FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL CRIAÇÃO E TESTE DE UMA ESCALA PARA AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO: APLICAÇÃO A UM ESCRITÓRIO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL. DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE MARCELO FONTE BOA OLIVEIRA Rio de Janeiro 2004 FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO TÍTULO CRIAÇÃO E TESTE DE UMA ESCALA PARA AVALIAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO: APLICAÇÃO A UM ESCRITÓRIO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR: MARCELO FONTE BOA OLIVEIRA E APROVADO EM J ~ / 40 /J QULj. PELA COMISSÃO EXAMINADORA DOUTORA EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ~~~ L DE LIMA PEREIRA CASTRO JÚ RESUMO Oliveira, Marcelo Fonte Boa. Criação e Teste de Uma Escala para Avaliação da Estratégia de Gestão do Conhecimento: Aplicação a Um Escritório de Propriedade Intelectual. Professor Orientador Acadêmico: Prof. Df. Luiz Antonio Joia Esta dissertação objetiva avaliar como as empresas organizam sua estratégia para gestão do conhecimento. Basicamente dois modelos estratégicos são apresentados na literatura: a codificação e a personalização. No entanto, há uma questão que se apresenta na literatura que se refere à importância do foco prioritário em apenas um dos modelos estratégicos citados. Como objetivo principal, pretende-se apresentar uma escala que possa analisar se uma empresa líder em seu segmento realmente possui um foco estratégico com relação à gestão do conhecimento. Durante o desenvolvimento deste trabalho, será percorrido um referencial teórico que busca explicar como a gestão do conhecimento se tomou importante para a estratégia das empresas, tocando em pontos como características da Era da Informação e conceitos básicos da gestão do conhecimento, englobando modelos teóricos que buscam explicar como o conhecimento é criado e transferido dentro das empresas. Um modelo para mensuração do foco estratégico de uma empresa será proposto. Este modelo será composto de indicadores estruturados em forma de um questionário. Para cada indicador haverá uma escala de avaliação e o conjunto do questionário buscará traduzir o foco estratégico citado. Por fim, o questionário será testado em uma empresa de Propriedade Intelectual e serão feitas análises estatísticas para avaliação do mesmo. Para isto será utilizado o procedimento da análise fatorial do tipo confirmatória. Trata-se de uma ferramenta estatística que possibilita uma avaliação tanto do modelo de análise, quanto do modelo estrutural. Palavras - chave: Gestão do Conhecimento, Estratégia, Personalização, Codificação. Análise Fatorial, Escritório de Propriedade Industrial. ABSTRACT Oliveira, Marcelo Fonte Boa. Criação e Teste de Uma Escala para Avaliação da Estratégia de Gestão do Conhecimento: Aplicação a Um Escritório de Propriedade Intelectual. Professor Orientador Acadêmico: Prof. Dr. Luiz Antonio loia This dissertation aims at evaluating how the enterprises organize their strategies for the management of knowledge. Basically there are two strategic models presented in the literature: codification and personalization. However, there is an issue that is presented in the literature regarding the importance of prioritizing focus in only one of the mentioned strategic models. The main objective is to present a rank that is meant to analyze whether a leader enterprise in its segment has a strategic focus regarding the management ofknowledge. During the development of this work a theoretical reference will be followed in search of an explanation for the importance of the management of knowledge in the enterprises strategy. Points such as the characteristics of the Information Era and the basic concepts of the management of knowledge will be studied, comprising theoretical models that seek to explain how the knowledge is created and transferred within the enterprises. A model for measuring the strategic focus of an enterprise will be proposed. This model will be composed of structured indicators in form of a questionnaire. For every indicator there will be an evaluation scale and the questionnaire set will search the translation of the mentioned strategic focus. To sum up, the questionnaire will be tested in an Intellectual Property enterprise and statistic analyzes to evaluate it will be made. To achieve this goal the confirmatory factorial analysis procedure will be used. This model is a statistic tool that makes the evaluation of the analysis model as well as the structural model possible. Key Words: Management of Knowledge, Strategy, Personalization, Codification, Factorial Analysis, Industrial Property Firm. AGRADECIMENTOS Ao professor Luiz Antônio loia pela orientação precisa, rigorosa, objetiva e segura, em todas as fases deste trabalho. Aos colegas de mestrado, pelo incentivo espontâneo sempre que necessano. Em especial ao Luiz Cláudio, pela grande ajuda no processamento e interpretação dos dados estatísticos. À minha mulher Silvia e meu filho Lucas, pelos momentos nada fáceis de minhas ausências, quando deveríamos estar planejando diversão. Aos meus paIS e parentes, em especial à Dra. Lúcia, pelo constante incentivo e vibração! Enfim, ... meu total agradecimento a todos. SUMÁRIO CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1 I .1. I .2. CONTEXTO A TUAL. .................................................................................................................... I As RAZÕES DA ESCOLHA DO TEMA ........................................................................................... 3 1.3. JUSTIFICATIVA DA PESQUISA ..................................................................................................... 5 CAPÍTULO 11 - A PROBLEMÁ TICA .................................................................................................... 6 11 .1. 11 .2. I I .3. 11 A. PROBLEMA DA PESQUISA E OBJETIVO PRINCIPAL ...................................................................... 6 OBJETIVOS SECUNDÁRIOS (INVESTIGAÇÕES EXPLORATÓRIAS) ................................................. 7 PREMISSAS ADOTADAS .............................................................................................................. 8 Escopo DA PESQUISA ................................................................................................................ 9 CAPÍTULO III - REFERENCIAL TEÓRICO E HIPÓTESE DA PESQUISA ................................ 10 111 .1. 111.2. A ERA DA INFORMAÇÃO .......................................................................................................... 10 GESTÃO DO CONHECIMENTO ................................................................................................... 12 IIl.2./. IIl.2.2. fff .2.3. III .3. III A. III .5. III .6. Princípios Básicos do Conhecimento ............................................................................ /3 Gestão do conhecimento para a inovação e a aprendizagem organizacional .............. 17 O Modelo SECI (a espiral do conhecimento) ................................................................ 22 ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DO CONHECiMENTO ........................................................................ 27 O CONSTRUCTO: ESTRATÉGIA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO .............................................. 30 DEFINiÇÃO DOS INDICADORES ................................................................................................. 31 HIPÓTESE DE PESQUISA ........................................................................................................... 41 CAPÍTULO IV - METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................... 44 IV .1. IV.2. DESCRiÇÃO DA METODOLOGIA ................................................................................................ 45 MÉTODO PARA LEVANTAMENTO DOS INDICADORES E TESTE ESTATÍSTICO ............................ .48 IV.2./. IV.2.2. IV .2.3. Etapa Exploratória ........................................................................................................ 48 Etapa Quantitativa ........................................................................................................ 53 Limitações do Método ................................................................................................... 56 CAPÍTULO V - DESCRIÇÃO DA EMPRESA TESTE ...................................................................... 58 CAPÍTULO VI - ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................ 66 CAPÍTULO VII - OBSERVAÇÕES CONCLUSIVAS E RECOMENDAÇÕES .............................. 77 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 87 ANEXO I - QUESTIONÁRIO ................................................................................................................ 93 ANEXO 11 - RELATÓRIO DO LISREL .............................................................................................. 97 ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 1: FIGURA 2: FIGURA 3: FIGURA 4: FIGURA 5: FIGURA 6: Ações cotidianas para gestão do conhecimento ...................................... 19 Quatro modos de conversão do conhecimento ....................................... 23 Espiral do conhecimento ......................................................................... 26 Esquema do Constructo "Estratégia de Gestão do Conhecimento" ....... 31 Estrutura da Metodologia do Trabalho ................................................... 45 Esquema do constructo "Estratégia de Gestão do Conhecimento" e seus Indicadores (a partir da literatura) .......................................................... 52 FIGURA 7: Continuum entre "Personalização" e "Codificação" .............................. 56 FIGURA 8: Estrutura Organizacional do Escritório Alfa .......................................... 59 FIGURA 9: Diagrama do modelo com os factor loadings ......................................... 69 FIGURA 10: Diagrama do modelo com o teste t ......................................................... 73 FIGURA 11: Resultado do Escritório Alfa: A hipótese Ho não é suportada ............... 76 FIGURA 12: Sugestão de estrutura para estudo do constructo "Estratégia de Gestão do Conhecimento" ....................................................................................... 86 ÍNDICE DE TABELAS TABELA 1: TABELA 2: TABELA 3: TABELA 4: TABELA 5: Indicadores e respectivas fontes ............................................................. Factor Loadings, Erro e R2 .................................................................... Teste de Aderência ................................................................................. Teste t ..................................................................................................... Escores fatoriais (factor scores) .............................................................. 51 68 70 72 76 CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO I .1. Contexto Atual Muito se tem falado sobre a importância do conhecimento para as empresas e de como ele tem influenciado o sucesso de várias delas. Hoje em dia, as empresas não são mais avaliadas somente pela sua capacidade de produção ou porque possuem um produto de sucesso no momento. Elas são também avaliadas pela sua habilidade em aprender e desenvolver continuamente seus serviços, produtos e processos para conquistar e dominar mercados. Nos últimos anos, muitos trabalhos têm sido realizados nos meios acadêmico e de consultoria para demonstrar que a gestão do conhecimento - desde a criação do conhecimento até a transferência do conhecimento entre as pessoas - é de fundamental importância para manter uma organização à frente de seus concorrentes. Pode-se citar, por exemplo, trabalhos que abordam o conhecimento como fator estratégico (Quinn, 1992; Drucker, 2002), a aprendizagem na empresa (Senge, 2003; Argyris & Schõn, 1978), a criação do conhecimento na empresa (Nonaka & Takeuchi, 1997), competência e inovação empresarial (Leonard-Barton, 1998), capital intelectual (Stewart, 1998), dentre outros. Muitas consultorias também têm apresentado variadas técnicas para uma gestão eficiente do conhecimento das empresas. o fato é que muitas empresas já têm consciência que o conhecimento é a chave para o seu sucesso e continuidade no século XXI. Da mesma forma, as empresas que detiverem a liderança na geração e venda de conhecimento deverão estar dentre as mais rentáveis e de maior valor de mercado (Stewart 2002, p. 29). 2 A crescente competição empresarial extrapolou as vantagens competitivas baseadas em automação, qualidade, recursos naturais, mão-de-obra ou capital. As empresas, cada vez mais, dão foco no conhecimento como recurso primordial para a competição em seus negócios (Stewart, 1998). Drucker (2002), com muita propriedade, escreveu em 1993 um livro com o nome de "Sociedade Pós-capitalista" para referir-se a esta nova fase da sociedade mundial. Segundo Orucker (2002, p. 51), já se iniciou a era da "sociedade do conhecimento", tendência que ele já havia percebido desde 1960, quando se referia ao "trabalhador do conhecimento". O conhecimento, uma vez que passou a ser um importante recurso, deve ser pensado estrategicamente, de modo a contribuir significativamente para o resultado das empresas. o foco estratégico agora está na obtenção, criação e renovação de conhecimento. Tal pode ser conseguido a partir da ação do capital humano existente na empresa e/ou de ações resultantes de alianças, fusões ou aquisições com outras empresas. LeonardBarton (1998) estudou as atividades geradoras de conhecimento e as classificou em quatro tipos: "(1) solução criativa e compartilhada de problemas; (2) implementação e integração de novas técnicas e metodologias; (3) experimentação formal e informal; e (4) incorporação de know-how de fontes externas à firma" (Leonard-Barton, 1998, p. 24). Esta capacidade de gerir conhecimento tem influenciado diretamente o capital intelectual das empresas e, conseqüentemente, seu valor de mercado. A Microsoft, por exemplo, possuía em 1996 um valor de mercado de US$ 85,5 bilhões, enquanto seu valor patrimonial na época estava na casa de US$ 930 milhões (loia, 2000). Ou seja, a diferença dentre estes dois valores advém da capacidade intelectual e intangível que a Microsoft construiu para liderar sua indústria, manter-se na liderança e inová-la a todo o momento com novos produtos. 3 Outro exemplo importante diz respeito ao conhecimento como item de exportação. Durante o ano de 1999, os Estados Unidos receberam US$ 37 bilhões como "royalties" e licenças, tendo sido ambos, conjuntamente, os itens principais em sua pauta de exportações. Para efeito de comparação a exportação de aviões ficou em US$ 29 bilhões naquele ano (Stewart, 2002, p. 34). Os autores geralmente se dedicam a demonstrar a importância da gestão do conhecimento como uma vantagem competitiva para as empresas (Stewart, 1998; Senge, 2003) ou se dedicam a analisar, de forma mais empírica, quais atividades nas empresas criam e transferem conhecimento mais eficientemente (Nonaka & Takeuchi, 1997, 1998; Leonard-Barton, 1998). No entanto, pouco se encontra na literatura quanto a métodos de aferição do tipo de estratégia de gestão do conhecimento que é adotada nas empresas. Hansen & Nohria (1999) publicaram um trabalho sobre a importância da escolha estratégica que as empresas devem fazer quando vão investir em gestão do conhecimento. Em seu trabalho, os autores apontam dois tipos de estratégias de gestão do conhecimento: "Codificação" e "Personalização". Segundo os autores, estas duas estratégias são pontos extremos de um continuum e as empresas devem concentrar esforços e recursos preponderantemente em uma delas. O trabalho de Hansen & Nohria (1999) será mais profundamente abordado no capítulo Referencial Teórico e Hipótese da Pesquisa. 1.2. As Razões da Escolha do Tema Na literatura, há duas correntes estratégicas para a gestão do conhecimento. A primeira corrente trata o conhecimento como algo codificável, que pode ser explicitado 4 para ser transmitido entre os funcionários da empresa. Já a outra corrente aponta o conhecimento como algo que deva ser prioritariamente transmitido através do contato pessoal dos funcionários durante a execução das atividades. Prioriza, portanto, a troca de conhecimento tácito como principal estratégia para a gestão do conhecimento (Stewart, 1998). Embora se perceba que ambas as estratégias tenham suas vantagens, Hansen & Nohria (1999) explicam que uma empresa deve escolher apenas uma como prioritária. o que os autores procuram passar é que uma empresa necessita, primeiramente, saber como deseja atender os seus clientes e que tipos de soluções eles esperam. Há clientes que desejam produtos ou serviços complexos, personalizados. Estes tipos de soluções geralmente implicam em altos investimentos para a empresa e, conseqüentemente, preços maiores para os clientes. Em outras situações, os clientes podem estar interessados em produtos ou serviços padronizados pelo mercado. Nestes casos, as soluções são ditas de "prateleira", ou seja, soluções que são vendidas com pouca ou nenhuma necessidade de customização para o cliente. Portanto, pode-se verificar a importância de haver técnicas para aferição da estratégia de gestão do conhecimento, em auxílio à decisão de investimentos na própria gestão. A importância desta aferição pode ser entendida sob três aspectos: (1) ajuda a mapear quais técnicas de gestão do conhecimento estão sendo empregadas; (2) auxilia no direcionamento do plano estratégico da empresa; e (3) permite perceber quais recursos humanos, materiais e financeiros do dia-a-dia estão envolvidos nas atividades geradoras de conhecimento, possibilitando que os mesmos sejam empregados de forma mais eficiente. 5 I .3. Justificativa da Pesquisa Inúmeros autores publicaram trabalhos ressaltando os aspectos benéficos da gestão do conhecimento para as empresas (Quinn, 1992; Drucker, 2002; Senge, 2003; Argyris & Schõn, 1978; Nonaka & Takeuchi, 1997; Leonard-Barton, 1998; Stewart, 1998). No entanto, as abordagens são diferentes, o que torna o assunto passível de variadas possibilidades de ações gerenciais. As empresas, sabendo da importância da gestão do conhecimento, elaboram estratégias de investimento para se manterem competitivas capacitando seus funcionários nas técnicas e ferramentas gerenCiaIS supostamente mais modernas e eficientes. Poucos trabalhos acadêmicos se dedicam a explicar que foco estratégico uma empresa deve possuir antes de se decidir pela compra de ferramentas de gestão do conhecimento. Hansen & Nohria (1999) publicaram um trabalho alertando para o risco que uma empresa corre ao dedicar recursos e esforços para ferramentas que não estejam alinhadas com sua estratégia empresarial. Este trabalho visa ter o mérito de realizar uma revisão teórica sobre trabalhos relacionados a estratégias para gestão do conhecimento nas empresas, de modo a elaborar e testar uma escala para auxiliar na avaliação do tipo de estratégia de gestão do conhecimento que uma empresa está praticando. Uma vez avaliado o tipo de estratégia de gestão do conhecimento que a empresa pratica, poder-se-á verificar a validade de trabalhos que estabelecem parâmetros ótimos para o foco estratégico da gestão do conhecimento nas empresas, como se trata do texto de Hansen & Nohria (1999). 6 CAPÍTULO 11 - A PROBLEMÁTICA Este trabalho vem ao encontro da crescente discussão que tem sido realizada por diversas empresas e meio acadêmico sobre as melhores estratégias para se gerenciar o conhecimento nas empresas. Na medida em que a "Era do Conhecimento" já se iniciou (Drucker, 2002; Stewart, 1998; Castells, 2002), torna-se importante desenvolver metodologias para criar, trocar, reutilizar e renovar conhecimento (Nonaka & Takeuchi, 1997; Leonard-Barton, 1998), além de realizar estudos sobre como determinadas empresas obtêm sucesso nesta área, estabelecendo assim modelos relativos às práticas adotadas. Neste capítulo haverá uma descrição do problema a ser estudado e dos objetivos, primários e secundários, que serão perseguidos ao longo do trabalho. Em seguida, será apresentada a abrangência da pesquisa, através do estabelecimento de premissas e delimitação do escopo. 11.1. Problema da Pesquisa e Objetivo Principal A teoria da gestão do conhecimento sugere várias abordagens para o gerenciamento competitivo do conhecimento nas empresas (Stewart, 1998; Nonaka & Takeuchi, 1997; Leonard-Barton, 1998; Senge, 2003). Para isto, algumas destas teorias serão assumidas como base epistemológica deste trabalho e serão analisadas no que tange à estratégia de armazenagem e troca de conhecimento entre os profissionais de uma empresa. 7 Com o suporte destas teorias, este trabalho terá como principal objetivo abordar o seguinte problema: Como elaborar e testar uma escala que permita compreender e avaliar a estratégia de gestão do conhecimento de uma empresa? A partir do problema apontado, verifica-se que o principal objetivo desse trabalho será criar e testar a escala desenvolvida. Para isto, será necessário validar as hipóteses a serem levantadas, utilizando-se uma abordagem empírica. Estudos de campo são sempre de grande utilidade para a confrontação da teoria com a prática. 11 .2. Objetivos Secundários (Investigações Exploratórias) Este trabalho procurará, também, verificar outras facetas da gestão do conhecimento nas organizações, contribuindo para um maior entendimento do tema e um maior aprofundamento teórico sobre o impacto que o conhecimento pode gerar numa empresa, relativamente à sua vantagem competitiva no mercado. Abaixo estão listados os aspectos que serão analisados neste trabalho através de investigações exploratórias: 1. Verificar a necessidade de haver primeiro uma estratégia empresarial definida, para, em seguida, haver a definição de uma estratégia de gestão do conhecimento. 2. Verificar a relação entre a forma da empresa gerar valor para seus clientes e a estratégia para gestão do conhecimento implementada. 3. Investigar que indicadores determinam o tipo de estratégia de gestão do conhecimento adotada pela empresa. 4. Testar os indicadores selecionados, quanto à sua confiabilidade e validade, relativamente ao constructo "Estratégia de Gestão do Conhecimento". 8 5. Verificar se há relação entre a inovação e a estratégia de gestão do conhecimento adotada na empresa. 6. Descrever e analisar como uma empresa de propriedade intelectual encaminha sua estratégia para gestão de seu conhecimento. 7. Concluir até que ponto a prática da gestão do conhecimento em um escritório de propriedade intelectual está amparada pelas teorias da gestão do conhecimento, buscando sinais de convergência entre ambas. 11 .3. Premissas Adotadas Para a realização deste trabalho, algumas premissas serão adotadas no intuito de estabelecer a linha de raciocínio e a base epistemológica a ser utilizada. A primeira delas consiste em considerar o conhecimento como o maIS importante recurso estratégico para a competitividade da empresa na atualidade. Embora intangível, diversos autores já comprovaram que se trata de um recurso passível de ser trabalhado, embora sejam difíceis sua identificação, mais ainda sua distribuição e mais ainda sua mensuração (Nonaka & Takeuchi, 1997; Stewart, 1998; King & Zeithalm, 2003; Leonard-Barton, 1998). É importante ressaltar que a administração adequada do conhecimento é considerada, neste trabalho, o motivo de sucesso de várias empresas. Stewart (1998), em seu livro Capital Intelectual, descreve exemplos de empresas que adotaram determinadas condutas gerenciais de valorização do conhecimento e conquistaram mercados, assim como contra-exemplos de empresas que se sentiam confortáveis por serem líderes de mercado, apoiando-se em vantagens competitivas como recursos financeiros, marcas, dentre outras, e, de repente, se viram superadas por empresas bem 9 menores, mas que sabiam como aumentar vantagens competitivas baseadas em conhecimento. 11.4. Escopo da Pesquisa Este trabalho não pretende questionar a epistemologia desenvolvida pelos teóricos da gestão do conhecimento, assim como não há a intenção de verificar a validade dos conceitos propostos pelos mesmos teóricos. Os conceitos sugeridos na literatura serão utilizados para cnar um arcabouço que possibilite estudos quanto à validade externa de trabalhos publicados sobre opções estratégicas do gerenciamento do conhecimento nas empresas (Hansen & Nohria, 1999). Por tratar-se de uma dissertação de mestrado, este trabalho envolverá uma pesquisa bibliográfica sobre o tema da gestão do conhecimento, associada a um estudo de campo. O estudo de campo servirá para testar a metodologia de criação da escala para avaliação da estratégia de gestão do conhecimento, e para extrair conclusões quanto à viabilidade da escala criada e seus indicadores. Com isto, espera-se verificar a relação entre a escolha da estratégia de gestão do conhecimento pela empresa e o sucesso desta em sua indústria (Hansen & Nohria, 1999). 10 CAPÍTULO IH - REFERENCIAL TEÓRICO E HIPÓTESE DA PESQUISA A apresentação do referencial teórico tem como objetivo criar um arcabouço de conceitos necessários à fundamentação da hipótese de pesquisa e da metodologia que será apresentada no capítulo seguinte. Para isto, quatro partes se seguirão. A primeira parte tratará da Sociedade da Informação, sendo apresentadas as condições que transformaram o mundo de uma sociedade industrial em uma sociedade da informação. Em seguida, na segunda parte, serão apresentados os conceitos provenientes da teoria do conhecimento, assim como será descrita a forma como o tema gestão do conhecimento, em seu aspecto negociaI, tem sido descrito pela literatura científica. Na terceira parte, será apresentado o trabalho de Hansen & Nohria (1999) sobre estratégias de gestão do conhecimento nas empresas. Este trabalho tem papel relevante no tema dessa dissertação. Por fim, na quarta parte, será apresentada a hipótese de pesquisa que será testada estatisticamente, quando for realizado estudo de campo sobre a teoria utilizada. IH.1. A Era da Informação o conhecimento sempre foi motivo de estudo pelo seu valor na vida das pessoas. Desde a Antigüidade, filósofos como Platão e Aristóteles já pensavam sobre o que seria o conhecimento e qual a importância dele para as pessoas e para a sociedade (Nonaka & Takeuchi, 1997). No início do século XIX, surgiu na Inglaterra um novo sistema econômico onde o capital gerado pelo comércio com as Índias era utilizado para financiar a criação das indústrias (Arrighi & Silver, 2001). Percebe-se que a forma de aplicação do conhecimento foi um divisor de águas entre produção artesanal e a produção industrial. Enquanto o artesão aplicava seu conhecimento, de forma manual e individual, em cada peça fabricada, nas indústrias a aplicação do conhecimento se dava 11 através da criação de máquinas capazes de reproduzir, incansavelmente, vários dos movimentos repetitivos dos artesãos. Com isso, num processo de "destruição criativa" (Arrighi & Silver, 2001, p. 128), o sistema produtivo dos artesãos foi aos poucos sucumbindo ao novo sistema produtivo, no qual a velha forma de produção era substituída por métodos mais lucrativos, dentro do novo paradigma comercial-produtivo do capitalismo. Já no final do século XIX e início do século XX, novos métodos produtivos foram criados por Taylor, com a "administração científica" (Stewart, 1998, p. 45). Segundo Nonaka (1997), Taylor criou formas mais eficientes de traduzir o conhecimento tácito dos trabalhadores, em rotinas e ferramentas de produção, através do estabelecimento do "melhor método". Também Spender (2001, p. 31) considera Taylor "um precursor de nosso interesse contemporâneo pela gestão do conhecimento". Como pode ser percebido nesta breve descrição histórica, o conhecimento sempre esteve presente em todas as etapas da evolução socioeconômica mundial. Nos tempos atuais, as transformações provocadas pelo conhecimento se intensificaram. Isto pode ser observado com o surgimento da chamada "Era da Informação" (Stewart, 1998; Nonaka & Takeuchi, 1997, Castells, 2002). Desde o início dos anos 1980, dois fatores contribuíram para um novo salto na evolução da aplicação do conhecimento nas empresas. O primeiro fator refere-se à enorme evolução dos meios de comunicação, o que viabilizou a troca de enormes volumes de informação a baixo custo e em grande velocidade. O segundo fator foi a evolução da tecnologia da informação. Com ela, poderosos computadores e sofisticados sistemas de computadores passaram a processar (calcular) todo tipo de informação, o que propiciou um enorme salto na automação das fábricas e empresas de serviço (Castells, 2002). Em função deste cenário, houve uma valorização das pessoas dentro das empresas. Elas tiveram que ser treinadas para poder operar as novas ferramentas 12 automatizadas e para rever seus conceitos quanto à competitividade entre as empresas, uma vez que um novo campo de competição foi criado: o mercado globalizado (Stewart, 1998). Na "Era da Informação", os clientes, os fornecedores e os concorrentes podem estar em qualquer país do mundo. A complexidade é tamanha que estas mesmas três entidades podem ser parceiras em um detenninado país, porém concorrentes em outro. Com tudo isso, as pessoas passaram a ser o foco da atenção das empresas na busca do diferencial competitivo (Castells, 2002). Somente a partir delas é possível se criar novo conhecimento (Nonaka & Takeuchi, 1997). As empresas que não souberem valorizar este novo recurso estarão fragilizadas diante dos concorrentes inovadores e das transfonnações do mercado. Enfim, no século XXI, técnicas administrativas, operacionais, financeiras e de negócios são desenvolvidas nos vários cantos do mundo e, em curtíssimo prazo, utilizadas por empresas de diversos países. Sairão vencedoras as empresas que melhor souberem utilizá-las e inová-las, através do aprendizado e da inovação de conhecimento. É o que Drucker chama de "aplicação do conhecimento ao conhecimento" (Drucker, 2002, p. 20). IH .2. Gestão do Conhecimento Como visto na seção anterior, a citada "Era da Infonnação" modificou as relações de importância entre os tipos de recursos das empresas. Porter (1996) argumenta que a "eficiência operacional" não é criativa no sentido de diferenciar a empresa de seus concorrentes. A eficiência operacional, na visão de Porter (1996), causa uma competição cruel entre as empresas, pois elas competem por redução de preços e custos, não mais por diferenciação de seus produtos e serviços. Portanto, para Porter (1996), a verdadeira estratégia está na capacidade da empresa em ser diferente e 13 inovar, destacando-se de seus concorrentes e posicionando-se de forma a conquistar a clientela da concorrência por seus produtos ou serviços inovadores. Os recursos convencionais corno capital e equipamentos, por exemplo, não são mais os diferenciais estratégicos para a competição. O que há de novo é a competição sendo travada com base no conhecimento (Spender, 2001). Na seqüência serão abordados (1) os princípios básicos que suportam a discussão sobre conhecimento; (2) a importância da gestão do conhecimento para a aprendizagem e a inovação; (3) um modelo para transformação do conhecimento - entre tácito e explícito -, com objetivo de aumentar o conhecimento dentro da empresa. IH .2.1. Princípios Básicos do Conhecimento O Conhecimento é um termo bastante controverso. Seu significado pode ter diferentes fundamentações, conforme a corrente epistemológica utilizada. Por exemplo, Nonaka & Takeuchi (1997) apontam duas correntes filosóficas ocidentais que procuram definir o conhecimento: racionalismo e empirismo. No racionalismo, iniciado por Platão, o conhecimento surge através de um processo mental não dependente de experiências sensoriais. A definição de axiomas forma a base necessária para a explicação de todas as coisas, urna vez que o mundo das "idéias" é perfeito e a realidade das "coisas" apresenta inúmeras imperfeições. Já na corrente empiricista, proveniente de Aristóteles, o conhecimento surge a partir da experiência sensorial do mundo das "coisas". Os objetos devem ser primeiramente observados e sentidos antes de serem definidos no mundo das idéias. Entretanto, Nonaka & Takeuchi (1997) destacam que no Japão urna outra corrente filosófica, diferente das correntes ocidentais, foi desenvolvida. Baseada na 14 filosofia do budismo e do confucionismo, os orientais não buscam a dicotomia entre "idéias" e "coisas", como se ambas pudessem ser visualizadas de forma sistemática e, muitas vezes, independente. No raciocínio oriental, a unidade é o ponto de partida para o entendimento de tudo. Por exemplo, a "unidade do homem e da natureza", a "unidade do corpo e da mente" e a "unidade do eu e do outro" (Nonaka & Takeuchi, 1997, p. 31). Atualmente, a filosofia japonesa já incorporou muito da sistematização ocidental na análise de problemas. Afinal, esta possui méritos ao reduzir problemas a partes menores, simplificando a análise. Porém, as raízes culturais orientais permanecem vivas, ajudando-os a não perderem de vista a importância das relações existenciais que fazem as partes do problema serem causa e conseqüência todo o tempo. Também em sua epistemologia básica, o conhecimento pode ser classificado de duas formas, conforme sua apresentação no ambiente: "conhecimento tácito" e "conhecimento explícito" (Nonaka & Takeuchi, 1997; Stewart, 1998; Spender, 2001; Leonard-Barton, 1998). O conhecimento explícito é aquele que pode ser encontrado em meios materiais como livros, manuais, produtos, serviços prestados, mídias eletrônicas, etc., além de algumas formas imateriais como palestras ou discursos. Ou seja, o conhecimento explícito é uma manifestação objetiva de uma pessoa, ou grupo de pessoas, para demonstrar algo que sabe(m). Já o conhecimento tácito é particular a cada indivíduo. Não está registrado em meios materiais e sua transformação em conhecimento explícito é extremamente dit1cil, quando não, impossível. O motivo desta dificuldade de expressão é porque ele existe nas habilidades intelectuais e corporais. Ele provém de tudo que a pessoa aprendeu por si e em seus relacionamentos com outras pessoas. Some-se a isto aspectos sócio-culturais do ambiente em que vive, traços de sua personalidade e aptidões físicas. Portanto, trata-se de um tipo de conhecimento introjetado na pessoa e que se manifesta somente durante a realização de atividades, 15 contribuindo decisivamente para os resultados alcançados (Leonard-Barton, 1998, p. 113). Voltando às correntes filosóficas ocidental e oriental, diversos autores desenvolveram trabalhos cada vez mais aprofundados sobre o que é conhecimento. Teóricos como Descartes, Locke, Kant, Hegel, Marx, etc. elaboraram sínteses de ambas as correntes do conhecimento, geralmente sem muito sucesso (Nonaka & Takeuchi, 1997). Conseqüentemente, segundo Cohen (1998), nas empresas a gestão do conhecimento se polarizou em dois tipos de abordagens. O primeiro tipo é proveniente do estilo americano, fortemente centrado no pragmatismo e na objetividade de resultados em curto prazo. Neste caso, o foco das empresas está nas atividades de distribuição e reutilização de conhecimento explícito. O segundo tipo de abordagem segue o estilo japonês, o qual se baseia na integração dos indivíduos entre si e com o ambiente da empresa. Esta forma de ver o homem e o ambiente (empresa) implica na valorização do indivíduo e de suas ações. Portanto, a socialização é a prática mais importante. As empresas que trabalham desta forma consideram que em primeiro lugar está a troca de conhecimento tácito (Nonaka & Takeuchi, 1997). A partir das duas abordagens gerenciais do conhecimento, estudiosos da administração de empresas, como Drucker, (2002), Senge (2003), Argyris & Schõn (1978), Nonaka & Takeuchi (1997) Leonard-Barton (1998), Stewart (1998), Incorporaram o conhecimento como importante instrumento para a melhoria de resultados e passaram a estabelecer formas de administrá-lo. Taylor, pai da "administração científica", foi o primeiro a demonstrar a importância de se capturar sistematicamente o conhecimento existente em uma empresa e transmiti-lo para os demais empregados como "a melhor forma" de execução em cada atividade (Spender, 2001). 16 De Taylor até hoje, houve muita evolução no tratamento e na importância da gestão do conhecimento nas empresas. Inicialmente, o conhecimento era visto como um objeto (Spender, 2001, p. 30), cujo principal atrativo era o aumento de produtividade dos trabalhadores e das máquinas. Atualmente, o conhecimento é visto como o principal recurso para a geração de vantagem competitiva nas empresas (Stewart, 1998, p. 6). Vantagem esta que não precisa estar apenas em produtividade, mas também em inovação, atendimento, distribuição, etc. Como destacado por Stewart: "O conhecimento é mais valioso e poderoso do que os recursos naturais, grandes empresas ou polpudas contas bancárias" (Stewart, 1998, p. xiii). Outra forma de tratar o conhecimento é como um processo (Spender, 2001, p. 30). Nesse caso, observa-se que não basta a aquisição de conhecimento. As empresas devem possuir formas de fazer com que ele seja transferido de pessoa para pessoa. Para isto existem diversas ferramentas de administração que buscam tomar esta transferência mais eficiente. Estes processos são conhecidos atualmente como "aprendizagem organizacional". Senge (2003) demonstra a importância da estruturação da empresa para que o conhecimento seja intercambiado entre as pessoas, fazendo com que ela se tome mais eficiente e gere mais conhecimento. Na próxima seção o tratamento do conhecimento como processo merecerá maior detalhamento devido à sua importância nas discussões recentes sobre a gestão do conhecimento. Por fim, outro conceito básico sobre o conhecimento, seja ele tácito ou explícito, diz respeito à sua "subjetividade". Em outras palavras, o conhecimento sempre depende do "contexto" em que está sendo utilizado (Nonaka & Takeuchi, 1997, p. 64). Fora 17 deste contexto ele perde seu valor e se torna apenas uma informação ou um dado. Por exemplo, o conhecimento necessário para um médico diagnosticar doenças a partir de sintomas e exames não terá valor para a administração financeira de seu consultório. Outro tipo de conhecimento terá maior valor em um contexto financeiro. IH .2.2. Gestão do conhecimento para a inovação e a aprendizagem organizacional Uma forma de entender a importância do gerenciamento dos processos de conhecimento é através da necessidade que as empresas têm relativamente a inovação e aprendizagem organizacional. Através desses conceitos, as empresas devem ser capazes de gerar, desenvolver, inovar e trocar conhecimento, estando sempre atentas a mudar suas próprias atuações perante o mercado, conforme a evolução do conhecimento abra novas possibilidades de negócios. As constantes mudanças que ocorrem no mercado implicam na renovação do conhecimento, o que, por sua vez, implica na renovação das "competências" das empresas (Lei et aI., 2001). Esta dinâmica não é algo simples. Neste enfoque, a empresa é vista como um organismo que, mesmo sem cérebro, é capaz de armazenar conhecimento e desenvolver sistematicamente soluções aos problemas gerados pelos ambientes externo e interno (Fleury & Fleury, 1995). Outro ponto que tem fortalecido a gestão do conhecimento e a aprendizagem organizacional é o fenômeno da globalização dos mercados. Com a globalização, uma maior quantidade de conhecimento se faz necessária para a empresa manter sua competitividade e enfrentar os novos concorrentes que chegam com capital, experiência e tecnologia (Stewart, 1998). 18 Leonard-Barton (1998) sugere quatro atividades geradoras e difusoras do conhecimento em uma empresa. A primeira é a solução compartilhada de problemas, onde a grande importância está nas trocas de conhecimentos que ela viabiliza. Todos os funcionários, do operário ao CEO, podem desenvolver uma idéia que seja útil para a empresa, p. ex., os engenheiros e gerentes - porque são fonnados e preparados com este objetivo -, e também os operários - porque vivenciam o dia a dia da produção podendo dar excelentes sugestões empíricas aos problemas. A segunda atividade é a integração de novas tecnologias e novas metodologias. A empresa deve ser voltada para a rápida integração das novas tecnologias e metodologias ao ambiente de negócios. Em outras palavras, a empresa, de fonna calculada, deve se permitir correr riscos e testar as inovações que surgem, assim como se dar a chance de estar à frente da concorrência. No caso de fracassos, ficará o aprendizado daqueles que participaram da empreitada. Como terceira atividade está a experimentação fonnal e infonnal. Aqui, a participação de todos no dia-a-dia da empresa deve ser incentivada. Não importa se de modo fonnal ou não. Também não importa se em projetos ou rotinas diárias. Todos são capazes de terem boas idéias e usar a experimentação significa pensar no futuro da empresa. Como quarta e última atividade está trazer know-how de fontes externas. Neste caso, o espírito de todos os funcionários da empresa deve estar conectado com tudo que ocorre na sua indústria e nos assuntos, em geral, que possam, de alguma fonna, influenciar a vida da empresa. A descoberta de novas tecnologias, o aproveitamento de oportunidades e a proteção contra prováveis ameaças são melhor trabalhadas quando percebidas antes dos concorrentes. Além disso, qualquer funcionário está apto a descobri-las (Leonard-Barton, 1998). 19 À luz das atividades descritas por Leonard-Barton (1998), pode-se apontar nas empresas ações cotidianas que as mesmas utilizam para gerir o conhecimento e incentivar a inovação em seus negócios. Como exemplo dessas ações, é apresentada a lista da Figura 1 a seguir. Porém, para que haja sucesso nessas ações cotidianas, é importante que a empresa tenha a consciência de que ela tem que estar preparada do ponto de vista organizacional e estratégico, uma vez que a gestão do conhecimento é um conceito capaz de integrar questões contábeis, financeiras, de empreendimento, de comportamento organizacional, de marketing, e de sociologia da empresa (Teece, 1998 , p.289). Pode-se dizer que as empresas que trabalham as atividades sugeridas por Leonard-Barton (1998) objetivam a flexibilidade gerencial e assumem uma dinâmica de funcionamento que alguns autores tratam como um rompimento com as rígidas teorias de Taylor, Ford e Fayol (Crawford, 1994, p. 122). FIGURA 1: Ações cotidianas para gestão do conhecimento a) Bancos de idéias b) Programas de trainees ou integração de novos funcionários c) Treinamento e desenvolvimento de habilidades: on lhe job training d) Learning centers, universidades corporativas e) Sistemas de avaliação de competências 1) Relatórios de desempenho; informativos; publicação de livros e artigos g) Bibliotecas ativas e passivas; programas de leituras h) Intranet, e-mail, bases de conhecimentos 20 i) Reuniões periódicas; convenções; seminários; workshops; brainstorming j) Equipes multidisciplinares e multiculturais; equipes de projetos k) Mentores ou treinadores (coaching) 1) Benchmarking, best practicies; lessons learned m) Sistemas de inteligência competitiva n) Pesquisas básica, aplicada, de mercado ou junto aos stakeholders Desde Taylor (1865 - 1915), que foi o pnmeIrO a empregar de forma empresarial e científica o conhecimento na administração, a forma de trabalho se alterou, tomando os trabalhadores mais produtivos, já que o conhecimento passou a ser utilizado de forma intensiva em todos os processos e ferramentas da empresa. Com as técnicas de Taylor, surgia o embrião da utilização do conhecimento de forma estratégica nas empresas, ainda que o foco de Taylor fosse "beneficiar o trabalhador" (Drucker, 2002, p. 15). Posteriormente, na história da evolução administrativa, a eletrônica possibilitou a automação de diversas atividades rotineiras. A produtividade deu um salto fabuloso, tanto nas empresas manufatureiras, quanto nas de serviços. Nas empresas de serviços surgiram sistemas para armazenagem de enormes quantidades de dados, os quais passaram a ser tratados de forma mais eficiente e analítica. Já na manufatura, as ferramentas automáticas e os robôs foram os alavancadores da produção (Castells, 2002; Stewart, 1998). Com tudo isso, hoje, século XXI, Drucker (2002, p. 20) afirma que o diferencial das empresas líderes está na "aplicação do conhecimento ao conhecimento". Percebe-se, portanto, que mesmo a automação e a informática já não são mais 21 diferenciais suficientes para garantia de liderança, uma vez que são fãceis de serem copiados entre concorrentes. O diferencial agora está no aprendizado que uma empresa deve construir a partir de sua própria experiência e da sua relação com os clientes, fornecedores e concorrentes (Drucker, 2002). Garvin (1993, p. 80) destacou a importância da organização orientada para o aprendizado, ou seja, aquela com capacidade de adquirir continuamente novos conhecimentos organizacionais. O autor apresentou cinco principais atividades em essas têm que trabalhar: "Organizações que aprendem são hábeis em cinco atividades principais: (1) solucionam seus problemas de forma sistemática, (2) realizam experimentações para testar novas abordagens, (3) aprendem a partir de suas próprias experiências e estórias passadas, (4) aprendem a partir das experiências e melhores práticas de outras empresas e (5) transferem conhecimento de forma rápida e eficiente através da própria organização." (Garvin et aI., 1993, p. 81). Não se pode deixar de lembrar que a empresa é uma organização que objetiva o lucro, e o que se espera com técnicas mais flexíveis de administração é que a empresa sobreviva e, principalmente, cresça em sua indústria. Quando se fala em aprendizado em uma empresa, a primeira coisa que vem à mente são as pessoas, porque é por elas que tudo se inicia. Assim, as práticas de gestão devem mobilizar o comportamento de todos da empresa para o conhecimento e inovação (Senge, 2003). Desde o momento da contratação das pessoas, a administração deve sempre prestigiar as características de 22 aprendizado, e isto deve estar presente em todos os momentos da vida funcional das pessoas. Seja na construção da carreira, seja nas recompensas ou nos treinamentos, tudo na empresa deve estar desenhado de forma a valorizar o acúmulo e também a troca de conhecimento, tomando verdadeiro o sentido de que a empresa está sempre "aprendendo" (Senge, 2003). IH .2.3. o Modelo SECI (a espiral do conhecimento) A importância do conhecimento para a estratégia da empresa foi bastante evidenciada nos itens anteriores. No entanto, é importante destacar que o ambiente empresarial deve estar preparado para permitir a transferência do conhecimento entre os funcionários. Nesta seção será abordado o modelo proposto por Nonaka & Takeuchi (1997) que apresenta uma metodologia organizacional geradora e transformadora de conhecimento na empresa. Nonaka & Takeuchi (1997) se basearam no estilo japonês de gestão do conhecimento. Não que eles o consideraram superior ao estilo ocidental (americano e europeu) - uma vez que eles apontam virtudes e falhas em ambos -, mas porque eles destacam algumas empresas do Japão que, em um curto período de tempo, passaram a concorrer em pé de igualdade com as empresas ocidentais, superando estas em vários segmentos de produtos. Dentre outros exemplos, os autores citam empresas do setor automobilístico e do setor eletrônico. Para elaborar seu modelo, os autores estudaram várias das empresas de sucesso do Japão. A partir destes estudos, Nonaka & Konno (1998) criaram um modelo chamado "SECI". Este acrônimo é proveniente das letras iniciais dos quatro modos de conversão do conhecimento: socialização, extemalização, combinação e intemalizarão. 23 Juntos, os quatro modos de conversão formam a "espiral do conhecimento" (Nonaka & Konno, 1998, p. 79). Este modelo é tratado por Nonaka & Takeuchi (1997) como baseado na "epistemologia do conhecimento", uma vez que explica as trocas de conhecimento com base em seus formatos explícito e tácito (ver Figura 2). FIGURA 2: Quatro modos de conversão do conhecimento Conhecimento tácito PARA Conhecimento explícito Conhecimento tácito Socialização Externalização Internalização Combinação DE Conhecimento explícito A socialização é o primeiro modo da espiral do conhecimento. Seu pressuposto é a troca de experiências entre os funcionários. Portanto, o objetivo é a troca de conhecimento tácito através do contato profissional diário. As pessoas, quando trabalhando juntas, acabam se influenciando através da troca de idéias de forma descompromissada ou não, ou mesmo começam a se influenciar nos hábitos. Um exemplo são as trocas de idéias em reuniões do tipo brainstorming. Nestas reuniões as pessoas lançam suas idéias, mesmo que pareçam absurdas, e todos apontam virtudes e falhas. Assim, uma idéia vai completando a outra até que uma idéia de consenso seja estabelecida. Percebe-se aSSIm que a idéia final foi resultado da experiência e criatividade de cada participante. 24 Outra forma de trocar conhecimento tácito é através da mera imitação. Um funcionário menos experiente trabalha ao lado de outro mais experiente, buscando realizar as atividades da mesma forma. Com o tempo, há uma tendência de o funcionário menos experiente ter habilidades muito semelhantes às do mais experiente. Uma outra forma de haver troca de conhecimento tácito é através do relacionamento próximo, ou interação, entre empresa e fornecedores e entre empresa e clientes. Isto permitirá que a empresa perceba mais profundamente as necessidades de seus parceiros, o que resultará em futuros insights para futuras melhorias nos produtos e serVIços. Em seguida vem o modo de troca de conhecimento chamado externalização. Neste modo está a transformação do conhecimento tácito em conhecimento explícito. Segundo Nonaka & Takeuchi (1997), este é o momento em que o conhecimento explícito é criado. O conhecimento é transferido entre as pessoas na forma de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos, o que toma este conhecimento "perfeito", segundo os autores. Em outras palavras, a importância deste momento do conhecimento explícito (recém transformado a partir do conhecimento tácito) é que seu significado servirá de símbolo para o direcionamento e a construção dos demais conhecimentos explícitos a serem trabalhados. Se as metáforas, conceitos, etc. estiverem corretos e adequados, mais de meio caminho da etapa de criação de um projeto estará percorrida (Nonaka & Konno, 1998, p. 73), porque é neste momento que as idéias agregadoras são lançadas para que toda a equipe se concentre e saiba quais objetivos terá que perseguir. Se este modo falhar, toda a continuidade de troca de conhecimento ficará comprometida, uma vez que as idéias que serão criadas padecerão de um conceito unificador. Na verdade, 25 isto não quer dizer que o resultado não será alcançado, porém poderá ser necessário mais tempo e tentativas para sua realização. No terceiro modo está a combinação. Aqui, o conhecimento é transformado de explícito para explícito. Ou seja, os conceitos criados no modo de externalização são sistematizados para que se tome conhecimento aplicado a produtos e serviços ou que possa ser transferido formalmente entre pessoas. O conhecimento nesta etapa pode ser transformado entre diferentes formatos, quantas vezes se fizer necessário. Por exemplo, o conhecimento primeiramente pode ser explicitado através de uma palestra, em seguida documentado em uma revista interna e, posteriormente, estruturado em forma de manual para ser consultado e seguido por todos os funcionários de uma empresa. Este modo de transformação do conhecimento tem enorme importância, pois é o mais freqüentemente utilizado para distribuição do conhecimento pelos diversos setores da empresa, inclusive para filiais que se encontram em diferentes continentes. Muitas empresas utilizam este modo de transformação como um diferencial estratégico, também chamado de "codificação" (Hansen & Nohria, 1999). Por fim, está a internalização, modo que transforma o conhecimento explícito em tácito. Como sugerem Nonaka & Takeuchi (1997), o conhecimento explícito, para ser internalizado e se tomar tácito, precisa estar "verbalizado" de alguma forma, como em manuais, descrições de processos, normas, livros, palestras, etc. Um formato estruturado facilita a transmissão do conhecimento entre pessoas e permite que aqueles que recebem o conhecimento nesses formatos possam vivenciar, ainda que indiretamente, as experiências de outras pessoas. Um outro exemplo de internalização pode ser demonstrado quando, por exemplo, funcionários de marketing visitam outras áreas comerciais para conversar e questionar os vendedores sobre suas experiências e opiniões sobre o comportamento e o 26 desejo dos clientes. Neste caso, os funcionários de marketing estão intemalizando o conhecimento que os vendedores irão explicitar em suas respostas. Segundo Nonaka & Konno (1998), os quatro modos de conversão do conhecimento formam o "ciclo do conhecimento" (Figura 3). No entanto, quando o ciclo é reiniciado, através de nova socialização, o grau de conhecimento entre os funcionários envolvidos é maior, uma vez que eles já acumularam o aprendizado do ciclo anterior. Portanto, o novo ciclo de transformações se reiniciará a partir de um nível superior de conhecimento, formando a "espiral do conhecimento" (Nonaka & Konno, 1998). Caberá à empresa adotar uma estratégia de gestão desta espiral do conhecimento de modo que ela seja implementada com a maior eficiência possível. Também será necessário que a empresa focalize em alguns modos de transformação mais do que em outros, de acordo com sua estratégia (Hansen & Nohria, 1999). Estes aspectos serão abordados na próxima seção. FIGURA 3: Espiral do conhecimento Diálogo Externalização Soe ial ização o ""O ,g o u-o. 5 §u Vl t: o U Combinação Internalização Aprender fazendo Fonte: Nonaka & Konno, 1998, p. 80 27 111 .3. Estratégias de Gestão do Conhecimento Como apontado nas seções anteriores, o conhecimento tomou-se um recurso extremamente estratégico para o atendimento das necessidades dos clientes e para a competição entre as empresas. Porém, para a implantação adequada da gestão do conhecimento na empresa, são necessárias duas etapas, segundo Hansen & Nohria, (1999): a primeira é a escolha de uma estratégia que esteja em acordo com a estratégia corporativa da empresa, ou seja, com a visão que a empresa tem de seu negócio e com seus respectivos objetivos. A segunda etapa é a implementação da estratégia na empresa. Trata-se de um momento igualmente importante por haver uma série de variáveis que devem ser trabalhadas para que o ambiente se tome favorável às técnicas e ferramentas que serão utilizadas. Neste trabalho iremos focar o primeiro momento: a escolha da estratégia de gestão do conhecimento. Ruggles (1998) analisou uma pesquisa da Ernest & Young Center for Business Innovation em 431 organizações dos Estados Unidos e da Europa sobre a gestão do conhecimento. Nesta pesquisa, "94% dos executivos concordaram que seria possível, através de um gerenciamento mais deliberado, alavancar o conhecimento interno das empresas para graus mais elevados" (Ruggles, 1998, p. 81). Isto confirma a grande importância que os executivos dão ao conhecimento, do ponto de vista estratégico. No entanto, na pesquisa também ficou claro que os executivos não têm uma atuação padronizada na condução da gestão do conhecimento, uma vez que foi apontada uma diversificada priorização de projetos na área. Por exemplo, muitos sistemas informatizados contribuem enormemente para a gestão do conhecimento, no entanto, as próprias empresas já perceberam que as questões envolvidas nesta gestão são muito mais complexas do que a mera aquisição de sistemas computacionais (Spender, 2001). 28 Na seção "111 .2.2 - Gestão do conhecimento para a inovação e a aprendizagem organizacional" foram sugeridas diversas técnicas e ferramentas para que o conhecimento seja trabalhado na empresa. Embora haja literatura explicando como utilizá-las, para se obter resultados positivos, há necessidade de que o ambiente da empresa esteja totalmente voltado para a geração e troca de conhecimento. Um exemplo deste tipo de ambiente foi proposto por Nonaka & Konno (1998) como sendo o "ambiente Ba". Trata-se de um ambiente onde os espaços físico, virtual e mental estão unificados e os indivíduos se percebem como parte indissociável do mesmo, do qual suas vidas intimamente dependem (Nonaka & Konno, 1998). Hansen & Nohria (1999) elaboraram um artigo - de grande relevância no contexto deste trabalho -, que destaca a importância, para a empresa, da escolha do tipo de estratégia para gestão do conhecimento. Este artigo é proveniente de um amplo estudo que os autores elaboraram em diversos segmentos industriais, iniciando por firmas de consultoria empresarial. Esta escolha inicial justificou-se por estas empresas terem sido as primeiras a investir fortemente na gestão do conhecimento internamente. Hansen & Nohria (1999) apontaram duas estratégias para gestão do conhecimento. A primeira foi chamada de "codificação" e a segunda foi denominada de "personalização". Na codificação, todo o conhecimento é padronizado, estruturado e armazenado em sistemas de informação. Nestes sistemas, o conhecimento pode ser localizado através de uma indexação eficiente e pode ser distribuído para todas as filiais da empresa através de redes de dados. Assim, a reutilização do conhecimento explícito é o principal objetivo, dando-se pouco incentivo à customização para adequação de produtos e serviços à particularidades dos clientes (Hansen & Nohria, 1999). Na personalização, a importância está na transmissão do conhecimento tácito de uma pessoa para outra. Neste caso, os sistemas de armazenagem de conhecimento são 29 menos robustos do que na estratégia anterior. As ferramentas utilizadas são aquelas que priorizam os contatos pessoais de modo que as dificuldades, as soluções, os métodos, os custos, etc., dos trabalhos primeiramente realizados, possam ser discutidos para ajudar àqueles funcionários que irão realizar trabalhos semelhantes posteriormente. É importante destacar que a classificação da estratégia de gestão do conhecimento nos dois tipos descritos é a base de todo o artigo de Hansen & Nohria (1999). No artigo de Hansen & Nohria (1999) são apresentados exemplos de empresas que ora se enquadram na estratégia da "codificação", ora se enquadram na estratégia da "personalização". Na fase de estudo de firmas de consultoria, eles apresentam a Ernest & Young como um exemplo de empresa que focou fortemente a estratégia da codificação. Neste caso, a empresa investiu fortemente em sistemas de arquivamento e localização de todos os trabalhos executados para seus clientes. Os funcionários foram treinados em um modelo "people-to-document" (Hansen & Nohria, 1999, p. 108), ou seja, o esforço diário dos funcionários na condução de seus trabalhos é por recuperar trabalhos realizados anteriormente por outras equipes da Ernest & Young, independentemente do país de origem. Os trabalhos recuperados são estudados e customizados para o atual cliente onde o trabalho está sendo conduzido. Já numa outra firma de consultoria, a McKinsey, a estratégia prioritária é a personalização (Hansen & Nohria, 1999). Os funcionários que estão conduzindo trabalhos nos clientes são incentivados a conhecerem profundamente as particularidades dos clientes e, em seguida, a buscarem, dentro da McKinsey, outras equipes que tenham participado de trabalhos semelhantes, independentemente do país onde se localizem. O foco está na troca de experiências, ou "conhecimento tácito" (Leonard & Sensiper, 1998), entre os funcionários. Portanto, neste tipo de estratégia o modelo é chamado de 30 "person-to-person" (Hansen & Nohria, 1999, p. 109). As experiências são somadas e o trabalho final é o mais personalizado possível para o cliente atual. A preocupação de Hansen & Nohria, (1999) é com a falta de foco estratégico que possa existir em uma empresa, quando ela for investir seus recursos em ferramentas de gestão do conhecimento. Segundo os autores, uma empresa deve possuir 80% de seus esforços canalizados para apenas um dos dois tipos de estratégia de gestão do conhecimento. IH.4. O Constructo: Estratégia de Gestão do Conhecimento O constructo deste trabalho é a "Estratégia de Gestão do Conhecimento". A gestão do conhecimento é estratégica quando associada aos objetivos estratégicos da empresa (Stewart, 1998). Conforme Hansen & Nohria (1999, p.114) citaram: "a estratégia competitiva tem que direcionar a estratégia da gestão do conhecimento", e esta relação entre as duas estratégias possibilitará que consistentes decisões e investimentos sejam realizados em benefício do cliente e da empresa. Segundo Hansen & Nohria (1999), a estratégia de gestão do conhecimento pode ser implementada de duas formas: "codificação e personalização". Cada um dos tipos citados está associado a diferentes tipos de ações práticas adotadas pela empresa. Neste trabalho, estas ações serão extraídas da bibliografia e visualizadas como indicadores do tipo estratégico escolhido pela empresa, de modo suficiente a permitir uma avaliação que informe qual dos tipos de estratégia de gestão do conhecimento uma empresa está focando. Na figura 4 apresenta-se um diagrama demonstrando como é a relação entre o constructo "Estratégia de Gestão do Conhecimento" e seus indicadores. Nesta figura, 31 observa-se que o tipo de estratégia de gestão do conhecimento é que deve determinar quais as ações e os recursos que deverão ser focados como investimento pela empresa. Seguindo esta afirmação de Hansen & Nohria (1999), este trabalho buscará criar uma escala para avaliar a estratégia de gestão do conhecimento, transformando estas ações e recursos em indicadores. Estes indicadores serão aferidos através de uma escala, a qual, espera-se, possibilitará uma avaliação da intensidade de utilização de uma determinada estratégia por uma empresa. FIGURA 4: Esquema do Constructo "Estratégia de Gestão do Conhecimento" Estratégia de Gestão do Conhecimento Indicador I Indicador 2 Indicador i Indicador n IH .5. Definição dos indicadores Uma vez definido o constructo, falta descrever cada um dos indicadores que irão compor a escala de mensuração. Para isto, o referencial teórico foi percorrido buscando identificar ações estratégicas que os autores indicavam como capazes de gerar, armazenar e trocar conhecimento. Algumas destas ações foram associadas aos dois tipos estratégicos de gestão do conhecimento indicados por Hansen & Nohria (1999). Portanto, estas ações estratégicas selecionadas se tornaram indicadores para apontar se 32 uma empresa estaria adotando uma gestão do conhecimento focada na personalização ou focada na codificação. Buscava-se, nesta estrutura, estabelecer um continuum baseado em uma escala ordinal (Malhotra, 2001), para que o entrevistado pudesse posicionar o valor de sua percepção. Um primeiro aspecto para se analisar sobre gestão do conhecimento é observar como as pessoas percebem a transferência de conhecimento dentro das empresas. Hansen & Nohria (1999) caracterizaram duas formas de transferência do conhecimento, segundo a estratégia de gestão do conhecimento empregada. Na primeira forma - a personalização -, o foco está na transmissão do conhecimento tácito, portanto, a importância está no contato entre as pessoas, o que eles nomearam "person-to- person". Na segunda forma de transferência - a codificação -, o foco está no conhecimento explícito e os autores destacaram a menor relevância do contato pessoal, uma vez que o conhecimento deveria ser codificado em bases de dados e sistemas computacionais. Estas considerações encontraram embasamento em Nonaka & Konno (1998, p. 66) que descreveram o conhecimento tácito como associado à comunicação como um "processo simultâneo". Uma situação baseada no "aqui e agora". Já o conhecimento explícito, aquele que está nas bases codificadas de dados, também segundo Nonaka & Takeuchi (1997), se refere a conhecimento do passado, ou baseada em "lá e então". Leonard & Sensiper (1998, p. 124) também relatam a necessidade de aproximação e intimidade entre as pessoas para haver troca de conhecimento tácito. O'Dell & Grayson (1998) aponta a importância do apoio tecnológico para a armazenagem e transferência de conhecimento, embora destaque que a tecnologia não funciona sem haver uma estratégia para envolvimento das pessoas com a ferramenta. 33 Dessa forma, o primeiro indicador buscou retratar se a percepção do entrevistado com relação à transferência de conhecimento interno à empresa seria focada nas relações entre pessoas ou na reutilização de conhecimento codificado. Indicador 1: Transferência de conhecimento de uma pessoa para outra Fonte: Hansen & Hohria (1999, p. p. 107); Nonaka & Takeuchi (1997, p. p. 66); Leonard & Sensiper (1998, p. p. 124); O'Dell & Grayson (1998) Outro aspecto observado envolveu as ações de treinamento dos funcionários. Situações como a chegada de um funcionário novo, a transferência de funcionários entre áreas ou a promoção hierárquica de um funcionário exigem uma atenção por parte das empresas, no que tange a capacitar tais funcionários o mais rápido e adequadamente possível às novas atividades demandadas. Por isto, o treinamento é uma atividade estratégica muito comum nas empresas, podendo ser realizado de diferentes formas. Novamente aqui pode haver um foco na transmissão de conhecimento na forma explícita ou na forma tácita. Quando o foco é na transmissão de conhecimento explícito, ou codificado, as atividades de treinamento são realizadas por instrutores através de palestras ou aulas e se utilizam manuais que devem ser lidos pelos funcionários. Algumas vezes são realizadas provas para medir e comprovar se o conhecimento adquirido durante o treinamento foi satisfatório. Conforme Nonaka & Takeuchi (1997, p. 76) explicaram, a educação (aulas) e o treinamento formal são trocas de conhecimento codificado. Já, quando o foco do treinamento é na transmissão do conhecimento tácito, existem formas bem mais personalizadas para sua realização. Estas formas são conhecidas como "coaching" e "menforing". Em ambas, o contato pessoal é necessário 34 e exige tempo dedicado para isto (Leonard & Sensiper, 1998, p. 123). Nessas formas de treinamento, os funcionários seniores são incentivados a passar seu conhecimento para funcionários juniores. Porém, isto não se dá como no treinamento formal, mas sim por um longo período de tempo, podendo durar meses, e baseando-se no estilo person-toperson (Hansen & Nohria, 1999) ou people-to-people (O'Dell & Grayson, 1998, p. 172). Criou-se aqui, portanto, o segundo indicador, questionando a percepção do entrevistado com relação ao emprego das duas formas de treinamento. Ele poderia tender tanto para os treinamentos focados em palestras, quanto para os treinamentos focados em coaching ou mentoring. Indicador 2: Treinamentos aplicados na empresa Fonte: Leonard & Sensiper (1998, p. p. 123); Nonaka & Takeuchi (1997, p. p. 76); Von Krogh (1998, p. 144) Um terceiro ponto estratégico na gestão do conhecimento diz respeito ao conhecimento adquirido fora da empresa. As empresas têm que estar atentas ao seu ambiente externo, observando concorrentes, clientes, fornecedores, governo, etc. (Porter, 1996; Nonaka, 1997). Por isto, uma forma de trazer este tipo de conhecimento exógeno é fazer com que seus funcionários se envolvam em atividades externas à empresa e possam se atualizar constantemente. Novamente aqui pode haver prevalência de um foco estratégico associado a como a empresa incentiva seus funcionários a trazerem tais conhecimentos. Os mesmos podem estar envolvidos em comunidades de prática I ou seminários, ou podem participar de cursos formais, por exemplo. A participação em comunidades de prática e seminários possui a característica de envolver 35 as pessoas de uma forma mais intensa e prolongada (Wenger & Snyder, 2000; Leonard & Sensiper, 1998, p. 123). Portanto, é uma ação estratégica mais próxima do estilo personalizado de troca de conhecimento. Já a participação em cursos formais, segue mais o estilo codificado, conforme demonstrado por Nonaka & Takeuchi (1997) sobre a troca de conhecimento explícito ocorrida em palestras. Portanto, o terceiro indicador procurou saber se os entrevistados da empresa se envolviam mais vezes com fontes externas de conhecimento em que o contato pessoal era mais intenso, ou com fontes externas em que o contato pessoal era mais superficial. Indicador 3: Fontes externas de conhecimento utilizadas pela empresa Fonte: Wenger & Snyder (2000, p. 140); Nonaka & Takeuchi (1997, p. 76) Hansen & Nohria (1999) destacaram a importância de haver coerência entre a estratégia do atendimento aos clientes e a estratégia para gestão do conhecimento na empresa. Ou seja, a estratégia para gestão do conhecimento deve ser implementada após já estar definida a estratégia de negócios da empresa. Os autores citados apontaram exemplos de empresas como a Bain & Co., de consultoria em estratégia, que produzia um tipo de serviço extremamente complexo e personalizado aos seus clientes. Para isto, o reaproveitamento de projetos de sucesso já implantados em outros clientes não era comum, uma vez que não seriam personalizados para os novos clientes. Além do que, projetos neste tipo de serviço são considerados sigilosos e não seria ético reutilizá-los. O reaproveitamento do conhecimento, nestes casos, seria das pessoas que adquiriram 1 Comunidades de Prática são grupos de pessoas que se reúnem informalmente e voluntariamente para dividir informações, insights, experiências e ferramentas sobre uma área de comum interesse (Wenger, 2000, p. 139). 36 conhecimento ao realizarem trabalhos anteriores e que poderiam contribuir com sua experiência com os novos executores do mesmo tipo de trabalho. Hansen & Nohria (1999) também apontaram um exemplo de outro tipo do estratégia, utilizada pela Price Waterhouse Coopers. Neste caso, o foco da empresa era reaproveitar projetos de sucesso, o que traria ganhos na agilização do atendimento aos novos clientes e ganhos de escala para a própria consultoria (Telles & Teixeira, 2000, p. 136). A Price se tomou reconhecida no mercado empresarial pela sua "base de dados" com soluções de sucesso já implementadas em seus clientes. Portanto, o tipo de solução (serviços e produtos) a ser oferecido para os clientes poderia ser um indicador do tipo de estratégia de gestão do conhecimento que a empresa estaria adotando, conforme sustentam Hansen & Hohria (1999). Indicador 4: Tipos de soluções (produtos e serviços) fornecidas aos clientes pela empresa Fonte: Telles & Teixeira (2000, p. 137); Hansen & Hohria (1999, p. 107); Hansen & Oetinger (2001, p. 108) Um outro ponto muito abordado por quase todos os autores se refere à Tecnologia da Informação. Dois aspectos são bastante relevantes: a forma de armazenagem do conhecimento e os sistemas de localização do conhecimento na empresa. Detendo-se primeiramente na questão da armazenagem, Hansen & Nohria (1999) explicam que o tamanho do investimento tecnológico de uma empresa está associado ao tipo de estratégia de gestão do conhecimento que uma empresa foca. Se ela utiliza prioritariamente a codificação, então os investimentos serão altos porque 37 envolverão caros sistemas de bancos de dados. Já se uma empresa possui seu foco estratégico na personalização, os investimentos em sistemas do conhecimento serão menores, pois a empresa crê mais na experiência acumulada pelos seus funcionários do que no conhecimento codificado reutilizável. No entanto, vale lembrar que o armazenamento do conhecimento não se restringe somente aos bancos de dados. Como bem lembra Leonard-Barton (1998, pp. 30,39), o conhecimento também se encontra armazenado nos demais sistemas computacionais e manuais de procedimentos (worliflow). Spender (2001, p. 30) faz uma abordagem muito interessante quando classifica o conhecimento, ao mesmo tempo, como objeto e como processo nas empresas. Como objeto, o conhecimento busca abstrair-se das pessoas que o criam e o desenvolvem. Já como processo, o conhecimento considera-se integrado às pessoas, englobando aspectos como "criatividade, inovação, motivação e comunicação". Destas considerações acerca do armazenamento do conhecimento, foi extraído o quinto indicador. Ele teria o objetivo de capturar a percepção dos entrevistados quanto à empresa utilizar preferencialmente a estratégia da armazenagem do conhecimento nas pessoas, ou priorizar o armazenamento do conhecimento em bases de dados, processos de trabalho e ferramentas. Indicador 5: Armazenagem do conhecimento da empresa Fonte: Leonard-Barton (1998, p. 30,39); Spender (2001, p. 31) Abordando o outro aspecto relacionado à tecnologia da informação e que diz respeito aos sistemas de localização do conhecimento na empresa, verifica-se que estas 38 ferramentas possuem grande utilidade para que as pessoas encontrem respostas às suas dúvidas de trabalho sem terem que "reinventar a roda" todo o tempo. Partindo-se das considerações utilizadas nos parágrafos anteriores que indicaram que o conhecimento pode estar tanto em documentos quanto nas pessoas, pode-se concluir que tais sistemas de localização podem estar associados tanto a bases de dados de conhecimento, quanto a cadastros de funcionários e sua experiência adquirida em projetos executados. Esta segunda forma de localização do conhecimento, também é chamada de "yellow pages" por alguns autores como Ruggles (1998, p. 85) e Stewart (1998, p. 106). Portanto, o sexto indicador solicitou aos entrevistados que informassem se os sistemas de localização de conhecimento na empresa focavam recuperar documentos armazenados ou focavam localizar as pessoas que detinham o conhecimento necessitado. Indicador 6: Sistemas de identificação do conhecimento na empresa Fonte: Hansen & Hohria (1999, p. 114); Ruggles (1998) Uma das ferramentas de geração e troca de conhecimento maIS comumente utilizada nas empresas é a reunião de trabalho. Alguns autores tratam do assunto com o intuito de demonstrar que elas devem ser potencializadas em seus resultados (Nonaka & Takeuchi,1997, p. 69; Leonard & Sensiper, 1998, p. 125). O interesse desses autores é demonstrar que as reuniões não devem ser só encaradas como um grupo de pessoas reunidas expondo suas idéias para que um chefe decida pela melhor solução. Os autores defendem uma técnica de reunião denominada "brainstorming". Nesta técnica, as pessoas são levadas a ter um relacionamento person-to-person mais intenso, o que 39 aumenta a possibilidade de maIOr fluidez de conhecimento tácito entre elas. Estas reuniões senam dedicadas à busca de soluções dií1ceis, onde a criatividade e a participação de todos seria levada ao extremo (Nonaka & Takeuchi, 1997). Portanto, o indicador aqui criado buscou capturar a percepção do entrevistado quanto à forma das reuniões utilizadas para buscar soluções para problemas complexos. O interesse era verificar se as reuniões eram expositivas, com decisão pelo chefe do grupo ou se eram reuniões do tipo brainstorming. Indicador 7: Tipos de reuniões realizadas na empresa Fonte: Nonaka & Takeuchi (1997, p. 69); Leonard & Sensiper (1998, p. 123) Uma das ações estratégicas apontadas por Hansen & Nohria (1999) é o incentivo, VIa remuneração, para aqueles funcionários que utilizam a estratégia de gestão do conhecimento focada pela empresa. Stewart (1998, p. 113) segure que as pessoas tendem a buscar soluções aos seus problemas de forma voluntária. No entanto, ele retrata que além de uma cultura de trabalho em equipe, se não houver uma política de remuneração e recompensas, a estratégia implantada tenderá ao fracasso. Cabe ressaltar que o incentivo deve existir independentemente do tipo de estratégia proposto pela empresa. Se o foco for em codificação do conhecimento, os funcionários devem ser incentivados a documentarem seus conhecimentos e a reutilizarem o conhecimento já codificado pelos demais funcionários. Já se o foco for em personalização, os funcionários devem ser incentivados a procurarem ajuda de outros funcionários mais experientes ou a ajudarem outros funcionários menos experientes. 40 Visto isso, foi estabelecido um indicador que visava extrair do entrevistado a sua opinião acerca do sistema de remuneração ser de incentivo à reutilização de conhecimento codificado ou à busca por conhecimento em funcionários mais experientes. Indicador 8: Sistema de remuneração da empresa para incentivar a troca de conhecimento Fonte: Hansen & Nohria (1999, p. 113); Hansen & Bolko (1999, p. 112); Stewart (2002, p. 113) Por fim, percebeu-se durante a elaboração do indicador relacionado a fontes externas de conhecimento, que os funcionários que participam de cursos, seminários ou comunidades de prática, ao retomarem para a empresa, necessitam transferir o conhecimento adquirido para os demais funcionários. Até porque estes eventos, na sua maioria, são custeados pelas próprias empresas. Assim, se o conhecimento não for transferido, os resultados estão limitados a apenas uma pessoa. Portanto, observa-se que uma ação estratégica da empresa poderia ser criada para formalizar e incentivar a transmissão dos conhecimentos adquiridos externamente, aSSIm que os funcionários retomassem à empresa, momento em que o conhecimento adquirido ainda estaria claro na cabeça de quem o passaria adiante. Assim, é proposto um indicador que verifique se a empresa busca uma forma de transmissão de conhecimento externo através de relatórios, ou através da realização de projetos e trabalhos em equipe com os funcionários que deveriam também assimilar o novo conhecimento. 41 Indicador 9: Transmissão de conhecimento adquirido em cursos e seminários externos a outras pessoas da empresa Fonte: Proposto pelo autor lU .6. Hipótese de Pesquisa A partir do referencial teórico apresentado nas seções deste capítulo, este trabalho buscou cnar uma escala de avaliação do tipo de estratégia de gestão do conhecimento que uma empresa estaria adotando e testou-a através de um estudo de campo. No estudo de campo, foi testada uma hipótese extraída do referencial teórico, mais precisamente do artigo de Hansen & Nohria, (1999), no que se refere à importância do foco estratégico, proposto pelos autores, para a gestão do conhecimento. Assim, a hipótese de pesquisa a ser testada, baseada no referencial teórico encontrado em Hansen & Nohria (1999) é: HO: Empresas líderes em seus segmentos necessitam estar com sua estratégia de gestão do conhecimento focada a um nível de 80%, no mínimo, em apenas um tipo de estratégia de gestão do conhecimento. A hipótese, anunciada acima, se mostrou interessante de ser testada, vez que outros autores sobre o tema gestão do conhecimento, como Nonaka & Takeuchi (1997), Leonard-Barton (1998), Spender (2001), em nenhum momento propuseram predominância de investimento estratégico focado em codificação ou personalização. 42 Ou seja, a hipótese sugerida por Hansen & Nohria (1999). Não encontra opiniões correlatas nos estudos de outros autores sobre o assunto. Portanto, a proporção 20% / 80% se toma questionável e interessante de ser avaliada através de estudos mais aprofundados. Nonaka & Takeuchi (1997) por exemplo, sugerem um ciclo evolutivo para o conhecimento que eles nomeia SECI. Neste modelo, o conhecimento, para ser transferido e inovado, deve passar obrigatoriamente pelos formatos tácito e explícito, mostrando que uma empresa deve estar trabalhando tanto a personalização quanto a codificação do conhecimento. Também Leonard-Barton (1998) ao mesmo tempo que ressalta a importância da "abrasão criativa" (Leonard-Barton, 1998, p.85) para a inovação e a troca de conhecimento tácito, ressalta, como estratégica, a codificação do conhecimento da empresa, através de patentes, softwares, hardwares e descrições de procedimentos. A todas essas formas de codificação do conhecimento Leonard-Barton (1998) trata como uma dimensão estratégica das atividades geradoras e difusoras do conhecimento em uma empresa (ver seção 111.2.2): os "sistemas técnicos físicos" (Leonard-Barton, 1998, p.39). Por fim, Stewart (2002), em seu livro A Riqueza do Conhecimento, apresenta uma série de empresas líderes de seus segmentos, como Shell, BP Amoco, Phillips Eletronics, IBM, Unilever, HP, etc., que possuem implementações de ferramentas da gestão do conhecimento tanto relacionadas à codificação quanto à personalização. Observa-se, nessas empresas, que coexistem exemplos de ferramentas como: comunidades de prática, bases de conhecimento, "páginas amarelas", reuniões do tipo brainstorming, etc. 43 Ou seja, a teoria observada nos autores aCIma são exemplos de modelos de gestão do conhecimento que, se não confrontam, pelo menos não identificam a necessidade de haver o modelo estratégico sugerido por Hansen & Nohria (1999) sobre a necessidade de uma empresa possuir foco estratégico na proporção de 20% / 80% em codificação ou em personalização do conhecimento. Agregue-se a isso, o fato de que o trabalho de Hansen & Nohria (1999), aonde tal posicionamento é publicado, carece de comprovações científicas mais rigorosas, cuja investigação, também tomou-se um dos motivadores desta dissertação. 44 CAPÍTULO IV - METODOLOGIA DE PESQUISA Este trabalho, considerando-se a taxonomia de Vergara (2000), teve as características de ser um estudo bibliográfico, uma pesquisa metodológica e um estudo de campo. Foi um estudo bibliográfico porque explorou uma literatura apropriada para o levantamento de conceitos e de indicadores que permitiram a criação de uma escala para avaliação da estratégia de gestão do conhecimento de uma empresa. Foi, também, uma pesquisa metodológica, uma vez que todo o seu desenvolvimento foi estruturado, seqüencial e com etapas pré-estabelecidas para sua condução. Finalmente, este trabalho também foi um estudo de campo, porque foi utilizado um escritório de propriedade intelectual, líder em seu segmento, para validação dos conceitos utilizados e prescritos na construção da escala de avaliação da estratégia de gestão do conhecimento. 45 IV.1. Descrição da Metodologia A metodologia envolveu as etapas listadas na Figura 5, abaixo. FIGURA 5: Estrutura da Metodologia do Trabalho Determinação do Problema da Dissertação :-+ I I I I I Análise do Referencial Teórico I I I Levantamento das estratégias de i gestão do conhecimento, i respectivos indicadores e hipótese de pesquisa I ~ I -+ Elaboração da Escala Teste da Escala i<II ...r--------j Questionários (Coleta de Dados no estudo de campo) r I I I 1 _____ +-_:.-- Validação da Escala / Teste da Hipótese Observações e Conclusões A seguir, é feita uma breve descrição sobre cada uma das etapas realizadas. Determinação do Problema da Dissertação: Inicialmente, foi detalhado o problema abordado neste trabalho, destacando-se quais eram os objetivos buscados para 46 elucidá-lo. Também foi feita a delimitação do problema através da descrição do escopo da pesquisa e do estabelecimento das premissas que nortearam a corrente epistemológica utilizada. Análise do Referencial Teórico: Depois de estabelecido o problema da dissertação, foi analisado o referencial teórico que suportou a metodologia aplicada. Foi feita uma breve descrição de como a gestão do conhecimento evoluiu desde a administração científica de Taylor até as recentes teorias sobre o assunto. Ao longo desta revisão literária, foram focadas as abordagens que tratavam prioritariamente da escolha do tipo de estratégia para a gestão do conhecimento. Levantamento das Estratégias de Gestão do Conhecimento, Respectivos Indicadores e Hipótese de Pesquisa: Em uma terceira etapa da metodologia, houve um aprofundamento do trabalho no que se refere à estratégia para a gestão do conhecimento. Houve um destaque maior para o artigo de Hansen & Nohria (1999), que sugeria uma dicotomia estratégica para a gestão do conhecimento: a "personalização" e a "codificação". Nesta etapa, também foi estabelecida a hipótese testada mais adiante no trabalho. Para estabelecimento dos indicadores, foi realizada uma revisão da literatura para identificação de quais eram os recursos estratégicos do conhecimento que possibilitariam analisar o foco estratégico de uma empresa relativamente à gestão do conhecimento. 47 Elaboração da Escala: A partir da teoria analisada foi criada uma escala para medição dos indicadores estabelecidos, possibilitando, assim, genericamente avaliar a estratégia de gestão do conhecimento adotada por uma empresa. Teste da Escala: Para o teste da escala, foi realizado um estudo estatístico com os indicadores estabelecidos durante a terceira etapa desta metodologia. O teste foi conduzido no ambiente de um escritório de propriedade intelectual, líder em seu segmento. Para as entrevistas, foi estabelecido um questionário padrão, o qual foi aplicado a uma amostra aleatória de funcionários, do ambiente de teste, para apuração do nível dos indicadores. A amostra selecionada foi composta por profissionais do escritório com experiência em serviços de propriedade intelectual superior a um ano. F oram selecionados randomicamente profissionais com curso superior e, em sua maioria, com pós-graduação em áreas ligadas ao serviço de propriedade intelectual. Como exemplos de formação acadêmica dos entrevistados pode-se citar direito, engenharia (várias especialidades), física, química e biologia. O levantamento realizado visou obter um entendimento pragmático do funcionamento das teorias abordadas na literatura do trabalho. Validação da Escala e Teste da Hipótese: Nesta etapa, foi feita a consolidação dos indicadores associados à escala criada. Nessa consolidação, foram feitas comparações entre a bibliografia estatística de apoio e os resultados obtidos. Também foi testada a hipótese formulada a partir da teoria, para verificação de sua aplicabilidade ao ambiente de teste utilizado. Ou seja, objetiva-se realizar tanto uma avaliação do tipo 48 de estratégia de gestão do conhecimento que a empresa teste aplicava, quanto obter um teste empírico para a escala de mensuração proposta neste trabalho. Observações e Conclusões: Ao final da pesquisa, há uma conclusão com um resumo dos principais passos realizados durante a investigação. Adicionalmente são apontadas as observações e conclusões obtidas a partir dos resultados alcançados. Estão destacadas as implicações que o estudo teria para a implementação de estratégias de gestão do conhecimento nas empresas e, também, sugestões de novos estudos para aprofundamento no tema. São também apresentadas as limitações do estudo. IV .2. Método para levantamento dos indicadores e Teste Estatístico Este trabalho foi dividido em duas etapas: uma primeira etapa, de caráter exploratório, onde foi buscado um referencial teórico para determinação dos indicadores que poderiam compor uma escala para mensuração do tipo de estratégia de gestão do conhecimento adotada por uma empresa; e uma segunda etapa, de caráter confirmatório, onde a escala proposta foi testada num ambiente empresarial. IV.2.1. Etapa Exploratória Esta etapa teve como objetivo determinar os indicadores que estariam associados ao tipo de estratégia de gestão do conhecimento adotada em uma empresa. Isto é, nessa etapa procura-se a validação do constructo latente "Estratégia de Gestão do Conhecimento" (Yin, 2001). 49 Foi uma etapa fundamental, pOIS dela saíram os subsídios relevantes para estabelecimento dos indicadores utilizados. Como MALHOTRA (2001) ressaltou, é de grande importância a teoria para sustentar quaisquer questionários, uma vez que não existem princípios científicos que garantam a sua idealização, mas somente a teoria utilizada e a experiência de quem o desenvolve. Assim, pode-se dizer que esta fase também se preocupa com a validação do conteúdo e o contexto nomológic0 2 da pesquisa (contruct validity) (Trochim, 2004b). Segundo Malhotra (2001): "O principal ponto fraco da elaboração de um questionário é a ausência de teoria" (Malhotra, 2001, p. 275). A pesqUIsa do referencial teórico buscou investigar as idéias dos principais estudiosos de gestão do conhecimento, não só para o estabelecimento dos indicadores de mensuração da estratégia de gestão do conhecimento, mas, também, para analisar os resultados alcançados. Dentre os trabalhos revisados, cabe destacar o artigo de Hansen & Nohria (1999), o qual gerou a hipótese a ser testada nesta dissertação. Adicionalmente, pode-se chegar aos indicadores a seguir, relacionados à teoria em questão. Nomológico: Trata-se de um contexto desenvolvido por Lee Cronbach e Paul Meehl em 1955 como parte dos esforços da Associação Americana de Psicologia para desenvolver modelos de testes psicológicos. O termo "nomológico" é derivado do grego e significa "legítimo". Então, um contexto nomológico pode ser pensado como um "contexto legítimo". O contexto nomológico foi uma forma de Cronbach e Meehl encararem a validação do constructo (construct validity). Isto é, para alguém apresentar evidências de que sua mensuração tinha validade de constructo, Cronbach e Meehl argumentaram que a pessoa tinha que desenvolver um contexto nomológico para os indicadores. Este contexto incluiria um modelo teórico para aquilo que se estaria tentando mensurar, um modelo empírico para a fonna sobre como a mensuração iria ser implementada e a especificação das ligações entre os modelos utilizados. (traduzido de Trochim, 2004b). 2 50 a) Transferência de conhecimento de uma pessoa para outra. Fonte: Hansen & Hohria (1999, p. 107); Nonaka & Takeuchi (1997, p. 66); Leonard & Sensiper (1998, p. 124); O'Dell & Grayson (1998). b) Treinamentos aplicados na empresa. Fonte: Leonard & Sensiper (1998, p. 123); Nonaka & Takeuchi (1997, p. 76); Von Krogh (1998, p. 144). c) Fontes externas de conhecimento utilizadas pela empresa. Fonte: Wenger & Snyder (2000, p. 140); Nonaka & Takeuchi (1997, p. 76). d) Tipos de soluções (produtos e serviços) fornecidas aos clientes pela empresa. Fonte: Telles & Teixeira (2000, p. 137); Hansen & Hohria (1999, p. 107); Hansen & Oetinger (2001, p. 108). e) Armazenagem do conhecimento da empresa. Fonte: Leonard-Barton (1998, p. 30,39); Spender (2001, p. 31). f) Sistemas de identificação do conhecimento na empresa. Fonte: Hansen & Hohria (1999, p. 114); Ruggles (1998). g) Tipos de reuniões realizadas na empresa. Fonte: Nonaka & Takeuchi (1997, p. 69); Leonard & Sensiper (1998, p. 123). h) Sistema de remuneração da empresa para incentivar a troca de conhecimento. Fonte: Hansen & Nohria (1999, p. 113); Hansen & Bolko (1999, p. 112); Stewart (2002, p. 113). 51 i) Transmissão de conhecimento adquirido em cursos e seminários externos a outras pessoas da empresa. Fonte: Proposto pelo autor. A tabela 1 a seguir consolida o que foi apresentado anteriormente: TABELA 1: Indicador Indicadores e respectivas fontes Fonte Hansen & Hohria (1999, p. 107); Nonaka & Transferência de conhecimento de uma Takeuchi (1997, p. 66); Leonard & Sensiper pessoa para outra (1998, p. 124); Q'Dell & Grayson (1998) Leonard & Sensiper (1998, p. 123); Nonaka Treinamentos aplicados na empresa & Takeuchi (1997, p. 76); Von Krogh (1998, p. 144) Fontes externas de conhecimento utilizadas Wenger & Snyder (2000, p. 140); Nonaka pela empresa & Takeuchi (1997, p. 76) Telles & Teixeira (2000, p. 137); Hansen Tipos de soluções (produtos e serviços) 107); Hansen & & Hohria (1999, p. fornecidas aos clientes pela empresa Oetinger (2001, p. 108) Leonard-Barton (1998, p. 30, 39); Spender Armazenagem do conhecimento da empresa (2001, p. 31) Sistemas de identificação do conhecimento Hansen et ai (1999, p. 114); Ruggles (1998) na empresa Nonaka & Takeuchi (1997, p. 69); Leonard Tipos de reuniões realizadas na empresa & Sensiper (1998, p. 123) Sistema de remuneração da empresa para Hansen & Nohria (1999, p. 113); Hansen & Bolko (1999, p. 112); Stewart (2002, p. 113) incentivar a troca de conhecimento Transmissão de conhecimento adquirido em cursos e seminários externos a outras Proposto pelo autor pessoas da empresa É importante ressaltar que os indicadores não visavam mensurar a qualidade (ou superficialidade) da implementação de quaisquer ações estratégicas na empresa, mas somente se havia foco em um dos dois tipos estratégicos apresentados. A partir dos indicadores acima, o constructo ficaria na forma da figura 6 abaixo: 52 FIGURA 6: Esquema do constructo "Estratégia de Gestão do Conhecimento" e seus Indicadores (a partir da literatura) Transferência de conhecimento de uma pessoa para outra Treinamentos aplicados na empresa Fontes externas de conhecimento utilizadas pela empresa Tipos de soluções fornecidas aos clientes pela empresa Armazenagem do conhecimento da empresa ESTRATÉGIA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO Sistemas de identificação do conhecimento na empresa Tipos de reuniões realizadas na empresa SIstema TransmIssão e con eClmento adquirido em cursos e seminários Uma vez colocado os indicadores em questionário, o mesmo foi submetido a uma série de profissionais de diferentes empresas para verificar sua clareza, sendo feitas correções a partir dos comentários recebidos. Um grupo focal formal não foi utilizado, uma vez que houve dificuldade em reunir um grupo de pessoas para tal objetivo em tempo hábil. 53 IV.2.2. Etapa Quantitativa A partir do questionário elaborado na etapa exploratória, um ambiente de prova foi escolhido para testar a escala de avaliação da estratégia de gestão do conhecimento. O ambiente de prova escolhido foi um escritório de propriedade intelectual e sua descrição consta no capítulo V deste trabalho. Abaixo estão relacionadas as características básicas intrínsecas a essa etapa, segundo Malhotra (2001): a) População: sócios, funcionários e estagiários de um escritório de propriedade intelectual que atuam como gestores de áreas de negócios e no relacionamento e atendimento aos clientes. Esta população perfez um total de 122 pessoas. b) Amostra: Devido ao tamanho reduzido da população, pensou-se na possibilidade de realizar um censo, enviando-se questionário a todos os indivíduos. No entanto, isto não se mostrou viável devido a: (1) impossibilidade de acesso a determinados indivíduos, seja por falta de espaço em agenda, seja por motivo de férias ou licença médica; e (2) nem todos os indivíduos que receberam os questionários, os retomaram. Outro critério adotado foi o da eliminação de profissionais com menos de 6 meses de trabalho no escritório, uma vez que ainda se encontravam em fase de ambientação na empresa. Com isto, um total de 48 questionários foi respondido. c) Coleta dos dados: a coleta de dados se deu através de um questionário montado com os indicadores estabelecidos na fase exploratória deste trabalho. Ele foi aplicado na amostra descrita no tópico anterior e cabe 54 ressaltar que, embora os entrevistados tenham se identificado, o sigilo em relação à publicação dos resultados individuais foi destacado, para que cada pesquisado tivesse total liberdade e tranqüilidade de manifestação de suas opiniões. Adicionalmente, a empresa teste não autorizou sua identificação neste trabalho. d) Método de entrevista: Foi aplicado um questionário, o qual foi entregue em mãos a cada profissional. Embora no questionário houvesse instruções quanto ao seu preenchimento, as mesmas foram verbalmente explicadas a cada entrevistado pelo autor. e) Questionário: A partir da literatura utilizada nos capítulos sobre Gestão do Conhecimento, foram analisadas nove ações estratégicas (como visto na seção IV.2.1 - Etapa Exploratória) que, dependendo da forma de implementação na empresa, colocariam a empresa com estratégia focada na "personalização" ou com estratégia focada na "codificação". Conseqüentemente, o questionário proposto teve o objetivo de avaliar como o conjunto de tais ações estratégicas posicionava a empresa entre os dois tipos estratégicos apontados (Anexo I). o questionário possuía uma primeira página com instruções sobre o seu preenchimento. Nestas instruções havia três informações relevantes. Primeiro informava-se qual era o objetivo do trabalho que estava por detrás do questionário, o qual envolvia foco estratégico em "personalização" ou "codificação". Era ressaltado que nenhuma das duas estratégias era melhor do que a outra, até porque elas coexistem na maioria das empresas. Uma segunda orientação era dada com relação à marcação da escala, ressaltando que o entrevistado deveria marcar a sua percepção quanto à 55 proporção entre a existência de ambas as ações de gestão do conhecimento na empresa. Por fim, o questionário informava que haveria sigilo do nome da empresa e dos entrevistados na publicação dos resultados. f) Escala: A escala apresentada foi do tipo "classificação por itens". Seguindo Malhotra (2001), ela mais se aproxima do tipo da forma "diferencial semântica". No entanto, foram utilizados onze pontos, diferentemente dos sete pontos indicados por Malhotra (2001). Nas extremidades da escala, se encontravam "rótulos bipolares" (Malhotra, 2001, p. 256), dicotômicos, acompanhando a proposição do referencial teórico utilizado. Na extremidade esquerda se encontrava a estratégia da "personalização" (Hansen, 1999) e na extremidade direita, a da "codificação" (Hansen, 1999). A escala foi numerada de O a 10 (onze pontos) (Figura 7). Portanto, o ponto 5 indicaria que ambas as ações estratégicas seriam utilizadas igualmente na empresa teste, numa proporção 50% - 50% cada. Já se o ponto 10 fosse escolhido, tal indicaria que a ação estratégica do lado direito seria aplicada em uma proporção de 100%, enquanto a ação do lado esquerdo teria uma aplicação de 0%. Outro exemplo, buscando exemplificar ainda maiS o funcionamento da escala, seria o respondente marcar 2. Nesse caso, ele estaria informando que a ação do lado direito estaria sendo aplicada em uma proporção de 20%, enquanto o lado esquerdo estaria sendo aplicado a uma proporção de 80%. Em outras palavras, a escala tinha como referência o pólo direito da mesma, enquanto o pólo esquerdo seria calculado como a diferença para completar 100%. 56 FIGURA 7: Continuum entre "Personalização" e "Codificação". Estratégia de Personalização I O 11 I 2 I 3 I 4 I 5 I 6 I 7 I 8 19 1101 Estratégia de Codificação g) Tratamento estatístico dos dados: A Análise Fatorial Confirmatória (CF A - confirmatory Jactorial Analysis) foi utilizada para análise estatística dos dados coletados. Para tratamento e consolidação dos dados foi utilizado o software LISREL®, versão 8.71, além do Excel® para elaboração das tabelas intermediárias. IV.2.3. Limitações do Método A metodologia proposta possui algumas limitações, destacadas a seguir: • A utilização de uma amostra aleatória3 de respondentes a um questionário gera sempre o distorções fISCO provocam de haver eventuais distorções na seleção. Estas dúvidas em relação a sua representatividade (Stevenson, 1981, p. 162). • A empresa objeto do teste tem um perfil conservador e tradicionalista. Tratase de uma empresa avessa à publicidade, que prefere a discrição. Estas características por vezes dificultaram, ou mesmo impediram, que certos procedimentos necessários a um teste estatístico fossem realizados. Amostra aleatória é aquela que possibilita que cada elemento da população tenha a mesma oportunidade de ser incluído na amostra (Stevenson, 1981). 3 57 • A análise proveniente do estudo empírico pode sofrer influência não aleatória do pesquisador, uma vez que há vínculo empregatício do mesmo com a empresa teste. No entanto, houve o comprometimento do pesquisador em buscar sempre uma neutralidade máxima, para não dizer total. Adicionalmente, cabe ressaltar a importante contribuição do orientador em evitar a ocorrência de tendenciosidade. • Outro aspecto importante a ser apontado refere-se à validade externa (Yin, 2001) deste estudo. Devido à escala ter sido testada e validada com base nas respostas obtidas em questionários aplicados na empresa teste, há uma natural restrição à reutilização irrestrita das conclusões obtidas no estudo, em outros ambientes organizacionais. No entanto, permanece a relevância da pesquisa pela possibilidade de replicação da metodologia proposta para avaliação da estratégia de gestão do conhecimento em outros ambientes empresanaIs. • A pesquisa utilizou diretamente Análise Fatorial Confirmatória, sem antes desenvolver uma Análise Fatorial Exploratória, como de praxe. Isto foi feito por considerar-se que o Referencial Teórico deu respaldo a validar o constructo (contruct validity) (Trochim, 2004). De qualquer modo, um estudo ainda mais rigoroso deveria, utilizando-se EF A (Exploratory Factor Analysis) ou PCA (Principal Components Analysis) (Garson, 2004a), explorar os indicadores verificando sua conformidade com o constructo em questão. Só depois, a análise confirmatória, com outra amostra, deveria ser realizada. 58 CAPÍTULO V - DESCRIÇÃO DA EMPRESA TESTE Neste capítulo, com base nas observações feitas in loco e, também, na literatura utilizada, será descrito o ambiente utilizado para testar a escala de avaliação da estratégia de gestão do conhecimento. Serão descritas características da estrutura, da administração, da direção, dos processos de trabalho e, por fim, dos funcionários. A empresa utilizada no estudo empírico deste trabalho é um escritório de propriedade intelectual, o qual será determinado doravante de "escritório Alfa". Uma curiosidade sobre o tratamento "escritório" é que neste segmento de serviços, as empresas são dirigidas, em sua maioria, por advogados e engenheiros, os quais tradicionalmente preferem a utilização desse tratamento. o escritório Alfa, tradicional em seu ramo de negócio, possui cerca de 400 funcionários na matriz do Rio de Janeiro e cerca de 50 na sua filial de São Paulo, atendendo a clientes do Brasil e do exterior. Os serviços são prestados para empresas que necessitem de assessoramento na proteção (lato-sensu) de suas marcas e patentes. Exemplos destes serviços são; depósitos de marcas e patentes junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), esclarecimentos de dúvidas; consultorias estratégicas; defesas administrativas de marcas e patentes no INPI e na justiça contra pirataria4 ; elaboração de contratos de cessão de marcas e patentes; dentre outros. Portanto, são serviços que lidam com um tipo de patrimônio extremamente sensível para seus clientes. Pirataria: "Atividade de copiar ou reproduzir, sem autorizaçãodos titulares, marcas e patentes, livros ou impressos em geral, gravações de som e/ou imagens ou ainda qualquer suporte típico que contenha obras intelectuais legalmente protegidas, inclusive software" (Bastos, 1997, p. 217). 4 59 o INPI, citado no parágrafo anterior, é uma autarquia federal, com sede no Rio de Janeiro, subordinado ao Ministério da Indústria e Tecnologia. Ele é responsável por analisar e decidir quais marcas e patentes podem receber a proteção legal no território brasileiro. Os procedimentos para a realização destes depósitos são basicamente regulados pela Lei de Propriedade Industrial (LPI - lei 9.276 de 1996). Além da lei brasileira, existem acordos e tratados internacionais sobre o assunto. Nestes acordos e tratados são estabelecidas as diretrizes principais para que as marcas e patentes sejam respeitadas entre os países signatários dos mesmos, inibindo, assim, ações de pirataria do conhecimento produzido nas empresas. Dentre outros aspectos, as normas nacionais ou internacionais determinam que condições, documentos e prazos devem ser respeitados para realização dos depósitos. No escritório Alfa a estrutura organizacional possui a formação demonstrada na figura 8 a seguir. FIGURA 8: Estrutura Organizacional do Escritório Alfa COMEX Sócio do Comex ~ I I Sócio Sócio ... ~ ~ Agente da Propriedade Industrial I + Agente da Propriedade Industrial Estagiário ... I ~ Agente da Propriedade Industrial ... + Assistente Administrativo ... Coordenador de área ~ ~ Assistente Administrativo Assistente Administrativo ... 60 Nesta disposição hierárquica, tem-se: • Comex (Comitê Executivo): dá o direcionamento geral do escritório e referenda quase todas as alterações de procedimentos e de pessoal. É formado pelos seis principais sócios do escritório. • Sócio do Comex: Responsável pelo gerenciamento de departamentos. Em algumas raras situações pode não pertencer ao Comex. • Sócio: É um Agente da Propriedade Industrial (API) antigo que, com o tempo, se tomou sócio do Escritório Alfa. Relaciona-se com clientes, conduz trabalhos solicitados e, geralmente, é responsável pela orientação de AP!'s menos experientes. • Agente da Propriedade Industrial (API): É um profissional, formado em direito, engenharia, química, etc., que se relaciona com clientes e conduz trabalhos solicitados. • Coordenador de Área: É o responsável por coordenar áreas que realizam as etapas operacionais dos negócios gerados pelo contato dos sócios e AP!' s com os clientes. • Assistente Administrativo: É o funcionário que executa as atividades operacionais, ora diretamente ligado a sócios ou AP!'s, ora ligado a uma área operacional. Alguns executam atividades de supervisão, devido à experiência adquirida, outros executam atividades mais operacionais. 61 • Estagiário: É um estudante universitário que auxilia sócios e AP!' s na condução dos trabalhos solicitados pelos clientes. Possivelmente pode ser aproveitado pelo Escritório Alfa para se tornar um futuro API. Há um modelo de administração de pessoal, muito utilizado em escritórios de advogados e empresas de consultoria, que transforma principais funcionários da área fim (advogados, por exemplo) em sócios ou associados. Assim ocorre no Alfa. Alguns dos principais sócios, em termos de participação societária (geralmente os fundadores), acabam por participar da direção do escritório, formando um Comitê Executivo (Comex). Este comitê tem participação ativa no direcionamento da empresa. As atividades de apoio, como recursos humanos, administração (predial, manutenção, segurança) e financeiro, são realizadas por profissionais de mercado que não são advogados ou engenheiros de propriedade intelectual. o modo de administração de tal empresa geralmente é "empírico" (Medeiros, 1952), isto é, alguns sócios responsáveis por departamentos vão trocando sugestões de melhorias procedimentais e tecnológicas, sem metodologia de análise, desenvolvimento, teste, treinamento e implantação de novos procedimentos. Na administração empírica, a estrutura, elemento da organização, não entrava em cogitações. Os capitalistas bem sucedidos nas aventuras industriais; os gerentes recomendados pelas cartas de referência: os capatazes experimentados na arte de fazer trabalhar: e os operários tidos como capazes, em profissões. nas quais herdaram conhecimentos através de um árduo 62 aprendizado de imitação; os homens em si é que constituíam a estrutura das empresas ... " (Océlio de Medeiros, 1952, p. 36). É clara a dependência do escritório quanto aos conhecimentos assimilados pelos funcionários durante os anos de trabalho, durante os quais os mesmos acabam adquirindo um conhecimento tácito, criando barreiras ou dificuldades para sua substituição ou movimentação. Com isto, esses profissionais ganham notoriedade e suas atitudes e opiniões sobre o trabalho passam a ser consideradas definitivas para implantação ou não de novos procedimentos. Supervisores adquirem importância na arte de fazer com que todos trabalhem e não cometam falhas, além de promoverem o aprendizado dos novos funcionários, sempre os colocando para aprender através da imitação dos funcionários mais antigos. Os coordenadores de área e os assistentes administrativos são os verdadeiros direcionadores do trabalho no seu dia-a-dia. Eles têm o controle das agendas de prazos e, dessa forma, o trabalho se inicia e se desenvolve. A necessidade de novos recursos humanos e tecnológicos fica a cargo da argumentação dos coordenadores de área, à medida que estes acham que a estrutura não está sendo suficiente para atender o volume de trabalho. Os métodos de trabalho são criados pelos proprietários do negócio ou pelos principais sócios. Esta tarefa tem alguma complexidade, pois os métodos têm que partir do entendimento da regulamentação de marcas e patentes. Não há uma metodologia "científica" para criação de novos métodos. Os sócios mais afeitos a determinadas atividades, a partir de suas experiências, estabelecem os métodos, as ferramentas e os formulários que deverão ser utilizados. Eventualmente, há a participação de funcionários locais nesta concepção. Quando isto ocorre, a idéia é avaliada e pode ser 63 aproveitada pelos administradores. Posteriormente, uma idéia que produza bons resultados poderá, de alguma forma, influenciar futuras avaliações do funcionário que a criou, embora hão haja nenhum programa formal e contínuo com esse intuito. Por estas descrições feitas acima, duas características interessantes na formulação dos processos do escritório Alfa podem ser observadas. A primeira é que os métodos não são estabelecidos nem acompanhados com base científica, conforme Taylor pregava: em vez de os operários continuarem a executar o trabalho através dos métodos tradicionais, a nova direção deve desenvolver uma ciência para cada elemento do trabalho individual ... " (Taylor apud Medeiros, 1952, p. 44). A segunda característica, em acordo com a teoria de Taylor, é que as chefias possuem o direcionamento dos trabalhos e não mais o conjunto dos trabalhadores, como era na administração empírica. Taylor afirma que "em lugar de os operários continuarem a arcar com o peso das responsabilidades da efetiva direção das empresas, conferindo-lhes os capatazes o arbítrio da escolha dos processos mais satisfàtórios e o próprio rendimento qualitativo e quantitativo, a nova direção deve incumbir-se diretamente de todas as atribuiçl5es para as quais estará mais habilitada pela chefia funcional, mantendo eqüitativa divisão do trabalho e responsabilidade. entre os que dirigem e os que executam" (Taylor apud Medeiros, 1952, p. 44). 64 Seguindo a citação de Taylor, no escritório Alfa as ferramentas e formulários, mesmo que estabelecidos empiricamente, são utilizados pelos funcionários como a forma mais otimizada para a execução das tarefas. Esta prática também retira parte do livre arbítrio existente na época da administração empírica, quando os funcionários tinham a liberdade de escolha das próprias ferramentas e métodos. Os funcionários novos são percebidos como aprendizes por dois motivos: o pnmeIro se relaciona à dificuldade de se achar trabalhadores com experiência em propriedade intelectual; e o segundo porque no escritório Alfa considera-se que um funcionário novo ainda tem que assimilar a cultura profissional existente. Portanto, os funcionários novos devem passar por um período de adaptação para se coadunarem à forma de trabalho do escritório. Observa-se que o período que o escritório considera como ótimo para que um funcionário seja considerado dentro do padrão Alfa (conceito utilizado no escritório Alfa para avaliação de desempenho anual) é de até um ano. Preferencialmente, o treinamento será dado pelo funcionário a ser transferido ou aposentado. No entanto, o escritório Alfa tem percebido os efeitos da nova sociedade do conhecimento. Em uma sociedade pós-capitalista (Drucker, 2002), a simplificação regulatória da proteção à propriedade intelectual é uma etapa que já está sendo implementada mundialmente. Em algumas regiões, como na Europa, já existem acordos que possibilitam a realização de apenas uma proteção, a qual é válida para todos os países participantes. Este tipo de centralização está sendo discutido em nível mundial, já contando com a adesão formal de países como os Estados Unidos. Aos escritórios de patentes brasileiros resta a dúvida sobre em que momento o Brasil formalizará seu ingresso nos acordos internacionais já em voga. 65 o fato é que, atualmente, a proteção, em nível mundial, de uma marca ou patente, envolve enormes recursos financeiros devido às inúmeras legislações locais. Conseqüentemente, dois tipos de custos surgem: (l) os honorários dos escritórios locais de propriedade intelectual; e (2) as despesas oficiais de cada país. Além disto, é muito comum a ocorrência de conflitos litigiosos nos tribunais locais, tanto por meras semelhanças entre marcas e patentes, assim como por pirataria das mesmas. Portanto, diversos movimentos empresariais pelo mundo estão pressionando seus respectivos governos para que lutem por uma ampla unificação mundial com relação a marcas e patentes. Esta unificação traria enormes simplificações, devido à eliminação das burocracias locais e, conseqüentemente, redução dos custos associados. Enfim, os escritórios de propriedade intelectual estão diante de um desafio que será desenvolver novos negócios para sustentar seu volume de trabalho e suas estruturas de negócio. Um caminho natural são os serviços de advocacia associados à propriedade intelectual, como os conflitos litigiosos que ocorrem na justiça, assim como os contratos de cessão de marcas e patentes. Outras áreas pertinentes são a formulação de contratos de modelos de negócios - franquias, por exemplo -, e propaganda e marketing. Portanto, a gestão do conhecimento será uma ferramenta imprescindível para a viabilização desses escritórios, tanto no atual contexto, como no novo que se aproxima. 66 CAPÍTULO VI - ANÁLISE DOS DADOS Análise fatorial é uma denominação genérica para procedimentos estatísticos que têm por objetivo a redução e a sumarização de dados (Malhotra, 2001). Através deste tipo de análise pode-se identificar subconjuntos de variáveis que tenham relação de interdependência entre si. A estes subconjuntos de variáveis dá-se o nome de fatores. Portanto, os fatores contêm influências das variáveis que os compõem, sendo que cada uma delas contribui em diferentes níveis. Ou seja, uma análise fatorial permite a diminuição do número de indicadores, reduzindo a complexidade, porém sem perder a capacidade de explicação do constructo. Isto é possível através da eliminação de indicadores com pequena correlação com o conceito a ser medido (Cureton & D' Agostinho, 1983). Os constructos latentes possuem informação que não pode ser medida diretamente, o que leva à utilização de indicadores passíveis de mensuração direta. O pesquisador deve ser cauteloso na escolha dos subconjuntos de indicadores para incluir na análise fatorial porque a qualidade dos fatores deles derivados refletirá a base teórica utilizada na análise. Isto é particularmente importante no caso de novas pesquisas, como o caso desta, de viés confirmatório. O uso da análise fatorial para sumarização dos dados não exclui a necessidade de uma base conceitual para quaisquer indicadores analisados (Malhotra, 2001). Hair et ai. (1998, p. 99) são enfáticos: os pontos mais críticos referentes à análise fatorial são mais conceituais do que estatísticos. Um ponto importante a ser analisado, diz respeito ao tamanho da amostra estatística. Vários autores estabelecem diferentes critérios para este cálculo, no que tange à Análise Fatorial. No entanto, segundo Hair et ai. (1998), o número mínimo de casos por variável deve ser cinco. Em relação a este critério, como inicialmente foram 67 propostos nove indicadores, a princípio a amostra deveria possuir um mínimo de 45 casos completos (ou seja, 9 indicadores x 5 casos/indicador). Assim, como a amostra obtida teve tamanho igual a 48 casos (já considerados os missings cases), a mesma pôde ser analisada a partir da técnica de análise fatorial. Entretanto, cabe ressaltar que dois indicadores não foram carregados durante o processamento dos dados, fato que irá ser explicado mais adiante. Isto proporcionou uma folga maior ao tamanho da amostra, uma vez que para sete indicadores processados, a amostra mínima deveria se situar em 35 casos, segundo Hair et ai. (1998, p. 99). Como a amostra continha 48 casos, a proporção final ficou em aproximadamente sete casos por indicador. A análise de dados foi processada através do sistema LISREL®, versão 8.71. Para isto utilizou-se a etapa de análise fatorial confirmatória (CF A) existente no modelo SEM (Structural Equation Modeling) daquele sistema. A análise fatorial confirmatória (CF A) pode ser usada para confirmação, se os indicadores pesquisados realmente influenciam o constructo na forma imaginada pelo estudo. O modelo CF A utilizado no SEM serve para avaliar o papel do erro de medida, validar um modelo multi-fatorial, determinar efeitos do grupo nos fatores, dentre outras análises possíveis. Portanto, a análise fatorial confirmatória tem um papel importante na modelagem de equações estruturais. Uma exigência da análise fatorial confirmatória é que haja uma hipótese prévia sobre o número de fatores do modelo estatístico e, também, que se defina a expectativa sobre os indicadores que carregarão os fatores (Kim & Mueller, 1978). No caso deste trabalho, foi utilizado o método WLS (Weighted Least Square), devido às características da matriz de correlação. Segundo Garson (2004b), esta técnica muito similar ao tradicional MLE - Maximum Likelihood Estimator -, máxima verossimilhança, busca impedir qualquer desvio significativo, dado que os indicadores são ordinais. 68 Com a adequação da análise fatorial realizada, primeiramente deve-se tàzer uma análise sobre a coerência das estimativas. Para isto foram observados: (1) a variância do erro com valor negativo; (2) coeficientes padronizados com valor maior que 1; e (3) erro padrão muito alto dos indicadores. Com isto, dois indicadores foram eliminados: "Tipo de Solução" e "Transmissão de Conhecimento Externo", por apresentarem os coeficientes padronizados maiores que 1. Com a eliminação destes indicadores, o modelo se estabilizou e começou a apresentar resultados satisfatórios. Na análise fatorial confirmatória cada indicador é "explicado" por sua estimativa (jactor loading 5) no constructo. Portanto, o constructo é mensurado a partir destas estimativas, criando-se assim uma escala. O procedimento é muito parecido com o utilizado em uma análise fatorial exploratória. A diferença reside no fato que na análise exploratória, o constructo é definido ex-post facto, enquanto na análise confirmatória, o constructo é definido a ex-ante facto. Segundo a Tabela 2, os resultados ficaram apropriados. TABELA 2 Factor Load'mgs, Erro e R2 Transf Conhecimento Interno (conint) Tipo de Treinamento (treina) Fontes Conhecimento Externas (fonteext) Forma de Armazenagem Conhecimento (armazcon) Sistemas Conhecimento (sistcon) Tipo de Reunião (reunioes) Remuneração Incentivo (conext) Factor Loading 0.71 0.89 0.88 0.81 0.37 0.31 0.77 Erro 0.50 0.21 0.23 0.34 0.86* 0.90* 0.41 Na figura 9, abaixo, há uma representação do modelo teórico testado neste trabalho, mostrando-se o constructo "Estratégia de Gestão do Conhecimento", apelidado por Know, e os respectivos indicadores. Também estão demonstrados osfactor loadings R2 0.50 0.80 0.77 0.65 0.14 0.10 0.60 69 e os erros calculados. Pode-se observar, na figura citada, que a análise fatorial apresentou uma associação entre os erros dos indicadores "Tipo de Reunião" e "Remuneração de Incentivo". FIGURA 9: Diagrama do modelo com os factor loadings ''"1 1 0. 20 0.231 CONINT ' " TREINA 1,""6'.71 ~, FONTEEXT 1_ _ _:: 1.00 0.35~ ARMAzeON 1_____:'91 0. 1 86 /" SISTCON 1,.-/ }.3 0 77 ///1 • / ~.90 0.45 REUNIOES' I / / ~.40~ REMUNER 1I Ch~-Square=19.01. dt=l3, P-value=O.12283, RMSRA=0.099 Para validação do modelo fatorial proposto, foi realizado o teste de aderência (goodness offit statistic). Abaixo a tabela 3 apresenta os resultados mais importantes. Factor loading é a estimativa obtida no modelo de mensuração representando a correlação entre o indicador e o constructo. Esta estimativa é realisada analisando o relacionamento entre indicador e constructo, desconsiderando a influência de outros indicadores (Stevens, 1992). 5 70 TABELA 3: Teste de Aderência Indice Estatístico Resultado Normed Fit Index (NFI) 0,92 0,97 Comparative Fit Index (CFI) Goodness ofFit Index (GFI) 0,97 Adjusted Goodness of Fit Index (AGFI) 0,93 0,97 IncrementaI Fit Index (IFI) Non-Normed Fit Index (NNFI) 0,95 Relative Fit Index (RFI) 0,87 2 Chi-Square X 19,01 (p=0,12) 13 Chi-Square X2 DF 231,17 Independence Model Chi-Square X2 21 Independence Model Chi-Square X2 DF 0,099 RMSEA Estimate RMSEA 90% Confidence Interval (0,0; 0,19) Probability of Close Fit (PCLOSE) 0,20 CriticaI N (CN) 69,46 o modelo proposto mostrou-se adequado aos dados, visto que os índices NFI (Normed Fix Index) e CFI (Comparative Fit Index) estão maiores do que o valor mínimo de 0,90, conforme sugerido por Klem & Yamould (1995). O indicador GFI (Jõreskog-Sõrbom Goodness of Fit Index) deve ser superior a pelo menos 0,90, sendo que Garson (2004b) sugere que ele seja superior a 0,95. O valor apurado de 0,97 demonstra a adequação do modelo. Em seguida, pode-se analisar o índice AGFI (Adjusted Goodness of Fit Index) que também deve ser superior a 0,90 (Garson, 2004b); este também se mostrou adequado, no modelo utilizado, porque o valor alcançado foi de 0,93. Finalmente, ainda baseado em Garson (2004b), o fato de os índices IFI (IncrementaI Fit Index), NNFI (Non-normed Fit Index) e RFI (Relative Fit Index) estarem próximos a 1, também demonstram a boa adequação do modelo proposto. 71 Já os índices relacionados ao teste do chi-quadrado (X2) também se apresentaram adequados. Este índice é, na verdade, uma medida da falta de aderência (badness of fit) do modelo, medindo a variação não explicada dos resíduos. Assim, quanto maior o valor do X2, maior a distância entre a matriz de covariância observada e a matriz da covariância ajustada do modelo e, portanto, pior o poder de explicação do modelo (Hair et aI., 1998). O teste do valor p do X2 apresentou o valor de 0,12. Este valor está adequado, pois ele deve ser superior ao nível de significância de 5% para, conseqüentemente, poder-se aceitar a hipótese nula de que o sistema é adequado (Garson, 2004). Com relação aos testes do índice RMSEA (Root Mean Square Error of Approximation), a probabilidade de Close-Fit (PCLOSE) é de 20%, confirmando que a variação dos resíduos é realmente pequena no modelo, pois, de acordo com Kline (1998), esse índice deve estar acima de 5%. Já o valor do RMSEA ficou em 0,099, ou seja, um pouco acima do intervalo de confiança de 0,00 (perfect fit) a 0,08 (a um nível de 5% de significância) (Hair et ai., 1998). Isto não chega a invalidar o modelo, pois, como afirma Hair et aI. (1998, p. 656), exames empíricos de várias medidas concluíram que o RMSEA é mais conveniente para ser utilizado com amostras grandes. A amostra utilizada neste trabalho, se comparada com o índice CN (Índice de Hoelter) no valor de 70 casos, não estaria adequada, uma vez que somente foram conseguidos 48 questionários. No entanto, como já citado anteriormente, um cálculo estatístico de tamanho da amostra derivado da proposição de Hair et ai. (1998) - que estabelece um mínimo de cinco casos por indicador -, justifica a pesquisa realizada, uma vez que com sete indicadores o tamanho mínimo da amostra seria de 35 casos. Diante do exposto acima, a conclusão da análise de aderência ao modelo final é pela sua aceitação como forma de explicar os dados observados. 72 Após a aceitação do modelo de mensuração, deve-se realizar uma análise sobre o constructo proposto à luz dos resultados obtidos. Os seguintes testes devem ser utilizados: (1) o teste t dos coeficientes dos indicadores que compõem o constructo e (2) o teste de confiabilidade da escala, o qual engloba a confiabilidade da mesma calculada a partir do alpha de Cronbach e da variância extraída. Na tabela 4 abaixo estão demonstrados os valores t para cada um dos indicadores. O importante, neste teste, é que, para um nível de significância de 5%, os mesmos sejam superiores a 2,16 6 • Também, para cada indicador, está demonstrado o valor p, sempre inferior ao valor do nível de significância utilizado. Com isto, observase que nenhum dos indicadores foi eliminado e que quanto maior o valor t calculado, melhor a adequação do indicador. TABELA 4: Teste t Indicadores Transf Conhecimento Interno Tipo de Treinamento Fontes Conhecimento Externas Forma de Armazenagem Conhecimento Sistemas Conhecimento Tipo de Reunião Remuneração Incentivo t 12,68 20,48 14,72 11,41 2,60 2,56 9,64 valor p 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 2,20% 2,37% 0,00% Uma representação gráfica do modelo foi colocada na figura 10 abaixo para demonstrar os valores dos teste-t calculados, sabendo-se que há 13 graus de liberdade no modelo proposto. O valor citado é encontrado com base na tabela de estatísticas da dimensão com - função com de student. No caso em questão, para um teste com 5% de significância o valor padrão para este parâmetro é 2,160 em um teste bi-caudal. 6 73 FIGURA 10: Diagrama do modelo com o teste t 3.0°1 '''1 CONINT TREINA k I, ~''-" "-- 12 . 68 20 1.2 7-.J FONTEEXT 1_ _ _ -I . . 1'1.72 0.00 4.25 Chi-Square=19.01, df=13, P-value=O.12283, RMSEA=O.099 Confiabilidade é um indicador estatístico que verifica com que consistência uma determinada escala é capaz de reproduzir os mesmos resultados quando aplicada repetidamente em uma mesma amostra (Malhotra, 2001). Uma forma de aferir a confiabilidade é através do teste-reteste da escala na mesma amostra, em diferentes momentos no tempo. No entanto, geralmente não é dado ao pesquisador a oportunidade de repetir a coleta de dados, motivo pelo qual é comum obter-se a confiabilidade de outro modo: a consistência interna (Malhotra, 2001). Após testada a significância dos indicadores através do teste-t, deve-se calcular a confiabilidade (reliability) do constructo. Um constructo é tido como confiável se seus indicadores conseguem explicar a maior parte de sua variação. Três diferentes procedimentos são geralmente usados para testar a confiabilidade do constructo: (1) alfa 74 de Cronbach 7 , (2) coníiabilidade composta (composite) e (3) análise de variância extraída (variance extracted). A medida da confiabilidade do constructo avalia a consistência total da escala de medição, isto é, das perguntas do questionário relacionadas ao constructo (Sharma, 1996). A consistência interna é aplicada para aos indicadores em uma escala somatória. A lógica associada à consistência interna é que os itens individuais ou os indicadores da escala deverão todos estar medindo o mesmo constructo e, conseqüentemente, estar altamente correlacionados. A confiabilidade via alfa de Cronbach - que é uma medida de confiabilidade para a escala como um todo -, pode ir de ° a 1. O valor de 0,70 é considerado o menor limite de aceitabilidade, podendo-se considerar o valor de 0,60 em pesquisa exploratória (Hair et ai., 1998). Este índice correlaciona-se positivamente com o número de itens da escala. Isto significa que quanto maior o número de itens, maior deve ser a medida de confiabilidade. Por este motivo, é recomendada aos pesquisadores limitar o número de itens na escala. O valor do alpha de Cronbach é calculado a partir dos factor loadings dos indicadores e seus respectivos erros, conforme pôde ser visto na tabela 2. A fórmula para cálculo e a seguinte: ( I.Jàctor loading )2 a de Cronbach = - - - - - - - - - - - - ( Ifactor loading)2 + I erro No caso dos dados relatados, chegou-se a um valor de 0,8665, superior, portanto, a 0,7. 7 O a1pha de Cronbach não é considerado um teste estatístico, mas um coeficiente de confiabi1idade (consistência). Este índice estima quão bem um conjunto de itens (ou variáveis) mensura um constructo unidimensiona11atente (Hair et aI., 1988, p. 611) 75 Com relação ao teste de variância extraída, este indica o grau de dispersão que existe entre os indicadores utilizados, devendo ser superior a 0,50 segundo Klem & Yarnould (1995). Ele também é calculado a partir dos Jactar laadings dos indicadores e dos respectivos erros. A fórmula para cálculo é a seguinte: I ([aelar laading )2 Variância Extraída = - - - - - - - - - - - - I ([aetar laading)2 + I erro Para os dados relatados, chegou-se a um valor de 0,5075, superior, portanto, a 0,5. Após a implementação da análise fatorial confirmatória, deve-se calcular os escores fatoriais ([aetar seares), os quais são combinações lineares das variáveis originais (Malhotra, 2001). Estes escores, multiplicados pelos valores atribuídos por cada entrevistado, fornecem a percepção que cada entrevistado tem do foco estratégico da empresa. Conseqüentemente, a média das percepções do entrevistados fornece uma aproximação da percepção geral da empresa. Uma vez confirmada a adequação do modelo baseado nos indicadores propostos para explicação do constructo, partiu-se para o cálculo dos escores fatoriais. Na tabela 5 abaixo pode-se visualizar os valores alcançados. Com estes valores pode-se calcular a percepção que cada entrevistado tem da empresa em relação à estratégia de gestão do conhecimento. Isto foi feito multiplicando-se as respostas de cada entrevistado pelo respectivo escore fatorial. Depois de obtidos os valores de todos os entrevistados, foi feita uma média aritmética e chegou-se a uma média final de 3,42, com desvio padrão de 1,08. 76 TABELA 5: Escores fatoriais (factor scores) Indicadores Transf Conhecimento Interno Tipo de Treinamento Fontes Conhecimento Externas Forma de Armazenagem Conhecimento Sistemas Conhecimento Tipo de Reunião Remuneração Incentivo Escore Fatorial 0,070 0,190 0,280 0,050 0,010 0,040 0,080 Percebe-se, portanto, que utilizando a análise fatorial confinnatória, na opinião dos entrevistados, a empresa Alfa situa-se próxima ao centro da escala. Calculando-se um intervalo de confiança para populações finitas com 95% de nível de confiança, conclui-se que o valor da média pode situar-se entre 3,12 e 3,73 na escala (ver ilustração na figura 11). Conseqüentemente, os resultados alcançados ficaram fora do foco de 20% /80% proposto por Hansen & Nohria (1999) para empresas líderes em seus segmentos, uma vez que os valores 2 e 8 da escala situaram-se fora do intervalo de confiança. ersonalização FIGURA 11: Resultado do Escritório Alfa: A hipótese Ho não é suportada o 2 3 4 5 6 7 8 9 10 I, ,,,I, ,,,I, ,,,b, I, ,,,I, ,,,I, ,,,I, ,,,I, ,,,I, ,I I I Codificação 3,12 a 3,73 77 CAPÍTULO VII - OBSERVAÇÕES CONCLUSIVAS E RECOMENDAÇÕES A gestão do conhecimento nas empresas é um tema recente e os estudos para seu aperfeiçoamento ainda não são conclusivos. Os resultados provenientes de implementações estratégicas para gerenciamento do conhecimento ainda são complexos de serem entendidos e reproduzidos. Inúmeros trabalhos são publicados anualmente com o objetivo de expor casos de sucesso e de propor modelos para serem utilizados em empresas (ver, p. ex., Stewart, 1998, 2002; Leonard-Barton, 1998; Nonaka & Takeuchi, 1997; Senge, 2003; Garvin, 1993) . Estes trabalhos demonstram como o assunto ainda está em aberto. Este trabalho, primeiramente, tratou de explicar como a gestão do conhecimento se tomou um tema de importância para o sucesso das empresas. Ficou claro perceber que Taylor pode ser considerado também precursor da aplicação intensiva e científica do conhecimento em uma empresa, ainda que os estudiosos de sua época nem mesmo pensassem em estudar o dueto conhecimento-empresa (Drucker, 2002, p.l4). Também verificou-se que, com o início da Era da Informação, a aplicação do conhecimento ganhou força e difusão no mundo empresarial (Castells, 2002). Cabe ressaltar aqui que diversos estudiosos já buscavam explicações para a importância de tal fenômeno (ver, p. ex., Drucker, 2002; Castells, 2002). Hoje, a gestão do conhecimento já é um tema muito discutido e de sabida relevância na estratégia das empresas. Isto pode ser comprovado em estudos e pesquisas realizados nos mais diversos segmentos industriais (ver. p. ex., Zeithaml, 1990; Spencer, 2003; Ewing & West, 2000). Também o tratamento da gestão do conhecimento possui diferentes abordagens e, conseqüentemente, diferentes ferramentas de gestão são lançadas a todo instante, muitas vezes como variações ou evoluções de 78 outras já existentes (Terra, 2001, p.212). Some-se a isto, as ferramentas da Tecnologia da Informação que claramente facilitam o armazenamento, a localização e a transferência de conhecimento entre as pessoas (Hansen & Nohria, 1999). O fato é que já existe um forte segmento de consultorias especializado em fornecer soluções estratégicas para a gestão do conhecimento nas empresas. No entanto, alguns autores destacam um aspecto básico, porém relevante, para o investimento em técnicas de gestão do conhecimento: o fato de que elas devem estar em sintonia com a estratégia da empresa, assim como com o tipo de produto e atendimento que é demandado pelo seu público alvo (Hansen & Nohria, 1999; Terra, 2001). Neste trabalho, buscou-se percorrer a literatura em busca dos aspectos estratégicos e técnicas empregadas por empresas, no intuito de entender o tipo de estratégia de gestão do conhecimento que estaria sendo utilizado. Hansen & Nohria (1999) destacaram a importância de haver um foco estratégico em gestão do conhecimento em empresas líderes de mercado, de forma a não fazer com que uma empresa desperdiçasse importantes recursos, pondo em risco a sua própria liderança. Hansen & Nohria (1999) apresentaram duas tipologias estratégicas para a gestão do conhecimento (personalização e codificação), sugerindo o nível de foco estratégico que deveria ser empregado pelas empresas. Este nível seria uma proporção de 80% de foco em apenas uma das duas topologias. Um aprofundamento no estudo acerca desse percentual de foco estratégico proposto se tomou uma questão a ser pesquisada neste trabalho. Hansen & Nohria (1999) não apresentam rigor científico no seu trabalho para justificar as tipologias sugeridas e o percentual a ser praticado. Procurou-se, primeiramente, construir uma escala que viabilizasse uma avaliação sobre como determinadas ações administrativas para gerir o conhecimento nas empresas estariam sendo trabalhadas. Para a construção da escala foram extraídas ações 79 estratégicas da literatura sobre gestão do conhecimento. Estas ações deveriam ser passíveis de serem empregadas ou de uma forma "totalmente" ligada à personalização, ou de uma forma totalmente ligada à "codificação". O termo "totalmente" está entre aspas pelo fato de que há um continuum entre os dois estilos de aplicação da gestão do conhecimento. Ou seja, raramente uma empresa aplicaria somente um dos estilos. Ao mesmo tempo, embora a personalização esteja associada à troca de conhecimento tácito e a codificação esteja associada à forma de conhecimento explícito, como Nonaka e Takeuchi (1997) explicaram, ambas as formas não existem isoladamente, interagindo entre si e formando o que eles chamaram de "espiral do conhecimento". Durante a realização deste trabalho e em busca de um entendimento mms aprofundado sobre a forma de implementação de uma estratégia de gestão do conhecimento nas empresas em empresas líderes de mercado, pretendeu-se também observar outros aspectos relevantes. Esses aspectos estão listados na seção "11.2 Objetivos Secundários". Portanto, faz-se nesta etapa, de forma qualitativa, uma tentativa de verificar se tais objetivos secundários foram observados na empresa teste, de forma a subsidiar futuros trabalhos que se aprofundem em questões semelhantes. O primeiro objetivo secundário diz respeito a uma empresa possmr uma estratégia empresarial pré-definida para, em seguida, elaborar sua estratégia de gestão do conhecimento. Segundo pôde-se perceber na descrição do escritório Alfa, a mesma não possui sua estratégia empresarial de forma estruturada e formalizada, sendo a mesma conduzida principalmente pela capacidade gerencial dos sócios administradores de cada área de negócio, ao longo de cada ano. Ou seja, a estratégia do escritório Alfa é focalizada em ações diárias de manutenção de fortes relacionamentos estratégicos com clientes e fornecedores do seu ambiente de negócio. 80 No segundo objetivo, relacionado à forma de gerar valor aos clientes e à forma da estratégia de gestão do conhecimento empregada, pôde-se verificar, na descrição da empresa teste, que a geração de valor está centrada no conhecimento que o escritório Alfa possui sobre o assunto propriedade intelectual e na qualidade dos serviços prestados na condução dos processos de depósito de marcas e patentes, assim como na proteção administrativa Gunto ao INPI) e judicial, quando necessárias. Neste ponto, embora não haja estratégias estruturadas e formais, tanto estratégia empresarial quanto estratégia de gestão do conhecimento, pôde-se perceber há um alinhamento entre ambas, uma vez que o conhecimento é passado entre os sócios e funcionários sempre com o forte viés de atendimento total às solicitações dos clientes sempre que possível. No terceiro objetivo, relacionado a investigar quais indicadores determinam o tipo de estratégia de gestão do conhecimento que uma empresa adota, foram descritos indicadores que têm esse propósito. No entanto, entende-se que tais indicadores utilizados podem não ser os únicos e que mais estudos devem ser realizados, até mesmo com outras variações no formato do constructo "Estratégia de Gestão do Conhecimento". O que pode-se entender neste momento, é que mais um passo foi dado para o entendimento do tipo de estratégia de gestão do conhecimento empregada por empresas a partir dos nove indicadores apontados. Para verificação do quarto objetivo, o qual se destinava a analisar a confiabilidade e validade dos indicadores escolhidos em relação ao constructo proposto, um teste estatístico de análise fatorial confirmatória foi realizado. Dos nove indicadores sugeridos para explicar o tipo estratégico implementado por uma empresa, sete obtiveram resultados adequados para serem carregados no modelo de constructo proposto (ver Capítulo VI - Análise de Dados). Isto confirma que os indicadores 81 possuem um convergência capaz de avaliar de forma confiável e válida a estratégia de gestão do conhecimento em uma empresa. No quinto objetivo, que relaciona a inovação à estratégia de gestão do conhecimento, não houve um avanço conclusivo interessante. Observou-se na descrição do escritório Alfa que o seu negócio não está associado a inovações de mercado. Provavelmente, por ser um ramo de negócio burocrático (ver Capítulo V - Descrição da Empresa Teste), com regras muito rígidas, relacionado a legislações nacionais e internacionais, e que envolve fortes interesses empresariais e nacionais de empresas e países, a concorrência entre escritórios de propriedade intelectual se dê muito mais em aspectos como qualidade de serviços, nível de preços e redes de relacionamento do que em inovação. Conseqüentemente, o ambiente de teste utilizado se mostrou inadequado para a realização de observações que auxiliassem na análise desse quinto objetivo. Conforme pôde ser percebido em diversos pontos deste trabalho, e como apontado também no parágrafo anterior, os escritórios de propriedade intelectual focam sua concorrência em temas estratégicos como qualidade de serviços, nível de preços e redes de relacionamento. Por possuírem uma fronteira tênue com os serviços prestados por escritórios de advocacia e devido à inovação neste segmento de mercado ser tão pequena, os escritórios de propriedade intelectual, por vezes, tendem a abrir novos negócios em áreas do Direito correlatas à propriedade intelectual, como consultoria na elaboração de contratos comerciais e divergências contenciosas judiciais. Portanto, percebeu-se que a estratégia latente dos escritórios de propriedade intelectual está claramente mais focada na abertura de ramos de negócios fronteiriços à sua área de atuação do que na inovação dos próprios serviços ou mesmo na busca de oportunidades em áreas não relacionadas à sua área de atuação. Trata-se este objetivo de um interessante problema para estudo por novos trabalhos acadêmicos envolvendo as 82 possibilidades estratégicas de empresas que desejem crescer, atuando porém em segmentos de mercado pouco inovadores. Segue, portanto, já aqUI, uma pnmeIra sugestão para futuros trabalhos acadêmicos. Por fim, o último objetivo secundário se relacionava à identificar nas práticas de gestão do conhecimento do escritório Alfa respaldo da teoria da gestão do conhecimento, conforme descrita na revisão bibliográfica. Pôde-se verificar, na descrição do escritório Alfa, alguns pontos de convergência como: • A forte concentração do conhecimento envolvendo a teoria e a prática da propriedade intelectual nas pessoas demonstra como o conhecimento tácito também está fortemente presente na empresa. Verificou-se que não havia a confecção de manuais de procedimentos para consolidar o conhecimento da empresa. • Como a gestão do escritório não busca estabelecer uma administração formal, acaba por incentivar relações cotidianas informais, quando se trata de trocar conhecimento. Conseqüentemente, a forma mais comum para troca de conhecimento entre os sócios e profissionais acaba sendo a convivência diária na realização dos trabalhos. • O treinamento de funcionários novos ou transferidos no negócio propriedade intelectual também é focado no aprendizado on lhe job. Nesse caso, funcionários mais experientes passam o conhecimento aos mais novos. • O fato de o escritório lidar com um segmento de mercado de pouca inovação e calcado em regulamentações legais demonstrou que a existência de formulários, sistemas e procedimentos fixando o workflow das atividades 83 tem respaldo direto na codificação do conhecimento para ser reutilizado constante e uniformemente. • Apenas uma pequena parte do treinamento, geralmente ligada ao manuseio de sistemas operacionais, é realizada de forma estruturada, através de apresentações em sala de aula. A conclusão principal deste trabalho, tratada a partir de agora, é uma conseqüência de cada uma das conclusões aCIma sobre os objetivos intermediários pesquisados. Portanto, a partir do referencial teórico utilizado foram, então, extraídos nove indicadores associados ao constructo "Estratégia da Gestão do Conhecimento": (1) Transferência do Conhecimento Interno, (2) Treinamento, (3) Fontes Externas de Conhecimento, (4) Tipos e Soluções a Clientes, (5) Armazenagem do Conhecimento, (6) Sistemas de Localização do Conhecimento, (7) Tipos e Reuniões Realizadas na Empresa, (8) Remuneração de Incentivo à troca de Conhecimento e (9) Transmissão de Conhecimento Externo. Estes indicadores foram consolidados através de um questionário e aplicados na empresa Alfa, que se situa dentre as líderes de seu segmento de mercado -, o de escritórios de propriedade intelectual. Para consolidação dos dados, foi realizada uma análise fatorial confirmatória. Pretendia-se descobrir se os indicadores propostos convergiam e possuíam capacidade de explicar o constructo sugerido. Infelizmente, restrições relativas ao tempo e à empresa teste não permitiram um trabalho mais aprofundado junto ao questionário elaborado e importantes etapas de pré-teste e uso de grupo focal não foram realizadas. Este fato influenciou a investigação, uma vez que determinadas perguntas não tiveram um comportamento de convergência como as demais, caracterizando-se numa limitação desta pesquisa. 84 Num primeiro momento, quando foram utilizados os nove indicadores apontados no parágrafo anterior, o resultado não se apresentou satisfatório para confirmação do modelo, uma vez que os indicadores "tipo de solução" e "transferência de conhecimento externo" não carregaram adequadamente o constructo proposto no modelo estatístico utilizado. Buscando-se entender o motivo porque ambos os indicadores não apresentaram resultados satisfatórios e foram retirados na análise, percebe-se que no escritório Alfa a falta de uma estratégia extrínseca, estruturada e formal faz com que cada profissional tenha a sua visão particular de como os serviços são prestados aos clientes. Alguns profissionais acreditam que como há uma cultura de satisfação máxima das solicitações dos clientes, sempre que possível o tipo de serviço deve ter alto grau de customização. No entanto, outros profissionais acreditam que a forte legislação envolvendo o negócio deixa pouco espaço para customização dos serviços solicitados pelos clientes. Quanto à Transmissão de Conhecimento Externo, a pergunta deveria ser melhor trabalhada em outra pesquisa. Acredita-se que ela tenha deixado margem a dúvidas quanto à transmissão do conhecimento obtido no ambiente externo ao escritório. Isto se dá porque pôde-se observar que diversos profissionais elaboram relatórios sobre suas experiências em viagens a trabalho, visitas a clientes, cursos e seminários. Porém, a dúvida fica clara no momento em que a percepção geral é de que tais relatórios são pouco lidos e, muitas vezes, o conhecimento, quando transmitido, se dá pelo convívio diário. Entretanto, eliminados esses indicadores do modelo estatístico utilizado, chegouse à conclusão de que o valor médio dos escores fàtoriais na escala proposta foi de 3,42, ou seja, a hipótese dos autores Hansen & Nohria (1999) de que o foco estratégico de 20% / 80% é necessário para sucesso de uma empresa não foi suportada a 5% de 85 nível de significância. Afinal, o ambiente de teste utilizado diz respeito a uma empresa que se situa dentre as líderes de seu mercado há pelo menos 30 anos, e tem cerca de um século de existência. Assim, os resultados alcançados demonstram que uma estratégia de gestão do conhecimento não focada segundo as proporções de 20% / 80% para personalização ou codificação, também pode ser favorável para que uma empresa lute e permaneça dentre as líderes de seu segmento de mercado. Como sugestão para futuras pesquisas acerca de como avaliar quantitativamente a estratégia utilizada por uma empresa para a gestão do conhecimento, sugere-se a criação de indicadores, separadamente para dois constructos: personalização e codificação. Esses dois constructos, por sua vez, é que iriam formular um constructo maior chamado "Estratégia de Gestão do Conhecimento". Este novo modelo permitiria que os indicadores fossem avaliados separadamente, quanto à implementação de cada uma das tipologias estratégicas. 86 FIGURA 12: Sugestão de estrutura para estudo do constructo "Estratégia de Gestão do Conhecimento" Estratégia de Gestão do Conhecimento Personalização Codi ficação Uma última sugestão, é que o estudo seja repetido em outras empresas de diferentes segmentos de mercado. Isto permitiria validar de forma maIS robusta o modelo de mensuração sugerido, aSSIm como Incorporar novos conceitos para a avaliação dos constructos. 87 REFERÊNCIAS AAKER, David. Multivariate Analysis in Marketing - Theory and Application. Belmont (CA). Wadsworth Publishing Company, 1971. ARGYRIS, Chris; SCHON, Donald. Organizational learning. Reading. MA: AddisonWesley, 1978. ARRIGHI, Giovanni; SIL VER, Beverly S. Caos e governabilidade no moderno sistema mundial. Rio de Janeiro: Contraponto, Editora UFRJ, 2001. BASTOS, Aurélio W. 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New York: The Free Press, 1990. 93 ANEXO I - QUESTIONÁRIO Objetivo do questionário: Este questionário tem como objetivo avaliar o tipo de estratégia de gestão do conhecimento que está sendo utilizada pelo escritório. A partir da literatura, dois tipos de estratégias de gestão do conhecimento foram identificadas: personalização e codificação. Na personalização as ações administrativas visam à troca de conhecimento através do relacionamento pessoal e direto entre pessoas durante o trabalho. Na codificação, as ações são tomadas com o objetivo de trocar conhecimento após o mesmo já ter sido descrito (codificado) através de um meio físico ou uma mídia de comunicação, não havendo obrigatoriedade de relacionamento pessoal e direto no trabalho. É importante ressaltar que ambas as estratégias são implementadas em todas as empresas, porém geralmente há foco em uma das duas. Também é importante destacar que nenhuma das duas estratégias apontadas é necessariamente melhor do que a outra. Há casos de sucesso nos dois focos estratégicos. Preenchimento do formulário: As questões apresentam sempre dois tipos dicotômicos de ações estratégicas da gestão do conhecimento. Uma ação do tipo personalização e outra ação do tipo codificação. Entre as ações há uma escala de O a 10, onde os extremos significam a aplicação de apenas uma das ações. Esta escala pretende capturar a percepção do respondente quanto à proporção entre a utilização de uma ação em relação à outra. Premissa para responder o questionário: Tenha sempre em mente as características da sua atividade no escritório e do grupo de pessoas que nela trabalha, inclusive você. 94 Nome: 1. O conhecimento pode ser transferido de uma pessoa para outra através do convívio durante execução conjunta do trabalho ou através de explicações isoladas, orais ou por escrito (manuais, procedimentos, listas de tarefas (checklists), memorandos, etc.). Como você avaliaria ser a transferência de conhecimento de uma pessoa para outra na empresa? Completamente baseada no convívio das pessoas na execução conjunta do trabalho. lO 1 1 1 2 13 1 4 1 5 1 6 1 7 1 8 1 9 110 1 Completamente baseada em explicações isoladas. 2. O treinamento de uma pessoa pode ser feito por outra que domine a função a ser aprendida e durante a realização da própria função a ser aprendida (exemplos destes treinamentos: o mentoring e o coaching). Ou o treinamento pode ser feito através de palestras e exposições (geralmente com o uso de apostilas, manuais e apresentações). Como você avaliaria serem os treinamentos aplicados na empresa? Completamente realizados por pessoas que dominam a função e na execução da função. lO 1 1 1 2 1 3 1 4 1 5 I6 1 7 1 8 1 9 1101 Completamente realizados através de palestras e exposições. 3. O conhecimento proveniente de fontes externas à empresa pode advir da convivência com grupos de pessoas que estudam profundamente determinadas áreas de interesse (comunidades de prática) e seminários ou pode advir para participação em cursos e palestras externos. Como você avaliaria serem as fontes externas de conhecimento utilizadas pela empresa (considerando apenas os dois modelos citados)? Completamente provenientes da convivência com pessoas que estudam profundamente determinadas áreas de interesse e seminários. -- 1 O 1 I2 1 - - 13 I 4 1 5 1 6 1 7 1 8 1 9 110 1 Completamente provenientes da participação em cursos e palestras externos. I 95 4. O ambiente organizacional pode demandar dois tipos de soluções (produtos e serviços) para os clientes. O primeiro tipo são as soluções com baixo nível de padronização, geralmente inéditas e não-estruturadas. O segundo tipo são as soluções padronizadas, que geralmente são previsíveis e sistematizadas. No primeiro caso, a característica de especialista é mais exigida das pessoas. No segundo caso, a característica de generalista é a mais exigida. Como você avaliaria serem as soluções (produtos e serviços) fornecidas aos clientes pela empresa? Completamente do tipo baixas padronizações, inéditas e nãoestruturadas. lO 1 1 1 2 13 1 4 1 5 1 6 7 1 1 8 1 9 1101 Completamente do tipo padronizadas, previsíveis e sistematizadas. 5. O conhecimento de uma empresa está armazenado tanto nas pessoas quanto em documentos e sistemas. Como você avaliaria estarem armazenados os conhecimentos da empresa? Completamente nas pessoas. O 1 2 3 4 5 6 7 8 9 110 1 Completamente em documentos e sistemas. 6. Os sistemas de tecnologia da informação (TI) podem ser desenvolvidos para localizar as pessoas que possuem o conhecimento e a experiência desejados ou podem ser desenvolvidos para localizar os documentos armazenados com o conhecimento desejado. Como você avaliaria serem os sistemas da empresa? Completamente desenvolvidos para localizar pessoas que possuem o conhecimento e a experiência desejados. O 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1101 Completamente desenvolvidos para localizar documentos armazenados com o conhecimento desejado. 96 7. Um importante instrumento para troca e criação de conhecimento são as reuniões de trabalho para solução de problemas complexos. Há empresas que realizam reuniões do tipo brainstorming, onde as pessoas são incentivadas a darem todo o tipo de idéias (por mais improváveis pareçam) e a estarem sempre criticando e evoluindo as idéias das demais pessoas, o que torna as decisões finais como do grupo e não individuais. Outras empresas utilizam reuniões do tipo expositivas, onde alguns participantes apresentam idéias pré-elaboradas e o chefe da equipe decide pela idéia que achar melhor. Como você avaliaria serem os tipos de reuniões realizadas na empresa para a busca de soluções a l>roblemas complexos? Completamente do tipo brainstorming. lo 1 1 1 2 1 3 4 1 1 5 1 6 7 1 1 8 1 9 101 Completamente do tipo expositiva. 1 . 8. Uma empresa pode adotar um sistema de remuneração que incentiva as pessoas a transmitirem experiências adquiridas no passado para outras pessoas que estejam, no presente, trabalhando em situações semelhantes, além de incentivar as pessoas que buscam esta experiência já existente na empresa. Outras empresas adotam um sistema de remuneração que incentiva as pessoas a documentarem seus trabalhos para que possam ser reutilizados por outras pessoas que estejam trabalhando em situações semelhantes, além de incentivar as pessoas que buscam esta reutilização de documentos. Como você avaliaria ser o sistema de remuneração da empresa para incentivar a troca de conhecimento? Completamente baseado em Completamente baseado em incentivo a pessoas que ensinam a incentivo a pessoas que outras pessoas sua experiência e em documentam seus trabalhos e em O 1 1 1 2 1 3 I 4 I 5 1 6 1 7 1 8 1 9 11 pessoas que buscam a experiência pessoas que reutilizam os trabalhos de outras pessoas. já documentados. 01 I 9. Em algumas empresas, quando as pessoas retornam de cursos ou seminários externos, elas devem transferir o conhecimento adquirido a outras pessoas da empresa durante o convívio no trabalho cotidiano. Em outras empresas, as pessoas que retornam de cursos e seminários externos devem redigir relatórios para que o conhecimento adquirido seja transmitido a outras pessoas da empresa. Como você avaliaria ser a transmissão de conhecimento adquirido em cursos e seminários externos a outras pessoas da empresa? Completamente durante o convívio no trabalho cotidiano. I O 1 1 1 2 13 1 4 I 5 1 6 1 7 I 8 1 9 1101 Completamente através da elaboração de relatórios. 97 ANEXO 11 - RELATÓRIO DO LISREL DATE: 11/14/2004 TIME: 18:12 L I S R E L 8.71 BY Kar1 G. J"reskog & Dag S"rbom This program is published exclusively by Scientific Software International, Inc. 7383 N. Lincoln Avenue, Suite 100 Lincolnwood, IL 60712, U.S.A. Phone: (800) 247-6113, (847) 675-0720, Fax: (847) 675-2140 Copyright by Scientific Software International, Inc., 1981-2004 Use of this program is subject to the terms specified in the Universal Copyright Convention. Website: www.ssicentral.com 98 TI Number Number Number Number Number Number of of of of of of Input Variables 9 Y - Variables O X - Variables 7 ETA - Variables O KSI - Variables 1 Observations 48 Covariance Matrix CONINT TREINA FONTEEXT ARMAZCON SISTCON REUNIOES REMUNER CONINT TREINA -------- -------- 2.34 1. 46 0.81 2.74 1. 78 0.02 2.21 3.07 1.16 3.33 0.64 0.26 3.48 Covariance Matrix REMUNER -------- REMUNER 10.74 FONTEEXT ARMAZCON SISTCON REUNIOES 1. 04 1. 68 0.48 0.38 1. 62 10.74 1. 07 1. 28 6.45 10.74 -1.19 2.53 5.79 3.38 99 TI Parameter Specifications LAMBDA-X KNOW -------- CONINT TREINA FONTEEXT ARMAZCON SISTCON REUNIOES REMUNER 1 2 3 4 5 6 7 THETA-DELTA CONINT TREINA FONTEEXT ARMAZCON SISTCON REUNIOES REMUNER CONINT TREINA -------- -------- 8 O O O O O O THETA-DELTA REMUNER -------- REMUNER 15 FONTEEXT ARMAZCON SISTCON REUNIOES 10 O O O O 11 O O O 12 O O 13 14 9 O O O O O IUU Number of Iterations LISREL Estimates 10 (Weighted Least Squares) LAMBDA-X KNOW CONINT 1. 08 (0.09 ) 12.68 TREINA 1. 57 (0.08 ) 20.48 FONTEEXT 0.89 (0.06) 14.72 ARMAZCON 2.64 (0.23) 11.41 SISTCON 1. 23 (0.47 ) 2.60 REUNIOES 0.74 (0.29) 2.56 REMUNER 2.53 (0.26) 9.64 lUl PHI KNOW 1. 00 THETA-DELTA CONINT TREINA FONTEEXT ARMAZCON SISTCON REUNIOES CONINT TREINA FONTEEXT ARMAZCON SISTCON REUNIOES -------- -------- -------- -------- -------- -------- 1.16 (0.39 ) 3.00 0.62 (0.51 ) 1. 22 0.24 (0.19) 1. 27 3.75 (1. 99) 1. 88 9.23 (1. 95) 4.74 5.24 (0.95 ) lU2 5.52 REMUNER 3.55 (0.84 ) 4.25 THETA-DELTA REMUNER REMUNER 4.32 (2.06) 2.10 Squared Multiple Correlations for X - Variables CONINT TREINA FONTEEXT ARMAZCON SISTCON REUNIOES 0.50 0.80 0.77 0.65 0.14 0.10 Squared Multiple Correlations for X - Variables REMUNER 0.60 103 Goodness of Fit Statistics Degrees of Freedom = 13 Minimum Fit Function Chi-Square = 19.01 (P = 0.12) Estimated Non-centrality Parameter (NCP) = 6.01 90 Percent Confidence Interval for NCP = (0.0 ; 21.79) Minimum Fit Function VaIue = 0.40 Population Discrepancy Function VaIue (FO) = 0.13 90 Percent Confidence Interva1 for FO = (0.0 ; 0.46) Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA) = 0.099 90 Percent Confidence IntervaI for RMSEA = (0.0 ; 0.19) P-VaIue for Test of CIose Fit (RMSEA < 0.05) = 0.20 Expected Cross-Validation Index (ECVI) = 1.04 90 Percent Confidence IntervaI for ECVI = (0.91 ; 1.38) ECVI for Saturated Model = 1.19 ECVI for Independence Model = 5.22 Chi-Square for Independence Model with 21 Degrees of Freedom Independence AIC = 245.17 Model AIC = 49.01 Saturated AIC = 56.00 Independence CAIC = 265.27 Model CAIC = 92.08 Saturated CAIC = 136.39 Normed Fit Index (NFI) = 0.92 Non-Normed Fit Index (NNFI) = 0.95 Parsimony Normed Fit Index (PNFI) = 0.57 Comparative Fit Index (CFI) = 0.97 IncrementaI Fit Index (IFI) = 0.97 ReIative Fit Index (RFI) = 0.87 CriticaI N (CN) 69.46 231.17 104 Goodness of Fit Index (GFI) = 0.97 Adjusted Goodness of Fit Index (AGFI) 0.93 Parsimony Goodness of Fit Index (PGFI) = 0.45 TI Factor Scores Regressions KNOW CONINT TREINA 0.07 0.19 FONTEEXT 0.28 ARMAZCON 0.05 SISTCON 0.01 REUNIOES 0.04 REMUNER KNOW 0.08 Maximum Modification Index is 6.30 for Element ( 5, 2) of THETA-DELTA Time used: 0.070 Seconds REMUNER 0.08