde e atender o indivíduo em sua totalidade e, para isso, deve ser preparado desde a sua formação acadêmica, para o exercício desta atividade. Para tanto, a formação do profissional nutricionista precisa trabalhar pela superação de algumas lacunas. A principal delas, identificada nos comentários dos acadêmicos, foi o número de aulas práticas insuficientes para aplicar toda a teoria vista em sala de aula e baixa procura por parte dos pacientes dificultando as aulas práticas. Uma das maneiras de facilitar o aprendizado é integrar a teoria e a prática durante as disciplinas do curso e, principalmente, na disciplina de Dietoterapia. Trazer o aluno para perto de situações que vivenciará em sua futura profissão, através de variadas situações práticas, facilitará o desenvolvimento das competências e habilidades exigidas do profissional. Além disso, é preciso lançar mão de metodologias ativas no processo de formação e colocar o aluno como sujeito e responsável por sua formação e aprendizagem. Assim, é possível afirmar que uma necessidade emergente no curso, que pode contribuir para que as mudanças necessárias no processo de formação ocorram, é colocar o acadêmico em contato maior com a prática, a aproximá-lo ao máximo de sua realidade de trabalho durante toda a sua formação, como recomendam as DCN’s dos cursos de Nutrição. Pode-se então destacar como sugestões propostas pelos acadêmicos para melhoria da disciplina de Dietoterapia, a realização de visitas técnicas a hospitais, atender grupos específicos de pacientes e atividades práticas simuladas. Novamente, identifica-se o potencial das aulas práticas, para enriquecerem a disciplina e otimizar o aprendizado. Por fim, destaca-se que os dados levantados oportunizam a reflexão crítica sobre o perfil dos egressos dos cursos de nutrição, se o objetivo é formar profissionais preparados para atuarem de maneira efetiva na promoção de práticas alimentares saudáveis. Assim como, indica caminhos de melhoria para a efetivação de disciplinas, como a de Dietoterapia, que tem como missão capacitar os futuros Nutricionistas a atuarem como agentes de mudança de comportamento junto aos seus pacientes, visando sua plena recuperação e aumento da sua qualidade de vida. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDAGI, M.; LASSANCE, M. C.; PARADISO, A.; MENEZES, I. Escolha profissional e inserção no mercado de trabalho: percepções de estudantes formandos. Rev Semest ABRAPEE, v.10, n.1, p.69-82, 2006. BOOG, M. C. F. Atuação do nutricionista em saúde pública na promoção da alimentação saudável. Rev Cien Saúde, v.1, n.1, p.33-42, 2008. BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução n°. 5, de 7 de novembro de 2001. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Nutrição. DOU (09/11/01). BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. 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The study provides opportunities for improvement in the effectuation of disciplines such as Diet Therapy, whose mission is to train future nutritionists to act as agents of behavior change with their patients, seeking recovery and increased quality of life. Key-words: Nutrition; Higher Education; Health Education