“Uma criança que não sabe brincar, uma miniatura de velho, será um adulto que não saberá
pensar” (CHATEAU, 1987, P. 14).
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Maria Salete Corrêa Carvalho
Fevereiro / 2008
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(Professora, graduada em Estudos Sociais e História, especialista e com mestrado em
Psicopedagogia).
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INTRODUÇÃO !
A psicopedagogia, empenhada em solucionar os problemas da alfabetização, vem buscando criar
formas de administrar a relação professor/aluno/aprendizado, por métodos adotados amplamente
por ela. Entre esses métodos, encontra-se a ludopsicopedagogia, que consiste na análise da criança
através dos seus brinquedos, uma vez que a criança desloca para o exterior seus medos e
ansiedades. No brincar, a criança descobre seus limites, potencialidades e individualidade. A
brincadeira desempenha uma função vital para a criança. É muito mais do que apenas a atividade
frívola, leviana e prazenteira que os adultos julgam que é.
A ludopsicopedagogia associada à música abre outra vertente do tratamento psicopedagógico.
Embora pouco explorada, a “Ludopsicopedagogia-musical” condensa dois pontos de apoio à
intervenção: o lúdico, que fornece informações do indivíduo através dos elementos do brincar; e da
música, que proporciona a realização de um trabalho direcionado e caracterizado para aplicação
específica, permitindo ao psicopedagogo, encontrar na música o meio “impressionante” necessário
ao tratamento da deficiência.
A “ludopsicopedagogia-musical” é o nome utilizado pela pesquisadora para definir o método
aplicado na execução de um programa que inclui brinquedos/ instrumentos. Diz a psicóloga
Camasmie (2006):
É uma técnica muito apropriada para a criança, realizada através do lúdico, do “brincar” tendo
como objetivo, facilitar a expressão da criança, pois é através do brincar que a criança tem maior
possibilidade de expressar seus sentimentos e conflitos e buscar melhores alternativas para lidar
com suas emoções e conseqüentemente, saber resolver problemas e melhorar o processo de
aprendizagem.
LUDOPSICOPEDAGOGIA
Para Oaklander (1980) Brincar também serve como linguagem para a criança – um simbolismo que substitui as palavras. A
criança experiência na vida muita coisa que ainda é incapaz de expressar verbalmente, e deste modo
utiliza a brincadeira para formular e assimilar aquilo que experiencia. Eu me utilizo do brincar de
situações em terapia da mesma maneira que poderia usar uma estória, um desenho, uma cena na
mesa de areia, um teatro de bonecas, ou uma improvisação.
Quando a criança brinca, diz a autora, pode-se observar o processo de sua forma de brincar, de se
aproximar do material, do que escolhe e o que evita, seu estilo geral, as dificuldades de ultrapassar
etapas, a organização, o padrão adotado, o modo como brinca e o que fala sobre a sua vida.
Durante o tratamento com o psicopedagogo, as crianças são levadas ao consultório para brincarem
livremente, de acordo com suas necessidades, permitindo que elas demonstrem seus conflitos e se
desenvolvam através da interpretação do conteúdo dos seus jogos e brincadeiras - a
ludopsicopedagogia. O brincar das crianças, em qualquer situação, é muito proveitoso para outros
propósitos, além do processo direto de terapia.
Brincar é divertido para a criança e ajuda a promover a afinidade necessária entre o psicopedagogo
e/ou professor e a criança. O medo e resistência iniciais por parte desta, muitas vezes, são
drasticamente reduzidos, quando ela se defronta com uma sala cheia de brinquedos. Enquanto a
criança utiliza o brinquedo como instrumento o profissional consegue compreender seus
sentimentos e preocupações. Brincando as crianças comunicam e mostram melhor, os seus
sentimentos. Enquanto isso, o psicopedagogo dirige a atenção para os motivos subjacentes do
comportamento da criança, durante as atividades lúdicas.
A técnica do brinquedo é organizada de modo que a criança possa brincar num lugar que está
equipado, habitualmente, com brinquedos padronizados. A comunicação verbal não é o meio mais
adequado para as crianças de tenra idade e, nesse sentido, para se alcançar uma expressão
espontânea e verificar as associações que elas fazem, nada melhor do que explorar as atividades
lúdicas, jogos e representações infantis, mediante a passagem do ato de brincar.
Brincar pode ser um bom instrumento de diagnóstico. Brincando com a criança, podemos observar
muita coisa a respeito da maturidade, Inteligência, imaginação e criatividade, organização
cognitiva, orientação de realidade, estilo, campo de atenção, capacidade de resolução de problemas,
habilidades de contato, entre outras nuanças (OAKLANDER, p.189).
A análise infantil explora o mundo dos sentimentos e impulsos inconscientes, os “fantasmas
infantis” como origem de todas as ações e reações observadas nos pequenos aprendizes. A eficiência
do tratamento está no fato de que no ato de brincar as crianças expressam sentimentos de ambição,
desejo, amor, crueldade, ódio, necessidade de dominar e destruir. Esses sentimentos existem em
cada pessoa, mas nas crianças são liberados no brincar de uma forma prazerosa.
O poder do lúdico na criança dá-lhe o prazer de adaptar à realidade ao seu gosto. Sob a orientação
do professor e com o apoio de jogos, procura-se fazer desaparecer os “medos e os temores”, “obter
uma maior assimilação do mundo, dos impulsos e das motivações e conseguir uma maior adaptação
à realidade e uma estabilidade da emotividade” Enciclopédia online (2005). O brinquedo cria na
criança uma nova forma de desejo.
Assim como já foi mencionado, a ludopsicopedagogia consiste na análise da criança através do ato
de brincar. É durante esse comportamento prazeroso que ela desloca para o exterior seus medos,
ansiedades e problemas internos, dominando-os ou não pela ação. Por meio da atividade lúdica, ela
manifesta seus conflitos e, desse modo, pode-se reconstruir o passado assim como, no adulto, se
consegue por meio da palavra.
LUDOPSICOPEDAGOGIA-MUSICAL A ludopsicopedagogia associada à música abre outra vertente do tratamento psicopedagógico.
Embora pouco explorada, a “Ludopsicopedagogia-musical” condensa dois pontos de apoio à
intervenção: o lúdico, que fornece informações do indivíduo através dos elementos do brincar; e da
música, que proporciona a realização de um trabalho direcionado e caracterizado para aplicação
específica, permitindo ao psicopedagogo, encontrar na música o meio “impressionante” necessário
ao tratamento da deficiência.
Segundo Adorno:
(...) alguns gestos musicais são derivados da fala. A entonação, a pontuação, a exclamação, a
interrogação, o tom da voz, são elementos da linguagem verbal que encontram equivalentes na
música. Beethoven, em sua composição Opus 33, explicita essa característica da música pedindo
para que essa seja tocada “parlando”. (APUD FREITAS, 1982, p.1-6).
Música e linguagem são organizações sonoras que servem ao homem como veículos de expressão.
No entanto, não se pode conhecer precisamente o significado daquilo que foi expresso por meio da
música. A organização do som na música é uma cadeia de significantes sonoros que não tem uma
conotação intrínseca. Ou seja, não existe dicionário musical que possa definir o sentido de uma
música. O que se diz, via música, é revelado e velado ao mesmo tempo.
A “ludopsicopedagogia-musical” é o nome utilizado pela pesquisadora para definir o método
aplicado na execução de um programa que inclui brinquedos/ instrumentos musicais e com base na
proposta da piscóloga Camasmie.
As atividades com música permitem que a criança conheça melhor a si mesma, desenvolva sua
noção de esquema corporal e também permitem a comunicação com o outro. Weigel (1988), Pasini
(2006) e Barreto (2000) afirmam que estas atividades podem contribuir de maneira indelével como
reforço no desenvolvimento cognitivo, psicomotor e sócio-afetivo da criança, da forma descrita a
seguir:
a. Desenvolvimento Cognitivo: a fonte de conhecimento da criança é o conjunto de situações que
ela tem oportunidade de experimentar em seu dia-a-dia. Dessa forma, quanto maior a riqueza de
estímulos que ela receber melhor será seu desenvolvimento intelectual. Nesse sentido, as
experiências rítmico-musicais, que permitem uma participação ativa (vendo, ouvindo, tocando)
favorecem o desenvolvimento dos sentidos das crianças. Ao trabalhar com os sons ela desenvolve
sua acuidade auditiva.
b. Desenvolvimento Psicomotor: as atividades musicais oferecem inúmeras oportunidades para que
a criança aprimore sua habilidade motora, aprenda a controlar seus músculos e mova-se com
desenvoltura. O ritmo tem um papel importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso. Isto
porque toda expressão musical ativa age sobre a mente, favorecendo a descarga emocional, a reação
motora e aliviando as tensões. As atividades como cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas,
bater pés ,são experiências importantes para a criança, pois elas permitem que se desenvolva o
senso rítmico, a coordenação motora, fatores imprescindíveis também para o processo de aquisição
da leitura e da escrita.
c. Desenvolvimento sócio-afetivo: A criança aos poucos vai formando sua identidade, percebendose diferente dos outros e ao mesmo tempo buscando integrar-se no contexto em que vive. Nesse
processo a auto-estima e a auto-realização desempenham um papel relevante. As atividades
musicais coletivas, por exemplo, favorecem o desenvolvimento da socialização, estimulando a
compreensão, a participação e a cooperação. Ao expressar-se musicalmente em atividades que lhe
dêem prazer, ela demonstra seus sentimentos, libera suas emoções, desenvolvendo um sentimento
de segurança e auto-realização.
A “Ludopsicopedagogia-musical”-, por suas características, torna-se extremamente adequada ao
meio escolar, ao aprendizado fundamental, pois permite a avaliação do aluno, seu tratamento, a
recomposição ou a manutenção de conceitos. Sendo assim, a escola deveria considerar as diferentes
formas de expressão em que a criança melhor se adapte, dando-lhe a oportunidade para que ela se
destaque em outras habilidades, ao contrário do que acontece quando se privilegiam apenas as
capacidades lógico-matemática e lingüística.
Sadie apud Chiareli & Barreto (2005) afirma que:
Crianças mentalmente deficientes e autistas geralmente reagem à música, quando tudo o mais
falhou. A música é um veículo expressivo para o alívio da tensão emocional, superando dificuldades
de fala e de linguagem. A música foi usada para melhorar a coordenação motora nos casos de
paralisia cerebral e distrofia muscular. Também é usada para ensinar controle de respiração e da
dicção nos casos em que existe distúrbio da fala.
As atividades musicais realizadas na escola não visam à formação de músicos, e sim através da
vivência e compreensão da linguagem musical, propiciar à abertura de canais sensoriais, facilitando
a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do ser. A
este respeito Katsch e Merie- Fishman apud Chiareli & Barreto (2005 p. 6) afirmam que “[...] a
música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na
aprendizagem de matemática, leitura e outras habilidades lingüísticas nas crianças”.
Vários são os benefícios que a música nos proporciona. Burrows (2000, p. 82), cita alguns dos
benefícios que a música nos proporciona, entre os quais: a música refresca o corpo e a mente;
promove o relaxamento; acalma os nervos; estimula a criatividade; desenvolve a intuição e induz
sentimentos de amor.
Pesquisar o universo musical em que a criança pertence, é o primeiro passo que o educador deverá
seguir antes de iniciar um programa com atividades “ludopsicopedagógica-musical”, para depois,
encorajar atividades relacionadas com a descoberta e com a criação de novas formas de expressão
através da música. Caberá ao professor, descobrir a beleza, a simplicidade e a grandiosidade de se
trabalhar a linguagem musical.
Para garantir o sucesso do trabalho, o educador deverá sempre se atualizar para buscar novas
estratégias, criar e recriar subsídios, respeitando a linguagem expressiva do aluno O dinamismo da
aula fará o tempo passar sem que se perceba e o interesse será mantido todo tempo, com entusiasmo
e completa disponibilidade por parte dos educandos.
Criando um ambiente musical na sala de aula, o professor poderá perceber que as crianças
improvisarão livremente, criarão sons que os adultos talvez, não obtivessem com menos facilidade,
devido sua inibição e falta de espontaneidade. “Ambiente musica é aquele no qual a criança pode
ouvir música, dançar, confeccionar e manipular instrumentos musicais [...]” (Jeandot, 1997, p. 30).
Burrows (2000, P. 116), lista alguns dos benefícios que as crianças podem adquirir através das
atividades lúdicas:
-Valor de interesse e divertimento;
- Descontração;
- Cooperação;
- Auto-questionamento;
- Melhor memória;
- Concentração.
Deve-se notar que a lista é totalmente insuficiente e é oferecida apenas como exemplo. O mais
importante é que os professores prossigam a partir deste ponto, aproveitando as idéias, expandindo
e aperfeiçoando. Cada lição é diferente e cada professor ensina com seu estilo particular. Os
professores devem experimentar e criar, para que cada aula se torne viva e excitante e, através da
qual também crescerem com os alunos.
A infância é a aprendizagem necessária à idade adulta. Conforme assevera Chateau (1987, p. 14),
“Estudar na infância somente o crescimento, o desenvolvimento das funções, sem considerar o
brinquedo, seria negligenciar esse impulso irresistível pelo qual a criança modela sua própria
estátua”.
Não se pode dizer de uma criança, “que ela cresce” apenas, seria preciso dizer ‘que ela se torna
grande”pelo jogo. Pelo jogo ela desenvolve as possibilidades que emergem de sua estrutura
particular, concretiza as potencialidades virtuais que afloram sucessivamente à superfície de seu ser,
assimila-as e as desenvolve, une-as e as combina, coordena seu ser e dá vigor. (ibidem)
A história da pedagogia demonstra que vários educadores do passado já se preocupavam com o
aspecto motivacional do ensino, preconizando uma educação de acordo com as necessidades e
interesses infantis, e que também reconheciam o valor formativo do jogo e das atividades lúdicas...
Rizzi & Haydt (2004, p. 5), assevera:
Jogar é uma atividade natural do ser humano. Ao brincar e jogar, a criança fica tão envolvida com o
que está fazendo, que coloca na ação seu sentimento e emoção. O jogo, assim como a atividade
artística, é um elo integrador entre os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais.Parte-se do
pressuposto de que é brincando e jogando que a criança ordena o mundo à sua volta, assimilando
experiências e informações e, sobretudo, incorporando atividades e valores. Portanto, é através do
jogo, do brinquedo e também da música (grifo meu), que ela reproduz e recria o meio circundante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Já que os jogos e brincadeiras envolvendo música, comprovadamente podem trazer tantos
benefícios para a saúde física e mental, incluí-las no cotidiano escolar certamente trará benefícios
tanto para os professores quanto para os alunos. Os educadores encontrarão mais um recurso, e os
alunos se sentirão mais motivados, se desenvolvendo de forma lúdica e prazerosa.
Além de contribuir para deixar o ambiente escolar mais alegre, a música pode ser usada para
proporcionar uma atmosfera mais receptiva à chegada dos alunos, oferecendo um efeito calmante
após períodos de atividade física e reduzindo a tensão em momentos de avaliação, “a música
também pode ser usada como um recurso no aprendizado de diversas disciplinas” (BURROWS,
2000).
Os professores precisam ter uma visão da importância da atividade lúdica no desenvolvimento e
educação da criança, fornecendo subsídios e planejando a execução de atividades diárias na sala de
aula. No que se refere aos recursos materiais a serem utilizados, não se torna necessário o uso de
materiais sofisticados. O material de sucata, por exemplo, é de fácil obtenção e não exige gastos por
parte dos alunos e professor. “Além disso, contribui para o desenvolvimento da imaginação e da
criatividade, pois a criança terá a oportunidade de explorar, perceber sob um novo enfoque e utilizar
de forma criadora objetos que fazem parte de sua vida cotidiana” (op. cit.)
Como professores, temos que tornar nossas aulas tão interessantes e divertidas quanto possível. As
crianças necessitam de movimentos não apenas porque têm períodos de concentração muito curtos,
mas também porque aprendem com o uso do corpo inteiro. Cada aula deve incluir pelo menos uma
ou duas atividades das quais deveria ser um jogo ou uma brincadeira incluindo a música.
É correto afirmar que, “o êxito do processo ensino-aprendizagem depende, em grande parte, da
integração professor-aluno, sendo que neste relacionamento, a atividade do professor é
fundamental” (IDEM), devendo criar condições para que a criança explore seus movimentos,
manipule materiais de diferentes texturas e sonoridades, interaja com seus companheiros e resolva
situações-problema. Ele deve ser antes de tudo, um facilitador da aprendizagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRETO, S de J. (2000) Psicomotricidade: Educação e Reeducação. Blumenau Acadêmica.
CAMASMIE.A.T. (2000). Artigo: Ludoterapia na abordagem Existencial. Rio de Janeiro:Jornal Online Existencial.
CHATEAU, J. (1987). O Jogo e a Criança. São Paulo: Summus.
FREITAS, D. P. de. A Música na relação Psicoterapêuta-Paciente, Disponível em: www.pucrs.br
Acesso em 21/01/2006.
OAKLANDER, V. (1980). Descobrindo Crianças: A Abordagem Gestáltica com Crianças e
Adolescentes. São Paulo: Summus.
PARISI, M. (2006). Música e Educação: Um Casamento que dá Certo. Disponível em:
www.cerebromente.org.br. Acesso em 27/11/2006.
RIZZI, L. & HAYDT, R. C. (2004). Atividades Lúdicas na Educação da Criança. São Paulo: Ática.
VYGOTYSKY, L. S. (1996) A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes.
WEIGEL, A. M. G. (1988). Brincando de Música.: Experiências com Sons, Ritmos, Música e
Movimentos na Pré-Escola. Porto Alegre: Kuarup.
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