Variabilidade de caracteres vegetativos em populações de pupunheira cultivadas em região com restrição hídrica. Daniela Messias Gomes1; Marilene Leão Alves Bovi2; Antonio Lúcio Mello Martins3 1 Curso PG/IAC/APTA, (Caixa Postal 28, CEP 13001-970, Campinas, SP) [email protected]. Bolsa de Mestrado FAPESP; CNPq; 3 2 Instituto Agronômico, [email protected], Bolsa de Produtividade do APTA Centro Norte (Rod. Washington Luiz, Km 372, CEP15830-000, Pindorama, SP). RESUMO O conhecimento da variabilidade em pupunheiras, além de fornecer subsídios para o melhoramento genético, contribui com aspectos agronômicos de interesse para o agricultor. O presente estudo teve por objetivo avaliar a variabilidade genética do banco de germoplasma do IAC/APTA, em Pindorama, SP, de forma a identificar materiais que possam ser utilizados em programa de melhoramento visando ao cultivo em regiões com restrição hídrica. Foram avaliados caracteres diretamente relacionados à produção de palmito de 332 acessos introduzidos do Peru de quatro regiões distintas. Resultados indicam que há variabilidade entre e dentro das populações, com possibilidade de seleção de material mais adequado ao cultivo em regiões com restrição hídrica. Palavras – chave: Bactris gasipaes, estresse abiótico, palmito, seleção. ABSTRACT - Variability among vegetative traits in peach palm populations cultivated in a hydric restriction region Variability studies are important in new crops because they provided important data for breeding programs as well agronomical insights useful by producers. The objective of the present research was to evaluate the variability of some peach palm traits of plants belonging to the germoplasm bank from Pindorama, SP, Brazil, in order to identify material that could be used in a breeding program aiming obtention of varieties tolerant to hydric stress. Four populations introduced from Peru were studied, in a total of 332 accessions. Results indicate that there is variability among and within populations, with the possibility of selection of material adequate to be cultivated in regions with hydric restriction. Key words: Bactris gasipaes, abiotic stress, heart-of-palm, selection. INTRODUÇÃO A pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) por sua precocidade e capacidade de perfilhamento, tem sido objeto de pesquisas intensivas em várias partes da América tropical. Possui palmito tenro e mais tolerante à oxidação. Como planta perene de origem tropical, seu cultivo é mais indicado para regiões de temperatura elevada e com farta e regular distribuição pluviométrica. Dado ao elevado valor do produto, a cultura tem se expandido também para regiões com limitações hídricas, o que torna necessário à seleção de material genético que apresente bom desenvolvimento mesmo nessas condições. A avaliação e a seleção de plantas dentro de banco de germoplasma é feita por meio de descritores. Os descritores mais utilizados em palmeiras são: altura e diâmetro do estipe; número e dimensões das folhas; forma e tamanho das espatas florais; número, dimensões e coloração de flores e frutos; número, tamanho e forma das sementes (CLEMENT, 1986; MORA-URPÍ et al., 1993). Para a pupunheira um descritor importante é também o número de perfilhos, visto que este dá o caráter de sustentabilidade do cultivo, especialmente quando o objetivo principal é a produção de palmito. A seleção de genitores baseada em vários descritores importantes para a atividade pode ser mais vantajosa que aquela feita com um único descritor, principalmente quando se utiliza um grupo de descritores quantitativos complexos, tais como taxa de crescimento e produção de palmito (YOKOMIZO & FARIAS NETO, 2003). Este trabalho teve o objetivo de avaliar alguns caracteres vegetativos, de importância para a produção de palmito, em plantas do banco de germoplasma de pupunheiras em cultivo numa região com déficit hídrico. Visa, em última análise, a identificação de material genético que possa ser utilizado em programa de melhoramento genético direcionado para a produção de palmito em regiões com restrição hídrica. MATERIAL E MÉTODOS O banco ativo de germoplasma de pupunheira é originado por material coletado no Peru em 1991, nas regiões de Huallaga, Paranapura, Shanusi e Cuiparillo. É composto por 332 acessos, 6 plantas por acesso, espaçamento de 8 x 4 m, sem manejo de perfilhos. O banco foi instalado em 10/09/1992 em Pindorama, SP, (21o13’S e 48o56’O, 560 m de altitude) em solo Podzólico Vermelho-Amarelo Tb eutrófico, bem drenado. Predomina nessa região o clima Aw (Koppen) com estação seca definida, amplitude média de 23,8oC a 19,3oC e precipitação média anual de 1.258 mm. Deficiências hídricas e baixos níveis térmicos ocorrem de junho a setembro. O desenvolvimento das plantas foi avaliado periodicamente (do 8º ao 48º mês após o plantio), mensurando-se: diâmetro (coleto), altura da haste principal e número de perfilhos. O diâmetro da planta foi medido na região do colo nas primeiras avaliações e posteriormente a 50 cm; a altura foi medida da base da haste principal até o ponto de inserção da folha mais nova totalmente aberta; e o número de perfilhos foi obtido pela contagem de todas as brotações da touceira.Foi feita uma análise preliminar, quando os dados coletados em cada avaliação foram tabulados em planilha e cada avaliação foi separada nas quatro regiões. Para cada caráter foram estipuladas quatro categorias de desenvolvimento vegetativo de forma a aplicar um índice de seleção de cerca de 10% para cada um dos caracteres avaliados. RESULTADOS E DISCUSSÃO A figura 1, mostra o desenvolvimento das plantas do banco de germoplasma, podendo-se verificar que as plantas da região Huallaga e Cuiparillo são as mais altas, chegando até 3,5 m aos quatro anos de idade. As oriundas de Shanusi foram as que apresentaram menor altura (2,5 m). Dentro de cada região, as melhores plantas em altura, representam 10,39% (Huallaga), 5,85% (Cuiparillo), 10,25% (Shanusi) e 9,03% (Paranapura). A altura da haste principal é indicativo da superioridade da planta para produção de palmito, visto que as hastes estão aptas para corte quando atingem 1,60 m. Em relação ao diâmetro do coleto o germoplasma da região de Shanusi apresentou menor diâmetro, em contraposição ao de Cuiparillo e Huallaga. As melhores plantas em diâmetro representaram: 16,88% (Huallaga), 13,51% (Cuiparillo), 14,74 (Shanusi) e 10,78% (Paranapura). Assim como a altura, o diâmetro da planta também indica a superioridade dela para a produção de palmito. Atinge-se o ponto de corte quando as hastes têm diâmetro superior a 10 cm. O número médio de perfilhos ao longo do tempo variou de 0 a 31. Nota-se um momento em que diminui o número de perfilhos e depois volta a aumentar. Isso parece indicar que algumas das plantas não são bem adaptadas ao inverno, época em que além da restrição hídrica ocorre também restrição térmica. As oriundas de Cuiparillo parecem se comportar melhor nessa situação que as demais. A distribuição porcentual das melhores plantas para perfilhos foi: 12,98% (Huallaga), 11,71% (Cuiparillo), 19,22% (Shanusi) e 9,03% (Paranapura). Pode-se verificar também que 0,45% das plantas de Cuiparillo apresentaram número elevado de perfilhos já no oitavo mês, comparado as de outras regiões. Precocidade de emissão e estabilidade do número de perfilhos mesmo frente às condições adversas é caráter esperado em material adaptado a regiões com restrição, visto que a sustentabilidade do cultivo, quando o objetivo é produção de palmito, está baseada na taxa de crescimento das hastes e na emissão contínua de perfilhos. Essa análise preliminar do crescimento das plantas com base nos três principais caracteres vegetativos correlacionados com a produção e a sustentabilidade do cultivo, quando o enfoque é palmito, indica que é possível a seleção de material genético para o início de um programa de melhoramento visando à obtenção de cultivares de pupunheira mais adequados a regiões com restrição hídrica. LITERATURA CITADA CLEMENT, C.R. Descriptores mínimos para el pejibaye (Bactris gasipaes H.B.K.) y sus implicaciones filogenéticas. San José: Universidade de Costa Rica, 1986. 216p. Mestrado. MORA-URPÍ, J.; CLEMENT, C.R.; PATINO, V.M. Diversidad genética en pejibaye: I. Razas y poblaciones híbridas. In; CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE BIOLOGIA, AGRONOMIA E INDUSTRIALIZACION DEL PIJUAYO, 4.,Iquitos, 1993. Anais San José, UFCR 1993 - p.11-19. YOKOMIZO, G. K. I.; FARIAS NETO, J. T. Caracterização fenotípica e genotípica de progênies de pupunheira para palmito. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.38, n.1, p. 67-72, 2003. Figura 1. Desenvolvimento em altura (m), diâmetro do colo (cm) e número de perfilhos das plantas que compõem o banco de germoplasma de Pupunheira em Pindorama, SP, classificadas em quatro categorias e por regiões de origem (a) Huallaga, (b) Cuiparillo, (c) Shanusi e (d) Paranapura, e a porcentagem em cada categoria estipulada.