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EXPANSÃO
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4 de Julho 2014
ENTREVISTA
Maria João Almeida Presidente da Comissão Executiva do Banco Keve
“Fraca qualidade de informação das
empresas é um risco para a banca”
A primeira mulher presidente de um banco no País fala do actual momento da banca angolana, desafios e riscos,
numa entrevista em exclusivo, e pela primeira vez, ao Expansão. Para a PCE do Banco Keve, são poucas as
empresas que apresentam contas auditadas, o que tem complicado, sobretudo, a análise de risco de crédito.
EXPANSÃO
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situação do crédito vencido é uma
“ Asíndrome
que afecta a banca em geral,
e o banco não está alheio a esta situação.
Temos procurado reduzir o nível
de crédito vencido e acompanhar
de perto a sua carteira”
Texto FRANCISCO DE ANDRADE
Fotos TOM CARLOS
Como caracteriza o sector
bancário angolano e que avaliação faz sobre o seu desempenho?
O sector bancário angolano
mantém o seu ritmo de crescimento gradual, influenciado
principalmente pela estabilidade macroeconómica e adopção
de instrumentos de política monetária eficaz que garantem a expansão, sustentabilidade e controlo do mercado financeiro.
Continua altamente atractivo,
apresentando níveis de rentabilidade aceitáveis, evidenciados
com o aumento do nível de activos em 12%, os recursos em 17%,
o crédito à economia em 16% e os
resultados em 4,4% comparativamente ao ano de 2012.
Quais são para si os principais
desafios que a banca no País
ainda terá de enfrentar?
Com o nível de crescimento que a
banca tem apresentado, os grandes desafios serão o aumento de
investimentos na capacitação do
capital humano e na inovação
tecnológica, adopção de políticas
de compliance internacionalmente aceites, fortalecimento
contínuo da regulamentação
aplicável ao sector financeiro nacional, sofisticação e diversificação dos produtos oferecidos, melhoria no sistema de controlo interno e da gestão de risco.
E quais os principais riscos?
Como em qualquer sector de actividade, existem alguns riscos
envolventes, e a banca não está
alheia a este problema. Sendo os
principais riscos os ligados à actividade diária das instituições, o
risco operacional, nas decisões
de investimento em crédito, risco de crédito, nas alterações da
conjuntura económica do mercado, risco de mercado e de liquidez. Não menos importante, e
dentro do risco de crédito, é a fraca qualidade de informação financeira produzida pelas empresas, mas é notável a melhoria
neste campo onde a banca desenvolve também um papel pedagógico. Poucas são as empresas no
mercado que apresentam contas
auditadas, e isto gera muitas dificuldades na análise de risco de
crédito.
“O Banco Keve
está apostado
na sua estratégia
de negócio, no seu
mercado-alvo, que
são as pequenas e
médias empresas”
Como é que o Banco Keve encara a concorrência existente
no mercado?
O Banco Keve está apostado na
sua estratégia de negócio, no seu
mercado-alvo, que são as pequenas e médias empresas (PME).
Temos desenvolvido valências
suficientes que nos deixam auto-
confiantes e cada vez mais fortes
em enfrentar as novas tendências do mercado.
Aspiram fazer parte do top five da banca local?
O banco está focalizado no seu
objectivo basilar que é construir
uma instituição cada vez mais
sólida e transparente ao serviço
dos seus clientes, ser um banco
de cultura angolana e uma referência para o sistema financeiro
angolano e internacional.
Quais são as áreas e segmentos de negócios prioritários
para a actividade do banco,
para além de se focar nas
PME?
O banco privilegia o segmento
das pequenas e médias empresas, mas além disso tem conquistado o segmento de private
e de grandes empresas, garantindo maior proximidade com
o cliente.
Faz parte da estratégia do Keve aliar-se a outras instituições dentro do sector financeiro ou fora dele?
Faz parte da estratégia do banco
desenvolver sinergias dentro ou
fora do sector financeiro, de forma a diversificar a sua carteira de
negócios. Prova disto é a nossa
parceria com a seguradora Global Seguros SA, que tem sido uma
mais-valia, tendo em conta o
crescimento do mercado de seguros em Angola.
Estará nas vossas previsões
um eventual aumento de capital social, face aos desafios
que a própria dinâmica do
mercado impõe?
O banco tem empreendido um
conjunto de acções com o objectivo de fortalecer a sua base de
fundos próprios. Prova disto, em
2012 procedemos à emissão em
títulos de dívida privada de 20
milhões USD, designados corporate bonds. A partir de então, o
banco adoptou uma política de
retenção de resultados. Nesta altura, os fundos próprios do banco cifram-se em cerca de 10 mil
milhões Kz, o que consideramos
suficiente para sustentar o crescimento do banco, nos próximos
tempos.
“O sector bancário serve de âncora
para os propósitos definidos no PND”
Qual é a disponibilidade que
o Banco Keve tem em apoiar
o crescimento económico de
Angola?
O banco desde sempre posicionou-se como um parceiro activo na promoção do crescimento da economia angolana, no
apoio a bancarização (Bankita), no financiamento a economia (Angola Investe) e na diversificação dos sectores da actividade (acordo assinado com
o BDA). Para além disto, o banco no âmbito das suas políticas
de responsabilidade social, tem
apoiado os serviços socioculturais, assistência continua ao
programa do combate do HIV
Sida e apoios em outros projectos de impacto social.
Até ao momento quanto é
que já disponibilizaram de
crédito a economia?
No ano de 2013 a carteira de
crédito do banco situava-se nos
40.708 milhões Kz, o que representou um aumento da carteira em 29% comparativamente ao ano de 2012.
E qual é a previsão para este
ano?
Vamos continuar a financiar a
economia, desde que os promotores (empresários) apresentem projectos bem estruturados que garantam viabilidade e
sustentabilidade. Dentro da
política de proximidade ao
cliente, prevemos abrir mais
três agências. Dinamizar os
nossos serviços de banque assurance, no âmbito da parceria
estratégica com a Global Seguros, tornando as nossas agências em modelos de one- stop
point of contact para melhor
servir os nossos clientes que
procuram os serviços bancários e de seguros.
O crédito malparado na banca tem vindo a crescer. Qual
é a real situação do Keve?
A situação do crédito vencido
é uma síndrome que afecta a
banca em geral e o banco não
está alheio a esta situação. O
banco tem procurado reduzir
o nível de crédito vencido e
acompanhar de perto a sua
carteira. Temos adoptado uma
política de reforço de provisão
em linha com os actuais níveis
de exposição da carteira de
crédito. A actual conjuntura
do processo de pagamentos do
Estado tem impacto na nossa
carteira de vencido, uma vez
que o banco concedeu créditos
a algumas empresas ligadas ao
sector público.
O que mudou no Keve com o
actual regime cambial aplicável ao sector petrolífero?
É mais um desafio para o sector
bancário em geral e em particular para o Banco Keve atendendo à especificidade deste sector.
De modo a fazer face ao mesmo,
o banco criou um departamento específico designado Oil &
Gas com uma equipa altamente
qualificada e especializada para
um atendimento e acompanhamento personalizado às empresas do sector petrolífero, que
garantem a segurança e rapidez
na execução das transacções
bancárias.
O que pensa da reforma tributária em curso no País, sobretudo no que diz respeito
ao sector bancário?
A reforma tributaria esta alinhada ao Programa Nacional
de Desenvolvimento (PND) de
2013-2017, que tem como ob-
jectivo reduzir a dependência
do sector petrolífero para o PIB
e assegurar a sustentabilidade
das contas do Estado, através
“A actual
conjuntura
do processo
de pagamentos
do Estado tem
impacto na nossa
carteira de
vencido, uma vez
que o banco
concedeu créditos
a algumas
empresas ligadas
ao sector público”
do saldo primário não-petrolífero, designadamente os impostos e outros tributos estatais. Isto contribui para diminuição da exposição da economia angolana a crises e desaceleração económicas externas
justificadas pela dependência
em grande medida do PIB as receitas petrolíferas e na diversificação da economia. E o sector
bancário serve como âncora
para que os propósitos definidos pelo Executivo angolano se
materializam de forma sólida e
concreta.
Alguns players consideram
que será negativo para os
bancos o aumento da carga
fiscal…
Dado o novo estágio macroeconómico em que se encontra a
economia angolana, não achamos que seja premente o aumento da carga fiscal. O ideal é
criar políticas que desincentivem a fuga ao fisco e o mau apuramento dos impostos pelas repartições fiscais. Para um aumento da carga fiscal deve ser
analisado todos os pressupostos e repercussões que nele podem advir.
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EXPANSÃO
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4 de Julho 2014
ENTREVISTA
Maria João Almeida Presidente da Comissão Executiva do Banco Keve
feito uma boa gestão
“ Temos
[na questão cambial] das
Uma mulher da banca
solicitações de pagamentos
e outros compromissos
assumidos no estrangeiro
pelos nossos clientes.
As aquisições feitas através
do BNA permitem ao banco
satisfazer a demanda”
Licenciatura em Economia na especialidade de Gestão, pela Universidade
Agostinho Neto, e pós-graduação em Gestão Bancária pela Universidade
Católica de Portugal, Maria João Almeida é natural de Luanda. Nas suas habilitações profissionais constam, dentre vários, o curso de Liderança e
Gestão de Equipas pela Universidade Nova de Lisboa e o de Admissão à Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas pela Ordem dos Revisores
Oficiais de Contas de Portugal, feitos em 2009 e 2010 respectivamente. Já
desempenhou as funções de técnica superior de contabilidade no Banco
Totta de Angola em 2005 e de directora de contabilidade e administrativa
do Banco Keve, em 2010. Foi ainda no Keve administradora executiva.
“O Angola Investe é um dos caminhos a seguir
para o combate aos problemas sociais”
Que opinião tem sobre as novas regras cambiais que o banco central tem vindo a implementar?
O Banco Nacional de Angola
(BNA), como órgão regulador do
mercado bancário, tem empreendido esforços suficientes e
utilizado instrumentos de política monetária imprescindíveis
para manter a estabilidade macroeconómica. Acredito que as
novas regras cambiais que o banco central tem implementado estão em consonância com os objectivos definidos inicialmente,
que passam pela desdolarização
da economia, consolidação do
kwanza, enquanto instrumento
de troca e reserva de valores, assegurar a estabilidade dos preços
e garantir o estado saudável das
reservas externas.
A entrada em vigor, há bem
pouco tempo, de um normativo do BNA sobre a importação
de divisas por parte dos bancos está a criar alguns embaraços a algumas instituições,
que começam a ter problema
em satisfazer as solicitações
de divisas, sobretudo dólares,
por parte dos cidadãos. Será
também o caso do Keve?
Não é o nosso caso. Temos feito
uma boa gestão dos tempos de
resposta às solicitações de pagamentos e outros compromissos
assumidos no estrangeiro pelos
nossos clientes, e as aquisições
feitas através dos leilões do BNA,
que neste momento estão num
nível razoável, permitem ao banco satisfazer a demanda dos
clientes sem constrangimentos.
Por outro lado temos feito um
trabalho de sensibilização junto
dos nossos clientes por forma a
reduzirem as solicitações de levantamentos de notas em moeda
estrangeira e como alternativa
temos à disposição as transferências interbancárias em moeda estrangeira e a emissão de cartões de crédito Visa para as viagens fora do País.
O nível de inflação tem influência no comportamento
das taxas de juros. A queda da
inflação que se vem registando já está a mexer com o Banco
Keve neste particular?
A taxa de juro é constituída por
uma serie de factores, incluindo
a taxa de inflação, e a sua descida
tem exercido uma certa pressão
na descida das taxas de juro ao
nível da banca. O Banco Keve
dará o seu contributo nesse sentido.
Espera-se pelo arranque da
Bolsa da Dívida e Valores de
Angola (Bodiva) ainda este
ano. Haverá algum interesse
do Keve nisto?
A Bolsa da Dívida e Valores de Angola é mais um dos desafios da
evolução do sector financeiro angolano, e serve como motor catalisador na atracção de investimentos e captação de poupanças. É do
interesse do banco participar
como parceiro na dinamização
deste mercado, até porque o banco já está registado na Comissão
de Mercados de Capitais (CMC).
Que opinião tem sobre o Programa Angola Investe?
Vem criar um ambiente propício
para o fomento do sector empresarial nacional em linha com as
grandes orientações para o desenvolvimento do País. Com a facilitação do acesso ao financiamento às MPME, o Angola Investe estará a contribuir para o
desenvolvimento de um sector
empresarial privado dinâmico,
abrangente e forte, que contribua cada vez mais para o crescimento do PIB, promovendo a
produção nacional, incentivando o consumo do “Feito em Angola”, consequentemente reduzindo a dependência da importação. Este programa, sem dúvida,
constitui um dos caminhos a seguir para o combate aos problemas sociais, a redução da pobreza, com a criação de emprego e do
auto-emprego.
Qual tem sido a participação
do vosso banco neste programa?
O Banco Keve tem tido uma boa
participação no programa. Com
muita satisfação temos acompanhado a implementação de projectos financiados e dos resultados que se esperam alcançar. Estamos optimistas que no decurso deste ano será possível enquadrar no programa mais projectos que cumpram com os
requisitos exigidos pelo programa e com os critérios de elegibilidade do banco. A nossa participação no Programa Angola Investe vem permitir ao banco dar
o seu contributo, através do seu
serviço de intermediação entre
o Governo e o empresariado nacional, proporcionando a auto
realização do empresário e o
cumprimento dos objectivos
traçados para o programa Angola Investe.
Até ao momento, quantas
propostas de projectos para
financiamento receberam,
quantas foram aprovadas,
quantos já foram financiados
e qual é o valor do financiamento?
Temos aprovado um total de
1.578 milhões Kz para projectos
que se inserem no sector da indústria transformadora e da
agricultura, pecuária e pesca.
Sendo que foram desembolsados 811 milhões Kz. Contamos
até ao início do segundo semestre de 2014, se todo o processo
de formalização correr conforme previsto, poder desembolsar
os restantes projectos aprovados. Importa referir que nesta
altura temos em fase de análise
para decisão um total de 473 milhões Kz repartidos pelos sectores da indústria transformadora, agricultura, pecuária e pescas. Foram criados 186 postos de
trabalho e mais serão criados
nos próximos meses. Dos projectos financiados, 75% são projectos que se inserem no sector
da indústria transformadora, e
os restantes 25% dividem-se
pela agricultura, pela pecuária e
pela pesca.
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ENTREVISTA - Banco Keve