Four Poems by Cecília Meirelles The Roosters Will Crow (1947)1 Translated from the Portuguese by John Nist and Yolanda Leite The roosters will crow when we die, And a soft breeze, with delicate hands, Will touch the fringes, the silken Shrouds. And the sleep of night will cloud The clear windows. And the crickets, far off, will saw silences: Stalks of crystal, cold long solitudes, And the enormous perfume of trees. 1 Cantarão os galos Cantarão os galos, quando morrermos, e uma brisa leve, de mãos delicadas, tocará nas franjas, nas sêdas mortuárias. E o sono da noite irá transpirando sobre as claras vidraças. E os grilos, ao longe, serrarão silêncios, talos de cristal, frios, longos ermos, e o enorme aroma das árvores. Ah, que doce lua verá nossa calma face ainda mais calma que o seu grande espelho de prata! Que frescura espessa em nossos cabelos, livres como os campos pela madrugada ! Na névoa da aurora, a última estrela subirá pálida. Que grande sossego, sem falas humanas, sem o lábio dos rostos de lobo, sem ódio, sem amor, sem nada ! Como escuros profetas perdidos, conversarão apenas os cães, pelas várzeas. Fortes perguntas. Vastas pausas. Nós estaremos na morte com aquele suave contorno de uma concha dentro da água. Ah, what sweet moon will look upon our calm face, Even yet more calm than her great mirror Of silver. What thick freshness upon our hair, As free as the fields at sunrise. From the mist of dawn, One last star Will ascend: pale. What immense peace, without human voice, Without the lip of wolfish faces, Without hatred, without love, without anything! Like dark lost prophets, Only the dogs will talk through the valleys. Strong questions. Vast pauses. We shall lie in death In that soft contour Of a shell in the water. Motive (1939)2 Translated from the Portuguese by Natalie d'Arbeloff I sing because the moment exists and my life is complete. I’m not happy and I’m not sad: I’m a poet. Fraternal to fleeting things I feel neither pleasure or torment. During all the nights and days in the wind. Whether I build or I destroy, whether I continue or am undone, -- I don’t know, I don’t know. Don’t know if I’m staying or passing through. I know that I sing. And the song is everything. It has eternal blood and rhythmic wings. And one day I know that I’ll be mute: -- that’s all. 2 Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se se -ou desmorono ou se edifico, permaneço ou me desfaço, não sei, não sei. Não sei se fico passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: -- mais nada. Portrait (1938)3 Translated from the Portuguese by Luiz Fernandez Garcia I didn’t have this face then, so calm, and sad, and thin, nor these eyes that are so empty, nor these bitter lips. I didn’t have these weak hands then, so still and cold and dead; I didn’t have this heart then that I hate to bare, today. I was never aware of changing-so simple, so certain, so easy: — In what mirror then was my face lost? 3 Retrato Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: -- Em que espelho ficou perdida a minha face? Contrary Moon (1942)4 Translated from the Portuguese by Natalie d'Arbeloff I have phases, like the moon. Phases to hide myself, phases to walk the street… Perdition! Perdition! I have phases of being yours, and others of being solitary. Phases which come and go, in the secret calendar invented for me by an arbitrary astrologer. And melancholy goes round and round its interminable time-table! I don’t connect with anyone (I have phases like the moon…) A day that someone is mine is not the day that I am theirs… And, when that day does arrive, the other has disappeared. 4 Lua Adversa Tenho fases, como a lua. Fases de andar escondida, fases de vir para a rua… Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases como a lua…) No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua… E, quando chega esse dia, o outro desapareceu…