“Internet no Ensino Superior”: Análise de um curso virtual para docentes universitários com base na Teoria da Atividade Taís Rabetti Giannella, Miriam Struchiner 1- Introdução • Considerando que: - Para a melhoria da qualidade do ensino atual é importante a integração não só de novos conhecimentos, ferramentas e mudanças curriculares, como também de estratégias e tecnologias educacionais que promovam um ensino ativo, enfatizando a pesquisa, a tomada de decisões e a cooperação das pessoas envolvidas no processo de aprendizagem; - o professor é o principal agente de mudanças nos processos de ensino-aprendizagem, logo, qualquer reformulação das práticas educativas deve priorizar a formação e a atualização docente; - o professor dispõe de pouco tempo para buscar atualização de sua prática de ensino devido à sua grande carga de trabalho; - é importante que essa atualização docente esteja inserida ao seu cotidiano de forma que possa integrar teoria e prática em um processo de formação permanente “em serviço” • As autoras fizeram uma análise de um curso virtual para docentes universitários da área da saúde sobre o uso pedagógico das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) 2. Referencial Teórico-Metodológico • • • • • As teorias construtivistas de ensino-aprendizagem: Piaget e Vygotsky Teoria da flexibilidade cognitiva:ressalta a importância do processo ensinoaprendizagem possibilitar a análise e a aplicação do conhecimento a diferentes situações e contextos(Spiro et al, 1992) Teoria da aprendizagem significativa: que discute o processo de construção das representações pelos indivíduos, as quais estão constantemente abertas a mudanças e cujas estruturas formam as bases para a construção de novos conhecimentos (Ausubel, 1978, Novac, 1998) Teoria da construção social do conhecimento:trata da influência das interações interpessoais do indivíduo sobre tudo que ele faz/internaliza e o papel fundamental da linguagem na reorganização da compreensão e das estruturas de conhecimento permitindo que os indivíduos compartilhem significados (Vygotsky, 1978) Teoria da Atividade: enfatiza a relação integrada entre a consciência e a atividade humana, a natureza social e o papel dos artefatos como mediadores dessas relações (Kaptelin & Nardi, 2006; Hung & Wong, 2000; Jonassen, 1999; Nardi,1996) Teoria da Atividade • Modelo conceitual da Teoria da Atividade, adaptado a partir de Jonassen, 1999 e Engestrom, 1987. O sujeito se refere ao indivíduo ou grupo de indivíduos de uma determinada atividade; o objeto representa o “material bruto” ao qual a atividade está direcionada e que é modelado e transformado em produtos (produção) com o auxilio de ferramentas, artefatos tecnológicos ou simbólicos, que apóiam e orientam os sujeitos na exploração do objeto; a comunidade compreende os indivíduos que compartilham o mesmo objeto, sendo construída de forma peculiar, distinguindo-se de outras comunidades; as regras representam normas e formas de convívio que nascem ou são legitimadas e transformadas pelos sujeitos, mediando suas relações e reforçando o estabelecimento de uma comunidade; a organização do trabalho indica como a comunidade se organiza, definindo papéis, trocando experiências e conhecimentos, cooperando na (re)construção do objeto (Jonassen, 1999; Lewis, 1996). Por que a Teoria da Atividade ? • As autoras utilizaram essa abordagem para orientar o trabalho de análise da dinâmica do curso devido ao modelo integrador proposto por essa teoria, uma vez que ela “enfoca não somente as ações realizadas pelos sujeitos, mas também o perfil dos sujeitos que as estão realizando, os seus objetivos, o papel das ferramentas utilizadas, quais os produtos resultantes da atividade, as regras e as formas de organização do trabalho que circunscrevem a atividade” aliada à sua visão construtivista da aprendizagem 3- Material e Métodos • 3.1 Descrição do curso: -Objetivo: oferecer recursos e atividades para apoiar os docentes no planejamento e desenvolvimento de experiências inovadoras com o uso das TICs, através de um espaço de debate entre professores universitários, viabilizando a troca de conhecimentos e experiências pedagógicas e a construção de materiais educativos baseados na Internet - Duração: 1 mês - Público- alvo: 37 docentes da área de saúde de universidades públicas brasileiras - Formato: 1) Ponto de partida: etapa introdutória 2) 3 módulos de conteúdo:Planejando aulas com apoio de recursos da Internet; Integrando recursos da Internet no processo de ensino; Construindo ambientes educativos na Internet 3) Avaliação: etapa para o fechamento das discussões e avaliação da experiência Todos os módulos apresentavam os seguintes elementos:Objetivos, atividades, ferramenta e recursos da Internet voltados para a área de ensino de ciências e saúde, textos para reflexão, sugestões de literatura complementar, avisos, fórum, e-mail, formulários para envio de respostas, “ferramenta de organização pessoal do Conhecimento”-OPC, “ferramenta de Aprendizagem baseada em casos”-ABC. • 3.2 Instrumentos e procedimentos de análise do curso virtual Instrumentos: 1) Questionário de perfil dos participantes 2) Histórico de navegação 3) Questionário de avaliação do curso 4) Mensagens inseridas no quadro de avisos,e-mail interno,fórum, e-mails externos dos orientadores Procedimentos: 1)Análise da configuração dos componentes: sujeitos, comunidade e objeto 2)Análise das relações: sujeito-ferramenta-objeto; sujeitoregras-comunidade; comunidade-organização do trabalho-objeto, buscando enfatizar os aspectos mais relevantes para cada uma dessas relações, na dinâmica do curso 4-Resultados e Discussão • 4.1Componentes da atividade: Análise do Sujeito: - 37 docentes participantes; 10 eram da área de ensino de epidemiologia/saúde coletiva, 7 da enfermagem, 3 da Odontologia social, 2 de Medicina, 2de ed. Física, 2 de Informática na saúde, 1 de anatomia, 1 de bioquímica, 1 de psicopedagogia - docentes qualificados e motivados para formação educacional, priorizavam a Internet como fonte de informação e inscreveram-se no curso esperando conhecer e aprender como utilizar os recursos da Internet no processo educativo - A partir da análise de atuação dos docentes nas atividades do curso identificou-se 3 categorias de participantes: 6 sujeitos participativos, 18 observadores, 13 sujeitos visitantes. - Grande taxa de evasão(11 observadores e 13 visitantes abandonaram o curso). De acordo com a literatura isso ocorre devido à falta de vínculo formal com o curso e à transparência na identificação de quem participa das atividades - As trocas de e-mails internos e as participações no fórum foram poucas Análise da Comunidade - Construída pelas relações entre os sujeitos participativos, os orientadores e os monitores Análise do Objeto da aprendizagem: Percebeu-se que os recursos informacionais oferecidos contribuiram para o processo de construção do conhecimento sobre os temas propostos, porém houve pouca contribuição e interação entre os participantes na construção dos objetos de aprendizagem 4.2 Resultados da análise dos mediadores da atividade 1) Sujeito-ferramentas-objeto: As ferramentas comunicacionais foram pouco utilizadas, provavelmente devido à falta de familiaridade com os recursos tecnológicos oferecidos; ao pequeno período de tempo para o aprendizado das ferramentas e à inibição para assumir e expôr suas dificuldades com o uso das novas tecnologias e das ferramentas propostas. 2) Sujeito-regras-comunidade: Os participantes pouco interagiram para formarem uma comunidade e não houve negociações e nem compartilhamentos das dificuldades, provavelmente devido ao pouco tempo para o estabelecimento dos contatos iniciais e para a construção da identidade da comunidade; ao fato do grupo de docentes ser de diferentes especialidades; às limitaçòes das ferramentas de comunicação para integração e dinamização das atividades e à passividade dos participantes no contexto de construção da aprendizagem. 3) Relação comunidade-organização do trabalho-objeto: Participação nas atividades de forma individualizada sem cooperação entre os participantes, provavelmente devido à falta de familiaridade dos participantes levando à inibição dos docentes em se exporem diante dos demais, diversidade de especialidades levando à dificuldade de integrar experiências e conhecimentos dentro de interesses comuns e à postura pouco ativa dos docentes enquanto estudantes. 5- Conclusões • • • Sobre a relação sujeito – ferramentas – objeto, recomenda-se que futuros trabalhos procurem: (1) oferecer maior suporte e orientação no uso de ferramentas tecnológicas e (2) compatibilizar o tempo de conhecimento, compreensão e utilização das ferramentas às reais possibilidades do público alvo. Sobre a relação sujeito – regras – comunidade, recomenda-se que futuros trabalhos procurem: (1) enfatizar a importância de um período inicial de ambientação e socialização dos participantes; (2) experimentar, no caso de ambientes totalmente a distância, a utilização de ferramentas síncronas como o Chat e a videoconferência, para algumas atividades que exijam um retorno mais direto, com a participação ativa de todos os participantes mesmo reconhecendo os problemas de acesso que estas ferramentas síncronas podem oferecer. Sobre a relação sujeito – organização do trabalho – comunidade, recomenda-se que futuros trabalhos procurem realizar experiências de formação com docentes de especialidades mais afins, no sentido de analisar se o domínio de resolução de problemas de uma área de formação comum pode potencializar a cooperação (por exemplo, por carreira da área da saúde). Cabe ressaltar que, com isso, não se ignora a enorme relevância de se integrar as diferentes especialidades e conhecimentos; no entanto, dado o caráter inovador deste tipo de iniciativa, esta pode ser uma estratégia de aproximação dos docentes em torno de problemas práticos comuns.