"'PEGA' E NÃO SE APEGA": COMO A MULHER SIGNIFICA SEUS
RELACIONAMENTOS EFÊMEROS
Rachel Lilienfeld Aragão (apresentador), Georges Daniel J. B. Boris (orientador)
UNIFOR - PAVIC, [email protected]
INTRODUÇÃO
Este texto pretende discutir o papel ocupado pelas mulheres, na
contemporaneidade, a partir dos relacionamentos efêmeros por elas
vivenciados. O tema é enfocado a partir da construção histórica desse
fenômeno dos relacionamentos efêmeros, o ficar, que é compreendido como um
relacionamento breve envolvendo beijos na boca, carícias e, em alguns casos,
culminando no ato sexual sem nenhum compromisso posterior, podendo se
repetir ou não. A partir dessa configuração de relacionamento, este trabalho
pretende compreender como essa mulher significa suas vivências e essa forma
de se relacionar. Observa-se que a cada dia as mulheres se igualam aos homens
nos lugares ocupados na sociedade, então a contribuição que esse trabalho
pode trazer é se na área dos relacionamentos as mulheres também podem se
igualar. O interesse pelo assunto surgiu a partir de vivências pessoais e de
pessoas próximas, que praticam o ficar e não sabem, às vezes, como se
posicionar nesse relacionamento, além da necessidade de estudar um possível
sofrimento que possa emergir desse envolvimento sem vínculo posterior.
Segundo Diógenes & Boris (2002) e Justo (2005), o ficar é uma forma de
relacionamento que visa à resolução do prazer momentâneo. Entretanto, pode
ser, também um caminho para relacionamentos mais duradouros, pois, muitas
vezes é considerado uma forma de conhecer e de criar intimidade com a pessoa
desejada. A partir de como se configura esse momento é que a relação vai
evoluir ou não. Esse trabalho é resultado de uma pesquisa realizada por mim,
com quatro mulheres com idade entre 18 e 22 anos, que experienciam o ficar
como forma de relacionamento, entrelaçando com alguns autores pesquisados.
METODOLOGIA
Para realizar uma pesquisa que visa a compreender os significados de
experiências íntimas, é preciso se propor a se dedicar a um mergulho em
vivências particulares (Boris, 2002). Portanto, esta pesquisa foi realizada sob
uma perspectiva qualitativa, utilizando para a análise dos dados a técnica da
análise de conteúdo. que descreveu as experiências de ficar em quatro
mulheres, com idades entre 18 e 22 anos, estudantes universitárias da
UNIFOR, que a partir de uma entrevista semi-estruturada relataram suas
experiências a cerca dessa nova forma de de relacionamento da
contemporaneidade, o ficar.
RESULTADOS
Segundo Justo (2005), o ficar é um encontro breve que se caracteriza pela
ausência de exclusividade e de compromisso, com um vínculo volátil e que não
obriga a existência de um sentimento. Diógenes & Boris (2002) traz que o ficar
não engloba só um envolvimento afetivo, mas é também uma prática social,
uma vez que os jovens saem para encontrar com amigos e, também, para ficar.
Kostman (2003) afirma que apesar de o sexo feminino ser, geralmente,
caracterizado como “louco” por compromisso, atualmente, as mulheres estão
se aproveitando desses relacionamentos passageiros. As entrevistadas trazem
que a prática do ficar suscita vários sentimentos, que podem ser bons ou ruins.
Elas trazem que há certos momentos em que o ficar é uma experiência vazia,
que nada acrescenta, chegando a se perguntarem o porque de terem feito.
Porém, há vezes que elas ficam e se sentem muito bem, principalmente quando
é com pessoas que elas já tinham interesse. Uma das entrevistadas diz que o
ficar envolve vários sentimentos podendo despertar uma paixão, mas não
chega ao amor. Já outra entrevistada diz que ficar é mais por vontade,
entrando em acordo com os autores citados. Diógenes & Boris (2002) e
Oliveira (2007) trazem em suas pesquisas que o ficar pode ser considerado
“pré-namoro”, ou seja, um relacionamento que vem antes do namoro, aonde as
pessoas vão adquirindo intimidade à medida que vão ficando repetidas vezes
com a mesma pessoa. Mas, o que muitas vezes pode ser observado na prática
e no discurso das entrevistadas é que nem sempre o ficar é um primeiro passo
para o namoro. Pirotta (2002) traz isso quando fala que o ficar pode ser apenas
aquilo que acontece no momento. As entrevistadas trazem que existe sim
expectativa no dia seguinte, de alguma iniciativa por parte do homem,
principalmente quando se é alguém que elas já estavam interessadas. O ficar é
entendido por alguns dos autores citados como um “pré-namoro”, ou seja, um
relacionamento que vem antes do namoro, que exige uma intimidade maior. O
fica pode durar uma noite só, não tendo continuidade nem expectativas de
nenhuma das partes, ou pode se tornar uma atitude repetitiva, em que todas as
vezes que as duas pessoas se encontrarem vão, obrigatoriamente, ficar. Mas,
como dito por Pirotta (2002) o ficar não tem regras bem definidas, então essa
“obrigatoriedade” pode não existir.
As entrevistadas falaram sobre o ficante fixo como alguém que elas têm uma
liberdade um pouco maior, para entrarem em contato, sendo alguém que elas
se relacionam com freqüência, e apenas só com ele. Mas, sendo também alguém
que elas se relacionam com maior intimidade, mas não sendo exclusivo. O
ficante fixo algumas vezes vem envolvido numa expectativa maior de virar algo
mais sério. Entretanto, isso não é regra geral. Segundo elas depende da pessoa
para se esperar algo a mais ou não.
CONCLUSÃO
A partir da leitura dos autores supracitados e dessa pesquisa realizada, pude
observar que muito do que os autores traziam era relatado pelas entrevistadas.
Algumas características do ficar, como se relacionar apenas por uma noite sem
muitas expectativas, se mostraram bastante presente nos discursos delas,
inclusive com muita concordância entre elas. Algumas vezes os discursos delas
se assemelhavam, provando que muito da subjetividade feminina é semelhante,
mas em alguns casos umas pareciam mais machistas do que as outras. Quando
digo machista, me refiro à visão geral que a sociedade constrói, então, algumas
vezes elas tinham posições subjugadas aos homens, esperando deles atitudes as
quais hoje já deveriam ser amplamente aceitas quando provenientes de
mulheres. O que tenho observado no contexto geral são algumas mudanças
significativas da parte das mulheres ao dizerem se sentirem a vontade para
tomar a iniciativa de entrar em contato com alguma pessoa com quem tenha
ficado, assim como o sexo com ficantes, demonstrando que a sexualidade
feminina está mudando, vagarosamente, mas já existe essa nova concepção
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Universidade de São Paulo.
POPE, Catherine & MAYS, Nicholas. Pesquisa qualitativa na Atenção a saúde.
Porto Alegre: Artmed, 2005.
AGRADECIMENTOS: Primeiramente a UNIFOR enquanto estimuladora do
ensino e pesquisa. Ao meu orientador Professor Doutor Georges Boris, pela
paciência e correção minuciosa. Aos meus colegas do APHETO e NUGEN
laboratório e grupo de pesquisa do qual faço parte, pelo apoio e troca de idéias
e às minhas entrevistadas pela disponiiblilidade para participar desse trabalho.
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