Cruzeiros marítimos: oligopolização, centralização de capital e uso corporativo do território brasileiro Profa. Dra. Rita de Cássia Ariza da Cruz Departamento de Geografia-USP Circulação marítima A circulação marítima encontra-se entre as formas mais antigas de deslocamento utilizadas por humanos. Motivados por razões como conhecimento do mundo e práticas comerciais, fenícios e outros povos antigos aventuraram-se por rios e mares em embarcações rudimentares centenas de anos antes do início da Era Cristã. A reinvenção da circulação marítima transporte de imigrantes e de correspondências; transformações técnico-científicas e culturais, como: • progressos científicos e técnicos que atingem o setor de transportes; • emergência do transporte aéreo; • conquistas trabalhistas; • valorização cultural das viagens de um modo geral; O primeiro cruzeiro marítimo Conforme Dickinson & Wladimir (1997), a Península and Oriental Navigation Company, conhecida como P&O, organizou, entre 1820 e 1840, as primeiras viagens de passageiros do tipo “excursão”, da GrãBretanha para Portugal e Espanha, na Península Ibérica, e para Malai e China, no Oriente; Para outros, como Amaral (2002), um marco importante seria o Titanic, naufragado em sua viagem inaugural, em 1912, com 2240 pessoas a bordo.http://www.youtube.com/watch?v=C_rV6Cz7EF Q Os cruzeiros hoje e o gigantismo dos navios até início dos anos 1980, navios de cruzeiro transportavam, em média, de 500 a 800 passageiros; no início deste século, há navios capazes de transportar cerca de 6000 pessoas, incluindo a tripulação; “resorts flutuantes”/“destinos turísticos” Fonte: http://images.cruisemates.com/cruise-ships/6/0/7/allure.jpg Os cruzeiros marítimos na rota da oligopolização e da centralização de capital a hegemonia britânica deu lugar a um mercado oligopolizado, dominado por norte-americanos, noruegueses, alemães, italianos, espanhóis e, em parte, ainda, também por ingleses, reproduzindo, nos tempos atuais, a forte concentração de capitais que sempre caracterizou a indústria naval e o transporte de passageiros a ela atrelada, o que se pode reconhecer pela história recente das maiores operadoras de cruzeiros marítimos do planeta. as quatro maiores operadoras internacionais de cruzeiros marítimos dominam, juntas, cerca de 90% do mercado de cruzeiros marítimos do planeta Oligopolização e centralização de capital no setor de cruzeiros Exemplos de centralização de capital no setor de transporte de passageiros (cruzeiros marítimos): Em 1918, a companhia britânica P&O adquiriu a empresa Oriente Line e, a partir daí, ao longo de sua história, outras doze empresas ligadas ao setor de transporte marítimo foram compradas pela mesma; a empresa Carnival Corporation & plc, surgida, na década de 1970, nos Estados Unidos, como Carnival Cruise Lines transformou-se, no final do século XX em uma corporação que, ao sabor das sucessivas crises econômicas que atingiram diferentes países a partir daquele momento, expande-se, adquirindo algumas das maiores e mais tradicionais empresas de cruzeiro marítimo do mundo A geografia da oligopolização no setor da construção naval Indústria naval de cruzeiros de luxo: exemplo de oligopolização Em 2001, o periódico The Economist ressaltou a dominância européia no mercado mundial de fabricação de navios de cruzeiros de luxo, indicando que 70% da produção dessas embarcações encontrava-se, naquele momento, concentrada nas mãos de quatro grandes fabricantes: Kvaerner Masa Yards, da Finlândia, Fincantieri, da Itália, Meyer, da Alemanha e Alstom Marines’s Chantiers de l’Atlantique, França. (Fonte: http://www.economist.com/node/877075. Consultada em julho/2013) os ventos difíceis que sopraram contra a chamada indústria do turismo mundial no pós atentado de 11 de setembro contribuíram para que duas das empresas lideres do mercado mundial de fabricação de navios de cruzeiro de luxo (a Kvaerner Masa Yards e a Alstom Marines’s Chantiers de l’Atlantique) passassem, nos anos subseqüentes, para o domínio acionário da sul coreana STX Corporation. Crescimento do setor de cruzeiros marítimos no Brasil Segundo FGV-Abremar, seis navios de cruzeiro atuaram na costa brasileira na temporada 2004/2005, transportando 139.430 cruzeiristas. Três temporadas mais tarde, entre 2010/2011, este numero saltou para vinte navios - incremento de 233% - e 792.752 cruzeiristas (693.723 brasileiros e 99.029 estrangeiros), - um incremento de 468%. Cruzeiros marítimos e uso corporativo do território brasileiro Base normativa da internacionalização do setor “Programa Federal de Desregulamentação” (Decreto n. 99.179 de 15/03/1990), do Governo Collor de Mello; e Lei de Modernização Portuária (Lei 8.630 de 25/02/1993); Emenda Constitucional n. 7 de 15/08/1995, que alterou o Artigo 178 da Constituição Federal. Topologia dos cruzeiros marítimos no país Cada empresa, afirmam Santos & Silveira (2001: 292), produz, paralelamente, uma lógica territorial..sendo esta, segundo os autores, visível por meio do que pode considerar uma topologia, isto é, a distribuição no território dos pontos de interesse para a operação dessa empresa. FGV/Abremar (2012) Futuro duvidoso e uso corporativo do território Ainda sobre o uso corporativo do território brasileiro Portos a serem adequados pelo PAC Copa do Mundo FIFA 2014: Fortaleza, Recife, Natal, Salvador, Santos, Rio de Janeiro e Manaus. Adequação para quem? Na medida em que as grandes empresas…também influenciam fortemente o comportamento do poder público, na União, nos Estados e nos municípios, indicando-lhes formas de ação subordinadas, não sera exagero dizer que estamos diante de um verdadeiro commando da vida econômica e social e da dinâmica territorial por um número limitado de empresas. Assim, o território pode ser adjetivado como um território corporativo….(SANTOS & SILVEIRA, 2001: 291). Embarque de passageiros na Ilha do Marajó (PA) Fonte: www.portalmarajo.com/2012/07/ Referências Bibliográficas ABREMAR/FGV. Cruzeiros Marítimos – estudo de perfil e impactos econômicos no Brasil, 2012. Disponível em http://www.abremar.com.br/down/fgv2011.pdf. AMARAL, Ricardo. Cruzeiros Marítimos. São Paulo: Ed. Manole, 2002. EKORYS Research and Consulting. Study on competitiveness of the European Shipbuilding Industry. Roterdã, 2009. Disponível em http://ec.europa.eu/enterprise/sectors/maritime/files/fn97616_ecorys_final_report_on_shi pbuilding_competitiveness_en.pdf. FOLHA DE SÃO PAULO. Setor de cruzeiros volta a reduzir oferta no pais. Coluna Mercado Aberto. (25/01/2013). RIBEIRO, Ana Clara Torres. Por uma sociologia do presente: ação, técnica, espaço. RJ: Letra Capital, 2012, Conferência, pp. 85-107. WOOD, Robert E. Cruise Ships: desterritorialized destinations. In: LUMSDON, L. & PAGE, S. J. Tourism and transport, agenda for the new millenium, Amesterdam: Pergamon PR, 2004, pp. 133-145.