15 BAURU, segunda-feira, 1 de dezembro de 2014 Um sapo incomoda muita gente O barulho de sirene a noite é insuportável. Um sapinho das Antilhas invadiu quadras de São Paulo e proliferou tanto que ninguém consegue dormir. Têm até 3 cm e entram em qualquer fresta de casas e jardins. Suspeita: vieram em plantas importadas. Ciência no Dia a Dia - Alberto Consolaro Sepse: o perigo que está em nós! É comum você ouvir que a pessoa morreu por infecção generalizada, septicemia, choque séptico ou que bactérias esparramaram-se B pelo corpo e aí não resistiu! Para todas estas situações atualmente procura-se usar apenas um nome simples: “sepse” (fala-se sépisse). F Este termo vem do grego e significa H putrefação. B Ao antigo nome “septicemia” procurava-se atribuir significados como bactérias proliferando no sanF gue ou esparramando-se no organismo. Tudo que termina em “mia” H implica em ser ou estar no sangue e septicemia literalmente significa B sangue putrefato. Está em desuso o termo septicemia entre especialisNo sangue tem-se bactérias (B) todos os dias, com hemácias (H) e fagócitos (F) tas, pois na verdade representa um quadro iniciado por bactérias, mas térias nos nossos tecidos. biológica que induz nos mecanismos não necessariamente esparramadas pelo Pentear cabelos, escovar dentes, de funcionamento e defesa do corpo. corpo. comer, coçar os olhos, fazer as unhas Fazer voltar à sincronia que é o difícil! Na sepse as bactérias pode ter tido ou sexo criam um monte de microQuando acontece isto nos computadoum papel preponderante no seu desen-ulcerações e introduzimos bactérias no res e celulares recomenda-se que de um cadeamento, mas o que leva à morte é sangue. Mas elas se dão muito mal: no “pau”, um “resetar”, um “del” ou que se a anarquia biológica que provocaram. sangue temos as paredes fechadas dos desligue tudo de uma vez e recomece de Os sistemas do corpo e os mecanismos vasos e uma quantidade incrível de célunovo! No corpo é complicado fazer este de defesa ficam descoordenados e atulas fagocitárias e substâncias antibactetipo de manobra. am cada um a sua maneira, levando à rianas como os anticorpos: em segundos falência do organismo como um todo e ou minutos, eliminam-nas! Este estágio BACTEREMIA à morte. O problema deixa de ser as bactransitório de bactérias chama-se bacteNo corpo temos o meio interno e extérias e passam a ser recuperar a sincroremia e o temos todos os dias! terno, mas não esqueçamos que somos nia dos mecanismos que fazem o orgaum tubo. A luz do esôfago, estômago e nismo voltar a funcionar normalmente. INÍCIO DA SEPSE intestino são meio externo; traqueia e do Quase sempre o paciente envolvido na Bacteremias diárias tiramos de lepulmão também! Sim, somos um tubo sepse vai para uma Unidade de Terapia tra quando os mecanismos de defesa ambulante com dois bracinhos e duas Intensiva e a taxa de mortalidade é alta. funcionam sincronizadamente, espeperninhas como aqueles desenhos de Resumindo: não se usa mais falar cialmente a inflamação e o sistema crianças! No meio interno não se deve septicemia e sim sepse. O problema imunológico. Deficiências nutricionais ter bactérias, fungos e vírus, mas no dia não são as bactérias, mas a anarquia por alimentos inadequados, regimes e a dia é quase impossível não entrar bac- dietas malucas, assim como vida estressante associada a sedentarismo, cigarro, álcool e outras drogas promovem uma falta de efetividade desses mecanismos contra as bactérias do dia a dia. Do mesmo modo, pacientes em terapia contra o câncer, doenças autoimunes, insuficiência respiratória ou renal e cistite também ficam debilitados. Nestes estados o que seria uma bacteremia habitual passa a ser uma contaminação importante e o organismo reage de forma assoberbada, desorganizada ou hiperdimensionada dando origem à sepse, também referida no meio dos especialistas como SIRS ou síndrome da resposta inflamatória sistêmica. PREVENÇÃO Um abscesso dentário, uma injeção contaminada, uma cirurgia simples e procedimentos aparentemente inofensivos como colocar um piercing ou fazer tatuagem podem levar a uma sepse se o paciente estiver debilitado por dieta maluca, por vícios, tomando corticoides ou com vida estressante! Uma avaliação prévia e rigorosa das condições sistêmicas antes de qualquer procedimento que exponha o meio interno do corpo ao meio externo é fundamental para se evitar este tipo de problema: a sepse! E quanto antes se diagnosticar e tratar, aumenta-se a possibilidade de se salvar! Cuidemo-nos! Alberto Consolaro é professor titular da USP - Bauru. Escreve todas as segundas-feiras no JC. OBSERVATÓRIO Morrem: Dos pacientes com sepse 55,7% morrem nas 229 UTIs pesquisadas pelo Instituto Latino Americano da Sepse. Nos EUA morrem 32%, França 30% e Austrália 18%. Um quarto das vagas de UTIs estão ocupadas por sepse e representa a principal causa de morte. Pacientes e médicos demoram a procurar a UTI. Pesquisa revelou: 44% dos médicos não sabem diagnosticar sepse e apenas 7% dos brasileiros já ouviram falar dela. Tarde demais – Em 40% dos pacientes, já chegam na UTI com sepse. Eles retardam a procura do hospital por ignorância ou comodismo. Os principais sinais são: febre, mal estar, fraqueza, tremores, tontura, falta de ar e diarreia! Quanto mais cedo tratada, muito menor a mortalidade. Comunique-se Email: [email protected]