O ENSINO INTERDISCIPLINAR DE FÍSICA E MATEMÁTICA NO PIBID Bruno Francisco Andrade da Silva Eliclecia Roberta Silva de Melo Emerson Ferreira Gomes Tuyani Patrícia Oliveira Lira Na escola, ainda predomina uma prática pedagógica meramente multidisciplinar, sem que se leve em consideração a relação que existe entre as disciplinas. Nessa prática, cada disciplina compete por seu espaço e seus objetivos particulares, distanciando-se do diálogo com outras disciplinas (PERNAMBUCO, 2008, p.42). Consequentemente, na sala de aula, são mais frequentes os questionamentos sobre a aplicabilidade dos conteúdos que estão sendo ensinados, particularmente nas aulas de matemática e física. Nessas disciplinas, muitos alunos não constroem uma aprendizagem significativa. Um dos motivos seria a falta de diálogo entre as mesmas. No ensino de física, não é interessante diferenciar ou dissociar completamente as partes matemática e física de um problema proposto, mas, infelizmente, tal dissociação encontra-se altamente presente nas metodologias dos docentes, na experiência dos alunos e na resolução de problemas de Física. De acordo com Pietrocola (2002), a matemática é estruturante do pensamento físico. Da mesma maneira, com o objetivo de evidenciar o profundo relacionamento entre o conhecimento físico e o matemático, o matemático/físico/filósofo francês Henri Poincaré argumentou que “... o matemático não deve ser para o físico um simples fornecedor de fórmulas; é preciso que haja entre eles uma colaboração mais íntima. A física-matemática e a análise pura não são apenas potencias limítrofes, que mantêm relações de boa vizinhança; penetram-se mutuamente e seu espírito é o mesmo.” (POINCARÉ, 1995, p.90). Segundo Neto (2011, p.46) “a interdisciplinaridade é compreendida de forma geral como uma intercomunicação entre as diferentes disciplinas do currículo escolar”. Desta forma, é importante que a matemática e a física não sejam ensinadas de forma isolada, como se fossem independentes. É comum que o estudante se interesse por uma aula de física quando a abordagem é mais conceitual, mas normalmente se desinteressa quando há necessidade de conhecimentos matemáticos para o desenvolvimento de algum raciocínio físico ou para a resolução de algum problema. Assim sendo, os professores que optarem por usar a interdisciplinaridade deverão apresentar aos seus estudantes o que há em comum, dentro do tema abordado, entre as disciplinas de matemática e física. A prática da interdisciplinaridade não visa à eliminação das disciplinas, já que o conhecimento é um fenômeno com várias dimensões inacabadas, necessitando ser compreendido de forma ampla (GARRUTTI e SANTOS, 2001). A interdisciplinaridade permite uma dinamicidade entre as disciplinas, fazendo com que os estudantes desenvolvam os seus conhecimentos de diferentes formas, pois os mesmos poderão perceber que cada conteúdo não existe isoladamente, podendo aparecer em diferentes áreas. Por exemplo, a função horária da posição para o movimento uniforme, s (t)=s 0 +vt , se trabalhada de maneira interdisciplinar, pode ser vista também na matemática como uma função do primeiro grau: f ( x )=ax+b . Podemos notar que a interdisciplinaridade é uma atividade relativamente rara na educação. Apesar de ser defendida por muitos professores, ela é pouco utilizada em sala de aula. Para que a prática da interdisciplinaridade ocorra, de fato, requer-se que haja uma mudança na formação inicial e continuada dos professores, nos métodos de avaliação dos discentes, nos livros didáticos, etc. Ou seja, em todo o sistema educacional. Com base no exposto, os autores deste trabalho foram motivados a atuar de forma interdisciplinar durante algumas aulas de matemática na escola conveniada, em Caruaru-PE. Buscamos minimizar a falta de base dos alunos em alguns conteúdos matemáticos para o aprendizado de física. Este artigo socializa essa experiência. Apesar da evolução da matemática para suprir as necessidades sociais, científicas e tecnológicas, a forma com que a mesma vem sendo ensinada, perdendo a ligação com as demais ciências, sobretudo a Física, e fora do contexto moderno, parece não ter significado, passando a ideia de ser uma disciplina estática, sem utilidade, e até mesmo sem nenhum motivo para ser aprendida. Segundo D’Ambrosio (1999, p. 97), “um dos maiores erros que se pratica em educação, em particular na Educação Matemática, é desvincular a matemática das outras atividades humanas”. Diante de diversas dificuldades encontradas no ensino e aprendizagem nas aulas de matemática, várias pesquisas vêm sendo realizadas sobre recursos didáticos que auxiliem o professor em sua metodologia. Beatriz D’Ambrósio (1989), Cavalcanti (2007), D´Ambrosio (1993), Dante (1991), Grando (2000), Lorenzato (2006) e Fossa (1998) deram suas contribuições, tendo como principal objetivo facilitar o ensino e a aprendizagem, como também despertar o interesse dos alunos em aprendê-la, de forma a construir uma aprendizagem com significado e atraente. Dentre esses recursos didáticos estão as tendências no ensino da matemática. Fossa (1998) considera que essas tendências podem ser agrupadas em: Jogos, História da Matemática, Materiais Manipuláveis, Etnomatemática, Computadores, Modelagem e Resolução de Problemas. Para a atividade que será socializada neste artigo trabalhamos com a resolução de problemas. Assim, faz-se necessária uma breve explanação sobre esta metodologia. A partir da resolução de problemas, os alunos se deparam com situações-problema que despertam sua curiosidade matemática e exigem desenvolvimento do raciocínio. Os educandos se questionam e pensam sem ajuda direta do professor, aproximando assim a Matemática de seu cotidiano. Durante a resolução de problemas, o professor incentiva, apoia e orienta os alunos. Estimula os discentes a fazerem perguntas e criarem estratégias, favorecendo a compreensão e a construção da resolução do problema. Há o destaque das informações pertinentes e o esclarecimento das dúvidas para resolverem o problema. Há o incentivo aos alunos a desenvolver seu raciocínio. Há a socialização e a comparação com as soluções encontradas por outros alunos. Há ênfase no processo de resolução, e não na resposta correta dada imediatamente. São exemplos de como o professor pode dialogar com a classe, extraindo dos próprios alunos as estratégias para solucionar o problema, desenvolvendo no aluno o senso crítico e a capacidade de resolver situações desafiadoras. Desta forma, percebe-se que, nesta metodologia de ensino, o professor passa de mero comunicador de conhecimento para, como diz Souza e Nunes (2004), observador, organizador, consultor, mediador, controlador, incentivador da aprendizagem. Esta tendência propicia aos alunos interpretar a questão, estruturar todas as informações disponibilizadas na mesma, desenvolver várias possibilidades de resolver o mesmo problema, e verificar as soluções obtidas. Trabalhamos com duas turmas de oitavo ano. Inicialmente, buscamos os conteúdos matemáticos que estavam sendo vivenciados em sala de aula e, a partir daí, relacionamos um desses conteúdos a um conteúdo de física. O conteúdo matemático escolhido foi “semelhança de figuras”, e o conteúdo físico que associamos a ele foi “formação de imagens”. A partir disso percebemos que uma tendência matemática adequada para relacioná-los seria a resolução de problemas. Trabalhamos com o experimento da câmara escura (veja Figura 1), com as duas turmas de 8º ano separadamente. Iniciamos com uma abordagem sobre o conteúdo físico escolhido – “formação de imagens”. Logo após, dividimos a turma em grupos para que construíssem a câmara escura, com material de baixo custo. Os alunos se envolveram bastante com a atividade. Figura 1: esquema de como uma imagem é formada em uma câmara escura. (Fonte: http://www.geocities.ws/saladefisica8/optica/camara.html) Após a construção da câmara escura, foi realizado um teste em uma área livre da escola (veja Figura 2). Os corpos mais vistos no experimento foram as árvores. Embora houvesse outros elementos, a árvore era o que mais se destacava, pois sua estrutura é nítida na imagem formada. A empolgação dos alunos com o funcionamento da câmara foi notável. Após todos os alunos vivenciarem a experiência, voltamos para a sala de aula para dar continuidade à atividade. Fizemos alguns questionamentos que nortearam a resolução de problemas. Houve bastante participação dos alunos. Por exemplo, eles observaram que a imagem possui tamanho menor que o corpo que a originou, mas que a árvore não aparecia deformada. Mostramos que as distâncias que podiam ser medidas na imagem mantinham entre si as mesmas relações de proporção que no corpo que a originou. Figura 2: realização do experimento da câmara escura na escola conveniada. Com essas verificações dos alunos, começamos a explicar novamente como se dá a passagem da luz pelo orifício da caixa. Dessa vez eles conseguiram compreender melhor o que acontecia, pois a vivência deu significado ao que tínhamos explanado anteriormente. Os estudantes concluíram que a imagem refletida era menor que o objeto porque a distância entre o plano onde a imagem foi formada e o orifício era menor que a distância entre o orifício e o objeto. A partir disso mostramos que há uma relação entre essas distâncias e os tamanhos - do objeto e da imagem. Explicamos que essa relação é estudada na matemática, dentro do tópico “semelhança de figuras”. Nesse momento percebemos que as turmas se interessaram pela explicação matemática. Enfatizamos então que física e matemática estão estreitamente relacionadas. Em ambas as turmas, notamos que o objetivo foi alcançado. A interdisciplinaridade entre a física e a matemática, por meio de uma tendência matemática, tornou a aprendizagem significativa. Notamos que com a resolução de problemas os alunos se apresentaram instigados a entender de que forma a matemática se apresentaria naquele experimento. Assim, o interesse demonstrado pelos alunos evidenciou como foi importante a realização desta atividade. Este foi um exemplo de que, com objetivo definido, existe a possibilidade de facilitarmos e instigarmos o ensino e a aprendizagem por meio da interdisciplinaridade entre física e matemática. Referências Bibliográficas CALVACANTE, Lialda D. Materiais didáticos e aula de matemática. In: Encontro Nacional de Educação Matemática, 2007, Belo Horizonte. Anais do IX ENEM:SBEM/SBEM-MG, 2007. D'AMBRÓSIO, Beatriz S. Como Ensinar matemática hoje? Temas e debates. SBEM. Ano II. Brasilia. 1989. D'AMBROSIO, U. História da matemática. Historia e educação matemática. Cadernos CEDES 40. Campinas-SP: PAPIRUS, 1993. DANTE, Luiz Roberto. Didática da resolução de problemas de matemática. 2. ed. São Paulo: Ática, 1991. FOSSA, John A. (ORG.). 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