PETIÇÃO Não ao encerramento do Vice-Consulado de Portugal em Nantes (França) 1. Os signatários, preocupados com o anúncio do encerramento do Vice- Consulado de Portugal em Nantes (França), manifestam a sua firme oposição a tal propósito e consideram que, ao concretizar-se, se trata de um violento e inadmissível atentado à democracia, ao desenvolvimento do país, à dignidade humana, ao bem-estar e à qualidade de vida do povo, à igualdade real entre os portugueses, ao ensino e à valorização permanente, à defesa do uso e da promoção e difusão internacional da língua portuguesa, ao princípio da igualdade e ao direito da Protecção do Estado. 2. Pesem embora os graves problemas que o País atravessa, é importante que tenhamos presente o papel fundamental que o posto consular em Nantes, um dos mais antigos em França, tem desempenhado ao longo dos últimos anos, seja pela proteção consular aos cerca de 50.000 nacionais residentes na sua área consular, a qual contempla 52.000 quilómetros quadrados (o equivalente a 56% de Portugal continental), seja na promoção da língua e da cultura portuguesa, seja na dinamização do investimento e na criação de emprego, directa ou indirectamente, em Portugal. 3. Não só o Vice-Consulado de Portugal em Nantes não foi o causador do actual estado deficitário em que o país se encontra, como até contribui para uma forte redução de despesa de funcionamento, pois tem executado ao agrado da Comunidade Portuguesa todas as tarefas consulares, tendo para o efeito menos de metade do pessoal de que dispunha nas quase três décadas anteriores. 1 4. Não deixa de constituir um facto insólito que o anúncio desta medida surja no momento em que o Governo anuncia fortes cortes no ensino da língua portuguesa, deixando assim crianças portugueses residentes no estrangeiro sem direito ao ensino caso o anunciado encerramento deste posto consular se venha a concretizar. 5. Não deixa de constituir um facto insólito que seja anunciado o encerramento de um posto consular que tem na sua área de jurisdição dois centros universitários com departamento de português, com uma esmagadora maioria de estudantes franceses. 6. Não deixa de constituir um facto insólito que seja anunciado o encerramento de um posto consular que apresenta receitas superiores ao seu orçamento de funcionamento e que tem uma das maiores produtividades comparado com qualquer outro posto consular português. 7. Não deixa de constituir um facto insólito que seja anunciado o encerramento do posto consular que só em 2011 aumentou em mais de 20% o n° de nacionais inscritos nos cadernos de Recenseamento Eleitoral e que conheceu a maior taxa de participação em França na eleição presidencial de Janeiro 2011, duas das maiores provas da ligação da Comunidade Portuguesa a Portugal. 8. Não deixa de constituir um facto insólito que seja anunciado o encerramento do único posto consular na fachada noroeste de França, abrangendo cerca de 3.100 km de costa marítima e onde foi aberta a autoestrada do mar St Nazaire-Gijon, com ligação a breve trecho a uma cidade costeira nortenha. 9. Não deixa de constituir um facto insólito que seja anunciado o encerramento do posto consular na única cidade francesa, Nantes, cujos responsáveis municipais investiram 700.000 € na construção de um equipamento público atribuído às associações portuguesas e onde foi aberta uma ligação aérea directa Porto/Funchal, estando em via de concretização a linha para Lisboa. 10. Não deixa de constituir um facto insólito que o Governo anuncie o encerramento deste posto num país – França – que conhece significativos e novos fluxos migratórios, que serve uma alargada área consular, distante de outros postos de 330 km (Consulado-Geral em Bordéus) e 400 km (Consulado-Geral em Paris), o menos dispendioso, o mais produtivo, 2 enquanto mantém postos consulares muito dispendiosos e improdutivos, para os quais se impunha um levantamento concreto, bem como postos consulares em Espanha a uma distância de 60 km de Portugal (Vigo) ou de 140 km (Sevilha), ou, nos Estados Unidos da América, por exemplo, 2 postos a 14 km um do outro (Nova Iorque e Newark) e 3 postos a menos de 60 km de distância (Boston, New Bedford, Providence). Nestes termos, - Conscientes do papel impar que o Vice-Consulado de Portugal em Nantes assume em comparação com outros postos consulares e França e que tem hoje na sociedade francesa local, uma das regiões mais activas e dinâmicas, assim como junto dos cerca de 50.000 nacionais residentes na sua área consular; - Conscientes de que existem outras alternativas para o combate à crise e para a redução da despesa pública; - Convictos de que o seu encerramento agravaria os problemas do país, seja ao nível do investimento e desenvolvimento, seja ao nível da prestação de serviços essenciais à Comunidade Portuguesa; - Convictos de que o seu encerramento significará uma diminuição sensível da presença e do prestígio junto das autoridades locais; - Preocupados com o enfraquecimento da democracia participativa e da falta de proteção consular e de apoio social e jurídico de reconhecida qualidade que o encerramento do Vice-Consulado de Portugal em Nantes poderá provocar; Os subscritores requerem uma alargada discussão pública e aprovação na Assembleia da República de medidas alternativas às que geram maiores inequidades na actual proposta de revisão da rede consular, promovendo equidade de tratamento entre todos os portugueses, assentada em critérios públicos concretos, objectivos e devidamente quantificados, definindo o serviço mínimo consular a que a Nação Portuguesa se obriga em relação a todos os seus que se viram obrigados, no passado e na época actual, a procurar fora do país alternativas de vida e de emprego. 3