Relação entre Processos de Mudança e Estágios de Mudança em Usuários de Substâncias Psicoativas XI Salão de Iniciação Científica PUCRS Paola Lucena dos Santos1, Karen Szupszynski 2, Margareth da Silva Oliveira3 (orientador). Faculdade de Psicologia – Programa de Pós Graduação em Psicologia, PUCRS. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC – CNPq – Graduanda em Psicologia PUCS1, Bolsista CAPES de Doutorado em Psicologia2, Bolsista de Produtividade CNPq3 Resumo Introdução Sabe-se que o uso de álcool e de drogas ilícitas está associado a maiores índices de violência prostituição, DSTs, roubos, tráficos e assaltos (OLIVEIRA e NAPPO, 2008) e que houve aumento no uso de todas as drogas mais consumidas no país entre os anos de 2001 e 2005 (CARLINI, 2007). No Brasil, o uso de substâncias psicoativas já é considerado um grave problema de saúde pública (ALMEIDA e OLIVEIRA, 2010). Ao mesmo tempo, é importante salientar que teorias científicas e modelos para explicar e entender as adições existem somente há 100 anos e a maioria dos modelos tradicionais para entender a adição estão concentrados na etiologia e no entendimento da origem desses comportamentos, em vez de como eles mudam. James Prochascka, na década de 70, criou o Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento (MTT) que tem como um dos principais pressupostos o fato de que as pessoas passam por diferentes estágios de motivação durante o processo de mudança (DICLEMENTE, 2003). Os estágios de motivação são: (1) Estágio de Pré-Contemplação: Neste estágio a mudança não é desejada e é vista como não sendo necessária. (2) Estágio de Contemplação: Período marcado por grande ambivalência onde o indivíduo considera os prós e os contras tanto do comportamento atual, quanto da mudança deste comportamento. (3) Estágio de Ação: O indivíduo já exibe ações concretas no sentido de parar com o velho padrão de comportamento e inicia o engajamento em um novo padrão. (4) Estágio de Manutenção: O novo padrão de comportamento torna-se automático, requerendo menos pensamentos ou esforços para mantê-lo (DICLEMENTE, 2003). Através da escala URICA (University of Rhode Island Change Assesment Scale MCCONNAUGHY, PROCHASKA e VELICER, 1983), é possível saber em qual estágio de XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1714 motivação para mudança o indivíduo se encontra. Tal escala já foi adaptada e validada para o Brasil por Szupszynski e Oliveira (2008). Além da presença dos estágios motivacionais, o processo de mudança é composto por construtos referentes aos mecanismos de mudança como: a auto-eficácia para abstinência, a tentação para o uso e os processos de mudança (DICLEMENTE, 2003). Os processos de mudança são estratégias utilizadas pelos indivíduos para a modificação do comportamento-problema e são divididos em processos cognitivos, onde não há ações específicas na direção da mudança e em processos comportamentais, onde o indivíduo já exibe novos comportamentos para mudar o comportamento-problema. Através da Escala de Processos de Mudança (EPM - PROCHASKA et al., 1988) é possível saber se o indivíduo está em processos cognitivos ou comportamentais. A EPM está sendo adaptada e validada para o Brasil por Szupszynski e Oliveira. Tendo em vista a lacuna existente nesta área de comportamentos adictos e a relevância de pesquisas acerca do tema para o nosso país, o objetivo do presente trabalho é verificar, em uma amostra da população brasileira, se existe relação entre a classificação dos sujeitos nos estágios de motivação e a classificação nos processos de mudança, conforme é esperado teoricamente. Os resultados deste estudo contribuirão para a criação de programas de tratamento e prevenção de uso de drogas que levem em consideração as características específicas da população a que se destinam. Metodologia Estudo transversal quantitativo. Critérios de Inclusão: Usuários de SPA, de 18 a 59 anos, com mínimo de 7 dias de abstinência e 5 anos de escolaridade. Critérios de Exclusão: Participantes que evidenciassem algum prejuízo cognitivo que pudesse prejudicar a compreensão dos itens do protocolo de pesquisa. Instrumentos: (1) Entrevista Clínica Semiestruturada; (2) Screening Cognitivo do WAIS-III, (Vocabulário, Cubos, Códigos e Dígitos); (3) URICA; (4) EPM. Tratamento Estatístico: Os dados foram compilados, processados e analisados no programa estatístico SPSS, versão 17.0. Para análise dos dados foi utilizada estatística descritiva. Resultados Do total dos participantes (35), 3 foram excluídos em virtude de terem apresentado comprometimento cognitivo no Screening Cognitivo do WAIS (ponderados classificados na faixa Inferior). Do restante da amostra (32), 93,8% eram do sexo masculino e apenas 6,3% do XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1715 sexo feminino. A idade média da amostra ficou em 30,81 anos (DP=7,913), sendo a idade mínima de 19 anos e máxima de 54. A maior parte dos pacientes estava em tratamento para dependência química em regime ambulatorial (59,4%) e os restantes (40,6%) em regime de internação. Em relação a escolaridade dos participantes, metade da amostra (50%) estava na faixa do ensino médio, enquanto que 28,1% estava na faixa do ensino superior e somente 21,9% estava na faixa ensino fundamental. A maior parte estava trabalhando atualmente (53,1%) e não estava estudando (74,2%). Quanto o uso de drogas no último ano, a maior parte dos entrevistados: usou tabaco (87,1%), álcool (51,7%) e crack (58,1%). A maioria não fez uso de maconha (59,4%) e cocaína (54,8%) no último ano, porém já fizeram uso destas drogas alguma vez na vida. Já com relação ao uso de solventes, nenhum participante fez uso da droga no último ano. Os sujeitos ficaram classificados da seguinte forma nos estágios de mudança: 21,9% no estágio de Pré-Contemplação; 3,1% no de Contemplação; 31,3% no estágio de ação e 43,8% no de Manutenção. Somando os estágios de Pré-contemplação e Contemplação, que são estágios mais cognitivos, observou-se que um quarto (25%) da amostra estava classificada em um destes estágios, enquanto que somando os estágios de Ação e Manutenção, que são estágios mais comportamentais, observou-se que três quartos (75%) da amostra estava classificada nesta faixa. Ao mesmo tempo, a maior parte dos participantes, na EPM, ficou classificada em processos comportamentais (53,1%) e 46,9% em processos cognitivos. Conclusão Neste estudo conclui-se que houve uma relação entre os processos de mudança e os estágios de mudança, uma vez que o que era esperado teoricamente foi aferido pelos instrumentos: o fato de a maior parte dos participantes encontrar-se ao mesmo tempo no estágio de ação ou manutenção (URICA) e utilizar mais processos comportamentais do que processos cognitivos (EPM). Isto mostra que a maior parte dos pacientes da amostra estudada, além de reconhecerem que têm um problema, já apresentam ações na direção da mudança do comportamento-problema. Ressalta-se que a amostra tem como viés natural o fato de serem todos pacientes que já estão em tratamento para dependência química, o que provavelmente influenciou para que os mesmos estivessem mais em processos comportamentais. Salienta-se também que os presentes resultados não são conclusivos, tendo em vista o número ainda reduzido da amostra, e que mais estudos necessitam ser realizados na área a fim de corroborar ou diferir dos achados ora apresentados. XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1716 Referências ALMEIDA, Marilia Mastrocolla de; OLIVEIRA, Márcia Aparecida de; PINHO, Paula Hayasi. O tratamento de adolescentes usuários de álcool e outras drogas: uma questão a ser debatida com os adolescentes?. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo, 2010. CARLINI, E. A. et al. II Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil, 2005: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2007. DICLEMENTE, C. The process of intentional change of human behavior. In: Addiction and Change: How Addictions Develop and Addicted People Recover, New York: Guilford Press, 2003, p. 22-43, 2003. MCCONNAUGHY, E. A.; PROCHASKA, J. O. e VELICER, W. E. Stages of change in psychotherapy: Measurement and sample profiles. Psychotherapy: Theory,Research and Pratice, v. 20, n. 3, p. 368-375, 1983. OLIVEIRA L. G.; NAPPO S. A. (2008). Caracterização da cultura de crack na cidade de São Paulo: padrão de uso controlado Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 42, n. 4, 2008. PROCHASKA, et al. Measuring the processes of change: Applications to the cessation of smoking. Journal of Consulting and Clinical Psychology, v. 56, p. 520-528, 1988. SZUPSZYNSKI, K. P. D. R. e OLIVEIRA, M. S. Adaptação brasileira da University of Rhode Island Change Assessment (URICA) para usuários de substâncias ilícitas. PsicoUSF. v. 13, n. 1, p.31-39, jun. 2008. XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1717