UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA MARIA RENATA DA CRUZ OS NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A SUA INFLUÊNCIA NA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA SANTA ROSA 2012 MARIA RENATA DA CRUZ OS NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO A SUA INFLUÊNCIA NA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA Trabalho de pesquisa supervisionado apresentado ao curso de Psicologia da Universidade Regional do Estado do Noroeste do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para conclusão do curso de formação de Psicólogo. Orientadora: ANGELA MARIA SCHNEIDER DRÜGG SANTA ROSA 2012 TERMO DE APROVAÇÃO MARIA RENATA DA CRUZ A comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o trabalho de conclusão de curso OS NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A SUA INFLUÊNCIA NA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Trabalho de conclusão de curso definido e aprovado em: 20/12/2012 BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ ANGELA MARIA SCHNEIDER DRÜGG Psicóloga; Doutora; Professora do Departamento de Humanidades e Educação ____________________________________________ DANIEL RUWER Psicólogo; Mestre; Professor do Departamento de Humanidades e Educação AGRADECIMENTOS Agradecer é sempre uma tarefa difícil, pois as palavras são sempre insuficientes para exprimir aquilo que realmente queremos expressar. Às minhas “irmãs” Religiosas, Apóstolas da Sagrada Família, pela presença e pelo acompanhamento nesse período de minha formação, especialmente a Revma. Madre, que em mim confiou; a ela a minha gratidão. À minha família, que embora distante, nos sentimos próximos, foi de vocês que herdei os valores que hoje eu cultivo. Aos meus queridos professores, especialmente a professora Angela Drügg, orientadora desse trabalho, pelo incentivo e pelo apoio durante o período em que estive sob sua supervisão. Aos colegas de caminhada, porque com vocês não dividi somente conhecimento científico. Mais do que ciência, aprendemos um pouquinho sobre os segredos da vida escondidos e ao mesmo tempo desvelado em cada experiência atravessada. O que fica? A jornada, porque a busca continua! E assim como a primavera, eu me deixei cortar para vir mais forte. CLARICE LISPECTOR RESUMO Este trabalho intitulado “Os novos meios de comunicação e a sua influência na constituição subjetiva”, aborda os significados dos novos meios de comunicação, especialmente a internet, na vida dos sujeitos contemporâneos. Uma das maiores características da contemporaneidade está relacionada à crescente expansão do uso desta, de tal modo que parece ser impossível, e até mesmo inconcebível viver sem estar conectado. Dentro desse contexto nos questionamos sobre quais as novas características que essa atual realidade está definindo na constituição do sujeito contemporâneo? Para nos analisar esta questão, iniciamos com uma discussão sobre a internet, usando conceitos de Pierry Lévy. Em seguida, dentro da visão de Chauí e de Bauman, mostramos que os efeitos da cultura atual sobre o modo de pensar e de agir do sujeito gera uma ausência de significação. Em consequência disso contemporaneidade veremos como: que surgem ansiedade, psicopatologias síndrome do pânico, próprias da depressão, hiperatividade, entre outras. A partir de Assoun e Kehl, notamos que os problemas psicopatológicos aparecem quando não existe um espaço de simbolização e significação. PALAVRAS-CHAVES: Virtualidade. Comunicação. Sujeito. Subjetividade. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7 1 NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ..................................................................... 9 1.1 O PERCURSO HISTÓRICO DAS NOVAS TECNOLOGIAS ............................... 11 1.2 ENTENDENDO ALGUNS CONCEITOS ............................................................. 14 1.3 O HOMEM E A MÁQUINA .................................................................................. 16 1.4 A CIÊNCIA COMO BUSCA E O PASSADO COMO RESPOSTA ....................... 18 2 EFEITOS SUBJETIVOS ........................................................................................ 20 2.1 A SUBJETIVIDADE NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO ............................... 22 2.2 SUJEITOS OU ASSUJEITOS ............................................................................. 25 2.3 TEMPO, ESPAÇO E VIRTUALIDADE ................................................................ 27 3 OS NOVOS SINTOMAS CLÍNICOS NA CONTEMPORANEIDADE ..................... 31 3.1 ANSIEDADE ........................................................................................................ 33 3.2 DEPRESSÃO ...................................................................................................... 36 3.3 HIPERATIVIDADE............................................................................................... 38 3.4 FALTA DE LIMITES ............................................................................................ 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 46 7 INTRODUÇÃO A sociedade contemporânea é, em grande medida, definida pelo tipo de comunicação que nela se processa. Há mesmo quem diga que essa realidade, ou seja, os novos meios de comunicação, especialmente as redes sociais... vêm influenciando cada vez mais o modo de pensar e de agir dos sujeitos contemporâneos. Esse processo de influências se dá pelo fato de que, na sociedade atual, os sistemas de redes estão cada vez mais organizados. Os sujeitos estão a todo o momento sendo convocados a responderem as suas necessidades, as quais são geradas e alimentadas pelo próprio sistema de informação. Aquele que pensa diferente do sistema proposto está fora de um processo, pois não está aderindo às necessidades criadas pelo próprio sistema. A partir da lógica que se apresenta, nos questionamos sobre quais as novas características que essa atual realidade está definindo na subjetividade do sujeito contemporâneo. Nesse sentido, a presente pesquisa é um convite para pensar a constituição subjetiva no contexto contemporâneo. Com o título “Os novos meios de comunicação e a sua influência na constituição subjetiva” tentaremos compreender a partir das ideias de Pierre Lévy, o que é o virtual, assim, como as transformações que a virtualidade provoca na cultura atual. Para isto, é que discorreremos no primeiro capítulo sobre alguns pontos onde arriscaremos uma passagem pela história e pelas mudanças tecnológicas a partir dos paradigmas surgidos na sociedade tecnológica da necessidade que o homem tem de estar continuamente se reinventando. No decorrer da nossa investigação, veremos que a subjetividade é mutável. Com a chave de leitura que se apresenta no segundo capítulo, veremos que a subjetividade não nasce de um contexto isolado. Esse processo somente irá ocorrer 8 a partir da relação com o Outro, com o social-histórico-cultural. A subjetividade é um acontecer, ou seja, um acontecer que somente sucede quando o homem é movimentado, pelos fatos, pela história, pelo discurso. No terceiro capítulo, pensaremos os efeitos produzidos na subjetividade a partir das transformações sociais. Para isto, compreende-se que na contemporaneidade as psicopatologias são oriundas de um tempo sem tempo, dito de outra forma, de um tempo que não existe, de uma falta de tempo. O sujeito contemporâneo é o sujeito do presente e do instantâneo. O fato de não se encontrar, ou até mesmo, de uma não projeção futurista, tira do sujeito a possibilidade de buscar, apostar, desejar. O sujeito da sociedade atual tem sido cada vez mais caracterizado pelo grupo o qual pertence, sendo que os novos meios de comunicação têm contribuído nesse processo através das necessidades que são geradas para que as pessoas passem a consumir tudo o que é jogado nas chamadas “redes sociais”. Pertencer às redes sociais é fazer parte de um grupo e ser aceito dentro do sistema. Quem não aderiu a esse novo estilo de grupo está fora, a margem de uma sociedade que caminha para uma crescente mutação subjetiva. Se assim podemos dizer, caminha-se para uma subjetividade que muitas vezes visa somente o seu próprio bem-estar e a sua realização pessoal. A partir da realidade que se interpõe, contemplamos o quanto a sociedade atual tem se transformado cada vez mais numa grande receptora e consumidora das propostas lançadas pelos meios de comunicação. No entanto, a cultura virtual esqueceu-se de preparar um amplo número de usuários on-line para a vivência com o outro. É muito fácil falar com uma máquina. Através dela podemos escolher com quem queremos falar, temos a possibilidade de adicionar, bloquear, excluir e deletar. Esse novo modelo de cultura que está se formando atualmente está, de certo modo, deixando os sujeitos sem “fala”, sem espaço, pois uma relação virtual será sempre virtual. O sujeito, em sua constituição, precisa de um Outro, do olhar, do contato, da relação, da herança, do discurso. A cultura virtual poderia, talvez, estar transformando a relação com um outro a um lugar vazio, onde não se escuta mais, por isso, se fala menos. Isso se torna relevante, pois a especificidade das relações humanas é caracterizada por tudo aquilo que é desencadeado da própria relação com o outro. 9 1 NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Quando pensamos os novos meios de comunicação, somos interpelados pelos avanços tecnológicos que se processam cada vez mais rápidos na atual sociedade. Os mesmos têm caracterizado a pós-modernidade, como a era das Ciências Tecnológicas. São inúmeros os benefícios que tais avanços trouxeram para a humanidade, pois se na origem os meios não favoreciam o homem dado a sua lentidão, hoje os acontecimentos podem ser acompanhados em tempo real, as fronteiras foram rompidas o homem agora é parte de um ciberespaço, como nos diz Pierre Lévy (2000). É nesse espaço de fronteiras rompidas que surge um novo jeito de pensar as relações humanas e ao mesmo tempo compreender de que forma no contexto social da pós-modernidade as pessoas estão conseguindo usufruir dos avanços tecnológicos sem deixar-se dominar pelas ilusões que os mesmos propõem. Há quem diga que essa nova realidade definida pelos novos meios de comunicação vêm influenciando o modo de agir e de pensar dos sujeitos contemporâneos. Podemos pensar que essa global transformação dá-se devido ao novo sistema gerado, ou seja, a sociedade contemporânea está se organizando em redes, esse sistema altamente organizado nos oferece a possibilidade de conhecer e de se arriscar por novos caminhos. Não queremos de forma alguma ser pessimista, mas trataremos de expor o nosso pensamento com base nas ideias de alguns autores que vêm trabalhando a questão da globalização e os seus impactos na construção de uma nova cultura, a cultura virtual. Não é possível separar o humano do seu ambiente material, nem dos sinais e imagens através dos quais ele dá sentido à vida e ao mundo. Do mesmo modo não se pode separar o mundo material – e menos ainda a sua parte artificial – das ideias pelas quais os objetos técnicos são concebidos e utilizados, nem dos humanos que os inventam, os produzem e se servem deles. (LÉVY, 1997, p. 22). Por meio dessa nova realidade é possível perceber que o sistema de comunicação na atualidade, as redes mundiais de computadores, oferecem para os usuários diversos meios para uma comunicação em tempo real. Pode-se pensar que tais meios de comunicação proporcionam um esvaziamento da solidão, dado que em 10 qualquer hora do dia ou da noite podemos encontrar on line1 um amigo, pois graças as quebras de fronteiras o campo de amizade se expande tornando-se mais prático e econômico manter contato com o outro lado do planeta. Por trás das técnicas agem e reagem as ideias, os projectos sociais, as utopias, os interesses econômicos o leque inteiro dos jogos do homem na sociedade. Toda a afectação, de um sentido unívoco à técnica não pode, por isso, ser senão duvidosa. A ambivalência ou a multiplicidade dos significados e dos projetos envolvendo as técnicas são particularmente evidentes no caso do digital. O desenvolvimento das cibertecnologias é encorajado pelos Estados em busca do poderio em geral e da supremacia militar em particular. É também um resultado importante da competição econômica mundial entre as empresas gigantes da eletrônica e dos sistemas informáticos, entre os grandes conjuntos geopolíticos. Mas responde igualmente às finalidades de criadores e utilizadores que tentam aumentar a autonomia dos indivíduos e desmultiplicar as faculdades cognitivas. (LÉVY, 1997, p. 24). Segundo pesquisas o poder que as novas mídias exercem sobre os usuários é imenso. Esse mesmo poder está ligado aos interesses dos Estados, interesses esses diretamente atrelados aos avanços do capitalismo. A partir do contexto que se apresenta, pode-se compreender que esses novos meios de comunicação em rede aparecem como a sustentação e a manutenção de um novo paradigma que se introduz para a pós-modernidade. O grande desafio que se apresenta para o homem contemporâneo é distinguir aquilo que de bom vem com a globalização, nesse sentido, saber fazer a leitura crítica desses novos meios é fundamental para não se deixar engolir pelo sistema, dado que a capacidade crítica está relacionada às informações que a própria mídia oferece aos usuários. Aqueles que estão diretamente conectados a sites, especificamente as Redes Sociais (MySpece, Facebook, Orkut, Friendrster, Hi5, Bebo), correm o risco de terem o comportamento controlado e uma opinião mecanizada, sendo que isso pode acontecer por falta de um senso crítico, o qual permite o usuário distinguir entre a realidade e a opinião apresentada. Para Lévy, a sociedade está vivendo um novo dilúvio, só que agora no campo da comunicação. O homem está esbanjando criatividade, sendo que esta criatividade é fruto de uma transformação discursiva e cultural trazida pelas necessidades geradas pelo sistema vigente para que o homem seja um bom consumidor. Em meio a essa dinâmica, as redes se fortalecem cada vez mais, pois 1 Em linha. 11 como bem sabemos, essas novas formas de comunicação são criadas para atingir um determinado público, e nesse sentido existem as propagandas direcionadas através das quais é possível chegar aonde se quer. Ninguém está livre! Sejamos crianças ou idosos somos interpelados a realizar os nossos desejos que muitas vezes não nos eram conhecidos, mas que graças a mídia nós fomos demandados a ir em busca da realização do mesmo. Comunicar-se, ter um espaço para falar, está vinculado a um dos desejos mais profundos do homem. Essas são as vantagens das novas mídias, o rompimento de barreiras individuais para uma vivência espacial e coletiva. No entanto, “a velocidade de transformação é, precisamente, ela própria uma constante – paradoxal – da cibercultura. Ela explica em parte a sensação de impacto, de exterioridade, de estranheza que se apossa de nós quando tentamos apreender o movimento contemporâneo das técnicas” (LÉVY, 1997, p. 29). Ela é sem dúvida uma fonte de mediação comunicativa. No entanto, a cultura virtual não contempla todas as dimensões humanas. Está mais do que provado que os avanços através dos novos meios de comunicação, trouxeram sem dúvidas benefícios para a humanidade. Porém, quando avaliamos a cultura virtual, percebemos que a mesma poderia, talvez, estar levando o discurso a um lugar vazio, onde a escuta é condicionada àquilo que esse sistema nos apresenta. Comunicar não é simplesmente falar. Aquele que comunica também recebe e interpreta, e não só a fala, mas também os gestos, ou seja, o entorno das palavras, pois a palavra não vem acompanhada somente dos signos da linguagem. Ela traz em si uma carga de afetos e sentimentos que nos ajudam a compreender o homem em todas as suas dimensões. 1.1 O PERCURSO HISTÓRICO DAS NOVAS TECNOLOGIAS Desde primórdios até os dias atuais o homem têm dado longos passos na sua evolução. Em se tratando de comunicação faz-se necessário compreender o percurso como esse desenvolvimento foi sendo construído no decorrer do progresso da humanidade, sendo que o processo e a aquisição da linguagem também estão relacionados às diferentes formas de comunicação que o homem vem adquirindo. 12 Desde o princípio da história o homem buscou de algum modo relacionar-se com o seu semelhante. Ora por gestos, ora por mímicas, ora por desenhos e grunhidos, até chegar o grande acontecimento do desenvolvimento da linguagem. Quanto mais o homem evoluiu em espécie, evoluiu também o modo dele se comunicar. Além da evolução propriamente dita da linguagem em si, queremos traçar a evolução dos meios de comunicação na contemporaneidade, em especial, os avanços e as contribuições do mesmo para a humanidade. Superando algumas concepções medievais a modernidade busca na razão a possiblidade de autonomia humana. Nesse sentido, o desenvolvimento técnico e científico surge como uma expressão do racionalismo dos tempos modernos, tendo o seu ápice no iluminismo. Com a revolução francesa o homem buscou a transformação da sociedade visando três princípios fundamentais: liberdade, igualdade e fraternidade. Pôs fim ao absolutismo, mas manteve as transformações implantadas dentro dos limites dos interesses burgueses. Surgiram novas ideias, os novos paradigmas foram postos, iniciou-se a busca pela perfeição em todos os sentidos. A razão, luz para a humanidade, possibilitou ao homem o direito de ser livre para pensar. A partir das marcas históricas, a evolução dos meios de comunicação dá-se justamente para responder a necessidade de um contexto sócio-político. Nesse sentido, percebe-se que as grandes transformações ocorridas na humanidade vieram sempre acompanhadas de crises. No atravessamento da crise o homem torna-se criativo, ou seja, o homem cria, transformando uma situação difícil em algo novo, diferente, e se tratando do processo de comunicação, os novos meios, tornaram cada vez mais fácil para a humanidade tornar-se uma só. Assim, a partir das Revoluções e Guerras pelas quais a humanidade tem passado, houve um significativo avanço tecnológico, especialmente dos meios de comunicação. Em primeiro lugar esses avanços se deram para responder as necessidades de uma elite (soldados), especialmente em épocas de guerras, em seguida, essas barreiras foram rompidas possibilitando que a massa da população também fosse contemplada. 13 O significado social da informática transformou-se de alto a baixo. Que a aspiração do movimento2 original foi recuperada e utilizada pela indústria não há dúvida nenhuma. Mas é preciso reconhecer que a indústria realizou também, à sua maneira, os objetivos do movimento. Sublinhemos que a informática pessoal não foi decidida e menos ainda prevista por nenhum governo nem por esta ou pela aquela poderosa multinacional. O seu inventor e principalmente motor foi o movimento social que visava a reapropriação, em benefício dos indivíduos, de uma capacidade técnica até então monopolizada por grandes instituições burocráticas. (LÉVY, 1997, p. 130). Como já dissemos anteriormente, o progresso dos meios de comunicação deu-se através de um processo de construção e conquista, sobretudo uma conquista embasada nos movimentos sociais da época. Se antes o poder de comunicar-se pertencia somente as grandes indústrias, a movimentação e a busca pela igualdade para todos fez com que esse monopólio fosse repartido com o resto da população, embora saibamos que ainda hoje são muitos os que vivem à margem da globalização, porque a técnica não alcançou a todos. O crescimento da comunicação de suporte informático foi iniciado por um movimento internacional de jovens metropolitanos cultivados que apareceu à luz do dia no fim dos anos 80. Os protagonistas deste movimento exploram e constroem um espaço de encontro, de partilha e de invenção colectiva. Se a internet constitui o grande oceano do novo planeta informativo, é preciso não esquecer os inúmeros rios que alimentam: redes independentes de empresas, de associações, de universidades, sem esquecer os media clássicos (bibliotecas, museus, jornais, televisão, etc). (LÉVY, 1997, p. 130). Dentro desse contexto de novidade, os meios de comunicação de redes vão se desenvolvendo e crescendo cada vez mais. A internet é uma inovação que fascina e encanta especialmente aos jovens, pois são inúmeros os benefícios que esse meio de comunicação possibilita. Através do acesso a rede é possível estar em contato e ser contemplado dentro de um ciberespaço, ou seja, um oceano imenso onde a movimentação de informações está sendo alimentada constantemente por um grande número de internautas presentes em qualquer parte do mundo. Portanto, aderir a essa nova cultura é ter presente e ser conscientes de que nesse espaço de rede não existe um eu sozinho, já que esse espaço pode ser acessado por todos. No entanto, embora a internet tenha trazido benefícios, tais como a possibilidade de conhecer novas culturas, acesso a bibliotecas e museus on line, ir ao mercado sem 2 Aqui, o autor faz menção ao movimento social californiano computers for the People, surgido no final dos anos 60, com o objetivo de reivindicar o acesso a informática para todo cidadão. 14 sair de casa, etc; ainda são também inúmeros os que estão excluídos, os que estão fora dos benefícios que a mesma possibilita. Através do trabalho de redes, aquilo que é material também ganha um endereço eletrônico. “Cada computador do planeta, cada aparelho, cada máquina, do automóvel à torradeira, deve ter um endereço na internet” (LÉVY, 1997, p. 132). Essa influência está diretamente ligada ao mercado capitalista, o qual propõe aquilo que deve ser consumido e como deve ser consumido. Além, dos pontos positivos, os novos meios de comunicação parecem propor a essa nova cultura o modo como todos devem ser, quem está fora desse sistema, permanece distante da globalização. Assim, com o avanço das ciências e das novas tecnologias, percebe-se que na humanidade todos somos parte de uma cadeia inseparável de relações. Estamos em tempos de mudança porque o ser humano se renova e a cada nova mudança se reestrutura dentro dos paradigmas propostos. Abrigar a esses novos paradigmas é certamente acolher também as consequências que ocorrem numa sociedade globalizada. Não somos bons nem maus, mas estamos nos deixando transpassar pelas experiências que o universo informacional nos permite sentir. 1.2 ENTENDENDO ALGUNS CONCEITOS Para que possamos avançar em nossas ideias, primeiramente, precisamos entender alguns conceitos que são fundamentais para a nossa pesquisa. Conceitos estes apresentados a partir de dados coletados de pesquisa bibliográfica. O primeiro que queremos entender é a cibercultura. A expressão cibercultura foi criada por Pierre Lévy para explicar a quebra de fronteiras, ou seja, o movimento causado pela revolução dos novos meios de comunicação. A partir da cibercultura o universo está em movimento de troca, de transformação sócio-cultural- comunicacional, onde tudo o que ocorre se dá graças à movimentação gerada pelas novas tecnologias. Por ter um contexto muito amplo fica difícil definir o que exatamente seria Cibercultura, mas dentre as várias definições queremos destacar a seguinte: 15 A cibercultura aponta para uma civilização de telepresença generalizada. Para além de uma física da comunicação, a interligação constitui a humanidade em contínuo sem fronteira, cava um meio informativo oceânico, mergulha as pessoas e as coisas no mesmo banho de comunicação interactiva. A interligação tece um universal por contacto. (LÉVY, 1997, p. 132). Como já foi dito anteriormente, a cibercultura compreende um todo universal, o qual vai além da presença física, se fala agora de uma telepresença. Aprender a usufruir e a aceitar as transformações que a cibercultura nos proporciona não é tarefa fácil, mas é possível perceber que a humanidade está aberta para essas transformações e vem compreendendo a cibercultura como um movimento de interligação e de trocas entre os povos, é plausível intuir isto através das comunidades virtuais, pois as mesmas têm crescido e multiplicado os números de usuários. Um outro conceito a ser pensado por Lévy (1997, p. 95) é o de ciberespaço. O mesmo define o ciberespaço “como o espaço de comunicação aberta pela interligação mundial dos computadores e das memórias informática”. O ciberespaço abrange os outros tipos de comunicação, como as redes telefônicas, dado que as mesmas estão incluídas entre os tipos de comunicação onde o sujeito recebe e transmite num tempo real e atual, tendo como característica principal a comunicação. Em seu livro “O que é o virtual?”, Lévy faz um percurso apresentando-nos detalhadamente o conceito de virtual. Nele o virtual é tido como um complexo presente em todos os acontecimentos, tem relação com o futuro e é da ordem do vir a ser. O mesmo não se opõe ao real porque existe realidade no virtual. Pela sua dinâmica o virtual está constantemente remetendo a pessoa a resolução de algum conflito, ocorre, porém, que a realização do mesmo se dá pela atualização dos fatos. A atualização é um constante retorno ao virtual, ela é alimentada pelas transformações que ocorrem no virtual “uma produção de qualidades novas, uma transformação das ideias, um verdadeiro devir que alimenta de volta o virtual” (LÉVY, 1996, p. 17). Entremeio ao virtual e a atualização encontra-se a virtualização. Esse conceito por sua vez remete ao vazio, à transformação, à mutação. “A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da atualização” (LÉVY, 1996, p. 17). 16 Nesse sentido, a virtualização é a pergunta que se coloca a partir de um conflito já resolvido, caracterizando-se como uma redefinição da atualidade. A virtualização está repleta de criatividade, pois a mesma é fruto de uma confusão gerada a partir das questões que a pessoa é desafiada a responder. É, portanto do vazio e da angústia gerada pela virtualização que se chega a uma reinvenção da cultura. 1.3 O HOMEM E A MÁQUINA O desafio agora é pensar na relação homem/máquina. Provocação esta já proposta pela revolução industrial a qual provou para o próprio homem que é possível sim, uma relação homem/máquina, já que a mesma é fruto mais uma vez do pensamento do homem. A máquina não é senão, um modo, um meio como o sujeito se relaciona com o seu trabalho e como ele próprio compreende o seu tempo. A revolução industrial colocou o homem em crise, porque o mesmo não havia ainda compreendido que a máquina não pensa por si mesma. Algumas teorias da época desvalorizavam e até discriminavam os avanços tecnológicos, mas com o passar do tempo, percebeu-se que a máquina pode ser parceira do homem, porque a mesma só funciona porque existe um ser pensante que lhe oferece os devidos comandos. A questão da técnica ocupa uma posição central. Se por um lado conduz a uma revisão da filosofia política, por outro incita também a revisitar a filosofia do conhecimento. Vivemos hoje uma redistribuição da configuração do saber que se havia estabilizado no século XVII com a generalização da impressão. Ao desfazer as ecologias cognitivas, as tecnologias intelectuais contribuem para fazer derivar as fundações culturais que comandam nossa apreensão do real. (LÉVY, 2001, p. 10). Neste vasto campo de novas tecnologias, o homem é desafiado constantemente a revestir-se de uma nova ciência. Segundo o que Lévy nos propõe, são essas tecnologias que lançam os fundamentos para o conhecimento e fazem do homem o construtor de uma nova cultura. A mesma nos conduz a refletir sobre o ser, dado que a máquina está para o homem como um objeto que deve ser conhecido, ou seja, a verdadeira transformação do pensamento humano em objeto, portanto, a máquina se transforma em algo concreto e real. Conforme já dito anteriormente, por ser invenção do pensamento humano é que as tecnologias se 17 transformam e mudam conforme a capacidade que o homem tem de transpor para o real o seu pensamento. Imbuídos nessa metamorfose homem e máquina transformam a realidade da atual sociedade. Nessa relação existe proximidade, ou seja, uma interface. É sobre isto que Pierre Lévy (1993) nos fala em seu livro “As tecnologias da Inteligência”. Estando em interface com a máquina, nesse caso o computador, o homem está indo ao encontro de outras subjetividades. Esse encontro é na realidade a acolhida do outro, do diferente, que é participe de um outro meio, de uma outra cultura, por esse motivo “Não existe uma „Técnica‟ por trás da técnica, nem „Sistema técnico‟ sob o movimento da indústria, mas apenas indivíduos concretos situáveis e datáveis” (LÉVY, 2001, p. 12). A profundidade da relação do homem com a máquina se dá nesse espaço de encontro, onde o homem efetivamente busca compreender e dar sentido ao fazer da máquina. Esse campo é amplo e coletivo, pois, seja na relação de trabalho, no estudo, na pesquisa ou no lazer; o homem coloca-se diante da tela falando e interagindo com vários interlocutores, próximos ou distantes, através da comunicação em tempo real, a qual tem sido possibilitada pelo progresso do pensamento humano, que não para após uma invenção criativa, mas conhece e aperfeiçoa cada vez mais o seu produto. Pensar na utilidade da máquina é ter presente que “Toda criação equivale a utilizar de maneira original elementos preexistentes. Todo uso criativo, ao descobrir novas possibilidades, atinge o plano da criação” (LÉVY, 2001, p. 58). Colocar-se na atitude de um receptor ativo e não ficar passivo diante da máquina, talvez esteja nos primórdios de qualquer criação humana. No caso do computador, isso pode tornarse, mesmo que inconscientemente um desejo, já que a relação está baseada numa relação de sujeito/objeto, ou seja, numa relação de conhecimento e domínio sobre o objeto em relação. Essa relação que se coloca afeta e atinge a percepção do homem, pois a mesma vai dizer do mundo, influenciando o modo como o homem compreende e lê os fatos, dando a ele uma visão e persuadindo-o na sua relação com o meio. Na contemporaneidade as tecnologias têm nos acompanhando em todos os lugares, não podemos negar a influência das mesmas nas relações do cotidiano. Compreender e absorver as qualidades tecnológicas, é ter consciência do uso que 18 se faz das mesmas, pois a máquina foi criada para ajudar e servir o homem em suas necessidades. Retornando ao que Lévy nos propõe, a relação de interface é uma relação que deve humanizar a máquina, e essa humanização só pode vir através do homem, com elaboração de projetos humanizantes que o ajudem a navegar por meio de uma internet segura. 1.4 A CIÊNCIA COMO BUSCA E O PASSADO COMO RESPOSTA Nesse ponto instigante queremos presentificar o vazio que se coloca na era da informação. Vazio esse que não é preenchido por nada, porque nos parece que a sociedade imediatista está em parte adormecendo um tempo de espera que é próprio do homem. Nesse sentido é cabível perguntar: Que sociedade estamos preparando para o futuro? A ciência se coloca cada vez mais como centro, ou seja, como aquela que dará todas as respostas às perguntas da humanidade. No entanto, embora os avanços das ciências e das tecnologias tenham contribuído de forma eficaz para a construção da humanidade em todos os aspectos, questiona-se em que tipo de sociedade vive-se hoje? Pode-se pensar que atualmente o passado parece distante, existe de certa forma um esquecimento, as novas gerações não escutam falar da história, da construção e do modo como foram dando-se as conquistas. Há também uma busca para responder, ou até mesmo culpabilizar alguém pelos episódios que acontecem atualmente na sociedade. Com a globalização vieram transformações no modo de pensar e do agir do homem. Além disso, se fala de um relativo aumento da violência e de outros males que assolam a sociedade contemporânea, como o uso de drogas, etc. Mas quem irá carregar a culpa da humanidade? O passado, ou, futuro? Não sabemos ao certo, mas somos conscientes de que é preciso conhecer a história para que a mesma seja elaborada. Afirmamos isto, porque percebemos que mais uma vez a humanidade está em crise de valores e mudanças de paradigmas. A dor e o vazio do homem podem estar relacionadas a falta de conhecimento ou da transformação criativa do mesmo. O que fazer diante da crise e do vazio da 19 existência? Procurar um amigo para conversar, ou até mesmo segui-lo no Facebook, Twitter, Badoo, Orkut, MSN, etc? Estamos todos em busca de respostas. As novas formas de ser e de se relacionar que surgem a partir da era da informação, nos dão a ideia de que nesse imenso oceano onde é possível se conectar com muitos, o sujeito contemporâneo é um ser em transformação, conforme Lévy: A multiplicação contemporânea dos espaços faz de nós nômades de um novo estilo: em vez de seguirmos linhas de errância e de migração dentro de uma extensão dada, saltamos de uma rede a outra, de um sistema de proximidade ao seguinte. Os espaços se metamorfoseiam e se bifurcam a nossos pés, forçando-nos à heterogênese. (LÉVY, 2001, p. 23). Entender esse novo sujeito contemporâneo é ter presente que mesmo parecendo perdido, uma de suas características é colocar-se em busca, é entrar nesse mar de ideias que é a internet, interagir com outros mundos e produzir outras formas de relacionamentos. Essa relação que se processa aparentemente com a máquina está permeada de encontros com outras subjetividades. Percebe-se que a máquina não substitui o circulo de relacionamentos entre as pessoas, pode-se confirmar isso através do uso das redes sociais, que tornaram as pessoas mais abertas para falar da admiração e do amor que sentem pelo amigo. É possível pensar que o acesso e a adesão ao uso dos novos meios de comunicação têm tocado profundamente o homem na sua dimensão afetiva, tornando-o mais aberto e mais sensível ao seu novo habitat contemporâneo. 20 2 EFEITOS SUBJETIVOS Cada ciência possui por excelência um objeto de estudo, o objeto da psicologia é a subjetividade humana. Assim, se nós somos os pesquisadores, também somos o objeto de pesquisa, dado que toda ciência também está permeada de subjetividades no seu processo de descoberta e de construção. Tratando-se da subjetividade, percebe-se que a mesma tem um interesse comum para as diversas abordagens da psicologia, no entanto, ela nem sempre foi objeto de estudo. Ela só passa a ser objeto de estudo com o devir do sujeito, tal sujeito para ser compreendido, precisa ser estudado, e o modo como se conhece o mesmo é saber sobre a sua subjetividade. Ao discorrer sobre a subjetividade, temos presente a ideia de mutação, porque ao longo do desenvolvimento da constituição subjetiva o pensamento da pessoa se transforma. Essa mutação ocorre conforme as vivências pelas quais o sujeito passa no decorrer do seu amadurecimento psíquico. Quando pensamos nessa transformação subjetiva, não podemos deixar de situar dentro da história alguns aspectos marcantes que posicionaram a conquista da construção da subjetividade. A partir do apanhado histórico, pode-se compreender que o conceito de subjetividade foi uma construção. A psicologia, portanto, tem um papel fundamental para a compreensão de tal conceito, o qual começa a ganhar visibilidade no final do século XIX. “A percepção de existir se inaugura praticamente de forma simultânea à percepção de que ele não está sozinho no mundo; existir é uma ação coletiva, pois nós nos constituímos a partir do outro, a partir do olhar do outro, a partir da emoção que o outro projeta em nós, a partir do seu julgamento e de sua crença” (BRANCO, 2011, p. 7). De acordo com o pensamento que se coloca para compreender a subjetividade, é preciso entender o homem como um animal pensante, racional e histórico. É por isso que a subjetividade não pode ser pensada fora de um contexto histórico-social-cultural, nem tampouco fora da relação com o outro. Com Descartes (século XVII), a noção de subjetividade ganhou amplitude “penso, logo existo!”, dando-nos assim, a ideia de que a subjetividade não era somente para uma elite determinada. Ao contrário disso, a subjetividade se faz para todos. Todo sujeito tem 21 em si mesmo subjetividade, a mesma dá a cada um a possibilidade e a capacidade de pensar e de ser sujeito de sua própria história. Nesta medida, a individualidade, por exemplo, é uma noção que permitiu o delineamento de um espaço psicológico (FIGUEIREDO & SANTI, 2003) que, como tal, só poderia ser individual. No entanto, é somente na medida em que estamos inseridos num referencial moderno que nos constituímos como seres dotados de uma subjetividade individual, particular, intransferível e que não se repete. Estes sujeitos, enquanto psicológicos, tem “tudo a ver” com a história de uma determinada Psicologia, suas práticas e produções teóricas. (BARBOSA, CASELLI & LANG, p. 03). Percebemos, pois, que o fato de se reconhecer como sujeito, determina a subjetividade. Com o passar do tempo o modo de compreender esse sujeito vai modificando. Através das relações o indivíduo muda com a sociedade e a sociedade também se transforma, dando-nos cada vez mais uma noção de completude do homem. As influências e as transformações tecnológicas garantem um saber todo especial a esse novo sujeito, alterando completamente a compreensão de indivíduo. Podemos, pois, cogitar que a subjetividade não nasce do nada. Ela é fruto de um discurso, é, portanto, o discurso o principal conceito que funda a subjetividade. Mas o discurso não está ligado a palavras, ele é parte da história e da herança cultural de cada povo. Cada sociedade funda o seu próprio discurso. Nesse sentido, a subjetividade não pode ser compreendida dentro de um contexto isolado. Ela é um efeito que acontece do exterior para o interior. Ela é ainda dinâmica, pois se constrói e se transforma conforme a necessidade e a realidade de cada sujeito. Por ser a subjetividade efeito de um discurso, ela nasce atrelada a linguagem. Seus meios são os da fala, na medida em que ela confere um sentido às funções do indivíduo; seu campo é o do discurso concreto, como campo da realidade transindividual do sujeito; suas operações são as da história, no que ela constitui a emergência da verdade no real (LACAN, 1998, p.259). Nesse sentido, a linguagem vem como expressão desse eu corporal, onde a subjetividade é transportada para dentro do humano, a partir de então, começa a se perceber que não dá para pensar a subjetividade se a mesma não está encarnada. Para que haja um eu subjetivo, é necessário que exista um corpo que o acolha, porque o eu nasce do corpo e vai compor ligado a esse corpo uma parte central da subjetividade. Esta ideia já nos foi proposta por Lacan (1966), que demonstrou que 22 para nascer um eu o sujeito precisa de uma imagem corporal, essa imagem corporal se constitui no estádio do espelho. Assim por ser efeito de um discurso, ela igualmente é efeito de um sujeito que depende de um Outro. Para Lévy: “Nossa subjetividade se abre ao jogo dos objetos comuns que tecem num mesmo gesto simétrico e complicado a inteligência individual e a inteligência coletiva, como o anverso e o reverso do mesmo tecido, bordado em cada face a marca indelével e flagrante do outro”(LÉVY, 1996, p. 133). O resultado do que está posto é que a subjetividade não é uma característica particular, individual, por mais paradoxal que isso pareça, ela é o resultado da relação do sujeito com a cultura. Tudo aquilo que nos torna humanos vem da cultura: traços, características, símbolos civilizatórios. A cultura é aquilo que define o humano sendo também aquilo que define a subjetividade. Para refletir essa questão na sociedade contemporânea, temos que necessariamente pensar em que tipo de discurso o sujeito contemporâneo está fundamentando a sua constituição subjetiva. Em que tipo de herança subjetiva o sujeito contemporâneo se baseia para viver na presente sociedade? Que tipos de mecanismos são necessários para ser sujeito do discurso no mundo contemporâneo? 2.1 A SUBJETIVIDADE NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO Quando tratamos da questão subjetiva na contemporaneidade, somos forçados a pensar nas novas formas culturais que se processam e se renovam a cada instante dentro da atual sociedade. Falamos das novas formas culturais, porque com a globalização o tempo para se conceber e assimilar uma cultura está cada vez mais escasso. Pensamos, pois, que o imediato acesso as novas culturas vem transformando o sujeito contemporâneo, tornando-o um ser extremamente sensível ao tempo. Tal sensibilidade está na ordem da espera, ou seja, não há tempo “perdido”, porque o tempo na contemporaneidade é lucro. Através desse imediatismo constante, o sujeito contemporâneo é estimulado a ter sempre mais acesso aos novos meios de comunicações para que o mesmo ganhe tempo nos seus afazeres cotidiano. A repercussão disso influencia 23 diretamente na constituição do sujeito, pois o fato de não existir espaço para “perderse”, retalha do sujeito um tempo que seria próprio dele, ou seja, um tempo necessário para processar e se inteirar dos acontecimentos do mundo, e se tocar pelas situações que a vida apresenta. Tratando-se, pois, da questão do virtual esse assunto torna-se complexo, na medida em que entendemos que no acesso ao espaço virtual o sujeito pode-se perder. Perde-se no sentido de que para acessar tal espaço é preciso ter clareza do que se deseja, porque dado o espaço virtual ser a janela para o mundo através de várias propostas lançadas dentro desse ambiente, o sujeito acaba por se perder, porque o tempo no virtual é consumido sem ser percebido, a cada link acessado é um novo mundo que se abre, e na curiosidade de participar e de conhecer tal mundo, o sujeito acaba se perdendo em grandes viagens que muitas vezes resultam na frustação por ter perdido tempo. A força e a velocidade da virtualização contemporânea são tão grandes que exilam as pessoas de seus próprios saberes, expulsam-nas de sua identidade, de sua profissão, de seu país. As pessoas são empurradas nas estradas, amontoam-se nos barcos, acotovelam-se nos aeroportos. Outros, ainda mais numerosos, verdadeiros imigrados da subjetividade, são forçados a um nomadismo do interior. (LÉVY, 1996, p. 150). Esse imediatismo frenético que rouba do sujeito o seu tempo, posteriormente pode causar implicações subjetivas. As mesmas vêm em forma de sintomas como já é comum na contemporaneidade (depressão, TDAH, síndromes...). A falta de sentido que muitos sujeitos vivem, pode estar relacionada a algumas experiências de vida, fatos do cotidiano que ocorreram e que não foram atravessados. Daqui nasce a importância de um tempo vazio, urgentemente necessário para despertar nos sujeitos contemporâneos outros sentidos. É natural que o sujeito na procura de sua realização corra em busca da consumação de um desejo. Na sociedade contemporânea o homem busca uma promessa, que é justamente o preenchimento desse vazio existencial. No entanto, não sabemos bem se é em nome de uma promessa, ou pelo medo do encontro consigo mesmo, que o sujeito contemporâneo preenche a sua agenda de reuniões, tarefas, encontros... O ócio não existe mais. 24 O terreno sobre o qual se presume que nossas perspectivas de vida se assentem é reconhecidamente instável – tal como são os nossos empregos e as empresas que os oferecem, nossos parceiros e nossas redes de amizade, a posição que desfrutamos na sociedade mais ampla e autoestima e autoconfiança que o acompanham. O “progresso”, que já foi a manifestação mais extrema do otimismo radical e uma promessa de felicidade universalmente compartilhada e permanente, se afastou totalmente em direção ao pólo oposto, distópico e fatalista da antecipação: ele agora representa a ameaça de uma mudança inexorável e inescapável que, em vez de augurar a paz e o sossego, pressagia somente a crise e a tensão e impede que haja um momento de descanso. (BAUMAN, 2004, p. 16). Encontrar um espaço de sossego em meio a sociedade contemporânea tem sido um desafio constante. Parece-nos que o fazer está tomando conta do homem contemporâneo. Isto não acontece por acaso, já que a sociedade atual é herdeira das propostas do capitalismo as quais estão no auge de sua execução. Recordar tais propostas é ter presente que para o capitalismo só servimos enquanto somos produtores, e repousados nesta mesma mentalidade, o sujeito contemporâneo têm sido definido como o sujeito do fazer, pois somos úteis enquanto produzimos. Ao criticar o progresso Bauman (2004), nos alerta para que não sejamos passivos, ou até mesmo ingênuos, dado que a lógica do progresso deveria ser global e abarcar o sujeito por inteiro. Nesse sentido, acreditar nas transformações e tentar concretizá-las envolve não somente o material, mas um bem-estar psíquico. Com o avanço do progresso é possível perceber que de pouco adianta ter progresso se o aumento do mesmo não abarca a todos, infelizmente o que existe é um monopólio, grupos que se ocupam em alienar cada vez mais o sujeito de sua realidade para que o mesmo não seja uma ameaça ao poder dominante. Assim, a promessa vai ficando cada vez mais ilusória. Ninguém se sente responsável pelo outro, há uma luta constante, uma supervalorização do princípio do prazer, o “id” está à solta, porque o que vale mais é o prazer momentâneo, ainda que o mesmo esteja vazio de sentido, ideias e sonhos. Essa abertura dos sujeitos contemporâneos a esse novo acontecimento cultural, onde muitas vezes o que impera é a indiferença e a alienação, está contribuindo consideravelmente com o modo como concebemos a subjetividade nos tempos atuais. As mensagens dirigidas dos centros do poder político tanto para ricos como para os infelizes apresentam “mais flexibilidade” como a única cura para uma insegurança já insustentável – e assim retratam a perspectiva de mais incerteza, mais privatização dos problemas, mais solidão e impotência e, na 25 verdade, mais incerteza ainda. Elas excluem a possibilidade de uma segurança existencial que se baseie em alicerces coletivos e assim não oferecem incentivo a ações solidárias; em lugar disso, encorajam seus ouvintes a se concentrarem na sua sobrevivência individual ao estilo “cada um por si e Deus por todos” – num mundo incuravelmente fragmentado e atomizado, e portanto cada vez mais incerto e imprevisível. (BAUMAN, 2004, p. 20). A grande questão em nossa pesquisa está colocada do lado da compreensão deste novo sujeito. Como podemos compreender um sujeito que vive e acredita que um mundo virtual é possível? Nas reflexões propostas por Lévy (1996) em seu livro “O que é o virtual?”, o autor refere-se a esse novo que se apresenta como se fosse um mundo que pudesse ser aceito e vivido por todos. Acreditamos que as relações estão dando-se cada vez mais em redes, mas precisamos compreender isto, não como um processo natural, mas como uma situação de imposição onde o próprio sujeito vai perdendo a sua identidade e a sua individualidade, justamente porque ele está incluído dentro desse processo, onde todos podem ser criadores, já que o virtual possibilita-nos tal poder. Nesse ato de criar, cada um cria a sua própria realidade, tornando-se cada vez mais complexo distinguir o que realmente está na ordem da realidade e o que é da ordem imaginação. Não queremos criticar os avanços tecnológicos, nem muito menos o progresso possibilitado por tais avanços, até mesmo, porque somos cônscios de que tais avanços contribuíram eficazmente para melhorar as condições humanas no decorrer da história. No entanto, quando falamos de subjetividade, nos remetemos a conscientização dos sujeitos de sua própria realidade, assim, como da sua participação na construção da mesma. Na sociedade contemporânea, a atividade do pensar tem sido delegada a outros meios. Não que atualmente o homem não pense mais, mas observa-se que cada vez mais o sujeito contemporâneo tem sido levado a ser cumpridor de tarefas delegadas por outros, apagando em parte o modo como o mesmo deve proceder no seu cotidiano. 2.2 SUJEITOS OU ASSUJEITOS Para pensar sobre essa questão nos perguntamos por onde anda o sujeito do desejo? Não pretendemos responder a essa questão, mas queremos trazer alguns 26 pontos de reflexão que nos ajudarão a compreender melhor esse sujeito contemporâneo, que de tal modo, tem-se tornado super atarefado, e que na maioria das vezes a solução é subsidiar o cotidiano por outros afazeres, tanto cansativos quanto desgastantes, mas como já dissemos anteriormente são substitutos de uma promessa que ainda não despontou. Nesse sentido a globalização contribui de forma bastante eficaz para que os sujeitos se alimentem das últimas novidades do mercado. Esse exagero que impera no mundo globalizado está continuamente rompendo as portas para mais uma novidade, mais um lançamento. O mundo da moda, do ter para estar satisfeito, invade todos os espaços, sendo que o espaço virtual vem se fortalecendo, especializando e expandindo, caracterizando-se como um dos grandes fenômenos existentes na contemporaneidade. Participar deste incrível fenômeno que é a globalização, talvez torne o sujeito contemporâneo um ser fragilizado, especialmente nas suas questões subjetivas, dado que nesse processo de reinvenção da humanidade o modo de ser do indivíduo também passa por processos de reinvenção, sendo que cada um se reinventa como pode, ou como acha que deve. Ao conquistar a sua “autonomia subjetiva”, o ser humano luta por uma sociedade mais comunitária e mais igualitária, no entanto, parece-nos que esses ideais estão cada vez mais enfraquecidos, pois na realidade esse novo eu contemporâneo parece-nos um ser solitário e vazio. Sobre essa questão Bauman (2004), nos fala: A vida solitária de tais indivíduos pode ser alegre, e é provavelmente atarefada – mas também tende a ser arriscada e assustadora. Num mundo assim, não restam muitos fundamentos sobre os quais os indivíduos em luta possam construir suas esperanças de resgate e as que possam recorrer em caso de fracasso pessoal. Os vínculos humanos são confortavelmente frouxos, mas, por isso mesmo, terrivelmente precários, e é tão difícil praticar a solidariedade quanto compreender seus benefícios, e mais ainda suas virtudes morais. (BAUMAN, 2004, p. 30). Do que está dito, podemos compreender que é difícil ser sujeito no mundo contemporâneo, porque de fato ser sujeito é colocar-se numa contínua caminhada contra o sistema vigente que exige de cada um o melhor, mas que nos impossibilita viver plenamente como sujeitos. A partir do que se coloca ser sujeito não é somente ter vontade própria, mas é acima de tudo poder viver livre de tudo aquilo que nos aliena da nossa realidade e compreender que para ser não precisamos ter, porque 27 ser é a condição essencial que nos caracteriza como sujeitos, sendo que o ter é somente a consequência de nossas escolhas, se é que podemos escolher! Há sem dúvidas um lado muito bom e que merece ser defendido no processo de globalização, no entanto, com ele vieram também as novas psicopatologias. O novo individualismo, o enfraquecimento dos vínculos humanos e o definhamento da solidariedade estão gravados num dos lados da moeda cujo outra face mostra os contornos nebulosos da “globalização negativa”. Em sua forma atual, puramente negativa, a globalização é um processo parasitário e predatório que se alimenta da energia sugada dos corpos do Estados-nações e de seus sujeitos. (BAUMAN, 2004, p. 30). Na contemporaneidade, a humanidade ainda não superou a fome, a miséria, as guerras. Falamos de avanços tecnológicos, revolução digital e encontros interculturais, no entanto, existem outras faces que fazem do ser contemporâneo assujeito de sua história. Quando falamos de assujeitos, pensamos na participação, no reconhecimento e na apropriação da própria realidade, seja ela individual ou comunitária, porque esse sujeito não existe sozinho, nem tampouco deve ser engolido pelo sistema. Mas, é um sujeito crítico e que acima de tudo tem coragem o suficiente para remar contra a maré, porque ser sujeito no mundo contemporâneo é exatamente nadar ao contrário, já que o sistema está cada vez mais fortificado e com as redes lançadas. Mas o que a sociedade atual deseja de seus indivíduos? Seria interessante pensar sobre essa questão civilizatória e sobre os desejos que imperam na sociedade atual, a fim de poder conhecer melhor o discurso operante sobre cada sujeito; para que através do conhecimento desse discurso, cada indivíduo pudesse fazer suas próprias escolhas, sendo sujeito construtor de sua história sem abandonar a questão da coletividade humana e civilizatória. 2.3 TEMPO, ESPAÇO E VIRTUALIDADE A nossa reflexão segue agora por um caminho que nos é bastante conhecido, mas que na contemporaneidade percebe-se uma certa falta de apropriação dos conceitos acima citados. Por isso queremos pensar a questão do espaço, do tempo e da virtualidade e o modo como o sujeito contemporâneo está se compreendendo 28 dentro do atual contexto. A partir da lógica que os mesmos é que são produtores do espaço, dentro de um tempo determinado. Na visão de alguns estudiosos, cogita-se a ideia de que o sujeito contemporâneo anda vagando por vários espaços virtuais. O que fazer para que esse novo ser se compreenda e faça parte de uma realidade, que não seja virtual, mas que tenha passado, presente e futuro? Não pretendemos dar respostas, mas queremos achar as luzes para compreender melhor esse novo mundo no qual estamos inseridos. Para pensar essas questões, seguiremos a proposta da filósofa Marilena Chauí, a partir de uma palestra proferida pela mesma em Campinas/SP, no ano de 2010. Em sua palestra intitulada “Espaço, tempo e mundo virtual: A contração do tempo e o espaço do espetáculo”, a autora reflete sobre a questão da crescente mutação presente na sociedade contemporânea e o modo como essas mutações vão sendo recebidas e assimiladas pelos sujeitos. Ao mesmo tempo em que ela questiona quais são as novas dimensões da experiência existencial e sensorial dessa nova humanidade. Citando Maurice Merleau-Ponty (1908 – 1961), a autora fala o seguinte: O nosso corpo não é um eu objeto, tal como descrito pelas ciências, mas é um corpo humano, isto é, habitado e animado por uma consciência. Nós não somos pensamento puro, porque nós somos um corpo. Mas, nós não somos uma coisa, porque nós somos uma consciência. O mundo não é um conjunto de coisas e fatos estudados pelas ciências, segundo relações causais e funcionais. Além do mundo como um conjunto racional de fatos científicos, existe o mundo como lugar onde vivemos, onde vivemos com os outros e rodeados pelas coisas. Um mundo qualitativo de cores, sons, odores, tessituras, figuras, fisionomias, obstáculos, caminhos, lembranças. Um mundo afetivo, um mundo com os outros. Um mundo de conflitos, de lutas, de esperança e paz. Nós somos seres temporais, ou seja, nós nascemos e temos consciência do nascimento e da morte, ou seja, nós temos a memória do passado, a esperança do futuro. Nós somos seres que fazem a história, sofrem os efeitos da história. Nós somos tempo. O tempo existe, porque nós existimos. (CHAUÍ apud MERLEAU-PONTY, 1994). A partir do que se coloca, compreende-se que é o sujeito quem faz a existência do tempo. Por isso, quando falamos dessa existência, somos levados a pensar os caminhos pelos quais estamos dando espaço para a existência desse tempo do qual fazemos parte. Quando falamos em existência, nos referimos justamente a essa existência histórica, a qual oferece para o sujeito as condições básicas que são necessárias para a sua constituição subjetiva. E essas condições, se assim podemos pensar, são justamente o fato de estarmos presentes no tempo, 29 referenciados a um passado que o sustém e o mantém herdeiro de um legado simbólico presente e atuante na história de cada um. O que podemos pensar das pessoas que passam o seu tempo ligados a uma rede onde não existe um corpo e nem um espaço? A partir dessa ideia Chauí (2010), nos fala que o meio virtual comporta duas ausências a qual ela nomina de: atopia (ausência de espaço) e acronia (ausência de tempo). No mundo virtual as dimensões de tempo e espaço estão extintas, porque a dimensão temporal e espacial é o que identifica a condição humana e na virtualidade essas dimensões estão descaracterizadas, porquanto o espaço é caracterizado pela presença do outro, já que é esse outro matéria quem vai nominar dando os recortes necessários a subjetivação e a apreensão espacial e temporal. Nós somos seres espaciais. Para nós o mundo é feito de lugares. Perto, longe, o caminho, a mata, a cidade, o campo, o mar, a montanha, o céu, a terra. Esse mundo espacial é feito de dimensões – o grande, o pequeno, o maior, o menor. Ele é feito de qualidades. O meu corpo não é uma coisa. Não é uma máquina, ele não é um feixe de ossos, músculos, sangue, nem uma rede de causas e efeitos. Ele não é um receptáculo para uma alma, ou para uma consciência. O meu corpo é um sensível, que é sensível para si mesmo. O meu corpo é o meu modo fundamental de ser no mundo. (CHAUÍ apud MERLEAU-PONTY, 1994). Sem tempo e sem espaço, onde andaria, ou quais seriam as reais dimensões do desejo desse sujeito? Dentre as questões que se colocam o mundo virtual não contempla todos os reais espaços que complementam o processo de subjetivação, porque no espaço virtual os sujeitos passam somente pela experiência momentânea, instantânea, sendo que essa experiência não possibilita para os sujeitos as experiências dos sentidos, que são fundamentais para que possamos nos compreender e nos reconhecer em meio a um determinado espaço. Dito de outro modo, o sujeito não é uma coisa, porque o mesmo está dentro de um universo simbólico que lhe garante a apropriação do real através do processo de simbolização. O mundo virtual exclui o sujeito desse processo de simbolização, precisamente porque no mundo virtual tudo é instantâneo. A instantaneidade do tempo parece tirar do sujeito o sentido real dos acontecimentos e quando os acontecimentos e/ou fatos do cotidiano não passam pelo processo natural de antecipação e/ou sucessão de eventos, corremos o risco de termos sujeitos que 30 vivem num tempo sem tempo, dito de outro modo, sujeitos que vivem numa atemporalidade. Para Chauí: O resultado desse processo é muito pior do que o processo anterior 3 . Porque antes se passava de uma repressão a uma simbolização. Esse processo de simbolização nós não vemos mais na nossa sociedade. O que pertencia ao universo simbólico caiu para a dimensão de signo, virou signo, é por isso que virou espetáculo. Virou signo e como signo é aquilo que você aponta e daquilo que você se apropria. E como não tem mediação simbólica, o que tem é uma luta mortal pela posse desse signo, desses sinais (sucesso, poder, juventude, riqueza). (CHAUI, 2010). Compreendemos, pois, que a sociedade atual está lidando com esse sujeito, o qual se caracteriza pela liquefação do espaço e do tempo. A questão é bastante complexa, e os efeitos são assustadores. Sendo que, os efeitos subjetivos podem ser verificados a partir das psicopatologias contemporâneas (Depressão, TDH, Transtornos de ansiedade), de certo modo, essas patologias são um meio pelo qual o sujeito vem denunciar tal sistema, porque a virtualidade traz várias possibilidades, mas o sujeito está sempre no vazio. 3 Aqui, a autora faz menção à mudança de paradigmas. Do paradigma de conhecimento, para o paradigma de informação. 31 3 OS NOVOS SINTOMAS CLÍNICOS NA CONTEMPORANEIDADE No presente capítulo, queremos pensar os novos sintomas clínicos surgidos a partir dos efeitos da sociedade contemporânea e o modo como a psicologia vem compreendendo tais sintomas. E se falando de sintomas, não podemos deixar de fazer menção a Freud, que influenciado pelas ideias de Nietzsche compreendeu o eu, como produto do inconsciente. A partir da compreensão freudiana, o sintoma é a resposta do sujeito a uma realidade a qual ele não conseguiu atravessar, nesse sentido podemos pensar que “os sintomas neuróticos têm, portanto, um sentido, como as parapraxias e os sonhos, e, como estes, têm uma conexão com a vida de quem o produz” (FREUD, 1916-1917, p. 265). Podemos, pois, pensar que são essas ações vindas do inconsciente que movem o sujeito, isto acontece porque os sintomas são a manifestação daquilo que foi recalcado, sendo que o deslocamento de tais desejos recalcados surgem em forma de sintomas, os quais se apresentam das mais diferentes formas. A partir das informações e descobertas feitas por Freud, percebe-se que em cada época os sujeitos têm um modo de denunciar aquilo que não anda bem na sua vida pessoal, mas também na vida da sociedade, dado que a sintomatologia que cada sujeito apresenta, tem estreita relação com o processo de constituição subjetiva desse sujeito que é parte integrante da sociedade, ou seja, da sua época. Na sociedade em que Freud viveu a grande questão psicopatológica era a histeria, a qual foi estudada profundamente por esse pesquisador e entre suas conclusões, mostrou que além dos problemas subjetivos enfrentados pelas histéricas, os sintomas denunciavam um complexo sistema social de exclusão feminina, dado que naquela época a mulher não era considerada parte integrante da sociedade. A partir dessas ideias, somos levados a compreender os sintomas psicopatológicos que emergem na sociedade contemporânea, encontram-se num contexto social totalmente diverso. Diferente da Viena do Século XIX, as psicopatologias do século XXI, atingem no sentido global a subjetividade do sujeito contemporâneo. Com relação a essa nova realidade Birman nos alerta que: A psicopatologia contemporânea se interessa fundamentalmente pelas síndromes e pelos sintomas, no sentido médico do termo. Com isso, a concepção tradicional de enfermidade, centrada na ideia de etiologia, perde 32 terreno face à articulação de sintomas sob a forma de síndromes. Nestes termos, a psicopatologia da atualidade se aproxima bastante e até se identifica com a nova racionalidade clínica. Esta identificação não é arbitraria e casual, mas realiza-se pela identidade da psiquiatria com o novo discurso da medicina clínica, que constituiu os parâmetros novos para realizar um outro recorte no universo das enfermidades. (REVISTA LATINO AMERICANA DE PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL apud BIRMAN, 1998, p. 42). Observa-se, pois, que atualmente as psicopatologias têm ganhado formas e nomes diversos, além de que elas atingem um público amplamente diversificado e estão presentes em todos os núcleos e instituições sociais. Alguns teóricos pensam que tais patologias são produtos de um sistema virtual, onde impera a lei do momentâneo e do agora. Onde ainda, os projetos futuros não existem porque as pessoas deixaram de acreditar nos projetos a longo prazo, esvaziando as suas vidas de todo e qualquer compromisso que venha implicar nas decisões e escolhas futuras. Imbuídos dessa lógica, pensamos que o mal-estar contemporâneo vem exatamente para alimentar a indústria e o comércio farmacêutico e os laboratórios, que estão a cada dia lançando um novo antidepressivo no mercado para que o mesmo possa aliviar as dores de ordens indizíveis do homem contemporâneo. Falamos de dores indizíveis, mas poderíamos falar também de dores irrealizáveis, porque o homem contemporâneo na realidade está preocupado em não sentir dor nenhuma e assim acaba por não realizar-se como pessoa, como sujeito. Dito de outro modo, a realização passa necessariamente pelo sofrimento porque é isto que vai constituir o sujeito, ou seja, sem o sofrimento o homem não se constitui como sujeito. É natural no ser humano a presença de conflitos, eles são parte inerente à condição humana, de modo que se nós os excluímos o que resta do humano é apenas um corpo, um corpo sem dor, adoecido, e sem desejo. Através de Bauman entendemos que: [...] Se não podemos eliminar todo sofrimento, podemos eliminar alguns e aliviar alguns outros – é algo que vale a pena tentar, e continuar sempre tentando. E assim nós tentamos o máximo que conseguimos, e para a preocupação de que outras melhorias, desejáveis sob outros aspectos, permanecerão definitivamente fora das fronteiras, transformando todas as tentativas de alcançá-las no desperdício de um tempo precioso. (BAUMAN, 2004, p. 62). É com esses sujeitos que a clínica da contemporaneidade vai trabalhar. Esses sujeitos que muitas vezes já trazem em si os estigmas contemporâneos 33 (Depressão, TDH, e Ansiedade). Para atender as demandas do sujeito contemporâneo, necessitamos compreender o que se coloca na origem de tais patologias ao mesmo tempo em que temos que compreender os mecanismos presentes nessa dinâmica e que certamente contribuem para o seu sofrimento psíquico. 3.1 ANSIEDADE Quando pensamos o fazer clínico contemporâneo, um dos quesitos mais presentes e que perpassa todas as psicopatologias é justamente a ansiedade. A mesma se faz presente nas pequenas e grandes decisões do cotidiano, além disso, ela faz o sujeito deixar de ocupar-se com a realidade, já que a ansiedade está permeada por uma ânsia constante, sendo essa uma das suas principais características, dito de outro modo, um afã constante por algo que ainda não está presente. Assim, ao contrário da depressão, a ansiedade porta em si, um excesso de energias para executar algo. Esse excesso leva automaticamente o sujeito ao mundo das ideias, ou seja, o sujeito ansioso entrega-se aos excessos do imaginário. Pensamos que isto advém, visto que é natural do ser humano projetar-se numa determinada situação e também, porque a ansiedade justamente tem ligação com essa projeção em demasiado, sendo que o patológico se caracteriza exatamente pelo caráter de exagero presente numa determinada situação. Ocorre, pois, que para os sujeitos ansiosos o tempo não passa, porque a perspectiva de realizar algo no futuro torna o presente uma eternidade. Nesse sentido, um dos danos causados na subjetividade pela a ansiedade é a falta de concentração. Isto sobrevém, porque na ansiedade a energia está voltada somente para um determinado acontecimento. Esse excesso de energia direcionada para o futuro deixa de novo o sujeito no vazio, ou seja, não há uma sintonia de corpo e de mente, já que o corpo está no presente e a mente está divagando, buscando imaginar como será a realização de um determinado acontecimento. Para Freud (1926) a ansiedade está relacionada ao recalque, nesse sentido compreende-se que a mesma resultaria do deslocamento de algo anteriormente 34 reprimido, que agora se reatualiza produzindo com isto, os mais variados sintomas. Nesse sentido podemos pensar que “... A ansiedade não é criada novamente na repressão; é reproduzida como um estado afetivo de conformidade com uma imagem mnêmica já existente [...] os estados afetivos têm-se incorporado na mente como precipitados de experiências traumáticas primevas, e quando ocorre uma situação semelhante são vividos como símbolos mnêmicos4” (p. 97). Então, segundo Freud, a ansiedade é resultado da junção dos afetos não elaborados. Contudo, para que sejam elaborados parcialmente os sujeitos tendem a transformá-los em sintomas. Conforme citado anteriormente, o próprio Freud percebeu através do tratamento das histéricas que a histeria era justamente a conversão desses afetos como um mecanismo de defesa psíquico, a fim de que as ditas histéricas não enlouquecessem. Na atualidade, os sujeitos também lidam com a angústia, mas não da mesma forma como as histéricas de Freud, visto que agora as psicopatologias são outras e as diversidades das mesmas são verificáveis na clínica contemporânea. Para entendermos como a ansiedade se manifesta na contemporaneidade, seguiremos a nossa pesquisa tratando agora sobre a Síndrome do Pânico. Como o próprio nome já nos alerta, a Síndrome do Pânico caracteriza-se por manifestações de pânicos, onde o sujeito perde o domínio da realidade quando se encontra diante de um determinado objeto, ou situação. O sujeito em pânico estaria se havendo com o real da angústia, já que a sua representação viria a ser um objeto. [...] O objeto-causa de pânico é isso: o que não está no seu lugar no espaço e no tempo e, no entanto, aproxima o sujeito, instantaneamente, de uma exorbitante presença, conhecida há muito ou, antes, pressentida desde sempre. É o encontro de algo que, precisamente não pode ser objeto de um encontro, de um “face a face”, sem submergir o sujeito e fazê-lo “explodir”. Explosão que se acompanha de uma “implosão” especular daquele que acusa seu recebimento (PSICOPATOLOGIA DO ESPAÇO E OUTRAS FRONTEIRAS apud ASSOUN, P. L, 1999, p. 46). Dentre as ideias que se apresentam o pânico gera no sujeito uma “implosão”, mas o que seria essa “implosão” que deixa o sujeito completamente atordoado? Segundo Assoun (1999), no pânico há o encontro com o objeto. Nesse sentido o 4 [Este termo foi empregado por Freud através de Estudos sobre Histeria (1895 d) ao explicar os sintomas histéricos. Ver, por exemplo, Edição Standard Brasileira, Vol. II p. 355 IMAGO Editora, 1974. Um relato muito claro do conceito será encontrado na primeira das Cinco lições (1910a), Edição Standard Brasileira, Vol. XI, p.. 18 e segs., IMAGO Editora, 1070.] 35 espaço limite entre o sujeito e o seu desejo estariam ameaçados pela presença real do objeto, então essa presença que já não é mais ausência torna-se insuportável, já que o encontro com o desejo seria a morte, ou seja, o fim. No encontro não existe vida porque o sujeito está engolfado pelo objeto. Entrar em pânico seria a saída última para dizer desse encontro angustiante e insuportável para o sujeito. Na sociedade contemporânea existem diferentes modos da manifestação do pânico. Bauman no seu livro “Medo Líquido” (2006), reflete sobre as questões que assolam a humanidade e sobre isto nos afirma: As oportunidade de ter medo estão entre as poucas coisas que não se encontram em falta nesta nossa época, altamente carente em matéria de certeza, segurança e proteção. Os medos são muitos e variados. Pessoas de diferentes categorias sociais, etárias e de gêneros são atormentadas por seus próprios medos; há também aqueles que todos nós compartilhamos – seja qual for a parte do planeta em que possamos ter nascido ou que tenhamos escolhido (ou sido forçados a escolher) para viver. (BAUMAN, 2008, p. 31). Logo, do medo ninguém está livre. Mas como elaborar e significar o medo para que o mesmo não se torne pânico nas nossas relações cotidianas? Se o pânico vem desse encontro com o objeto, como pode o sujeito manter distância e proximidade do seu desejo sem que o mesmo lhe cause tanto pavor? Se o pânico é gerado pela angustiante presença do objeto, estará a humanidade mais próxima do seu saber inconsciente? Será que existe uma mediação possível onde o sujeito se mantenha forte à presença do objeto? Na atualidade o que poderia se chamar de desequilíbrio, ou seja, quais são as presenças que ameaçam o equilíbrio do sujeito? Para a Psicanálise é sempre a presença do Outro que causa medo no sujeito. Mas não qualquer presença, quando falamos da presença do Outro, fazemos menção a presença ameaçadora que engole o sujeito deixando-o sem espaço. E no pânico o que apavora o sujeito é justamente essa falta de espaço – assim, ameaçado pela falta de espaço o sujeito se apavora e esse apavoramento ocorre porque o sujeito está desamparado das referências simbólicas, ou seja, aquilo que até então era fantasia foi traído, talvez, caiba nos dizer que o simbólico traiu o sujeito deixando-o a mercê do real. Esse embate do sujeito com o seu desejo é o verdadeiro encontro com a solidão. Conforme nos diz Assoun (1999, p. 54) “O sujeito sente, no âmago de seu 36 pânico, uma figura abrupta da solidão [...] Dolorosamente só, o sujeito em pânico sente-se, conforme o ser-só5, saturado do mundo e de seu “duplo”, que ele deve arrastar até sua fuga”. A sós, ele deverá enfrentar a si mesmo, ou seja, aquilo que de certa forma estava na sua fantasia e que agora se tornou real precisa ser significado. Coloca-se para o sujeito um verdadeiro estado de luta, onde ele deverá cuidar de si mesmo. Através de uma simples análise sobre os efeitos do mundo virtual nos sujeitos contemporâneos, podemos perceber que na sociedade virtual os sujeitos são empurrados exatamente para esse encontro com o vazio, já que a realidade virtual permanece sempre no mundo das ideias, aliás, são os excessos de ideias, de imaginário, que põe continuamente o sujeito em risco. Podemos deduzir que atualmente o que leva os sujeitos a entrarem em pânico são os excessos de fronteiras rompidas e de imaginário a solta, portanto, a luta para sobreviver contra os horrores de um mundo irreal, põe-se do lado da metáfora e da fantasia, dado que os mesmos protegem o sujeito contra os exageros do imaginário. 3.2 DEPRESSÃO Dentre as psicopatologias clínicas que assolam os sujeitos contemporâneos, a depressão tem se caracterizado como um dos grandes desafios, dado que as causas que dão origem a essa doença são as mais diversas. Diferentes linhas de pensamento vão discutir as causas que levam o sujeito a deprimir, sendo que é de grande consideração a opinião das neurociências, pois as mesmas conhecem de modo detalhado a ação e as alterações químicas que os neurotransmissores podem causar no organismo do sujeito. No entanto, o foco da nossa investigação dá-se pelo viés da psicologia, e são com os fenômenos psicológicos da vida do depressivo que nossa pesquisa visa investigar. Quando pensamos a depressão dentro do atual contexto, logo nos vem à mente a imagem do depressivo que se caracteriza por aquele sujeito sem vida, sem cor, sem desejo... Por que a depressão torna as pessoas tão apáticas? De que dor o 5 Assoun P. L. Métapsychologie de la solitude: clinique del ´être seul, in << Solitudes>>, Topique, n. 64, L `Esprit du Temps, 1998, 76-85. 37 depressivo sofre? Será que existem remédios para acabar com a dor do depressivo? O atual contexto social ainda não conseguiu produzir um medicamento que curasse a causa da dor do depressivo, ao contrário, a depressão vem se caracterizando cada vez mais como um sintoma social. Mas, se a depressão é um sintoma, o que exatamente o depressivo está denunciando? Para a psicanálise o depressivo sofre do simbólico, ou seja, o sujeito depressivo não fantasia, não usa a imaginação. Isso acontece dado uma recusa ocorrida entre o segundo e o terceiro tempo do Édipo, quando esse ser ainda em constituição deveria rivalizar com o pai. Ocorre, porque ao se recusar em rivalizar com o pai, esse pequeno ser fica perdido nos cuidados excessivos da mãe, a qual não oferece a ele um espaço suficiente onde ele possa desejar algo, porque a mãe sabe tudo sobre o seu desejo. É por isso que “Poupado pelo Outro do tempo de espera (do objeto de satisfação), a vida psíquica do futuro depressivo se inaugura com uma aposta baixa: ele precisa fazer muito pouco, quase nada, para que a mãe compareça” (KEHL, 2009, p. 228). Percebe-se, portanto, que é vital para o sujeito um espaço, um intervalo, onde o mesmo possa lidar com a falta, pois é essa falta que vem do Outro, que lhe fornecerá mecanismos para que o mesmo não permaneça sempre a espera dos feitos desse Outro. E se tratando de espaço e de falta como base para a constituição psíquica, observa-se que no momento atual os sujeitos contemporâneos parecem cada vez menos tolerantes com relação a esse tempo de espera. A geração virtual é acima de tudo uma geração instantânea. Ou seja, uma geração que na realidade pensa que vive mas não vive, porque a pressa com que se vive, acaba por deixar o presente sempre à espera de ser vivido; dito de outro modo, a vida não se resumo somente num momento, pois dada a dinamicidade com que a mesma se processa, carecemos de um tempo para compreender os fatos do cotidiano e assim torná-los reais. Cogitamos, pois, que na sociedade contemporânea é importante considerar que a depressão venha ser um sintoma dessa falta de tempo e de espaço, não ofertado ao sujeito. Maria Rita Kehl (2009, p. 229) vai dizer-nos que “Uma vida privada da experiência subjetiva da duração é uma vida cujo valor não é acessível ao sujeito”. Nesse sentido, o papel desse Outro em todo processo de constituição é de mediar esse espaço necessário para que o sujeito possa constituir-se como tal, 38 sendo que, o primeiro a fazer isso é o Outro materno, porém, logo em seguida esse Outro que antes era materno passa a ser o social e é nesta relação com o Outro social que os sintomas vão se sobressair. Quando esse intervalo não é ofertado pelo Outro, o sujeito depressivo não sabe como agir com o seu tempo. Esse não saber pode deixar o sujeito extremamente angustiado, dado que ele está habituado a ser pensado pelo Outro: [...] A angústia do depressivo não é convocada por um objeto que se apresente para o seu desejo, mas pela ameaça permanente de ser tomado, ele próprio, como objeto do Outro – esse que supostamente sabe mais do sujeito que ele próprio; esse que ocupa o vazio de onde o sujeito deveria advir. (KEHL, 2009, p. 230). Analisando a nossa sociedade, podemos perceber que são vários os fatores que contribuem para que os sujeitos na contemporaneidade sofram de depressão. Observamos que o tipo de subjetividade na contemporaneidade está cada vez mais vazia, sendo que isto somente é possível analisar através dos acontecimentos que ocorrem diariamente no meio social e do modo como as pessoas resolvem as suas questões. Parece-nos que o fato de não se oferecer mais tempo para o sujeito, faz com que construamos uma sociedade onde as fantasias e os sonhos não se produzem mais. Pasmamos diante de uma sociedade assim, onde as pessoas desejam um amais, mas não sabem exatamente que desejos são esses que os tornam eternos insatisfeitos e errantes. Tendo como única alternativa caminhar em círculos no intuito de encontrar-se, no entanto, se deparam com um imenso vazio, onde o nada tornase a expressão mais forte da existência. Nada a fazer, nada a ser, deprimir-se é a solução encontrada para “livrar-se” do mal-estar. 3.3 HIPERATIVIDADE É impossível pensar as psicopatologias contemporâneas sem falar da hiperatividade, a qual se caracteriza como um quadro de intenso movimento psicomotor, atingindo especialmente as crianças. Porém, além dos movimentos infatigáveis produzidos pelos sujeitos hiperativos, existem também outros fatores 39 que precisam ser considerados para que possamos compreender e trabalhar com essa patologia. Observamos, pois, que assim como na depressão o hiperativo sofre com os excessos do Outro, sendo que enquanto o primeiro cai no vazio, o hiperativo está o tempo todo lutando para evitá-lo. Por isso é comum que diante da dificuldade de lidar com esses sujeitos repletos de energias, buscam-se rapidamente um modo de contê-los. Para tal, no contexto atual, observa-se um número excessivo de crianças diagnosticadas com (TDAH6). No entanto, não sabemos ao certo se as mesmas enquadram-se dentro desse diagnóstico, já que o mesmo muitas vezes não está sendo realizado por profissionais. Contudo, é preciso contê-los. Essa contenção vem para responder uma exigência do social, precisamente da escola, dado que a mesma caracteriza-se como um dos lugares privilegiados para a padronização dos sujeitos. Dizemos padronização, porque a sociedade estabelece um modelo de normalidade, e esse padrão exigido na contemporaneidade parece-nos muito rígido, já que o que se contempla são sujeitos pequenos ainda em constituição, sendo extremamente medicados, tudo para responder um protótipo que no lugar de libertar, acaba deixando a pessoa dependente do uso de medicamentos. Nesse sentido é cabível pensar que esses sujeitos superenergizados, estão respondendo ou por que não dizer, denunciando um sintoma social. Para a psicanálise a relação desse sujeito com a mãe, é que o tornaria hiperativo. Mas para, além disso, observa-se que algo acontece fora dos excessos maternos, e esse algo vem justamente do social. É uma demanda que se apresenta e que faz menção ao tempo, já que o tempo na contemporaneidade têm se tornado o avesso do tempo psíquico. Assim, por não ter um espaço suficiente para simbolização, o hiperativo responde através de movimentos corporais constantes a essa incessante demanda. Pensar na cura do TDAH é um convite para refletir sobre as soluções apresentadas para cura de tal patologia. No entanto, não temos como falar de cura sem mencionar a indústria farmacêutica que vem ocupando-se com a produção de remédios para combater ou aliviar tais sintomas. Contudo, faz-se necessário pensar onde está o sujeito? Acreditamos que seja esse um dos desafios da clínica contemporânea, descobrir por onde anda o sujeito, pois ao fazer o tratamento por via medicamentosa, a implicação do sujeito ao tratamento passa pelos estímulos 6 Transtorno de déficit de atenção. 40 químicos, e se ele não sente dor, nem angústia ele está assujeito a ação do medicamento. Não queremos desconsiderar o uso do medicamento e seus benefícios, entretanto, ser sujeito é se implicar com as questões que atravessam o cotidiano da existência, e nos parece que a sociedade atual não aceita o sofrimento, ainda que a possibilidade de viver sem sofrimento seja uma mera ilusão. Assim, pode-se dizer que a psicopatologia da dita pós-modernidade se caracteriza pelo paradigma biológico, onde as neurociências funcionam como sendo as referências teóricas daquela. Com isso, as psicoterapias ficam num plano secundário no campo da intervenção terapêutica, centrada substancialmente nos psicofármacos. Então a psicanálise passa a ocupar um lugar secundário e periférico no discurso psicopatológico atual. Além disso, as intervenções assumem uma incidência pontual, baseando-se em disfuncionamentos onde o registro das histórias dos sujeitos é algo absolutamente secundário. (REVISTA LATINO AMERICANA DE PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL apud BIRMAN, 1998, p. 43). É possível, pois, perceber que aquilo que foi proferido por Birman (1998), há uma década, pode ser confirmado na sociedade atual através dos próprios fatos, os quais nos dão a chave de leitura para dizer quem é esse sujeito contemporâneo. Contudo, quem é esse sujeito e por que ele tem tanta pressa? Por onde andam os sonhos, as utopias, a imaginação? Será que é possível ser sujeito dentro de uma sociedade onde tudo é para o agora? Na sociedade contemporânea o homem vive dentro ou fora da caverna? E se está dentro da caverna, qual seria a saída? Percebemos que os efeitos da virtualidade tem tornado o sujeito um ser sem raiz, isto acontece porque no mundo virtual os laços são fragilizados pela falta de compromisso com o outro, o que impera é a lógica do individualismo e da indiferença, ora, se o sujeito não mantém os laços e não tem uma referência, logo, ele não cultiva uma tradição. Esses efeitos tornam os sujeitos hiperativos, inquietos e deslocados. Birman (1998), comentado sobre a psicopatologia da pósmodernidade afirma que ... a mundaneidade pós-moderna valoriza os carreiristas e os oportunistas, que sabem utilizar os meios de se exibirem e de capturarem o olhar dos outros, independentes de qualquer outra coisa que esteja em jogo em termos de valores... (REVISTA LATINO AMERICANA DE PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL apud BIRMAN, 1998, p.47). 41 Compreendemos, pois, que para o hiperativo, não há tempo, nem tampouco espaço. O que existe é somente um corpo se movimentando buscando ser encontrado, em outras palavras, subjetivado. 3.4 FALTA DE LIMITES Diante do rompimento das fronteiras cada vez mais presentificada na sociedade contemporânea é possível averiguar que a falta de limites, a qual pode especialmente ser conferida nos espaços escolares, tem se tornado um problema de interpretação, e por que não, de ação? Afirmamos isto porque pensamos o limite não somente como uma contenção física, ou espaços geográficos, todavia, o limite está diretamente relacionado a linguagem, a palavra; nesse sentido ele nasce e se constitui dentro de uma cultura dominante, mas sem se desprender do tempo e da história. Na atualidade as queixas vindas da escola acusam os pais, pois as mesmas estão referidas a falta de limites das crianças, logo, imagina-se que os filhos estão denunciando que a Lei7 que o instituíram como filhos não funciona mais. Será então que na sociedade contemporânea é possível falar que os sujeitos estão em falta da falta? Será que a Lei do pai não funciona mais? Existe um declínio da Lei paterna ou os sujeitos contemporâneos romperam o limite com a Lei simbólica? Não queremos generalizar, contudo, quando se rompe os limites o sujeito perde o rumo, porque é o limite que viabiliza para que o sujeito não se perca em seu devir. Na tentativa de entender o que seria esse sujeito sem limites na atual sociedade, queremos fazer menção a Freud, que a partir da análise esboçada em “Totem e Tabu” (1913-1914), é possível perceber que o sujeito carece ser barrado por uma lei8. O mito do parricídio é que nos dá a garantia de sermos filhos, pois é somente após a morte que o pai é elevado, ou seja, que nasce uma Lei, nesse sentido pode-se dizer que a lei vem como uma repetição daquilo que vivemos ou experimentamos. Sendo que o objetivo de “Totem e Tabu”, é nos mostrar que existe uma Lei que nos organiza para que possamos criar outras leis. 7 8 Aqui, faz-se referência a Lei simbólica. Lei jurídica. 42 Desde então, compreendemos a Lei como um efeito simbólico, aliás, os humanos vivem numa ordem simbólica e o que organiza e garante essa ordem segundo Freud (1913-1914), é a proibição do incesto. E o que não é simbólico, carece ser simbolizado, porque o que não é simbolizado retorna como sintoma. Na contemporaneidade é comum ouvir dizer que as crianças não obedecem, não tem limites. Nesse sentido, nos é permitido pensar que elas não conhecem ou não respeitam a Lei. Ora, como podem obedecer se não conhecem a Lei, para que a Lei faça função faz-se necessário um reconhecimento da mesma. Para nós a questão é bem mais ampla. “Assim, o espaço interno da família parece ser vivenciado como um lugar de indiferenciação protetora, onde cada um é livre para dar curso à sua satisfação pulsional enquanto esta não usurpar o gozo do outro” (REVISTA LATINO AMERICANA DE PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL apud LESOURD, 2000, p. 61). Dentro dessa lógica, é cabível pensar que a Lei funciona quando é apresentada e essa apresentação só ocorre quando ela é falada e creditada, ou seja, precisamos apostar que a Lei fará a sua função, ou a humanidade voltará aos modos primitivos. Entendemos, pois, que o limite não é somente uma questão de reconhecimento, mas de apresentação do mesmo. Limitar o sujeito é referenciá-lo a uma ordem, é colocá-lo dentro de uma cultura. O discurso contemporâneo está mudando, já que as barreiras culturais estão sendo aproximadas, há uma simbiose de culturas onde muitas vezes o sujeito se perde dentro de um espaço amplo e diversificado. A Lei é organizadora, não há dúvidas quanto a isto, mas as referências precisam ser mais fortes porque o papel da Lei determina uma cultura. Se a Lei é vacilante, a humanidade perde a referência, de tempo, espaço e limites. 43 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como afirmaram alguns autores no decorrer desta pesquisa, a subjetividade é algo em constante mutação, isto ocorre devido ao fato de que o sujeito é dinâmico. Discorrer sobre a constituição subjetiva a partir do contexto contemporâneo, nos possibilitou uma abertura para compreender melhor como os sujeitos atuais estão lidando com suas questões subjetivas. Dentro dos aspectos que se apresentaram durante a pesquisa, é preciso considerar que a realidade virtual faz parte do cotidiano do ser contemporâneo. No entanto, o sujeito como tal não pode constituirse somente de uma relação virtual, porque para se constituir como sujeito talvez seja preciso muito mais. Por isso, quando falamos da constituição psíquica, não podemos deixar de considerar o sujeito dentro do seu tempo. É preciso que entendamos a história, assim, como os fatos para que não sejamos incoerentes nas nossas análises. Pensamos que os tempos atuais são urgentes no fazer e no pensar psicológico. Não por que a sociedade mudou, mas porque os efeitos dessa mutação repentina tem de certo modo deslocado o sujeito, deixando-o à mercê do vazio. Nesse sentido, a psicologia contemporânea desempenha um papel delicado dentro da atual sociedade, que é a de saber ler os fatos, interpretá-los e deslocar os sintomas que surgem, a fim de dar aos mesmos uma significação. O sujeito contemporâneo vem definindo-se como o sujeito da “comunicação instantânea”. Percebe-se que a presença do virtual na contemporaneidade, têm invadido todos os ambientes. Com o virtual àquilo que antes era da ordem do privado, passou a ser público. Constata-se que há uma necessidade de ser percebido, dito de outro modo, as pessoas desejam ser notadas, estão buscando um olhar, um elogio, algo que o engrandeça. Nessa busca por ser notado, o acesso aos 44 espaços virtuais vem promovendo os encontros ou seria os enganos? A partir do virtual, é possível criar uma realidade, nesse sentido, os sujeitos correm o risco de produzir uma nova realidade, a qual existe somente para si, mas inexistente para o outro. Por isso, os enganos estão presentes nesta nova realidade, isto ocorre, porque o virtual ao mesmo tempo em que é uma realidade, é do mesmo modo um engano, pois com já dissemos anteriormente, cada um é livre para criar a sua própria realidade. É comum nas redes sociais os compartilhamentos, os numerosos amigos. Mas o que seria compartilhar? No virtual é somente um click, porém, o compartilhamento da realidade implica responsabilidade com o outro. Pensando sobre o que está posto, a virtualidade pode diminuir o senso de responsabilidade com o outro. Os riscos de um mundo virtual é tornar a humanidade insensível, porque somos seres de facilidade, de comodidade. É mais fácil se relacionar virtualmente, pois a presença e o contato com o outro pode me tornar responsável por tudo àquilo que comporta uma relação. Já dizia Freud (1930/1929) na sua obra “O mal-estar na civilização”, que o homem é um ser social e só torna-se humano/sujeito, pelos efeitos que este Outro produz sobre ele. Nesse sentido, o sujeito é parte integrante e participante do meio onde habita. Por esse mesmo motivo, podemos pensar que o homem é um ser comunitário, não existe humanidade se o mesmo não se relaciona, porque é da relação que nasce o sujeito. Quanto ao mal-estar, ele também é fruto das nossas relações e igualmente constitui o sujeito, já que do mal-estar geram-se os conflitos e os sujeitos são seres em conflitos. De outro modo, é o conflito que nos garante numa ordem – a ordem do desejo, da busca. Bauman (2011), numa entrevista intitulada de “O mundo pós-moderno: a condição social”, faz-nos refletir sobre a diferença de comunidade e rede, para tanto, ele fala: “A comunidade precede de você. Você nasce de uma comunidade. Por outro lado, temos a rede. O que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes: uma é conectar, a outra é desconectar”. O que ele quis dizer com isso, somente criticar a cultura virtual? Não. Bauman (2011) está falando de relações humanas, que na contemporaneidade temos nos ocupados de nós mesmos, dos nossos afazeres e das correrias, muitas vezes impostas pelo próprio discurso social, tal tarefa de cuidar de nós mesmos é 45 tão fatigante que não nos arriscamos em assumir compromissos sólidos e duradouros com o próximo. Talvez, seja possível dizer que o mundo virtual é privativo no sentido de que ele priva o sujeito de seus laços, pois dada a facilidade, a instantaneidade e a atratividade oferecida pelo mesmo, o sujeito se priva de responsabilizar-se com o outro. Daqui podemos pensar que os sujeitos contemporâneos estão constituindo-se diferente, porque se não existe laço não existe tampouco referência. Um sujeito sem referência é um sujeito sem endereço, ou seja, perdido e fadado ao fracasso subjetivo. Evidentemente que não é possível numa sociedade como esta viver sem os benefícios trazidos pelos avanços tecnológicos. No entanto, entre o “Ser ou não ser: Eis a questão” (William Shakespeare9), ou ter ou não ter, os sujeitos ainda estão fascinados com a ideia do ter. A partir dessa lógica somos continuamente lançados a uma busca frenética pela “coisa”, pela promessa de que um dia algo os preencherá por inteiro. Promessa esta cada vez mais reforçada pela mídia e pela ilusão de que um dia nos realizaremos plenamente. Nesse sentido a tentativa é livre, o sujeito é aquela da liberdade plena. Mas ao mesmo tempo em que somos livres, nos aprisionamos e perdemos a nossa liberdade pelo desejo de uma juventude eterna, de um corpo ideal, de uma vida sem dor. Contudo, nos parece que essa mera ilusão serve somente para encobrir aquilo que na realidade somos. O sofrimento é inerente à condição do ser, ou seja, ser sujeito é um sofrimento contínuo, porque estamos em questão com as nossas questões e transformações subjetivas. Criar um mundo de ilusão onde tudo é possível e a felicidade encontra-se numa cápsula, é tirar do humano a oportunidade de se tornar sujeito, porque é com todas as suas dores psíquicas que o ser se constitui como tal. 9 Disponível em: http://pensador.uol.com.br. Acessado em: 09/10/12 – as 14h30m. 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOUN, P. 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