Associação Brasileira de Genitoscopia
Boletim Eletrônico
Setembro 2010 – 33ª edição
Recomendações do ACOG para alterações citológicas em adolescentes
Resumo das recomendações do ACOG - alterações citológicas em adolescentes
Committee on Adolescent Health Care. The American College of Obstetrics and Gynecologists. Committe Opinion Number
463, August 2010. Cervical cancer in adolescents: Screening, evaluation, and management. Obstet Gynecol. 2010;116(2
Part 1):469-72.
COMO DEVE SER FEITO O RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO UTERINO EM
ADOLESCENTES IMUNOCOMPETENTES?
Segundo o Comitê do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG), o rastreamento
do câncer de colo uterino deve ser iniciado aos 21 anos de idade, independente da idade de início
da atividade sexual. Essa recomendação é baseada no fato que, nas adolescentes com sistema
imunológico intacto, 90% dos casos de infecção pelo HPV se resolverá dentro de 24 meses e que
os casos muito raros de câncer de colo uterino nessa população parecem não ser preveníveis pelo
rastreamento. Além disso, sugerem que a adolescente com citologia normal no passado não deva
ser rastreada até a idade de 21 anos. Por outro lado, para adolescentes com citologia ASC-US ou
lesão de baixo grau ou histologia NIC 1 no passado, o rastreamento pode ser reiniciado aos 21
anos de idade se ela tiver duas colpocitologias oncológicas subsequentes normais. Já as
adolescentes com citologia ASC-H, lesão de alto grau ou NIC 2/3 devem ser seguidas segundo as
orientações mostradas a seguir, podendo ser considerado o rastreamento citológico anual.
COMO É O RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO UTERINO EM ADOLESCENTES
IMUNOSSUPRIMIDAS OU PORTADORAS DE HIV?
As adolescentes com HIV devem realizar colpocitologia oncológica semestral no primeiro ano após
o diagnóstico e, depois disso, anualmente. As adolescentes sexualmente ativas transplantadas ou
que estão em uso de corticoides a longo prazo devem ser submetidas ao rastreamento citológico
após o início da atividade sexual, ou seja, não se deve esperar os 21 anos de idade como na
adolescente imunocompetente. Da mesma forma que na paciente HIV-positiva, a colpocitologia
oncológica deve ser semestral durante o primeiro ano de rastreamento e depois anual.
QUANDO REALIZAR O TESTE DE HPV NAS ADOLESCENTES?
Como a prevalência de infecção pelo HPV é alta em adolescentes, o teste de HPV não tem
utilidade e não deve ser realizado nessa população. Se ele foi realizado, o teste positivo não deve
influenciar o tratamento. Também se destaca que não há papel para o teste de HPV na paciente
antes de receber a vacinação contra o HPV.
CONDUTA NA ADOLESCENTE COM COLPOCITOLOGIA ASC-US, LESÃO DE BAIXO GRAU OU
HISTOLOGIA NIC 1
Como os estudos de história natural de ASC-US, lesão de baixo grau ou NIC 1 mostram taxas
elevadas de regressão espontânea dentre de dois a três anos, recomenda-se repetir a
colpocitologia em intervalos de 12 meses durante período de dois anos. A persistência de ASC-US
ou lesão de baixo grau durante o período de dois anos deve ser avaliada pela colposcopia. NIC 1
persistente por mais de dois anos deve ser tratado de forma individualizada. Deve-se considerar
manter o rastreamento dessas pacientes por causa da frequência de novas infecções por HPV.
O QUE FAZER COM A ADOLESCENTE COM COLPOCITOLOGIA ASC-H?
Como os dados sobre ASC-H na adolescência são escassos e as mulheres com ASC-H têm risco
aumentado para NIC 2/3, essas adolescentes devem ser avaliadas pela colposcopia. Quando não
se identifica alterações histológicas, nova colpocitologia deve ser feita em intervalos de seis
meses. Se for encontrada qualquer alteração citológica (igual ou maior que células escamosas
atípicas), repete-se a colposcopia. Na presença de duas colpocitologias consecutivas normais, o
rastreamento pode ser reiniciado aos 21 anos de idade.
ADOLESCENTE COM COLPOCITOLOGIA DE LESÃO DE ALTO GRAU: O QUE FAZER?
A adolescente com colpocitologia de lesão de alto grau deve ser avaliada pela colposcopia. Na
ausência de diagnóstico de NIC 2/3, repete-se a colpocitologia e colposcopia em intervalos
semestrais por até 2 anos, desde que se tenha amostra endocervical negativa. Na persistência de
lesão de alto grau citológica ou colposcópica por um ano, recomenda-se repetir a biópsia e avaliar
cuidadosamente a vagina. A realização de procedimento excisional diagnóstico com alça
diatérmica é recomendada na persistência de lesão de alto grau citológica ou colposcópica por 24
meses, na ausência de lesão de vagina. É inaceitável a realização da técnica de “ver e tratar”
(“see and treat”) em menores de 21 anos. Deve-se considerar intervir menos em adolescentes
pela alta taxa de resolução da NIC 2 e risco relativo aumentado de parto prematuro e ruptura
prematura de membranas após procedimento excisional com alça diatérmica.
COMO CONDUZIR A ADOLESCENTE COM NIC 2/3?
Para a adolescente com NIC 2, como há relatos de resolução espontânea, prefere-se realizar o
acompanhamento com colposcopia e colpocitologia em intervalos semestrais por até 24 meses. O
tratamento desses casos também é aceitável. Já para a adolescente com NIC 3, prefere-se o
tratamento. O tratamento é feito com destruição ou excisão da zona de transformação. Se a
colposcopia for insatisfatória, o tratamento é recomendado para NIC 2/3. Durante o período de
observação, se a aparência da lesão colposcópica piorar ou se o resultado de lesão de alto grau
citológica ou colposcópica persistir por um ano, deve-se repetir a biópsia. A persistência de NIC
2/3 confirmada pela histologia durante período de 24 meses é indicação de tratamento. Estudos
prospectivos randomizados demonstraram que crioterapia, laser ou excisão eletrocirúrgica com
alça são igualmente efetivos para o tratamento da NIC 3, porém, prefere-se o procedimento
excisional, especialmente para lesões grandes que possuem risco aumentado de carcinoma
microinvasor ou invasor oculto.
LESÃO GLANDULARES ATÍPICAS EM ADOLESCENTES
Recomenda-se realizar colposcopia e amostra endocervical na adolescente com colpocitologia com
lesões glandulares atípicas. Como esse diagnóstico é raro na adolescência e pode ter implicações
clínicas significativas, sugere-se que essa avaliação seja feita por médico com experiência em
displasia cervical. A amostra endometrial somente deve ser realizada se a adolescente tiver
obesidade mórbida, sangramento uterino anormal ou oligomenorreia, ou houver suspeita de
câncer de endométrio.
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1. CRM 84951-SP. Editora da revista Brasileira de Genitoscopia e da home page www.colposcopia.org.br Doutora pela
FMUSP. Médica titulada pela FEBRASGO e qualificada pela ABG. 2. CRM 96836-SP Revisora científica da Revista Brasileira
de Genitoscopia. Pós-graduanda da UNIFESP. Mestre pela FMUSP. Médica titulada pela FEBRASGO e qualificada pela
ABG.
Declaração de Conflito de interesse, de acordo com a Norma 1595/2000 do Conselho Federal de Medicina e a Resolução
RDC 96/2008 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 1. Gerente médica da MSD.
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