EugEnio Mussak é professor
da Fundação Instituto de
Administração da Universidade
de São Paulo (FIA-USP) e da
Fundação Dom Cabral nas áreas
de Liderança e Gestão de Pessoas.
Além disso, atua como diretor
científico da Associação Brasileira
de Recursos Humanos (ABRH).
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Mente feliz,
vida saudável
A saúde depende de fatores comportamentais, por isso é preciso fazer
escolhas. Uma delas é ser positivo diante do futuro, diz Eugenio Mussak
texto Letícia Ronche fotos Alan Teixeira
U
ma das citações de Hipócrates,
diz que onde a arte da medicina
for apreciada, lá também serão
apreciadas as pessoas. Talvez aqui
esteja a explicação para o fato de Eugênio
Mussak declarar que gosta de gente. Médico
de formação, sua carreira se fundamenta
num tipo de cuidado que não se dá em um
consultório ou hospital. É no mundo corporativo que ele indica um tratamento capaz de
inspirar gestores e líderes: a educação. O conhecimento é o instrumento que ele usa para
entusiasmar esses profissionais ao desenvolvimento de suas potencialidades. “Encaro
uma empresa como um organismo vivo e não
como uma máquina.”, explica Mussak.
Ser professor foi a saída para se sustentar
durante a faculdade. “Eu gostava e até hoje
me realizo dando aula”, revela. 20 anos após
finalizar o curso, Mussak exerceu a medicina
por cerca de cinco anos. Foi aí que se apoderou da real vocação associando educação e
performance humana para aplicá-las dentro
das organizações. Veja a seguir a entrevista
que Mussak concedeu à VivaSaúde:
Como o senhor define a saúde?
No meu tempo de fisiologista, fiz um curso
na Clínica Cooper, do Dr. Kennedy Cooper. Ele
diz que há um estado chamado saúde e um
estado chamado doença e, entre eles, existe
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um intervalo. Pode ser que você não tenha
uma doença, mas isso não significa que você
tenha saúde. É preciso dar o seu máximo
para se aproximar do extremo da saúde.
Alcançá-la depende de sete fatores que são
absolutamente comportamentais. São eles:
exercício físico, alimentação, qualidade do
sono, capacidade de administrar o estresse,
autoestima, relações humanas e visão positiva
do futuro. Se for possível dar atenção a isso,
você adoecerá menos.
De que forma a mente ajuda?
Uma mente saudável é importante porque
trabalhamos e vivemos nos relacionando.
Você se relaciona com outras pessoas, mas
também se relaciona consigo mesmo e com os
fatos da vida. É claro que uma mente saudável,
capaz de fazer interpretações adequadas dos
fatos e criar soluções lógicas, é extremamente
importante, até porque isso provoca mais
satisfação e segurança ao indivíduo.
É importante
não se
transformar
em vitima,
porque quando
você o faz,
você transfere
para o outro
a responsabilidade da
sua vida
Então, dá para ser zen em uma crise?
Passamos por uma crise importante no
Brasil e isso traz para todos uma grande
incerteza, o que é angustiante. O mais antigo
e poderoso sentimento humano é o medo
do desconhecido. Você não sabe o que vai
acontecer e isso gera ansiedade e apreensão.
Nesse caso, tudo começa com uma atitude.
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Eu, médico
isso. Se procurar, sempre vai encontrá-los.
Mas se você for um otimista gratuito, ou
seja, não sabe explicar o porquê, o seu
otimismo é volátil. Essa forma de pensar
deve ser construída na sua cabeça de uma
forma lógica e intelectual.
Manter-se
conectado
com o futuro
faz com que
você sobreviva
mesmo tendo
morrido. Por
outro lado, há
pessoas que
morrem sem
terem morrido.
É preciso
escolher qual
desses dois
você deseja ser
Como manter-se focado nisso?
Uma coisa que é essencial é a pessoa se
aceitar. Aceitar como ela é e não tentar
ser o outro. Acho que isso diminui a
ansiedade. Além disso, não devemos ceder
aos estereótipos mas criar nossos próprios
conceitos. O conceito de sucesso hoje, por
exemplo, é muito utilitarista e se volta para
os bens materiais e a posição social. Mas
isso é apenas uma visão de sucesso. Cada
um pode ter o seu próprio conceito do
que é se realizar na vida. Se vivermos pela
métrica do outro, nunca seremos felizes.
Ter esperança faz bem à saúde?
Imagine um futuro positivo e, por meio
desse pensamento, organize-se para
atingi-lo. Isso nos leva a uma postura
mais positiva e a um maior equilíbrio.
Isso também gera estresse...
Na realidade, o estresse não deriva do
tamanho da dificuldade que você está
enfrentando. Ele decorre da desproporção
entre o tamanho da dificuldade e o
tamanho da capacidade para enfrentálo. Temos que dar as devidas proporções
para os problemas e investir na
capacidade de enfrentá-los. E isso se faz,
basicamente, com uma análise, gestão,
planejamento e preparo.
É possível se tornar otimista?
Até certo ponto esta é uma característica
individual. Há pessoas que são
otimistas por natureza e outras são
mais pessimistas. Eu prefiro lidar com
essa questão em um nível cognitivo e
intelectual. Penso que você tem que ser
otimista, mas deve buscar motivos para
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Eu penso que as pessoas não devem
parar de sonhar. Enquanto as pessoas têm
planos, coisas para realizar e acreditam no
futuro, elas se sustentam, se suportam,
passam por cima das adversidades. Elas
possuem um objetivo maior lá na frente.
É um fato que todos nós morreremos. Eu vou
ficar velho um dia. Eu não sou ainda,
não me sinto e nem me considero velho,
mas vou ficar. Então, quando isso acontecer,
eu já defini qual é o tipo de velho que eu
quero ser. Escolhi cinco pilares para essa fase
de minha vida: saúde, paz, boas lembranças,
curiosidade intelectual e conservar uma visão
positiva do futuro. Alguns podem dizer que
velhos não têm futuro. Mas eles têm, e por
vários motivos. O primeiro deles é que não
importa o tamanho do futuro, ele sempre
existe. Podem ser dois ou vinte anos, mas
posso desejar que eles sejam bons. Acredito
que não morremos verdadeiramente quando
morremos. Alguma coisa fica. O nosso legado,
por exemplo, o que construimos por meio do
nosso trabalho, nossas ideias, os filhos que
geramos. Então, essa questão de estarmos
conectados com o futuro faz com que não
morramos mesmo tendo morrido.
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