NOME: ____________________________________________________ No _____ S~ : _______ DATA: ___~ ,__ DISCIPLINA: FILOSOFIA - PROFESSOR EDNALDO A FILOSOFIA E 0 COTIDIANO Jaime Rubio Angulo Nossa situa9ao atual exige urn pensar profundo e a fun9ao do fil6sofo e pensar. Mas, que significa pensar? Qual e o sentido do pensar? Muitas vezes confundimos o pensar com o estudar. Entretanto, sao duas atitudes diferentes. Estudar e trabalhar com vontade em algo. Nesse sentido, afirmamos que estudamos quando enfrentamos urn livro e 0 compreendemos, e, depois, 0 recordamos, sintetizamos e o expomos. Isto certamente e estudar, mas nao pensar. Pensar e refletir. Refletir e como que urn ruminar, urn voltar sobre as coisas. Por isso, sao poucos os que pensam e muitos os que memorizam ou acumulam maquinalmente determinadas informa9oes. Diziamos que o pensar e urn voltar sobre as coisas. Mas este voltar supoe antes urn partir das coisas. Este partir da realidade e a origem do filosofar. 0 come9ar a pensar supoe sempre urn desprendimento ao qual podemos denominar crise. A crise, que em grego precede ''Krinein", indica rnais distanciar-se do que julgar. E necessario "distanciar-se", "partir" da vida cotidiana para poder pensa-la "de fora". · . £ ' ( ... ) 0 cotidiano e, antes de tudo, a organiza9ao diaria da vida, a repeti9ao e reitera9ao das ·atividades. E a divisao do tempo e do ritmo com que se desenvolve a hist6ria pessoal de cada urn. No · cotidiano as coisas, as a9oes, os homens, os movimentos e toda a circunstancia ambiental sao dados aceitos como algo conhecido. No cotidiano tudo esta ao alcance da mao e por isso se considera a realidade como urn mundo proprio. A cotidianidade e uma especie de tirania de urn poder impessoal, anonimo, que impoe a cada individuo seu comportamento, seu modo de pensar, seus goStos, suas cren9as. 0 mundo cotidiano eo mundo do familiar. E a partir desse horizonte que compreendemos o mundo, os homens e a n6s mesmos. Todos temos esta compreensao pelo simples fato de sermos homens, de existir. Mas esta compreensao familiar da realidade eurn obstaculo para 0 pensar filos6fico. Para filosofar e necessario sair do mundo do cotidiano. Este sair do mundo familiar, o "estar fora" do 6bvio, do herdado, do cotidiano recebido pela tradiyaO, e 0 que OS fil6sofos gregos chamavam o admirar-se: thaumazein. A admirayao nao e olhar distraidamente as coisas que nos rodeiam. Nao e tambem o "surpreender-se" com as novidades diarias; porque estas novidades sempre estao presentes no ambito do cotidiano. . A admifavao supoe uma estranheza: ser estrangeiro no mundo do cotidiano. Como o campones que chega a cidade e se sente estranho nela. Esta atitude nasce nos "admiramos" com a realidade diana. "0 admirav'el, dizia Chesterton, nao e que 0 sol nao saia urn dia; 0 admiravel e que saia todos OS dias". Isto saber estranhar-se. Nos habituamos aquilo que nos rodeia e aquilo que seria objeto do pensar, como algo estranho, nao nos aparece. Nos "admiramos" quando escutamos noticias ou informes sobre questoes acidentais; mas o fundamental, o que esta na base, isso nunca nos causa admira9ao, nao existe para n6s. e Se pensamos, se fazemos do pensar atividade de nossa vida, viveremos em crise porque viveremos em continuo distanciamento, abandono da cotidianidade. Se nao se muda, porque nao se pensa. Agora compreende-se melhor o que foi dito acima. Como cotidianamente esquecemos que a Filosofia supoe uma ruptura com o mundo do "normal", apresentamos as Introduvoes a Filosofia como algo dado, como algo que te sentido em si mesmo, e nos esquecemos do fundamental: a coriversao e a morte da cotidianidade. ( .. .) Porque iniciar uma Introdw;:ao a Filosofia com este tema? PORQUE PARA ENTENDER A FILOSOFIA E PRECISO ROMPER COM 0 ~TIO COTIDIANO. COMO · ABRAAO DEVEMOS SEPARAR-NOS no · COMODO MUNDO FAMILIAR, DO LUGAR ACOLHEDOR. ESTA SEPARA<;AO DEVE SER AMADURECIDA POR ESSA RAZAO, AQUELE QUE QUISER COME<;AR A ESTUDAR FILOSOFIADEVE COME<;AR TOMANDO CONSCIENCIA DO COTIDIANO -E, LENTAMENTE, ROMPER ·coM ELE. POR ISSO, ESTE PRIMEIRO CAPITULO NAO E UMA DISSERTA<;AO EPISTEMOLOGICA OU FILOSOFICA E TAO SOMENTE UM CONVITE. UM CONVITE A MORTE! A MORTE DE NO_SSA COTIDIANIDADE. ESTANDO SEGUROS E ASSEGURADOS NO OBVIO, NAO PODEREMOS PENSAR. ESTE PACiFICO HOMEM QUE .JODOS NOS SOMOS, E 0 HOMEM QUE DIARIAMENTE DEVEMOS SUPERAR E FAZER ENTRAR EM CRISE. Por isso e muito pouco freqUente o pensar em nosso mundo. Porque o que fazemos cotidianamente e apegarmo-nos ao obvio. Enquanto nao se der a morte do 6bvio, nao poderemos pensar. A condivao previa para poder pensar e estar sem suportes. A falta de suportes e uma experiencia de "estranheza": sair do proprio pais, abandonar nosso continente, deixar as tradi96es patrias para viver em outre mundo, em outros costumes, em ·. outra profissao, em outre idioma; experimentar-se estranho entre estranhos, seni lingua propria, sem emprego sem seguran9a social. A marcha do pensamento nao consiste emir do simples ao complexo, mas em mover-se dentro da mesma totalidade. a ruptura a que fizemos alusao nao e, em nenhum memento, fuga. Assim sendo, a progressao do pensar consiste na elucidaQao filosofica dessa totalidade que esta presente a nos antes de filosofar sobre ela. · A conclusao a · que . chegamos nao . e, em nenhum memento, contraditorio. E apenas comprova9ao de que a Filosofia nao inicia nada absolutamente; deixa-se levar da nao-filosofia (o cotidiano) para viver a subst§.ncia daquilo que o homem compreendeu previamente sem o haver analisado reflexivamente. Admitimos que existe uma pre-compreensao da totalidade, que e o que nos permite que reflitamos sobre ela. Neste sentido a Filosofia e subversiva. "Subverter'' e colocar acima, o descoberto, o que estava abaixo, oculto. E precise mostrar aquilo que esta oculto. Isto e a comprova9ao de que nao existe uma Filosofia inteiramente livre de pressuposto. (... ) MAIS QUE COME<;AR, A F!LOSOFIA E UM RECOME<;AR ESTE RECOME<;AR E SEMPRE UM.TRABALHO METODOLOGICO PELA QUAL A FILOSOFIA SE INSTAURA A SI :MESMA. EIS'-NOS'> POIS, DIANTE DO PROBLEMA , FUNDAMENTAL DO FILOSOF AR: QUAL . E 0 ATO INSTAURADOR DA ATIVIDADE FILOSOFICA? AQUILO QUE ANTERIORMENTE CHAMAMOS ADMIRA<;AO, CONVERSAO, ETC. Angulo, Jaime Rubio- Filosofia y cotidianidad, in Analisis, vol X, enero/junio _1976, n° 23, Colombia.. R:\USR\SETA\EDIVALDO\ ARQ. COTIDIANO