Tópicos Especiais em Economia
e Gestão da Saúde
Residente Esther Grizende Garcia
Economista, pós-graduada em Gestão,
Acreditação e Auditoria Hospitalar.
Residência em Economia e Administração
[email protected]
Tel. 4009-5172
4) Análise e Modelos Econômicos
4.1) Demanda por Capital de Saúde: Modelo de
Grossman
4.2 ) Análise econômica
4.2.1) Análise de custo-benefício
4.2.2) Análise de custo-efetividade
4.2.3) Análise de custo-utilidade


Grossman (1972) usou a teoria do capital
humano para explicar a demanda por saúde;
Na teoria do capital humano os indivíduos
investem em si mesmos através de
educação, treinamento e saúde para
aumentar a sua renda.
Pressupostos do modelo
O consumidor não deseja tratamento médico, mas
sim saúde (H). O tratamento médico é um insumo
para produzir saúde;
O consumidor produz saúde combinando insumos
médicos com o seu tempo disponível;
A saúde pode ser analisada como um bem de
investimento e de consumo:
Bem de consumo: a saúde é desejada porque dá satisfação ao
consumidor;
Bem de investimento: a saúde é desejada porque aumenta o
número de dias saudáveis, aumentando o estoque de saúde (H)
e, consequentemente, o nível de renda.
Investimento em capital em saúde:
Formalmente, a produção de saúde (H) pode ser expressa:
H = H (TH,M, E, A)
TH = Tempo gasto com a saúde
M = Insumos de saúde (serviços médicos, medicamentos,
etc..)
E = Educação
A = Idade
 O indivíduo, além de produzir saúde usa também o tempo
(TB) para produzir outros bens e serviços (B):
B = B (TB ,X, E)
TB = Tempo gasto na produção de outros bens e serviços
X = fatores produtivos (serviços, matéria-prima…);
 A utilidade do indivíduo (U) resulta unicamente do
consumo de outros bens (B) e do seu estoque de saúde (H):
U = U (B, H)

Pressupostos do modelo
 O consumidor pode alocar seus recursos na
compra de insumos à saúde (M) ou insumos
para produção de bens domésticos (X);
 A saúde é um estoque (H), tendo duração de
vários anos. O estoque de saúde está também
sujeito a depreciação de cada período (a taxa de
depreciação diferirá de pessoa para pessoa);
 Esta taxa de depreciação do estoque de saúde é
crescente de acordo com a idade da pessoa.
Pressupostos do modelo
 Idade
◦ O modelo conclui que a taxa de depreciação evolui com
a idade do indivíduo;
◦ Como o estoque de saúde se deprecia mais rapidamente,
o investimento bruto realizado tenderá a ser maior
(idosos compram um volume maior de serviços médicos).

Salário
◦ Ganhos reais de renda levam a um aumento do estoque
de saúde. O indivíduo agora poderá ter mais renda para
investir mais na produção de saúde;
◦ Deve-se esperar que os indivíduos com maiores taxas de
salários tenham maior estoque de saúde.
Pressupostos do modelo
 Educação
◦ A educação é vista como um fator que
aumenta a eficiência com que um indivíduo
produz investimentos em saúde e outros bens
de consumo;
◦ Assim, um indivíduo com maior educação irá
escolher um estoque de saúde mais elevado;
◦ Para igual taxa de depreciação do estoque de
saúde, isto significa uma maior procura de
cuidados médicos por parte de indivíduos
com maior educação.


Nas suas escolhas, o indivíduo defronta com uma
restrição: tempo disponível.
Esse tempo total pode ser distribuído em várias
atividades:
◦ Trabalho, para obter rendimento - TW;
◦ Tempo para produção de saúde - TH;
◦ Tempo de lazer (ou de produção de consumo de outros
bens) - TB;
◦ Tempo perdido devido à falta de saúde – TL;
T = TW + TH + TB + TL = 365 dias
ou TW + TH + TB = 365 - TL
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

A saúde é um bem produtivo
que gera um único produto:
dias saudáveis;
Se
o
indivíduo
estiver
doente, a sua dotação de
dias de trabalho é menor;
Quanto maior o estoque de
saúde, maior o número de
dias saudáveis, até o limite
máximo de 365 dias;
Se o estoque de saúde descer
abaixo de um valor mínimo
(Hmin), o indivíduo morre;

O MODELO pressupõe um conjunto de
decisões simultâneas para o indivíduo:
◦ alocar o tempo entre trabalho e lazer;
◦ dividir o tempo restante de lazer na produção
de saúde e de outros bens;
◦ dividir o rendimento gerado entre bens
intermediários para a produção de saúde
(medicamentos e serviços de saúde) e de
outros bens;
O problema de escolha a ser
resolvido pelo consumidor:
Max U = U (B, H)
sujeito a: B = B (TB ,X, E)
H = H (TH ,M, E, A)
TB + TH + TW + TL = T
w . TW = p.X + M
TL = f(H)
Simplificando:
Max U = U (B, H)
sujeito a: B = B (TB ,X, E)
H = H (TH ,M, E, A)
w . T = w . f(H) + w TH + w TB + p.X
+M
As
3
restrições
definem um conjunto
de possibilidades de
produção de outros
bens de consumo (X) e
de saúde (M)
Conjunto de possibilidades
de produção de saúde e de
consumo
Variando
H
determina-se
diversos pontos da fronteira de
possibilidade de produção;
É necessário que H > Hmín para
que
o
indivíduo
tenha
capacidade
de
ganhar
rendimento
e
tempo
para
produzir o bem de consumo;


Se H descer abaixo de Hmín
não há dias saudáveis para
produzir
o
bem
de
consumo;
Quando o nível de saúde é
ainda baixo (pouco acima de
Hmín) temos um movimento
em que o uso de mais
tempo para produzir saúde
permite obter:
◦ mais rendimento;
◦ menos
dias
de
incapacidade, e logo mais
renda para produzir (quer
mais saúde, quer mais
bem de consumo).


A partir de certa altura, para
produzir mais saúde o custo
em termos de tempo não é
compensado pelo aumento
de dias de saúde disponíveis
para o trabalho, tornandose necessário sacrificar bens
de consumo para obter
saúde;
Impondo preferências sobre
este
conjunto
de
possibilidades, determinase o ponto ótimo de
produção de saúde, o que
por sua vez determina a
procura
de
cuidados
médicos. (Gráficos a seguir)

Se a saúde for apenas um
bem de investimento (só
serve para garantir mais
rendimentos ou ganhos),
sem qualquer valor como
bem de consumo, o ponto
escolhido que maximiza o
bem de consumo será o
ponto A.

Se a saúde também tiver
aspectos
de
bem
de
consumo,
o
indivíduo
sacrifica algum consumo
relativamente ao máximo
possível, para obter saúde
adicional.
Evidência Empírica

Sickles e Yazbeck (1998): estimaram um modelo
estrutural da produção de saúde que examina a
demanda por lazer e a demanda por consumo de
pessoas idosas do sexo masculino
◦ Resultados: tanto o consumo de assistência à saúde quanto
o de lazer tendem a melhorar a saúde. Um aumento de 1%
no consumo de insumos relacionado à saúde aumenta em
0,03% a 0,05% o estoque de saúde.
Considerações Finais
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
O modelo é o referencial teórico mais significativo para a
descrição da produção de saúde;
A saúde é considerada como um bem produzido por cada
indivíduo, usando tempo, bens e serviços adquiridos no
mercado;
O modelo coloca em evidência que a procura de cuidados
médicos é uma procura derivada, em que o objetivo último
é a procura de saúde.


Aspectos importantes a serem considerados a fim de
permitir a adequada avaliação, interpretação,
generalização e aplicabilidade de estudos de
avaliação econômica:
Indagação científica
◦
◦
◦
◦
◦
Qual o objetivo do estudo?
Qual o tipo de análise econômica realizado?
Quais as alternativas que estão sendo comparadas?
Qual a hipótese do estudo?
Qual a perspectiva da análise?
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
Validade Interna
◦ características da população em estudo;
◦ evidências da efetividade das intervenções;
◦ aspectos dos custos das alternativas e suas conseqüências;
◦ unidades utilizadas para medir efetividade e custo;
◦ aplicação de controle para diferenças no tempo, taxa de
desconto.
Inferência estatística
◦ Foi feita análise de estatística inferencial?


Validade Externa
◦ As estimativas da efetividade e dos custos das intervenções
são semelhantes às observadas em outras populações?
◦ É esperado que a proporção relativa do custo e da
efetividade entre as alternativas avaliadas seja mantida em
outras circunstâncias?
Aplicabilidade
◦ As intervenções estudadas são relevantes para outras
realidades?
A avaliação das diversas intervenções em saúde, tanto sob a
perspectiva clínico-assistencial quanto de políticas de saúde,
pode ser descrita em etapas:
◦ Efetividade: capacidade de se promover resultados
pretendidos;
Conseguir fazer!
◦ Eficácia: relação entre os resultados obtidos e os objetivos
traçados quando aplicados em condições ideais;
Fazer de forma certa!
◦ Eficiência: relação entre resultados obtidos e os recursos
empregados;
Fazer de forma certa com os menores custos!
Custo-efetividade;
Custo-benefício;
Custo-utilidade.
É a habilidade de obter
o melhor resultado ao
menor custo!
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

“A eficiência econômica existe quando a economia aproveita
todas as oportunidades para extrair o máximo de benefícios
por meios voluntários.” (FOLLAND; GOODMAN; STANO;
2008)
As técnicas de avaliação econômica de programas na saúde
para medir o nível de eficiência são:
◦ Análises de Custo-benefício;
◦ Custo-efetividade;
◦ Custo-utilidade.
Característica comum: conceito de custo de oportunidade
◦ quanto maior for a escassez de recursos, maiores serão
os custos de oportunidade de determinada decisão.
◦ o custo de cada linha de ação deve ser medido pelo
sacrifício do uso alternativo mais próximo dos recursos
reunidos.
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
Permitem avaliar o quanto a sociedade está disposta a
pagar pelos benefícios de programas ou políticas de
saúde;
Têm por objetivo mostrar a relação entre os custos
totais de cada programa e os benefícios diretos e
indiretos gerados.
Nas análises de custo-benefício, atribui-se aos
benefícios ou impactos de uma ação em saúde um
valor monetário. Os resultados destas análises são
apresentados em benefícios líquidos (benefícios da
intervenção menos os custos da intervenção);
“É socialmente rentável investir no projeto x?” e “dados
os projetos x e y, qual é o mais rentável socialmente?”.

Metodologia:
◦ Aplicação de questionário com cenários hipotéticos de
saúde e terapias em questão;
◦ Os indivíduos devem escolher o valor máximo que estão
dispostos a pagar pelo benefício oferecido ou aceitar pelo
benefício removido.
Dificuldades: transformação monetária do benefício clínico
◦ Quanto vale, em termos monetários, salvar uma vida?
◦ Qual é a inclinação/disposição da sociedade a pagar para
reduzir a probabilidade de morte?
◦ A vida de uma pessoa idosa vale tanto quanto a vida de
uma criança?
◦ É verdadeiro atribuir valores monetários diferentes a uma
vida com limitações físicas e uma vida sem incapacidade?

Não se atribui valor monetário aos impactos das
intervenções em saúde;
◦ Ao invés de valores monetários, os impactos são
medidos considerando o efeito natural mais apropriado
ou unidades físicas;
◦ Unidades de medição para estes estudos podem incluir
número de doenças evitadas, internações prevenidas,
casos detectados, número de vidas salvas ou anos de
vida salvos;
◦ A unidade de medida selecionada deve ser aquela com o
impacto mais relevante para a análise.

Comparam duas (ou mais) estratégias alternativas;

Escolha da melhor estratégia para atingir um determinado
objetivo

As alternativas competem entre si, não podem ser
implementadas
concomitantemente
(estratégias
excludentes)
Exemplo de razão de custo-efetividade
Programa Custo ($) Expectativa de vida Razão média de custo-efetividade
A
R$ 37
29,99
R$ 1,23 / ano de vida
B
R$ 14
29,98
R$ 0,46 / ano de vida
Curva de distribuição das razões de custo-efetividade (C/E)
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


Considera a medição de qualidade de vida relacionada com
a saúde (aplicação para doenças crônicas);
As análises de custo-utilidade constituem uma forma mais
refinada das análise de custo-efetividade, nas quais esta
última é expressa em termos de duração e da qualidade da
sobrevida obtida pelos diversos tipos de intervenção
médica;
A unidade de medida da utilidade do paciente é a
expectativa de vida ajustada para qualidade ou anos de vida
ajustados pela qualidade (AVAQ) ou QALYs do inglês
quality-adjusted-life-year.;
Requerem a elaboração prévia de estudos específicos para
identificar a quantidade de AVAQ’s correspondentes a cada
tipo de tratamento em questão;
◦ O formulário utilizado no “Estudo de Desfechos Clínicos”
conhecido como Short-Form (SF-36) avalia oito domínios
(físico, mental, social, dor, energia e vitalidade,
problemas físicos, problemas emocionais e percepção de
saúde) e tem sido muito empregado em ensaios clínicos.
“Qual é a forma mais custo-efetiva para proporcionar melhor
e mais longa sobrevida ao paciente?”
Programa Custo ($) Expectativa de vida Qualidade de vida
A
R$ 10.000
5,6
0,80
B
R$ 5.000
4,1
0,90
AVAQ
4,48
3,69


7) Explique o papel da educação no modelo de
Grossman.
8) Quais as diferenças entres os tipos de
análises econômicas de eficiência (custo
benefício, custo-efetividade e custo-utilidade)?
BRASIL. Ministério da Saúde. Avaliação de
tecnologias em saúde: ferramentas para a
gestão do SUS.Brasília, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Avaliação
econômica em saúde: desafios para gestão no
SUS. Brasília, 2008.
PIOLA, S.; VIANNA, S. Economia da Saúde:
conceito e contribuição para a gestão da
saúde. Brasília, IPEA, 1995. (cap. IV e V).
FOLLAND, S.; GOODMAN, A. C.; STANO, M. A
economia da Saúde. 5ª Edição. Porto Alegre:
Bookman, 2008.
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Análise e Modelos Econômicos por Esther Grizendi