Universidade do Minho
Curso de Sociologia - 1º ano - 2005/06
Metodologia - 2º semestre
Aula teórica nº - 9 de Maio de 2006
Sumário: a conclusão do debate entre as duas opções
metodológicas (quantitativa/qualitativa)
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

1. A metodologia qualitativa: a noção de validade. As
críticas à metodologia qualitativa. Aspectos positivos.
A análise de dados no qualitativo.
2. Alguns conselhos práticos na investigação
qualitativa.
3. Os objectivos da metodologia quantitativa.
Características, vantagens e desvantagens. Erros a
evitar.
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
1ª Parte - A pesquisa qualitativa
(observação e entrevista)
Texto: Carlos Diogo Moreira, “A pesquisa qualitativa”,
in Carlos Diogo Moreira, Planeamento e estratégias
da investigação social, Lisboa, ISCSP, 1994, pp. 93104
Exemplo de metodologia qualitativa:
“Os fumadores de marijuana” em Os
marginais [Outsiders] de Howard Becker
in Luc Van Campenhoudt, Introdução à
análise dos fenómenos sociais, Lisboa,
Gradiva, 2003, pp. 75-107 [texto discutido na
aula prática de 3 de Maio de 2006].

1. Diferenças entre o
qualitativo e o quantitativo
Duas técnicas principais no
qualitativo:
- Observação participante;
- Entrevista qualitativa ou em
profundidade, semidirectiva ou nãoestruturada.
- [no quantitativo, é o inquérito]


1ª diferença entre qualitativo e
quantitativo: no segundo, são dados
ordinais ou de intervalo que permitem a
estatística; no primeiro, são de tipo
diferente pois remetem para o que os
actores dizem e para a observação das
acções.
2ª diferença: um dado válido não é o
mesmo nas duas metodologias. Há uma
validade interpretativa no qualitativo.

3ª diferença: requere-se um maior
envolvimento com o que se estuda. A
razão não tem apenas a ver com a
noção de DADO mas também com a
forma como a METODOLOGIA É
PENSADA.

Ver o exemplo de um estudo sobre o
comportamento escolar das crianças. O
qualitativo remete para a forma como as
crianças experienciam a escola (CITAR) 1.
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

4ª diferença: no qualitativo, cruzam-se
diferentes técnicas – triangulação;
5ª o qualitativo preocupa-se com os
processos.
6ª defende-se uma visão mais holística,
contextualizada.
7º o qualitativo não dever ser encarado como
uma fase exploratória para depois se entrar
no inquérito.

Duas críticas aos métodos
qualitativos

1º são generalistas

2º são não-verificáveis.



Respostas a estas duas críticas.
1. Generalistas
Esta generalidade inícial não impede de mais
tarde ser sistemático na recolha e
comprovação dos dados.

2. Não-verificáveis.
- “os procedimentos utilizados para obter os
dados não podem ser repetidos em todo o
seu detalhe” (Moreira, 1994: 98).
Difícil porque:
- Podem ocorrer mudanças nas comunidades
- As premissas teóricas podem afectar
- Mas sempre se pode retomar estes trabalhos.
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



Como fazer a ANÁLISE DOS DADOS
QUALITATIVOS?
A importância das impressões nos outros
Desenvolver as capacidades de registo.
Melhorar a forma como se analisa as entrevistas.
Deve-se assegurar uma análise metódica: partir de
categorias analíticas surgidas indutivamente; analisar
sistematicamente as entrevistas e relatos de
observação.
Utilizar programas de computadores para dados
qualitativos.
Ter cuidado com a apresentação dos dados e na sua
análise: ser claro no quadro de análise usado.




3ª Parte - Alguns conselhos
práticos na investigação qualitativa.
Inspirado em: Margarete Sandelowski, The
Qualitative Research Proposal,
in http://www.umich.edu/~qualnet/material/
Sandelowski_on_proposals.ppt
University of North Carolina at Chapel Hill
Investigação qualitativa deve:


Ter criatividade no uso dos métodos e
técnicas
Reflexividade
A metodologia qualitativa baseia-se em:



A “grounded theory” (numa lógica
indutiva) assente na reflexão a partir
dos dados;
A fenomenologia: reflecte a partir da
experiência do actor;
A etnografia para interpretar “culturas”.
Uma pesquisa qualitativa deve:

Conhecer a teoria dessa área

Acentuar o carácter de “tentativa”

Explicar a razão da escolha de uma
determinada técnica
Lógica e aspecto formal

Dizer---> Mostrar--->Dizer

Define--->Aplica--->Dá exemplos

Palavras, números, partes visuais
Fazer introducões

Em todas as partes do trabalho

Teorias, método, amostra ou grupo
estudado, recolha de dados, análise de
dados
Introducão



Para seduzir o vosso leitor
Para o colocar dentro do problema
Deve-se dizer:

Qual é a vossa questão/problema?
 Usar números para caracterizar a sua extensão
e natureza
 Qual a sua importância e significação?
Evitar estes erros de
Metodologia!






O significar não é igual a fenomenologia
Processo não é igual a “grounded theory”
Observação não é igual a etnografia
Obter narrativas não é igual a método
biográfico
Não existe apenas uma forma de obter uma
boa amostra
Triangulação das técnicas não é apenas ter
três técnicas
Quando se usam métodos
diversos

Explicar o porquê e o que se mistura

paradigmas



Mais do que uma perspectiva
Produzir novas descobertas
métodos

Permite obter uma melhor imagem de um
determinado fenómeno
Mais coisas sobre articulação de
métodos:

Triangulação e/ou complementaridade
(técnicas)


Para ter uma boa amostragem
Para confirmar



convergente validade ou triangulação
Para obter uma descrição completa
Para explicar
Amostragem

Defende a tua estratégia de amostragem



Contrastar com a ideia de probabilidade (da
metodologia quantitativa), se necessário (dizer que é
uma outra forma de criar amostragem que também é
válida)
Explica o critério de inclusão e exclusão
Explicar o tamanho

Redundância teórica (é suficiente aquela amostra
para compreender determinado processo) ou
saturação de temas (quando surge a repetição nos
estudos etnográficos, deixa de fazer sentido
continuar a entrevistar).
Validação

Mostra a tua preocupação com a validade na
forma como escreves
Exemplo

In the interview section you might say: In order to


confirm the interpretive validity (Maxwell, 1992) of
findings, participants will be shown a summary of XX
approximately XX weeks after these data were
collected. . .and asked to YY. . .
You will need here to define interpretive
validity, a la Maxwell.
Validação

As técnicas (principalmente os dados
qualitativos) devem ser referidos em
diferentes partes do relatório pois
reforçam a credibilidade das conclusões.
Considerações adicionais





Deves ter repetições estratégicas (repetir a tua ideia
principal em zonas importantes da tese – no começo
das partes principais, etc.)
Procura a ajuda certa (fala com pessoas que
conheçam o assunto)
Dá tempo a ti próprio (não fiques obcecado)
O trabalho preliminar ajuda muito (durante os anos
anteriores do curso, começa a fazer pequenos
estudos, tentativas em áreas que te motivem)
Evitar o jargon/”nomes complicados” Diz o que
tens a dizer de uma forma simples e que tu
entendas
Informação para cada técnica




Nome/tipo ou programa usado
Fim que pretende atingir, informação requerida
Tópicos abrangidos, fenómenos a observar, etc. Incluir
guião, quando é importante.
Como as entrevistas, observações, etc. foram
conduzidas


Incluir como focus grupos foram conduzidos (e.g., discussão do
facilitador, moderador, como responderam a questões, etc.) e
guiões para as questões das entrevistas e focus grupos.
Quando, tendo em conta o fenómeno, foi aplicada.
Outra informação…


Se mais de uma entrevista, qual o seu
número e objectivo
Se outros instrumentos: qual o seu grau
de validade e da respectiva informação.
Análise dos dados



Como foram preparados, catalogados e
analisados
Introducão - referindo as técnicas usadas na
reconfiguração dos dados como a análise
comparativa, de conteúdo ou narrativa; uso das
matrizes de dados.
Incluir citações relevantes: e.g., qualitative
content analysis (Altheide, 1987); constant
comparison analysis (Strauss & Corbin, 1998);
phenomenological thematic analysis (Van
Manen, 1990).
Conselhos finais…


Relembrar sempre o aspecto científico para
validar a tua investigação (evitar SEMPRE a
tua OPINIÃO pessoal)
E, acima de tudo, privilegiar a expressão, a
importância do uso da escrita de uma forma
simples e clara.
Fim
.

3ª Parte - A metodologia quantitativa:
Texto. Carlos Diogo Moreira, “A pesquisa
quantitativa”, in Carlos Diogo Moreira, Planeamento e
estratégias da investigação social, Lisboa, ISCSP,
1994, pp. 149-160

Exemplos:
- o estudo de Durkheim sobre o suicídio na
Europa;
- o estudo de Lazarsfeld sobre o voto
eleitoral nos EUA.


Investigação primária: recolhem-se e
analisam-se dados de fontes primárias
(inquéritos, entrevistas, etc)
Análise secundária: dados oficiais tais
como censos, relatórios, etc.

Na questão da opção pelo quantitativo,
o mais importante define-se logo
nos objectivos e no planeamento
da investigação (logo a seguir à
questão de partida). É aqui que a
técnica do inquérito do questionário se
torna central.

Este investimento na parte inicial da
investigação, implica na parte final
um trabalho muito menos
complexo (ao contrário da
metodologia qualitativa que não implica
um trabalho inicial tão sistemático).






Os objectivos de uma pesquisa
quantitativa podem ser:
1. descritivos (determinação de
factos)
2.analíticos
2.1 teste de hipóteses
2.2 estabelecer relações entre variáveis
2.3 elaboração de modelos

O primeiro tipo - descritivo - é raro.
Desenvolve-se mais na análise
secundária de dados (ver o suicídio de
Durkheim). Ou então com estudos mais
ambiciosos.

No segundo tipo de objectivos
(analíticos) começa-se por fazer uma
distinção capital entre variáveis
dependentes (as mais importantes na
pesquisa) e as variáveis
independentes, explanatórias ou
referenciais.


2.1 teste de hipóteses – já se tem
uma ideia de relação entre variáveis
que se quer testar.
2.2 estabelecer relações entre
variáveis – em vez de se formular
hipóteses, espera-se que as relações
entre variáveis apareçam na fase de
análise. Acentua-se o carácter
exploratório (alguma proximidade com
a metodologia qualitativa)

É perigoso quando se tem amostras
reduzidas: pode-se descobrir uma
variação na amostra que não tem nada
a ver com a população. Ex: o inglês
falado em casa – o efeito da variável
língua na aprendizagem (Moreira, 1994:
151). Solução: arranjar duas amostras
diferentes (inglês e não-inglês).

Nesta componente analítica, pretendese saber como uma variável
dependente Y é influenciada por uma
variável independente X
(dicotomicamente representada).
Normalmente utiliza-se um método nãoexperimental (correlacional e
naturalístico).



Apenas nalguns casos se utiliza o quasiexperimental. Exemplo - ver os efeitos de
um tratamento de delinquentes. Antes e
depois do tratamento. Longitudinais –
acompanha-se antes e depois. Ou pede-se
para descrever o antes. (Moreira, 1991:
154)
É importante não adoptar objectivos muito
ambiciosos.
Deve-se também evitar quatro de erros:a
falta de validade interna; a falta de precisão; a
falta de validade do construto (das variáveis e do
que elas querem dizer); a falta de validade externa.




1 - a falta de validade interna (o efeito
deve-se APENAS à var. ind. X).
2 - a falta de precisão - Ter cuidado com a
confusão entre teste da amostra e dos que
respeitam à população (ver o caso de
amostras pequenas – o exemplo do estudo
sobre a língua inglesa) Ex: filmes (158).
3 - a falta de validade do construto (das
variáveis e do que elas querem dizer)
4 - a falta de validade externa
(generalização dos resultados – a
representatividade da amostra e os
contextos).
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The Qualitative Research Proposal