UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
- UNIJUÍ –
DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA
MARIA RENATA DA CRUZ
OS NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A SUA INFLUÊNCIA NA
CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA
SANTA ROSA
2012
MARIA RENATA DA CRUZ
OS NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO A SUA INFLUÊNCIA NA
CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA
Trabalho de pesquisa supervisionado
apresentado ao curso de Psicologia da
Universidade Regional do Estado do
Noroeste do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ,
como requisito parcial para conclusão do
curso de formação de Psicólogo.
Orientadora: ANGELA MARIA SCHNEIDER DRÜGG
SANTA ROSA
2012
TERMO DE APROVAÇÃO
MARIA RENATA DA CRUZ
A comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o trabalho de conclusão de curso
OS NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A SUA INFLUÊNCIA NA
CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA
como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo da Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.
Trabalho de conclusão de curso definido e aprovado em: 20/12/2012
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
ANGELA MARIA SCHNEIDER DRÜGG
Psicóloga; Doutora;
Professora do Departamento de Humanidades e Educação
____________________________________________
DANIEL RUWER
Psicólogo; Mestre;
Professor do Departamento de Humanidades e Educação
AGRADECIMENTOS
Agradecer é sempre uma tarefa difícil, pois as palavras são sempre
insuficientes para exprimir aquilo que realmente queremos expressar. Às minhas
“irmãs” Religiosas, Apóstolas da Sagrada Família, pela presença e pelo
acompanhamento nesse período de minha formação, especialmente a Revma. Madre,
que em mim confiou; a ela a minha gratidão. À minha família, que embora distante,
nos sentimos próximos, foi de vocês que herdei os valores que hoje eu cultivo. Aos
meus queridos professores, especialmente a professora Angela Drügg, orientadora
desse trabalho, pelo incentivo e pelo apoio durante o período em que estive sob sua
supervisão. Aos colegas de caminhada, porque com vocês não dividi somente
conhecimento científico. Mais do que ciência, aprendemos um pouquinho sobre os
segredos da vida escondidos e ao mesmo tempo desvelado em cada experiência
atravessada. O que fica? A jornada, porque a busca continua!
E assim como a primavera, eu me deixei cortar
para vir mais forte.
CLARICE LISPECTOR
RESUMO
Este trabalho intitulado “Os novos meios de comunicação e a sua influência
na constituição subjetiva”, aborda os significados dos novos meios de comunicação,
especialmente a internet, na vida dos sujeitos contemporâneos. Uma das maiores
características da contemporaneidade está relacionada à crescente expansão do
uso desta, de tal modo que parece ser impossível, e até mesmo inconcebível viver
sem estar conectado. Dentro desse contexto nos questionamos sobre quais as
novas características que essa atual realidade está definindo na constituição do
sujeito contemporâneo? Para nos analisar esta questão, iniciamos com uma
discussão sobre a internet, usando conceitos de Pierry Lévy. Em seguida, dentro da
visão de Chauí e de Bauman, mostramos que os efeitos da cultura atual sobre o
modo de pensar e de agir do sujeito gera uma ausência de significação. Em
consequência
disso
contemporaneidade
veremos
como:
que
surgem
ansiedade,
psicopatologias
síndrome
do
pânico,
próprias
da
depressão,
hiperatividade, entre outras. A partir de Assoun e Kehl, notamos que os problemas
psicopatológicos aparecem quando não existe um espaço de simbolização e
significação.
PALAVRAS-CHAVES: Virtualidade. Comunicação. Sujeito. Subjetividade.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
1 NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ..................................................................... 9
1.1 O PERCURSO HISTÓRICO DAS NOVAS TECNOLOGIAS ............................... 11
1.2 ENTENDENDO ALGUNS CONCEITOS ............................................................. 14
1.3 O HOMEM E A MÁQUINA .................................................................................. 16
1.4 A CIÊNCIA COMO BUSCA E O PASSADO COMO RESPOSTA ....................... 18
2 EFEITOS SUBJETIVOS ........................................................................................ 20
2.1 A SUBJETIVIDADE NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO ............................... 22
2.2 SUJEITOS OU ASSUJEITOS ............................................................................. 25
2.3 TEMPO, ESPAÇO E VIRTUALIDADE ................................................................ 27
3 OS NOVOS SINTOMAS CLÍNICOS NA CONTEMPORANEIDADE ..................... 31
3.1 ANSIEDADE ........................................................................................................ 33
3.2 DEPRESSÃO ...................................................................................................... 36
3.3 HIPERATIVIDADE............................................................................................... 38
3.4 FALTA DE LIMITES ............................................................................................ 41
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 46
7
INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea é, em grande medida, definida pelo tipo de
comunicação que nela se processa. Há mesmo quem diga que essa realidade, ou
seja, os novos meios de comunicação, especialmente as redes sociais... vêm
influenciando cada vez mais o modo de pensar e de agir dos sujeitos
contemporâneos. Esse processo de influências se dá pelo fato de que, na sociedade
atual, os sistemas de redes estão cada vez mais organizados. Os sujeitos estão a
todo o momento sendo convocados a responderem as suas necessidades, as quais
são geradas e alimentadas pelo próprio sistema de informação. Aquele que pensa
diferente do sistema proposto está fora de um processo, pois não está aderindo às
necessidades criadas pelo próprio sistema. A partir da lógica que se apresenta, nos
questionamos sobre quais as novas características que essa atual realidade está
definindo na subjetividade do sujeito contemporâneo.
Nesse sentido, a presente pesquisa é um convite para pensar a constituição
subjetiva no contexto contemporâneo. Com o título “Os novos meios de
comunicação e a sua influência na constituição subjetiva” tentaremos compreender a
partir das ideias de Pierre Lévy, o que é o virtual, assim, como as transformações
que a virtualidade provoca na cultura atual. Para isto, é que discorreremos no
primeiro capítulo sobre alguns pontos onde arriscaremos uma passagem pela
história e pelas mudanças tecnológicas a partir dos paradigmas surgidos na
sociedade tecnológica da necessidade que o homem tem de estar continuamente se
reinventando.
No decorrer da nossa investigação, veremos que a subjetividade é mutável.
Com a chave de leitura que se apresenta no segundo capítulo, veremos que a
subjetividade não nasce de um contexto isolado. Esse processo somente irá ocorrer
8
a partir da relação com o Outro, com o social-histórico-cultural. A subjetividade é um
acontecer, ou seja, um acontecer que somente sucede quando o homem é
movimentado, pelos fatos, pela história, pelo discurso.
No terceiro capítulo, pensaremos os efeitos produzidos na subjetividade a
partir
das
transformações
sociais.
Para
isto,
compreende-se
que
na
contemporaneidade as psicopatologias são oriundas de um tempo sem tempo, dito
de outra forma, de um tempo que não existe, de uma falta de tempo. O sujeito
contemporâneo é o sujeito do presente e do instantâneo. O fato de não se encontrar,
ou até mesmo, de uma não projeção futurista, tira do sujeito a possibilidade de
buscar, apostar, desejar.
O sujeito da sociedade atual tem sido cada vez mais caracterizado pelo grupo
o qual pertence, sendo que os novos meios de comunicação têm contribuído nesse
processo através das necessidades que são geradas para que as pessoas passem
a consumir tudo o que é jogado nas chamadas “redes sociais”. Pertencer às redes
sociais é fazer parte de um grupo e ser aceito dentro do sistema. Quem não aderiu a
esse novo estilo de grupo está fora, a margem de uma sociedade que caminha para
uma crescente mutação subjetiva. Se assim podemos dizer, caminha-se para uma
subjetividade que muitas vezes visa somente o seu próprio bem-estar e a sua
realização pessoal.
A partir da realidade que se interpõe, contemplamos o quanto a sociedade
atual tem se transformado cada vez mais numa grande receptora e consumidora das
propostas lançadas pelos meios de comunicação. No entanto, a cultura virtual
esqueceu-se de preparar um amplo número de usuários on-line para a vivência com
o outro. É muito fácil falar com uma máquina. Através dela podemos escolher com
quem queremos falar, temos a possibilidade de adicionar, bloquear, excluir e deletar.
Esse novo modelo de cultura que está se formando atualmente está, de certo
modo, deixando os sujeitos sem “fala”, sem espaço, pois uma relação virtual será
sempre virtual. O sujeito, em sua constituição, precisa de um Outro, do olhar, do
contato, da relação, da herança, do discurso. A cultura virtual poderia, talvez, estar
transformando a relação com um outro a um lugar vazio, onde não se escuta mais,
por isso, se fala menos. Isso se torna relevante, pois a especificidade das relações
humanas é caracterizada por tudo aquilo que é desencadeado da própria relação
com o outro.
9
1 NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Quando pensamos os novos meios de comunicação, somos interpelados
pelos avanços tecnológicos que se processam cada vez mais rápidos na atual
sociedade. Os mesmos têm caracterizado a pós-modernidade, como a era das
Ciências Tecnológicas. São inúmeros os benefícios que tais avanços trouxeram para
a humanidade, pois se na origem os meios não favoreciam o homem dado a sua
lentidão, hoje os acontecimentos podem ser acompanhados em tempo real, as
fronteiras foram rompidas o homem agora é parte de um ciberespaço, como nos diz
Pierre Lévy (2000). É nesse espaço de fronteiras rompidas que surge um novo jeito
de pensar as relações humanas e ao mesmo tempo compreender de que forma no
contexto social da pós-modernidade as pessoas estão conseguindo usufruir dos
avanços tecnológicos sem deixar-se dominar pelas ilusões que os mesmos
propõem.
Há quem diga que essa nova realidade definida pelos novos meios de
comunicação vêm influenciando o modo de agir e de pensar dos sujeitos
contemporâneos. Podemos pensar que essa global transformação dá-se devido ao
novo sistema gerado, ou seja, a sociedade contemporânea está se organizando em
redes, esse sistema altamente organizado nos oferece a possibilidade de conhecer
e de se arriscar por novos caminhos. Não queremos de forma alguma ser
pessimista, mas trataremos de expor o nosso pensamento com base nas ideias de
alguns autores que vêm trabalhando a questão da globalização e os seus impactos
na construção de uma nova cultura, a cultura virtual.
Não é possível separar o humano do seu ambiente material, nem dos sinais
e imagens através dos quais ele dá sentido à vida e ao mundo. Do mesmo
modo não se pode separar o mundo material – e menos ainda a sua parte
artificial – das ideias pelas quais os objetos técnicos são concebidos e
utilizados, nem dos humanos que os inventam, os produzem e se servem
deles. (LÉVY, 1997, p. 22).
Por meio dessa nova realidade é possível perceber que o sistema de
comunicação na atualidade, as redes mundiais de computadores, oferecem para os
usuários diversos meios para uma comunicação em tempo real. Pode-se pensar que
tais meios de comunicação proporcionam um esvaziamento da solidão, dado que em
10
qualquer hora do dia ou da noite podemos encontrar on line1 um amigo, pois graças
as quebras de fronteiras o campo de amizade se expande tornando-se mais prático
e econômico manter contato com o outro lado do planeta.
Por trás das técnicas agem e reagem as ideias, os projectos sociais, as
utopias, os interesses econômicos o leque inteiro dos jogos do homem na
sociedade. Toda a afectação, de um sentido unívoco à técnica não pode,
por isso, ser senão duvidosa. A ambivalência ou a multiplicidade dos
significados e dos projetos envolvendo as técnicas são particularmente
evidentes no caso do digital. O desenvolvimento das cibertecnologias é
encorajado pelos Estados em busca do poderio em geral e da supremacia
militar em particular. É também um resultado importante da competição
econômica mundial entre as empresas gigantes da eletrônica e dos
sistemas informáticos, entre os grandes conjuntos geopolíticos. Mas
responde igualmente às finalidades de criadores e utilizadores que tentam
aumentar a autonomia dos indivíduos e desmultiplicar as faculdades
cognitivas. (LÉVY, 1997, p. 24).
Segundo pesquisas o poder que as novas mídias exercem sobre os usuários
é imenso. Esse mesmo poder está ligado aos interesses dos Estados, interesses
esses diretamente atrelados aos avanços do capitalismo. A partir do contexto que se
apresenta, pode-se compreender que esses novos meios de comunicação em rede
aparecem como a sustentação e a manutenção de um novo paradigma que se
introduz para a pós-modernidade. O grande desafio que se apresenta para o homem
contemporâneo é distinguir aquilo que de bom vem com a globalização, nesse
sentido, saber fazer a leitura crítica desses novos meios é fundamental para não se
deixar engolir pelo sistema, dado que a capacidade crítica está relacionada às
informações que a própria mídia oferece aos usuários. Aqueles que estão
diretamente conectados a sites, especificamente as Redes Sociais (MySpece,
Facebook, Orkut, Friendrster, Hi5, Bebo), correm o risco de terem o comportamento
controlado e uma opinião mecanizada, sendo que isso pode acontecer por falta de
um senso crítico, o qual permite o usuário distinguir entre a realidade e a opinião
apresentada.
Para Lévy, a sociedade está vivendo um novo dilúvio, só que agora no campo
da comunicação. O homem está esbanjando criatividade, sendo que esta
criatividade é fruto de uma transformação discursiva e cultural trazida pelas
necessidades geradas pelo sistema vigente para que o homem seja um bom
consumidor. Em meio a essa dinâmica, as redes se fortalecem cada vez mais, pois
1
Em linha.
11
como bem sabemos, essas novas formas de comunicação são criadas para atingir
um determinado público, e nesse sentido existem as propagandas direcionadas
através das quais é possível chegar aonde se quer. Ninguém está livre! Sejamos
crianças ou idosos somos interpelados a realizar os nossos desejos que muitas
vezes não nos eram conhecidos, mas que graças a mídia nós fomos demandados a
ir em busca da realização do mesmo.
Comunicar-se, ter um espaço para falar, está vinculado a um dos desejos
mais profundos do homem. Essas são as vantagens das novas mídias, o
rompimento de barreiras individuais para uma vivência espacial e coletiva. No
entanto, “a velocidade de transformação é, precisamente, ela própria uma constante
– paradoxal – da cibercultura. Ela explica em parte a sensação de impacto, de
exterioridade, de estranheza que se apossa de nós quando tentamos apreender o
movimento contemporâneo das técnicas” (LÉVY, 1997, p. 29).
Ela é sem dúvida uma fonte de mediação comunicativa. No entanto, a cultura
virtual não contempla todas as dimensões humanas. Está mais do que provado que
os avanços através dos novos meios de comunicação, trouxeram sem dúvidas
benefícios para a humanidade. Porém, quando avaliamos a cultura virtual,
percebemos que a mesma poderia, talvez, estar levando o discurso a um lugar
vazio, onde a escuta é condicionada àquilo que esse sistema nos apresenta.
Comunicar não é simplesmente falar. Aquele que comunica também recebe e
interpreta, e não só a fala, mas também os gestos, ou seja, o entorno das palavras,
pois a palavra não vem acompanhada somente dos signos da linguagem. Ela traz
em si uma carga de afetos e sentimentos que nos ajudam a compreender o homem
em todas as suas dimensões.
1.1 O PERCURSO HISTÓRICO DAS NOVAS TECNOLOGIAS
Desde primórdios até os dias atuais o homem têm dado longos passos na sua
evolução. Em se tratando de comunicação faz-se necessário compreender o
percurso como esse desenvolvimento foi sendo construído no decorrer do progresso
da humanidade, sendo que o processo e a aquisição da linguagem também estão
relacionados às diferentes formas de comunicação que o homem vem adquirindo.
12
Desde o princípio da história o homem buscou de algum modo relacionar-se
com o seu semelhante. Ora por gestos, ora por mímicas, ora por desenhos e
grunhidos, até chegar o grande acontecimento do desenvolvimento da linguagem.
Quanto mais o homem evoluiu em espécie, evoluiu também o modo dele se
comunicar. Além da evolução propriamente dita da linguagem em si, queremos
traçar a evolução dos meios de comunicação na contemporaneidade, em especial,
os avanços e as contribuições do mesmo para a humanidade.
Superando algumas concepções medievais a modernidade busca na razão a
possiblidade de autonomia humana. Nesse sentido, o desenvolvimento técnico e
científico surge como uma expressão do racionalismo dos tempos modernos, tendo
o seu ápice no iluminismo. Com a revolução francesa o homem buscou a
transformação da sociedade visando três princípios fundamentais: liberdade,
igualdade e fraternidade. Pôs fim ao absolutismo, mas manteve as transformações
implantadas dentro dos limites dos interesses burgueses. Surgiram novas ideias, os
novos paradigmas foram postos, iniciou-se a busca pela perfeição em todos os
sentidos. A razão, luz para a humanidade, possibilitou ao homem o direito de ser
livre para pensar.
A partir das marcas históricas, a evolução dos meios de comunicação dá-se
justamente para responder a necessidade de um contexto sócio-político. Nesse
sentido, percebe-se que as grandes transformações ocorridas na humanidade
vieram sempre acompanhadas de crises. No atravessamento da crise o homem
torna-se criativo, ou seja, o homem cria, transformando uma situação difícil em algo
novo, diferente, e se tratando do processo de comunicação, os novos meios,
tornaram cada vez mais fácil para a humanidade tornar-se uma só. Assim, a partir
das Revoluções e Guerras pelas quais a humanidade tem passado, houve um
significativo avanço tecnológico, especialmente dos meios de comunicação. Em
primeiro lugar esses avanços se deram para responder as necessidades de uma
elite (soldados), especialmente em épocas de guerras, em seguida, essas barreiras
foram rompidas possibilitando que a massa da população também fosse
contemplada.
13
O significado social da informática transformou-se de alto a baixo. Que a
aspiração do movimento2 original foi recuperada e utilizada pela indústria
não há dúvida nenhuma. Mas é preciso reconhecer que a indústria realizou
também, à sua maneira, os objetivos do movimento. Sublinhemos que a
informática pessoal não foi decidida e menos ainda prevista por nenhum
governo nem por esta ou pela aquela poderosa multinacional. O seu
inventor e principalmente motor foi o movimento social que visava a
reapropriação, em benefício dos indivíduos, de uma capacidade técnica até
então monopolizada por grandes instituições burocráticas. (LÉVY, 1997, p.
130).
Como já dissemos anteriormente, o progresso dos meios de comunicação
deu-se através de um processo de construção e conquista, sobretudo uma conquista
embasada nos movimentos sociais da época. Se antes o poder de comunicar-se
pertencia somente as grandes indústrias, a movimentação e a busca pela igualdade
para todos fez com que esse monopólio fosse repartido com o resto da população,
embora saibamos que ainda hoje são muitos os que vivem à margem da
globalização, porque a técnica não alcançou a todos.
O crescimento da comunicação de suporte informático foi iniciado por um
movimento internacional de jovens metropolitanos cultivados que apareceu
à luz do dia no fim dos anos 80. Os protagonistas deste movimento
exploram e constroem um espaço de encontro, de partilha e de invenção
colectiva. Se a internet constitui o grande oceano do novo planeta
informativo, é preciso não esquecer os inúmeros rios que alimentam: redes
independentes de empresas, de associações, de universidades, sem
esquecer os media clássicos (bibliotecas, museus, jornais, televisão, etc).
(LÉVY, 1997, p. 130).
Dentro desse contexto de novidade, os meios de comunicação de redes vão
se desenvolvendo e crescendo cada vez mais. A internet é uma inovação que
fascina e encanta especialmente aos jovens, pois são inúmeros os benefícios que
esse meio de comunicação possibilita. Através do acesso a rede é possível estar em
contato e ser contemplado dentro de um ciberespaço, ou seja, um oceano imenso
onde a movimentação de informações está sendo alimentada constantemente por
um grande número de internautas presentes em qualquer parte do mundo. Portanto,
aderir a essa nova cultura é ter presente e ser conscientes de que nesse espaço de
rede não existe um eu sozinho, já que esse espaço pode ser acessado por todos.
No entanto, embora a internet tenha trazido benefícios, tais como a possibilidade de
conhecer novas culturas, acesso a bibliotecas e museus on line, ir ao mercado sem
2
Aqui, o autor faz menção ao movimento social californiano computers for the People, surgido no final
dos anos 60, com o objetivo de reivindicar o acesso a informática para todo cidadão.
14
sair de casa, etc; ainda são também inúmeros os que estão excluídos, os que estão
fora dos benefícios que a mesma possibilita.
Através do trabalho de redes, aquilo que é material também ganha um
endereço eletrônico. “Cada computador do planeta, cada aparelho, cada máquina,
do automóvel à torradeira, deve ter um endereço na internet” (LÉVY, 1997, p. 132).
Essa influência está diretamente ligada ao mercado capitalista, o qual propõe aquilo
que deve ser consumido e como deve ser consumido. Além, dos pontos positivos, os
novos meios de comunicação parecem propor a essa nova cultura o modo como
todos devem ser, quem está fora desse sistema, permanece distante da
globalização.
Assim, com o avanço das ciências e das novas tecnologias, percebe-se que
na humanidade todos somos parte de uma cadeia inseparável de relações. Estamos
em tempos de mudança porque o ser humano se renova e a cada nova mudança se
reestrutura dentro dos paradigmas propostos. Abrigar a esses novos paradigmas é
certamente acolher também as consequências que ocorrem numa sociedade
globalizada. Não somos bons nem maus, mas estamos nos deixando transpassar
pelas experiências que o universo informacional nos permite sentir.
1.2 ENTENDENDO ALGUNS CONCEITOS
Para que possamos avançar em nossas ideias, primeiramente, precisamos
entender alguns conceitos que são fundamentais para a nossa pesquisa. Conceitos
estes apresentados a partir de dados coletados de pesquisa bibliográfica.
O primeiro que queremos entender é a cibercultura. A expressão cibercultura
foi criada por Pierre Lévy para explicar a quebra de fronteiras, ou seja, o movimento
causado pela revolução dos novos meios de comunicação. A partir da cibercultura o
universo
está
em
movimento
de
troca,
de
transformação
sócio-cultural-
comunicacional, onde tudo o que ocorre se dá graças à movimentação gerada pelas
novas tecnologias. Por ter um contexto muito amplo fica difícil definir o que
exatamente seria Cibercultura, mas dentre as várias definições queremos destacar a
seguinte:
15
A cibercultura aponta para uma civilização de telepresença generalizada.
Para além de uma física da comunicação, a interligação constitui a
humanidade em contínuo sem fronteira, cava um meio informativo oceânico,
mergulha as pessoas e as coisas no mesmo banho de comunicação
interactiva. A interligação tece um universal por contacto. (LÉVY, 1997, p.
132).
Como já foi dito anteriormente, a cibercultura compreende um todo universal,
o qual vai além da presença física, se fala agora de uma telepresença. Aprender a
usufruir e a aceitar as transformações que a cibercultura nos proporciona não é
tarefa fácil, mas é possível perceber que a humanidade está aberta para essas
transformações e vem compreendendo a cibercultura como um movimento de
interligação e de trocas entre os povos, é plausível intuir isto através das
comunidades virtuais, pois as mesmas têm crescido e multiplicado os números de
usuários.
Um outro conceito a ser pensado por Lévy (1997, p. 95) é o de ciberespaço.
O mesmo define o ciberespaço “como o espaço de comunicação aberta pela
interligação mundial dos computadores e das memórias informática”. O ciberespaço
abrange os outros tipos de comunicação, como as redes telefônicas, dado que as
mesmas estão incluídas entre os tipos de comunicação onde o sujeito recebe e
transmite num tempo real e atual, tendo como característica principal a
comunicação.
Em seu livro “O que é o virtual?”, Lévy faz um percurso apresentando-nos
detalhadamente o conceito de virtual. Nele o virtual é tido como um complexo
presente em todos os acontecimentos, tem relação com o futuro e é da ordem do vir
a ser. O mesmo não se opõe ao real porque existe realidade no virtual. Pela sua
dinâmica o virtual está constantemente remetendo a pessoa a resolução de algum
conflito, ocorre, porém, que a realização do mesmo se dá pela atualização dos fatos.
A atualização é um constante retorno ao virtual, ela é alimentada pelas
transformações que ocorrem no virtual “uma produção de qualidades novas, uma
transformação das ideias, um verdadeiro devir que alimenta de volta o virtual”
(LÉVY, 1996, p. 17).
Entremeio ao virtual e a atualização encontra-se a virtualização. Esse
conceito por sua vez remete ao vazio, à transformação, à mutação. “A virtualização
pode ser definida como o movimento inverso da atualização” (LÉVY, 1996, p. 17).
16
Nesse sentido, a virtualização é a pergunta que se coloca a partir de um conflito já
resolvido, caracterizando-se como uma redefinição da atualidade. A virtualização
está repleta de criatividade, pois a mesma é fruto de uma confusão gerada a partir
das questões que a pessoa é desafiada a responder. É, portanto do vazio e da
angústia gerada pela virtualização que se chega a uma reinvenção da cultura.
1.3 O HOMEM E A MÁQUINA
O desafio agora é pensar na relação homem/máquina. Provocação esta já
proposta pela revolução industrial a qual provou para o próprio homem que é
possível sim, uma relação homem/máquina, já que a mesma é fruto mais uma vez
do pensamento do homem. A máquina não é senão, um modo, um meio como o
sujeito se relaciona com o seu trabalho e como ele próprio compreende o seu tempo.
A revolução industrial colocou o homem em crise, porque o mesmo não havia ainda
compreendido que a máquina não pensa por si mesma. Algumas teorias da época
desvalorizavam e até discriminavam os avanços tecnológicos, mas com o passar do
tempo, percebeu-se que a máquina pode ser parceira do homem, porque a mesma
só funciona porque existe um ser pensante que lhe oferece os devidos comandos.
A questão da técnica ocupa uma posição central. Se por um lado conduz a
uma revisão da filosofia política, por outro incita também a revisitar a
filosofia do conhecimento. Vivemos hoje uma redistribuição da configuração
do saber que se havia estabilizado no século XVII com a generalização da
impressão. Ao desfazer as ecologias cognitivas, as tecnologias intelectuais
contribuem para fazer derivar as fundações culturais que comandam nossa
apreensão do real. (LÉVY, 2001, p. 10).
Neste
vasto campo
de
novas tecnologias, o
homem é
desafiado
constantemente a revestir-se de uma nova ciência. Segundo o que Lévy nos propõe,
são essas tecnologias que lançam os fundamentos para o conhecimento e fazem do
homem o construtor de uma nova cultura. A mesma nos conduz a refletir sobre o
ser, dado que a máquina está para o homem como um objeto que deve ser
conhecido, ou seja, a verdadeira transformação do pensamento humano em objeto,
portanto, a máquina se transforma em algo concreto e real. Conforme já dito
anteriormente, por ser invenção do pensamento humano é que as tecnologias se
17
transformam e mudam conforme a capacidade que o homem tem de transpor para o
real o seu pensamento.
Imbuídos nessa metamorfose homem e máquina transformam a realidade da
atual sociedade. Nessa relação existe proximidade, ou seja, uma interface. É sobre
isto que Pierre Lévy (1993) nos fala em seu livro “As tecnologias da Inteligência”.
Estando em interface com a máquina, nesse caso o computador, o homem está indo
ao encontro de outras subjetividades. Esse encontro é na realidade a acolhida do
outro, do diferente, que é participe de um outro meio, de uma outra cultura, por esse
motivo “Não existe uma „Técnica‟ por trás da técnica, nem „Sistema técnico‟ sob o
movimento da indústria, mas apenas indivíduos concretos situáveis e datáveis”
(LÉVY, 2001, p. 12).
A profundidade da relação do homem com a máquina se dá nesse espaço de
encontro, onde o homem efetivamente busca compreender e dar sentido ao fazer da
máquina. Esse campo é amplo e coletivo, pois, seja na relação de trabalho, no
estudo, na pesquisa ou no lazer; o homem coloca-se diante da tela falando e
interagindo
com vários
interlocutores,
próximos
ou
distantes,
através
da
comunicação em tempo real, a qual tem sido possibilitada pelo progresso do
pensamento humano, que não para após uma invenção criativa, mas conhece e
aperfeiçoa cada vez mais o seu produto.
Pensar na utilidade da máquina é ter presente que “Toda criação equivale a
utilizar de maneira original elementos preexistentes. Todo uso criativo, ao descobrir
novas possibilidades, atinge o plano da criação” (LÉVY, 2001, p. 58). Colocar-se na
atitude de um receptor ativo e não ficar passivo diante da máquina, talvez esteja nos
primórdios de qualquer criação humana. No caso do computador, isso pode tornarse, mesmo que inconscientemente um desejo, já que a relação está baseada numa
relação de sujeito/objeto, ou seja, numa relação de conhecimento e domínio sobre o
objeto em relação.
Essa relação que se coloca afeta e atinge a percepção do homem, pois a
mesma vai dizer do mundo, influenciando o modo como o homem compreende e lê
os fatos, dando a ele uma visão e persuadindo-o na sua relação com o meio. Na
contemporaneidade as tecnologias têm nos acompanhando em todos os lugares,
não podemos negar a influência das mesmas nas relações do cotidiano.
Compreender e absorver as qualidades tecnológicas, é ter consciência do uso que
18
se faz das mesmas, pois a máquina foi criada para ajudar e servir o homem em suas
necessidades. Retornando ao que Lévy nos propõe, a relação de interface é uma
relação que deve humanizar a máquina, e essa humanização só pode vir através do
homem, com elaboração de projetos humanizantes que o ajudem a navegar por
meio de uma internet segura.
1.4 A CIÊNCIA COMO BUSCA E O PASSADO COMO RESPOSTA
Nesse ponto instigante queremos presentificar o vazio que se coloca na era
da informação. Vazio esse que não é preenchido por nada, porque nos parece que a
sociedade imediatista está em parte adormecendo um tempo de espera que é
próprio do homem. Nesse sentido é cabível perguntar: Que sociedade estamos
preparando para o futuro? A ciência se coloca cada vez mais como centro, ou seja,
como aquela que dará todas as respostas às perguntas da humanidade. No entanto,
embora os avanços das ciências e das tecnologias tenham contribuído de forma
eficaz para a construção da humanidade em todos os aspectos, questiona-se em
que tipo de sociedade vive-se hoje?
Pode-se pensar que atualmente o passado parece distante, existe de certa
forma um esquecimento, as novas gerações não escutam falar da história, da
construção e do modo como foram dando-se as conquistas. Há também uma busca
para responder, ou até mesmo culpabilizar alguém pelos episódios que acontecem
atualmente na sociedade. Com a globalização vieram transformações no modo de
pensar e do agir do homem. Além disso, se fala de um relativo aumento da violência
e de outros males que assolam a sociedade contemporânea, como o uso de drogas,
etc.
Mas quem irá carregar a culpa da humanidade? O passado, ou, futuro? Não
sabemos ao certo, mas somos conscientes de que é preciso conhecer a história
para que a mesma seja elaborada. Afirmamos isto, porque percebemos que mais
uma vez a humanidade está em crise de valores e mudanças de paradigmas. A dor
e o vazio do homem podem estar relacionadas a falta de conhecimento ou da
transformação criativa do mesmo. O que fazer diante da crise e do vazio da
19
existência? Procurar um amigo para conversar, ou até mesmo segui-lo no Facebook,
Twitter, Badoo, Orkut, MSN, etc?
Estamos todos em busca de respostas. As novas formas de ser e de se
relacionar que surgem a partir da era da informação, nos dão a ideia de que nesse
imenso oceano onde é possível se conectar com muitos, o sujeito contemporâneo é
um ser em transformação, conforme Lévy:
A multiplicação contemporânea dos espaços faz de nós nômades de um
novo estilo: em vez de seguirmos linhas de errância e de migração dentro
de uma extensão dada, saltamos de uma rede a outra, de um sistema de
proximidade ao seguinte. Os espaços se metamorfoseiam e se bifurcam a
nossos pés, forçando-nos à heterogênese. (LÉVY, 2001, p. 23).
Entender esse novo sujeito contemporâneo é ter presente que mesmo
parecendo perdido, uma de suas características é colocar-se em busca, é entrar
nesse mar de ideias que é a internet, interagir com outros mundos e produzir outras
formas de relacionamentos. Essa relação que se processa aparentemente com a
máquina está permeada de encontros com outras subjetividades. Percebe-se que a
máquina não substitui o circulo de relacionamentos entre as pessoas, pode-se
confirmar isso através do uso das redes sociais, que tornaram as pessoas mais
abertas para falar da admiração e do amor que sentem pelo amigo. É possível
pensar que o acesso e a adesão ao uso dos novos meios de comunicação têm
tocado profundamente o homem na sua dimensão afetiva, tornando-o mais aberto e
mais sensível ao seu novo habitat contemporâneo.
20
2 EFEITOS SUBJETIVOS
Cada ciência possui por excelência um objeto de estudo, o objeto da
psicologia é a subjetividade humana. Assim, se nós somos os pesquisadores,
também somos o objeto de pesquisa, dado que toda ciência também está permeada
de subjetividades no seu processo de descoberta e de construção. Tratando-se da
subjetividade, percebe-se que a mesma tem um interesse comum para as diversas
abordagens da psicologia, no entanto, ela nem sempre foi objeto de estudo. Ela só
passa a ser objeto de estudo com o devir do sujeito, tal sujeito para ser
compreendido, precisa ser estudado, e o modo como se conhece o mesmo é saber
sobre a sua subjetividade.
Ao discorrer sobre a subjetividade, temos presente a ideia de mutação,
porque ao longo do desenvolvimento da constituição subjetiva o pensamento da
pessoa se transforma. Essa mutação ocorre conforme as vivências pelas quais o
sujeito passa no decorrer do seu amadurecimento psíquico. Quando pensamos
nessa transformação subjetiva, não podemos deixar de situar dentro da história
alguns aspectos marcantes que posicionaram a conquista da construção da
subjetividade.
A partir do apanhado histórico, pode-se compreender que o conceito de
subjetividade foi uma construção. A psicologia, portanto, tem um papel fundamental
para a compreensão de tal conceito, o qual começa a ganhar visibilidade no final do
século XIX. “A percepção de existir se inaugura praticamente de forma simultânea à
percepção de que ele não está sozinho no mundo; existir é uma ação coletiva, pois
nós nos constituímos a partir do outro, a partir do olhar do outro, a partir da emoção
que o outro projeta em nós, a partir do seu julgamento e de sua crença” (BRANCO,
2011, p. 7).
De acordo com o pensamento que se coloca para compreender a
subjetividade, é preciso entender o homem como um animal pensante, racional e
histórico. É por isso que a subjetividade não pode ser pensada fora de um contexto
histórico-social-cultural, nem tampouco fora da relação com o outro. Com Descartes
(século XVII), a noção de subjetividade ganhou amplitude “penso, logo existo!”,
dando-nos assim, a ideia de que a subjetividade não era somente para uma elite
determinada. Ao contrário disso, a subjetividade se faz para todos. Todo sujeito tem
21
em si mesmo subjetividade, a mesma dá a cada um a possibilidade e a capacidade
de pensar e de ser sujeito de sua própria história.
Nesta medida, a individualidade, por exemplo, é uma noção que permitiu o
delineamento de um espaço psicológico (FIGUEIREDO & SANTI, 2003)
que, como tal, só poderia ser individual. No entanto, é somente na medida
em que estamos inseridos num referencial moderno que nos constituímos
como seres dotados de uma subjetividade individual, particular,
intransferível e que não se repete. Estes sujeitos, enquanto psicológicos,
tem “tudo a ver” com a história de uma determinada Psicologia, suas
práticas e produções teóricas. (BARBOSA, CASELLI & LANG, p. 03).
Percebemos, pois, que o fato de se reconhecer como sujeito, determina a
subjetividade. Com o passar do tempo o modo de compreender esse sujeito vai
modificando. Através das relações o indivíduo muda com a sociedade e a sociedade
também se transforma, dando-nos cada vez mais uma noção de completude do
homem. As influências e as transformações tecnológicas garantem um saber todo
especial a esse novo sujeito, alterando completamente a compreensão de indivíduo.
Podemos, pois, cogitar que a subjetividade não nasce do nada. Ela é fruto de
um discurso, é, portanto, o discurso o principal conceito que funda a subjetividade.
Mas o discurso não está ligado a palavras, ele é parte da história e da herança
cultural de cada povo. Cada sociedade funda o seu próprio discurso. Nesse sentido,
a subjetividade não pode ser compreendida dentro de um contexto isolado. Ela é um
efeito que acontece do exterior para o interior. Ela é ainda dinâmica, pois se constrói
e se transforma conforme a necessidade e a realidade de cada sujeito.
Por ser a subjetividade efeito de um discurso, ela nasce atrelada a linguagem.
Seus meios são os da fala, na medida em que ela confere um sentido às
funções do indivíduo; seu campo é o do discurso concreto, como campo da
realidade transindividual do sujeito; suas operações são as da história, no
que ela constitui a emergência da verdade no real (LACAN, 1998, p.259).
Nesse sentido, a linguagem vem como expressão desse eu corporal, onde a
subjetividade é transportada para dentro do humano, a partir de então, começa a se
perceber que não dá para pensar a subjetividade se a mesma não está encarnada.
Para que haja um eu subjetivo, é necessário que exista um corpo que o acolha,
porque o eu nasce do corpo e vai compor ligado a esse corpo uma parte central da
subjetividade. Esta ideia já nos foi proposta por Lacan (1966), que demonstrou que
22
para nascer um eu o sujeito precisa de uma imagem corporal, essa imagem corporal
se constitui no estádio do espelho.
Assim por ser efeito de um discurso, ela igualmente é efeito de um sujeito que
depende de um Outro. Para Lévy: “Nossa subjetividade se abre ao jogo dos objetos
comuns que tecem num mesmo gesto simétrico e complicado a inteligência
individual e a inteligência coletiva, como o anverso e o reverso do mesmo tecido,
bordado em cada face a marca indelével e flagrante do outro”(LÉVY, 1996, p. 133).
O resultado do que está posto é que a subjetividade não é uma característica
particular, individual, por mais paradoxal que isso pareça, ela é o resultado da
relação do sujeito com a cultura.
Tudo aquilo que nos torna humanos vem da cultura: traços, características,
símbolos civilizatórios. A cultura é aquilo que define o humano sendo também aquilo
que define a subjetividade. Para refletir essa questão na sociedade contemporânea,
temos que necessariamente pensar em que tipo de discurso o sujeito
contemporâneo está fundamentando a sua constituição subjetiva. Em que tipo de
herança subjetiva o sujeito contemporâneo se baseia para viver na presente
sociedade? Que tipos de mecanismos são necessários para ser sujeito do discurso
no mundo contemporâneo?
2.1 A SUBJETIVIDADE NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO
Quando tratamos da questão subjetiva na contemporaneidade, somos
forçados a pensar nas novas formas culturais que se processam e se renovam a
cada instante dentro da atual sociedade. Falamos das novas formas culturais,
porque com a globalização o tempo para se conceber e assimilar uma cultura está
cada vez mais escasso. Pensamos, pois, que o imediato acesso as novas culturas
vem transformando o sujeito contemporâneo, tornando-o um ser extremamente
sensível ao tempo. Tal sensibilidade está na ordem da espera, ou seja, não há
tempo “perdido”, porque o tempo na contemporaneidade é lucro.
Através desse imediatismo constante, o sujeito contemporâneo é estimulado
a ter sempre mais acesso aos novos meios de comunicações para que o mesmo
ganhe tempo nos seus afazeres cotidiano. A repercussão disso influencia
23
diretamente na constituição do sujeito, pois o fato de não existir espaço para “perderse”, retalha do sujeito um tempo que seria próprio dele, ou seja, um tempo
necessário para processar e se inteirar dos acontecimentos do mundo, e se tocar
pelas situações que a vida apresenta.
Tratando-se, pois, da questão do virtual esse assunto torna-se complexo, na
medida em que entendemos que no acesso ao espaço virtual o sujeito pode-se
perder. Perde-se no sentido de que para acessar tal espaço é preciso ter clareza do
que se deseja, porque dado o espaço virtual ser a janela para o mundo através de
várias propostas lançadas dentro desse ambiente, o sujeito acaba por se perder,
porque o tempo no virtual é consumido sem ser percebido, a cada link acessado é
um novo mundo que se abre, e na curiosidade de participar e de conhecer tal
mundo, o sujeito acaba se perdendo em grandes viagens que muitas vezes resultam
na frustação por ter perdido tempo.
A força e a velocidade da virtualização contemporânea são tão grandes que
exilam as pessoas de seus próprios saberes, expulsam-nas de sua
identidade, de sua profissão, de seu país. As pessoas são empurradas nas
estradas, amontoam-se nos barcos, acotovelam-se nos aeroportos. Outros,
ainda mais numerosos, verdadeiros imigrados da subjetividade, são
forçados a um nomadismo do interior. (LÉVY, 1996, p. 150).
Esse imediatismo frenético que rouba do sujeito o seu tempo, posteriormente
pode causar implicações subjetivas. As mesmas vêm em forma de sintomas como já
é comum na contemporaneidade (depressão, TDAH, síndromes...). A falta de
sentido que muitos sujeitos vivem, pode estar relacionada a algumas experiências
de vida, fatos do cotidiano que ocorreram e que não foram atravessados. Daqui
nasce a importância de um tempo vazio, urgentemente necessário para despertar
nos sujeitos contemporâneos outros sentidos.
É natural que o sujeito na procura de sua realização corra em busca da
consumação de um desejo. Na sociedade contemporânea o homem busca uma
promessa, que é justamente o preenchimento desse vazio existencial. No entanto,
não sabemos bem se é em nome de uma promessa, ou pelo medo do encontro
consigo mesmo, que o sujeito contemporâneo preenche a sua agenda de reuniões,
tarefas, encontros... O ócio não existe mais.
24
O terreno sobre o qual se presume que nossas perspectivas de vida se
assentem é reconhecidamente instável – tal como são os nossos empregos
e as empresas que os oferecem, nossos parceiros e nossas redes de
amizade, a posição que desfrutamos na sociedade mais ampla e autoestima e autoconfiança que o acompanham. O “progresso”, que já foi a
manifestação mais extrema do otimismo radical e uma promessa de
felicidade universalmente compartilhada e permanente, se afastou
totalmente em direção ao pólo oposto, distópico e fatalista da antecipação:
ele agora representa a ameaça de uma mudança inexorável e inescapável
que, em vez de augurar a paz e o sossego, pressagia somente a crise e a
tensão e impede que haja um momento de descanso. (BAUMAN, 2004, p.
16).
Encontrar um espaço de sossego em meio a sociedade contemporânea tem
sido um desafio constante. Parece-nos que o fazer está tomando conta do homem
contemporâneo. Isto não acontece por acaso, já que a sociedade atual é herdeira
das propostas do capitalismo as quais estão no auge de sua execução. Recordar
tais propostas é ter presente que para o capitalismo só servimos enquanto somos
produtores, e repousados nesta mesma mentalidade, o sujeito contemporâneo têm
sido definido como o sujeito do fazer, pois somos úteis enquanto produzimos.
Ao criticar o progresso Bauman (2004), nos alerta para que não sejamos
passivos, ou até mesmo ingênuos, dado que a lógica do progresso deveria ser
global e abarcar o sujeito por inteiro. Nesse sentido, acreditar nas transformações e
tentar concretizá-las envolve não somente o material, mas um bem-estar psíquico.
Com o avanço do progresso é possível perceber que de pouco adianta ter progresso
se o aumento do mesmo não abarca a todos, infelizmente o que existe é um
monopólio, grupos que se ocupam em alienar cada vez mais o sujeito de sua
realidade para que o mesmo não seja uma ameaça ao poder dominante.
Assim, a promessa vai ficando cada vez mais ilusória. Ninguém se sente
responsável pelo outro, há uma luta constante, uma supervalorização do princípio do
prazer, o “id” está à solta, porque o que vale mais é o prazer momentâneo, ainda
que o mesmo esteja vazio de sentido, ideias e sonhos. Essa abertura dos sujeitos
contemporâneos a esse novo acontecimento cultural, onde muitas vezes o que
impera é a indiferença e a alienação, está contribuindo consideravelmente com o
modo como concebemos a subjetividade nos tempos atuais.
As mensagens dirigidas dos centros do poder político tanto para ricos como
para os infelizes apresentam “mais flexibilidade” como a única cura para
uma insegurança já insustentável – e assim retratam a perspectiva de mais
incerteza, mais privatização dos problemas, mais solidão e impotência e, na
25
verdade, mais incerteza ainda. Elas excluem a possibilidade de uma
segurança existencial que se baseie em alicerces coletivos e assim não
oferecem incentivo a ações solidárias; em lugar disso, encorajam seus
ouvintes a se concentrarem na sua sobrevivência individual ao estilo “cada
um por si e Deus por todos” – num mundo incuravelmente fragmentado e
atomizado, e portanto cada vez mais incerto e imprevisível. (BAUMAN,
2004, p. 20).
A grande questão em nossa pesquisa está colocada do lado da compreensão
deste novo sujeito. Como podemos compreender um sujeito que vive e acredita que
um mundo virtual é possível? Nas reflexões propostas por Lévy (1996) em seu livro
“O que é o virtual?”, o autor refere-se a esse novo que se apresenta como se fosse
um mundo que pudesse ser aceito e vivido por todos. Acreditamos que as relações
estão dando-se cada vez mais em redes, mas precisamos compreender isto, não
como um processo natural, mas como uma situação de imposição onde o próprio
sujeito vai perdendo a sua identidade e a sua individualidade, justamente porque ele
está incluído dentro desse processo, onde todos podem ser criadores, já que o
virtual possibilita-nos tal poder. Nesse ato de criar, cada um cria a sua própria
realidade, tornando-se cada vez mais complexo distinguir o que realmente está na
ordem da realidade e o que é da ordem imaginação.
Não queremos criticar os avanços tecnológicos, nem muito menos o
progresso possibilitado por tais avanços, até mesmo, porque somos cônscios de que
tais avanços contribuíram eficazmente para melhorar as condições humanas no
decorrer da história. No entanto, quando falamos de subjetividade, nos remetemos a
conscientização dos sujeitos de sua própria realidade, assim, como da sua
participação na construção da mesma. Na sociedade contemporânea, a atividade do
pensar tem sido delegada a outros meios. Não que atualmente o homem não pense
mais, mas observa-se que cada vez mais o sujeito contemporâneo tem sido levado a
ser cumpridor de tarefas delegadas por outros, apagando em parte o modo como o
mesmo deve proceder no seu cotidiano.
2.2 SUJEITOS OU ASSUJEITOS
Para pensar sobre essa questão nos perguntamos por onde anda o sujeito do
desejo? Não pretendemos responder a essa questão, mas queremos trazer alguns
26
pontos de reflexão que nos ajudarão a compreender melhor esse sujeito
contemporâneo, que de tal modo, tem-se tornado super atarefado, e que na maioria
das vezes a solução é subsidiar o cotidiano por outros afazeres, tanto cansativos
quanto desgastantes, mas como já dissemos anteriormente são substitutos de uma
promessa que ainda não despontou.
Nesse sentido a globalização contribui de forma bastante eficaz para que os
sujeitos se alimentem das últimas novidades do mercado. Esse exagero que impera
no mundo globalizado está continuamente rompendo as portas para mais uma
novidade, mais um lançamento. O mundo da moda, do ter para estar satisfeito,
invade todos os espaços, sendo que o espaço virtual vem se fortalecendo,
especializando e expandindo, caracterizando-se como um dos grandes fenômenos
existentes na contemporaneidade.
Participar deste incrível fenômeno que é a globalização, talvez torne o sujeito
contemporâneo um ser fragilizado, especialmente nas suas questões subjetivas,
dado que nesse processo de reinvenção da humanidade o modo de ser do indivíduo
também passa por processos de reinvenção, sendo que cada um se reinventa como
pode, ou como acha que deve. Ao conquistar a sua “autonomia subjetiva”, o ser
humano luta por uma sociedade mais comunitária e mais igualitária, no entanto,
parece-nos que esses ideais estão cada vez mais enfraquecidos, pois na realidade
esse novo eu contemporâneo parece-nos um ser solitário e vazio. Sobre essa
questão Bauman (2004), nos fala:
A vida solitária de tais indivíduos pode ser alegre, e é provavelmente
atarefada – mas também tende a ser arriscada e assustadora. Num mundo
assim, não restam muitos fundamentos sobre os quais os indivíduos em luta
possam construir suas esperanças de resgate e as que possam recorrer em
caso de fracasso pessoal. Os vínculos humanos são confortavelmente
frouxos, mas, por isso mesmo, terrivelmente precários, e é tão difícil praticar
a solidariedade quanto compreender seus benefícios, e mais ainda suas
virtudes morais. (BAUMAN, 2004, p. 30).
Do que está dito, podemos compreender que é difícil ser sujeito no mundo
contemporâneo, porque de fato ser sujeito é colocar-se numa contínua caminhada
contra o sistema vigente que exige de cada um o melhor, mas que nos impossibilita
viver plenamente como sujeitos. A partir do que se coloca ser sujeito não é somente
ter vontade própria, mas é acima de tudo poder viver livre de tudo aquilo que nos
aliena da nossa realidade e compreender que para ser não precisamos ter, porque
27
ser é a condição essencial que nos caracteriza como sujeitos, sendo que o ter é
somente a consequência de nossas escolhas, se é que podemos escolher!
Há sem dúvidas um lado muito bom e que merece ser defendido no processo
de globalização, no entanto, com ele vieram também as novas psicopatologias.
O novo individualismo, o enfraquecimento dos vínculos humanos e o
definhamento da solidariedade estão gravados num dos lados da moeda
cujo outra face mostra os contornos nebulosos da “globalização negativa”.
Em sua forma atual, puramente negativa, a globalização é um processo
parasitário e predatório que se alimenta da energia sugada dos corpos do
Estados-nações e de seus sujeitos. (BAUMAN, 2004, p. 30).
Na contemporaneidade, a humanidade ainda não superou a fome, a miséria,
as guerras. Falamos de avanços tecnológicos, revolução digital e encontros
interculturais, no entanto, existem outras faces que fazem do ser contemporâneo
assujeito de sua história. Quando falamos de assujeitos, pensamos na participação,
no reconhecimento e na apropriação da própria realidade, seja ela individual ou
comunitária, porque esse sujeito não existe sozinho, nem tampouco deve ser
engolido pelo sistema. Mas, é um sujeito crítico e que acima de tudo tem coragem o
suficiente para remar contra a maré, porque ser sujeito no mundo contemporâneo é
exatamente nadar ao contrário, já que o sistema está cada vez mais fortificado e
com as redes lançadas.
Mas o que a sociedade atual deseja de seus indivíduos? Seria interessante
pensar sobre essa questão civilizatória e sobre os desejos que imperam na
sociedade atual, a fim de poder conhecer melhor o discurso operante sobre cada
sujeito; para que através do conhecimento desse discurso, cada indivíduo pudesse
fazer suas próprias escolhas, sendo sujeito construtor de sua história sem
abandonar a questão da coletividade humana e civilizatória.
2.3 TEMPO, ESPAÇO E VIRTUALIDADE
A nossa reflexão segue agora por um caminho que nos é bastante conhecido,
mas que na contemporaneidade percebe-se uma certa falta de apropriação dos
conceitos acima citados. Por isso queremos pensar a questão do espaço, do tempo
e da virtualidade e o modo como o sujeito contemporâneo está se compreendendo
28
dentro do atual contexto. A partir da lógica que os mesmos é que são produtores do
espaço, dentro de um tempo determinado. Na visão de alguns estudiosos, cogita-se
a ideia de que o sujeito contemporâneo anda vagando por vários espaços virtuais. O
que fazer para que esse novo ser se compreenda e faça parte de uma realidade,
que não seja virtual, mas que tenha passado, presente e futuro? Não pretendemos
dar respostas, mas queremos achar as luzes para compreender melhor esse novo
mundo no qual estamos inseridos.
Para pensar essas questões, seguiremos a proposta da filósofa Marilena
Chauí, a partir de uma palestra proferida pela mesma em Campinas/SP, no ano de
2010. Em sua palestra intitulada “Espaço, tempo e mundo virtual: A contração do
tempo e o espaço do espetáculo”, a autora reflete sobre a questão da crescente
mutação presente na sociedade contemporânea e o modo como essas mutações
vão sendo recebidas e assimiladas pelos sujeitos. Ao mesmo tempo em que ela
questiona quais são as novas dimensões da experiência existencial e sensorial
dessa nova humanidade. Citando Maurice Merleau-Ponty (1908 – 1961), a autora
fala o seguinte:
O nosso corpo não é um eu objeto, tal como descrito pelas ciências, mas é
um corpo humano, isto é, habitado e animado por uma consciência. Nós
não somos pensamento puro, porque nós somos um corpo. Mas, nós não
somos uma coisa, porque nós somos uma consciência. O mundo não é um
conjunto de coisas e fatos estudados pelas ciências, segundo relações
causais e funcionais. Além do mundo como um conjunto racional de fatos
científicos, existe o mundo como lugar onde vivemos, onde vivemos com os
outros e rodeados pelas coisas. Um mundo qualitativo de cores, sons,
odores, tessituras, figuras, fisionomias, obstáculos, caminhos, lembranças.
Um mundo afetivo, um mundo com os outros. Um mundo de conflitos, de
lutas, de esperança e paz. Nós somos seres temporais, ou seja, nós
nascemos e temos consciência do nascimento e da morte, ou seja, nós
temos a memória do passado, a esperança do futuro. Nós somos seres que
fazem a história, sofrem os efeitos da história. Nós somos tempo. O tempo
existe, porque nós existimos. (CHAUÍ apud MERLEAU-PONTY, 1994).
A partir do que se coloca, compreende-se que é o sujeito quem faz a
existência do tempo. Por isso, quando falamos dessa existência, somos levados a
pensar os caminhos pelos quais estamos dando espaço para a existência desse
tempo do qual fazemos parte. Quando falamos em existência, nos referimos
justamente a essa existência histórica, a qual oferece para o sujeito as condições
básicas que são necessárias para a sua constituição subjetiva. E essas condições,
se assim podemos pensar, são justamente o fato de estarmos presentes no tempo,
29
referenciados a um passado que o sustém e o mantém herdeiro de um legado
simbólico presente e atuante na história de cada um.
O que podemos pensar das pessoas que passam o seu tempo ligados a uma
rede onde não existe um corpo e nem um espaço? A partir dessa ideia Chauí (2010),
nos fala que o meio virtual comporta duas ausências a qual ela nomina de: atopia
(ausência de espaço) e acronia (ausência de tempo). No mundo virtual as
dimensões de tempo e espaço estão extintas, porque a dimensão temporal e
espacial é o que identifica a condição humana e na virtualidade essas dimensões
estão descaracterizadas, porquanto o espaço é caracterizado pela presença do
outro, já que é esse outro matéria quem vai nominar dando os recortes necessários
a subjetivação e a apreensão espacial e temporal.
Nós somos seres espaciais. Para nós o mundo é feito de lugares. Perto,
longe, o caminho, a mata, a cidade, o campo, o mar, a montanha, o céu, a
terra. Esse mundo espacial é feito de dimensões – o grande, o pequeno, o
maior, o menor. Ele é feito de qualidades. O meu corpo não é uma coisa.
Não é uma máquina, ele não é um feixe de ossos, músculos, sangue, nem
uma rede de causas e efeitos. Ele não é um receptáculo para uma alma, ou
para uma consciência. O meu corpo é um sensível, que é sensível para si
mesmo. O meu corpo é o meu modo fundamental de ser no mundo. (CHAUÍ
apud MERLEAU-PONTY, 1994).
Sem tempo e sem espaço, onde andaria, ou quais seriam as reais dimensões
do desejo desse sujeito? Dentre as questões que se colocam o mundo virtual não
contempla todos os reais espaços que complementam o processo de subjetivação,
porque no espaço virtual os sujeitos passam somente pela experiência momentânea,
instantânea, sendo que essa experiência não possibilita para os sujeitos as
experiências dos sentidos, que são fundamentais para que possamos nos
compreender e nos reconhecer em meio a um determinado espaço. Dito de outro
modo, o sujeito não é uma coisa, porque o mesmo está dentro de um universo
simbólico que lhe garante a apropriação do real através do processo de
simbolização.
O mundo virtual exclui o sujeito desse processo de simbolização,
precisamente porque no mundo virtual tudo é instantâneo. A instantaneidade do
tempo parece tirar do sujeito o sentido real dos acontecimentos e quando os
acontecimentos e/ou fatos do cotidiano não passam pelo processo natural de
antecipação e/ou sucessão de eventos, corremos o risco de termos sujeitos que
30
vivem num tempo sem tempo, dito de outro modo, sujeitos que vivem numa
atemporalidade. Para Chauí:
O resultado desse processo é muito pior do que o processo anterior 3 .
Porque antes se passava de uma repressão a uma simbolização. Esse
processo de simbolização nós não vemos mais na nossa sociedade. O que
pertencia ao universo simbólico caiu para a dimensão de signo, virou signo,
é por isso que virou espetáculo. Virou signo e como signo é aquilo que você
aponta e daquilo que você se apropria. E como não tem mediação
simbólica, o que tem é uma luta mortal pela posse desse signo, desses
sinais (sucesso, poder, juventude, riqueza). (CHAUI, 2010).
Compreendemos, pois, que a sociedade atual está lidando com esse sujeito,
o qual se caracteriza pela liquefação do espaço e do tempo. A questão é bastante
complexa, e os efeitos são assustadores. Sendo que, os efeitos subjetivos podem
ser verificados a partir das psicopatologias contemporâneas (Depressão, TDH,
Transtornos de ansiedade), de certo modo, essas patologias são um meio pelo qual
o sujeito vem denunciar tal sistema, porque a virtualidade traz várias possibilidades,
mas o sujeito está sempre no vazio.
3
Aqui, a autora faz menção à mudança de paradigmas. Do paradigma de conhecimento, para o paradigma de
informação.
31
3 OS NOVOS SINTOMAS CLÍNICOS NA CONTEMPORANEIDADE
No presente capítulo, queremos pensar os novos sintomas clínicos surgidos a
partir dos efeitos da sociedade contemporânea e o modo como a psicologia vem
compreendendo tais sintomas. E se falando de sintomas, não podemos deixar de
fazer menção a Freud, que influenciado pelas ideias de Nietzsche compreendeu o
eu, como produto do inconsciente. A partir da compreensão freudiana, o sintoma é a
resposta do sujeito a uma realidade a qual ele não conseguiu atravessar, nesse
sentido podemos pensar que “os sintomas neuróticos têm, portanto, um sentido,
como as parapraxias e os sonhos, e, como estes, têm uma conexão com a vida de
quem o produz” (FREUD, 1916-1917, p. 265).
Podemos, pois, pensar que são essas ações vindas do inconsciente que
movem o sujeito, isto acontece porque os sintomas são a manifestação daquilo que
foi recalcado, sendo que o deslocamento de tais desejos recalcados surgem em
forma de sintomas, os quais se apresentam das mais diferentes formas. A partir das
informações e descobertas feitas por Freud, percebe-se que em cada época os
sujeitos têm um modo de denunciar aquilo que não anda bem na sua vida pessoal,
mas também na vida da sociedade, dado que a sintomatologia que cada sujeito
apresenta, tem estreita relação com o processo de constituição subjetiva desse
sujeito que é parte integrante da sociedade, ou seja, da sua época.
Na sociedade em que Freud viveu a grande questão psicopatológica era a
histeria, a qual foi estudada profundamente por esse pesquisador e entre suas
conclusões, mostrou que além dos problemas subjetivos enfrentados pelas
histéricas, os sintomas denunciavam um complexo sistema social de exclusão
feminina, dado que naquela época a mulher não era considerada parte integrante da
sociedade. A partir dessas ideias, somos levados a compreender os sintomas
psicopatológicos que emergem na sociedade contemporânea, encontram-se num
contexto social totalmente diverso. Diferente da Viena do Século XIX, as
psicopatologias do século XXI, atingem no sentido global a subjetividade do sujeito
contemporâneo. Com relação a essa nova realidade Birman nos alerta que:
A psicopatologia contemporânea se interessa fundamentalmente pelas
síndromes e pelos sintomas, no sentido médico do termo. Com isso, a
concepção tradicional de enfermidade, centrada na ideia de etiologia, perde
32
terreno face à articulação de sintomas sob a forma de síndromes. Nestes
termos, a psicopatologia da atualidade se aproxima bastante e até se
identifica com a nova racionalidade clínica. Esta identificação não é
arbitraria e casual, mas realiza-se pela identidade da psiquiatria com o novo
discurso da medicina clínica, que constituiu os parâmetros novos para
realizar um outro recorte no universo das enfermidades. (REVISTA LATINO
AMERICANA DE PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL apud BIRMAN,
1998, p. 42).
Observa-se, pois, que atualmente as psicopatologias têm ganhado formas e
nomes diversos, além de que elas atingem um público amplamente diversificado e
estão presentes em todos os núcleos e instituições sociais. Alguns teóricos pensam
que tais patologias são produtos de um sistema virtual, onde impera a lei do
momentâneo e do agora. Onde ainda, os projetos futuros não existem porque as
pessoas deixaram de acreditar nos projetos a longo prazo, esvaziando as suas vidas
de todo e qualquer compromisso que venha implicar nas decisões e escolhas
futuras. Imbuídos dessa lógica, pensamos que o mal-estar contemporâneo vem
exatamente para alimentar a indústria e o comércio farmacêutico e os laboratórios,
que estão a cada dia lançando um novo antidepressivo no mercado para que o
mesmo possa aliviar as dores de ordens indizíveis do homem contemporâneo.
Falamos de dores indizíveis, mas poderíamos falar também de dores
irrealizáveis, porque o homem contemporâneo na realidade está preocupado em não
sentir dor nenhuma e assim acaba por não realizar-se como pessoa, como sujeito.
Dito de outro modo, a realização passa necessariamente pelo sofrimento porque é
isto que vai constituir o sujeito, ou seja, sem o sofrimento o homem não se constitui
como sujeito. É natural no ser humano a presença de conflitos, eles são parte
inerente à condição humana, de modo que se nós os excluímos o que resta do
humano é apenas um corpo, um corpo sem dor, adoecido, e sem desejo. Através de
Bauman entendemos que:
[...] Se não podemos eliminar todo sofrimento, podemos eliminar alguns e
aliviar alguns outros – é algo que vale a pena tentar, e continuar sempre
tentando. E assim nós tentamos o máximo que conseguimos, e para a
preocupação de que outras melhorias, desejáveis sob outros aspectos,
permanecerão definitivamente fora das fronteiras, transformando todas as
tentativas de alcançá-las no desperdício de um tempo precioso. (BAUMAN,
2004, p. 62).
É com esses sujeitos que a clínica da contemporaneidade vai trabalhar.
Esses sujeitos que muitas vezes já trazem em si os estigmas contemporâneos
33
(Depressão, TDH,
e Ansiedade). Para atender as demandas do sujeito
contemporâneo, necessitamos compreender o que se coloca na origem de tais
patologias ao mesmo tempo em que temos que compreender os mecanismos
presentes nessa dinâmica e que certamente contribuem para o seu sofrimento
psíquico.
3.1 ANSIEDADE
Quando pensamos o fazer clínico contemporâneo, um dos quesitos mais
presentes e que perpassa todas as psicopatologias é justamente a ansiedade. A
mesma se faz presente nas pequenas e grandes decisões do cotidiano, além disso,
ela faz o sujeito deixar de ocupar-se com a realidade, já que a ansiedade está
permeada por uma ânsia constante, sendo essa uma das suas principais
características, dito de outro modo, um afã constante por algo que ainda não está
presente. Assim, ao contrário da depressão, a ansiedade porta em si, um excesso
de energias para executar algo.
Esse excesso leva automaticamente o sujeito ao mundo das ideias, ou seja, o
sujeito ansioso entrega-se aos excessos do imaginário. Pensamos que isto advém,
visto que é natural do ser humano projetar-se numa determinada situação e também,
porque a ansiedade justamente tem ligação com essa projeção em demasiado,
sendo que o patológico se caracteriza exatamente pelo caráter de exagero presente
numa determinada situação. Ocorre, pois, que para os sujeitos ansiosos o tempo
não passa, porque a perspectiva de realizar algo no futuro torna o presente uma
eternidade.
Nesse sentido, um dos danos causados na subjetividade pela a ansiedade é a
falta de concentração. Isto sobrevém, porque na ansiedade a energia está voltada
somente para um determinado acontecimento. Esse excesso de energia direcionada
para o futuro deixa de novo o sujeito no vazio, ou seja, não há uma sintonia de corpo
e de mente, já que o corpo está no presente e a mente está divagando, buscando
imaginar como será a realização de um determinado acontecimento.
Para Freud (1926) a ansiedade está relacionada ao recalque, nesse sentido
compreende-se que a mesma resultaria do deslocamento de algo anteriormente
34
reprimido, que agora se reatualiza produzindo com isto, os mais variados sintomas.
Nesse sentido podemos pensar que “... A ansiedade não é criada novamente na
repressão; é reproduzida como um estado afetivo de conformidade com uma
imagem mnêmica já existente [...] os estados afetivos têm-se incorporado na mente
como precipitados de experiências traumáticas primevas, e quando ocorre uma
situação semelhante são vividos como símbolos mnêmicos4” (p. 97).
Então, segundo Freud, a ansiedade é resultado da junção dos afetos não
elaborados. Contudo, para que sejam elaborados parcialmente os sujeitos tendem a
transformá-los em sintomas. Conforme citado anteriormente, o próprio Freud
percebeu através do tratamento das histéricas que a histeria era justamente a
conversão desses afetos como um mecanismo de defesa psíquico, a fim de que as
ditas histéricas não enlouquecessem. Na atualidade, os sujeitos também lidam com
a angústia, mas não da mesma forma como as histéricas de Freud, visto que agora
as psicopatologias são outras e as diversidades das mesmas são verificáveis na
clínica contemporânea.
Para entendermos como a ansiedade se manifesta na contemporaneidade,
seguiremos a nossa pesquisa tratando agora sobre a Síndrome do Pânico. Como o
próprio nome já nos alerta, a Síndrome do Pânico caracteriza-se por manifestações
de pânicos, onde o sujeito perde o domínio da realidade quando se encontra diante
de um determinado objeto, ou situação. O sujeito em pânico estaria se havendo com
o real da angústia, já que a sua representação viria a ser um objeto.
[...] O objeto-causa de pânico é isso: o que não está no seu lugar no espaço
e no tempo e, no entanto, aproxima o sujeito, instantaneamente, de uma
exorbitante presença, conhecida há muito ou, antes, pressentida desde
sempre. É o encontro de algo que, precisamente não pode ser objeto de um
encontro, de um “face a face”, sem submergir o sujeito e fazê-lo “explodir”.
Explosão que se acompanha de uma “implosão” especular daquele que
acusa seu recebimento (PSICOPATOLOGIA DO ESPAÇO E OUTRAS
FRONTEIRAS apud ASSOUN, P. L, 1999, p. 46).
Dentre as ideias que se apresentam o pânico gera no sujeito uma “implosão”,
mas o que seria essa “implosão” que deixa o sujeito completamente atordoado?
Segundo Assoun (1999), no pânico há o encontro com o objeto. Nesse sentido o
4
[Este termo foi empregado por Freud através de Estudos sobre Histeria (1895 d) ao explicar os
sintomas histéricos. Ver, por exemplo, Edição Standard Brasileira, Vol. II p. 355 IMAGO Editora, 1974.
Um relato muito claro do conceito será encontrado na primeira das Cinco lições (1910a), Edição
Standard Brasileira, Vol. XI, p.. 18 e segs., IMAGO Editora, 1070.]
35
espaço limite entre o sujeito e o seu desejo estariam ameaçados pela presença real
do objeto, então essa presença que já não é mais ausência torna-se insuportável, já
que o encontro com o desejo seria a morte, ou seja, o fim. No encontro não existe
vida porque o sujeito está engolfado pelo objeto. Entrar em pânico seria a saída
última para dizer desse encontro angustiante e insuportável para o sujeito.
Na sociedade contemporânea existem diferentes modos da manifestação do
pânico. Bauman no seu livro “Medo Líquido” (2006), reflete sobre as questões que
assolam a humanidade e sobre isto nos afirma:
As oportunidade de ter medo estão entre as poucas coisas que não se
encontram em falta nesta nossa época, altamente carente em matéria de
certeza, segurança e proteção. Os medos são muitos e variados. Pessoas
de diferentes categorias sociais, etárias e de gêneros são atormentadas por
seus próprios medos; há também aqueles que todos nós compartilhamos –
seja qual for a parte do planeta em que possamos ter nascido ou que
tenhamos escolhido (ou sido forçados a escolher) para viver. (BAUMAN,
2008, p. 31).
Logo, do medo ninguém está livre. Mas como elaborar e significar o medo
para que o mesmo não se torne pânico nas nossas relações cotidianas? Se o pânico
vem desse encontro com o objeto, como pode o sujeito manter distância e
proximidade do seu desejo sem que o mesmo lhe cause tanto pavor? Se o pânico é
gerado pela angustiante presença do objeto, estará a humanidade mais próxima do
seu saber inconsciente? Será que existe uma mediação possível onde o sujeito se
mantenha forte à presença do objeto? Na atualidade o que poderia se chamar de
desequilíbrio, ou seja, quais são as presenças que ameaçam o equilíbrio do sujeito?
Para a Psicanálise é sempre a presença do Outro que causa medo no sujeito.
Mas não qualquer presença, quando falamos da presença do Outro, fazemos
menção a presença ameaçadora que engole o sujeito deixando-o sem espaço. E no
pânico o que apavora o sujeito é justamente essa falta de espaço – assim,
ameaçado pela falta de espaço o sujeito se apavora e esse apavoramento ocorre
porque o sujeito está desamparado das referências simbólicas, ou seja, aquilo que
até então era fantasia foi traído, talvez, caiba nos dizer que o simbólico traiu o sujeito
deixando-o a mercê do real.
Esse embate do sujeito com o seu desejo é o verdadeiro encontro com a
solidão. Conforme nos diz Assoun (1999, p. 54) “O sujeito sente, no âmago de seu
36
pânico, uma figura abrupta da solidão [...] Dolorosamente só, o sujeito em pânico
sente-se, conforme o ser-só5, saturado do mundo e de seu “duplo”, que ele deve
arrastar até sua fuga”. A sós, ele deverá enfrentar a si mesmo, ou seja, aquilo que
de certa forma estava na sua fantasia e que agora se tornou real precisa ser
significado. Coloca-se para o sujeito um verdadeiro estado de luta, onde ele deverá
cuidar de si mesmo.
Através de uma simples análise sobre os efeitos do mundo virtual nos sujeitos
contemporâneos, podemos perceber que na sociedade virtual os sujeitos são
empurrados exatamente para esse encontro com o vazio, já que a realidade virtual
permanece sempre no mundo das ideias, aliás, são os excessos de ideias, de
imaginário, que põe continuamente o sujeito em risco. Podemos deduzir que
atualmente o que leva os sujeitos a entrarem em pânico são os excessos de
fronteiras rompidas e de imaginário a solta, portanto, a luta para sobreviver contra os
horrores de um mundo irreal, põe-se do lado da metáfora e da fantasia, dado que os
mesmos protegem o sujeito contra os exageros do imaginário.
3.2 DEPRESSÃO
Dentre as psicopatologias clínicas que assolam os sujeitos contemporâneos,
a depressão tem se caracterizado como um dos grandes desafios, dado que as
causas que dão origem a essa doença são as mais diversas. Diferentes linhas de
pensamento vão discutir as causas que levam o sujeito a deprimir, sendo que é de
grande consideração a opinião das neurociências, pois as mesmas conhecem de
modo detalhado a ação e as alterações químicas que os neurotransmissores podem
causar no organismo do sujeito. No entanto, o foco da nossa investigação dá-se pelo
viés da psicologia, e são com os fenômenos psicológicos da vida do depressivo que
nossa pesquisa visa investigar.
Quando pensamos a depressão dentro do atual contexto, logo nos vem à
mente a imagem do depressivo que se caracteriza por aquele sujeito sem vida, sem
cor, sem desejo... Por que a depressão torna as pessoas tão apáticas? De que dor o
5
Assoun P. L. Métapsychologie de la solitude: clinique del ´être seul, in << Solitudes>>, Topique, n.
64, L `Esprit du Temps, 1998, 76-85.
37
depressivo sofre? Será que existem remédios para acabar com a dor do depressivo?
O atual contexto social ainda não conseguiu produzir um medicamento que curasse
a causa da dor do depressivo, ao contrário, a depressão vem se caracterizando cada
vez mais como um sintoma social. Mas, se a depressão é um sintoma, o que
exatamente o depressivo está denunciando?
Para a psicanálise o depressivo sofre do simbólico, ou seja, o sujeito
depressivo não fantasia, não usa a imaginação. Isso acontece dado uma recusa
ocorrida entre o segundo e o terceiro tempo do Édipo, quando esse ser ainda em
constituição deveria rivalizar com o pai. Ocorre, porque ao se recusar em rivalizar
com o pai, esse pequeno ser fica perdido nos cuidados excessivos da mãe, a qual
não oferece a ele um espaço suficiente onde ele possa desejar algo, porque a mãe
sabe tudo sobre o seu desejo. É por isso que “Poupado pelo Outro do tempo de
espera (do objeto de satisfação), a vida psíquica do futuro depressivo se inaugura
com uma aposta baixa: ele precisa fazer muito pouco, quase nada, para que a mãe
compareça” (KEHL, 2009, p. 228).
Percebe-se, portanto, que é vital para o sujeito um espaço, um intervalo, onde
o mesmo possa lidar com a falta, pois é essa falta que vem do Outro, que lhe
fornecerá mecanismos para que o mesmo não permaneça sempre a espera dos
feitos desse Outro. E se tratando de espaço e de falta como base para a constituição
psíquica, observa-se que no momento atual os sujeitos contemporâneos parecem
cada vez menos tolerantes com relação a esse tempo de espera. A geração virtual é
acima de tudo uma geração instantânea. Ou seja, uma geração que na realidade
pensa que vive mas não vive, porque a pressa com que se vive, acaba por deixar o
presente sempre à espera de ser vivido; dito de outro modo, a vida não se resumo
somente num momento, pois dada a dinamicidade com que a mesma se processa,
carecemos de um tempo para compreender os fatos do cotidiano e assim torná-los
reais.
Cogitamos, pois, que na sociedade contemporânea é importante considerar
que a depressão venha ser um sintoma dessa falta de tempo e de espaço, não
ofertado ao sujeito. Maria Rita Kehl (2009, p. 229) vai dizer-nos que “Uma vida
privada da experiência subjetiva da duração é uma vida cujo valor não é acessível
ao sujeito”. Nesse sentido, o papel desse Outro em todo processo de constituição é
de mediar esse espaço necessário para que o sujeito possa constituir-se como tal,
38
sendo que, o primeiro a fazer isso é o Outro materno, porém, logo em seguida esse
Outro que antes era materno passa a ser o social e é nesta relação com o Outro
social que os sintomas vão se sobressair.
Quando esse intervalo não é ofertado pelo Outro, o sujeito depressivo não
sabe como agir com o seu tempo. Esse não saber pode deixar o sujeito
extremamente angustiado, dado que ele está habituado a ser pensado pelo Outro:
[...] A angústia do depressivo não é convocada por um objeto que se
apresente para o seu desejo, mas pela ameaça permanente de ser tomado,
ele próprio, como objeto do Outro – esse que supostamente sabe mais do
sujeito que ele próprio; esse que ocupa o vazio de onde o sujeito deveria
advir. (KEHL, 2009, p. 230).
Analisando a nossa sociedade, podemos perceber que são vários os fatores
que contribuem para que os sujeitos na contemporaneidade sofram de depressão.
Observamos que o tipo de subjetividade na contemporaneidade está cada vez mais
vazia, sendo que isto somente é possível analisar através dos acontecimentos que
ocorrem diariamente no meio social e do modo como as pessoas resolvem as suas
questões. Parece-nos que o fato de não se oferecer mais tempo para o sujeito, faz
com que construamos uma sociedade onde as fantasias e os sonhos não se
produzem mais.
Pasmamos diante de uma sociedade assim, onde as pessoas desejam um amais, mas não sabem exatamente que desejos são esses que os tornam eternos
insatisfeitos e errantes. Tendo como única alternativa caminhar em círculos no intuito
de encontrar-se, no entanto, se deparam com um imenso vazio, onde o nada tornase a expressão mais forte da existência. Nada a fazer, nada a ser, deprimir-se é a
solução encontrada para “livrar-se” do mal-estar.
3.3 HIPERATIVIDADE
É impossível pensar as psicopatologias contemporâneas sem falar da
hiperatividade, a qual se caracteriza como um quadro de intenso movimento
psicomotor, atingindo especialmente as crianças. Porém, além dos movimentos
infatigáveis produzidos pelos sujeitos hiperativos, existem também outros fatores
39
que precisam ser considerados para que possamos compreender e trabalhar com
essa patologia. Observamos, pois, que assim como na depressão o hiperativo sofre
com os excessos do Outro, sendo que enquanto o primeiro cai no vazio, o hiperativo
está o tempo todo lutando para evitá-lo.
Por isso é comum que diante da dificuldade de lidar com esses sujeitos
repletos de energias, buscam-se rapidamente um modo de contê-los. Para tal, no
contexto atual, observa-se um número excessivo de crianças diagnosticadas com
(TDAH6). No entanto, não sabemos ao certo se as mesmas enquadram-se dentro
desse diagnóstico, já que o mesmo muitas vezes não está sendo realizado por
profissionais. Contudo, é preciso contê-los. Essa contenção vem para responder
uma exigência do social, precisamente da escola, dado que a mesma caracteriza-se
como um dos lugares privilegiados para a padronização dos sujeitos. Dizemos
padronização, porque a sociedade estabelece um modelo de normalidade, e esse
padrão exigido na contemporaneidade parece-nos muito rígido, já que o que se
contempla são sujeitos pequenos ainda em constituição, sendo extremamente
medicados, tudo para responder um protótipo que no lugar de libertar, acaba
deixando a pessoa dependente do uso de medicamentos.
Nesse sentido é cabível pensar que esses sujeitos superenergizados, estão
respondendo ou por que não dizer, denunciando um sintoma social. Para a
psicanálise a relação desse sujeito com a mãe, é que o tornaria hiperativo. Mas
para, além disso, observa-se que algo acontece fora dos excessos maternos, e esse
algo vem justamente do social. É uma demanda que se apresenta e que faz menção
ao tempo, já que o tempo na contemporaneidade têm se tornado o avesso do tempo
psíquico. Assim, por não ter um espaço suficiente para simbolização, o hiperativo
responde através de movimentos corporais constantes a essa incessante demanda.
Pensar na cura do TDAH é um convite para refletir sobre as soluções
apresentadas para cura de tal patologia. No entanto, não temos como falar de cura
sem mencionar a indústria farmacêutica que vem ocupando-se com a produção de
remédios para combater ou aliviar tais sintomas. Contudo, faz-se necessário pensar
onde está o sujeito? Acreditamos que seja esse um dos desafios da clínica
contemporânea, descobrir por onde anda o sujeito, pois ao fazer o tratamento por
via medicamentosa, a implicação do sujeito ao tratamento passa pelos estímulos
6
Transtorno de déficit de atenção.
40
químicos, e se ele não sente dor, nem angústia ele está assujeito a ação do
medicamento. Não queremos desconsiderar o uso do medicamento e seus
benefícios, entretanto, ser sujeito é se implicar com as questões que atravessam o
cotidiano da existência, e nos parece que a sociedade atual não aceita o sofrimento,
ainda que a possibilidade de viver sem sofrimento seja uma mera ilusão.
Assim, pode-se dizer que a psicopatologia da dita pós-modernidade se
caracteriza pelo paradigma biológico, onde as neurociências funcionam
como sendo as referências teóricas daquela. Com isso, as psicoterapias
ficam num plano secundário no campo da intervenção terapêutica, centrada
substancialmente nos psicofármacos. Então a psicanálise passa a ocupar
um lugar secundário e periférico no discurso psicopatológico atual. Além
disso, as intervenções assumem uma incidência pontual, baseando-se em
disfuncionamentos onde o registro das histórias dos sujeitos é algo
absolutamente secundário. (REVISTA LATINO AMERICANA DE
PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL apud BIRMAN, 1998, p. 43).
É possível, pois, perceber que aquilo que foi proferido por Birman (1998), há
uma década, pode ser confirmado na sociedade atual através dos próprios fatos, os
quais nos dão a chave de leitura para dizer quem é esse sujeito contemporâneo.
Contudo, quem é esse sujeito e por que ele tem tanta pressa? Por onde andam os
sonhos, as utopias, a imaginação? Será que é possível ser sujeito dentro de uma
sociedade onde tudo é para o agora? Na sociedade contemporânea o homem vive
dentro ou fora da caverna? E se está dentro da caverna, qual seria a saída?
Percebemos que os efeitos da virtualidade tem tornado o sujeito um ser sem
raiz, isto acontece porque no mundo virtual os laços são fragilizados pela falta de
compromisso com o outro, o que impera é a lógica do individualismo e da
indiferença, ora, se o sujeito não mantém os laços e não tem uma referência, logo,
ele não cultiva uma tradição. Esses efeitos tornam os sujeitos hiperativos, inquietos
e deslocados. Birman (1998), comentado sobre a psicopatologia da pósmodernidade afirma que
... a mundaneidade pós-moderna valoriza os carreiristas e os oportunistas,
que sabem utilizar os meios de se exibirem e de capturarem o olhar dos
outros, independentes de qualquer outra coisa que esteja em jogo em
termos
de
valores...
(REVISTA
LATINO
AMERICANA
DE
PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL apud BIRMAN, 1998, p.47).
41
Compreendemos, pois, que para o hiperativo, não há tempo, nem tampouco
espaço. O que existe é somente um corpo se movimentando buscando ser
encontrado, em outras palavras, subjetivado.
3.4 FALTA DE LIMITES
Diante do rompimento das fronteiras cada vez mais presentificada na
sociedade contemporânea é possível averiguar que a falta de limites, a qual pode
especialmente ser conferida nos espaços escolares, tem se tornado um problema de
interpretação, e por que não, de ação? Afirmamos isto porque pensamos o limite não
somente como uma contenção física, ou espaços geográficos, todavia, o limite está
diretamente relacionado a linguagem, a palavra; nesse sentido ele nasce e se
constitui dentro de uma cultura dominante, mas sem se desprender do tempo e da
história.
Na atualidade as queixas vindas da escola acusam os pais, pois as mesmas
estão referidas a falta de limites das crianças, logo, imagina-se que os filhos estão
denunciando que a Lei7 que o instituíram como filhos não funciona mais. Será então
que na sociedade contemporânea é possível falar que os sujeitos estão em falta da
falta? Será que a Lei do pai não funciona mais? Existe um declínio da Lei paterna ou
os sujeitos contemporâneos romperam o limite com a Lei simbólica? Não queremos
generalizar, contudo, quando se rompe os limites o sujeito perde o rumo, porque é o
limite que viabiliza para que o sujeito não se perca em seu devir.
Na tentativa de entender o que seria esse sujeito sem limites na atual
sociedade, queremos fazer menção a Freud, que a partir da análise esboçada em
“Totem e Tabu” (1913-1914), é possível perceber que o sujeito carece ser barrado
por uma lei8. O mito do parricídio é que nos dá a garantia de sermos filhos, pois é
somente após a morte que o pai é elevado, ou seja, que nasce uma Lei, nesse
sentido pode-se dizer que a lei vem como uma repetição daquilo que vivemos ou
experimentamos. Sendo que o objetivo de “Totem e Tabu”, é nos mostrar que existe
uma Lei que nos organiza para que possamos criar outras leis.
7
8
Aqui, faz-se referência a Lei simbólica.
Lei jurídica.
42
Desde então, compreendemos a Lei como um efeito simbólico, aliás, os
humanos vivem numa ordem simbólica e o que organiza e garante essa ordem
segundo Freud (1913-1914), é a proibição do incesto. E o que não é simbólico,
carece ser simbolizado, porque o que não é simbolizado retorna como sintoma. Na
contemporaneidade é comum ouvir dizer que as crianças não obedecem, não tem
limites. Nesse sentido, nos é permitido pensar que elas não conhecem ou não
respeitam a Lei. Ora, como podem obedecer se não conhecem a Lei, para que a Lei
faça função faz-se necessário um reconhecimento da mesma.
Para nós a questão é bem mais ampla. “Assim, o espaço interno da família
parece ser vivenciado como um lugar de indiferenciação protetora, onde cada um é
livre para dar curso à sua satisfação pulsional enquanto esta não usurpar o gozo do
outro” (REVISTA LATINO AMERICANA DE PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL
apud LESOURD, 2000, p. 61). Dentro dessa lógica, é cabível pensar que a Lei
funciona quando é apresentada e essa apresentação só ocorre quando ela é falada
e creditada, ou seja, precisamos apostar que a Lei fará a sua função, ou a
humanidade voltará aos modos primitivos.
Entendemos, pois, que o limite não é somente uma questão de
reconhecimento, mas de apresentação do mesmo. Limitar o sujeito é referenciá-lo a
uma ordem, é colocá-lo dentro de uma cultura. O discurso contemporâneo está
mudando, já que as barreiras culturais estão sendo aproximadas, há uma simbiose
de culturas onde muitas vezes o sujeito se perde dentro de um espaço amplo e
diversificado. A Lei é organizadora, não há dúvidas quanto a isto, mas as referências
precisam ser mais fortes porque o papel da Lei determina uma cultura. Se a Lei é
vacilante, a humanidade perde a referência, de tempo, espaço e limites.
43
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como afirmaram alguns autores no decorrer desta pesquisa, a subjetividade é
algo em constante mutação, isto ocorre devido ao fato de que o sujeito é dinâmico.
Discorrer sobre a constituição subjetiva a partir do contexto contemporâneo, nos
possibilitou uma abertura para compreender melhor como os sujeitos atuais estão
lidando com suas questões subjetivas. Dentro dos aspectos que se apresentaram
durante a pesquisa, é preciso considerar que a realidade virtual faz parte do
cotidiano do ser contemporâneo. No entanto, o sujeito como tal não pode constituirse somente de uma relação virtual, porque para se constituir como sujeito talvez seja
preciso muito mais.
Por isso, quando falamos da constituição psíquica, não podemos deixar de
considerar o sujeito dentro do seu tempo. É preciso que entendamos a história,
assim, como os fatos para que não sejamos incoerentes nas nossas análises.
Pensamos que os tempos atuais são urgentes no fazer e no pensar psicológico. Não
por que a sociedade mudou, mas porque os efeitos dessa mutação repentina tem de
certo modo deslocado o sujeito, deixando-o à mercê do vazio. Nesse sentido, a
psicologia contemporânea desempenha um papel delicado dentro da atual
sociedade, que é a de saber ler os fatos, interpretá-los e deslocar os sintomas que
surgem, a fim de dar aos mesmos uma significação.
O sujeito contemporâneo vem definindo-se como o sujeito da “comunicação
instantânea”. Percebe-se que a presença do virtual na contemporaneidade, têm
invadido todos os ambientes. Com o virtual àquilo que antes era da ordem do
privado, passou a ser público. Constata-se que há uma necessidade de ser
percebido, dito de outro modo, as pessoas desejam ser notadas, estão buscando um
olhar, um elogio, algo que o engrandeça. Nessa busca por ser notado, o acesso aos
44
espaços virtuais vem promovendo os encontros ou seria os enganos? A partir do
virtual, é possível criar uma realidade, nesse sentido, os sujeitos correm o risco de
produzir uma nova realidade, a qual existe somente para si, mas inexistente para o
outro.
Por isso, os enganos estão presentes nesta nova realidade, isto ocorre,
porque o virtual ao mesmo tempo em que é uma realidade, é do mesmo modo um
engano, pois com já dissemos anteriormente, cada um é livre para criar a sua
própria realidade.
É comum nas redes sociais os compartilhamentos, os numerosos amigos.
Mas o que seria compartilhar? No virtual é somente um click, porém, o
compartilhamento da realidade implica responsabilidade com o outro. Pensando
sobre o que está posto, a virtualidade pode diminuir o senso de responsabilidade
com o outro. Os riscos de um mundo virtual é tornar a humanidade insensível,
porque somos seres de facilidade, de comodidade. É mais fácil se relacionar
virtualmente, pois a presença e o contato com o outro pode me tornar responsável
por tudo àquilo que comporta uma relação.
Já dizia Freud (1930/1929) na sua obra “O mal-estar na civilização”, que o
homem é um ser social e só torna-se humano/sujeito, pelos efeitos que este Outro
produz sobre ele. Nesse sentido, o sujeito é parte integrante e participante do meio
onde habita. Por esse mesmo motivo, podemos pensar que o homem é um ser
comunitário, não existe humanidade se o mesmo não se relaciona, porque é da
relação que nasce o sujeito. Quanto ao mal-estar, ele também é fruto das nossas
relações e igualmente constitui o sujeito, já que do mal-estar geram-se os conflitos e
os sujeitos são seres em conflitos. De outro modo, é o conflito que nos garante numa
ordem – a ordem do desejo, da busca.
Bauman (2011), numa entrevista intitulada de “O mundo pós-moderno: a
condição social”, faz-nos refletir sobre a diferença de comunidade e rede, para tanto,
ele fala: “A comunidade precede de você. Você nasce de uma comunidade. Por
outro lado, temos a rede. O que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a rede é
feita e mantida viva por duas atividades diferentes: uma é conectar, a outra é
desconectar”. O que ele quis dizer com isso, somente criticar a cultura virtual? Não.
Bauman (2011) está falando de relações humanas, que na contemporaneidade
temos nos ocupados de nós mesmos, dos nossos afazeres e das correrias, muitas
vezes impostas pelo próprio discurso social, tal tarefa de cuidar de nós mesmos é
45
tão fatigante que não nos arriscamos em assumir compromissos sólidos e
duradouros com o próximo.
Talvez, seja possível dizer que o mundo virtual é privativo no sentido de que
ele priva o sujeito de seus laços, pois dada a facilidade, a instantaneidade e a
atratividade oferecida pelo mesmo, o sujeito se priva de responsabilizar-se com o
outro. Daqui podemos pensar que os sujeitos contemporâneos estão constituindo-se
diferente, porque se não existe laço não existe tampouco referência. Um sujeito sem
referência é um sujeito sem endereço, ou seja, perdido e fadado ao fracasso
subjetivo.
Evidentemente que não é possível numa sociedade como esta viver sem os
benefícios trazidos pelos avanços tecnológicos. No entanto, entre o “Ser ou não ser:
Eis a questão” (William Shakespeare9), ou ter ou não ter, os sujeitos ainda estão
fascinados com a ideia do ter. A partir dessa lógica somos continuamente lançados a
uma busca frenética pela “coisa”, pela promessa de que um dia algo os preencherá
por inteiro. Promessa esta cada vez mais reforçada pela mídia e pela ilusão de que
um dia nos realizaremos plenamente.
Nesse sentido a tentativa é livre, o sujeito é aquela da liberdade plena. Mas
ao mesmo tempo em que somos livres, nos aprisionamos e perdemos a nossa
liberdade pelo desejo de uma juventude eterna, de um corpo ideal, de uma vida sem
dor. Contudo, nos parece que essa mera ilusão serve somente para encobrir aquilo
que na realidade somos. O sofrimento é inerente à condição do ser, ou seja, ser
sujeito é um sofrimento contínuo, porque estamos em questão com as nossas
questões e transformações subjetivas. Criar um mundo de ilusão onde tudo é
possível e a felicidade encontra-se numa cápsula, é tirar do humano a oportunidade
de se tornar sujeito, porque é com todas as suas dores psíquicas que o ser se
constitui como tal.
9
Disponível em: http://pensador.uol.com.br. Acessado em: 09/10/12 – as 14h30m.
46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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do espaço e outras fronteiras. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre.
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