Capa por Verônica Couto Recompensa em dobro: emagrecer enriquece Segundo pesquisa de universidade norte-americana, mulheres que atingem seu peso ideal têm aumento de patrimônio 50 Elas&Lucros O inventor da psicanálise, Sigmund Freud, declarou que nunca foi capaz de responder à grande pergunta: o que uma mulher quer? Muitas coisas. Mas quase sempre ela quer ficar magra e conseguir juntar dinheiro para projetos futuros. Pois na Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, uma pesquisa constatou que reduzir o peso a padrões equilibrados traz, simultaneamente, crescimento do patrimônio e do poder aquisitivo das mulheres. Elas emagrecem e enriquecem. Essa relação de causa e efeito está descrita em dois estudos do cientista Jay Zagorsky, do Centro de Pesquisa em Recursos Humanos da Universidade de Ohio. Ele cita dados da National Longitudinal Survey of Youth (NLSY79), levantamento feito pelo governo dos EUA de 1985 a 2000, que relacionam o patrimônio líquido do indivíduo ao seu peso, mais exatamente ao seu Índice de Massa Corporal (IMC). Para calcular o IMC, divide-se o peso (em quilos) pela altura elevada ao quadrado (em metros): resultados inferiores a 18,5 são considerados abaixo do ideal; daí até 24,9, adequados; de 25 a 29,9, acima do desejado; e, a partir de 30, indicam pessoas obesas. A pesquisa revelou, então, que o valor patrimonial informado pelas mulheres (em particular as brancas) é maior – 120 mil dólares - exatamente no ponto ideal de IMC, ou cerca de 20; e menor – 30 mil dólares -, na curva da obesidade, em um IMC de 38 (veja o gráfico). O artigo Saúde e riqueza – a epidemia de obesidade do final do século 20 nos EUA, publicado por Zagorsky em 2005 aponta, ainda, um aumento patrimonial de 11880 dólares para cada dez pontos a menos no IMC de mulheres brancas. Foto: David Stoecklein/Corbis/Corbis (DC)/Latinstock Elas&Lucros 51 Capa Rhenata Tolksdorf deu adeus aos docinhos e chocolates 52 Elas&Lucros Mais magras, mais ricas. A não ser que fiquem abaixo do peso. Nesse caso, o padrão econômico também começa a cair. Uma das hipóteses do pesquisador é a de que a aparência influencia mais o valor da remuneração profissional no caso dessas mulheres, enquanto as mais gordas, de um modo geral, seriam discriminadas no mercado de trabalho. Já o emagrecimento em homens e em mulheres negras, nos Estados Unidos, repercute menos em melhoria financeira. Resquícios de uma sociedade machista e racista. Mas não é só isso. O cientista alerta para outros riscos dessa associação entre o comportamento da balança do indivíduo e da economia como um todo. Ele observa que a fase de maior concentração de obesidade na sociedade norteamericana também foi aquela de menor taxa de poupança interna. “Durante o período em que os EUA constataram o crescimento da obesidade, a poupança nacional despencou, de 10,2% do PIB (Produto Interno Bruto), em 1980, para 2,3%, em 2001”, escreve. Processo que teria a ver com o avanço de uma cultura que prega a satisfação imediata e os prazeres de curto prazo, em detrimento da capacidade de se esforçar agora, em nome de conquistas futuras. E que também se reflete no contexto pessoal. “Pesquisas futuras devem entender o quanto a obesidade seria perigosa para a riqueza e a poupança nacional.” Enquanto os americanos investigam o impacto da obesidade no país, muitos brasileiros já perceberam, empiricamente, o foto: vladimir fernandes incremento dos seus orçamentos domésticos como efeito colateral do sacrifício para entrar em forma. Como o professor de educação física Cleiton Alves, conhecido como Caju, que há dois anos resolveu mudar todo seu estilo de vida, para conciliar menores custos com melhor qualidade de vida. Ele morava em Interlagos, no extremo da zona sul paulistana, e trabalhava em academias e escolas de dança no centro ou em bairros como Itaim, Higienópo- lis e Vila Nova Conceição. Dependia de ônibus e levava cerca de duas horas nos seus diversos trajetos. De carro, gastava com o estacionamento: dez reais nas duas horas iniciais, mais três a quatro reais por hora extra. E ainda era obrigado a fazer as refeições fora de casa. Entre transporte e alimentação, Caju calcula que desembolsava cerca de 500 reais por mês. A primeira medida saneadora foi mudar para perto do trabalho. Depois, comprar uma bicicleta. Ele mora, agora, a sete minutos de pedaladas do Parque Ibirapuera. “Na rotina normal, rodo de 15 a 20 quilômetros por dia, ou de meia hora a 45 minutos”, conta o professor, que também passou a fazer suas refeições em casa. De modo que as despesas mensais com transporte e alimentação caíram 80%, para cerca de 100 reais. Além disso, maior disponibilidade de tempo permitiu a ele aumentar de seis para dez horas diárias sua agenda de aulas. Ou seja, incrementar a receita. E o Correlação entre patrimônio e massa corporal Patrimônio líquido em 2000 de acordo com IMC* e gênero - em US$ mil 150 Mulher branca Homem branco 120 90 60 30 0 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 Fonte: Economia e Biologia Humana (J.L. Zagorsky, 2005)* Índice de massa corpórea 53 Capa resultado foi que Caju, solteiro, com 32 anos, abriu uma poupança, um plano de previdência privada e se prepara para, em dez anos, comprar um apartamento. O profissional, que também é professor de educação física do Levitas, instituto de estética e fisioterapia, acredita que seja possível para a maioria das pessoas estar totalmente condicionada para encarar essa rotina de pedal em três a cinco meses, andando dez quilômetros, três vezes por semana. O grande investimento de Caju foi na bicicleta: dois mil reais. “A anterior era bonita, mas nada confortável”, justifica. Ele avisa, no entanto, que dá para conseguir um bom modelo para uso diário a partir de 600 reais. Na opinião de Caju, o ideal é customizar a bicicleta de acordo com o conforto do motorista: um quadro menor, se a mulher for mais baixa ou outros acessórios sob medida. Uma boa bicicletaria em São Paulo, segundo ele, é a que funciona dentro do supermercado Extra, no bairro do Itaim. O capacete, item indispensável, pode ser comprado por 80 reais. “Faça chuva, faça sol, não pego trânsito, não fico bloqueado. Mesmo em um dia caótico, levo dez minutos para fazer caminhos que deixam outros até duas horas no carro”, compara. Fernanda Amaral também está acostumada a andar a pé. Ela é a “modelo viva” do preparador físico Alexandre Bró, personal trainer da Academia Pelé que lançou, com a jornalista Deborah Bresser, em 2009, o livro A vida começa aos 40 (editora Lua 54 Elas&Lucros Cleiton Alves, mudança no estilo de vida para conciliar menores custos com melhor qualidade de vida de Papel), descrevendo um programa de exercícios para uma total transformação corporal. “A pessoa sai do manequim 44 para o 38, em um período de 16 semanas”, promete. O livro do ano passado era voltado ao público masculino; em março deste ano, sai a versão feminina, baseada na experiência com Fernanda. A secretária executiva que virou ouvidora de um banco de investimentos e agora estuda novas possibilidades tem 46 anos, é solteira e sem filhos. Entrou na academia em 2007, perdeu oito quilos e parou de emagrecer. Desde outubro, quando começou o programa de Alexandre, já são outros 12 quilos a menos, numa redução total de 20 quilos. Ou uma queda no IMC de 42, em 2007, para 27,2 (pela metodologia americana). “Antes de conhecer o programa, em período de ‘vacas magras’, financeiramente falando, eu caminhava da minha casa, na rua Diana [em Perdizes, zona oeste de São Paulo], até a da minha mãe em Higienópolis [região central], um percurso de uma hora e meia, com subidas, retas, descidas. A mente trabalhava em conjunto em busca de soluções. O único custo é uma garrafa de água (dois reais), ou, se tiver recipiente, nenhum,” lembra Fernanda. Ela garante que os investimentos para emagrecer não são tão altos quanto parecem. “Em casa, podemos alongar a custo zero, com as sugestões das revistas especializadas. Ou nos exercitarmos com um elástico, com uma bolinha de tênis embaixo dos pés, uma bola grande de plástico para alongar as costas e fazer abdominal, paFoto: sérgio zacchi res de halteres para braços, caneleiras para pernas e bumbum. Descer e subir escadas do prédio, correr pela rampa da garagem, intercalar com abdominais em colchonete – custa em torno de 28 reais –, e assim retomar o exercício por quatro vezes. Pular corda diariamente, iniciando com um minuto e acrescentando um minuto a cada vez”, ensina ela, que também destaca a importância do acompanhamento médico e dos exames de esforço. Se, eventualmente, for necessário o apoio de uma academia (muitas têm inscrição corporativa, com desconto) ou de personal trainer, o desembolso aumenta, mas, para Fernanda, ainda é inferior aos gastos em bares. Ela gasta por mês 280 reais em academia, 390 reais em refeições (muita salada e alimentos integrais ou 13 reais/dia), 81,30 reais no café da manhã e lanche da noite ( 2,71 reais/dia), num total mensal de 751 reais. A relação não inclui o valor pago ao personal trainer, profissional que pode ser contratado por, em média, 80 reais a 150 reais a hora ou hora e meia. “Quem estiver interessado em emagrecer, poderá substituir por quatro meses o bar ( 30 reais por duas caipirinhas), a TV com a pizza (30 reais), o cinema com a pipoca ( 23), o futebol com cerveja (60).” Claro que para seguir a receita da Fernanda e do Caju, a pessoa vai precisar acima de tudo de muita determinação e auto-controle. Trata-se de uma mudança de vida, mas, no final, o prêmio é enriquecedor, em todos os sentidos. Elas&Lucros 55 Capa Monte um Gasto calórico por atividade cardápio ACom base em uma pessoa de 60 kg em atividades físicas e cotidianas (durante 30 minutos) equilibrado O impacto de um menu enxuto é maior do que o dos exercícios físicos Comer ou correr, o que ajuda mais a perder peso? Para o nutricionista André Pellegrini, do Levitas, a alimentação tem maior impacto no processo de emagrecimento do que o desgaste físico. “Cerca de 80% do resultado são devidos à nutrição e 30% aos exercícios”, estima. “E a proposta é que a pessoa não entre numa dieta, mas No processo de emagrecimento, cerca de 80% do resultado são devidos à nutrição e 30% aos exercícios 56 Elas&Lucros descubra uma nova maneira, permanente, de se alimentar.” A preferência é sempre por frutas, legumes e verduras da estação. Além de frescos, estão à venda por preços mais baixos. Para identificá-los, Gabriela Marcelino, a nutricionista do Congelados da Sônia, serviço especializado em cardápios de baixas calorias e sem conservantes químicos, recomenda consultar a página da Ceagesp na internet (www.ceagesp.gov.br/produtos/ epoca/produtos_epoca.pdf). Estão lá não apenas os vegetais, mas os peixes do momento. Os hortifruti têm preços mais em conta que os supermercados. “Neles, eu gastava, em média, entre 2,50 e três reais por embalagem para duas porções: pepino, cenoura, berinjela, abobrinha, repolho, couve”, afirma Fernanda Fernanda Amaral, que desde 2007 perdeu 20 quilos com a mudança de hábitos alimentares e exercícios. Ela ainda acrescenta na dieta 500 gramas de peito de peru, para cinco dias, por nove Atividade Calorias gastas Amamentar 54 Andar de bicicleta 126 Andar na esteira elétrica 156 Assistir televisão 41 Beijar 30 Bicicleta ergométrica Carregar um recém-nascido no colo 70 Compras no supermercado 70 Correr em terreno plano Cozinhar reais, e folhas de alface ou rúcula, compradas avulsas por 1,90 reais cada. Em vez de adquirir vários potes de iogurte natural, ela pediu à mãe para fazer coalhada. “Rendeu mais e gastei menos do que com Yakult, que custa cinco reais por seis unidades, ou do que outros iogurtes, a 1,20 reais cada”, diz. Pellegrini garante que uma decisão econômica é trocar uma barra de cereal (três reais a caixa com três) por uma fruta – a dúzia da laranja sai por 2,20 reais e meia dúzia de tangerinas Foto: sérgio zacchi podem ser encontradas na feira por dois reais. Ele destaca, ainda, que carnes de segunda são mais magras e baratas do que os cortes de primeira. “Patinho é uma carne boa para ser cozida ou moída, por exemplo, misturada e refogada com legumes”, sugere. E, enquanto o quilo do filé mignon vai de 29 a 39 reais, o patinho ou o coxão mole, menos nobres e menos gordurosos, custam de 14 a 22 reais. Tomate picado, cebola e alho, misturados, viram um molho de tomate preparado em casa, a preço acessível, do mes- Fernanda Amaral perdeu 20 quilos desde 2007 e seu índice de massa corporal (IMC) caiu de 42 para 27,2 (pela metodologia americana) 250 310 90 Cuidar de plantas 100 Dançar 200 Depilar as pernas com cera 50 Dirigir o carro 80 Empurrar carrinho de bebe 80 Fazer massagem em alguém 110 Ginástica aeróbica 200 Musculação puxada 240 Hidroginástica 150 Ioga 50 Jogar basquete 280 Jogar tênis simples 240 Jogar vôlei de praia 150 Ler 50 Levar o cachorro para passear 150 Nado livre ou crawl 255 Passar aspirador de pó 175 Pular corda 220 Sexo 280 Elas&Lucros 57 Capa mo modo que o frango (cerca de seis reais o pacote de meio quilo congelado) ou as sopas. Com a troca de “salgadinhos, docinhos e chocolates” por refeições à base de salada e carnes, a atriz Rhenata Tolksdorf enxugou o gasto com as compras de 400 para 280 reais, total capaz de dar conta do consumo de uma quinzena. “As verduras são muito mais baratas”, afirma ela, que nunca inclui arroz, feijão ou massa no seu prato. Há uma década, Rhenata não toma refrigerante nem come frituras. E, nos últimos cinco anos, concentrou-se nos pratos floridos de legumes e verduras, com grelhados. Come quatro tipos de frutas por dia, além ingerir de dois a três litros de água. E passa uma hora e meia na academia. Ela perdeu cinco quilos, a perna e a cintura afinaram, o corpo ganhou energia. Com 1,70 m de altura e 60 kg, a atriz registra um IMC de 20,7. Ponha na balança Se você faz duas happy hours por semana, tomando duas caipivodkas e comendo uma porção de pastel, e vai trabalhar de ônibus todo dia, seu gasto mensal, só com esses itens, soma 740 reais, mais do que a mensalidade de várias academias de alto padrão. Confira alguns valores básicos: Happy hour:* III duas doses de caipivodka: R$ 30 III uma porção de pastéis: R$ 19 III 10% de serviço: R$ 4,90 III táxi (a Lei Seca recomenda): R$ 25,00 (um percurso de 15 minutos, na bandeira dois) ou valet: R$ 12,00 (se for de carro) III Total: R$ 78,90 (opção pelo táxi) ou R$ 65.90 (valet park) Transporte diário: III Ônibus: R$ 2,70 a passagem (R$ 108 em 20 dias úteis, ida e volta) III Metrô: R$ 4,80 (R$ 96 em 20 dias úteis, ida e volta) III Gasolina: R$ 2,50 o litro Exercícios III Academia: R$ 280/mês III Personal trainer: R$ 640/mês (duas vezes por semana a R$ 80,00 a aula) III Correr no parque – é de graça (*) Multiplique por quantas vezes por semana você sai depois do expediente 58 Elas&Lucros Cozinha da estação Apesar das chuvas recentes, que provocaram aumento no preço de diversos vegetais, a nutricionista do Vigilantes do Peso, Sônia Almeida, dá uma lista do que está na época, neste fim de verão: abacate, banana, caqui, coco verde, figo, goiaba, maçã, maracujá, uva, tangerina, mamão, melancia e melão; agrião, abobrinha, beterraba, berinjela, batata, milho, quiabo, pepino, pimentão, tomate. E sugere um menu com esses alimentos, com cerca de 1.400 calorias. III Café da Manhã: salada de frutas; iogurte natural desnatado; fatia de pão integral torrada; mel; chá ou café a gosto. III Lanche: tangerina. III Almoço: salada de agrião, tomate, pepino com azeite; peixe cozido no vapor com ervas frescas, purê de batata e maçã, abobrinha verde com ervilha. III Sobremesa: mamão com granola. III Lanche: figo fresco com frios de ave (peito de peru, por exemplo). III Jantar: salada de alface, beterraba, pimentão; lasanha com berinjela, queijo light e molho de tomate. III Sobremesa: bolinhas de melão e melancia. III Ceia: leite desnatado com canela. Fonte: Vigilantes do Peso (www.vigilantesdopeso.com.br) Foto: divulgação