Inovação e parceria:
a nova
era da
indústria
global
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Executivos apostam na troca de
experiências e na criação de uma teia
de relacionamentos para potencializar
desenvolvimento tecnológico
Em 2010, o mundo todo estava com os olhos voltados para o Brasil.
Enquanto as grandes economias europeias e os Estados Unidos
cambaleavam, ainda sentindo os efeitos da crise de 2008, o Produto
Interno Bruto (PIB) brasileiro crescia notáveis 7%. O salto teve como força
motriz, sobretudo, o vibrante mercado interno. O desemprego chegou
aos menores níveis históricos, combinado com um aumento significativo
da massa salarial e uma série de estímulos ao consumo e à tomada de
crédito. O resultado foi excepcional para o varejo e o setor de serviços.
A indústria apresentou números extraordinários, fechando o ano com um
satisfatório crescimento de 10,1%.
No ano seguinte, a história foi bem diferente. A situação de economias
europeias como as da Grécia, de Portugal e da Espanha tornou-se cada
vez mais frágil. O temor de um colapso fiscal na zona do euro contaminou
os mercados e freou o crescimento brasileiro. O país encerrou 2011 com
um avanço de 2,7% no PIB, prejudicado, essencialmente, pelo fraco
desempenho do setor industrial.
Setor ganha
força para iniciar
caminhada rumo à
recuperação
As taxas de juros elevadas e o real ainda valorizado em relação ao dólar
impactaram ainda mais a atividade industrial, que teve seu pior resultado
nos últimos anos, crescendo apenas 1,6%. No fim do ano, quando a
temperatura entre os representantes da indústria já estava elevada,
palavras como “competitividade” e “inovação” marcaram presença
em dez de cada dez discursos feitos pela presidente Dilma Rousseff.
A luta em favor da indústria nacional entrou na lista de urgências da
equipe econômica de tal forma que se chegou a falar em uma investida
protecionista por parte do governo.
A indústria brasileira, entretanto, não foi a única a sentir o baque quando a
economia mundial perdeu ritmo de crescimento. Uma pesquisa feita pela
KPMG International, em parceria com a Unidade de Inteligência da revista
britânica The Economist, mostra que, para 241 executivos de grandes
indústrias no mundo todo, a atividade econômica global ainda não voltou à
velha forma. O setor continua ganhando força para iniciar sua caminhada
rumo à recuperação.
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Embora os empresários estejam otimistas, segundo a pesquisa, eles
estão certos de que a retomada do crescimento não será uma tarefa
simples, a começar pela própria maneira de pensar a produção. Na
visão dos participantes do estudo, se as empresas quiserem competir
por maiores margens em seus negócios, elas terão que procurar novas
formas de trabalhar, formando parcerias que as ajudarão a agregar valor
aos serviços básicos oferecidos.
Desperdício zero
Embora o trauma da desaceleração econômica mundial tenha sido
considerável, o estudo da KPMG mostra que os líderes de grandes
indústrias estão aproveitando o período para fazer profundas avaliações
que vão resultar em mudanças. Os empresários reconhecem que ainda
falta muito para que a atividade industrial retome seus melhores dias,
mas estão otimistas sobre as perspectivas de curto prazo para seus
negócios. Eles estão se aproveitando do ambiente de lento crescimento
para tornarem suas empresas mais enxutas e eficientes.
“A crise mostrou aos executivos a importância de trabalhar com uma
mentalidade de desperdício zero, pois assim terão uma vantagem
competitiva quando se der a recuperação econômica”, explica
Charles Krieck, sócio-líder da KPMG no Brasil nas áreas de Industrial
Markets e Audit.
O estudo mostra que 57% dos entrevistados acreditam que sua
estrutura de custos terá de ser reestruturada nos próximos 12 a 24
Intenção de colaboração com grupos externos
Muito mais
colaboração
Mais
colaboração
Mesmo nível
Menos
de colaboração colaboração
Competidores*
3%
21%
56%
8%
3%
Empresas parceiras
5%
45%
41%
5%
2%
Clientes
13%
48%
31%
7%
1%
Fornecedores
12%
48%
32%
5%
1%
Provedores de tecnologia
7%
39%
46%
5%
1%
Instituições acadêmicas
4%
35%
46%
8%
2%
Governo/setor público
7%
34%
46%
5%
2%
Outros
4%
24%
52%
8%
0%
Fonte: KPMG e Economist Intelligence Unit
*Colaboração para redução de custos ou aproveitamento de habilidades complementares
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Muito menos
colaboração
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Empresas priorizam
a racionalização e
aprendem a gastar
menos
meses. A racionalização da produção também é prioridade: 54% dos
executivos afirmam que extinguir linhas de produtos não lucrativas ou
locais de produção que resultam em custos muito elevados será uma
prioridade nos dois próximos anos.
Mas as empresas não estão apenas aprendendo a gastar menos.
Seus líderes também mostram preocupação em inovar. Desde a
revolução industrial do século XIX, períodos de grande depressão da
economia são seguidos por surtos de inovação. Segundo a pesquisa
da KPMG, a visão dos executivos é de que, dada a fragilidade atual da
economia mundial, está para acontecer um grande boom de inovação,
impulsionado pelo avanço da tecnologia.
Do total de entrevistados, 72% acreditam que esta nova onda de
inovação nos processos de produção já está começando e vai ganhar
força nos próximos dois anos. Cerca de 70% dos participantes acreditam
em uma fase de grande “inovação incremental”, ou seja, a expansão ou
melhoria de produtos e serviços já existentes. Outros 59% mostram
também um grande apetite por inovação radical, ou seja, criação e
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desenvolvimento de novos produtos e serviços. E para 54% dos líderes
de grandes indústrias, pesquisa e desenvolvimento serão essenciais
para o avanço nos processos de produção.
Cooperação é a chave
Individualismo
não gera bom
negócio
Outra constatação relevante da pesquisa é que, para os grandes
produtores, a colaboração tem se tornado cada vez mais importante,
no que diz respeito ao avanço da inovação. A maioria dos entrevistados
(60%) respondeu que planeja grandes parcerias nos próximos dois anos.
A percepção das maiores indústrias é de que a troca de experiências
e as parcerias serão cada vez mais importantes para as organizações
que quiserem emergir da crise com sucesso. “A criação de uma teia de
relacionamentos e contatos será a chave para potencializar a onda de
desenvolvimento tecnológico que os empreendedores acreditam estar
começando”, analisa o sócio da KPMG.
Embora ideias como inovação e integração dos processos já estivessem
presentes na economia global, é indiscutível que elas ganharam força
nos últimos anos. Governos e lideranças empresariais vêm notando
a fragilidade de alguns sistemas que, até então, eram vistos como
absolutamente sólidos. O individualismo na hora de fazer negócios se
tornou mais perigoso.
A pesquisa mostra que, na visão de grandes corporações industriais, não
poderia haver momento mais propício para se falar em inovação, quebra
de paradigmas, diferenciação de produtos e serviços e desenvolvimento
tecnológico. Mas, acima de tudo, nunca foi tão importante considerar o
avanço fundamentado na colaboração. A crise na zona do euro tem posto
à prova a capacidade de governos e empresas se organizarem, buscando
a cooperação mútua e o interesse comum. Os empresários parecem
entender que, sem essa visão, a tarefa de superar as incertezas dessa
fase tempestuosa da economia mundial é praticamente impossível.
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