1 SILVIA MARIA DA SILVA A CONSTRUÇÃO DE UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA BASEADA NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO Monografia apresentada à Diretoria de Pós-Graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para a obtenção especialista em do título de Fundamentos Metodológicos da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental sob orientação da Professora Vera Maria Silvestri Cruz. Criciúma (SC), 2004. 2 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho para todas as pessoas que acreditam em mim e no meu trabalho. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço: À minha família pela ajuda na formação de meus valores; A todos os educadores que por minha vida passaram; Pelos amigos e amigas de verdade; Ao Fernando, sempre... por me escutar, 4 RESUMO A participação das pessoas nas ações educativas é de fundamental importância, uma vez que na coletividade as possibilidades de realização são, na maioria das vezes, maiores. Planejar, nesse sentido, é uma atividade que está no cotidiano de todas as instituições, principalmente escolares; o planejamento, enquanto ação, vem sempre acompanhado de uma série de concepções e valores como autonomia e cidadania e tem como pressuposto a compreensão teórica e prática por parte de todas as pessoas que o realizam intencionalmente. Nossa investigação, com o objetivo de construir uma proposta pedagógica a partir de concepções reais relacionadas à gestão democrática da educação, desenvolveu-se a partir de uma pesquisa bibliográfica e de uma pesquisa-ação descritiva na qual utilizou-se um questionário; as respostas obtidas foram analisadas e comparadas às teorias estudadas no intuito de solucionar o problema proposto inicialmente. Os dados que foram coletados indicam o entendimento de um dado grupo de educadores quanto a alguns conceitos tais como: sociedade, valores, princípios, currículo, gestão e planejamento e nos forneceram pistas de como devemos agir para de fato termos uma proposta pedagógica eficiente. A partir dos diferentes entendimentos, concluiuse que a participação de toda a comunidade escolar nos planejamentos é imprescindível para o desenvolvimento de suas potencialidades bem como para a efetivação da gestão democrática da educação. Palavras-chave: Participação. Gestão democrática. Planejamento 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................................................06 1. INICIANDO A CONVERSA ...................................................................................10 1.1. Participação, autonomia e cidadania como suporte na gestão escolar..............12 1.2. O planejamento como instrumento de transformação.........................................15 1.3. As linhas de planejamento .................................................................................17 1.4. O planejamento participativo e a gestão escolar ................................................20 1.5. Os aspectos legais sobre a gestão democrática ................................................22 1.6. Pressupostos básicos da gestão participativa na estruturação de uma proposta pedagógica.................................................................................................................24 2. A VIVÊNCIA DO PLANEJAMENTO.......................................................................31 CONSIDERAÇÕS FINAIS .........................................................................................47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................52 ANEXOS ....................................................................................................................54 6 INTRODUÇÃO A monografia elaborada aborda um assunto importante ao campo da Educação e tem como tema geral a Gestão Escolar, sendo bastante novo para a maioria dos educadores. Sua compreensão é imprescindível para que se consiga realizar um trabalho de qualidade, uma vez que só as ações bem planejadas, na maioria das vezes, têm chance de se efetivar e de transformar a realidade, seja ela educativa ou não. O tema, especificamente escolhido para o desenvolvimento da monografia é “A construção de uma proposta pedagógica baseada na gestão democrática da Educação”. Sendo assim, o problema a ser resolvido é: Como planejar uma proposta pedagógica que motive os Educadores da Educação Infantil e das Séries Iniciais do Ensino Fundamental para o desenvolvimento das potencialidades da comunidade escolar? Desse modo, o que se quer é que o trabalho pedagógico seja visto e assumido com mais consciência garantindo satisfação e crescimento amplo aos educandos, educadores e a todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem. O objetivo principal de nossa pesquisa é compreender como se dá a construção de uma proposta pedagógica que motive os educadores da Educação Infantil e Ensino Fundamental para o desenvolvimento das potencialidades da comunidade escolar. Assim, aprofundamos as leituras e discussões sobre as linhas de planejamento, buscando a definição/ caracterização de uma proposta pedagógica participativa como fundamento da prática pedagógica na linha do planejamento participativo e propondo ações concretas que motivem os educadores da Educação 7 Infantil e Ensino Fundamental para o desenvolvimento das potencialidades da comunidade escolar. Sob o ponto de vista da forma de abordagem, segundo NETO (2003, p. 11), nosso trabalho foi desenvolvido a partir de uma pesquisa qualitativa, a qual “considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito” e por ser subjetiva, a opinião desse sujeito não pode ser reduzida a números. Do ponto de vista dos objetivos, a pesquisa é descritiva, ou seja, seu objetivo principal é a descrição das opiniões de uma dada população sem julgamentos pessoais. Nesse caso, NETO (2003, p. 12) ressalta que “as pesquisas descritivas são (...) as que habitualmente realizam os pesquisadores (...) preocupados com a atuação prática”. Como técnica de coleta de dados, utilizamos um questionário composto por doze (12) perguntas aplicadas a quinze (15) educadores de uma escola da rede privada, sendo que o resultado da pesquisa foi obtido por meio de análise e interpretação dos dados obtidos. A realidade nos mostra que na maioria das instituições, principalmente nas escolas, o planejamento não é feito de forma organizada e por esse motivo não atinge seu verdadeiro objetivo que é a satisfação e o crescimento das pessoas envolvidas. Teoricamente, vemos que os princípios norteadores de um bom projeto político-pedagógico giram em torno da gestão democrática, buscando qualidade à educação, visão crítica do grupo, motivação para planejar. Sabemos, porém, que existem várias formas de planejamento, mas a que se busca é a participativa. Para chegarmos até o planejamento participativo um longo caminho deve ser percorrido e conforme GANDIN (1995), antes de mais nada é preciso acreditar nos sentimentos, desejos e pensamentos das pessoas, de modo que o fazer de todos construa o plano de ação de uma escola, como é o nosso caso. Nesse sentido, analisamos o 8 que os docentes de nossa comunidade escolar nos disseram e a partir de suas falas traçamos as linhas para a construção de uma proposta pedagógica transformadora, garantida pela participação efetiva de todos na busca do entendimento, organização e transformação da realidade. Enquanto educadora, mais especificamente diretora pedagógica de uma escola da rede particular de ensino, sentimos a necessidade de melhor conduzir o trabalho das professoras e professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, pois nessas modalidades de ensino é necessário que se busque, cada vez mais, uma educação de qualidade, que forme a pessoa para o presente, com capacidade de relacionar os acontecimentos ao passado e planejar o futuro. Para isso, é preciso que tais competências e habilidades sejam desenvolvidas com intencionalidade, garantindo assim que as potencialidades da comunidade escolar também se desenvolvam. Em uma instituição escolar, como em tantas outras, são necessárias ações intencionais. Assim, o educador precisa conhecer sua realidade, detectar suas carências e possibilidades, sonhar com uma prática mais significativa. É isso que precisamos: que a comunidade escolar saiba o porquê e o para quê de suas ações e aos educadores cabe indicar o como e o quando. Para isso, planejar participativamente é muito importante, uma vez que a centralização do poder impede o crescimento dos grupos. A conscientização das necessidades faz com se procure e se deseje mudar. A Gestão Democrática pode nos aproximar desse desejo e a partir dele a construção de uma comunidade escolar mais participativa se torna possível. Neste sentido, entra em jogo a questão da motivação, pois sentimos que para planejar participativamente é fundamental que as pessoas estejam motivadas, ou seja, que sintam a necessidade de planejar juntas; todos têm que estar motivados a agir para 9 o mesmo fim. Assim, a motivação é essencial para que as intenções saiam do papel, as idéias se transformem em ações, a realidade seja melhorada e, enfim, transformada. Nosso trabalho apresenta, primeiramente, teorias sobre participação, planejamento escolar, gestão democrática da educação e proposta pedagógica, sendo que as várias concepções foram construídas e reconstruídas com base em vários autores e também em nossa experiência pedagógica. Numa segunda parte, apresentamos a análise das respostas obtidas na pesquisa, revelando as concepções que os educadores questionados têm sobre as teorias estudadas e como eles enxergam o cotidiano da escola em que trabalham. Por último, fazemos nossas considerações finais de forma a analisar o desenvolvimento de nosso trabalho, pontuando os conceitos essenciais sobre planejamento e gestão, manifestando nosso ponto de vista sobre a maneira mais democrática de organização escolar. 10 1 INICIANDO A CONVERSA... Consultando as atuais bibliografias na área de educação, mais especificamente sobre gestão escolar, pudemos observar que, mundialmente, os sistemas educacionais que mais têm avançado são aqueles em que a comunidade participa ativamente da vida escolar. Nessa participação podem estar incluídas a comunidade escolar interna (professores, estudantes, funcionários, pais ou responsáveis pelos estudantes) e também a comunidade externa (sociedade em geral). Infelizmente isso não é comum acontecer em nossa realidade mais próxima. Nesse sentido, segundo KUENZER et al (1998, p. 8) Pensar, pois, em formas de intervenção na situação educacional contemporânea para competentemente construir um conhecimento que possibilite o enfrentamento dos desafios é tarefa urgente para os administradores escolares. A escola é o lugar onde, sistematicamente, acontece a construção, reconstrução e assimilação do saber, por isso todos os que dela participam tornamse responsáveis pelo processo de transformação/ reconstrução da sociedade. Daí a necessidade de se estabelecer a gestão democrática da educação, uma vez que esta se dá a partir da organização de ações da comunidade escolar como um todo em torno de objetivos e intencionalidades comuns, garantindo assim um projeto viável com possibilidades de concretização. Criar um mundo melhor é responsabilidade da escola, da educação, de sua gestão política e educacional. Nesse sentido, nas propostas educacionais precisam estar claros os objetivos, significados e valores. E para a sua efetivação é necessária uma direção construída e legitimada na participação democrática. Isso garantirá, pelo menos teoricamente, “a potência da transformação” (Ibidem, p. 113). 11 Em nossa prática cotidiana, percebemos que somente uma atuação competente consegue efetivar a aprendizagem dos conteúdos da vida (éticos, eruditos e científicos), onde educandos, educadores e comunidade escolar possam “desenvolver-se como seres humanos fortes intelectualmente, ajustados emocionalmente, capazes tecnicamente e ricos de caráter” (Ibidem, p. 113). Em função da existência de várias práticas pedagógicas “construir um trabalho coletivo coerente, articulado e posicionado na escola é tarefa desafiante, que exige empenho, persistência, paciência e crença naquilo que se quer” (FUSARI, 1999, p. 90). Dessa forma, estruturar uma proposta motivadora requer muito estudo e implica na adoção de novas óticas e posturas em relação às concepções de educador, estudante, sociedade, objetivo, conteúdos, etc. por toda a comunidade escolar, a qual, justamente, forma a comunidade civil. Assim, ao se transformar o espaço escolar, transforma-se também uma parte da sociedade. Sabendo que essa transformação surge de uma ação coletiva, é preciso lembrar que ela não acontece de uma hora para outra, mas em médio e longo prazo. Segundo LÜCK et al (2002, p. 110) “São necessários, pelo menos, de três a cinco anos para introduzir, aprender, manejar e ver os resultados educacionais da abordagem da gestão participativa”. Por isso, sentimos a urgência de iniciar logo o processo de mudança, pois entendemos que querer transformar a escola significa querer criar uma nova escola e, conseqüentemente, uma nova sociedade. Se não podemos mudar o todo, mas pelo menos a parte que nos é possível. É claro que elaborar ou estruturar uma proposta educacional hoje, não significa eternizá-la por ser considerada ideal; permanentemente é preciso buscar superar os problemas enfrentados. Para isso, todos os envolvidos devem desenvolver a capacidade de identificar e avaliar suas deficiências e eficiências 12 também, de modo que possam crescer com ela. O registro dessas identificações e a comunicação (diálogo) são instrumentos preciosos para que se realize a transformação, mas se ainda não estamos habituados a trabalhar coletivamente, como então realizar uma proposta participativa e motivadora? Pensamos que, primeiramente, é necessário refletir sobre as teorias que tratam do assunto, depois haver a investigação, a reflexão sobre a proposta atual e o desejo de otimizá-la de modo a garantir a qualidade de ensino, pois só “a ação provoca a consciência crítica e criativa nas pessoas, motivando seu engajamento no processo de participação” (SCHNECKEBERG, 1998, p. 16), desenvolvimento das potencialidades e transformação da realidade. 1.1 Participação, autonomia e cidadania como suporte na gestão escolar Independentemente de a escola ser pública ou particular, a gestão escolar normalmente está nas mãos do diretor, sendo que a maioria dos educadores e comunidade escolar em geral compreende que é ele quem determina o que fazer ou não. Isso acontece porque cada pessoa tem suas próprias crenças administrativas e pedagógicas e ainda está mais ou menos propensa à mudança. Daí a importância do diálogo e do esclarecimento a todos do que se busca e o porquê, inclusive das diversas habilidades e competências que podem potencializar a participação dos diferentes e construir um coletivo consciente. Quando falamos em diversas habilidades e competências, queremos salientar que cada membro da comunidade escolar precisa estar consciente de sua realidade com suas possibilidades e necessidades. Só assim é possível buscar melhorias. 13 Vivemos dias em que a anarquia e o individualismo social imperam sobre todas as pessoas; as misérias mudam de nome, mas estão sempre presentes, tornando homens e mulheres, de todas as idades, temerosos do que “virão a ser” enquanto a minoria vive bem... No campo do trabalho, exige-se, cada vez mais, flexibilidade e capacitação, pois as mudanças são muito rápidas. Por ser vital às pessoas, o trabalho remunerado é uma garantia; quem não o tem, sente-se inseguro e temeroso quanto ao seu futuro. Para SHAFF (apud FERREIRA, 1998, p. 103) “os ramos do trabalho criativo permanecerão e serão desenvolvidos quantitativamente com mais intensidade do que hoje”. Sabemos, porém, que para se ter um bom emprego é preciso alta qualificação, ou seja, permanente capacitação. Para se viver também é assim, uma vez que construir uma sociedade mais humana é um processo complexo que exige, principalmente de nós educadores, uma profunda dedicação. Por isso, há necessidade de envolver-se, buscar parcerias e não apenas apontar os erros e deficiências da educação. Gerir competentemente a escola significa contribuir com a formação integral de nossos brasileiros e brasileiras, por isso a importância da qualificação e valorização do profissional da educação, criador e transformador de conhecimento. A partir dessa necessidade, buscamos a compreensão de que “[...] a participação é um processo de democratização emancipatória na conquista incessante de novas formas de cidadania individual e coletiva” (Ibidem, p. 109). Isso é compromisso e função da gestão da educação e suas políticas formadoras de profissionais, mediadores da vida social e de todas as suas possibilidades e desafios, esclarecidos de que a dinâmica escolar só tem sentido se for coletiva. 14 Nossa sociedade tem uma cultura competitiva, individualista, egoísta. É natural que o ambiente escolar também seja assim, o que o torna difícil de se tornar democrático e autônomo. Se finalidade da educação é a formação do indivíduo autônomo, seu objetivo também é a construção da cidadania. Entendemos que o indivíduo autônomo não é isolado e não age isoladamente. Ao contrário, é ativo e busca em sua prática fazer valer sua cidadania, ouvindo, opinando, participando das programações e execução dos projetos. De acordo com GADOTTI et al (2000, p. 57) “uma sociedade autônoma é uma sociedade autocontrolada, autodirigida, autogestada, onde suas instituições, como a escola, promovem e facilitam a autonomia individual”. Essa autonomia individual gera a autonomia do grupo, uma vez que um vai motivando o outro. Sabemos, porém, que a tradição burocrática da maioria das instituições escolares atrapalha o desenvolvimento da autonomia. Mesmo assim, estamos vivendo um período de busca à liberdade e autonomia. Isso porque sem esses valores respeitados não se consegue ser cidadão de verdade. É preciso que as pessoas tomem como causas particulares a luta por valorização e coletivamente ajam para tê-la. Dessa forma, será possível a construção de uma nova sociedade ou, pelo menos, de uma sociedade mais justa onde todos possam ser cidadãos. Na escola, a verdadeira participação é garantida pela interação entre os sujeitos e as diversas realidades. Isso contribui eficazmente para a “formação do educando em sua totalidade – consciência, caráter, cidadania [...]” (VASCONCELLOS, 1999, p. 98). Por meio da participação consciente e democrática, a comunidade escolar desenvolve suas potencialidades e vai se transformando, se reconstruindo. 15 Para TORRES, (1998, p. 16) “o próprio conteúdo da democracia está sustentado pelo pressuposto da ação coletiva, da comunidade, da comunicação”, sendo que sua existência pode surgir da própria vontade de um indivíduo autônomo em construí-lo. Daí a importância da motivação e do comprometimento dos agentes educacionais, sejam eles internos (professores, estudantes, pais) ou externos (sociedade em geral). Sendo cidadãos e educadores, temos consciência de que agir com coerência, quando se trata da educação de nossas crianças e jovens, é o mínimo que se pode fazer para garantir seu desenvolvimento e crescimento em todos os aspectos. Nosso poder deve ser exercido como instrumento de verdadeira cidadania a fim de que forme em nossos homens e mulheres a capacidade de compreender o que já passou e o que ainda virá. 1.2 O planejamento como instrumento de transformação O mini-dicionário Aurélio (1993, p. 426) define planejar como “v. t. 1. Fazer a planta de; projetar, traçar. 2. Tencionar, projetar. § planejamento” e participar como “v.t. 1. Informar, comunicar. 2. Ter ou tomar parte em. § participação sf. [...]” A partir disso, podemos acreditar que a verdadeira participação caracteriza-se por uma atuação consciente de um grupo com vistas a obter resultados. Isso quer dizer que todos devem ter os mesmos objetivos e lutar juntos por eles, assim a participação tem sentido. 16 Para se ter objetivos comuns, é preciso antes planejar e o planejamento participativo não é feito apenas por pessoas com objetivos comuns, mas que juntas constroem objetivos e buscam concretizá-los. Não é comum nas escolas encontrarmos um ambiente democrático de gestão e, conseqüentemente, a prática do planejamento participativo, já que um depende do outro. Isso acontece porque a maioria dos professores pensa que seu trabalho é apenas na sala de aula; os pais e mães se preocupam com os aspectos físicos e materiais da escola, sobrando aos diretores a tarefa de construir objetivos para escola. Mas isso pode ser revertido, pois segundo LÜCK et al (2002, p. 18) aos responsáveis pela gestão escolar compete (...) promover a criação e a sustentação de uma ambiente propício à participação plena, no processo social escolar, dos seus profissionais, de alunos e de seus pais, uma vez que se entende que é por essa participação que os mesmos desenvolvem consciência social crítica e sentido de cidadania. Nesse enfoque, as ações devem ser cooperativas e desenvolvidas num clima de total confiança, onde as diversas capacidades sejam valorizadas, objetivando a construção de um ambiente motivador e multiplicador das potencialidades e habilidades humanas. Dentre os segmentos responsáveis pela transformação da escola, não podemos destacar um como sendo o mais importante. Tanto professores, quanto equipe de coordenação, direção, estudantes, pais, funcionários, autoridades ou comunidade local têm um papel a desempenhar e é da necessidade de cada um dos segmentos citados que surge a necessidade da transformação. Vale dizer, todavia, que o professor, por estar em contato direto com os estudantes, por ser um profissional da educação e por entender que a mudança de gestão burocrática para a democrática é imprescindível ao processo de renovação das práticas educativas, é um agente privilegiado. 17 Da necessidade de mudança, surge a necessidade do planejamento, uma vez que todas as atividades humanas são, na maioria das vezes, conscientes e planejadas. Em função do processo da prática educativa ser coletivo, seu planejamento requer maior organização e articulação. Nesse sentido, no caso da implantação da gestão democrática dentro da escola, todos os agentes educativos devem estar a par do objetivo a ser atingido, quando, como e por quê. Assim, planejar a gestão democrática é uma das melhores formas de garantir a transformação de todas as pessoas que compõem a comunidade escolar. A ação de planejar está diretamente ligada à transformação de alguma coisa ou situação. Algumas pessoas ou instituições agem ingenuamente diante da transformação, considerando que só a vontade de mudar basta para que ocorra a mudança. Outras, com atitudes fatalistas, imaginam que nada pode ser mudado, que os problemas são estruturais e que só resta esperar. Sujeitos mais críticos analisam as situações e, de maneira organizada, atuam sobre a realidade, transformando-a dependendo do contexto favorável ou não à mudança. Na escola não é diferente! É preciso, pois, analisar a situação e se lançar à sua transformação, iniciando o processo pelo planejamento. 1.3 As linhas de planejamento De acordo com escritos de GANDIN (1994), o pensamento conservador revela que não temos uma boa sociedade porque não temos boa educação. Nele se 18 evidencia que “escola e sociedade se relacionam de tal modo que um bom sistema escolar constrói uma sociedade boa” (p. 14) e a desigualdade entre as pessoas é vista de forma normal e harmoniosa. Um pensamento mais desenvolvido defende que a escolarização gera o desenvolvimento, mas ambas as correntes acreditam que a relação entre escola e sociedade pode transformar o mundo e por isso é preciso investir em educação, uma vez que uma boa educação gera uma boa sociedade. Outra interpretação revela que a escola é sempre o reflexo da sociedade, normalmente reproduzindo seus valores e projetos. Essa dita sociedade é formada também por educadores que pertencem à classe dos conservadores extremos, dos revolucionários extremos ou dos que querem a mudança a partir da sua realidade. Os primeiros não conseguem distinguir a realidade existente e a desejada; os segundos não vêem pontos convergentes entre a realidade existente e a desejada; aos terceiros, as duas realidades têm pontos convergentes e divergentes, ou seja, estes últimos têm consciência da importância de um projeto social que não as reproduza ingênua e eternamente. Assim, deve-se “impor a seu trabalho um cunho transformador” (Ibidem, p. 18) onde o planejamento seja embasado a partir do que existe em busca do que se deseja. Ainda conforme GANDIN, três grandes linhas aparecem para definir planejamento. A primeira é o gerenciamento da qualidade total, que apresenta um caráter conservador, pois seu maior objetivo é aperfeiçoar o processo de produção, ou seja, sua maior preocupação é o lucro. Aplicado socialmente, esse tipo de planejamento incentiva a competitividade, uma vez que cada produto examinado é 19 aceito ou não de acordo com seu grau de qualidade. Isso quer dizer que o trabalho humano tem que agradar o cliente. Traduzindo o gerenciamento da qualidade total para o campo pedagógico, percebemos que está limitado aos resultados (fazer os estudantes terem boas notas); não possui proposta de mudança social buscando, essencialmente, a eficiência (fazer os estudantes “passarem de ano”); mantém esquemas hierárquicos, ou seja, cada pessoa tem seu poder limitado às atribuições que vão originar a satisfação do cliente (pais dos estudantes). Nele, a participação é vista apenas como colaboração e planejar nada mais é do que solucionar os problemas que surgem. A segunda linha é o planejamento estratégico, onde a qualidade é proposta mais claramente, mas a participação é entendida apenas como o meio de atingir a qualidade determinada anteriormente. A ação do planejamento é analisar oportunidades, descobrir os pontos fortes e fracos do mercado; nesse caso, a participação é limitada, pois o capital determina a detenção do poder. Esse tipo de planejamento é pouco aplicado ao campo pedagógico. A terceira linha é a do planejamento participado, que entende que a superação dos problemas sociais exige a participação consciente de todos e que só assim é possível se fazer um trabalho de qualidade; o processo “se constitui no que Paulo Freire chama de processo de ação-reflexão” (Ibidem, p. 29). Aqui, o processo de planejamento indica metodologias e instrumentos para se chegar a um resultado e dependendo o setor de atividade a proposta será diferente, considerando “a concepção de mundo que o grupo proponente tem” (Ibidem, p. 29) e se este grupo luta pela conservação ou transformação da realidade numa linha de justiça social. Assim, a ação de planejar é entendida como o desenvolvimento de um processo que contribui ao projeto político e pedagógico, no caso da escola. Esse tipo de 20 planejamento tem um ponto de partida (real) e apresenta processos (caminhos) para se conseguir o ponto de chegada que é o ideal. Pelas descrições, percebemos que cada linha de planejamento incorpora três idéias fundamentais: participação, qualidade e missão (transformação ou conservação). 1.4 O planejamento participativo e a gestão escolar Para que se desenvolva um trabalho pedagógico de qualidade é preciso implementar ações que propiciem aos agentes educacionais oportunidades de participação nas decisões. Em uma comunidade escolar, a adoção do planejamento participativo significa agir no sentido de mobilizar e garantir o envolvimento de seus membros. Desse modo, para GANDIN (apud SCHNECKEBERG, 1998, p. 12) o planejamento participativo é um processo em que as pessoas realmente participam porque a elas são entregues não só as decisões específicas mas os próprios rumos que se deve imprimir à escola. Os diversos saberes são valorizados, cada pessoa se sente construtor – e realmente o é – de um todo que vai fazendo sentido à medida que a reflexão atinge a prática e esta vai esclarecendo a compreensão, e à medida que os resultados práticos são alcançados em determinado rumo. Assim, participar é mais que decidir: é buscar a valorização das diversas inteligências no intuito de definir caminhos e ações para se chegar a eles, primando pela forma de planejamento coletivo da comunidade escolar, onde todos os agentes participam da preparação, elaboração, execução e avaliação. Para se efetivar o planejamento participativo, primeiramente, é necessário se conhecer a realidade social, política e econômica da instituição escolar, bem 21 como ter bem claro que escola se tem e que escola se quer ter. Só assim é possível planejar ações no sentido da transformação: conhecer as necessidades da comunidade envolvida. Mesmo com a participação de todos, é fundamental que o processo do planejamento participativo tenha uma coordenação motivada, que reúna seu grupo e o incentive a organizar propostas transformadoras, quando por meio de sua própria participação vá se educando e reconhecendo suas potencialidades, limitações e divergências. Para SCHNECKEBERG (1998, p. 15) o importante é compreender que o planejamento participativo é processo, portanto, será elaborado por etapas. Não é possível iniciá-lo e finalizá-lo num momento. Por ser processo precisa ser vivido, absorvido, amadurecido, enfim, construído. Podemos dizer, assim, que o grupo precisa estabelecer relações positivas entre si e junto à coordenação no sentido de se realizar e realizar os desejos da comunidade escolar que representa. Isso é possível por meio do diálogo permanente onde se discutem, decidem e assumem posições para o bem comum, tornando possível uma educação escolar mais justa, humana e, verdadeiramente, participativa. Desse modo, a gestão escolar vai se constituindo participativa e contribuindo para a efetivação do planejamento participativo. Definimos gestão escolar como um processo de coordenação de esforços e ações para alcançar objetivos comuns, mas essas ações precisam ser partilhadas, dialogadas, discutidas. Portanto, juntos, os agentes educacionais (pais, estudantes, professores, diretores, orientadores, funcionários em geral) formam e fazem a gestão escolar e são os responsáveis diretos pelo planejamento. 22 Salientamos que uma das grandes vantagens da gestão escolar democrática é o fortalecimento interno e externo da instituição que a adota, o que contribui ainda para o desenvolvimento da comunidade que a compõe, motivando, cada vez mais, o espírito crítico, consciente e criativo, fundamental no processo da construção de uma proposta pedagógica de qualidade. 1.5 Os aspectos legais sobre a gestão democrática A Constituição Federal de 1988 institui, em seu artigo 206 (inciso VI) a Gestão Democrática do Ensino público, mas foi a Lei de Diretrizes e Bases, promulgada em dezembro de 1996, que estabeleceu de fato a democratização da gestão escolar (artigo 14). Essa lei por si só não criou condições para que a escola seja democrática. Ela apenas aponta um caminho para que a coletividade do processo pedagógico seja efetivado pela participação direta dos pais, professores, estudantes e demais agente da comunidade escolar. Vale lembrar também que o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/ 90) incentiva a participação das crianças na tomada de decisões em assuntos que dizem respeito à sua vida; e nada está mais ligado à vida das crianças e adolescentes do que os estudos, pelo menos deveria ser assim... Não se pode garantir que ao se implantar a gestão democrática a escola se transforme numa instituição democrática, pois essa ação requer momentos de reflexão pelos agentes envolvidos no sentido de reconhecer que só o comprometimento de todos garantirá o sucesso do empreendimento. Muito antes disso, porém, a partir do final da década de 70, os educadores e pesquisadores de todo o mundo passaram a observar que os diretores 23 sozinhos não poderiam solucionar os problemas e questões relativas à escola. Assim, sugeriram que fosse adotada a abordagem participativa. Essa abordagem, de acordo com LÜCK et al (2002, p. 19) apresenta a gestão participativa como elemento significativo em escolas eficazes, onde o papel do gestor é diferente, ou seja, ele trabalha em conjunto com toda a comunidade escolar. Empiricamente, podemos observar que existe “uma correlação significativa entre a gestão participativa e a satisfação do funcionário e a produtividade organizacional” (Ibidem, p. 20). Vale dizer aqui, que a satisfação de toda a comunidade escolar será tanto maior quanto melhor for a qualidade de sua participação. Assim, vemos que, independentemente dos níveis hierárquicos dentro das escolas, é possível melhorar a produtividade, nesse caso citada como sinônimo de satisfação e comprometimento que vão garantir, certamente, o desenvolvimento das potencialidades da comunidade escolar. Para isso, é necessário que cada componente dela se sinta co-responsável pelas melhorias e se comprometa em alcançar os objetivos almejados pelo conjunto (planejamento). Em uma escola, de fato transformadora, pode-se constatar a existência da iniciativa, da inovação, onde as informações e idéias são constantemente divulgadas e trocadas, o que garante uma maior responsabilidade por parte de todos em relação aos resultados. 24 1.6 Pressupostos básicos da gestão participativa e democrática na estruturação de uma proposta pedagógica Em muitas escolas, cujas características de clientela, nível educacional e recursos são bem parecidos, o nível de eficácia é bem diversificado. Para LÜCK (2002, p. 24), pesquisas sobre esse enfoque indicam algumas características administrativas associadas às escolas eficazes: 1. O planejamento participativo; 2. Bom relacionamento entre os professores; 3. Senso de unidade no ambiente escolar; 4. Os diretores agem como líderes pedagógicos e em relações humanas, “enfatizando a criação e a manutenção de um clima escolar positivo e a solução de conflitos” (Ibidem, p. 25). Nesse sentido, porém, deve-se ter em conta que a motivação, o ânimo e a satisfação não são responsabilidades exclusivas dos gestores. Os professores e diretores trabalham juntos para melhorarem a qualidade do ambiente, criando condições necessárias para o ensino e a aprendizagem mais eficaz, e identificando os aspectos do processo do trabalho considerados adversários da qualidade do desempenho (Ibidem, p. 25). Assim, a gestão democrática visa a construção da autonomia da escola e de todos os seus membros, por isso o planejamento só tem sentido se participativo, uma vez que por meio dele se constrói um plano para toda a escola, com identificação de sua missão, seus objetivos e atividades mais prioritárias, buscando o comprometimento de todos em sua efetivação. Resumidamente, a participação requer o desenvolvimento e a adoção de algumas atividades dentro das escolas: 25 1. Redigir um código de valores que represente o comprometimento de todos da escola com a gestão participativa. 2. Construir o comprometimento do pessoal da cúpula. 3. Promover a capacitação em serviço de professores e pais para que se desenvolvam as habilidades necessárias á atuação participativa. 4. Circular a informação de cima para baixo na organização. 5. Iniciar com alto envolvimento o processo de planejamento (Ibidem, p. 29). Dessa forma, podemos dizer que somente com a preparação da comunidade escolar será possível a transformação do sistema de ensino, seja ele público ou particular, garantindo o aprimoramento da qualidade de nossa educação e conseqüentemente a satisfação também dos educadores que tanto almejam o reconhecimento do valor de sua profissão. Para que haja sucesso no processo de ensino-aprendizagem é imprescindível um clima favorável a isso, ou seja, é muito importante que os condutores primeiros desse processo estejam motivados e bem conscientes de sua função. Não basta apenas que o educador tenha o conhecimento das disciplinas que leciona, mas principalmente que esteja motivado a socializá-la. Assim, será capaz de motivar seus estudantes a apreender novos conceitos e então aprender realmente. Como fazer, então, para que a comunidade escolar esteja motivada, sendo que, segundo muitos estudiosos, a motivação está no interior de cada um? Em primeiro lugar, as pessoas precisam confiar em si mesmas e na equipe da qual fazem parte para poder se comprometer com ela e com os objetivos estabelecidos. Ao se iniciar um processo de motivação é possível que as pessoas apenas reclamem, mas com disponibilidade e atenção por parte da equipe coordenadora, a tendência é que as reclamações sejam substituídas por sugestões de melhoria. Dessa maneira, se o clima não estiver ajudando no desenvolvimento das potencialidades da comunidade escolar, será urgente que se desencadeie a formação de equipes participativas, capazes de superar os resultados pouco 26 significativos do ponto de vista do sucesso. Importante nesse processo é a presença de um gestor capaz de “influenciar positivamente os grupos e de inspirá-los a se unirem em ações comuns coordenadas” (Ibidem, 2002, p. 35), ou seja, que valorize e utilize a participação, a delegação de poder, a comunicação e não tenha receio de assumir riscos. Embora queiramos que a mudança brote de baixo para cima, concordamos que uma boa liderança é primordial na mobilização da participação da comunidade escolar e aperfeiçoamento da qualidade educacional de uma instituição. Assim, é preciso que o líder também assuma uma postura participativa e seja capaz de incentivar o comprometimento de todos. Conforme LÜCK et al (2002, p. 39) “o estilo ótimo de administração em ambientes escolares é aquele que combina a preocupação com a produção e a preocupação com as pessoas”. Nesse caso, o líder (ou líderes) não pode assumir uma postura individualista, mas transformar idéias individuais em coletivas continuamente, apoiando as ações, enfatizando os objetivos estabelecidos, facilitando o trabalho e a interação do grupo. O líder participativo, então, deve envolver a comunidade escolar compartilhando sua liderança (delegando poderes) a fim de transformar as propostas em ações concretas. Para tanto, como já dissemos, é necessário um clima de confiança que dê condições para o sucesso da escola, que procede, principalmente, de uma comunicação clara e eficaz entre líderes e liderados, o que contribui muito no reconhecimento das diversas competências existentes na escola e seu aprimoramento. Assim, manter a mobilização de interesses e esforços da comunidade escolar é muito útil na criação de equipes comprometidas com a construção e a determinação de uma visão de conjunto. 27 Para uma gestão democrática e participativa eficaz, o diretor deve entender de motivação humana e ser capaz de aplicar seus princípios mais básicos. Teoricamente, a motivação acontece de três modos: individualmente, em pequenos grupos e numa organização como um todo. Particularmente, pensamos que a motivação individual é a grande geradora da motivação geral e, portanto, do sucesso da instituição. No entanto, se em uma organização, no nosso caso educacional, os indivíduos não estiverem satisfeitos com seus salários, suas relações e seus instrumentos de trabalho, certamente, seus níveis de motivação estarão em baixa. Quando as escolas querem atingir um alto grau de motivação e comprometimento devem fugir dos modelos de gestão baseados no poder vertical e adotar o modelo participativo (horizontal) onde os profissionais tenham oportunidades de ajudar na construção das metas da escola, porque assim estarão revelando suas próprias capacidades e se adequando aos objetivos específicos da mesma, sempre coletivamente. “A motivação é a parte central de um ambiente de trabalho com qualidade” (Ibidem, p. 49) sem a qual os professores não podem ensinar efetivamente, os estudantes não podem aprender e nem as escolas podem ser realmente de boa qualidade. Dessa forma, percebemos que com ações participativas, todos têm a ganhar e o grupo passa a comprometer-se muito mais com os resultados, que passam a ser visíveis a todos. É claro que para isso é preciso uma equipe, pedagogicamente falando, bem preparada e qualificada. Sendo assim, uma liderança participativa só obterá êxito se sua equipe estiver preparada e for capacitada e experiente o suficiente para poder efetivar o planejamento participativo e colocá-lo em prática. 28 Desde a promulgação da LDB/ 1996, cada escola tem que elaborar sua própria proposta pedagógica. Com isso a escola adquiriu mais autonomia. Embora seja difícil construir uma proposta pedagógica de sucesso, é imprescindível que juntos, diretores, pais, estudantes e funcionários em geral sintam essa necessidade. Nesse sentido, o que se busca, por meio da gestão democrática da educação, é elaborar uma proposta que atenda aos anseios da sociedade e às necessidades de aprendizagem de todos os envolvidos no processo educacional. Inicialmente, é preciso aprender a trabalhar juntos no intuito de conhecer as idéias de todos. Toda a comunidade escolar deve ser incentivada a participar das reuniões e a decidir sobre os rumos da escola, conhecer seus projetos e opinar sobre eles; os professores, por sua vez, devem interar-se de todos os “desejos de seus estudantes e pais” a fim de poder incorporar as sugestões às suas práticas e tornar o dia-a-dia escolar mais significativo. Conforme GENTILE (2004, p. 49), os passos para a elaboração são básicos para todas as escolas, sendo que a própria LDB dá as diretrizes gerais para isso. Assim, o primeiro passo é a própria elaboração da proposta que conta com algumas etapas. São elas: Diagnóstico da comunidade: entrevistas e reuniões com toda a comunidade escolar; Sensibilização do grupo: todos devem ficar a par da importância da iniciativa; Reuniões: “os resultados dessa etapa são levados para a grande reunião e o que for consenso vai para a proposta pedagógica” (p. 49); Definição de objetivos: que devem ser claros e bem definidos, estabelecendo-se, inclusive, prazos para sua efetivação; 29 Divulgação: “todos na escola precisam estar cientes dos termos desse grande acordo coletivo. [...] O importante é que as informações e as propostas circulem, sejam debatidas, utilizadas, criticadas e modificadas” (p. 49). Depois, a revisão será sempre necessária, mas é muito comum que a cada ano a revisão seja feita. Vemos em NETO (apud GENTILE, 2004, p. 49) que: existem quatro perguntas que toda proposta deve contemplar: Quem somos? (perfil da comunidade e do aluno) Onde queremos chegar? (objetivos – tipo de ser humano e de sociedade que a escola quer ajudar a formar; metas de aprendizagem, dentro dos parâmetros da LDB) Como chegar a esses objetivos? (princípios – desde a forma de tratar os alunos até os critérios para avaliar e para selecionar conteúdos, atividades e estratégias de ação) O que fazer? (projetos e ações para atingir as metas). Podemos perceber que é preciso trabalhar arduamente para se conseguir construir uma boa proposta pedagógica e garantir que ela saia do papel. O planejamento participativo e a gestão democrática fazem com que a comunidade escolar esteja sempre aberta às modificações e implementações necessárias. De acordo com MANDELLI (2002) alguns pressupostos são imprescindíveis à efetivação do planejamento participativo e, conseqüentemente, da gestão democrática da educação: A Educação é um ato político, sendo que tem em si o poder da transformação. Visão crítica: a compreensão da realidade social, política, cultural e econômica é essencial para a busca de sua transformação. O envolvimento de todos os membros da comunidade escolar. 30 A disposição de correr riscos, pois “quem se envolve no Planejamento Participativo necessita estar ciente da possibilidade de conflitos, choques, questionamentos [...]” (Ibidem, p. 24). Aval da mantenedora. Infra-estrutura adequada, ou seja, recursos humanos, físicos, ambientais e econômicos suficientes. A partir dos pressupostos citados, cabe a cada instituição escolar, juntamente com seus agentes internos e externos, buscar a implementação de sua própria proposta pedagógica, considerando que só a ação coletiva a tornará possível, tanto na teoria quanto na prática. 31 2 A VIVÊNCIA DO PLANEJAMENTO A partir dos dados obtidos por meio do questionário (anexo) aplicado aos professores e professoras da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, a quem denominamos neste trabalho de “P”, apresentamos a seguir a análise dos mesmos, bem como um paralelo em relação às teorias citadas nesta monografia. Estamos vivendo em uma época bem complexa no que diz respeito, principalmente, aos valores humanos. Em função das grandes desigualdades sociais, a violência vem tomando conta e o ter, infelizmente, está sendo bem mais valorizado que o ser. A partir da realidade descrita, questionamos sobre a organização da sociedade atual nos aspectos social, econômico, político e cultural e percebemos que a maioria dos educadores entende que nossa sociedade está organizada conforme os princípios do capitalismo, onde os aspectos materiais são mais valorizados que os próprios valores ditos morais. Passamos a relatar as representações de cada professor sobre os questionamentos: P2. “Uma sociedade capitalista que vem passando por mudanças em todos os aspectos”. P3. “A sociedade atualmente está mais preocupada com os aspectos econômicos e político, porque é através deles que se consegue bens materiais, fartura, conforto, etc. Os aspectos social e cultural ficam pra trás, pois as pessoas estão um pouco individualistas e não investem na cultura pessoal e social. 32 P4. “Nosso contexto social está caracterizado por classes diferenciadas, onde poucos obtém poder e a grande maioria são pessoas que lutam, sendo trabalhadores assalariados”. P5. “Nossa sociedade caracteriza-se pelo capitalismo, onde uma minoria detém o poder às custas da exploração de uma maioria que necessita do trabalho para sobreviver. Portanto, uma sociedade de classes”. P8. “Vivemos em uma sociedade capitalista que está organizada em classes sociais, de acordo com o poder aquisitivo de cada família. Quanto à política, a divisão é partidarista (...). Culturalmente, a sociedade brasileira possui traços marcantes da cultura européia, criando assim novas identidades”. P10. “Acredito que nossa sociedade socialmente é livre, economicamente é [...] capitalista, politicamente democrática e culturalmente globalizada”. P11. “A nossa sociedade atualmente está inserida no contexto econômico e político, deixando de lado alguns valores como a sua própria cultura”. P13. ”A sociedade atualmente é [...] tecnológica, sendo que vivemos no mundo de informações. Aqueles que não adquirirem essas informações e não usá-las como conhecimentos vão ficar fora desse contexto. [...].” O educador P9, diz que “[...] a característica mais marcante de nossa sociedade é a desigualdade, que reflete uma estrutura desumana e cruel”. Nesse caso, entendemos que falta realmente resgatar valores como a amizade e a solidariedade para recriarmos o bem comum nos espaços de convivência como a família, a escola, o trabalho, entre outros. Dois dos educadores entrevistados, apresentaram uma opinião diferenciada, sendo que o P1 afirmou que “A sociedade está tendo a oportunidade 33 de vivenciar um novo paradigma no setor educacional. Lutamos coletivamente em busca de transformação, respeitando as diferentes diversidades”. Nossa sociedade, como aponta-nos Gandin (1994) precisa de uma boa educação para progredir e conforme o P6, nela a escola é vista como uma válvula de escape para muitos pais, que acham que a escola é assistencialista e que tem que dar um jeito naquilo que em casa eles não conseguem mais. Mas esse não é o papel da escola. A escola tem como função despertar no educando o desejo de aprender, que ele sinta a importância da escola para sua formação enquanto ser social que é. E essa função, sabemos, só será garantida se toda a comunidade escolar agir coletivamente exigindo uma “educação orientada para [...] a formação para a cidadania e [...] para o desenvolvimento” (GADOTTI,2000, p. 48). Ao analisarmos nossa situação social e falando em valores, não pudemos deixar de questionar quais os princípios e valores que norteiam a nossa sociedade. Assim, os professores manifestaram suas opiniões conforme descrição abaixo: P3. “Ganância, corrupção, individualidade, falsidade, injustiças sociais, violência contra todos, principalmente com crianças e idosos”. P6. “Com prioridade estão os valores econômicos, que comandam a sociedade visando a competitividade, o individualismo e o consumismo, ficando de lado os valores e princípios básicos como amizade, família, etc.”. P7. “A mídia tem grande influência sobre a grande maioria da população. Ao invés de conceber o homem como um ser crítico, ativo, construtor de sua própria história e da sociedade em que vive, concebe-se o homem como um ser passivo e individualista”. 34 P12. “Os princípios de nossa sociedade estão fundamentados em um neohumanismo, alicerçados em valores consumistas; o importante não é ser e sim ter”. P14.”(...) igreja, escola, família e comunidade; depois (...) política, cultura do povo, o princípio financeiro, entre outros”. P15. “Os valores mudaram muito nas últimas décadas, mas a princípio, todos desejam que os valores que formam o ser, independente da sua classe é que eles sejam os melhores para que o cidadão tenha caráter e como todos nós, queira um mundo melhor, ideal para o ser humano viver e constituir sua família”. Valores e princípios existem porque existem pessoas e muito deles são difundidos e afirmados nas escolas; para termos uma idéia do papel da escola, perguntamos como está a escola nesta sociedade e qual o seu papel. Os depoimentos são os seguintes: P1. “A escola, o ensino são grandes meios que o homem busca para poder realizar o seu projeto de vida. Portanto, cabe à escola e aos professores o dever de planejar a sua ação educativa para construir o seu bem viver”. P2. “A escola passa por mudanças e o seu papel não é só de formar um indivíduo científico, mas sim um cidadão crítico”. P5. “O papel da escola deveria ser o de formar sujeitos autônomos, críticos, capazes de tomar decisões, porém como vivemos numa sociedade capitalista, a escola também gera competição, concorrência, repasse de conhecimento”. P6. “A escola é vista como uma válvula de escape para muitos pais, que acham que a escola é assistencialista e que tem que dar um jeito naquilo que em casa eles não conseguem mais. Mas esse não é o papel da escola. A escola tem como função 35 despertar no educando o desejo de aprender, que ele sinta a importância da escola para sua formação enquanto ser social que é”. P8. “A escola como segunda casa tem papel fundamental para a sociedade e para o próprio indivíduo, pois possui a função da formação humana e científica”. P9. ”A escola tem que assumir o papel de formadora de cidadãos críticos e capacitados”. P11. “Perante a sociedade atual, a escola está (...) desempenhando vários papéis, inclusive educar os alunos. Seu verdadeiro papel é transmitir conhecimentos”. P12. “A escola hoje está comercial, seguindo uma ideologia burguesa e supostamente preparando o aluno para o mercado de trabalho”. Sendo assim, podemos dizer que a escola vem assumindo muitos papéis que não está preparada para desempenhar e segundo COLL (1999, p. 55) a educação escolar [...] é apenas uma, entre muitas outras, das práticas sociais que os grupos humanos utilizam para realizar essa tarefa de socialização e de incentivo do desenvolvimento pessoal de seus integrantes. Nesse enfoque, entendemos que é preciso redefinir as funções reais da escola, no sentido de não ser responsabilizada por todo o processo de educação, que se inicia na família e se prolonga vida afora, para sempre. Se ao contrário da sociedade que temos, com seus valores e princípios tão mesquinhos, desejamos ter uma sociedade diferente, como seria ela? Indagado sobre esse item, o P1 respondeu: “Uma sociedade igualitária, sem discriminações [...]”; P9. “Uma sociedade sustentável e consciente”. Nessa sociedade, as escolas passam a ser mais atuantes, tendo como um de seus atributos “lutar contra todas as formas de discriminação e seletividade [...]” (GADOTI, 2000, p. 49). Assim, é 36 imprescindível que todos queiram a mesma coisa, que lutem pelo mesmo ideal e sejam co-responsáveis pelas transformações almejadas. Os demais assim se manifestaram: P3. “Uma sociedade justa e fraterna”. P4. “Desejamos construir uma sociedade que acima de tudo respeite o ser humano com suas diferenças e limitações individuais e sociais, buscando uma sociedade justa e que o indivíduo tenha seus direitos reconhecidos”. P7. “Uma sociedade que descubra o valor da educação, do estudo, pois quanto melhor for a formação dos professores, melhores condições terão de proporcionar mudanças dentro da sociedade”. P13. “Uma sociedade justa e igualitária, no sentido de uma igualdade de direitos entre as pessoas, bem como uma devida valorização da qualidade de vida e bemestar comum para todas as faixas etárias (...)”. P15. “Uma sociedade justa, sem corruptos e pessoas dignas de sua formação e do papel a cumprir”. Supomos que o desejo do grupo em buscar uma sociedade diferente, permeada por valores mais humanos, esteja relacionado à insatisfação com a atual sociedade, cujos valores mais enfáticos são de cunho material. Em relação a isso, a ação da escola é limitada, pois a aquisição de valores é fruto de vivências familiares, principalmente. Mais do que nunca, é necessário aprimorar estas duas instituições (família e escola) para que em parceria e de forma compartilhada se trabalhe a educação e a formação da criança e do jovem. A partir da pergunta feita sobre a realidade social, questionamos qual o perfil de ser humano seria para ela ideal. As respostas foram bem parecidas: 37 “desejamos que o ser humano seja um cidadão consciente, crítico, responsável, solidário, criativo, dinâmico, reflexivo, que pense, proponha e atue na sociedade, que modifique a realidade atual visando sempre o bem comum” (P4); que seja, acima de tudo, “feliz” (P11). Passamos a relatar as opiniões dos outros professores: P3. “Bom caráter, boa índole, justo, amigo, solidário”. P6. “Desejamos um ser mais humano e menos preconceituoso, que respeite os outros e que seja um cidadão consciente de seus direitos e principalmente de seus deveres”. P8. “Um ser humano crítico e solidário, que possua diploma e que saiba gerenciar a si no meio da sociedade”. P9. ”Interessado, curioso, crítico, ativo e sensível”. P10. “Um ser em equilíbrio com seu habitat (...)”. Ao perguntarmos que finalidade deve ter as escolas, percebemos que ela deve ser bem definida e, por meio da reflexão, freqüentemente, redefinida. A escola precisa assumir seu papel de formadora de opinião e de espaço fundamental ao resgate dos valores e produção de conhecimentos e descobertas. Os educadores assim se posicionaram: P1.”Que as escolas assumam seu lugar na sociedade como espaço de reflexão”. P2. “Que as escolas sejam a segunda casa para nossos filhos; que a escola não transmita só conhecimentos científicos, mas humanos também”. 38 P4. “Queremos que a escola esteja voltada para a realidade buscando alternativas visando a sua transformação, onde alunos, professores e pais tenham o direito de sugerir e criticar”. P7. “A escola deve realizar um trabalho que permita ao aluno elaborar seu próprio conhecimento, que seja um ambiente de transformação, onde toda a comunidade escolar possa caminhar junta”. P9. “Fornecer a base científica, teórica e prática para inserir pessoas mais evoluídas na sociedade, visando melhorá-la a cada dia”. P10. ”Escolas que formem cidadãos críticos, conscientes de seu papel na sociedade”. P15. “Que ela seja a instituição de amparo ou base para que nossos alunos venham buscar saídas, respostas, para o que os aguarda e os prepare melhor para o futuro. O convívio e conhecimento escolar são alicerces para o formando que busca na escola a continuidade de sua aprendizagem”. Observa-se que os educadores têm clareza sobre a função social da escola na apropriação dos conhecimentos científicos que deverão ser utilizados pelo ser humano no exercício de sua cidadania. Suas preocupações traduzem o pensamento de SEVERINO (1994, p. 48) quando diz que o homem [...] é efetivamente cidadão, se pode efetivamente usufruir dos bens materiais necessários para a sustentação de sua experiência física, dos bens simbólicos necessários para a sustentação de sua existência subjetiva e dos bens políticos necessários para a sustentação de sua existência social. 39 Ser cidadão implica em envolver-se nas relações sociais e culturais de forma democrática, com igualdade de oportunidades. Contudo, a escola por si só não forma cidadãos, mas pode preparar, instrumentalizar e proporcionar condições para que seus estudantes possam se firmar e construir sua cidadania. Ao perguntarmos aos educadores que valores permeiam o currículo escolar, apuramos as seguintes afirmações: P6. “O currículo na questão dos conteúdos é imposto, pois os materiais usados já vêm prontos, elaborados (apostila), mais isso não impede que possamos incluir o que achamos necessário. As avaliações são feitas através de pesquisa, trabalhos, avaliações, participação ativa nas aulas. Quanto ao espaço físico está faltando ampliar o laboratório de informática e construir uma sala para a direção e um local onde os professores possam estar trabalhando em suas aulas extras”. P8. “Valores do comprometimento para com os conteúdos e metodologias, justiça e bom senso nas avaliações e responsabilidade”. P10. “A real situação sócio-econômica e a realidade de cada aluno”. P12. “Conteúdos: padrão de apostilas, pouco atualizado; metodologia: em processo de transformação, com foco no cliente; avaliação: também em processo de mudança; espaço pequeno”. Pelas respostas, concluímos que há uma variedade de elementos constituindo o currículo escolar. Isso nos levou a questionarmos sobre quais valores e princípios deveriam permear o currículo, sendo que a maioria das respostas expressou um consenso: o currículo até pode ter alguns conteúdos préestabelecidos, mas deve adequar-se à realidade dos estudantes e ser flexível, onde 40 a avaliação vise o crescimento, sendo “qualitativa e contínua” (P5). Nesse caso, de acordo com o P15, “o currículo deve conter os itens, mas é preciso salientar que o necessário é a formação do ser e para isso, escola, família e comunidade são elementos essenciais para complementar o currículo”. Concordamos e dizemos ainda que além de uma base comum nacional, o currículo pode conter muitos elementos no sentido de garantir uma formação integral aos estudantes. Para VASCONCELLOS (1999, p. 99) O currículo não pode ser pensado apenas como um rol de conteúdos a serem transmitidos para um sujeito passivo. Temos que levar em conta que as atitudes, as habilidades mentais, por exemplo, também fazem parte dele. Neste sentido, o currículo que nos interessa é aquele em que o educando tem a oportunidade de entrar no movimento do conceito. P3. “Nos conteúdos devem conter assuntos nos quais os alunos se identificam e que estejam dentro da realidade deles como família, natureza, escola, amizade, respeito, etc. Na metodologia de ensinar do professor deve existir humildade, pois ele tem que admitir que não sabe tudo e tentar aproveitar o máximo possível o tempo com os alunos para repassar o que sabe e também aprender com os alunos. O professor também deve valorizar a participação, o interesse e as responsabilidades dos alunos”. P7. ”O currículo deve ser flexível e ajustado conforme nossa realidade. Os conteúdos não devem ser vistos como fim; metodologias, avaliações, tempos e espaços escolares variam em cada professor, mas o aluno deverá ser avaliado em todos os sentidos e trabalhos executados”. P8. “Os valores de responsabilidade e comprometimento com os conteúdos e avaliações, também senso de justiça para com todos (...)”. 41 P10. “Conteúdos científicos e bem elaborados; metodologia contextualizada com a vivência do indivíduo; avaliação individual e em grupo; tempos e espaços escolares de acordo com as necessidades”. P13. “O currículo deve, além dos conteúdos propriamente ditos, ter métodos diversificados, atrativos e dinâmicos para que o aluno fique interessado não só numa disciplina, mas em todo o contexto escolar”. Um dos grandes desafios da gestão escolar participativa está ligado à forma de planejar adotada pela escola. Nessa linha de pensamento, ao questionarmos que tipo de planejamento a instituição adota, percebe-se que não é totalmente imposto e sem contextualização. Podemos confirmar isso pelo que nos afirma o P1: “É um planejamento dinâmico, que não se limita, mas que liberta, que conscientiza o aluno, oferecendo novos horizontes”. Outro educador, o P13, afirma que “apenas os professores e a direção estão presentes no planejamento”. Nesse caso, é preciso rever alguns conceitos e buscar na participação coletiva e efetiva a realização do planejamento escolar. E essa revisão, de acordo com VASCONCELLOS (1999) é uma boa oportunidade de reavaliar todo o fazer da escola, contribuindo para a humanização, desalienação e libertação tanto de educandos quanto educadores e demais pessoas da comunidade escolar. Analisando as respostas dos professores, podemos observar pontos de vista divergentes quanto ao tema: P2. “É elaborado pelos professores e a direção onde temos que cumprir com a nossa parte”. P4. “O planejamento é elaborado pelo professor com ajuda da diretora pedagógica e outros professores, seguindo os conteúdos das apostilas...” 42 P9. “Falta integração dos conteúdos”. P11. “Com as apostilas e a equipe”. P13. “Apenas os professores e direção estão presentes no planejamento”. P14. ”(...) Feito por áreas, entregue para a direção da escola”. P15. ”No início, os professores discutem e analisam, depois cada um desenvolve seu planejamento”. Entendemos que suas posições expressam um desejo de buscar uma forma de organizar o trabalho pedagógico de uma maneira diferente da que se desenvolve. Para se buscar aproximar a instituição da gestão democrática propriamente dita, precisamos de um tipo de planejamento também democrático e, acima de tudo, participativo, quando “todos possam participar em conjunto” (P2); “onde todos os envolvidos na educação possam dar uma contribuição para ter um planejamento de qualidade” (P6). Esse questionamento obteve respostas totalmente voltadas à gestão democrática, sendo que o P15 deseja um tipo de planejamento participativo “e em conjunto com todos que fazem parte da escola”. Outras respostas: P1. “Um planejamento que dimensione o processo educativo e reconstrutivo do aluno. Que esse planejamento vise planejar a ação educativa e que o aluno viva o presente e, ao mesmo tempo, se projete para o futuro”! P5. “O planejamento deve ser flexível e vir ao encontro dos reais interesses dos educandos”. 43 P6. “Desejamos um planejamento participativo, onde todos os envolvidos na educação possam dar sua contribuição para ter um planejamento de qualidade”. P8. “Que ele atenda as necessidades da escola, sendo justa para com todos e que cada membro tenha comprometimento para cumpri-lo e torná-lo real”. P9. “Direcionado para o melhor rendimento do aluno”. P11. “Flexível”. P12. “Conforme a realidade de cada sala de aula. Pode ser quinzenal, mensal ou bimestral, porém este deve ser feito através de um relatório”. P13. “Todos os funcionários devem participar desse planejamento, desde o diretor até o auxiliar de cozinha, (...) onde todos tenham oportunidade de expor suas idéias”. P14. “O planejamento deveria ser em grupos de estudos (...)” P15. “Que ele seja participativo e em conjunto com todos que fazem parte da escola”. O grupo de educadores dá pistas de como deve ocorrer o processo de planejamento na escola e seus desdobramentos. Entendemos serem muito positivas suas posições e seus desejos tentando mudar os paradigmas que sustentaram sua formação profissional, para os mais atuais, numa perspectiva progressista de educação. Os tempos são outros e as necessidades também. No enfoque de planejamento ideal, recorremos novamente a VASCONCELLOS (1999, p. 93) que nos fala da necessidade do planejamento participativo, uma vez que por meio dele ”o sujeito da reflexão é também o sujeito da 44 decisão, da ação e do usufruto. Ou seja, quem participa do processo de planejamento tem muito mais compromisso com sua execução e efetivação. Já finalizando nossos questionamentos, perguntamos como é a gestão administrativa em nossa escola. A grande maioria concordou, indicando a gestão como atuante, compromissada, competente e democrática, mas um educador, o P15, diz que “[...] é, na medida do possível, atuante e precisa, mas é necessário que o trabalho se faça de forma que todos participem nas decisões escolares”. Ou seja, ainda está faltando algo, pois quando alguém se sente fora do processo, é preciso voltar atrás e reconstruir... Demais respostas: P1. “Tem o compromisso de assumir um papel mediador, articulador, procurando estar sempre intimamente relacionada com o processo educativo, agindo com competência frente aos desafios que a escola apresenta”. P4. “A gestão administrativa em nossa escola muito competente, democrática, humana, visando sempre o melhor para o corpo discente e docente”. P7. “Excelente, pois a mesma é muito competente, humana, responsável, acatando sempre nossas opiniões; preocupada com os alunos e professores, etc.” P8. “É justa e bastante observadora, buscando sempre o melhor para o ambiente escolar”. P9. “Se encaminha para o ideal”. P10. “Pedagógica em harmonia e financeira em processo de mudanças”. P13. “A direção faz seu papel muito bem; são pessoas competentes, estão sempre presentes”. 45 As respostas ao último questionamento, relativo à gestão administrativa ideal, nos mostram que gestão ideal é aquela por nós teorizada desde o início: participativa e democrática. O P12 diz que é preciso uma gestão “que atenda as necessidades e ansiedade de pais, alunos, professores e funcionários”, bem como o P7 que afirma que “a gestão administrativa deverá ser clara e objetiva, democrática, para que possa realizar um bom trabalho coletivo”. Todos os educadores entrevistados concordam que a melhor forma de gerir uma instituição escolar é a forma democrática e participativa, admitindo que somente de forma organizada e coletiva é possível sucesso e êxito no processo educacional. As demais respostas seguem a mesma linha de pensamento. Vejamos: P1. “Que ela esteja inserida no processo educacional e comprometida na ação emancipadora da escola”. P2. “Que a gestão seja séria, atuante, que as coisas possam ser transparentes”. P3. “A gestão deve ser justa e não repassar a responsabilidade para um só grupo de pessoas e esquecer do resto...”. P4.”Desejamos que tenha em nossa escola a autonomia, participação e decisão compartilhada com todos os atores que convivem no espaço escolar; que tenha órgãos de apoio como APP e Conselho Deliberativo”. P5.”Que seja democrática, humana e competente, pois só assim conseguiremos dar um bom andamento no trabalho”. P6.”Desejamos que toda gestão administrativa dê oportunidades aos demais funcionários para que eles possam dar opiniões e realizar atividades com autonomia 46 e interesse, para que juntos possam fazer do grupo uma equipe em busca da vitória”. P8. “Que seja uma gestão séria, comprometida pelo crescimento da escola e que perceba as necessidades do meio escolar”. P9. “Atue com seriedade e defina o objetivo da escola: ensinar”. P10. “Administração organizada, coletiva, preocupando-se e agindo pra o bem-estar comum”. P13. “Presente, ativa e permanente (...)”. P15. “Atuante e transparente para que as coisas funcionem de forma clara e objetiva”. Nesse sentido, entendemos que somente a gestão democrática e participativa da educação poderá garantir a eficácia e a legitimidade do sistema escolar, uma vez que, segundo LÜCK (2002, p. 14) “o êxito de uma organização depende da ação construtiva conjunta de seus componentes, pelo trabalho associado, mediante reciprocidade que cria um “todo” orientado por uma vontade coletiva”. Vale ressaltar, então, que a construção de uma boa proposta pedagógica deve vir precedida de muitos questionamentos e reflexões por toda a comunidade escolar, pois uma estrutura não é mudada apenas pelo desejo de algumas pessoas, mas pelo envolvimento de todos nas ações necessárias às mudanças. 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluído este trabalho, vemos que muito há para ser feito, pois elaborar uma proposta pedagógica que motive os educadores da Educação Infantil e das Séries Iniciais do Ensino Fundamental implica, primeiramente, num desejo coletivo. Isso nos leva a supor que toda a comunidade escolar precisa adotar uma postura crítica diante da realidade que, por sua vez, precisa ser transformada num ambiente voltado à reflexão. A partir das teorias estudadas surgem diferentes práticas e novas idéias, sendo que estas alimentam novas práticas e assim sucessivamente. Nesse sentido, o processo de construção de uma proposta pedagógica nunca acaba e conta inicialmente com a prática do planejamento, que se define como a etapa mais importante de qualquer projeto, pois define objetivos, prioridades e estratégias para o que se deseja construir. Contudo, ficou-nos claro que outras etapas são necessárias à construção de uma boa proposta pedagógica. Essas ações giram em torno de ações coletivas orientadas para a autonomia da comunidade escolar, onde os objetivos são definidos com base na sensibilização e envolvimento do grupo. Para isso, são importantes as reuniões periódicas - difíceis de se organizar, mas indispensáveis - e o comprometimento da equipe. Nesses encontros, a equipe coordenadora deve buscar parcerias e fazer com que todos se sintam e sejam responsáveis pela efetivação da proposta. Assim, reflexiva e participativamente todos os elementos constituintes do ambiente escolar estarão conscientes de que o desafio de se mudar a realidade é 48 deles sim, sem pensar que a responsabilidade pelo sucesso da escola é só do diretor. Como vimos, pelas respostas dos educadores, a maioria deles sonha com um futuro melhor para si e os estudantes, mas muitos não têm consciência de seu papel na construção de uma sociedade mais justa e igualitária e nem se propõem a planejar conjuntamente para isso. Nesse caso, sabemos ser imprescindível a motivação, que está ligada ao esclarecimento das funções das diversas pessoas que formam a comunidade escolar e da importância de sua atuação para se conseguir um ambiente democrático, participativo e de fato de aprendizagem e desenvolvimento. Nenhuma escola cresce sem um bom entrosamento entre professores, direção, funcionários, pais e estudantes, ou seja, no ambiente escolar, não há mais espaço para as pessoas egoístas, que não trocam informações permanentemente entre si. Nesse caso, temos que ter uma perspectiva do todo e trabalhar para ampliar a participação coletiva. Todos precisam ser responsáveis pelos resultados, para isso, devem ter oportunidades de dizer o que almejam para si e para os outros e sendo a escola um espaço de todos, os desejos devem ser comuns. Por meio de nossa pesquisa, percebemos ainda que uma proposta que tenha como objetivo principal o desenvolvimento das potencialidades da comunidade escolar tem em sua base a reflexão contínua sobre suas necessidades e capacidades e de acordo com as teorias estudadas, é pelo planejamento participativo que se diagnosticam as necessidades; a partir daí, por meio de ações coletivas, deve-se buscar superá-las. Essa tarefa não é simples e não podemos nos deixar cair no voluntarismo, imaginando que tudo vai dar certo, que querer é poder... 49 A gestão democrática da educação é um eficiente instrumento para a construção de uma escola de qualidade e em seu processo de construção alguns indicadores são bem claros: a autonomia, a participação e a formação da cidadania. Assim, ela não tem um fim em si mesma, mas possui um objetivo estratégico que é a superação do autoritarismo, do individualismo e das desigualdades sociais e econômicas. Nos contextos educacionais onde as experiências com gestão democrática estão sendo vivenciadas, percebe-se a participação de todos os segmentos constitutivos da comunidade escolar na construção dos projetos políticopedagógicos bem como de suas propostas pedagógicas. Pelo fato de ser um processo, a gestão democrática da educação é constantemente acionada e a transformação dos conceitos vinculados à dinâmica social é inevitável, ou seja, é preciso sempre revê-lo para não cometer novamente o erro de por ser a última “moda” estar dita e pronto. Não basta desejar uma proposta pedagógica com base na participação e na democracia. É preciso torná-la possível. Para isso é urgente buscar o diálogo, a verdadeira vontade de mudar; o conhecimento teórico e prático das ações que contribuirão e muito para sua efetivação. Nesse sentido, percebemos que todos os segmentos das instituições educativas devem estar presentes nos projetos de planejamento e com muita certeza e convicção buscar a transformação. Em nosso caso, o processo está apenas começando, pois nosso desejo de mudar está claro e já sabemos que para termos sucesso precisamos lutar juntos, planejar coletivamente, incentivar e buscar a autonomia, enxergar o todo não esquecendo das partes, agir a partir da constatação das necessidades: por meio dessa prática podemos ter uma comunidade escolar potente, com capacidades, 50 competências e habilidades valorizadas. Nesse sentido, a construção de novas formas de relacionamento também é importante, uma vez que quem deseja mudar deve estar integrado ao grupo que pertence, buscando superar as dificuldades, tomando decisões conjuntamente, trabalhando para ampliar as concepções que permeiam o ambiente escolar como conhecimento, educação, escola, valores, sociedade, educador, estudante, etc. Analisando nossa vivência pedagógica, vemos que para ocorrerem mudanças, a prática escolar deve abrir espaço para algumas posturas: diálogo constante; reflexão teórica e prática; reconhecimento das fragilidades e potencialidades; participação coletiva; valorização de todos; integração dos segmentos e seus membros; avaliação permanente. Nós, que concebemos educação de qualidade como àquela que proporciona satisfação e prazer, que faz com que estudantes e educadores sejam capazes de aprender e ensinar o tempo todo, acreditamos que o processo de mudança não tem fim; assim a construção de uma proposta pedagógica deve ser constantemente revista e retomada. O estudo coletivo (entendido aqui como teórico e prático) de teorias que tratem da gestão da educação democrática e participativa jamais deve ser encerrado, pois a cada dia é preciso construir e reconstruir 51 conceitos, a fim de tornar o processo de aprendizagem vital à comunidade escolar e ter como conseqüência seu crescimento e desenvolvimento intelectual e físico. 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Marlene dos Santos; NUNES, Carla Alessandra da Silva. In Gestão Participativa – da Intenção à Ação. Gestão em Rede. Curitiba, p. 18-21, Out./ Nov. 1998. COLL, César. Educação, escola e comunidade; na busca de um novo compromisso. In: Coletânea de Textos: Capacitação para Gestores. UDESC. Florianópolis, 1999. FUSARI, José Cherchi. A Construção da Proposta Educacional e do Trabalho Coletivo na Unidade Escolar. In Coletânea de Textos: Capacitação para Gestores. UDESC. Florianópolis, 1999. GADOTTI, Moacir et al. Perspectivas Atuais da Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. 294 p. GANDIN, Danilo. A Prática do Planejamento Participativo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. GANDIN, Danilo; CRUZ, Carlos H. Planejamento na sala de aula. 4. ed. Porto Alegre, 2000, 112 p. GENTILE, Paola. Proposta Pedagógica: A escola com a cara da comunidade. In Nova Escola, São Paulo, n. 171, p. 44-9, 2004. KUENZER, Acácia Zeneida. As mudanças no mundo do trabalho e a educação: Novos desafios para a gestão. In: FERREIRA, Naura Syria Carapeto (org.) Gestão Democrática na Educação: Atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 1998. LÜCK, Heloisa et al. A Escola Participativa: O trabalho do gestor escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. 166 p. MANDELLI, Gisele Savi Freitas. Planejamento Participativo: limites e possibilidades. Criciúma, 2002. 63 p. Monografia (Especialização em Gestão Escolar) – Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, 2002. NETO, Roseli Jenoveva. Metodologia da Pesquisa (mimeo). Criciúma, 2003. SÁ, Maria Ivoni Pereira de; VALE, José Rosa de Abreu; SOUZA, Marcondes Rosa de. A responsabilidade do diretor na concretização das propostas educacionais do governo. In Gestão em Rede. Curitiba, p. 10-5, Mai./ Jun. 1999. SCHNECKEBERG, Marisa. Planejamento Participativo na Gestão Escolar: Diálogo, participação, cooperação, compromisso. In Gestão em Rede. Curitiba, p. 12-6, Mar. 1998. 53 SEVERINO, A. J. Escola: espaço e construção da cidadania. São Paulo: F.D.E., 1994. TORRES, Artemis. Compromisso com a Gestão Democrática precisa de fundamentos. In Gestão em Rede. Curitiba, p. 13-6, Set. 1998. VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Plano de Ensino-Aprendizagem e Projeto Educativo: Elementos metodológicos para a elaboração e realização. 5. ed. São Paulo: Libertad, 1999. VECCHIO, Myrian Regina Del; ITO, Glaci Gottardello. Comunicação na escola: encare este desafio. In Gestão em Rede. Curitiba, p. 08-11, Mar. 1998. 54 ANEXOS QUESTIONÁRIO APLICADO AOS EDUCADORES 1. Como a sociedade está organizada atualmente nos aspectos social, econômico, político e cultural? 2. Quais os princípios e valores que norteiam a nossa sociedade? 3. Como está a escola nesta sociedade? Qual o seu papel? 4. Que tipo de sociedade desejamos construir? 5. Qual o perfil de ser humano que desejamos nesta sociedade? 6. Que finalidade queremos para as escolas? 7. Que valores e princípios permeiam o currículo (conteúdos, metodologia, avaliação, tempos e espaços escolares) de nossa escola? 8. Que valores e princípios devem permear o currículo (conteúdos, metodologia, avaliação, tempos e espaços escolares) de nossa escola? 9. Como se realiza o planejamento em nossa escola? 10. Como desejamos que seja o planejamento em nossa escola? 11. Como é a gestão administrativa em nossa escola? 12. Como desejamos que seja a gestão administrativa em nossa escola? 55 SILVIA MARIA DA SILVA A CONSTRUÇÃO DE UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA BASEADA NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO Criciúma (SC), 2004.