Quinta-feira 12 de fevereiro de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política 19 CÂMARA DOS DEPUTADOS Cunha ‘não vê espaço’ para impeachment O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) reforçou sua posição contrária ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), afirmando que não há espaço para o uso desse instrumento contra o governo que está no início e que foi legitimamente eleito. Cunha fez questão de dizer que uma coisa é o ritmo que vem imprimindo em sua gestão, de independência em relação ao Executivo, e a defesa do impeachment da presidente. “Eu fui sempre muito claro com relação a esse assunto e vou continuar sendo: não vejo espaço para isso, não concordo com esse tipo de discussão e não terá meu apoio. Existe uma diferença muito grande de você ter qualquer tipo de divergência ou a forma de atuar com independência”, disse Cunha. Cabe ao presidente da Câmara analisar os pedidos de impeachment de presidentes da República que chegam ao Congresso Nacional, decidindo se dá ou não andamento aos pedidos. Se o sinal verde for dado, o processo segue para análise da Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Em plenário, o pedido precisa ter pelo menos 342 dos 513 votos para seguir para o Senado. “O governo que aí está, foi legitimamente eleito. Não dá para você, no início do mandato, ter esse tipo de tratamento desse processo. Eu não concordo”, acrescentou Cunha. Cresce nas redes sociais um movimento em defesa do impeachment de Dilma, e está sendo articulado um ato para RODOLFO STUCKERT/CÂMARA DOS DEPUTADOS/JC ‘Sempre fui claro em relação a esse assunto, é uma discussão que não terá meu apoio’, afirmou o presidente da Casa Para Eduardo Cunha, o governo está no início e foi legitimamente eleito em 2014 o dia 15 de março chamando as pessoas para irem às ruas em defesa do uso desse instrumento. A oposição começa a fazer discursos neste sentido. Na noite da terça-feira passada, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), usou a tribuna da Casa para dizer que não é preciso ter receio de tratar a possibilidade de impeach- Vice do PT alerta companheiros para não caírem em ‘provocação’ O vice-presidente do PT e coordenador de Redes Sociais do partido, Alberto Cantalice, divulgou uma nota ontem, pedindo a “companheiras e companheiros” que não entrem “no jogo dos adversários”. Sem citar diretamente a palavra “impeachment”, a nota do dirigente diz que “a oposição, derrotada no último pleito, teima em não descer do palanque e compreender que as eleições acabaram” e afirma que o PT segue “vigilante e firme na defesa das conquistas sociais desses 12 anos”. Cantalice afirmou que, ao contrário do que vem sendo dito em redes sociais, o partido não está convocando nenhuma manifestação para se contrapor “aos tais atos convocados para o dia 15 de março”. No Facebook, há diversos eventos marcados para a data com o bordão “Fora Dilma”, alguns com alusões à queda de Fernando Collor em 1992. Também sem citar direta- mente o motivo das manifestações convocadas nas redes e sem mencionar o PSDB ou qualquer outro partido de oposição, Cantalice diz no documento que petistas não devem “cair na provocação”. “Cair nas provocações seria um erro crasso!” Lideranças tucanas, como o senador Cássio Cunha Lima (PB) e o presidente da legenda e presidenciável derrotado no ano passado, senador Aécio Neves (MG), já afirmaram que não é crime falar em um dispositivo previsto na Constituição, como o impeachment. Cantalice explicou que a nota responde a boatos que surgiram nas redes de uma possível reação do PT. “Estamos pedindo calma para a nossa militância”, afirmou o dirigente. Ele informou que a emissão da nota foi discutida com a direção do partido e passou pelo presidente Rui Falcão, mas não chegou a ser discutida na reunião de celebração dos 35 anos do partido no fim de semana, em Belo Horizonte. ment de Dilma, porque esse é um preceito para preservar a população. “Se estiverem presentes as condições, como aparentam estar, e ela (Dilma) continuar nessa trilha de corrupção e improbidade, haverá sim impeachment”, disse Sampaio. Desde a eleição, quando venceu o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), que tinha o apoio do Planalto, Cunha vem tomando decisões que causam constrangimento ao governo e demarcam posição de independência. Na semana passada, ele analisou e criou imediatamente a CPI da Petrobras proposta pela oposição. Na terça-feira, anunciou a decisão de chamar os 39 ministros para darem explicações ao Congresso. Nessa quarta-feira, Cunha voltou a dizer que aguardará as indicações dos partidos para a CPI da Petrobras até o início da semana após o Carnaval e que, se os líderes não indicarem, ele indicará. “Na semana que vem, após o Carnaval, vamos fazer a instalação da comissão imediatamente, provavelmente terça ou quarta-feira. Quem não tiver indicado eu vou indicar em substituição. Isso será uma prática normal: a gente conceder os prazos e os partidos que não indicarem nós vamos substituir, indicar e depois eles substituem se assim o entender.” Cunha disse ainda que as indicações do PMDB serão feitas pelo novo líder, Leonardo Picciani (RJ), mas que o posto que caberá ao partido na CPI (presidência ou relatoria) será ocupado por Lúcio Vieira Lima (BA), que perdeu a eleição na disputa pela liderança do partido. “O cargo que pertencerá ao PMDB será ocupado por quem perdeu a disputa ontem (pela liderança). Eu já tinha dito para os dois que quem perdesse iria ocupar esse posto. É uma forma de a gente atender a bancada como um todo.” Para Maggi, relação do Congresso vive ‘pior momento’ Integrante de um dos maiores grupos empresariais do País e com um bom trânsito na cúpula do governo, o ex-governador e senador Blairo Maggi (PR-MT), considera que o momento atual é o pior da relação do Congresso com o Palácio do Planalto. Maggi revelou que, em meio aos atritos da base com o governo, uma parte dos integrantes da bancada na Câmara não descarta uma debandada. “Já ouvi esse barulho na Câmara. Agora mesmo na eleição da Mesa nas discussões com o PT, houve sim manifestações neste sentido de deixar a base.” Segundo ele, no Senado, na primeira reunião do bloco (PR, PTB, PSC e PRB), o sentimento apresentado foi o de cautela com os desdobramentos da crise na área política e econômica. “Na nossa reunião de bloco, decidimos que estamos com o governo, mas até onde, vai depender do que vai acontecer”, afirmou. Na parte administrativa, Maggi considera que foi errada a escolha de Aldemir Bendini, ex-presidente do Banco do Brasil, para ocupar a presidência da Petrobras. PEC do Orçamento Impositivo muda verbas da Saúde A aprovação da chamada PEC do Orçamento Impositivo terá efeitos na área da Saúde, porque muda a fórmula de cálculo do financiamento público do setor. Ainda na discussão no Senado e chancelada na noite de terça-feira na Câmara, foi incluído o texto estabelecendo que o valor mínimo a ser aplicado pela União, em Saúde, seria de até 15% da receita corrente líquida. Na prática, isso pode reduzir os valores atuais, calculados com base na fórmula que leva em conta o orçamento do ano anterior para o setor mais a variação nominal do PIB de dois anos anteriores. Para 2015, o governo calculou o piso constitucional da Saúde em R$ 99,4 bilhões. Mas o Orçamento da União de 2015, o governo federal destinou R$ 109,2 bilhões para aplicação constitucional em Saúde, colocando recursos a mais. O argumento da bancada da Saúde contra este trecho da PEC é que os 15%, na verdade, retiram recursos da Saúde da ordem de R$ 30 bilhões, ao usar a receita corrente líquida da União como parâmetro, e não a receita corrente bruta, como na proposta original do setor. A bancada da Saúde quer a aprovação da proposta que destina 18% da receita líquida da União para o setor, o que equivale à proposta original de destinar 10% da receita bruta da União. A proposta do Orçamento Impositivo, aprovada por 452 votos a 18 e 1 abstenção, estabelece a execução obrigatória das emendas parlamentares ao orçamento até o limite de 1,2% da receita corrente líquida (RCL) realizada no ano anterior. Para 2015, isso significaria R$ 9,69 bilhões em emendas. A matéria, agora, vai à promulgação do Congresso.