AU TO RA L TO DI R EI UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ID O PE LA LE I PROJETO A VEZ DO MESTRE OT EG PSICOMOTRICIDADE COMO UNIDADE Por: Maria de Nazaré Arêdes Moutinho DO CU M EN TO PR PREVENTIVA NOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Orientador Profª Maria Esther de Araújo Brasília 2010 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE PSICOMOTRICIDADE COMO UNIDADE PREVENTIVA NOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicomotricidade. Por: Maria de Nazaré Arêdes Moutinho AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, a Deus. Ao meu irmão Bernardo, que sempre me apóia em meus estudos. À minha amiga Aparecida. Aos meus pais, marido e filhos pela dedicação e paciência que tiveram comigo. E a Profª Natália Pacheco que me orientou nos momentos de dúvida. Obrigado! DEDICATÓRIA Dedico à minha família e as pessoas que me ajudaram direta e indiretamente na realização deste trabalho RESUMO Esta monografia objetiva identificar quais aspectos psicomotores contribui para o desenvolvimento correto da leitura e da leitura. Sendo a educação psicomotora condição necessária para o processo intelectivo e de aprendizagem da criança, que os elementos básicos da psicomotricidade são utilizados com freqüência e são fundamentais neste processo. Deste modo, no capítulo 1, será relatada a evolução da noção de psicomotricidade, seus elementos básicos, como por exemplo, esquema corpora e lateralidade, o desenvolvimento psicomotor da criança e as principais dificuldades psicomotoras. No capítulo 2, será demonstrada a relação da escola, professor e aluno e o quanto é importante a intervenção psicomotora desde a mais tenra idade para prevenir os problemas da aprendizagem. Por fim, no capítulo 3 serão exemplificadas algumas atividades para serem utilizadas em sala de aula. METODOLOGIA Esta monografia, baseada em pesquisa bibliográfica, traz idéias e experiências de estudiosos da área de psicomotricidade e distúrbios de aprendizagem. Será mostrado através de Le Boulch, Freire, Meur, Guillarme, Costallat, Vayer, Gagné, Britta Holle, os benefícios da prática da educação psicomotora desde a mais tenra idade para prevenir distúrbios difíceis de corrigir quando já estruturados. Além destes atores da atualidade, será exposta a contribuição da psicologia com Piaget e Wallon e de autores dos primórdios da psicomotricidade, como Dr. Gesell, que permitiram aos educadores enfocar o desenvolvimento integral da criança, envolvendo não só os problemas do intelecto, mas também os motores. Jean Piaget enfatiza o papel da motricidade no desenvolvimento da inteligência. A obra de Henri Wallon igualmente assinala de uma maneira brilhante esta correspondência, mas frisa, além disso, a interação constante que, no decorrer do desenvolvimento da criança, liga a motricidade à afetividade. (GUILLARME, 1983) Para Gesell as primeiras evidências de um desenvolvimento mental normal não são mais que manifestações motoras. (COSTALLAT, 1983) Os autores Johnson, Myklebust (1983) e Garcia (1998), abordam, dentro de uma perspectiva psicopedagógica, as dificuldades de aprendizagem e o desafio de ensinar de um modo novo e premente, possibilitando à criança tornar-se um indivíduo sadio e integrado. E ainda Gagné (1980) nos relata a importância de assegurar ao processo da aprendizagem um bom planejamento das atividades. Por fim será apresentada algumas sugestões de atividades de Meur, Le Boulch e Picq & Vayer. SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................7 CAPÍTULO 1 - PSICOMOTRICIDADE 1.1- Evolução da noção de psicomotricidade................................9 1.2- Elementos básicos da psicomotricidade................................9 1.3- Desenvolvimento psicomotor..................................................22 1.4- Dificuldades psicomotoras.......................................................26 CAPÍTULO 2 – PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA 2.1- A escola, o professor e a criança...........................................39 2.2- Meios de expressão..................................................................42 CAPÍTULO 3 – ATIVIDADES 3.1- Sugestões de Meur...................................................................48 3.2- Sugestões de Le Boulch..........................................................51 3.3- Sugestões de Picq & Vayer......................................................53 CONCLUSÃO....................................................................................64 BIBLIOGRAFIA.................................................................................66 INTRODUÇÃO O tema central desta monografia é psicomotricidade como unidade preventiva nos distúrbios de aprendizagem. A questão central deste trabalho é entender como a psicomotricidade pode prevenir os distúrbios de aprendizagem da leitura e da escrita. Em primeiro lugar será apresentado um breve histórico a respeito da psicomotricidade e a importância dela para o desenvolvimento da criança. Será mostrado que a psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as atividades que desenvolve a motricidade da criança, visando ao conhecimento e ao domínio do seu próprio corpo. Por isso dizemos que a mesma é um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança. Num momento posterior, estudaremos a questão dos distúrbios de aprendizagem da leitura e da escrita e sua relação com as funções psicomotoras. Segundo estudiosos da área de psicomotricidade e aprendizagem, a estrutura da Educação Psicomotora é a base fundamental para o processo intelectivo e de aprendizagem da criança e quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, o fundo do problema, em grande parte, está no nível das bases do desenvolvimento psicomotor. Será discutido que durante o processo de aprendizagem, os elementos básicos da psicomotricidade são utilizados com freqüência; o desenvolvimento do esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal e pré- escrita são fundamentais na aprendizagem; um problema em um destes elementos irá prejudicar uma boa aprendizagem. E ainda quando ocorrem falhas no desenvolvimento motor poderá também ocorrer falhas na aquisição da linguagem verbal e escrita. Quando o desenvolvimento psicomotor da criança é mal constituído e estimulado, poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de letras, na ordenação de sílabas, no pensamento abstrato, na análise gramatical, dentre outras. Também será mostrado como a psicomotricidade oportuniza as crianças condições de desenvolver capacidades básicas, aumentando seu potencial motor, utilizando o movimento para atingir aquisições mais elaboradas, como as intelectuais e algumas sugestões de atividades lúdicas, apropriadas aos alunos da educação infantil. Por fim será relatada a importância da intervenção psicomotora nas escolas desde o ensino infantil, onde serão identificados quais aspectos psicomotores irão contribuir para o desenvolvimento correto da leitura e da escrita e assim prevenir os problemas de aprendizagem. CAPÍTULO 1 – PSICOMOTRICIDADE Neste capítulo trataremos de demonstrar a evolução da psicomotricidade, seus elementos básicos, o desenvolvimento psicomotor da criança e as principais dificuldades psicomotoras. 1.1 - EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DE PSICOMOTRICIDADE De acordo com Meur (1991) o estudo da psicomotricidade é recente; ainda no início deste século abordava-se o assunto apenas excepcionalmente. Afirmou-se pouco a pouco e evoluiu em diversos aspectos que voltam a se agrupar. Em uma primeira fase, a pesquisa teórica fixou-se, sobretudo no desenvolvimento motor da criança. Depois estudou a relação entre o atraso no desenvolvimento motor e o atraso intelectual da criança. Seguiram-se estudos sobre o desenvolvimento da habilidade manual e aptidões motoras em função da idade. Hoje em dia o estudo ultrapassa os problemas motores: pesquisa também ligações com a lateralidade, a estruturação espacial e a orientação temporal por um lado e, por outro, as dificuldades escolares de crianças de inteligência normal. Faz também com que se tome consciência das relações existentes entre o gesto e a afetividade, como no seguinte caso: uma criança segura de si caminha de forma muito diferente de uma criança tímida. 1.2 – ELEMENTOS BÁSICOS DA PSICOMOTRICIDADE 1.2.1- Enfoque de Meur & Staes A- Esquema corporal “O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança. É a representação relativamente global, científica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo”. (WALLON, cit. in Meur, 1991, p. 9) Segundo Meur & Staes (1991), quando a própria criança percebe-se e percebe os seres e as coisas que a cercam, em função de sua pessoa, sua personalidade se desenvolverá graças a uma progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo à sua volta. A criança se sentirá bem na medida em que seu corpo lhe obedece, em que o conhece bem, em que pode utilizá-lo não somente para movimentar-se, mas também agir. Exemplos: - Domínio corporal. Uma criança corre durante o recreio e choca-se constantemente contra seus companheiros. Em pouco tempo não se sentirá à vontade; não ousará mais correr por não dominar bem seu corpo - Conhecimento corporal. Uma criança quer passar por baixo de um banco, mas, esquecendo-se de dobrar as pernas, acaba batendo as nádegas contra o banco. A estruturação espaço-corporal fundamenta-se nas bases do esquema corporal sem o qual a criança, não se reconhecendo em si mesma, só muito dificilmente poderia apreender o espaço que a rodeia. Sendo assim, diz Meur &Staes (1991) é importante abordar a psicomotricidade através da constituição do esquema corporal antes da estruturação espacial ou temporal, podendo considerar como duas faces de um mesmo fenômeno: - o conhecimento de seu corpo, a unidade de suas diferentes partes e a possibilidade de agir; - a facilidade ou a dificuldade do ser em reconhecer-se, aceitar-se, responsabilizar-se por si. A.1- Etapas do desenvolvimento do esquema corporal § O corpo vivido Meur e Staes (1991) propõem nesta primeira etapa diversos exercícios motores apresentados em forma de jogos, objetivando levar à criança a dominar seus movimentos e a perceber seu corpo globalmente, constituindo um todo. Esses exercícios passam da atividade espontânea da criança, que utiliza em seus brinquedos, para uma atividade integrada respondendo a dados verbais como antes!... depois!... pule!..., a sensações como equilíbrio, parada..., a uma representação nítida com andar de quatro e de cócoras. § Conhecimento das partes do corpo Meur e Staes (1991) nos relatam que após a percepção global do corpo vem a etapa da tomada de consciência de cada segmento corporal. Esta se realiza de forma interna, sentindo cada parte do corpo e externa, vendo cada segmento em um espelho, em outra criança ou em uma figura. Convida-se a criança a situar todos os segmentos, um em relação ao outro, a fim de reunificar a imagem corporal; deve também conseguir apontar, nomear as diferentes partes do corpo e localizar uma percepção tátil. § Orientação espaço-corporal Em seguida, nos afirmam Meur & Staes (1991), a criança passa: - A um trabalho sensorial mais elaborado; e a associação dos componentes corporais aos diversos objetos da vida cotidiana; a um conhecimento mais analítico do espaço dos gestos, isto é, das diferentes posições que fazemos cada parte do corpo tomar. Esta fase baseia-se em tomadas de posições diversas e não em movimentos. Portanto dizem Meur & Staes (1991) devemos em cada exercício marcar um tempo de parada suficiente para que a criança sinta a posição. § Organização espaço- corporal Para Meur e Staes (1991) é a etapa em que a criança poderá exercitar todas suas possibilidades corporais. Onde ela conhece as partes do corpo, a disposição, as posições e vai movimentar-se: - Através de exercícios de coordenação, equilíbrio, inibição, destreza, chegando a um domínio corporal. - Prevendo e adaptando seus movimentos ao objetivo a ser alcançado, e expressando por intermédio de seu corpo uma ação, um sentimento, uma emoção. De acordo com Meur & Staes (1991) a criança será levada a descrever um movimento, a compreender as situações refletidas pelas atitudes e expressões das personagens, a exprimir-se através de desenho, em suma, a compreender o diálogo corporal. B- Lateralidade Para Meur & Staes (1991) é durante o crescimento que naturalmente se define uma dominância lateral na criança sendo mais forte mais ágil do lado direito ou do lado esquerdo. A lateralidade corresponde a dados neurológicos, mas também é influenciada por certos hábitos sociais. Meur & Staes (1991) apresentam o seguinte teste para descobrir a dominância lateral: B.1- A nível dos membros inferiores § Do ponto de vista da força: - pede-se à criança que percorra um trajeto com um pé, depois com o outro; o lado escolhido para o primeiro trajeto é muitas vezes o lado dominante, mas a observação dos pulos revelará maior facilidade de um lado; - é esse lado que determina a dominância; convida-se a criança a chutar uma bola após uma corrida de dois a três metros: o pé escolhido para o chute é o dominante; § Do ponto de vista da precisão: - fazer com que leve, com um pé, uma bola ou uma lata até determinado lugar; - fazer com que desenhe no chão, com um pé: um círculo, um quadrado, um triângulo. B.2- A nível dos membros superiores: Pede-se à criança que faça diversos gestos do dia-a-dia e observa-se qual a mão utilizada. É evidente que o material apresentado à criança não deve influir na escolha da mão. § Do ponto de vista da força: - lançar uma bola no jogo de “acerte o alvo”. - bater um prego; - abrir uma lata de conserva (a mão dominante segurará o abridor); - levantar uma cadeira. § Do ponto de vista da precisão: - com uma mão lançar uma bola em um cesto; - distanciar um elástico com o polegar e o indicador; - pregar um alfinete em um mural; - pentear-se; - recortar papel com tesoura. B.3- A nível dos olhos: - por meio do visor de uma máquina fotográfica; - por meio do caleidoscópio; - fazendo apontar: mostra-se um ponto preciso de um cartaz e pede-se à criança que o indique com o dedo, estendendo o braço; - fazendo olhar pelo buraco da fechadura. Ao realizar este teste de Meur & Staes (1991) pode-se observar: - uma lateralidade homogênea: a criança é destra ou canhota do olho, da mão e do pé; - uma lateralidade cruzada: a criança é, por exemplo, destra da mão e do olho, canhota do pé; - uma ambidestreza: a criança é tão forte e destra do lado esquerdo quanto do lado direito. Segundo Meur & Staes (1991) a lateralidade é importante na evolução da criança, pois influi na idéia que a criança tem de si mesma, na formação de seu esquema corporal, na percepção da simetria de seu corpo; e contribui para determinar a estruturação espacial: percebendo o eixo de seu corpo, a criança percebe também seu meio ambiente em relação a esse eixo, como por exemplo, “o banco está do lado da mão que desenha”. Os autores aconselham a não empregar os termos “esquerda”, e “direita” sem que a lateralidade esteja bem definida”. Meur & Staes (1991) advertem que não devemos confundir lateralidade (dominância de um lado em relação ao outro a nível da força e da precisão) e conhecimento “esquerda-direita” (domínio dos termos “esquerda” e direita”). E afirmam: “O conhecimento “esquerda-direita” decorre da noção de dominância lateral. É a generalização da percepção do eixo corporal, a tudo que cerca a criança; esse conhecimento será mais facilmente apreendida quanto mais acentuada e homogênea for a lateralidade da criança. Com efeito, se a criança percebe que trabalha naturalmente “com aquela mão”, guardará sem dificuldade que “aquela mão” é a esquerda ou a direita. Caso haja hesitação na escolha da mão, a noção de “esquerda-direita” não poderá firmar-se com segurança. Da mesma forma, em caso de lateralidade cruzada, a criança confundirá facilmente os termos “esquerda” e “direita”, por ser ora mais forte do lado direito como, por exemplo, o pé, ora mais forte do lado esquerdo como por exemplo a mão.” (MEUR & STAES, 1991, p. 12 e 13) O conhecimento “esquerda-direita” faz parte da estruturação espacial por referir-se à situação dos seres e das coisas, mas está de tal forma vinculado à noção de dominância lateral que coloca-se essa aprendizagem imediatamente após a da lateralidade relatam Meur & Staes. Ainda de acordo com Meur & Staes (1991) o conhecimento estável da esquerda e da direita só é possível aos cinco ou seis anos e a reversibilidade , ou seja, a possibilidade de reconhecer a mão direita ou a mão esquerda de uma pessoa à sua frente não pode ser abordada antes dos seis anos a seis anos e meio. C- Estruturação espacial “É a orientação, a estruturação do mundo exterior referindo-se primeiro ao eu referencial, depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento”. (J.M. TASSET, cit. in Meir & Staes, 1991, p.13) Meur & Staes (1991) nos lembram que o esquema corporal é a tomada de consciência, pela criança, de possibilidades motoras e de suas possibilidades de agir e expressar-se. Enquanto que a estruturação espacial segundo os autores é a tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em um meio ambiente, isto é, do lugar e da orientação que pode ter em relação às pessoas e às coisas; a tomada de consciência da situação das coisas entre si e a possibilidade, para o sujeito, de organizar-se perante o mundo que o cerca, de organizar as coisas entre si, de colocá-las em um lugar, de movimentá-las. A todo instante, descrevem Meur & Staes (1991), a criança encontra-se em um espaço bem preciso onde lhe é solicitado: - que se situe, por exemplo, está sentada em uma cadeira, diante de uma mesa; - que situe os objetos um em relação ao outro, por exemplo, a vasilha de tinta encontra-se ao lado de sua folha, o pincel está dentro da vasilha de tinta; - que se organize de acordo com o espaço de que dispõe, como por exemplo, a criança desenha espontaneamente um sol no canto superior da folha, uma casa no meio e uma árvore à direita da casa. Deste modo a estruturação espacial segundo Meur & Staes (1991) é parte integrante de nossa vida; aliás, é difícil dissociar os três elementos fundamentais da psicomotricidade: corpo – espaço – tempo, e quando se opera com toda essa dissociação, limitasse a um aspecto bem preciso e restrito da realidade. Entretanto, Meur & Staes aconselham a tratar desses aspectos separadamente, mas que nossa abordagem sobre a criança deve considerar o conjunto. Portanto, diz Meur & Staes (1991), quando queremos que a criança adquira uma noção espacial, não podemos deixar de levar em conta sua emotividade diante do educador e das outras crianças, o tempo de que dispõe, seu próprio ritmo, suas possibilidades e seus conhecimentos corporais. C.1- Etapas da estruturação espacial § Conhecimento das noções: Meur & Staes (1991) nos sugerem os seguintes comandos: Pede-se à criança que se desloque em seu “espaço” habitual: “Vá para o seu quarto... Leve este papel para a mesa de seu professor (a)”. Solicita-se-lhe que se situe ou situe objetos. Avaliamos e melhoramos seus conhecimentos de termos espaciais. A criança deverá perceber as diversas formas, grandezas, quantidades: - escolhendo o material; -dispondo esse material segundo determinadas progressões de grandezas § Orientação espacial Quando a criança domina os diversos termos espaciais, Meur & Staes (1991) nos recomenda a ensinar à criança a orientar-se, isto é: - poder virar-se, ir para frente, para trás, para a direita, para a esquerda, para o alto. - poder ficar em fila. Não se trata mais de apenas estar “ao lado da cadeira”, mas de estar “ao lado da cadeira e virado para frente”. Por último Meur & Staes afirmam, nesta etapa a criança: - aprende a orientar os objetos: deverá colar um triângulo adesivo no alto da folha, ficando a ponta do triângulo virada pra a direita; - deve perceber, nas discriminações visuais, o que se encontra orientado na mesma direção; - deve adquirir direção gráfica; deve situar um objeto segundo a colocação ordinal. E ainda os autores referem se a esta etapa como sendo muito importante nas aprendizagens escolares. § Organização espacial De acordo com Meur & Staes (1991) organizar é combinar, dispor para funcionar. Então, durante esta etapa, os autores sugerem combinar diversas situações, várias orientações e ensinar as linhas oblíquas. Indicam às crianças dispor os objetos para ocupar um espaço delimitado, como por exemplo, uma folha, o quadro, para atingir um objetivo como os labirintos e jogos de trajetos. E ainda fazer com que a criança escolha seus próprios pontos de referência e os coloque segundo diversas orientações, para encontrar a solução, como por exemplo: - guiando outra criança que se faz de “cega”; - em um jogo de loto; - em um conjunto de formas para compor uma silhueta; - em um exercício de simetria (tamanho e disposição dos desenhos) Essa terceira etapa engloba as duas primeiras e permite à criança dispor somente do espaço oferecido, como por exemplo: a criança põe uma figura humana diante da casa; orienta essa figura para o lado direito da casa; Por fim, cria um povoado e faz com que sua figura percorra todo um trajeto, por exemplo: jamais passando duas vezes diante da mesma casa. § Compreensão das relações espaciais Esta etapa, segundo Meur & Staes (1991), difere bastante das três etapas anteriores. Com efeito, baseia-se unicamente no raciocínio a partir de situações especiais bem precisas. A criança deverá perceber a relação existente entre diversos elementos que lhe são apresentados. Por exemplo: em um exercício de progressão de grandezas de diferentes círculos, deve imaginar os elementos que faltam para que a progressão seja harmoniosa e completa. Para consegui-lo a criança deve primeiro compreender que “o que é o mesmo” é a figura redonda, “o que muda” é a grandeza, portanto que falta uma figura redonda de determinada grandeza. D- Orientação temporal Meuer & Staus (1991) definem a estruturação temporal como sendo a capacidade de situar-se em função: Da sucessão dos acontecimentos: antes, após, durante; Da duração dos intervalos: - noções de tempo longo, de tempo curto (uma hora, um minuto); - noções de ritmo regular, de ritmo irregular (aceleração, freada); - noções de cadência rápida, de cadência lenta (diferença entre a corrida e o andar); Da renovação cíclica de certos períodos: os dias da semana, os meses, as estações; Do caráter irreversível do tempo: “já passou... não se pode mais revivêlo”, “você tem cinco anos... vai indo para os seus seis anos... quatro anos, já passaram! noção de envelhecimento (plantas, pessoas). Segundo Meur & Staes (1991) a criança vive no tempo: acha que determinado jogo terminou depressa, enquanto uma espera ou uma sesta durou muito tempo. E ainda, a criança também vive uma série de atividades, mas deve chegar aos quatro ou cinco anos para situá-las segundo a ordem “antes depois”. Percebe-se muito nitidamente na maneira como a criancinha conta uma história, misturando os acontecimentos. Só, paulatinamente, consegue estruturá-las segundo a ordem cronológica. É por isto que, desde os quatro anos, a criança pode ser exercitada pra perceber o tempo imediato: - “Peguei um papel... depois, desenhei”. - O educador esconde dois objetos... “Qual deles escondi primeiro?” Meur & Staes (1991) definem dois tipos de tempo: - O tempo subjetivo: é aquele criado por nossa própria impressão; varia conforme as pessoas e a atividade do momento como por exemplo, o momento de prazer passa mais depressa do que o momento de aborrecimento. - O tempo objetivo: é o tempo matemático, sempre idêntico; uma hora dura sempre sessenta minutos. Portanto, afirmam Meur & Staes (1991), tenta-se desenvolver na criança a noção de tempo objetivo a partir de pontos de referência, tais como: - hora das refeições; - dias de atividades especiais como feriado de quarta-feira à tarde, banho de sábado. - atividades próprias das estações como ficar de traje de banho e nadar no mar. Para Meur & Staes (1991) poder orientar-se no tempo é importante na vida cotidiana, pois a maioria de nossas atividades é regulada pelo tempo objetivo: entra-se na escola às 9 horas; o recreio começa às 10 e meia; almoça-se ao meio-dia; e quando a criança tiver adquirido algumas noções de duração e de rapidez, poderá organizar-se. Os autores nos citam os seguintes exemplos: - Caso demore em levantar-se, ou seja, muito tempo para lavar-se, não terá mais tempo para tomar o café da manhã antes de ir à escola; - se conversar na sala de aula, enquanto os outros fazem a lição, não terá terminado a sua e deverá fazê-la durante o recreio. Ainda de acordo com Meur & Staes (1991) a criança poderá também dispor de mais tempo para lazer caso reflita sobre a ordem em que deve desenvolver suas atividades. Como por exemplo, comprar pão, passar na farmácia e terminar suas lições antes de brincar. Por que não fazer suas compras na volta da escola, passando primeiro pela farmácia perto da escola, depois pela padaria situada a duas ruas da sua casa? Assim, evitará um trajeto desnecessário e ganhará tempo para brincar. D.1- Etapas de orientação temporal a- Ordem e sucessão Para a criança, trata-se de perceber e memorizar: - o que se passa antes, depois, agora... - em que ordem os gestos foram feitos: “Primeiro você pegou a garrafa, depois o lápis e por fim o papel”; - o que foi feito primeiro, por último. Para Meur & Staes (1991) ela poderá classificar também imagens segundo uma ordem lógica ou cronológica. b- Duração dos intervalos A criança deverá perceber o que passa depressa, o que dura muito tempo, as noções de tempo decorrido, a diferença entre uma hora e um dia. b.1- Renovação cíclica de certos períodos: Para Meur & Staes (1991) são os dias (manhã, tarde, noite), as semanas, as estações, aos quais associamos determinadas atividades ou um material como, por exemplo, uma lâmpada associada à noite, a natação associada à quarta-feira, uma echarpe associada ao frio. Durante esta etapa será introduzida a questão “quando?”. b.2- Ritmo De acordo com Meur & Staes (1991) o ritmo abrange a noção de ordem, de sucessão, de duração, de alternância. Os autores nos alertam para a importância de ajudar a criança a expressar-se segundo seu ritmo espontâneo em exercícios de deslocamentos livres sob os acordes de uma música e gradualmente a levar a acompanhar com mais precisão o ritmo dado como acompanhar uma marcha militar, reproduzir estruturas rítmicas batendo mãos, pés. Em seguida os ritmos escritos, nesta etapa, onde a criança perceberá a estrutura do ritmo que lhe é solicitado, por exemplo, 00 00 00, e reproduzirá várias vezes essa mesma estrutura. E- Pré - escrita Segundo Meur & Staes (1991) o domínio do gesto, a estruturação espacial e a orientação temporal são os três fundamentos da escrita. Com efeito, a escrita supõe: - uma direção gráfica: escrevemos horizontalmente da esquerda para a direita; - as noções de em cima e embaixo (n e u), de esquerda e direita (37 e não), de obliquas e curvas (g); - a noção de antes e de depois, sem o que a criança não inicia seu gesto no lugar correto. Portanto, para os autores, os exercícios de pré-escrita e de grafismo são necessários para a aprendizagem das letras e dos números onde sua finalidade é fazer com que a criança atinja o domínio do gesto e do instrumento, a percepção e a compreensão da imagem a reproduzir. Esses exercícios dividem-se em: - exercícios puramente motores; - exercícios de “grafismo”: exercícios preparatórios para a escrita na lousa e no papel. Entretanto, relatam Meur & Staes (1991) estes exercícios não devem reprimir o trabalho espontâneo de expressão gráfica da criança; esta cria seu próprio desenho que lhe possibilita a expressão de sua visão do mundo, a passagem do sonho à realidade, conformação ou não aos ensinamentos recebidos. Ainda segundo Meur & Staes (1991), esses exercícios constituirão igualmente uma aprendizagem real da manipulação do lápis. 1.3 – DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR 1.3.1 – Enfoque de Le Boulch. De acordo com Le Boulch (1991) dos 15 meses aos 3 anos, os interesses da criança estavam voltados para o mundo exterior. A atividade de exploração expressava-se por uma forma de vigilância difusa em estado de expressão e na medida em que o meio ajuda a criança a afirmar-se como unidade afetiva e expressiva, favorece o equilíbrio entre o espontâneo e o controlado, sua motricidade global coordenada e rítmica traduz o bom desenvolvimento de sua função de ajustamento. Esta “primeira estabilização afetivo-sensório-motora é o trampolim indispensável sem o qual a estruturação espaço-temporal não pode efetuarse”. (ROGER MUCHIELLI, cit. in Le Boulch, 1991, p.85). “As primeiras urgências estando resolvidas no plano práxico (prático) devem aperfeiçoar-se e servir de suporte às atividades intencionais para dar cada vez mais à atividade de representação mental.” (LE BOULCH, 1990, p.85) Dos 3 aos 6 anos é um período transitório tanto na estruturação espaçotemporal quanto na estruturação do esquema corporal onde o jogo da função de ajustamento continua global e desenvolve-se em dois planos: Por um lado, está submetido a uma intencionalidade práxica (prática) que permite à criança resolver os problemas motores e, por outro lado, a expressão do corpo traduz as experiências emocionais e afetivas conscientes e inconscientes. 1.3.2 – Enfoque de Britta Holle. Na opinião de Britta Holle (1990), o desenvolvimento motor da criança corresponde ao desenvolvimento do seu sistema nervoso central. Para a autora existem quatro etapas: 1) Movimentos reflexos (não controlados pelo cérebro). 2) Movimentos simétricos (com controle cerebral apenas começando), por exemplo, movimentos similares de ambos os braços. 3) Movimentos voluntários, motivados, diferenciados, por exemplo, pegar um objeto a sua frente. 4) Movimentos automáticos; movimentos habituais tais com caminhar, por exemplo, finalmente se tornando automáticos. Ainda de acordo com Britta Holle (1990) 1) Movimento giratório da cabeça: A partir do três meses. 2) Posição sentada: Quando o equilíbrio da cabeça se acha estabelecido, o equilíbrio corporal também começa a desenvolver-se por volta do 6-7 meses. 3) Engatinhar: Geralmente está pronta para engatinhar sobre as mãos e os pés por volta dos 10 meses. 4) Ficar de pé, caminhar e correr: todo o processo leva cerca de três anos, a partir do dia em que ela dá o primeiro passo até que possa caminhar adequadamente equilibrada, com rotação de coluna, boa articulação do pé, balanço natural dos braços e nenhuma regressão à marcha na ponta dos pés. 1.3.4 – Enfoque de Costallat. À semelhança de Brita Holle, Costallat (1983) nos afirma que a conduta do bebê muda notavelmente à medida que o sistema nervoso se desenvolve. E ainda, a criança ao firmar a cabeça permite-se a fixação do olhar e consequentemente o desenvolvimento progressivo da atenção, que se encontra intimamente desenvolvimento das vinculado à capacidade formas de atenção, de fixação dispositivo ocular. O psicomotor importantíssimo na evolução de qualquer tipo de aprendizagem, se baseia no progressivo controle da posição dos olhos, da cabeça e da correta coordenação do sistema motor ocular. “O controle primário óculo-cefálico é adquirido na idade de dezesseis semanas” (GESSEL, cit. Costallat, 1983, p. 16) Ainda segundo Costallat (1983) a partir deste momento vai se desenvolver a tonicidade dos músculos cervicais que permitirão a ereção da cabeça; a maturação continua com a musculatura dos braços e músculos do tronco, que farão com que aos seis meses a criança sente. E como conseqüência de seu maior interesse, desperta seu desejo de pegar, apoiado na progressiva maturação neuromotora. Aos sete meses, a criança transfere e volta a transferir de uma mão para outra um objeto; aos dez meses a criança será unidestra, preparando sua futura tendência, direita ou esquerda. Ao mesmo tempo em que se realiza esta evolução na aproximação e no comportamento manual, se produz uma transformação no ato preensor em si. Aos doze meses, as disposições posturais que começam a aperfeiçoarse com a marcha, a percepção visual e cinestésica (conjunto de sensações pelas quais se percebem os movimentos musculares) que vão Integrando a memória motora com as inumeráveis experiências diárias, a atenção mais seletiva e o desenvolvimento da linguagem que permite uma maior e melhor integração sócio-familiar dão como resultado uma conduta harmoniosa mais independente do pequeno ser. No período um – dois anos, começa a etapa do exercício diário, por meio do qual a criança consegue a fixação e mais tarde a mecanização de movimentos recentemente aprendidos: a marcha e a exercitação manual. Em relação à linguagem aparecem a articulação de palavras e frases e a inibição necessária para controlar a bexiga e o reto. A partir dos três anos aumenta a precisão nos gestos, os movimentos tanto de caráter manual como corporal, se equilibram, as associações vão sendo eliminadas gradativamente. Nesta idade é capaz de empreender alguns atos de coordenação bimanual, como calçar os sapatos; existe ainda uma falta de destreza e harmonia para execução dessas ações, porém, já esboça a futura precisão que adquirirá com o tempo nos movimentos habituais de comer e vestir, que se irão mecanizando pela repetição diária. É o período de aprendizagem prévia a todo o movimento mecanizado e nele a coordenação viso motora implícita nestes movimentos, se estabelece cada vez com maior exatidão. Aos quatro anos começa a etapa pré-escolar; é, na realidade, um período de maturação intelectual e motora, no qual se afirmam as funções de ambos os tipos esboçados nos três primeiros anos. A esta altura a atividade motriz voluntária se desenvolveu, deixando para trás a impulsividade excessiva dos movimentos iniciais. Dos quatro aos seis anos, a coordenação motor-ocular progride o suficiente, permitindo o início de tarefas que implicam intenso dinamismo manual, como por exemplo, manejar tesouras, lápis de cor, vestir-se e despirse sozinha, abotoar e desabotoar roupa, abri-la e fechá-la. A etapa de cinco- sete anos é ascendente para a normalização no ritmo regular, chegando ao final dos sete anos à precisão geral dos movimentos efetuados, já dentro do ritmo normal. Costallat (1983) termina o desenvolvimento psicomotor resumindo esta primeira etapa, do nascimento aos sete anos, como característica principal o progressivo domínio da atividade motriz voluntária, que se torna cada vez mais preciso e correto, ocorrendo a evolução geral dos movimentos e no que se refere à atividade motriz geral. Encontram-se bem diferenciados, o primeiro ano de vida como escalão básico aquisitivos de funções. O período de três - sete anos de aperfeiçoamento psicomotor integral com duas etapas: - Quatro-seis anos, de etapa maturativa pré-escolar; - Seis-sete anos, de iniciação escolar Cada uma com as suas características claras que precedem e fundamentam as aquisições posteriores. Quanto à precisão, Costallat (1983) verifica que possui uma etapa inicial, a qual é acompanhada de lentidão natural (um – cinco anos), que denominamos etapa de precisão lenta e que, em virtude do exercício, passa no período seguinte (cinco-sete anos) a realizar-se gradativamente, com ritmo normal de movimentos. 1.4- DIFICULDADES PSICOMOTORAS: 1.4.1- INAPTIDÃO Segundo Guillarme (1983) a noção de inaptidão é bastante ambígua. Evocam certo tipo de relação com os objetos, gestos muito bruscos ou muito lentos, condutas motoras mal organizadas, uma sucessão desordenada de movimentos, enfim uma atitude desajeitada, irritante para o ambiente. H.Wallon (GUILLARME, 1983, p.46) relata que a inaptidão não pode ser reduzida a um simples quadro motor. Ela engloba dimensões afetivas e relacionais centradas de um lado nas subjetividades dos protagonistas e seu humor, e por outro lado nas consequências pessoais das limitações impostas ao indivíduo por seu ambiente social quando ele põe em prática a conduta incriminada. “O desajeitamento da criança frequentemente é difuso, tênue, ocasional e relativamente sem importância. Às vezes, pode revelar-se intenso, tenaz e maciço. Insere-se então num quadro clínico que afeta todas as realizações motoras, e que J. Berges isolou sob o nome de dispraxia”. (GUILLARME, 1983, p.46) 1.4.2- DISPRAXIA Guillarme (1983) descreve a dispraxia da criança como sendo um quadro psicológico e neurológico complexo associando uma incapacidade muito importante, perturbações da orientação e da organização espacial e, por fim, problemas do esquema corporal. Se o déficit motor e a inaptidão da criança “dispráxica” são sempre evidentes por ocasião do exame clínico, os déficits da organização espacial, ao contrário, são mais discretos. Estes últimos aparecem habitualmente durante os testes de eficiência intelectual realizados pela criança e, é claro, nas provas perceptivo-motoras. Segundo Guillarme (1991) a maioria das provas de inteligência utilizada hoje em dia permite distinguir entre eficiência intelectual verbal e eficiência intelectual não-verbal (provas consideradas de desempenho). É o que ocorre, notadamente, com o conjunto de escalas elaboradas por D. Weschler. Para a prova aplicável às crianças, culminam, por um lado, num quociente intelectual verbal (QIV), calculado a partir de cinco provas verbais: informação, compreensão, aritmética, semelhanças, vocabulário, e, por outro lado, um quociente intelectual de desempenho (QID), obtido a partir de cinco subtestes não-verbais: complementação de imagens, cubos, reunião de objetos, código. Guillarme (1983) relata que nos testes de Weschler, os indivíduos “dispráxicos” obtêm sempre nas provas verbais resultados nitidamente superiores aos resultados das provas não-verbais (QIV > QID). Por exemplo, não é raro obtermos um desvio de 20 a 25 pontos entre os dois “quocientes”, quando o desvio normal se situa entre 5 e 10-15 pontos no máximo. Guillarme (1983) explica que a diferença entre as duas escalas deve-se, por um lado, ao fato de que nas provas de desempenho, o indivíduo, para recompor o quebra-cabeça, completar o desenho ou reproduzir a figura geométrica, tem que, não só manipular as peças, mas também avaliar a possibilidade de organizar os diferentes elementos, uns em relação aos outros. Estas dificuldades de estabelecer uma relação dos elementos entre si enfatizam a existência de uma dificuldade de organização espacial. De acordo com Guillarme (1983) dentre as provas perceptivo-motoras a prova de Sticks é a primeira destas provas. Nesse teste o indivíduo deve reproduzir figuras geométricas com a ajuda de bastões. O auxílio destes bastõezinhos permite evitar que os resultados da prova sejam perturbados por uma dificuldade de realização motora e gráfica. Nem por isso a construção e a realização das figuras e a compreensão das relações que ligam os elementos entre si são facilitadas. A dificuldade reside na conformidade ao modelo espacial. Guillarme (1983) descreve ainda o teste de Lauretta Bender, que permite avaliar igualmente a qualidade da construção de figuras espaciais na criança. Hilda Santucci e Nadine Galifret-Granjon adaptaram esta prova, mantendo cinco dos modelos de L. Bender e propondo uma técnica precisa de avaliação. Para a criança em escola maternal, entre 4 (quatro) a 6 (seis) anos, H. Santucci elaborou ainda uma prova gráfica de organização perceptiva destinada a pesquisar especialmente “um eventual déficit da organização grafo - perceptiva”. A prova compreende nove figuras geométricas – dentre as quais quatro tomadas de empréstimo às escalas Binet-Simon e de Gesell. Colocam em jogo relações espaciais, cuja percepção e reprodução gráfica evoluem com a idade. Os resultados gerais evidenciam uma superioridade no domínio da organização perceptiva do espaço das meninas. Assinalam, ainda, as dificuldades específicas encontradas pelos indivíduos “dispráxicos”. 1.4.3- INSTABILIDADE PSICOMOTORA Guillarme (1983) considera a instabilidade psicomotora um problema frequente e muitas vezes banalizado, exceto em suas formas extremas, que sempre são mal toleradas e muitas vezes mal entendidas. Este problema, portanto, merece em todos os casos uma atenção especial, quer se trate do estudo clínico dos sintomas, da busca de seu significado ou da escolha de uma terapêutica adaptada. Segundo Guillarme (1983) o perfil do instável é o de uma criança “borboleteando”, agitada, inquieta, ativa, mas sem nenhum rendimento devido a uma tensão fugaz. É uma criança “cansativa” para o ambiente, que esgota rapidamente sua capacidade de controle e de contenção. E segundo Ajuriaguerra, “a criança apresenta uma atividade motora excessiva, incessante, incompreensível e sem finalidade. Sua eficiência, no decorrer de um trabalho prolongado, é enfraquecida pela ausência de concentração. Juntamente com Abramson, ele completa este quadro, acrescentando uma oscilação de humor entre uma alegria um pouco tensa e uma depressão de enfado”. (GUILLARME, 1983, p.67) Guillarme (1983) adverte que a instabilidade psicomotora é admissível numa criança pequena; aproximadamente até a idade de cinco anos, constitui, aliás, um fenômeno normal. Não representa verdadeiramente um problema, a não ser quando persiste além desta idade e em função de sua intensidade. E diz a instabilidade raramente é motivo de consulta antes da idade escolar, se revelando então, pela inadaptação do sujeito às exigências de controle de si mesmo e de estabilidade motora que são habitualmente colocadas pela escola. Na família, a instabilidade da criança está igualmente sujeita às condições de vida e de ambiente e é avaliada de forma diferente conforme tolerância psicológica do ambiente. Além do mais, a instabilidade pode ser provocada por exigências desproporcionadas para a idade da criança, onde será aumentada pela intransigência e por proibições fortes ou, ao contrário, atenuada por uma atitude reconfortadora e compreensiva. Ainda segundo Guillarme (1983) as crianças instáveis que apresentam um estado de tensão são relativamente pouco numerosas: são indivíduos hiperdescontrolados que não conseguem relaxar nem se contrair, e que “explodem” brutalmente. Estas crianças, habitualmente, sentem-se pouco à vontade no próprio corpo, já que este está sempre correndo o risco de traí-las e deixando parecer, intempestivamente, a agitação que eles receiam e que arrasa todas as suas boas “resoluções”, deixando, pois, que este receio, num certo sentido prospectivo, deixe os indivíduos inquietos. Nestes casos, relata Guillarme (1983) as repreensões têm um efeito especialmente negativo, aumentado as tensões internas do sujeito. A lembrança de confidências ansiosas de uma criança, dizendo ao examinador durante uma avaliação psicológica: “me dizem para fazer um esforço”, “mas como é que se pode fazer um esforço?”, ilustra muito bem a ansiedade que acompanha e aumenta frequentemente a instabilidade impulsiva. É mais comum, no entanto, explica Guillarme (1983) observarmos crianças instáveis que apresentam um descontrole emocional. Esses indivíduos são desleixados, hipotônicos, sua respiração é superficial, têm dificuldades para caminhar rapidamente, e sentem-se especialmente desconfortáveis e ansiosos. “Tudo se passa, conforme mostra Ph. Mazet, como se a hiperatividade fosse a única maneira da criança perceber seu corpo, assumi-lo, resgatá-lo, experimentando um sentimento de perda de energia e até mesmo de inexistência na ausência desta instabilidade.” (GUILLARME, 1983, p. 69) Evidenciando, nos mostra Guillarme que esta instabilidade tem a finalidade de assegurar-lhe alguma coisa (eu me mexo, logo existo). “A “síndrome hipercinética” aparece sobretudo nos sujeitos ansiosos. Descrita em 1845 por Hoffman, trata-se de uma síndrome clínica que associa manifestações psíquicas e motoras.” (GUILLARME, 1983, p. 69). De acordo com Guillarme (1983) compreende habitualmente uma hiperatividade e uma etiologia orgânica, onde os americanos sempre acreditaram que uma lesão explicaria este problema. No entanto, não existe nenhuma prova convincente que possa apoiar esta hipótese. Isto não impediu certos autores de evocar uma disfunção cerebral “mínimo” na raiz da síndrome hipercinética (MBD) = (minimal brain dysfuncion) Noção proposta em 1962 pelo grupo de estudos internacionais de Oxford. As pesquisas atuais descreve Guillarme (1983) orientam-se também para a bioquímica do cérebro. Aliás, a melhoria da instabilidade de certos sujeitos hipercinéticos por meio de medicamentos psicotônicos – especialmente as anfitaminas – é o único fato indiscutível. Mas restam muitas incógnitas, muitas pesquisas a serem feitas e inúmeras provas a reunir. Em resumo, a hipótese etiológica bioquímica ainda não foi provada. 1.4.4- IMATURIDADE De acordo com Guillarme (1983) a idéia da imaturidade frequentemente se associa à de instabilidade. É como se encontrássemos a explicação do comportamento motor da criança por analogia com o comportamento motor de uma criança menor. É claro que a idéia da imaturidade – pelo menos na sua acepção clínica – invoca a regressão ou a fixação em um determinado estágio do desenvolvimento. A noção de fixação, como a de regressão, refere-se habitualmente a uma concepção genética que recorre a uma progressão ordenada, conforme as fases sucessivas do desenvolvimento (fixação a uma fase). Ela pode também designar, no quadro da teoria freudiana do inconsciente “o tipo de inscrição de certos conteúdos representativos (experiências, fantasmas) que persistem no inconsciente de modo inalterado”. (GUILLARME, 1983, p. 72) 1.4.5- INIBIÇÃO Guillarme (1983) descreve a inibição psicomotora como um problema tão frequente na criança quanto à irritabilidade. No entanto, ela é ignorada com maior facilidade, devido, em um primeiro momento não atrapalhar. Aos poucos, no entanto, ela irrita e inquieta, sobretudo se é acompanhada de uma redução verbal, alterando, então, toda a comunicação pessoal da criança. O termo inibição, como lembra Freud, “refere-se especialmente à função e não significa necessariamente algo patológico; com efeito, podemos também chamar de inibição à limitação normal de uma função”. (GUILLERME, 1983, p. 82) Para Guillarme (1983) a inibição, mecanismo ativo de adaptação, só se torna patológica se houver um excesso. Razão pela qual a criança comportada demais raramente preocupa os que a cercam. Dócil e passiva descreve Guillarme (1983), eis uma criança satisfatória. Habitualmente, a inibição só é reconhecida se sua intensidade ultrapassa os limites de uma “timidez” de boa qualidade, ou se sua extensão ao funcionamento intelectual provoca um fracasso escolar alarmante, ou ainda e o contexto depressivo que a envolve torna-se aparente. A inibição inclui um aspecto motor que é o amortecimento de gesto, mais que ausência do gesto. Ela caracteriza-se corporalmente por esta moderação excessiva. Acompanha-se em geral de certa rigidez de atitude, a qual engendra às vezes câimbras funcionais no sujeito, que se torna hirtas (dura), ou até mesmo empedernidas (insensíveis). Um exame motor pode, em geral, revelar este estado “tensional” de fundo. Segundo Guillarme (1983) a inibição indica uma dificuldade particular de contato de intensidade variável, modificando-se de acordo com as circunstâncias como, por exemplo, fora do ambiente familiar, diante de estranhos. Se a inibição associa-se a um meio ou objeto particular, pode incluir um componente “fóbico” (medo). Uma vivência de mal estar, de ansiedade, ou até mesmo de angústia, acompanha-a habitualmente neste caso. Pode apresentar-se em qualquer um dos grandes setores da atividade psíquica. Aliás, a inibição intelectual é responsável por certo número de fracassos escolares devido a bloqueios. Estes nem sempre são bem reconhecidos pelos pedagogos. As próprias condições de trabalho em grupo fazem, efetivamente, com que os professores identifiquem melhor as formas de angústia exteriorizada em crises espetaculares ou em desamparo aparente, do que esta forma de angústia paralisante constituída pela inibição. Para J. De Ajuriaguerra (GUILLARME, 1983 p. 82) essa síndrome de inibição intelectual é quando a criança sofre por não poder realizar uma atividade intelectual muito desejada por ela, com resultados decepcionantes para ambos, tanto para a criança quanto para o sujeito que “tenta trabalhar”. A criança sente bloqueada diante da tarefa a realizar, “tenta em vão recomeçar, mas se sente impossibilitada e se vê como um réu ou como testemunha de sua ineficiência. Isto acarreta no momento de fazer a atividade um estado de tensão angustiante para a criança. Para Freud (GUILLARME, 1983, p.82), o mecanismo principal que origina a inibição é uma renúncia a uma função cujo exercício só poderia aumentar a angústia. Ele explica o mecanismo nestes termos: “O ego também renuncia a essas atividades para não entrar em conflito com o superego”. Para Guillarme (1983) a inibição nem sempre está isolada, pode estar associada a uma depressão despercebida pela criança. Junto a isso se juntam então a lentidão e a escassez de ações, chegando, às vezes, até a inércia total. Segundo Sandler e W. Joffe (GUILLARME, 1983, p. 83), considerando a gênese da depressão acreditam que é por uma simplificação abusiva que admitimos o retorno sobre si mesmo da agressividade através do mecanismo de identificação com o objeto odiado. Consideram que a resposta depressiva associa-se sempre, ou à inibição direta da agressão, ou à cólera contra o “eu atual”, que é odiado por ser insatisfatório. 1.4.6- ASTENIA Guillarme (1983) diz que enquanto a inibição denota uma rigidez excessiva, a astenia denota a falta de força que podemos observar nos estados de cansaço ou de lassidão. Essa fadiga é um sintoma constante. É resultado direto da tensão ligada aos conflitos e à luta contra os instintos sexuais ou agressivos. A astenia deve também ser distinguida do estado depressivo, o qual implica, além disso, a perda da auto-estima. Para Guillarme (1983) as características bem conhecidas da astenia neurótica permitem diferenciá-la facilmente de uma astenia simplesmente somática. A astenia neurótica, com efeito, tem o seu paroxismo na parte da manhã, e melhora durante o dia. Ela não some com o repouso, mas desaparece em certas atividades que distraem frequentemente intensas. Acompanha-se, enfim, de um vago sentimento de enfado e de ansiedade, e reage mal às medicações. A astenia não é muito frequente na criança. Seu aparecimento indica habitualmente um esgotamento da luta contra as pulsões. Reforça então a inibição do comportamento, reduzindo ainda mais a atividade do sujeito. 1.4.7- DISGRAFIA A disgrafia, no entender de Guillarme (1983), é um problema de comunicação e, portanto, de relação, que pode traduzir-se no plano gráfico por inúmeros e variados sintomas. A disgrafia da criança, na realidade, raramente está isolada de todo um contexto psicomotor. Quando se fala de disgrafia, refere-se a uma dificuldade que diz respeito à execução do grafismo, seja qual for a idade da criança, quer tenha cinco ou doze anos. Esta, no entanto, não é a opinião de J. De Ajuriaguerra (GUILLARME, 1983, p.199), que só se refere à disgrafia após o início do aprendizado da escrita, portanto, a partir do curso elementar. De acordo com Guillarme (1983) é possível descobrir, desde muito cedo, o que pode vir a ser mais tarde um problema importante de escrita. Assim, podemos considerar como sinais precursores da disgrafia certos casos de dificuldades grafomotoras em desenho no setor adiantado do maternal, certas inversões sistemáticas do sentido do traçado nas primeiras reproduções de sinais, ou ainda um controle exagerado do gesto gráfico. Para Guillarme (1983) certas dificuldades de execução gráfica não podem ser confundidas com uma disgrafia efetiva como, por exemplo, no caso de crianças pequenas, porém adiantadas, do jardim infanto-juvenil, que apresentam dificuldades transitórias superiores às de sua faixa etária, dificuldades tais como, a de parar um traçado, de levantar o lápis, domínio insuficiente do gesto. O mesmo é válido, para inúmeras crianças destras ou não, que ao serem solicitadas para mudar de mão, experimentam dificuldade passageira de adaptação, ou ainda para certas crianças com dificuldades ortográficas, cuja escrita, como as dos disgráficos, rasuram muito por pressões ligadas às hesitações ortográficas. As causas da disgrafia são inúmeras e diversificadas e frequentemente estão interligadas. Guillarme (1983) relata que os problemas motores e neuro-motores representam o grupo de dificuldades observadas com maior freqüência, portanto, é importante saber, que os segmentos implícitos na escrita são numerosos e a coordenação motora suscitada no ato de escrever é bastante complexa e que ainda sofrem variantes conforme a idade do indivíduo. Guillarme (1983) exemplifica: A criança pequena, antes dos cinco anos e até seis, sete anos, usa todo o braço, incluindo o ombro, participa da inscrição e da progressão; frequentemente, o tórax também acompanha o movimento, levado pelo braço. Por volta dos cinco anos, a mão e o antebraço permanecem oblíquos, há uma rotação do antebraço em torno do cotovelo e uma flexão do punho, ficando a mão em pronação e o punho apoiado na mesa; Aos sete anos, o punho fica apoiado e a mão permanece sob a linha; Aos oito anos de idade, o ombro da criança não participa mais, a inscrição se faz pelo movimento do antebraço e da mão e a progressão por deslocamento do cotovelo, quer paralelamente à linha da escrita, quer em leves ziguezagues. O papel começa a ser inclinado, e a mão fica sob a linha em ligeira extensão; A partir dos treze anos, o cotovelo se fixa, a progressão é contínua, a inscrição se faz por meio de uma ligeira vibração do braço e dos dedos. É praticamente o tipo de progressão e de inscrição do adulto, porém menos regular e menos controlado. De acordo com Guillarme (1983) o adulto busca a rapidez e economia; a evolução também ocorrerá em função desses fatores, bem como em função do treinamento. Não será a mesma no caso do burocrata e do trabalhador manual, que escreve pouco. Os fatores pessoais são então muito mais importantes do que os fatores neuro-fisiológicos. Portanto, diz Guillarme (1983), para escrever com rapidez, legível e sem cansar, a motricidade deve ser boa; o braço e a mão devem ficar livres para se mexerem; não devem estar bloqueados, nem crispados, nem rígidos ou dependentes um do outro. A inaptidão manual, especialmente a que afeta a motricidade digital fina e os problemas do tônus são, pois fatores importantes de disgrafia. A criança hipertônica (tônus alto) apertará o lápis até machucar os dedos, a mão, os braços e às vezes até mesmo o ombro ou as costas. Com frequência a criança não saberá dosar a energia necessária para interromper um traço numa determinada altura. A criança hipotônica (tônus baixo), ao contrário, terá problemas de direção do lápis. Terá tendência a escorregar sobre a folha de papel, e as letras serão disformes. Podemos, ainda, segundo Guillarme (1983) acrescentar os problemas de pressão, dificilmente dissociáveis dos problemas de tônus. A criança não sabe dosar a força com a qual deve apoiar o lápis para fazê-lo deslizar sobre o papel. As letras ora não imprimem a folha, ora são traçadas de várias espessuras, deixando marcas nas páginas seguintes. Para Guillarme (1983) as dificuldades perceptivas podem igualmente ser invocadas como explicação de certas disgrafias. Poderá tratar-se, então, ou de dificuldades de orientação e de estruturação espacial (uma forma mal apreendida não pode ser reproduzida corretamente), ou de dificuldades de organização temporal. Muitas vezes, com efeito, esquecemo-nos de que um bom conhecimento e uma perfeita apreensão das noções de ordem e de sucessão são necessários à transcrição de letras e, muito mais ainda, de palavras e frases. Há ainda os problemas psicológicos, segundo Guillarme (1983), que podem estar na origem de certas disgrafias. A disgrafia pode, de fato, traduzir um distúrbio relacional ou uma perturbação afetiva da mesma natureza que a instabilidade ou a inibição. “Escrever não é também entrar em relação com outra pessoa? Não é exprimir para o outro o que está em nós, e que não poderia ser sabido de outra forma, caso não o disséssemos ou escrevêssemos?” (GUILLARME, 1983, p.201) Portanto, a escrita, conclui Guillarme (1983) é um produto social; é regida por regras, leis arbitrárias, convenções. A disgrafia pode aparecer em certos casos como uma forma de recusa escolar, ou mesmo como uma espécie de recusa social. A escrita, com efeito, tornou-se um instrumento da sociedade após ter sido criada por ela, servindo para transmitir tradições. Basta lembrar a importância que o jurista ou o escrivão atribuem à letra manuscrita e à assinatura para nos convencermos disso. Para Guillarme (1983) a palavra, ainda que seja algo inerente ao homem, não tem a mesma credibilidade de uma assinatura. Um homem que fala bem é considerado, mas se não sabe escrever, seu prestígio diminui. Escrever representa, com efeito, uma dificuldade suplementar. Não basta formar letras, é preciso discipliná-las e traçá-las sobre o papel, rapidamente, a fim de traduzir à medida que se escreve, com a maior precisão possível, o pensamento que se elabora. A mão deve dobrar-se às exigências das palavras e das imagens, para fixá-las e partilhá-las com os outros. Neste sentido, a escrita não comporta aproximações. Sendo assim, diz Guillarme (1983), a recusa de comunicar do disgráfico insere-se numa forma de oposição social. Esta oposição fecha-o em si mesmo. Escreve, mas não para os outros. De alguma forma, ele bloqueia as portas de comunicação. Na escola, expõe Guillarme (1993), a disgrafia tem também uma repercussão de ordem psicológica importante. Em sala de aula, a criança disgráfica é constantemente desvalorizada devido à má qualidade de sua escrita. A criança sente-se mais ou menos culpada, mas culpada de quê? A criança escreve mal, sente dor no punho ou no braço e ainda por cima sofre críticas. Então, ela se empenha, se crispa, vê-se remetida à sua dor, vê sua escrita piorar e se crispa cada vez mais, a partir de então, uma reeducação torna-se justificável e necessária. CAPÍTULO 2 – PSICOMOTRICIDADE NA ESCOLA Neste capítulo será abordado a relação professor, aluno e os meios de expressão gráfica, verbal e corporal. 2.1- A ESCOLA, O PROFESSOR E A CRIANÇA 2.1.1- O Ambiente De acordo com Pierre Vayer (1989), para que a criança possa abordar o conhecimento do mundo, para que possa experimentar os objetos, mas também sua pessoa e sua autonomia é preciso que o adulto facilite essas relações no mundo. Para Pierre Vayer (1989) o que implica, além da relação educativa, a que se exprime nas diferentes apresentações, a realização de duas condições: - A criança deve ter períodos de vida autônoma na classe, assim como no quadro da vida (noção de tempos fortes e fracos na atividade da criança) - Ela deve ter ao seu alcance um universo que favoreça o exercício de si mesma e a exploração dos diferentes espaços. Este mundo à volta da criança adquire dois aspectos complementares: - O ambiente da classe com seu mobiliário e a organização dos diferentes espaços. - O conjunto dos objetos que deve estar á disposição da criança e do grupo das crianças. Pierre Vayer (1989) acrescenta: cabe, portanto, ao adulto empenhado na relação educativa compor, organizar o ambiente à volta da criança, de maneira que facilite efetivamente a autonomia da criança e sua relação com o mundo. 2.1.2- Relação professor – criança 1. Aplicação das técnicas Picq & Vayer (1985) concluíram em seus estudos que a aplicação das técnicas educativas psicomotoras comporta dois aspectos indissociáveis: conhecimento da criança e domínio das técnicas. O conhecimento da criança implica uma formação psicológica séria: psicologia infantil, conhecimento dos distúrbios do desenvolvimento, conhecimento dos métodos de avaliação utilizados no domínio da psicologia, enfim, psicopedagogia, ou seja, psicologia aplicada à educação e à reeducação. O domínio das técnicas adquire-se através do estudo e da prática e esta prática é inicialmente em si mesmo que é necessário realizar. Estas técnicas parecem simples e o são efetivamente; toda dificuldade está em aplicá-las com conhecimento de causa e coordenar sua aplicação a fim de realizar um ensino eficaz. De acordo com os autores a instrução é o intermediário entre o professor e o objeto, ou seja, a criança e a situação: - A demonstração é permitida, é um aspecto das instruções. É clara e precisa, mas não deve ser repetida pelo professor nem ser sistemática. A criança não deve imitar ou reproduzir e, sim, compreender e descobrir. - A ordem é lenta, bem articulada, bem separada e, entretanto, variada. Devendo fixar a atenção, mantendo a execução. - A criança escuta as ordens, repete e executa somente quando lhe é pedido que o faça. De acordo com Pierre Vayer (1989) se o exercício não foi bem sucedido o professor deve atribuir a falha não à criança, mas a si mesmo. Ele pode ter querido progredir muito depressa, queimar uma etapa, os exercícios que foram preparados na chegada provavelmente não estavam integrados. E ainda é um erro pedagógico querer obter tal e tal resultado a todo preço. Sempre é necessário saber esperar. 2.1.3-Segurança e motivação Segundo Picq & Vayer (1985), a segurança dada pelo professor à criança é reforçada pelo fato dela pertencer ao grupo; a criança não está sozinha; tem seus colegas diante, atrás, à direita e à esquerda. Sentindo-se em segurança, a criança é confiante, disponível, e com vontade de agir. Ao mesmo tempo em que faz parte do grupo, a criança considera o ensino como um trabalho entre ela e o professor. Toda a pedagogia consiste em conduzi-la a encontrar a solução sozinha, julgar a si mesma, a superar os obstáculos e a valorizar os sucessos. Sentindo-se concernida, é motivada, e o objeto de aquisição aparece-lhe como uma necessidade. Pierre Vayer (1989) define três espécies de fatores que intervêm para mobilizar os desejos da criança: 1. Fatores ligados à criança: - O prazer de agir: utilização da necessidade de ação para fins educativos. - O desejo da criança desajustada de resolver suas dificuldades. - O desejo de ser bem sucedida em relação às outras crianças. - O reforço dos desejos pela evidência dos primeiros resultados. 2. Fatores ligados à própria atividade: - Apresentações adaptadas ao nível e às necessidades da criança. - Variedade das situações sucessivas. - O sentimento de autonomia no interior do grupo, onde a criança deve sentir-se responsável por sua própria experiência. 3. Fatores ligados à personalidade do adulto: - Respeito à personalidade infantil. - Supressão das causas de fracasso e de juízo de valor sobre a ação da criança ou sobre os resultados de sua ação. - Criação de um meio que dê segurança e estímulo ao mesmo tempo sem coerção, sem sanções, atmosfera calma e descontraída. - Criação do diálogo, onde a criança é convidada a exprimir-se. Pierre Vayer (1989) em seus estudos constata que a maioria dos elementos que intervém para motivar a criança estão ligados à presença do adulto e com efeito é o adulto que: - Determina, sugere ou aceita as diferentes situações educativas. - Conscientiza a criança de suas dificuldades, sem a subestimar. - Cria o clima educativo. - Deixa de desejar estar no lugar da criança, isto é, que ele faça de modo que seja a criança que queira, e não ele próprio. 2.2- MEIOS DE EXPRESSÃO Segundo Pierre Vayer (1989), as comunicações com o mundo do outro se manifestam nos relacionamentos pessoais materializados, isto é, tornadas sensíveis ao outro, graças ao uso dos diferentes meios de expressão. Entretanto, os meios de comunicação, seja corporal, gráfica ou verbal, estão ligados ao corpo inteiro. 2.2.1- Expressão gráfica Pierre Vayer (1989) esclarece que a expressão gráfica é uma atividade natural da criança ligada de um lado ao conhecimento e ao uso de seu corpo, de outro lado ao conhecimento do mundo dos objetos e do mundo do outro. Portanto, para Pierre Vayer (1989) há três aspectos na expressão gráfica: 1. A atividade gráfica é o uso do corpo, do braço e da mão associado ao uso dos utensílios de escrita. 2. A representação gráfica ligada ao conhecimento. 3. A linguagem gráfica que é ao mesmo tempo projeção de si mesmo e meio de comunicação. Estudos de Pierre Vayer (1989) demonstram que a educação dos dois primeiros modos é interessante em si, pois é o embasamento das aprendizagens escolares futuras e apresenta ainda outro interesse: o de dar à criança os meios da criação autônoma. Com efeito, se a criatividade implica segurança e liberdade, ela tampouco pode exercer-se “no vazio”; é assim que a educação do braço e da mão, em função da expressão gráfica, permite chegar a este aspecto fundamental da expressão, primeiro reflexo da autonomia, que é a expressão livre e espontânea. § Educação visuomotora Pierre Vayer (1989) distingue três etapas na evolução da expressão da expressão gráfica na criança pequena: 1. Durante o segundo ano, em relação com as possibilidades de preensão dos utensílios, a criança realiza seus primeiros traços. Esta primeira etapa é essencialmente uma atividade motora e os traços realizados são rabiscos, não implicando em representação alguma. 2. Dos dois aos dois anos e meio, o controle visual começa a intervir e é associado progressivamente e de maneira cada vez mais fina ao controle cinestésico, ele próprio associado ao uso do braço e da mão. Os movimentos de rabiscar dão lugar então a combinações de formas e chega-se, diz L. Lurcat (VAYER, 1989, p.172) ao estabelecimento de um sistema de autodirecionamento do movimento de natureza visiomotoras. 3. Depois dos quatro - cinco anos, a coordenação visuomotora está perfeitamente estabelecida e o espaço gráfico integrado é o início da simbolização que levará a criança à escrita-leitura. É a educação e o aperfeiçoamento deste autodirecionamento visiomotor, que Vayer (1989) propõe realizar através das diferentes situações de exercícios: - do rabisco ao traço; - do borrão à forma; Para chegar: - à coordenação e a precisão do traço associados à afirmação da lateralidade e à organização perceptiva da esquerda para a direita. § A representação gráfica De acordo com Pierre Vayer (1989) para a criança pequena, como também para a criança mais velha, mas atrasada em seu desenvolvimento, tudo que pode ser expresso graficamente pelo borrão ou pelo traço, deve ser feito e a transcrição gráfica está associada a toda a educação da criança através de seu corpo – a educação psicomotora. E prolongando a ação corporal, o ato gráfico melhora a representação mental, dando-lhe um embasamento preciso. Ele permite à criança visualizar e memorizar as sensações, as noções, as aquisições. De acordo com Meur & Staes (1991) o que é necessário para a criança dominar o gesto da escrita é: Equilíbrio entre as forças musculares, flexibilidade e agilidade de cada articulação do membro superior. Portanto é indispensável fixar as bases motoras da escrita antes de ensinar a criança a dominar seu lápis. Com efeito, caso não se tenha atingido a motricidade, o desenho não corresponderá à expectativa da criança que se desinteressará dessa forma de expressão e até pedindo para outro desenhar para ela. Meur & Staes (1991) nos expõem o seguinte programa de exercícios motores: - mobilização do ombro, do pulso, de cada um dos dedos; - trabalho de plasticina; esta brincadeira, atraente para a criança, fortalece os músculos de cada dedo e desenvolve a destreza manual. Por meio de diferentes gestos em um plano vertical ou pelo menos inclinado, a criança aprende a segurar corretamente o giz e o lápis. Para que a criança adquira um traço regular, precisará trabalhar, com certa rapidez, sobre uma grande superfície colocada à sua altura. Para Meur & Staes (1991) a criança que não domina bem seu gesto será solicitada a trabalhar, sobretudo com o ombro e o cotovelo: fará então desenhos grandes. Somente mais tarde, quando os movimentos à altura do ombro e do cotovelo se tornar desenvolvidos, faremos diminuir as proporções dos desenhos, exigindo assim da criança um trabalho mais específico do punho e dos dedos. “É evidente que sempre faremos a criança trabalhar da esquerda para a direita.” (MEUR & STAES, 1991, p.18) Por fim Meur & Staes (1991) relata que quando adquirir o hábito de começar da esquerda e de ir para a direita, a criança poderá praticar exercícios mais variados, por exemplo: desenhar um quadrado sem levantar o lápis, portanto ir uma vez da esquerda para a direita e uma vez da direita para a esquerda. 2.2.2- A expressão verbal Pierre Vayer (1989) relata que se a atividade gráfica e sua utilização como meio de representação e de expressão é uma atividade individual, relativamente independente do mundo do outro, não acontece o mesmo para a linguagem que é essencialmente um “processo social, um começo de relacionamento com o outro, uma inserção numa sociedade” (P. CHAUCHARD, cit. in. Vayer, p. 176) E mesmo continuando a ser utilizada conjuntamente, a expressão gráfica é superada progressivamente no plano educativo pela expressão verbal, distinguindo-se ela própria da expressão corporal e cujas duas funções complementares também são de ser o suporte de pensamento como a linguagem interior e o meio da comunicação com o outro, como pó exemplo, expressão dos desejos e dos sentimentos Para Pierre Vayer a linguagem oral está profundamente enraizada no eu primitivo da criança como os gritos, choros, balbuciar, mas ela só se torna meio de expressão socializada no momento em que a criança adquire a língua das pessoas com quem convive. § Desenvolvimento sensoriomotor e linguagem Pierre Vayer (1989) considera a linguagem como o prolongamento da atividade motora: - A tagarelice da criança pequena é uma atividade sensoriomotora, é mesmo tão-somente um exercício motor, isto é, uma excitação da garganta e do ouvido. A relação que há entre a tagarelice e a linguagem é a mesma existente entre os rabiscos e a representação: - Nas primeiras incitações, nas primeiras mensagens, a criança responde com seu corpo inteiro, a primeira linguagem é uma linguagem total: a da expressão corporal, da mímica. - As primeiras reproduções verbais são elas próprias integradas em condutas mais complexas e globais que a palavra ainda não tem por si só o poder de significar. Portanto, conclui Pierre Vayer (1989) é apenas progressivamente que a palavra emerge da linguagem total e a expressão verbal introduz-se como uma superestrutura e torna-se um fenômeno de outra ordem e é assim que os psicólogos reconhecem certo número de etapas na constituição da linguagem: a) Um período pré-linguístico: balbuciar, e pré-tagarelice. b) Um período de compreensão e de resposta global: é um fenômeno fundamental da linguagem, a compreensão vem antes da utilização da palavra. c) Para chegar ao longo do terceiro ano ao “Eu”, que é o início da diferenciação do “EU” em relação ao mundo exterior. Pierre Vayer (1989) relata que a criança torna-se consciente de si mesma e a linguagem desenvolve-se a partir deste momento, de uma maneira intensiva: aumento rápido do vocabulário, passagem da palavra isolada para a frase, expressão verbal cada vez mais precisa para chegar ao período questionante de perguntas que se prolongam até 4-5 anos. Pierre Vayer (1989) tem mostrado que a aquisição do vocabulário está ligada a toda a educação psicomotora, ela pode ser igualmente favorecida por: - As atividades manuais ou ocupacionais, tais como o recorte, e colagem de imagens, a constituição do imaginário. - Os diferentes jogos que fazem intervir objetos ou representações de novos objetos. - A expressão corporal associada à expressão verbal que são as representações e os jogos mímicos. 2.2.3- Expressão corporal Segundo Pierre Vayer (1989) na criança pequena tudo é expressão corporal, todo o ser participa da ação e a criança reage com todo seu corpo às diversas situações propostas pela atividade educativa ou decorrente de sua própria atividade. Compreendem-se, entretanto, diz Vayer (1989), por expressão corporal ações imaginadas ou representadas tais como as representações ou dramatizações, as brincadeiras de roda, as cantigas com mímica. Todas essas atividades são interessantes, pois dirigem a criança, que, aliás, se presta a isso de boa vontade, a integrar-se no mundo das outras crianças. Pierre Vayer (1989) se detém em dois aspectos da expressão corporal: - O jogo - A atividade funcional intermediada pelo adulto. Le Boulch (1990) aconselha que o adulto deva evitar a escolha do jogo, já que se corre o risco de transformar o jogo inventivo em jogo imitativo. É o erro de certas atividades chamadas “de expressão musical”, onde o adulto, sob o pretexto de ajudar a criança, induz as “boas respostas”. CAPÍTULO 3 – ATIVIDADES Neste capítulo veremos exemplos de atividades psicomotoras para serem utilizadas na escola como meio de prevenir as dificuldades de aprendizagem. 3.1 – Sugestões de Meur Meur (1991) sugere os seguintes exercícios para as perturbações do grafismo: Exercícios de coordenação na vida cotidiana: - Executar dobraduras de papel. - Costurar cartões perfurados. - Enfiar miçangas. - Recortar. - Apontar um lápis. - Brincar de ioiô. - Vestir uma boneca. - Enrolar uma bola. Para exercícios de pré-escrita, Meur (1991) recomenda que se realize primeiro o trabalho em cada articulação: - Ombros, punhos e mãos. Para os ombros sugere o brinquedo conhecido como vai e vem: - Este jogo feito para duas crianças é constituído de uma espécie de bola oval atravessada por duas cordas que terminam em alças. - Trata-se de fazer com que essa bola se vá de uma criança para a outra; a primeira criança afasta os braços e a bola se aproxima da segunda; a primeira fecha os braços, a segunda deve abri-los; a bola se dirige para a primeira, e assim seguidamente. Para os punhos sugere que as crianças coloquem a mão horizontalmente na mesa. Pede-se que levantem a mão sem desencostar o punho da mesa. Este exercício pode ser feito através de jogos: as crianças cantam, marcando um ritmo com a mão na mesa. E para os dedos sugere que em um primeiro momento a criança coloque as mãos juntas, dedos estendido e depois dobre os dedos até cruzá-los. E ainda brincar de “bonequinho que anda” com o indicador e o médio, tocar piano na mesa ou enfiar os dedos em um saco cheio de grãos. Para o trabalho com plasticina (massinha), Meur (1991) sugere que se faça um boneco com apenas uma das mãos, com as duas mãos, com cuidado, para que ele fique harmonioso. Também sugere que se role uma bolinha de plasticina com a palma das mãos, execute as modelagens habituais: xícaras, animais, frutas. Aperte, fure e achate uma bola de plasticina. Para exercícios de grafismo, Meur (1991) indica o trabalho em plano vertical e horizontal. Em plano vertical nos sugere fazê-los na lousa ou em papel a ser pintado com caneta hidrocor ou pincéis e que serão executados em pé, diante da mesa. Ao traçar horizontais o movimento deve começar na altura dos olhos e terminar quando o braço estiver inteiramente estendido, sem movimento do tronco e dos pés. Ao traçar verticais a criança traça quatro ou cinco linhas sem mexer os pés; depois dá um passo para a direita e traça de novo quatro ou cinco verticais. E por fim traçar semicírculos, círculo, caracol, ondas, pontes, espirais. Exemplos: (p. 197) No trabalho em plano horizontal pouco a pouco, solicita-se às crianças que se sentem e trabalhem com o lápis. Mas, muitas vezes, o próprio ato de pegar no lápis é executado incorretamente. E adverte para corrigi-lo, as crianças devem adquirir força muscular e flexibilidade articular suficiente e cada criança deve ser corrigida individualmente para que possa perceber a posição exata de seus dedos. (p.200) Sugere exercícios em que a criança deve contornar um traçado previamente desenhado, exercícios em que a criança deve traçar um caminho entre duas linhas paralelas. E o desenho de uma casa: partir de 1, ir para 2, de dois para 3, de 3 para 4, de 4 para 1, de 1 para 5, de 5 para 4. (p. 201) 3.2 – Sugestões de Le Boulch Para os exercícios de coordenação fina da mão e dos dedos, Le Boulch (1990) sugere exercícios de destreza, apreciação de peso e de volume, jogos que facilitam a independência braço-punho e descoberta de consciência das diferentes partes do corpo. Para os exercícios de destreza: - Pegar e colocar objetos cada vez menores: bolas pequenas, bolas de bilhar grandes e pequenas, pérolas grandes. Tentar pegá-los, não só com o polegar-indicador, mas também com o polegar-médio. - Tirar papel que envolve a bala. - Repartir bolas com as crianças; atirar a bola no chão e a criança faz rebotar a bola com os dedos, ou rebotar a bola na parede e pegá-la de diferentes formas. Para os exercícios de apreciação de peso e de volumes: - Comparar as bolas de diferentes volumes, arranjá-las por ordem de tamanho crescente, de olhos abertos e fechados. E nos ensina chamar a atenção da criança em relação ao peso, fazendo com que a criança verbalize e levá-la progressivamente a compreender que o grande não é sempre o mais pesado. Nos trabalhos manuais: - Modelagem – pegar o material, descobrir as suas possibilidades afundando os dedos, esmagando a massa, achatando-a. Relata que estas diferentes manipulações educam a flexibilidade e a firmeza da mão, assim como a sensibilidade tátil. - Recorte – recortar formas geométricas, que tenham ângulos; recortar formas diversas como objetos, pessoas, animais. E diz o uso da tesoura desenvolve uma boa dissociação dos dedos e uma boa mobilidade do punho. Le Boulch (1990) sugere para os jogos que facilitam a independência braço-punho: - Jogos com lenços ou tiras de panos coloridos onde as crianças têm, em uma ou nas duas, lenços de cores vivas e descrevem formas variadas no espaço. E diz, estes jogos podem se fazer sem se deslocar ou deslocando-se, traçando a grande escala com os lenços todas as formas que mais tarde constituirão as letras. Podem ser feitos com música, treinando o aspecto rítmico fundamental da escrita. E para a descoberta e tomada de consciência da diferentes partes do corpo com verbalização sugere: - O jogo do elevador onde cada criança dispõe de um bambolê, assim como a professora; a professora explica aos alunos que o bambolê é o elevador e que ele vai subir e descer os andares do corpo: - Em primeiro lugar a criança imita a professora localizando os diferentes “andares” do corpo. Em seguida as crianças devem verbalizar o local onde ficou o bambolê. - Por fim, a partir do tronco, indicar às crianças que coloquem o bambolê para cima, para baixo, em cima, embaixo e verbalizar os diferentes lugares. 3.3- Sugestões de Picq & Vayer 1- Educação do esquema corporal Para conhecer o próprio corpo, Picq & Vayer (1985) sugere: – Frente ao espelho tocar, desenhar com o dedo o contorno do rosto, os olhos, o nariz; depois repetir com o giz no quadro-negro; progressivamente as observações são mais sutis, descobrem-se as sobrancelhas, os cílios, as duas narinas; acrescenta-se a comparação, a correção. - Consciência das sensações em frente ao espelho: contrair as mãos, soltar; contrair uma mão (D. E.), soltar, sem mexer a outra mão. - Para ter noções de direita, esquerda, frente, atrás, alto, baixo, o professor e criança ficam frente a frente, segurando cada um uma bola, sentados e depois de pé; o professor executa como modelo e fala: à direita, à esquerda, no alto, a criança copia e repete; o professor executa como modelo, a criança executa e fala sozinha. - Relaxamento global: na posição deitada, contrair as mãos, contrair os punhos, soltar as mãos, soltar os braços, sentir os dedos que se alongam os cotovelos que se apóiam. Prolongar a sensação de relaxamento por todo o corpo, soltar os pés, soltar as pernas, soltar os olhos. - Relaxamento segmentário: relaxar as pernas: deitado de costas, deslizar, soltar as duas pernas simultaneamente; deslizar. Soltar uma perna, depois outra. Depois realizar exercícios com os braços e exercícios combinados. 2- Educação da respiração Picq & Vayer (1989) sugere emissão de sons mantidos: O, UM, U (são expirações); falar alto, suavemente, suavemente e durante muito tempo, falar alto e cada vez mais baixo. Os mesmos exercícios com uma duração crescente representada em linhas no quadro-negro, onde o professor segue a linha com seu dedo e a criança fala. E aconselha acrescentar a educação com exercícios torácicos e diafragmáticos. 3- Equilíbrio geral Picq & Vayer (1989) nos exemplifica os seguintes exercícios: -Utilização do bastão colocado no chão: agarrar, rolar o bastão; apertar, soltar o bastão; erguer um pé, repousar. (p. 87) - Em pé, agarrando o bastão, deslocar-se lateralmente à D., à E; diante do espelho, e depois realizar os mesmos exercícios sem mexer as mãos. - Carregar objetos na cabeça como cilindros, paralelepípedos. - Andar sobre bancos e/ou paralelepípedos. 4- Coordenação dinâmica Picq & Vayer (1989) sugere andar sobre os paralelepípedos próximos com pequenos passos e andar sobre os paralelepípedos distanciados com passos grandes e que estes paralelepípedos estejam dispostos regularmente antes da aula. Depois distribuir os paralelepípedos irregularmente. No final o professor deve pedir que a criança verbalize as experiências. 5- Coordenação óculo-manual Picq & Vayer (1989) sugere para o trabalho de coordenação óculomanual exercícios de progressão e educação do olhar: - Exercícios de progressão – Três tipos de elementos contribuem simultaneamente para a progressão: o material como bolas e a trajetória; a distância como perto e longe. (p.109) - Educação do olhar – Seguir com os olhos o deslocamento da bola: iniciando com um balão de gás grande colorido. É bem leve, sobe e desce lentamente; a criança tem tempo para vê-lo chegar. Por outro lado, segurá-lo delicadamente melhora a preensão. Aconselha evitar que ele estoure na mão da criança. (p. 109) - Em seguida, utilizar bolas leves como as de plástico e depois bolas grandes. - Ver seguindo com os olhos o balão de gás, a bola leve caindo verticalmente (a). - Ver seguindo com os olhos a bola deslocando-se lateralmente (b). - Seguir com os olhos tocando a bola vindo lateralmente da D., da E. 6- Educação da percepção Para educar a percepção da cor, sons, volume, peso e formas Picq & Vayer (1989) sugerem: § Cor - Joguinhos com loto de cores e dominós pintados. - Juntar bolas de tal e tal cor no mesmo lugar; trazer duas bolas vermelhas com a mão D., uma bola azul com a mão E, por exemplo. § Sons - Reconhecer o barulho dos objetos familiares, como por exemplo, a queda de objetos conhecidos, bolas pesadas, bolinhas, bastões. § Volume - Tocar, acariciar com a mão duas bolinhas de volumes bem diferentes, olhá-las. Mostrar a grande, a pequena. - Do mesmo modo, comparar duas bolinhas de dimensões mais próximas. - Comparar diversas bolas. - Ordenar em ordem crescente e decrescente, pela dimensão, bolas e bolinhas. Picq & Vayer (1989) sugere que após todos os exercícios ocorra a verbalização da criança em relação aos objetos como, por exemplo, grandes e pequenas, maiores ou menores que. E em seguida deve ocorrer a transcrição gráfica e a comparação com o modelo. 7- Peso - Todos os exercícios de recebimento, de lançar, de malabarismos. - Exercícios com o balão de gás, como por exemplo, balão caindo verticalmente: pegá-lo com as duas mãos o mais delicadamente possível e balão caindo verticalmente: bater. 8- Formas Picq & Vayer ensina ver os comprimentos nos bastões e varinhas, nas arestas dos paralelepípedos e nos cilindros. E também comparar os comprimentos através de exercícios de transcrição linear e de adaptação gráfica: traçados de diversos comprimentos no chão. 9- Organização do Espaço Picq & Vayer (1989) relata que estes exercícios estão relacionados aos exercícios de educação do esquema corporal, coordenação dinâmica geral e automatização das noções de Direita-esquerda. Depois, quando estas noções são adquiridas, numa situação determinada e cotidiana: - Mostrar, nomear o que está na frente, o que está à direita, à esquerda, atrás. - Mudança na orientação da criança à direita, à esquerda, meia-volta. - Bola leve: (p.125) - Lançar ao sinal para frente, para trás, à direita, à esquerda. - Mudança de orientação: lançar para frente. 10- Organização do Tempo Picq & Vayer (1989) exemplificam para organização do tempo os seguintes exercícios: - Adaptação ao ritmo exterior: Deslocamento (andar, correr) ritmado pelo professor ou pelo metrônomo. -Andar nos paralelepípedos postos completamente no chão, aproximados com cadência rápida e depois afastados com cadência lenta. - Andar ao lado dos paralelepípedos. Em relação aos exercícios de independência das partes sugere oscilações rítmicas dos braços: - Oscilações laterais. - Oscilações à frente e atrás de um único braço, depois os dois braços. (p.125) 11- Educação da Mão Picq & Vayer (1985) relata, a educação da mão em função do grafismo é diretamente ligada à educação psicomotora geral e particularmente aos exercícios seguintes, que são o embasamento indispensável de qualquer educação específica, utilizando exercícios de relaxamento segmentário, ou seja, das partes: - Relaxamento dos braços. - Independência braço-ombro - Exercícios rítmicos, como oscilações laterais, ântero-posteriores e exercícios de lançar e bater. Para a independência dos dois braços, sugere exercícios para independência direita-esquerda e independência funcional do braço e da mão, e também utilizando exercícios específicos para independência do braço e da mão em função do grafismo como: - Circundação do braço, onde a criança se coloca diante do espelho, pernas e tronco bem apoiado e segurando uma bola: - Círculos do braço diante do corpo. - A criança vigia-se no espelho: nada mexe, a não ser o braço direito ou esquerdo. - Mesmo exercício ritmado. - Mesmo exercício adaptado a cadências variadas, como por exemplo, ritmo rápido, depois lento. - Mesmo exercício, agora segurando a bola com três dedos, depois relaxar a mão e o punho. - Mesmo exercício vazio, sem a bola, braços e mãos relaxados. (p.152) Para circundação do punho e independência da mão, Picq & Vayer (1985) sugere que faça os mesmos exercícios do braço, diante do espelho, braços juntos ao tronco, realizar: (p. 152) - Pequenos círculos com a mão segurando a bola. - Os mesmos exercícios acima, adicionando o apoio sonoro, e buscando o relaxamento da mão. Picq & Vayer (1985) sugere também associar a circundação do braço com a circundação do punho: - Circundação do braço esticado diante do corpo, realizando círculo grande, em seguida de circundação do punho e da mão com círculo pequeno. - Mesmo exercício rítmico: forte e fraco. - O mesmo exercício em cadências variadas, como por exemplo, dois tempos fortes dois tempos fracos, um tempo forte, três tempos fracos. Sempre diante do espelho, realizar exercícios de independência do braço e da mão e automatização dos deslocamentos: - Circundação do braço esticado associada ao deslocamento lateral, da esquerda para a direita. - Mesmo exercício rítmico. - Circundação do punho e da mão e deslocamento lateral. - Deslocamento lateral em grandes e pequenos círculos. Picq & Vayer (1985) ensina para coordenação e precisão exercícios de independência dos dedos, e adverte é necessário, educar sistematicamente não apenas o indicador da mão direita, mas todos os dedos, das duas mãos, fazer sempre os traços da esquerda para a direita, fazer sempre os círculos no sentido sinistrogiro (gira para esquerda) com a mão direita e na aprendizagem da escrita igualmente com a mão esquerda. E ainda, realizar exercícios no quadro, como: - Seguir com o dedo um traço feito pelo professor. - Progressivamente seguir com o dedo de maneira cada vez mais precisa. - Aprender a parar e mostrar onde começa e onde termina. - Seguir sucessivamente traços cada vez menores ou cada vez mais longos, mostrando a linha maior e a menor. - Os mesmos exercícios associados à emissão de sons mantidos e seguir com o dedo um círculo desenhado no quadro. - Por fim, seguir de maneira cada vez mais precisa círculos cada vez menores. Picq & Vayer (1985) descreve alguns hábitos perceptivo-motores, utilizados para preparação da escrita: - Porte de material - Rotação no sentido sinistrogiro E relata que estes hábitos, são básicos para a escrita, e estabelecem-se progressivamente através do exercício da mão e do braço: - Deslocamentos no espaço gráfico. - Visão e transcrição da esquerda para a direita é o resultado de uma educação metódica da estruturação espaço temporal. Na escrita ritmada, em relação aos exercícios de organização temporal e consciência da sucessão regular, sugere: - Com o giz no quadro, o pincel molhado na água para um escrita silenciosa fazer traços verticais leves com o apoio sonoro de uma cadência, no tempo da criança, dada pelo metrônomo, pelo tamborim. - Seguir as cadências mais rápidas, mais lentas. - Seguir as cadências com intensificação, fazendo traços grandes e pequenos. Os exercícios de grafismos contínuos são realizados através de anéis com rotação normal procurando um traçado regular, leveza no traço, podendo adicionar um apoio sonoro: escrita ritmada. Progressivamente buscar a rapidez: ritmo mais rápido. Constatar para a criança que para ir depressa não é necessário apertar. Lembrando também de associar ritmo e leveza ao traçado. Exemplos: Anéis grandes e pequenos: (p. 158) - Buscar um traço regular. - Exercícios rítmicos com tempos fortes e fracos. Anéis alongados: (p.158) - Mesmo exercício acima. Redução do traço: (p. 158) - Mesmos exercícios. Anéis, traços e intensificação: (p.158) - Exercícios sempre ritmados. Sugere exercícios com anéis em rotação contrária: (p. 158) - Os mesmos exercícios com os anéis em rotação normal. - Redução do traço: (p. 159) Para Picq & Vayer (1985) nas crianças com dificuldades gráficas, os anéis em rotação destrogiro (giro para direita) aparecem somente depois que os anéis em rotação normal foram completamente automatizados pelos exercícios precedentes. Para os exercícios de rotação dos anéis nos dois sentidos, exemplifica: (p. 159) Nos exercícios de diferenciação progressiva e individualização das letras, descreve, por exemplo: - Letras e grupos de letras em rotação normal (p. 159) - Letras e grupos de letras em rotação normal e contrária (p. 159) Por fim, Picq & Vayer (1985) resume a progressão e a continuidade dos exercícios, efetuando-se simultaneamente em dois planos: 1. Progressão na utilização dos materiais: - Giz e quadro. - Giz e plástico. - Giz, caneta de pena e papel. 2. Aperfeiçoamento progressivo das características do traçado. - Regularidade - Leveza - Intensificação (ritmo) - Rapidez. “O ensino da escrita em geral não é algo separado do ensino da escrita em crianças com dificuldades de aprendizagem” (Garcia, 1998, p. 209) CONCLUSÃO A escola maternal é o campo de aplicação ideal para a educação psicomotora, no entanto ela não deve ser considerada como uma disciplina à parte ou como uma atividade ao lado de outras atividades, ela deve ser a atividade educativa da criança. Cabe ao educador personalizá-la e adaptá-las ao meio. É importante ressaltar a organização do material da classe e é preciso criar um universo favorável à exploração da criança. E ainda há uma necessidade de um vocabulário adaptado às possibilidades de compreensão da criança, não precisando temer exprimir-se e repetir-se. Sendo a educação psicomotora um modo de abordagem global da criança e de seus problemas, sendo um estado de espírito e fazendo parte integrante das correntes mais atuais da psicologia e da psicopedagogia, é efetivamente um problema importante falar e insistir sobre as noções de motivação, de relacionamento, de compreensão empática, isto é, aspectos efetivos, emocionais e relacionais da educação pelo movimento. O que também é evidente é que a educação psicomotora como educação do ser integral, através de seu corpo e através da ação corporal é, em todos os casos, personalizada pelo adulto que a utiliza e todos os aspectos do relacionamento estão ligados à sua presença. Não se esquecendo de dar ênfase a qualidade das relações da criança no seio da família. A educação psicomotora atual é um fato, um clima educativo que não existe na concepção tradicional de ensino; a criança escuta, age, fala, desenha numa atmosfera de confiança e otimismo. É um resultado evidente de uma educação bem conduzida com exercícios adaptados ao nível e ás necessidades da criança. De acordo com algumas pesquisas nesta área, os progressos, ainda que não sejam mensuráveis, é real. Observa-se em todos os domínios e em particular na escrita e na linguagem uma melhora evidente que progride com as outras aquisições. O comportamento social também melhora paralelamente à evolução psicomotora. Torna-se evidente que melhorando o comportamento geral, recriando as condições de atenção, educando as condições perceptivas e dando às crianças hábitos motores e neuromotores corretos, só se pode facilitar a integração dos elementos da educação escolar propriamente dita. Enfim, diminuindo a ansiedade da criança e melhorando possibilidades de fixar a atenção abserva-se certo número de casos onde o Q.I aumenta da maneira espetacular. Evidentemente não se trata de uma melhora de inteligência “em si”, mas de uma melhora da utilização das possibilidades existentes devidas essencialmente a um conhecimento melhor e a um controle maior de si mesmo. BIBLIOGRAFIA Costallat, D. Psicomotricidade. 5ª Ed. Porto Alegre. Rio de Janeiro, Ed. Globo, 1983. Gagné – Princípios Essenciais da Aprendizagem para o Ensino. Porto Alegre, Globo, 1980. Garcia, J – Manual de Dificuldades de Aprendizagem- Porto Alegre, Artmed Editora, 1998. Guillarme, J. Educação e Reeducação Psicomotoras. Porto Alegre, Artes Médicas, 1983. Holle, B – Desenvolvimento motor na criança normal e retardada, São Paulo, Editora Manole Ltda, 1979. Johnson & Myklebust – Distúrbios de aprendizagem – Princípios e Práticas Educacionais. São Paulo- SP, Editora da Universidade de São Paulo, 1983. Le Boulch, J. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento até 6 anos. 6ª Ed. Porto Alegre, Artes Médicas,1990. Marco, Ademir de. (org.)- Pensando a educação motora. 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