UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I CURSO: PEDAGOGIA COM HABILITAÇÃO EM COORDENAÇÃO E GESTÃO DE TRABALHOS ESCOLARES RENATA ROSA GUIMARÃES ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DE ALUNOS DO 7º ANO DA ESCOLA ESTADUAL VILLA LOBOS E DO COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO HENRIQUE BRITO NA OLIMPÍADA DE MATEMÁTICA. SALVADOR 2012 RENATA ROSA GUIMARÃES ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DE ALUNOS DO 7º ANO DA ESCOLA ESTADUAL VILLA LOBOS E DO COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO HENRIQUE BRITO NA OLIMPÍADA DE MATEMÁTICA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia com Habilitação em Gestão e Coordenação de Trabalhos Escolares do Departamento de Educação Campus I Salvador da Universidade do Estado da Bahia sob a orientação do Professor Dr. Gilmário Moreira Brito. SALVADOR 2012 FICHA CATALOGRÁFICA Sistema de Bibliotecas da UNEB Guimarães, Renata Rosa Análise da participação de alunos do 7º ano da Escola Estadual Villa Lobos e do Colégio Estadual Deputado Henrique Brito na olimpíada de matemática / Renata Rosa Guimarães . - Salvador, 2012. 52f. Orientador: Prof. Dr. Gilmário Moreira Brito. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação.Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2012. Contém referências. 1. Matemática - Competições - Salvador(BA). 2. Matemática - Problemas, questões, exercícios. 4. Aprendizagem. I. Brito, Gilmário Moreira. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação. CDD: 510.79 RENATA ROSA GUIMARÃES ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DE ALUNOS DO 7º ANO DA ESCOLA ESTADUAL VILLA LOBOS E DO COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO HENRIQUE BRITO NA OLIMPÍADA DE MATEMÁTICA. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________ Professor Orientador Dr. Gilmário Moreira Brito __________________________________________ Professora Dra. Rilza Cerqueira ___________________________________________ Professora Msc. Adelaide Badaró SALVADOR 2012 AGRADECIMENTOS Agradeço a meu pai (in memoriam) e à minha mãe que sempre se dedicaram para a minha formação e que não mediram esforços para me possibilitar uma educação de qualidade, ao meu companheiro Bruno que sempre me deu força para começar uma escrita, por acreditar no meu potencial e pelo seu companheirismo. À Família Rocha Almeida, pelas considerações, apoio e transmissão de amizade e confiança; à minha sempre amiga Tereza Lima Cardoso, por ajudar na leitura e correções gramaticais, pelas nossas conversas de conforto ao longo desses anos de amizade; minha prima querida Simone Rosa por se colocar disponível, mesmo “on line” para ler e comentar o que escrevia. Aos meus amigos de faculdade: Davi Marques, Letícia Paz, Jeane Gerbase, Bartyra Florentino, Josy, Isabel Xavier que ao longo das nossas experiências em disciplinas me fortaleceram para não desistir e muito me confortaram com risos e cumplicidade nessa jornada. Às minhas amigas de OBMEP, Daniela Claudina, Rhonna Ribeiro e Luzinalva Amorim, por terem acreditado no meu tema. Não posso esquecer de agradecer ao meu orientador Gilmário Brito, pelas dicas e paciência com os meus “subjuntivos” e por acreditar em um tema que não é do seu domínio, mas buscou compreender e procurou textos que muito contribuíram na construção de escrita. Além das professoras Rilza Cerqueira e Adelaide Badaró por terem aceitado participar da banca e trouxeram ricas contribuições úteis para a minha leitura e construções de novos pensamentos. Muito obrigada a todos que fizeram parte de mais uma caminhada. “Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Está é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado.”. PAULO FREIRE (1996, p. 31) RESUMO A Matemática, muitas vezes, é de uma forma geral, identificada como uma área de conhecimento com grande índice de reprovação ou desinteresse. Desta forma, nesse Trabalho de Conclusão de Curso, procurei verificar quais as contribuições da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, uma competição que visa estimular o estudo da Matemática e revelar novos talentos, para incentivar os alunos de turmas de Educação de Jovens e Adultos da Escola Estadual Villa Lobos e do Colégio Estadual Deputado Henrique Brito a se interessar por essa área de conhecimento. Acredito que as competições escolares são atividades que podem potencializar o desenvolvimento de autonomia e a habilidade de trabalho em equipe. Dessa maneira, busquei estudar a Olimpíada como estratégia para o desenvolvimento de atividades didáticas relacionadas ao ensino/aprendizagem da Matemática, de maneira a contribuir para a melhoria do seu aprendizado. Foi aplicados questionários semi-estruturados com os professores e alunos para verificar como esses sujeitos se relacionam com a matemática e sua participação em algum tipo de Olimpíada. Para realizar a pesquisa realizamos, inicialmente, uma revisão de literatura a partir de livros, artigos científicos, trabalhos monográficos e os Parâmetros Curriculares Nacionais e publicações em revistas especializadas como fonte da pesquisa a fim de Identificar o empenho, a metodologia e os materiais utilizados pelos professores para trabalhar com a matemática; outro objetivo foi Identificar os interesses dos alunos dos referidos colégios na participação da Olimpíada de Matemática e para avaliar e analisar as relações entre os interesses dos alunos pela essa e outras disciplinas do currículo das escolas. Através das observações mediante o trabalho de campo, percebi que a Olimpíada desenvolve um papel fundamental no processo escolar, apesar de muitos profissionais da educação desconhecer ou não aceitarem a mudança deste novo rumo da matemática. PALAVRAS-CHAVES: Matemática, Olimpíada, Educação de Jovens e Adultos, aprendizagem. ABSTRACT Mathematics, often, is in general identified as an area of knowledge with high rates of disapproval or disinterest. Thus, this work Completion of course, tried to check what the contributions of the Brazilian Math Olympiad Public Schools, a competition that aims to encourage the study of mathematics and new talent, to encourage students of classes of Youth and Adults of Escola Estadual Villa Lobos e do Colégio Estadual Deputado Henrique Brito to be interested in this Knowledge. I think the school competitions are activities that can enhance the development of autonomy and ability to teamwork. Thus, I sought to study the Olympics as a strategy for the development of educational activities related to teaching / learning of mathematics in order to contribute to the improvement of their learning. Was applied semi-structured questionnaires with teachers and students to see how these subjects relate to mathematics and their participation in some kind of Olympics. To search conducted an initial review of the literature from books, scientific articles, monographs and the National Curriculum Guidelines and publications in journals as a source of research to identify the commitment, the methodology and materials used by teachers to work with mathematics, another objective was to identify the interests of the students of those schools participating in the math Olympiad and to evaluate and analyze the relationship between students' interests by this and other subjects in the curriculum of schools. Through the observations by the Field work, I realized that the Olympics plays a fundamental role in the process school, though many education professionals unaware or do not accept the change of this new course of mathematics. KEY WORDS: Mathematics, Olympiad, Youth and Adult Education, learning. ABREVIATURAS CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. EJA – Educação de Jovens e Adultos IFBA – Instituto Federal da Bahia IMO – Olimpíada Internacional de Matemática IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada LEMA – Laboratório de Ensino de Matemática e Estatística LDB – Leis de Diretrizes e Bases para Educação OBM – Olimpíada Brasileira de Matemática OBMEP – Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PIC – Programa de Iniciação Científica SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 10 2. A PARTICIPAÇÃO DO ALUNO NA OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS 13 2.1 O início das Olimpíadas de Matemática 19 2.2 A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas como competição escolar e o ensino da Matemática 22 3. A OBMEP NA ESCOLA ESTADUAL HEITOR VILLA LOBOS E NO COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO HENRIQUE BRITO. 25 3.1 A Escola Estadual Heitor Villa Lobos 25 3.2 O Colégio Estadual Deputado Henrique Brito 28 3.3 O Programa de Iniciação Cientifica 31 3. 4 A Educação Matemática de Jovens e Adultos 32 4. REFLEXÃO SOBRE O PROCESSO DE PARTICIPAÇÃO DO ALUNO NAS OLIMPÍADAS E SEU INTERESSE PELA MATEMÁTICA. 38 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 47 REFERÊNCIAS 50 10 1. INTRODUÇÃO Há muito tempo procurei um tema para pesquisa em que unisse meu interesse e gosto pela Matemática e o meu trabalho como secretária de Coordenação da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. Mediante contatos com os medalhistas, até com os que obtiveram menção honrosa, professores de escola pública ou particular, decidi investigar de que maneira a participação do aluno em uma edição dessa modalidade de competição, poderia melhorar ou até mesmo provocar no aluno o interesse pela Matemática. Por acreditar na importância das competições escolares, enquanto atividades que promovam o desenvolvimento do raciocínio lógico do aluno, procurei investigar de que maneira os professores podem utilizar a OBMEP para estimular o interesse do aluno ela Matemática, como artifício para atrair alunos a frequentar uma sala de aula. Por conta disso, investiguei como esse tipo de competição de fato contribuiu para treinar o raciocínio lógico, com a utilização de situações problemas. Dessa maneira, acredito que aprender é: vivenciar e adquirir experiências, enfrentar desafios, descobrir coisas novas e querer adquirir cada vez mais conhecimentos. A Matemática sempre foi considerada uma das disciplinas mais temidas pelos estudantes durante os seus anos de estudo. Em sala de aula, o índice de rejeição à disciplina é alto, com isso, desenvolver alternativas para se estimular o aprendizado do aluno é um desafio para o educador. Assim, esse Trabalho de Conclusão de Curso buscou estudar a Olimpíada de Matemática como estratégia e desenvolvimento de atividades didáticas para o ensino/aprendizagem da Matemática, de maneira a contribuir para a melhoria do seu aprendizado. Uma vez que, tida como uma disciplina que desperta desinteresse em alguns alunos, pela forma como se aborda o tema ou pela falta de didática do professor, averiguei como poderíamos usar essa competição para despertar o interesse pela matemática, a fim de estimulá-lo em compreender a disciplina para que sua produção escolar não acarrete no fracasso em matemática, em virtude de 11 sua dificuldade e na ineficiência do professor em lidar com os obstáculos enfrentados em uma turma de Educação de Jovens e Adultos. Discute-se muito sobre a necessidade de se encontrar meios que motivem os alunos para que estes se sintam estimulados e desafiados e que percebam a matemática como linguagem viva e não desvinculada das demais disciplinas e do cotidiano. Um dos problemas enfrentados pelo sistema de ensino brasileiro refere-se ao baixo desempenho dos alunos do Ensino Básico, principalmente em Matemática. A grande parte dos professores que hoje estão em atividade teve uma formação de base muito precária nessa área de conhecimento. Além disso, os cursos de formação inicial de professores - tanto os cursos de magistério como os de licenciatura continuam não dando conta de discutir suficientemente com seus alunos uma proposta mais eficiente para o ensino dessa área de conhecimento. E, também as modalidades de formação continuada, postas em ação nos últimos anos, basicamente na forma de cursos de reciclagem, não têm atingido ainda, o objetivo de mudar a prática na sala de aula em relação ao ensino dessa disciplina. Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de 1997 destaquem a importância de se resgatar o trabalho da Matemática no Ensino Fundamental, a maioria dos professores não sabe claramente o que fazer. Com a utilização de ferramentas que propiciem um compromisso de afirmar a excelência como valor maior no ensino público, as atividades da Olimpíada de Matemática mostra a importância da Matemática para o futuro dos jovens e para o desenvolvimento do Brasil. A metodologia aplicada foi um estudo de caso iniciado na disciplina Prática Pedagógica e Estágio Supervisionado I. Questionários semi-estruturados foram aplicados com os professores e alunos a fim de verificar como cada um se relaciona com a matemática e sua participação em algum tipo de Olimpíada. Levantamentos de literatura que relate o tema proposto. Livros, artigos científicos, trabalhos monográficos, Parâmetros Curriculares Nacionais e publicações em revistas especializadas foram fonte da pesquisa, de modo a estabelecer um diálogo entre 12 autores e os dados que serão coletados, a fim de contribuírem para o aprofundamento do tema em questão. O trabalho foi realizado em duas escolas estaduais, na Escola Estadual Heitor Villa Lobos e no Colégio Estadual Deputado Henrique Brito. Com uso do diário de campo registrei as observações e fiz entrevistas como ferramentas para perceber se a aprendizagem do aluno melhora com a participação na Olimpíada e se existe relação com o que reza os Parâmetros Curriculares Nacional no que tange as competências e habilidades para a matemática. O cerne do trabalho se constituiu na identificação da relação entre a participação da escola na olimpíada e a aprendizagem do aluno, com base nos referenciais pesquisados. Através disso, busquei analisar como se efetiva a participação do aluno e das escolas na OBMEP e refleti sobre o interesse do aluno pela Matemática, com a utilização de ferramentas que possam propiciar a inserção da melhoria da didática do professor. Além disso, tentei perceber se aqueles que não gostam de matemática melhoram a sua aprendizagem com a didática do professor que utiliza a OBMEP como mecanismo de melhor qualificar o ensino/aprendizagem. Por fim, a pesquisa tratou de descobrir como essa competição pode estimular o conhecimento, como forma de despertar nos alunos o interesse pelos desafios matemáticos e pelas resoluções de situações problemas, além de propiciar o desenvolvimento do raciocínio lógico e melhorar o ensino, por influenciar na qualidade do ensino / aprendizagem. 13 2. A participação do aluno na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas Este capítulo trata de apresentar a importância da Matemática e as contribuições da participação da escola em uma competição escolar voltada para estimular os alunos a se interessar pela disciplina. Através das observações feitas e com base nas entrevistas efetuadas na Escola Estadual Heitor Villa Lobos e no Colégio Deputado Henrique Brito, proponho identificar o empenho, a metodologia e os materiais utilizados pelos professores na escola para trabalhar com a matemática, relacionando-os com a participação nas Olimpíadas de Matemática. Nesse primeiro momento, as fontes principais utilizadas para compor esse capítulo são: os Parâmetros Curriculares Nacional, artigos que enfocam a importância da Matemática no cotidiano, o site da Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas e referências do livro Didática da Resolução de Problemas de Matemática, de autoria de Luiz Roberto Dante. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacional, (1997) “É importante destacar que a Matemática deverá ser vista pelo aluno como um conhecimento que pode favorecer o desenvolvimento do seu raciocínio, de sua sensibilidade expressiva, de sua sensibilidade estética e de sua imaginação”. Essas referências sinalizam para gestores, professores, alunos e a sociedade, como um todo, as balizas e interesses considerados necessários para compreensão e operacionalização da matemática. Partindo desse pressuposto, questionamos se o trabalho em sala de aula com a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas contribui para ampliar a participação de alunos do 7º Ano da Escola Estadual Heitor Villa Lobos e do Colégio Estadual Deputado Henrique Brito na competição e se tal participação se constitui em uma alternativa para estimular o interesse do educando pela Matemática. Leituras de pesquisas atuais sugerem que podemos utilizar essa área de conhecimento de forma criativa através de estímulos a momentos de admiração e satisfação, como exemplo o exercício de resolver um problema pela primeira vez, ou 14 de encontrar uma solução mais rebuscada para esse ou para outro problema. Assim, uma postura que deveria assumir o professor de Matemática é de proporcionar ao aluno segurança no componente curricular, já que essa matéria pode oferecer aos que se dedicam um conjunto singular de ferramentas que os possibilita a compreender e mudar o mundo através do raciocínio lógico, da capacidade de pensar em termos abstratos e de técnicas de resolução de problemas1. Nesse sentido, percebemos a matemática praticada em nosso cotidiano, desde as simples operações, passando por cálculos complexos até modernos programas de computadores. Essas ferramentas nos auxiliam a decidir sobre as vantagens de fazer uma compra em função da avaliação: de prazo e juros, da medição de índices de riqueza e pobreza, do desenvolvimento humano do país, das quantificações de evasão e matriculas escolares, do entendimento e cuidado do meio ambiente, sem mencionar das formas e medidas aplicadas à Arquitetura, e a Arte e na agricultura. Além disso, os Parâmetros recomendam que: a formação de indivíduos éticos pode ser estimulada nas aulas de Matemática ao direcionar se o trabalho ao desenvolvimento de atitudes no aluno, como, por exemplo, a confiança na própria capacidade e na dos outros para construir conhecimentos matemáticos, o empenho em participar ativamente das atividades em sala de aula e o respeito à forma de pensar dos colegas. (PCN, 1997, p. 22) Nessa perspectiva, a participação dos alunos na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas - que a partir de agora tratarei como OBMEP2 -, pode significar a apropriação de uma linguagem simples, sem fugir ao rigor que a Matemática exige, entretanto convida seus participantes a pensar de forma independente, em vez de lhes fornecer receitas prontas que lhes ajudam a desenvolver o raciocínio lógico. 1 Informação do http://www.e-escola.pt - Portal de ciências básicas e de ciências da engenharia do Instituto Superior Técnico (IST), com conteúdos científicos, interativos e credíveis, nas áreas de Biologia, Física, Matemática, Química e Ciências da Engenharia e que se destina aos alunos do ensino secundário e do ensino superior; aos professores do ensino secundário; aos alunos e professores de países de língua oficial portuguesa; aos investigadores. 2 Tratarei da OBMEP – Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas - em um Capítulo posterior. 15 Na primeira semana, durante observação pedagógica realizada na Escola Estadual Heitor Villa Lobos, registrei o comentário dos professores de Matemática a respeito da aplicação dessa matéria no dia-a-dia, e percebi que, assim como matérias de outras áreas, o estudo da Matemática requer dedicação e disciplina. No entanto, as metodologias trabalhadas em sala de aula da referida escola, muitas vezes, não são revistas pelo professor, que insiste em aulas meramente expositivas. No trabalho de campo realizado para essa pesquisa, observei que os professores apenas repetiam as atividades dos livros, sem propor resoluções de novos problemas de estimulo ao raciocínio. Tal pratica levou-me a indagar porque o professor não planeja melhor sua aula, a fim de estimular o aluno a pensar melhor e com mais autonomia. Durante os seus estudos, Jean Piaget procurou afirmar que o ensino deveria formar o raciocínio, conduzindo à compreensão e não è memorização, desenvolvendo um espírito criativo e não repetitivo. Dessa maneira, o professor deveria criar situações que levasse o aluno a encontrar a solução correta ou mais aceita, menosprezando aquelas sequências de passos ou fórmulas que trabalham mais a memorização, sem adequá-las às explicações. Assim, seguindo as reflexões de Piaget, percebemos que o professor ao estimular o aluno a construir suas ideias, além de ajuda-lo na reflexão é capaz de encorajá-lo a tirar conclusões que contribuirão para a formação intelectual do discente para o exercício da cidadania. Por isso, incentivar o aluno a pensar, estimulá-lo a fazer conexões da Matemática com a realidade, possibilita que o mesmo analise suas aplicações em outras áreas do conhecimento, integrando-a aos saberes disciplinares. Pode-se notar que a Matemática é uma ciência dinâmica e em constante evolução. Posto que, diante dos desafios que são propostos nas questões, o aluno deve ser instigado a resolvê-las e desenvolver ideias e conceitos de maneira estimulante e participativa. Nesse contexto, há possibilidade do professor pode trabalhar com atividades mais lúdicas, dando relevância aos jogos e soluções de problemas que favoreçam o desenvolvimento de habilidades do aluno. 16 De acordo com os PCNs (1997), no ensino da Matemática, destacam-se dois aspectos básicos: um consiste em relacionar observações do mundo real com representações (esquemas, tabelas, figuras); outro consiste em relacionar essas representações com princípios e conceitos. Nesse processo, a comunicação tem grande importância e deve ser estimulada, habilitando o aluno a: “falar” e a “escrever” sobre Matemática, prender como organizar e tratar dados e a trabalhar com representações gráficas, desenhos, construções. E ainda, com as recomendações do PCN, o professor deve em sala de aula fazer com que o aluno consiga buscar seus resultados, com base no processo de observação. Avaliando de que maneira o aluno aprende os conhecimentos e pensa a Matemática. Interessante é desafiá-lo e estimular a sua curiosidade. Resolver um problema não se resume em compreender o que foi proposto e em dar respostas aplicando procedimentos adequados. Aprender a dar uma resposta correta, que tenha sentido, pode ser suficiente para que ela seja aceita e até seja convincente, mas não é garantia de apropriação do conhecimento envolvido. (PCN, 1997, p.33). No horizonte apresentado por essa referência para os Ensinos Fundamental e Médio, é necessário desenvolver habilidades que permitam pôr a prova os resultados, testar seus efeitos, comparar diferentes caminhos, no intuito de obter a solução. Dessa maneira, nessa forma de trabalho, o valor da resposta correta cede lugar ao valor do processo de resolução. Em suma, resolução de problemas que vão além da sala de aula e das atividades textuais, sendo na medida do possível uma estratégia de construção do pensamento independentemente. A esse respeito é importante considerar que o educador de uma classe voltada para Jovem e Adulto, principalmente, deve valer-se da riqueza e da diversidade da produção, ou pesquisar sobre as alternativas dos materiais propostos para o ensino da Matemática. É fácil questionar sobre dificuldades enfrentadas pela Educação Pública, no entanto, ao estimular o interesse do aluno através da matemática, podemos sugerir as reflexões de Ferreira (2007). Segundo o autor, as concepções sobre a matemática devem ter um foco de interesse reflexivo do professor; já que essas concepções têm uma influência significativa sobre as relações entre os atores da cena educativa, e desses com o conteúdo escolar e da escolarização. 17 Por isso, a capacidade de analisar e questionar, levantar hipóteses, verificar a veracidade dos fatos que são apresentados, avaliar as informações objetivas sobre a realidade e sobre a capacidade de argumentar, são habilidades que precisam ser trabalhadas em sala de aula para se obter êxito em uma Olimpíada de Matemática. pode-se dizer que toda necessidade tende, primeiro a incorporar as pessoas e as coisas na atividade própria do sujeito, portanto a ‘assimilar’ o mundo exterior às estruturas já construídas, e, segundo, a reajustar estas em função das transformações sofridas, portanto em ‘acomodá-las’ aos objetos externos. PIAGET (1990, p.17) Seguindo as recomendações de Piaget, acredito que a sala de aula pode ser transformada num local propício de debate, uma vez que através da interação entre os e professores e alunos aprofunda-se a ação pedagógica. Nesse processo, o professor assume um papel muito importante, pois constrói e conduz o fazer pedagógico de modo que atenda às necessidades do sujeito que aprende. De acordo com as entrevistas realizadas com alguns professores da Escola Estadual Heitor Villa Lobos e do Colégio Estadual Deputado Henrique Brito – cujos depoimentos serão detalhados no próximo capítulo - houve relatos encontrados em alguns livros didáticos e paradidáticos que recorrem a uma abordagem histórica do processo de produção de determinados conceitos ou procedimentos da Matemática. Assim, esses instrumentos pedagógicos apresentam oportunidades de sua utilização em situações do cotidiano ou aplicações específicas em determinadas atividades, a exemplo da metragem de um tecido ou de uma área para construção, inserindo os saberes próprios dos alunos com os conteúdos da disciplina, havendo maior interação com o professor. A esse respeito, conforme Fonseca (2007) as interações que se constituem nas oportunidades de ensino-aprendizagem da Matemática serão fortemente marcadas pelos modos de se relacionar que acabam por definir as posições assumidas pelos sujeitos, sejam eles professores ou alunos. No fazer docente deve-se prevalecer a visão humanística, na qual a relação professor-aluno deve ser a base para o 18 desenvolvimento cognitivo e psíquico em sala de aula3. Sabemos que não há um caminho próprio ou fácil para o aprendizado. Para quase tudo que se aprende ao longo da vida, é necessário que tenhamos dedicação e persistência. Ainda, segundo a mesma autora, as mudanças significativas na Educação estabeleceram a necessidade de um radical redimensionamento na concepção do público da escolarização, já que a democratização do acesso à escola redefiniu o perfil do aluno que a escola atende, ao observar quais são as características do público que está na escola, a realidade sociocultural diversificada e os portadores de novas e diferentes demandas sociais a serem apresentados nesse ambiente. No caso dessa pesquisa, a observação foi direcionada para a turma de Educação de Jovem e Adulto, assunto será abordado no próximo capítulo. Os exercícios que venho desenvolvendo nessa pesquisa levaram-me a perceber que, paralelamente, o professor e o pesquisador que atua na área da Matemática, não podem se descuidar de sua formação. A partir dos materiais que temos à nossa disposição, garimpados não sem esforço, podemos construir uma investigação ou até mesmo sugerir uma proposta pedagógica responsável e consistente para que os alunos se sintam motivados e demonstrem interesse por essa área de conhecimento. No entanto, há necessidade de termos melhor intimidade como o conhecimento matemático, para que possamos adquirir maiores habilidades, propor e analisar alternativas e promover adaptações, recriações e desconstruções. Dessa maneira, atenderemos melhor e de modo mais eficiente às demandas e os desejos da educação, no caso, de Jovens e Adultos e de seus educadores, no momento em que assumem o lugar de sujeitos de ensino aprendizagem no cenário da educação pública no Brasil. No envolvimento com a pesquisa, a entrevista com gestor do Colégio Deputado Henrique Brito, descobri que o educador pode ter conhecimento dos PCNs, orientarse a respeito da melhor escolha dos livros didáticos das escolas, com base no Programa Nacional do Livro Didático, e até mesmo nos documentos elaborados para 3 Informação de MIRANDA, Elis Dieniffer Soares do Curso de Pedagogia da FAFI publicada em seu artigo: A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO PARA O PROCESSO DE ENSINOAPRENDIZAGEM NO CONTEXTO AFETIVIDADE (Pedagogia – FAFI). 19 EJA. Claro que para isso acontecer, o profissional deve manifestar seu ter interesse para mudar o contexto atual da Escola Publica, modificando seu posicionamento em sala de aula, para tanto, a possibilidade de utilizar das Olimpíadas da Matemática – OBMEP - na escola pode ser uma alternativa para provocar, no aluno, o interesse pela matemática. 2.1 O início das Olimpíadas de Matemática A Olimpíada de Matemática surgiu na Hungria no século XIX, para alunos concluintes do 2º grau, com intuito de realizações de trabalhos científicos; esse método ainda é utilizado atualmente na Europa. Sendo assim, o certame é realizado mundialmente4. Dentre as Olimpíadas de matemática, é possível citar algumas como a Olimpíada Internacional de Matemática (IMO), que é realizada desde 1959, na qual há participação de cem países de todo o mundo. Essas competições são sediadas sempre em um país diferente, onde participam equipes de seis estudantes, não universitários. O Brasil participa desta Olimpíada desde 1979, já tendo adquirido cinco medalhas de ouro. Nos últimos anos o Brasil ficou entre os 20 países de melhor rendimento, à frente da Alemanha, Canadá, França e Inglaterra. As Olimpíadas Portuguesas de matemática surgiram em 1980, com mini-Olimpíadas de matemática no bairro Centro, de iniciativa da Sociedade Portuguesa de Matemática e devido a grande procura, em 1983, essa ideia se expandiu e surgiram as Olimpíadas nacionais de matemática. Em 2000 foram criadas as Olimpíadas Portuguesas de matemática de nível Internacional Nas Olimpíadas Ibero-Americanas de Matemática participam vinte países da América Latina juntamente com Portugal e Espanha. Em 1994 foram criadas as Olimpíadas Ibero-Americanas de matemática para Universitários de qualquer 4 Informações retiradas do artigo “A CONTRIBUIÇÃO DAS OLIMPÍADAS DE MATEMÁTICA NA APRENDIZAGEM DO ALUNO” elaborado por Cátia Regina Luz Monti, Joselene Goularte schwalbe, Márcia Jardim Garcia, Michele Kopczynski, Patrícia da Costa Goularte, Stefanie Soares Corvello, Marlene Menegazzi. 20 licenciatura. Inclusive a Bahia sediou a 23ª edição dessa competição em setembro de 2008, destaque para a participação dos medalhistas da OBMEP de 2007. No Brasil, as Olimpíadas também estão em constante crescimento, a exemplo das Olimpíadas Brasileiras de Matemática (OBM) que tiveram seu inicio em 1979, cuja principal função é selecionar alunos para as Olimpíadas Internacionais de Matemática. Nessa ocasião, surge em uma única fase, uma avaliação com seis questões discursivas, em uma competição na qual todas as escolas particulares e públicas poderiam participar. Em 1990, foram formuladas questões objetivas e discursivas, dessa maneira, a OBM passa a ser aplicada em duas etapas: a primeira fase conta com questões objetivas e na segunda fase temos as discursivas. Passados oito anos, o formato da competição é modificado, acrescenta-se a terceira fase, na qual as questões são mais elaboradas e com maior pontuação. Esse modelo é usado até os dias atuais. Com base na pontuação adquirida na OBM, a Coordenação Regional da Bahia faz a premiação local, criando uma Competição de Matemática Regional Bahia. Em 2001, surgiu a OBM de nível universitário em duas fases, todas discursivas. Nessa competição, a Bahia se destaca com a participação de alunos do Colégio Militar de Salvador e do IFBA. Já, no ano de 2004, surgiram as Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), com sua 1º edição em 2005, parceria com o IMPA e de direção da Sociedade Brasileira de Matemática, com inscrição de 10,5 milhões de alunos, chegou na 6ª edição em 2010, com 17,4 milhões inscritos5. A criação dessa modalidade de competição no Brasil partiu do interesse do Governo Federal, no exercício do mandato de Luís Inácio Lula da Silva, como proposta para estimular as escolas públicas a premiar seus alunos, uma vez que na OBM as escolas particulares se destacavam nas premiações. Durante o período que trabalhei com a OBMEP, como secretaria da Coordenação regional, pude constatar que os alunos de escolas municipais e estaduais têm 5 Dados retirados nos documentos administrativos da Coordenação Regional da OBMEP. 21 desempenho muito menor do que os alunos de escolas federais. No entanto, tal fato se deve ao perfil socioeconômico e cultural de seus alunos. Os resultados obtidos, através da análise dos documentos administrativos, provam que os alunos de nível socioeconômico mais alto obtêm melhores resultados o que reflete suas melhores condições familiares. Podemos perceber que a realização das olimpíadas de matemática, em qualquer modalidade, passa a estimular e divulgar o conhecimento, o interesse pela matemática, pelas ciências e despertam nos alunos o interesse pelos desafios matemáticos e resoluções de situações problema, que desenvolvem o raciocínio e melhoram a qualidade do ensino. Com base no documento técnico sobre “Avaliação do impacto da OBMEP 6”, pode-se observar que o desempenho dos alunos atrasados, que tiveram repetência em algum ano escolar, é menor do que o desempenho dos alunos regulares, obtenho uma conclusão ao relacioná-los com os das turmas de EJA dos colégios pesquisados, nas quais há falta de interesse em participar da competição por carência de estudos necessários para um bom desempenho na prova. Outro fato constante na análise de documentos é a diferença no desempenho entre meninos e meninas. Os meninos, geralmente, têm melhor desempenho em matemática. As meninas se destacam em relação à compreensão de leitura. Um dos pontos importantes dos resultados da avaliação feito pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) é o detalhamento do impacto da Olimpíada na vida escolar de alunos e professores, mostrando também que o material didático distribuído às escolas pela OBMEP – O Banco de Questões das provas dos anos anteriores e das apostilas do Programa de Iniciação Cientifica (PIC) - é um ponto que explica o sucesso. Ou seja, as ferramentas proporcionadas pela Coordenação da Competição tanto são fundamentais para a preparação para a Olimpíada como são inovadoras e desafiadoras ao exigir raciocínio lógico dos alunos. 6 Série Documentos Técnicos que tem como objetivo divulgar resultados de estudos e análises realizados pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), com a participação de especialistas e instituições vinculadas aos temas a que se refere o trabalho. Nesse documento em questão, a avaliação tomou como base os próprios objetivos da OBMEP. 22 No entanto, vale ressaltar que a maioria dos alunos e professores entrevistados mencionou que as provas apresentam alto nível de dificuldade em relação ao atual nível de ensino-aprendizagem nas escolas públicas. Isso fica claro, quando percebemos a baixa qualidade atual do ensino público e a disposição de alguns professores, principalmente, os da rede federal, que exitam em adotar o material fornecido pela OBMEP, o qual prioriza a alta qualidade acadêmica. 2.2 A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas como competição escolar e o ensino da Matemática Geralmente, as competições têm diversos objetivos subjacentes, tais como aproximar uma determinada área de conhecimento à vida dos estudantes, mostrando como ela se aplica na solução de problemas do cotidiano, de modo que eles se envolvam naturalmente e criem interesses por ela; a depender do tipo de competição, incentivar o trabalho em grupo e estratégias cooperativas de aprendizagem; descobrir novos talentos; proporcionar meios para que os alunos criem novos vínculos com a escola; melhorar valores afetivos como a autoconfiança e a auto-estima do aluno, à medida que ele desenvolve sua capacidade de resolução de problemas; e, atualmente, atrair mais estudantes do sexo feminino principalmente para as carreiras em ciência, tecnologia e ensino de ciências.7 Dessa maneira, a OBMEP tem em seus objetivos: incentivar o estudo pela matemática e contribuir para a melhoria da qualidade da educação básica. Através das provas da Olimpíada, as situações problema podem desenvolver no aluno a habilidade de elaborar um raciocínio lógico, proporcionando boas soluções às questões que surgem no dia-a-dia. A minha pesquisa, no entanto, procura investigar se essa competição escolar pode contribuir para estimular o interesse do aluno por essa área de conhecimento. 7 Informações retiradas do Artigo “Competições escolares: uma alternativa na busca pela qualidade em educação” de Márcio Goes do Nascimento, Danilo Palhano, Janne Y. Y. Oeiras. 23 No inicio da pesquisa, quis estudar o Colégio Militar de Salvador, no qual alguns educadores deste colégio relatam que tanto os alunos participantes quanto os ganhadores das Olimpíadas de matemática sentem-se mais confiantes e prédispostos, o que incentiva a auto-estima e autoconfiança, criando vínculos escolares e promovendo a interação com colegas e professores, que, por sua vez, estimula o desempenho na matemática e em outras disciplinas, além de influenciar no futuro profissional, fornecendo meios de aprovações em concursos e vestibulares. Pela dificuldade encontrada em ter acesso para a observação das turmas, tive que desistir da pesquisa no CMS, mudando o foco dessa pesquisa para o Colégio Deputado Henrique Brito e a Escola Estadual Heitor Villa Lobos, os quais serão apresentados no próximo capitulo. Embora a participação da escola não seja uma obrigação, a OBMEP busca novos talentos da disciplina, então a pretensão é descobrir o aluno com vocação para a matemática e contribuir na sua formação, dando bolsa de estudos no Projeto de Iniciação Científica. E, a cada ano, percebemos o aumento das escolas inscritas na competição. A competição procura valorizar o saber do aluno, a sua forma de pensar. Conforme um artigo do Jornal Sexto Sentido8, em sua publicação n° 162 em dois de janeiro de 2010 , há relação da competência com o saber, é uma demonstração de civilidade e avanço cultural. Dante (1988) afirma que um dos objetivos do ensino da matemática é fazer o aluno pensar produtivamente e, para isso, nada melhor que apresentar-lhe situações problemas que o envolvam, desafiem e o motivem a querer resolvê-las. (...) é importante salientar que a compreensão e a tomada de decisões diante de questões políticas e sociais dependem da leitura critica e interpretação de informações complexas, muitas vezes contraditórias, que incluem dados estatísticos e índices divulgados pelos meios de comunicação. Ou seja, para exercer a cidadania é necessário saber calcular, medir, raciocinar, argumentar, tratar informações estatisticamente, etc. (PCN, 1998) 8 Jornal O Sexto Sentido - Fundado em 16 de outubro de 2002 e está disponível pelo site http://www.osextosentido.com.br/jornal%20162/noticias/tapiratiba.htm 24 O aluno desenvolve seu raciocínio participando de atividades, agindo e refletindo sobre a realidade que o cerca, fazendo uso das informações de que dispõe, tendo assim uma participação ativa como cidadão. Então, com a Olimpíada o aluno vivencia a matemática fora do cotidiano da sala de aula, percebendo-a como linguagem viva, o que facilita o aprendizado da disciplina e estimula sua utilização em outros contextos com métodos próprios de pensamento. Pelo fato da matemática ser uma disciplina de alto nível de reprovação numa escola, ministrá-la requer muitos desafios, principalmente, o de estimular e motivar o aluno. Por isso, encontrar alternativas para propiciar o seu aprendizado se faz uma necessidade. Portanto, o professor que se propõe a trabalhar com a matemática deve refletir sobre a situação do ensino dessa disciplina tendo em vista a futura atuação profissional dos seus alunos. Em relação à utilização da OBMEP na sala para melhorar o interesse do aluno pela Matemática, posso destacar que é uma política mundialmente reconhecida, uma iniciativa governamental voltada para o ensino-aprendizagem em matemática, visando melhorar a motivação e o desempenho dos alunos nas escolas públicas no Brasil, favorecendo seu ensino. Além disso, a competição busca incentivar o ingresso de talentos nas áreas científicas e tecnológicas, incentivar o aperfeiçoamento dos professores das escolas públicas, contribuir para a valorização profissional, além de promover: a integração dessas escolas com as universidades públicas, institutos de pesquisa e sociedades científicas e a inclusão social por meio da difusão do conhecimento ao trabalhar, também, com a Educação de Jovens e Adultos. Essas propostas podem assegurar à comunidade escolar uma melhoria no cenário da educação. 25 3. A OBMEP na Escola Estadual Heitor Villa Lobos e no Colégio Estadual Deputado Henrique Brito. Nesse Capitulo tratarei de caracterizar a Escola Estadual Heitor Villa Lobos e o Colégio Estadual Dep. Henrique Brito, seus aspectos estruturais e a dificuldade encontrada em se trabalhar com a OBMEP em uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para isso, explanarei a cerca dos objetivos da Olimpíada e sobre essa modalidade de ensino na Unidade Escolar, com o objetivo de identificar os interesses dos seus alunos do 7o. ano em participar de uma competição. Nesse caso, em uma edição da Olímpiada de Matemática, comparando-a com uma turma regular das referidas unidades escolares . Para desenvolver a análise, utilizarei os dados da pesquisa “Olimpíadas de matemática - alternativa para estimular o interesse do aluno: analisando a participação der alunos do 7º. Ano da Escola Estadual Heitor Villa Lobos e do Colégio Estadual Deputado Henrique Brito”, com a observação e levantamento de dados acerca das Escolas em estudo, e referenciais textuais, com os livros “Metodologia do ensino da Matemática” de Dione Lucchesi de Carvalho, “Didática da Resolução de Problemas de Matemática” de Luiz Roberto Dante, “Aprender na escola: técnicas de estudo e aprendizagem” de Artur Nogueirol, “Da Realidade à ação Reflexões sobre Educação e Matemática” de Ubiratan D’ambrosio, “Educação Matemática de Jovens Adultos Especificidades, desafios e contribuições” de Maria da Conceição F. R. Fonseca e o artigo “Educação de Jovens-adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública” de Miguel González Arroyo, todos abordam temas que servirão para valorizar as ideias aqui registradas. 3.1 A Escola Estadual Heitor Villa Lobos A Escola Estadual Heitor Villa Lobos, situada no bairro do Cabula atende aos segmentos de Ensino Fundamental I, II e Ensino Médio, é composta por, aproximadamente, 1730 alunos matriculados nos três turnos de funcionamento, 45 26 professores, 16 funcionários administrativos, dois monitores de corredor, e oito funcionários de manutenção e limpeza (merendeiras e serventes). Quanto à estrutura física, a escola apresenta 21 salas amplas, algumas com carteiras e cadeiras de madeira, enquanto outras já apresentam cadeira no estilo universitário, armário para guardar materiais como cartolina, papel metro, hidrocor e dicionários, quadro verde. Além disso, em algumas salas já dispõe do quadro branco. O material necessário para o andamento das aulas parece ser suficiente e adequado. A equipe diretiva procura sempre suprir as necessidades de materiais dos professores e alunos. Na escola existem várias dependências para realização de atividades esportivas e de lazer tais como: quadra esportiva para prática de educação física, uma sala de professores com banheiro, duas de coordenação, uma para a direção, uma secretaria, uma para as aulas de informática, além de dispor de biblioteca e dois banheiros, em cada andar, para alunos. Localizada no Conjunto Habitacional no Cabula VI, a escola atende a bairros com histórico de violência da cidade. Atualmente, podemos perceber, nas imediações da escola, a abertura de vários estabelecimentos comerciais de pequeno porte, lojas e padarias que, também, são atingidos pela violência do bairro. As alternativas de cultura e lazer no entorno são poucas. Desse modo, cabe à escola muitas vezes, a responsabilidade pela promoção dessas atividades. Os atos de violência, assaltos ou tráfico de drogas que ocorrem no bairro ou nas adjacências interferem nas atividades pedagógicas; seja parando o desenvolvimento de suas atividades, com a suspensão das aulas; ou diminuindo o número de alunos matriculados e a sua frequência ou aumentando a evasão. Contudo, ao me dirigir ao Colégio, percebi que existe no entorno dos bairros próximos, grande número de seitas e igrejas evangélicas e católicas. Em conversa com alunos, percebi que ao frequentar esses locais de culto, eles se sentem acolhidos e tem vez e voz expressos nesses espaços de manifestação religiosa. 27 Os problemas na Comunidade existem e não são poucos. O principal é o tráfico de drogas, tanto que durante alguns dias de estágio, não pudemos realizar o trabalho de observação, pois uma parte do bairro estava em “estado de sítio”. Como muitos dos alunos moram em locais, nos quais o tráfico de drogas é comum, esses são avisados dos horários que não poderão sair de casa, geralmente às 20 horas, outras vezes, às 19 horas. Durante esses horários, nenhum morador poderia transitar pelas ruas. Esse assunto foi conversado na cantina, por aqueles que conseguiam chegar por não residirem nessas regiões, por vezes os funcionários eram avisados por alguém da comunidade sobre o problema, por isso a diretoria preferia suspender às aulas. Desse modo, os problemas afetam a escola, pois provocam a evasão de alunos, que foi bastante elevada no segundo semestre de 2011, conforme registro das faltas na caderneta. Ademais, essas situações geram desinteresse pelo estudo, dificuldades de aprendizagem e problemas de indisciplina, principalmente no período noturno. Nesse turno, tanto os professores como a coordenadora se apresentavam preocupados com a evasão escolar e com o baixo rendimento dos alunos. Mas, uma mudança na maneira de ministrar as aulas, como uma alternativa de estimular o aluno a frequentar às aulas, não parece ser cogitada, fazendo com que muitos alunos não se sintam interessados. Caberia à escola elaborar gincanas de conhecimento, simpósios sobre Educação de Jovens e Adultos ou de convidar os discentes a assistir filmes ou peças Ao confrontar os dados coletados nas entrevistas e as observações que registramos na turma de Educação de Jovens e Adultos, correspondente ao 7º sétimo ano, percebemos diferenças nos conteúdos apresentados em uma turma regular para uma turma de EJA. Muitas vezes, os procedimentos pedagógicos adotados não atendem aos interesses dos Jovens e Adultos, pois frequentemente, alguns alunos da turma não se encontram aptos suficiente para compreender os assuntos abordados, devido à dificuldade enfrentada em algum conteúdo. Nas entrevistas com professores de Matemática, comentários a respeito dessas dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos que, muitas vezes, os impedem de participarem da OBMEP. Evidências dessa natureza foram observadas 28 e registradas em entrevistas realizadas com vários estudantes, nas quais apontam que não são preparados para resolver as questões, e, por isso, sentem-se inseguros; outros declararam que não dominam muito o cálculo mental. Portanto, diante das observações, perguntamos será que o desenvolvimento de atividades pedagógicas que estimulem o raciocínio lógico poderia estimular esses alunos a melhorar a resolução de problemas e o interesse pela matemática? Afinal, muitos desistem de frequentar uma escola, por não se sentirem motivados em melhorar a sua aprendizagem, pois reconhecem a sua dificuldade, mas se desinteressam por essa área de conhecimento, por falta de estimulo do próprio educador. 3.2 O Colégio Estadual Deputado Henrique Brito O Colégio Estadual Deputado Henrique Brito, fundado em 1983, está localizado em Brotas e faz parte da Rede Estadual de Ensino. Com o objetivo de atender uma clientela de 1ª. a 8ª séries nos três turnos, a unidade escolar tem a capacidade para 840 alunos por turno. Capacidade esta, inferior ao que a Escola do Cabula comporta. O público da escola reside em bairros próximos, como Cosme de Farias, Saramandaia e Brotas. Apesar de difícil acesso, por se localizar distante das vias em que transitam transporte coletivo, a instituição funciona em plena capacidade, quando observado o número de matrículas efetivadas. Atualmente, o noturno atende também ao Ensino Médio, na modalidade supletiva denominada “Tempo de Aprender”, em que o aluno termina em tempo possível de 2 anos, com a possibilidade de extensão para um tempo maior, a depender das necessidades do mesmo. Em 2002, por determinação da Secretaria de Educação do Estado o turno vespertino foi desativado, devido a carência de alunos, já que houve um baixo índice de matrícula, fenômeno que não afeta apenas essa unidade escolar, mas também outras escolas de da rede Estadual de Ensino. Para aproveitar a ausência de 29 alunos, a direção da Escola resolveu usar esse turno livre da escola para o funcionamento e atendimento na Secretaria, com a implantação de projetos como oficinas voltadas para o interesse da comunidade, além de aulas de educação física. Aos sábados, acontece o Projeto “Escola Aberta”, essa estratégia potencializa a parceira entre escola e comunidade ao ocupar criativamente o espaço escolar com atividades educativas, culturais, esportivas, de formação inicial para o trabalho e geração de renda, tais atividades oferecidas aos estudantes e à população do entorno. Em 2011, a referida Unidade Escolar teve 743 alunos matriculados. Em relação ao quantitativo de recursos humanos, nessa unidade há 3 diretores e vices, 21 professores, 2 coordenadores pedagógicos, 10 colaboradores na área administrativa e 07 no Apoio. Na pesquisa realizada no colégio, percebi que muitos alunos do noturno são motivados para participar da OBMEP para ser medalhista, pois souberam que sendo medalhista tem a oportunidade de ingressar no Programa de Iniciação Científica Jr. (PIC) 9 – programa que, em breve, será mencionado. No entanto, na Escola do Cabula, essa informação relacionada ao PIC não foi repassada para os seus alunos. No processo de observação percebi diferenças significativas no tratamento dispensado aos interesses dos alunos nos dois referidos colégios, no que se refere a atividade de apenas assistir uma aula de Matemática. Enquanto nessa unidade escolar, os alunos se limitavam apenas a copiar as atividades, apenas alguns interagiam com a professora Isis, já no Colégio de Brotas, o professor Sérgio e sua turma estabelecem uma relação de aprendizagem mútua, havia maior interação entre esses sujeitos, uma vez que, em vários momentos da aula, o professor buscava conhecer o aluno, colhendo informações que seriam úteis para a sua didática. Na Escola do Cabula, observei essa situação em uma única sala, o que fazia com que os alunos participassem mais e com melhor aproveitamento dos conteúdos. 9 O Programa de Iniciação Científica Jr. da OBMEP (PIC) tem duração de um ano e é dirigido aos 3.200 (três mil e duzentos) alunos medalhistas de ouro, prata e bronze de cada ano. 30 No momento em que o professor conhece mais seu aluno, seus interesses e dificuldades, pode melhor trabalhar certos conteúdos em sala, com a participação de todos, promovendo maior interação entre os sujeitos. De acordo com o documento das Diretrizes Curriculares Nacionais relacionadas a Educação de Jovens e Adultos, [...] o preparo de um docente voltado para a EJA deve incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino. Assim esse profissional do magistério deve esta preparado para interagir empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um professor aligeirado ou motivado apenas pela boa vontade ou por um voluntariado idealista e sim um docente que se nutra do geral e também das especificidades que a habilitação como formação sistemática requer (BRASIL, 2000, p.56). Desse modo, o documento nos mostra a necessidade da formação de professores que devem ser preparados para ser um mediador que provoque jovens e adultos a apresentar suas experiências através de ciclo de cultura e com questões relativas ao EJA. Porém, percebo que existem poucas instituições brasileiras com essa formação, muitas apenas oferecem uma disciplina sobre o assunto. Os sistemas que pretendem garantir [os] direitos [de jovens e adultos] têm de se adaptar à concretude social em que os diversos setores vivem suas exigências, sobretudo quando se trata da infância, adolescência e juventude populares a quem não é dado o direito de escolher suas formas de vida e de sobrevivência. Na história da EJA, encontraremos uma constante: partir dessas formas de existência populares, dos limites de opressão e exclusão em que são forçados a ter de fazer suas escolhas entre estudar ou sobreviver, articular o tempo rígido de escola com o tempo imprevisível da sobrevivência. Essa sensibilidade para essa concretude das formas de sobreviver e esses limites a suas escolhas merece ser aprendida pelo sistema escolar se pretende ser mais público. Avançando nessas direções, o diálogo entre EJA e sistema escolar poderá ser mutuamente fecundo. Um diálogo eminentemente político, guiado por opções políticas, por garantias de direitos de sujeitos concretos. Não por direitos abstratos de sujeitos abstratos. (ARROYO, 2005, p. 49). Muitas vezes, as análises sobre a EJA consistem em situar as suas fragilidades que se encontram relacionadas às características de ensino não formal, que tendem a buscar valorização no seu enquadramento como ensino formal. No entanto, o que 31 vejo é que a EJA precisa se constituir com práticas e tempos singulares, como uma escola efetivamente desses jovens e adultos. No entanto, esses educandos são constituídos por pessoas, cidadãos, sejam eles pais ou mães solteiras que dependem do trabalho para sustentar a família, trabalhadores formais ou informais, religiosos ou ateus, ou seja, possuem uma diversidade cultural que deve ser levada em consideração. Afinal, não existe homogeneidade em uma turma de EJA, pois pertencem a um grupo na qual existem singularidades nas estratégias de conhecimento e aprendizagem. Nesse caso, cabe ao professor democratizar o saber, para possibilitar às pessoas adultas o acesso a um ensino de qualidade que possibilite o resgate da cidadania e desenvolvimento do convívio social. Com esse auxilio, esse aluno poderá ser motivado a participar nas organizações civis e movimentos sociais, que lutem para assegurar o seu papel social como cidadão. 3.3 O Programa de Iniciação Cientifica Os medalhistas que acompanham todas as etapas do PIC recebem a Bolsa de Iniciação Científica Jr. concedida pelo CNPq, com valor mensal de R$ 100,00 (cem reais) O PIC é desenvolvido em encontros presencias e pela internet, através do fórum da OBMEP, que permite a discussão virtual do conteúdo matemático escolhido para a iniciação científica. A equipe responsável pelo PIC é composta por: Professores, orientadores e monitores - atuam nos polos, apoiando e orientando os alunos sobre seu desenvolvimento e a participação no programa (nos encontros presencias e no fórum); Moderadores de fórum – acompanham e estimulam as discussões entre os alunos, dispondo várias listas de exercícios no fórum; Coordenadores de fórum – articulam os moderadores de fórum em relação à qualidade das intervenções realizadas nas discussões e acompanham a frequência e o cumprimento das regras estabelecidas pela Coordenação Acadêmica para o fórum e Coordenadores Regionais de Iniciação Científica – responsáveis por uma região, orientam e acompanham todas as atividades realizadas nos polos de sua região. 32 3. 4 A Educação Matemática de Jovens e Adultos Nessa parte do capitulo, procuro abordar a Educação Matemática para uma turma de Educação de Jovem e Adulto, tomando como referência tanto leituras de textos relacionados sobre EJA, o livro de Maria da Conceição F. R. Fonseca. Desse modo, busquei identificar o problema do ensino da matemática em uma classe de EJA, fazendo a minha observação e registrando situações nas escolas, as quais serviram como ponto de partida para a elaboração dessa parte do capítulo. Durante o processo de investigação, percebi que não está nos alunos o cerne da discussão a respeito dos problemas da Educação Pública, mas a forma como esta educação é encarada pelos professores, como os conteúdos programáticos são abordados na sala. Os alunos esperam mais do que aprender um conteúdo. Esses jovens / adultos já estão no mercado de trabalho, muitos na categoria da informalidade, sem carteira assinada, alguns almejam ingressar em uma carreira melhor ou, até, sonham em frequentar uma universidade, de preferência, pública. Muito embora, não possamos colocar os problemas enfrentados na Educação Brasileira nas mãos do professor. No entanto, esses alunos, durante as entrevistas, comentam que não se sentem preparados em aprender Matemática, demonstram dificuldades em assimilar os conteúdos. Grande parte deles demonstra certa dificuldade em responder as questões da OBMEP e desistem da competição. Eles sabem que a Matemática é importante. Porém, considero que o problema de muitos recai na dificuldade de ler, compreender e interpretar o texto escrito, ou seja, são limites relacionados ao conhecimento da Língua Portuguesa. Porém, tais limites podem ser objeto de problematização em sala de aula. De acordo com Oliveira (1999), as dificuldades relacionadas ao ensino com estudantes jovens e adultos não nos remetem apenas ao ponto de discussão sobre a especificidade etária, mas, principalmente, para uma questão cultural. Para ser educador dessa classe, o mediador precisa refletir como os referidos alunos pensam e aprendem, quais suas características socioculturais, onde moram, de onde vem, quais os 33 motivos que os distanciaram da escola, qual o nível de repetência, de evasão, de interesse e trabalho, etc. Talvez, para responder algumas das questões formuladas, fosse necessário que o professor buscasse conhecer os referidos alunos no que se refere a realidade e objetivos dos mesmos. ... ainda que indivíduos pertencentes a esses grupos, eventualmente, estivessem inseridos no sistema escolar, não eram, entretanto compreendidos enquanto sujeitos culturais por aquele sistema, estruturado, destinado e capacitado para a educação dos filhos de classe média, segundo preceitos e hierarquia de valores da cultura dominante. FONSECA (p. 27, 2007) Percebo que as transformações sociais obrigam os gestores a reconfigurar as propostas pedagógicas, especialmente para o sistema público de ensino, definindo a necessidade de novas iniciativas da EJA, a fim de buscar respostas a demandas e balizarem-se pelas condições específicas de seu público. Dessa maneira, os sujeitos da EJA percebem a sua dimensão formativa, numa perspectiva diferenciada daquela assumida por crianças ou no trabalho com elas. Ainda de acordo com Fonseca (2007), na educação de adultos, os aspectos formativos da Matemática adquirem um caráter de atualidade, num resgate de se compreender quem é esse sujeito de conhecimento e quem necessitam da sua realização no presente. Ou seja, a natureza do conhecimento matemático deve proporcionar experiências significativas, que não sejam apenas vivenciadas, mas também apreciadas pelo aluno. Segundo Arroyo (2006), a EJA é marcada pela diversidade de tentativas para configurar as suas especificidades, no entanto, não é um campo consolidado nas áreas de pesquisa. Além disso, os educadores que estão nesse ramo, muitas vezes, não foram formados para trabalhar com jovens e adultos em idades mais avançadas. O autor fundamenta a ideia de que os educadores devem conhecer esses jovens / adultos, afinal a EJA é um campo cheio de especificidades, no qual cada aluno tem seus elementos constitutivos, vida escolar e percursos diferentes, posto que cada trajetória humana tem seu tempo e direito. 34 O aluno da EJA tem que ser compreendido dentro da sua realidade e os seus conhecimentos deve ser utilizado em sala, a proposta é fazê-lo como centro do estudo e do conhecimento, não apenas como receptor da informação. Durante o processo de investigação, observei que os conteúdos trabalhados não refletem as necessidades dos alunos que pretendem participar da OBMEP. O professor pode conhecer antecipadamente quais os conteúdos devem ser trabalhados, pois a coordenação da competição os envia às escolas modelos de questões, fornece no site dicas para construção de aulas interativas, possibilitando o desenvolvimento de habilidades e competências ao longo do processo educativo da série em questão, conforme a LDB e PCNs, que podem auxiliar no ensino-aprendizagem da matemática. Muito material utilizado para trabalhar a EJA pode ser encontrado em livrarias ou sites específicos. Para o ensino da Matemática, observa-se a existência de um suporte que possibilite ampla leitura e estimule o interesse do aluno pela disciplina, contudo para se trabalhar com as Olimpíadas nesse tipo de turma, o material é limitado. A maioria das abordagens é direcionada para uma classe regular, mesmo que a OBMEP também prestigie o aluno da EJA. Os papeis do educador e da educação são objeto de reflexão sistemática de um grande número de pesquisadores de modo que a produção acadêmica no campo Educação é vasta [...] o educador matemático de jovens e adultos tem a sua disposição uma variedade muito grande de textos... FONSECA (p. 88, 2007) Muitos estudiosos tratam da EJA e da Matemática para esse público, como: Paulo Freire e Maria da Conceição F. R. Fonseca. Um ponto importante comentado pela autora consiste na necessidade de se trabalhar com o ensino da leitura e da escrita. De certo modo, pude constatar nas entrevistas que o aluno de EJA tem anseio em participar cada vez mais no mundo letrado, por isso o educador, seja ele qual disciplina ministrar, deve ter clareza do seu papel, em proporcionar a seus alunos instrumentos para o acesso a uma diversidade de gêneros textuais, que os habilite a participar, compreender, questionar e transformar a sociedade. 35 Ao se falar de Educação Matemática, Fonseca (2007) refere-se a uma ação educativa dirigida a um sujeito de escolarização básica incompleta ou que nem sequer a iniciou ou que se refugia nos bancos escolares na idade adulta ou na juventude. Assim, a exclusão da escola coloca os alunos em situação de desconforto pessoal devido a aspectos de natureza mais afetiva, mas que também influenciam a aprendizagem. Acompanhando as reflexões apresentadas por Maria Khol de Oliveira, percebemos que não é raro encontrar alunos que fracassam na escola pela dificuldade com a Matemática, tida como a disciplina que mais reprova. A experiência ou o desempenho do aluno na aprendizagem dessa área de conhecimento, não necessariamente contribui para que esse aluno abandone a escola. Nas entrevistas constatei que as dificuldades enfrentadas em administrar a vida pessoal e o trabalho com a escola são mais relevantes do que a dificuldade em aprender a Matemática. Na realidade aqueles que abandonam a escola o fazem por diversos fatores, e que, em geral, extrapolam as paredes da mesma. A esse respeito, Fonseca (2007) considera que a dinâmica de ensino / aprendizagem pode representar um insucesso na aprendizagem da Matemática, já que esse insucesso se configura num risco de se identificar inadequadamente as estratégias de ensino. Em seu artigo veiculado na Revista Nova escola, Verônica Fraidenraich, informa que os especialistas são unânimes em afirmar que a única forma de melhorar os indicadores é respeitar as especificidades desse público - indivíduos que não terminaram, ou nem sequer iniciaram, o ensino regular. Entre os problemas apontados estão o currículo (muitas vezes uma adaptação dos conteúdos do Ensino Fundamental), a formação inadequada dos professores, a prática de convocar voluntários (muitos sem preparo) para alfabetizar jovens e adultos e a polêmica em torno da idade mínima para matricular-se na EJA ,hoje,15 anos. É importante esclarecer que há uma luta para aumentar a idade de ingresso na EJA para 18 anos, 36 numa tentativa de forçar os mais jovens a permanecer nas redes regulares de ensino10. Esse mesmo artigo comenta que de um lado, a EJA passou a receber mais recursos graças ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), ainda que os valores pagos sejam os menores do sistema. Por outro, há uma variedade de programas surgidos nos últimos anos, como Brasil Alfabetizado, Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem) e Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que concorrem com a EJA e revelam as dificuldades de apontar um caminho eficaz para o setor. A EJA tem sido uma porta de resgate para esses estudantes, para que eles se sintam estimulados e, ainda, conquistem o domínio de escrita e leitura. Além disso, o desenvolvimento das linguagens possibilita a aquisição de uma postura ética e emissão de opinião, impedindo que se tornem alienados mediante uma possível falta de perspectiva. Em relação à OBMEP, a sua ideia é de mostrar a importância da análise das questões, ou seja, a importância da leitura dos dados fornecidos, por representar a tendência de que mais importante do que decorar informação, é saber analisá-Ia. Dessa maneira, existe a filosofia de que é preciso trabalhar apenas com o essencial do conteúdo e muita discussão, mas sem abrir mão do rigor na disciplina. Afinal, não vivemos mais no tempo em que o professor era o único provedor da informação, pois em tempos de internet, a informação está ao alcance de todos. O papel principal do educador é ensinar ao aluno o que fazer com essa informação. Compreendo que a história mostra que o direito à educação somente é reconhecido na medida em que acontecem os avanços sociais e políticos na legitimação dos direitos políticos. É significativo encontrarmos nos movimentos sociais, propostas mais concretas para a EJA, por ser uma modalidade de ensino que se configura 10 Informação retirada no artigo da Revista Nova Escola publicado na Edição 239, Janeiro/Fevereiro 2011. Título original: Em segundo plano. 37 como uma política afirmativa que deve ser equacionada. De acordo com Arroyo (2006), há necessidade de focar no ensino e não na educação, o importante ter ênfase no conhecimento a ser transmitido, nas didáticas para a sua aprendizagem, na capacitação do profissional para o ensino/aprendizagem. Portanto, ao analisar o ensino da matemática nas escolas, campos de pesquisa e a função da OBMEP, enquanto política pública, percebi que pouco se trabalha com os interesses dos alunos. E ainda, constatei que as provas da competição não são pensadas para esse público de EJA, acredito que poderia ser criado na competição um nível somente direcionado a esse público, em que as especificidades dos conteúdos aprendidos devem ser o foco na elaboração das questões, uma vez que na leitura das provas dessa competição, pouco é direcionado ao público da EJA, mesmo esse segmento de educação sendo parte dos objetivos da OBMEP, que já foram apresentados anteriormente. 38 4. Reflexão sobre o processo de participação do aluno nas olimpíadas e seu interesse pela Matemática. Ao longo deste capitulo, mostrarei as minhas impressões acerca da avaliação e análise das relações existentes entre os interesses dos alunos pela matemática e outras disciplinas do currículo das escolas. Para isso, tomarei como base as reflexões dos registros feitos durante o processo de investigação nas escolas, as observações das aulas de Matemática nas escolas e os referencias teóricos de Dione Lucchesi de Carvalho e de Maria da Conceição F. R. Fonseca., livros já citados no capitulo anterior. A metodologia utilizada para a elaboração dessa parte do Trabalho de Conclusão de Curso foi a qualitativa, baseada na obtenção de dados registrados no diário de campo e de entrevistas com alunos e professores do 7º. ano das escolas em estudo, principalmente nas turmas de EJA. Além disso, foram acrescentadas interpretações minhas acerca das observações do cotidiano dos professores, alunos e gestores. Nos dias de observações nas escolas e nos registros das entrevistas acerca da contribuição da OBMEP para provocar o interesse dos alunos pela Matemática, percebi que muitos alunos dos dois colégios avaliados estão mais interessados em terminar os estudos, independente de terem ou não aprendido os conteúdos ou em adquirir o cartão que dá direito a meia passagem nos transportes coletivos. Esse real interesse foi mais visível nas conversas com o alunado do noturno. Uma das dificuldades relatadas nas entrevistas diz respeito a de aprender Matemática e, assim, muitos alunos não se interessam por essas aulas. De acordo com Carvalho (1992), o fato registra comportamento de muitos considerarem essa disciplina como uma área de conhecimento já pronta e perfeita, pertencente apenas ao mundo das ideias, o professor conduz sua aula de maneira impositiva e autoritária. Dessa maneira, o papel do aluno é ser passivo, moldando-se à autoridade dessa perfeição cientifica. 39 Como prova desse pensamento nas entrevistas, os alunos apontam desinteresse pelo tipo de aula na qual eles não participam e não há interação entre o professor e o aluno. Desse modo, é importante salientar a necessidade de se conduzir uma aula em que exista complemento do conhecimento desse aluno. Afinal, em consequência do desgosto pela aula, os professores podem julgá-lo como incapaz de aprender e quanto aos poucos que obtiverem êxito nesse aprendizado, serão considerados inteligentes. Para Carvalho (1992), o saber matemático não pode continuar sendo privilégio de poucos alunos, tidos como inteligentes, cujo temperamento é mais dócil e que aceitam as aulas como o professor deseja, visto que se submetem a “fazer tarefas escolares” sem se preocuparem com o significado das mesmas, no que se refere ao seu processo de construção do conhecimento. Diante do que observei, reflito que o professor tem um papel importante: despertar o interesse por sua aula, fazendo com que o aluno sinta prazer ao aprender, mesmo diante das dificuldades impostas. Então, deve-se aceitar as diversas experiências em que o estudante traz para as aulas, considerando-as como aspectos particulares de temas a serem estudados. Conforme diz Carvalho (1992), é importante que o aluno incorpore seu conhecimento de senso comum como um aspecto parcial das noções estudadas, e assim poderá adquirir, de maneira significativa, a linguagem matemática. Mediante essa perspectiva, direcionei o meu objeto de trabalho de conclusão de curso para área de conhecimento, devido ao meu interesse em perceber as mudanças de comportamento e as transformações ocorridas quando o professor trabalha com materiais diferentes, além do livro didático. Nas minhas entrevistas, percebi que atitudes dessa natureza enriquecem o ambiente, independente das condições estruturais ou econômicas do colégio. Prova disso, temos o Laboratório de Ensino de Matemática e Estatística da UFBA, LEMA11, o qual desenvolve 11 Através de suas atividades, o LEMA-UFBA contribui para a disseminação do conhecimento de Matemática e de Estatística e suas aplicações, nos níveis fundamental, médio e superior, contribuindo para a formação, difusão, popularização e desmistificação da ciência, sem deixar de enfatizar as justificativas que caracterizam o pensamento científico. 40 diversas atividades, incluindo a elaboração de material audiovisual, principalmente a construção de modelos concretos, no sentido de facilitar o aprendizado de Matemática, Estatística e áreas afins. Do ponto de vista de Carvalho (1992), o professor deve enfatizar as características da linguagem da Matemática, para que o aluno identifique novos detalhes que possam ter passado despercebidos na primeira abordagem da questão, fazendo a retomada do assunto com a resolução de problemas. Então, essa revisão de conteúdos mostra vários caminhos possíveis para a prática, permitindo ao aluno, pela convivência diversificada desses conteúdos, interiorizá-los melhor. Assim, a OBMEP estabelece justamente certos procedimentos para avaliação das respostas nas provas. Não se julga apenas a resposta encontrada, o avaliador observa de que maneira o aluno desenvolveu ou interpretou o problema. Não há avaliação das fórmulas utilizadas, mas o procedimento para se chegar ao resultado. a memorização é necessária na resolução de certa quantidade de exercícios, mas deve estar estruturada e organizada de maneira a auxiliar o aluno a estruturar o seu desempenho para certos tipos de cálculo, visando rapidez na obtenção e a precisão dos resultados, ou seja, selecionar os melhores caminhos. CARVALHO (1992, p. 81) O autor ainda comenta que não se deve tratar a matemática como “decoreba”, mas uma memorização com constante reestruturação de aprendizado. Partindo desse pressuposto, o professor deve estar preparado para aceitar os diferentes interesses do aluno, mesmo que sejam contrários àqueles que ele julga melhor. Nesse sentido, o papel do professor, no trabalho de solução de problemas deve ser o de garantir a constante discussão dos procedimentos que surgem. Buscando dessa maneira, um enriquecimento de novos problemas, a partir dos quais se pode aprofundar o conhecimento e o interesse do aluno pela matemática. Porém, registrei durante minhas observações nas referidas escolas, que uma das queixas mais frequentes dos professores da EJA é a falta de tempo para ministrar melhor os conteúdos; segundo eles, a curta duração da aula, que é de 1h e 30 minutos, é pouca tempo para desenvolver todas as atividades que constituem em fazer a chamada, corrigir atividades e expor novos conteúdos. Embora, reconheçam a importância de se trabalhar melhor os conteúdos de matemática. 41 Outro aspecto observado durante as entrevistas e, até mesmo, na observação de uma aula, é a constatação de que os alunos só aprendem a pensar por si próprios se tiverem a oportunidade de explicar os seus raciocínios em sala, não em um momento isolado ou particular com o professor, mas ao dividir o seu pensamento com os colegas. Então, os professores que dizem não ter tempo para isso, devem repensar a sua atitude, pois só negociando soluções é que se aprende a respeitar sentimentos e ideias de outras pessoas. Um dos problemas enfrentados pelo sistema de ensino brasileiro refere-se ao baixo desempenho dos alunos do Ensino Básico, principalmente em Matemática. A grande parte dos professores que hoje estão em atividade teve uma formação de base muito precária nessa área de conhecimento. Além disso, os cursos de formação inicial de professores - tanto os cursos de magistério como os de licenciatura continuam não dando conta de discutir suficientemente com seus alunos uma proposta mais eficiente para o ensino dessa área de conhecimento. Em relação ao trabalho com a Olimpíada durante uma aula no período da tarde na Escola Estadual Heitor Villa Lobos, alguns alunos, até, se mostram interessados pela OBMEP, mas não se sentem motivados para participarem, pois percebem que os problemas estão em nível mais avançado, em relação aos conteúdos que eles aprendem na escola. Ou seja, o professor não trabalha suficientemente com os conteúdos para que a sua turma possa ter uma boa participação nesse tipo de competição. Muitos alunos informaram que fazem a 1ª. Fase12 da OBMEP, que consiste na aplicação de provas com questões objetivas de cinco alternativas. Mas, aqueles que são selecionados para a 2ª. fase13, na qual as questões são discursivas, não se interessam, apesar do bom aproveitamento da fase anterior. Isso deve-se ao fato 12 A Primeira Fase da OBMEP se caracteriza pela aplicação da prova objetiva (questões de múltipla escolha) diferenciadas por Níveis (1 - alunos de 6º. e 7º. anos; 2 – alunos de 8º. e 9º. Anos e 3alunos do nível médio). 13 A Segunda Fase da OBMEP se caracteriza pela aplicação de prova discursiva, diferenciada por Níveis (1 - alunos de 6º. e 7º. anos; 2 – alunos de 8º. e 9º. Anos e 3- alunos do nível médio). 42 dos problemas dessa fase serem mais complexos, exigindo mais na interpretação dos dados, do que na aplicação direta de fórmulas. Com essa mudança de enfoque nas provas das duas fases, registra-se um alto índice de evasão na 2ª. nos Centros de aplicação, principalmente, naqueles nos quais existam alunos de escolas com baixo rendimento escolar. Acredito que se houvesse mudança de postura tanto do professor quanto do próprio aluno, essa realidade mudaria. Nas entrevistas na Escola do Cabula VI, os professores demonstram serem desinformados, não sabiam que as escolas recebem materiais para trabalhar em sala com os conteúdos da OBMEP, afirmam que na EJA a dificuldade é maior, pela diferença de aproveitamento desses conteúdos. No entanto, na escola de Brotas, os professores do noturno trabalham com os materiais, divulgam resultados e propõem a participação na OBMEP, encorajando seus alunos, mostrando-lhes que são capazes, fazendo revisão dos problemas e ainda utilizam o site para melhores informações. Além disso, premiam os que se destacam na competição. Da mesma maneira, percebo que a Coordenação da Olimpíada deveria atuar de maneira mais significativa frente as escolas, principalmente contemplando melhor a EJA. Todavia, para falar dessa modalidade é necessário, primeiramente, esclarecer qual é a concepção de aprendizagem e de sujeito, uma vez que os jovens e adultos que estão inseridos na EJA possuem saberes, que para os educadores não são considerados no processo de ensino e aprendizagem. Na leitura das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (PARECER CNE/CEB 11/2000) no título VIII há o comentário que: Com maior razão, pode-se dizer que o preparo de um docente voltado para a EJA deve incluir, além das exigências formativas para todo e qualquer professor, aquelas relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino [...] deve estar preparado para interagir empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um professor aligeirado ou motivado apenas pela boa vontade ou por um voluntariado 43 idealista e sim um docente que se nutra do geral e também das especificidades que a habilitação como formação sistemática requer. Para um professor de carreira na rede pública, muitas vezes, em ambiente sem muitas alternativas que possibilitem uma elaboração de trabalho com mais qualidade, voltado para o público de Educação de Jovens e Adultos, torna-se difícil encontrar publicações sobre Matemática e de materiais que os auxiliem para o trabalho com a OBMEP em classe. Na verdade, vejo no cenário político brasileiro e, claramente, nos ensaios de trabalho de conclusão de curso no meio acadêmico, principalmente no curso de pedagogia na UNEB, questões sobre a dificuldade encontrada não somente na EJA, como também na redução do analfabetismo ou na elevação das taxas de escolarização da população. Acrescento que para melhor atender o público noturno, faz-se necessário estimular a leitura. Para Fonseca (2001), os projetos em atenção a EJA organizam-se de forma a habilitar trabalhadores para um novo mercado de trabalho, consumidores para um novo padrão (e novos produtos) de consumo e cidadãos para novas maneiras de exercício da cidadania. A autora comenta que os propósitos definidos para a Educação de Jovens e Adultos, que permeiam a Educação Matemática, guardam muito da perspectiva da adaptação do individuo jovem ou adulto aos modos de organização, produção e atribuição de valores de uma sociedade um tanto injusta, pelo fato de se estabelecer programas de Educação Básica de Jovens e Adultos para aqueles que foram excluídos do sistema escolar quando ainda crianças ou adolescentes. Durante o meu processo de investigação e de leitura para a construção desse Trabalho de Conclusão de Curso, percebo que a autora está correta ao escrever que novos sentidos são conferidos a EJA, destaca-se a função de reparação de um direito negado e, também, enfatiza a relevância e urgência em inserir um projeto 44 maior de constituição de sujeitos de uma Educação que pretende, como já dizia Paulo Freire, “prática da liberdade”14. Por isso, ao propor a utilização da OBMEP para provocar o interesse do aluno para a Matemática, aponto, avalio e sugiro experiências para que a Educação Matemática seja contemplada de maneira mais eficiente, estabelecendo inter-relação com outras áreas de conhecimento, a exemplo da Língua Portuguesa, cujo trabalho voltado para interpretação de textos e da escrita matemática pode facilitar o aluno a compreender e formular os problemas matemáticos. Ao analisar as entrevistas, verifiquei que existem falhas no processo de ensino / aprendizagem dessa área de conhecimento envolvendo professores, alunos de EJA e a escola, pois, muitas vezes, conforme já relatado no capítulo anterior, os alunos não são caracterizados de forma condizente com a realidade, são tratados como “analfabetos”, “não crianças” ou “não escolarizados” (Oliveira, 1999). Dessa maneira, há uma necessidade de mudança nas crenças e nos valores da cultura escolar, para a compreensão dos interesses dos alunos ao frequentar uma escola no turno da noite. Daí, também, a necessidade de repensar o papel da Matemática na vida do aluno. Nesse sentido, o trabalho pedagógico deve consistir na busca de uma proposta que contenha os ingredientes necessários para um novo posicionamento do professor, diante da conjuntura atual da prática docente em Matemática, que faça os alunos se interessar pelo estudo dessa disciplina e que venha contribuir para a sua formação enquanto ser social. Afinal, a escola deve proporcionar a formação de um aluno critico em relação ao seu papel na sociedade. Então, para construir a criticidade num cidadão, a escola deve propor uma educação que tenha como um dos objetivos interpretar e compreender os diversos fenômenos 14 Educação como Prática da Liberdade foi o primeiro livro de Paulo Freire (1921-1995) publicado no brasil, com primeira edição em 1967. No livro encontram-se as bases de uma filosofia da Educação, fundadas numa prática dialógica e anti-autoritária, “que nos conduz a pensar com o oprimido e não para o oprimido” (GADOTTI, 1996). 45 do nosso cotidiano, de forma criativa, motivadora e eficaz; provocando, por exemplo, um crescimento no desempenho escolar do aluno em termos de conteúdos matemáticos, que possam, por sua vez, contribuir para o preparo das futuras profissões e auxiliar no desenvolvimento do raciocínio desse estudante15. Com base nessa leitura, acredito em uma escola com o papel gerador e socializador de conhecimentos de qualidade, o qual depende das suas estratégias de ensino, que devem ser continuamente atualizadas para atender às exigências, às necessidades e aos interesses da comunidade em que está inserida. Nos registros das observações, percebi pouco interesse dos discentes pela Matemática, principalmente na escola do Cabula. Em uma turma, alguns alunos frequentam a aula, para não ter acúmulo de falta, ou pelo carisma e amizade que se tem pela professora. A grande maioria não se interessa pela OBMEP, ou pela dificuldade encontrada, ou por não terem conhecimento do que trata a competição. Em muitas situações, a escola é mais uma alternativa para o pagamento de meia passagem no transporte público. Porém, muitos demostram interesses em melhorar seus conhecimentos na área, investem em estudos em casa, em busca de melhores perspectivas de vida. De acordo com a avaliação da OBMEP, as boas práticas dos gestores proporcionam a melhoria do interesse do aluno pela matemática, como a integração da competição no projeto político-pedagógico da escola. Para a coordenadora Regional da competição, Luzinalva Amorim, a escola deveria se inscrever na competição todo ano e não de maneira efêmera. As atividades e discussões sobre as questões deveriam constar no calendário escolar, para que o aluno seja estimulado a participar da Olimpíada. E ainda, deve-se realizar esforços de integração entre os conteúdos da OBMEP com o escolar de matemática, visando valorizar o pensamento matemático e o desenvolvimento do raciocínio lógico em diferentes disciplinas e contextos escolares. 15 Relato de Sonia Maria Gabriel Matheus - docente da Rede Estadual de educação do Paraná em seu trabalho “DESPERTANDO O INTERESSE PELA MATEMÁTICA: RELATO DE UMA ATIVIDADE DE MODELAGEM MATEMÁTICA”, realizado com alunos de uma Escola Pública Estadual do Paraná no ano de 2008. 46 Para a realidade de uma turma de EJA, além dos pontos levantados acima, percebo a necessidade de criação de espaços e ações de formação continuada de professores da escola. A boa prática de envolver os alunos com a matemática de forma motivadora e desafiadora deve ser adotada nas escolas que queiram ser destaque na competição. Percebi, nas minhas observações em campo, vários alunos que manifestaram seu apreço por certos professores devido a atitudes de valorização do discente e incentivo para que o aluno se pela Matemática. Do mesmo modo, a exploração do material didático disponibilizado pela OBMEP corresponde a uma prática que eleva a qualidade do ensino / aprendizagem, pois consiste em envolver os alunos em atividades de pesquisa e descoberta. Fato esse, mencionado, por um professor que é destaque na competição e que leciona no Colégio Militar de Salvador. Pela experiência que eu adquiri, trabalhando com a coordenação da OBMEP, conheço esses materiais e posso declarar que são amplos e estrategicamente elaborados visando a ressignificação do conhecimento matemático, do aumento da adesão, do desenvolvimento de alunos na competição. Além disso, esses materiais podem ser trabalhados com outras disciplinas do currículo das escolas. Portanto, percebo que o papel fundamental dos docentes e do ambiente escolar é proporcionar melhor qualidade para a educação de seus alunos, por isso seus interesses devem ser levados em conta. Entretanto, devemos, enquanto educadores, ajudá-los na busca pelo seu sucesso no desempenho em situações da vida cotidiana, desde as que envolvam habilidades matemáticas, como no exercício profissional de maneira que sejam coerentes com o objetivo de contribuir para a conquista de melhores e mais inclusivas condições de cidadania. 47 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este projeto de pesquisa se propôs, como objetivo geral, a investigar como se efetiva a participação do aluno do 7º ano da Escola Estadual Villa Lobos e do Colégio Estadual Dep. Henrique Brito na Olimpíada de Matemática e quais as contribuições dessa prática para estimular os alunos a se interessar pela Matemática. Através deste ponto, procurei identificar o empenho, a metodologia e os materiais utilizados pelos professores para trabalhar com a matemática, além dos interesses dos alunos do 7o. ano da Escola Estadual Heitor Villa Lobos e do Colégio Militar de Salvador nas participações das Olimpíadas de Matemática. Dessa maneira, consegui avaliar e analisar as relações entre os interesses dos alunos por essa área de conhecimento e outras presentes no currículo escolar. Para o trabalho de conclusão ter êxito, as entrevistas e observações foram de suma importância, através das quais consegui identificar as dificuldades enfrentadas tanto pelos alunos como pelos professores em participar e trabalhar com a OBMEP, principalmente, em turmas de Jovens e Adultos. Outro ponto importante foi o de perceber, que mesmo com deficiência de estudo em relação ao conteúdo, percebi que alguns alunos da rede pública se interessam em participar da competição como forma de estimular o seu raciocínio, mesmo considerando elevado o grau de dificuldade das provas. Acredito que, enquanto professor, devemos procurar ou propor uma reforma educativa e que promova o nosso aperfeiçoamento, a nossa qualificação não podemos esquecer as mudanças pelas quais passaram: o aluno do turno noturno, a instituição de ensino, as práticas pedagógicas. Sendo assim, precisamos de profissionais produtores de saber. Mas, o que é isso? O professor é uma pessoa, sendo fruto daquilo que recebeu em sua formação acadêmica. O que precisa é de uma renovação no processo pedagógico para que possa atender aos reais 48 interesses dos alunos, como o de buscar uma qualidade de ensino comprometida com a formação para a cidadania. Acredito, que a formação como professor quanto como cidadão acontece em nosso cotidiano, na prática. Contudo, para que isso ocorra de forma adequada, esta prática deve ser reflexiva, com tentativas e erros. Desse modo, nessa busca por melhoria do ensino da matemática, enfatiza-se o potencial dos professores no envolvimento com os alunos e com os outros professores na construção de projetos educativos carregados de participação e compromisso com a sociedade. A participação da escola no projeto da OBMEP é de fato promissora para o estimulo do aluno, levando-o a se interessar pela matemática e assim construir melhor os seus saberes nessa área de conhecimento, visto que é visível o quanto a matemática é importante para a sociedade. Dessa maneira, percebi que não há como o professor ensinar a matemática de forma eficaz e eficiente, seja em uma turma regular ou de EJA, sem ressaltar a necessidade de se discutir e de se obter reflexões criticas que envolvam estes conhecimentos (sociedade, ciência e tecnologia), os quais estão intimamente relacionados com a matemática. Assim, precisamos conduzir o ensino desta ciência de forma tal a desenvolver hábitos, precisão, raciocínio dedutivo, manifestações da capacidade criadora e julgamento pessoal, que não apenas levam uma aplicação do cálculo, mas que passam a serem úteis como forma de estudo e abordagens científicas de outras tantos assunto ligados à vida profissional e cotidiana do aluno. Além disso, é necessário que se estabeleça uma interação entre o professor, o aluno com a realidade em que se está inserido. Também, é importante ressaltar que o ensino da matemática deve ser entendido como parte de um processo global na formação do aluno como ser social, pois através de toda este mudança ocorrida ao longo dos anos na área da educação, esta nova linha de pensamento pode minimizar o índice de reprovação e evasão nessa disciplina, tida por muitos como um “bicho-papão”. 49 É dessa forma que a OBMEP desenvolve um papel fundamental no processo escolar, apesar de ainda existir descaso de alguns profissionais da educação, devido aos mesmos desconhecerem a dimensão do projeto, ou não aceitarem a mudança desse novo rumo da matemática. Apesar disso, encontrei nas duas escolas, educadores que vem lutando para mudar essa imagem de professor, ao procurar dinamizar as aulas para que o seu aluno aprenda melhor com mais autonomia. Afinal, a escola é um espaço de socialização de conhecimentos. Portanto, considero que faz-se importante introduzirmos novas formas de pensar, de conhecer e de aplicar o conhecimento matemático em nossas escolas, mesmo sabendo que esses resultados, somente, serão obtidos a longo prazo, ou já, não constituirão em ações imediatistas. Para que as mudanças possam acontecer é indispensável à participação de todos, que juntos tentam vencer o obstáculo real. Por isso, precisamos decidir e compreender um novo caminho, juntarmos forças para mudar esse cenário do ensino da matemática, principalmente, na rede pública, com o auxilio de novas ferramentas que possam garantir o nosso sucesso na carreira. 50 REFERÊNCIAS ANDRADE, Eliane Ribeiro. Os jovens da EJA e a EJA dos jovens. In: BARBOSA, Inês O, PAIVA, Jane (orgs.). Educação de Jovens e Adultos. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. ARROYO, Miguel González. Educação de jovens – adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública. In: SOARES, L. (Org.). Diálogos na educação de jovens e adultos. São Paulo: Autêntica, 2006. BRASIL, CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (CNE). Parecer CNE/CEB nº 11/2000. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília: maio de 2000. BRASIL. Lei nº. 9394. Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, Brasília, 1996. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Brasília: MEC/SEF, 1998. CARVALHO, Dione Lucchesi de. Metodologia do ensino da Matemática, 2ª. ed. Rev. São Paulo: Cortez, 1992. D’AMBROSIO, Ubiratã. Da Realidade à ação: reflexões sobre educação e matemática. Campinas: Ed. da Universidade Estadual de Campinas, 1986. DANTE, Luiz Roberto. Didática da Resolução de Problemas de Matemática. 11. ed. São Paulo: Ática, 1998. FONSECA, Maria da Conceição F. R. Educação matemática de jovens e adultos. 2ª. Edição, Belo Horizonte: Autêntica, 2007. FRAIDENRAICH, Verônica. Em segundo plano in Revista Nova Escola. Edição 239, 2011. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1998. GADOTTI, Moacir. Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire. Brasília: UNESCO, 1996. MIRANDA, Elis Dieniffer Soares. A INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO PROFESSORALUNO PARA O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO CONTEXTO AFETIVIDADE. NASCIMENTO, Márcio Goes do, Danilo Palhano, Janne Y. Y. Oeiras. Competições escolares: uma alternativa na busca pela qualidade em educação. Anais do Simpósio Brasileiro de Informática na Educação. 2007. 51 NOGUEROL, Artur. Aprender na escola: técnicas de estudo e aprendizagem. Trad. Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegue: Editora Artes Médicas Sul Ltda., 1999. OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Revista Brasileira de Educação. São Paulo: ANPED – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Educação, n. 12, 1999. PIAGET, Jean. Epistemologia genética. São Paulo: Martins Fontes, 1990. SILVEIRA, Regina Lúcia Barros Leal. Competências e Habilidades Pedagógicas, UNIFOR Revista Ibero-americana de Educación (ISSN: 1681-5653). 2005. SITES: A História da Olimpíada de Matemática: Disponível em: <http://www.mat.ufg.br/extensao/olimpiada/> Acesso em 10 de junho de 2010. Vinte e cinco anos das Olímpiadas no Clube de Matemática: Disponível em: <http://www.mat.ufg.br/extensao/olimpiada/> Acesso em 14 de junho de 2010. Ciência Hoje: <http://www.cienciahoje.pt/index. php?oid=8987&op=all> Acesso em 07 de julho de 2010. http://www.e-escola.pt Jornal Sexto Sentido disponível no site: http://www.osextosentido.com.br/jornal%20162/noticias/tapiratiba.html Acesso em 10 de julho de 2010. A contribuição das olimpíadas de matemática na aprendizagem do aluno. Disponível em: http://guaiba.ulbra.tche.br/pesquisa/2008/artigos/matematica/320.pdf - Acesso em 15 de julho de 2010.