Folha de S.Paulo - Análise/Morador de rua gay: Rua é ainda mais inóspita para esse público - 13/02/2011
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São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2011
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ANÁLISE MORADOR DE RUA GAY
Rua é ainda mais inóspita para esse
público
Além da violência nas calçadas, acolhida é dificultada
por limites de caráter religioso da maioria dos albergues
SE A CAMA É PARA DORMIR E
O BANHEIRO PARA BANHO,
OUTROS FINS SÃO TIDOS
COMO DESRESPEITO AO
OBJETIVO DO ALBERGUE
MARCOS ROBERTO VIEIRA GARCIA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O crescimento do número de pessoas LGBT em situação de
rua nas grandes cidades brasileiras é claramente percebido
por quem trabalha com este segmento.
E não é um fenômeno exclusivamente nacional, pois
pesquisas com jovens em situação de rua em grandes
cidades americanas mostram que cerca de 20% deles se
identificam como LGBT e outras, feitas no Reino Unido e
na Austrália, apontam o mesmo crescimento.
As explicações "estrangeiras" para este crescimento são
compatíveis com as observadas recentemente em pesquisa
com este segmento.
Uma das principais refere-se à homofobia no contexto
familiar e comunitário, especialmente aquela direcionada
aos jovens efeminados e às jovens masculinizadas, que faz
com que estes sejam expulsos de casa ou se separem cedo
da família ou cidade de origem, em busca de maior
liberdade.
Neste processo, o apoio familiar em situações de crise
financeira também é interrompido, levando muitos à
situação de rua.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1302201116.htm[13/02/2011 14:47:05]
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Folha de S.Paulo - Análise/Morador de rua gay: Rua é ainda mais inóspita para esse público - 13/02/2011
A homofobia no contexto escolar, levando ocasionalmente à
evasão da escola, e no ambiente de trabalho, dificultando a
empregabilidade, também contribuem para o processo de
pauperização para jovens LGBT.
Soma-se a estas dificuldades o fato de alguns destes jovens,
no processo de rompimento com as barreiras familiares,
acabarem por mergulhar em drogas ilícitas.
Se a busca por maior liberdade frente à expressão da
sexualidade deve ser vista como positiva, o aumento da
vulnerabilidade ao abuso de drogas que por vezes a
acompanha deve ser visto cuidadosamente pelas políticas
voltadas a este segmento.
A dificuldade das instituições voltadas à população de rua
em lidar com jovens LGBT sem-teto deve-se ao fato da
maior parte destas instituições serem ligadas a organizações
religiosas, onde a homossexualidade é muitas vezes
fortemente criticada.
Outro fator relaciona-se à dificuldade por parte de gestores
e funcionários de albergues em lidar com um segmento
(felizmente) bastante sexualizado. Se a cama é para dormir e
o banheiro para tomar banho, seu uso para outros fins é
visto frequentemente como um desrespeito à finalidade do
albergue.
Por este motivo, é imprescindível um investimento em
formação junto aos funcionários destas instituições para um
acolhimento da população LGBT de rua que respeite suas
especificidades. Iniciativas como as de instituições
específicas voltadas para este segmento também são muito
bem-vindas, assim como o processo de reconhecimento
crescente dos diversos estilos de homossexualidades
populares por parte do movimento LGBT.
Em que pese o receio de que isto leve à formação de
espaços segregados que acabem por contribuir para
aumentar o processo de discriminação sofrida por esta
população, experiências exitosas como a do Centro de
Referência da Diversidade, na capital paulista, mostram que
estas podem ser iniciativas importantes no processo de
conquista da cidadania plena por parte destas pessoas.
MARCOS ROBERTO VIEIRA GARCIA é doutor em psicologia social
pela USP, professor da UFSCar e coordenou pesquisa científica sobre
moradores de rua gays
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