Área: A Universidade na Sociedade do Conhecimento
A motivação em ambientes de aprendizagem – nível superior
Geraldo de Magela Carvalho Oliveira
Renata dos Santos Luz de Oliveura
Resumo: Sempre que se fala ou lê sobre motivação há o consenso da importância deste
aspecto do comportamento humano por todos os autores que a consideram como
fundamental seja em relação ao meio empresarial ou educacional. Tanto quanto se fala
em motivação também se confunde o que é e o que deixa de ser realmente motivação.
Muitos mal entendidos existem sobre motivação e talvez por isso seja tão difícil encontrar
pesquisas recentes sobre este assunto principalmente em
relação à Educação. A
compreensão do fenômeno motivacional, especialmente envolvendo a
relação com
aprendizagem e o conhecimento, impõe, de início, o destrinchamento da terminologia do
campo da psicologia frequentemente associada ao comportamento humano e necessário
à construção das categorias motivacionais. Sabe-se que a era do conhecimento exige que
o indivíduo seja capaz de refletir, tomar decisões e aprender. É notável que a
aprendizagem aconteça através de uma interação entre sujeito e objeto e que neste
complexo processo, muitos fatores estão envolvidos. Dentre estes fatores, a motivação
constitui-se uma ativadora do processo. A velha prática das aulas monótonas e atividades
repetitivas, que se mantém resistente em muitas escolas, acabam desmotivando os
alunos e interferindo na aprendizagem. Nas escolas conservadoras em questão, em uma
turma de alunos, todos costumam fazer a mesma atividade ao mesmo tempo, o que
acaba padronizando os alunos. A escola parece desconhecer a necessidade que cada ser
humano tem em ser diferente um do outro. Através deste tipo de tratamento, o meio pode
inibir o potencial genético do aluno. Nota-se que muita capacidade criativa é subestimada.
O ambiente de aprendizagem também pode interferir no processo de aprendizagem. Os
estímulos do ambiente são importantes desde o nascimento do ser humano. O
desenvolvimento intelectual depende em grande parte destes estímulos iniciais, pois
grande parte da capacidade cognitiva é desenvolvida nos primeiros anos de vida. Pode-se
concluir através disto, que a criança que recebeu poucos estímulos, pode chegar à escola
com parte de sua capacidade intelectual comprometida. Através disto, verifica-se a
necessidade de que o professor oportunize atividades e disponibilize recursos, variados
para que o aprendiz se desenvolva de acordo com seu ritmo de aprendizagem. Compete
principalmente à escola, como um todo, estimular no aluno o prazer por aprender. Se a
sociedade precisa de cidadãos empreendedores, capazes, questionadores, que buscam
aprender sempre, a escola precisa mudar a concepção que tem do aluno. A motivação
intrínseca, ou verdadeira motivação é a ação impulsionada por fatores internos e
individuais, enquanto que a motivação extrínseca é apenas a movimentação que surge
como reação aos estímulos vindos do ambiente. O aluno motivado é persistente no
estudo e os motivos que os levam agir assim está essencialmente ligado à satisfação de
necessidades pessoais e sociais. Assim concluiu-se que o ser humano é complexo e
variável e muitas pesquisas ainda são necessárias para compreender a fundo os
aspectos psicológicos envolvidos na motivação para a aprendizagem.
Palavras-Chave: Aprendizagem, Motivação, Ambientes.
Introdução
A aquisição do conhecimento não é um objeto de estudo recente. Filósofos gregos
e até mesmo, pessoas não ligadas a área da educação como Piaget, buscaram respostas
para os processos de construção do conhecimento. Jean Piaget foi um biólogo que
dedicou longos anos de estudo sobre a origem do conhecimento. O biólogo descobriu que
o conhecimento não está no objeto e nem no sujeito, o que permitiu a ele formular uma
nova teoria sobre o conhecimento.
Construir conhecimento ou aprender, implica em um processo complexo, onde
vários fatores estão relacionados. Dentre eles, pode-se destacar a motivação, pois ela é o
ponto de partida para a vida intelectual [3].
Uma pessoa é motivada por vários fatores internos e externos. A força de cada
motivo e o padrão de motivos influem na maneira como vemos o mundo, nas coisas em
que pensamos e nas ações em que nos empenhamos [7].
No contexto escolar, podemos considerar como fatores externos de motivação
para o aluno, o currículo escolar, o professor, assim como os estímulos do ambiente
(físico) de aprendizagem.
Nas escolas que conservam o ensino tradicional, o currículo descontextualizado e
tratado de forma estanque, assim como velhas práticas docentes, não despertam a
motivação dos alunos. Observa-se que principalmente a escola como um todo, tem a
responsabilidade de motivar o prazer pela aprendizagem.
Benjamin S. Bloom, J. McVicker Hunt, Jean Piaget, Jerome Bruner e outros
psicólogos consideram que a estimulação do bebê, é a base de seu desenvolvimento
cognitivo. Hunt ressalta a importância da variedade de estímulos [2]. Desta forma, a
família exerce um papel de extrema importância, pois logo ao nascer a criança deve ser
estimulada, para que seu potencial cognitivo seja desenvolvido. Para aquelas crianças
que em casa não recebem os estímulos necessários para seu desenvolvimento, resta a
esperança de que na escola, ela possa crescer intelectualmente.
Muitos são os fatores determinantes da motivação, que por sua vez,
influenciam o processo de aprendizagem. O artigo aborda em particular a motivação,
como condição necessária para a construção do conhecimento.
1. Teorias do conhecimento
1.1. Construtivismo
Sobre a origem do conhecimento, existiam duas linhas teóricas opostas: o
Behaviorismo e a Gestalt. O Behaviorismo defende que o conhecimento vem da
experiência, onde há então uma supremacia do objeto. Já a Gestalt acredita que o
conhecimento parte de processos internos do indivíduo, ou seja, o conhecimento depende
exclusivamente do sujeito [5]. Em linhas opostas estão duas teorias onde o conhecimento
é adquirido através do objeto (Behaviorismo) ou a partir do sujeito (Gestalt).
Piaget não acredita que o conhecimento dependa exclusivamente das estruturas
internas do sujeito, assim como não depende somente do meio externo. A partir das duas
linhas teóricas contrárias, Piaget construiu uma terceira teoria explicativa sobre o
conhecimento, a qual explica que o conhecimento ocorre através da interação do sujeito
com o objeto. Conhecida como epistemologia genética de Piaget, tal teoria sustenta que é
a partir da interação do sujeito com seu meio físico e social que o sujeito constrói o
conhecimento e acaba por provocar o desenvolvimento do mesmo [5].
Como processo, a aprendizagem, segundo Piaget, implica em movimentos de
assimilação, acomodação e organização. Através da organização ocorre a integração da
assimilação e da acomodação, isto é, a organização é o resultado desses dois processos:
o conhecimento. A assimilação ocorre quando o sujeito modifica o objeto para poder
conhecê-lo [5]. Já a acomodação ocorre quando o sujeito altera suas estruturas cognitivas
para compreender o objeto.
Como as interações entre sujeito e objeto constituem-se num processo
ininterrupto, estando sempre em desenvolvimento, a teoria piagetiana passou a ser
conhecida como construtivismo, conforme ilustra a figura 1.
Figura 1. Teorias do conhecimento, adaptada de Franco [5]
A teoria é uma forma de interpretar a realidade, pois alguns filósofos afirmaram que
não temos a capacidade de conhecer a realidade tal qual ela é. Desta forma, levanta-se
hipóteses que constituem-se em verdades temporárias até que tenha alguma
comprovação prática de sua inverdade. Já a epistemologia hoje é vista como uma área do
conhecimento que estuda os critérios de verdade das ciências [5]. Desta forma, o
construtivismo é uma teoria epistemológica acerca do conhecimento.
O construtivismo afirma que o conhecimento não é algo acabado, mas sim, inúmeras
possibilidades que podem ser realizadas ou não. Conhecer é transformar algo (objeto) e
transformar a si mesmo [1].
1.2. Aprendizagem e educação
Piaget faz distinção entre dois tipos de aprendizagem. O primeiro tipo refere-se
aquela que nos faz “saber fazer algo” ou “realizar uma tarefa com sucesso”, consistindo
numa aprendizagem mecânica que não nos traz a verdadeira compreensão do que se faz.
No outro tipo de aprendizagem ocorre a ação e reflexão, onde há construção de
conhecimento, nos permitindo conhecer a realidade dos fatos [5].
O construtivismo trouxe grande contribuição para a educação. Neste cenário, o
construtivismo tem por objetivo descobrir como o aluno aprende, uma vez que é uma
teoria epistemológica do conhecimento.
1.3. O desenvolvimento da criança
Um dos primeiros a reivindicar para a criança o direito de ser compreendida foi o
filósofo francês Jean-Jacques-Rousseau, que insistia na necessidade de estudar a
criança antes de educá-la. Rousseau mudou o centro do sistema educacional do adulto
para a criança [2].
Séculos se passaram e os progressos da biologia e da psicologia experimentais
trouxeram um fundamento científico à concepção atual da criança e causaram uma
verdadeira revolução nos métodos de pedagogia infantil. Chegou-se a conclusão então de
que a criança não é um adulto em miniatura. A criança é um ser em desenvolvimento e
em muitos aspectos difere-se do adulto. Ela evolui com características próprias e reações
específicas [2].
De acordo com a teoria construtivista, a criança forma seu intelecto através da
interação com o mundo.
Ainda que as crianças se desenvolvam através de experiências de vida diferentes
umas das outras, Piaget concluiu que o caminho do desenvolvimento do intelecto
percorrido, é sempre o mesmo [5].
Através de observações, Piaget concluiu que o desenvolvimento humano respeita
certas fases. Tomemos por exemplo um bebê com poucos meses de vida. Este, não
falará, pois certos estágios de desenvolvimento são necessários até que esteja maduro
para tal ação.
Todos os aspectos do desenvolvimento de uma pessoa estão inter-relacionados.
Desta forma, à medida que uma criança cresce e amadurece fisicamente, a sua
inteligência também se desenvolve, e o seu comportamento social e emocional passa por
transformações. Tais mudanças no campo emocional e social influenciam também o
intelecto. Inúmeros aspectos do processo de desenvolvimento interagem e exercem
influência uns sobre os outros [2].
Como crianças são adultos, mas em outra fase de desenvolvimento e
considerando que todo o ser humano é diferente um do outro, a criança necessita de
atividades diversificadas que oportunizem construir conhecimentos [3].
A escola deve permitir em seus ambientes de aprendizagem, que as crianças se
desenvolvam diferentemente de acordo com seu ritmo particular de desenvolvimento, não
padronizando atividades e da mesma forma, cabeças.
1.4. Definindo os papéis dos agentes
Dentro de uma educação construtivista, o papel do aluno e do professor se
transforma. Neste contexto, o aluno é encarado como responsável pela própria
aprendizagem, onde no ambiente escolar ele irá aprender a aprender, principalmente
através da ação (aprender fazendo). O aluno é quem produz seu próprio conhecimento,
através da interação com o meio, que pode ser uma interação entre alunos. A verdadeira
construção do saber se dá coletivamente [5].
Ora, se o aluno é o responsável pela própria construção de seu conhecimento, que
função exerce o professor neste contexto?
Para Franco, o professor dentro de uma pedagogia inspirada na Epistemologia Genética,
não pode ser um mero expositor e tampouco um facilitador. O autor define que o papel do
professor deve ser de um problematizador, ou seja, que o professor tem como função
organizar as interações do aluno com o meio e problematizar as situações, favorecendo o
aprendizado. Deve-se utilizar o construtivismo como instrumento para entender a
realidade dos alunos, e a partir disto criar métodos e técnicas para a ação educativa. Não
existe um procedimento construtivista, mas sim o uso construtivista de alguns
procedimentos didáticos [5].
Se o conhecimento se produz na interação do sujeito (que conhece) com o objeto
(passível de ser conhecido), então o professor torna-se um problematizador da ação
conhecedora de seu aluno [5].
No ensino tradicional o aluno é ensinado e por isso, impedido de fazer descobertas
por si e aprender. O que é ensinado ao aluno, não pode ser aprendido pelo mesmo. Desta
forma, muita criatividade e motivação são destruídas no meio educacional escolar e a
motivação é um fator importante no processo de aprendizagem.
2. Motivação
Existem diferentes concepções sobre motivação. Muitos teóricos consideram que
um motivo é um fator interno que dá início, dirige e integra o comportamento de uma
pessoa [7].
Como mencionado anteriormente, a atividade intelectual é resultante de um
processo construtivo que parte da motivação.
Segundo a teoria de Piaget, a maior fonte de motivação, no que se refere ao
desenvolvimento da inteligência, é o desequilíbrio, pois ele ativa um processo cognitivo
para voltar ao equilíbrio [3].
2.1. Escola e o currículo escolar
Infelizmente, a escola tradicional acaba por não despertar a curiosidade e em
pouco tempo, mata a motivação.
O ensino tradicional não respeita o desenvolvimento cognitivo do aluno, nem seus
conhecimentos prévios, e impõe conteúdos em pedaços e descontextualizados.
O currículo escolar fragmentado divide os saberes em disciplinas que não se
integram, dificultando a aprendizagem. Esse modelo de currículo tradicional não é
motivador para que o aluno tenha sede de aprender.
Devido a esses procedimentos,
nada estimulantes da escola tradicional, à medida que a criança vai desenvolvendo-se ao
longo dos anos, observa-se uma queda no interesse, curiosidade e motivação. O que
aumenta são as dificuldades de aprendizagem [3].
2.2. A novidade dos recursos tecnológicos
O novo é uma forma de estímulo que gera o interesse. Complicado é saber
quando que determinado estímulo deixa de ser novidade para determinado aluno.
As crianças enquanto grupo, costumam evitar objetos ou atividades que lhe são familiares
e também o outro extremo, que são os que constituem muita novidade [7].
No mundo todo, a tecnologia evolui extraordinariamente e nas escolas ela
geralmente ela é vista como novidade. Mesmo um aparelho de som do cotidiano das
crianças pode ser uma novidade na sala de aula, uma vez que não é corriqueiro o seu
uso em tal espaço.
Muitos esforços são perdidos quando o professor tenta proporcionar uma aula
cheia de recursos tecnológicos e novidades para alunos que não se encontram motivados
para aprender. Provavelmente no início, tais novidades tecnológicas e recursos irão
prender a atenção dos alunos, mas com o passar do tempo poderão perder o interesse se
as tarefas forem monótonas e repetitivas. A apropriação tecnológica implica em
aprendizagem. No entanto, ela só é considerada construtiva no momento em que o
aprendiz sentir-se desafiado a buscar tais conhecimentos.
Desta forma, novos recursos utilizados a médio e longo prazo, não geram
interesse. Contudo, os estímulos não possuem significado sem uma interpretação e ação
do sujeito sobre eles.
Os conteúdos da forma tradicional que são apresentados para o aluno, não são
significativos. A simples cópia e a repetição de tarefas em salas de aula, são fatores que
causam desmotivação. Piaget sobre isto afirmava que o conhecimento não ocorre quando
se copia o real, mas sim quando há ação e transformação sobre ele [3].
2.3. O professor como motivador
A motivação do aluno acaba sempre esbarrando na motivação do professor. Desta
forma, para motivar o aluno, o educador precisa ser um profissional sério que mostre-se
comprometido com a educação, pois dele também é a responsabilidade de motivar os
alunos. Depende do professor o sucesso e a felicidade destes alunos na sociedade. É
somente através da educação que poderemos transformar a sociedade [3].
Segundo Montessori [9], é tarefa do professor preparar motivações para atividades
culturais num ambiente previamente organizado, e em seguida, deixar de interferir no
processo de aprendizagem.
O professor deve interferir no processo de aprendizagem de maneira sutil apenas
para dar uma orientação, pois o aprendiz não deve se forma alguma ser induzido em suas
conclusões. O aluno precisa ser orientado na coleta e seleção de material informativo,
para que ele consiga sem a interferência do docente, construir conhecimentos [3].
Desta forma, o professor deve despertar a curiosidade e interesse dos alunos, lhes
indicando a direção na utilização de recursos.
Todo aluno é estimulado pelo êxito em uma atividade e por sua vez, inibido pelo
fracasso. A motivação completa-se quando o aprendiz encontra razão, valor ou satisfação
na realização de alguma atividade. Por este motivo, o docente deve criar situações onde a
aprendizagem torne-se significativa para que aconteçam situações de sucesso em
número maior que de fracassos.
A motivação também é um dos principais fatores que determinam o
comportamento do ser humano. A motivação está envolvida em todas as espécies de
comportamento:
aprendizagem,
desempenho,
percepção,
atenção,
recordação,
esquecimento, pensamento, criatividade e sentimento. A relação entre motivação e
comportamento é complexa [7].
O comportamento não é resultado de uma única causa, mas de múltiplas causas.
É o resultado da hereditariedade interagindo com o ambiente e interagindo com o tempo.
O potencial hereditário de uma pessoa pode ser nutrido ou sufocado, dependendo do tipo,
da quantidade e da qualidade de seus encontros ambientais e dependendo ainda de
quando esses encontros ocorram (eles podem ocorrer cedo demais ou tarde demais,
impedindo que se tenha o máximo de seus efeitos benéficos).
3. Ambientes de Aprendizagem
3.1 Salas de aula tradicionais
O que o professor transmite não gera conhecimento e da mesma forma não cria o
interesse, pois é o aluno que aprende e não o professor que ensina. O conhecimento não
pode ser transmitido, mas sim construído.
Para que o aprendiz possa explorar, interagir e investigar para construir seu
próprio conhecimento, o espaço educacional tem que possibilitar tais atividades.
As salas de aula conservam-se como muitos anos atrás. A mesa do professor em
frente aos alunos ainda está lá, simbolizando a autoridade do professor. As cadeiras
prendem alunos em fila, de costas uns para os outros, durante anos. Os alunos devem ir
à escola, todos os dias, pois é um dever.
Sobre isto, Papert afirma considerar as salas de aula como um ambiente de
aprendizado artificial e ineficiente que a sociedade foi forçada a criar, pois seus ambientes
informais de aprendizado não são adequados para a aprendizagem certos conhecimentos
importantes [10].
Montessori, também via com desprezo as salas de aula tradicionais. A autora
chegou a comparar os alunos em sala de aula com coleções de borboletas, pois cada
aluno ficava preso em sua carteira [9].
Já Henry Wallon, acredita que a escola imobiliza a criança numa carteira em sala
de aula e desta forma, dificulta o fluir das emoções e pensamentos, necessários para a
aprendizagem [8].
A função dos ambientes de aprendizagem é oferecer espaço para que os alunos
possam se desenvolver e segundo estes pontos de vista, as salas de aula tradicionais
não proporcionam um espaço para a construção do conhecimento. Desta maneira, pode-
se dizer que a sala de aula não é um lugar que motiva o aluno e tampouco oportuniza a
aprendizagem .
3.2 Estimulação do ambiente
O arquiteto americano Henry Sanoff acredita que a arquitetura do ambiente
escolar pode auxiliar na aprendizagem. Ele compara a escola com uma grande casa,
onde poderia-se encontrar sofás pelos corredores, uma horta para plantar e ter aulas ao
ar livre. Para ele, tal modelo de escola proporcionaria conforto aos alunos, fazendo com
que o rendimento escolar melhore, bem como o bom comportamento. Tais estudos,
possibilitaram ao arquiteto afirmar que quando os alunos estudam em espaços que
consideram como seus, há uma melhora no rendimento escolar. Este fator (sentimento de
pertença) e uma atitude séria frente a educação são os dois fatores fundamentais para o
sucesso na vida escolar. Para Sanoff, construir escolas iguais é tratar os alunos como
robôs e desta forma, ir contra a aprendizagem [12].
Observa-se que para o arquiteto, deve-se adequar os espaços da escola de
acordo com os alunos, para oferecer motivação e estímulo.
Crianças criadas em ambientes enriquecidos, têm oportunidade e estimulação
acima de níveis normais, demonstrando resultados positivos quanto ao desenvolvimento
de habilidades motoras, cognitivas ou sociais. No outro extremo, em que crianças são
criadas em condições de privação, as conseqüências serão um desenvolvimento e nível
de realização muito abaixo do normal [2].
A partir disto, observa-se a necessidade de equilíbrio na oferta de estímulos.
Piaget afirma que, desde o nascimento, é necessário que o bebê receba estímulos
diversos (visual, auditivo e tátil), e que possa manipular diferentes objetos e estar livre
para se movimentar. Nos primeiros meses o bebê é sensório-motor, percebendo o
ambiente e agindo sobre ele. A interação entre o organismo e o ambiente, é necessária
para a descoberta de relações lógicas entre os objetos [11].
Ao entrar em um ambiente, os órgãos de nossos sentidos apresentam-se de
imediato, sensíveis às variações de estímulos do meio, mas após estímulos constantes e
prolongados, nossos sentidos tornam-se insensíveis. Devido a isto, situações pobres em
estímulo ou situações em que há repetição dos estímulos e pequena exigência das
pessoas são consideradas causas da monotonia [6].
Segundo Ferreira [4], monotonia caracteriza-se pela falta de variação. O estímulo
cumpre seu papel quebrando o estado de monotonia desde que não se torne repetitivo.
A psicologia tem estudado principalmente as causas externas da monotonia e o
comportamento do sujeito exposto a ela. Para a psicologia, uma causa externa da
monotonia é a realização de atividade de longa observação que exijam do sujeito a
atenção constante [6].
São indicadores de um ambiente monótono: fadiga, sonolência, falta de disposição
e diminuição de atenção [6]. Todos estes sinais são freqüentemente apresentados pelos
alunos no ensino conservador.
Desta forma, observa-se a importância dos estímulos, não só no ambiente escolar,
mas em qualquer outro lugar onde o objetivo é a aprendizagem.
4. Considerações finais
Sabe-se que a era do conhecimento exige que o indivíduo seja capaz de refletir,
tomar decisões e aprender. Nos dias de hoje, a informação já não é privilégio de poucos e
devido a isto, é necessário saber o que fazer com ela, ou seja, é preciso ter
conhecimento.
É notável que a aprendizagem acontece através de uma interação entre sujeito e
objeto e que neste complexo processo, muitos fatores estão envolvidos. Dentre estes
fatores, a motivação constitui-se uma ativadora do processo.
A velha prática das aulas monótonas e atividades repetitivas, que se mantém
resistente em muitas escolas, acaba desmotivando os alunos e interferindo na
aprendizagem. O currículo tratado de forma estanque também não é motivador para o
aluno, pois fragmenta o conteúdo, não permitindo uma visão geral sobre o assunto. Nas
escolas conservadoras em questão, em uma turma de alunos, todos costumam fazer a
mesma atividade ao mesmo tempo, o que acaba padronizando os alunos. A escola
parece desconhecer a necessidade que cada ser humano tem em ser diferente um do
outro. Através deste tipo de tratamento, o meio pode inibir o potencial genético do aluno.
Nota-se que muita capacidade criativa é subestimada.
O ambiente de aprendizagem também pode interferir no processo de
aprendizagem. Os estímulos do ambiente são importantes desde o nascimento do ser
humano. O desenvolvimento intelectual depende em grande parte destes estímulos
iniciais, pois grande parte da capacidade cognitiva é desenvolvida nos primeiros anos de
vida. Pode-se concluir através disto, que a criança que recebeu poucos estímulos, pode
chegar à escola com parte de sua capacidade intelectual comprometida.
Através disto, verifica-se a necessidade de que o professor oportunize atividades e
disponibilize recursos, variados para que o aprendiz se desenvolva de acordo com seu
ritmo de aprendizagem. Compete principalmente à escola, como um todo, estimular no
aluno o prazer por aprender.
Se a sociedade precisa de cidadãos empreendedores, capazes, questionadores,
que buscam aprender sempre, a escola precisa mudar a concepção que tem do aluno. O
mundo está cheio de injustiças sociais e clama por mudanças em diversas áreas. Os
alunos de hoje, podem ser os agentes transformadores de toda uma sociedade.
Referências
[1] Becker, Fernando. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed,
2001.
[2] Barros, Celia Silva Guimarães. Pontos de psicologia do desenvolvimento. São Paulo:
Ática, 1988.
[3] Costa, Samuel C.; Faro, Silene N.; Freitas, Edna C. L. Onde está a motivação do aluno
e do professor? Disponível em: pontodeencontro.proinfo.mec.gov.br/mono_edna.pdf,
consultado em 7 de novembro de 2005.
[4] Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de
Janeiro, RJ. Nova Fronteira, 1986.
[5] Franco, Sérgio R. Kieling. O construtivismo e a educação. Porto Alegre: Mediação,
2000.
[6] Grandjean, Etienne. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Porto
Alegre: Bookman, 1998.
[7] Murray, Edward J. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986.
[8]
Nova
Escola.
Henry
Wallon:
Educação
por
inteiro.
Disponível
em:
novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/160_mar03/html/pensadores, consultado em 7
de novembro de 2005.
[9] Nova Escola. Maria Montessori: A criança como protagonista. Disponível em:
novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/164_ago03/html/pensadores, consultado em 7
de novembro de 2005.
[10] Papert, Seymour. Logo: computadores e educação. São Paulo: Brasiliense, 1988.
[11] Piaget, Jean. O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
[12] Sanoff, Henry. Arquitectura da escola pode ajudar a melhorar resultados?
Disponível em: www4.ncsu.Edu/~sanoff/schooldesign, consultado em 7 de novembro
de 2005.
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