UNIDADE IV
LÓGICA - TEMA3
PRIMEIRA DICA PARA ESCAPAR DAS FALÁCIAS
Muitas vezes, nos deparamos com afirmações que expressam preconceitos morais. Vimos nas
unidades anteriores que o conhecimento das regras lógicas nos auxilia a resistir àqueles preconceitos que são
dirigidos a nós e a superar aqueles que nós tendamos dirigir aos outros. Vimos que conhecendo o processo
argumentativo de um preconceito, talvez possamos superá-lo mais habilmente. Sem esse conhecimento, nossa
resistência necessitaria de convicção.
Mesmo que não tenham sido declaradas, a pergunta induzida e a generalização apressada são exemplos de
falácias:
A. Falácia de Pergunta Induzida ou Pergunta Complexa
a. Alguém diz: “- Você já falou mal de algum colega hoje?”, “Eu não!”, “Bem, hoje ainda não, mas que você
fala mal, você fala!”
Esta falácia ocorre quando se utiliza a combinação de duas ou mais perguntas para confundir o interlocutor
e levá-lo a responder o que dele se espera.
Comentário:
a. Só porque é verdade que todas as pessoas que falam mal dos colegas são pessoas que têm colegas,
isso não significa que todas as pessoas que têm colegas são pessoas que falam mal deles. Usada desta forma a
inversão da proposição se torna falaciosa. É pergunta induzida. É Falácia!
B. Falácia de Generalização Apressada ou Indução Viciosa
a. Alguém diz: “- A vacina contra gripe é inútil. A minha mãe foi vacinada e pegou gripe”.
b. Alguém diz: “- Esta região só tem ruas sem calçamento. Então deve ser uma região pobre”.
Essa falácia ocorre quando se conclui uma lei geral a partir de somente um caso particular. Quando as
pessoas falam que alguém tirou uma “conclusão precipitada” elas estão se referindo exatamente a esta falácia.
Comentários:
a. Um caso isolado pode desqualificar a ação de todas as vacinas? Outros fatores podem ter influenciado
neste caso. É uma Generalização Apressada. É falácia!
b. Só porque pode ser verdade que todas as regiões pobres são regiões em que as ruas não têm
calçamento, isto não significa que todas as regiões que não têm calçamento sejam regiões pobres. É conclusão
precipitada. É falácia!
Isso nos faz perguntar: O que é uma falácia? Pelo que já se pôde perceber, é um raciocínio que parece que
é válido, mas não é. Quando um raciocínio é falso mas é formulado de propósito com a intenção de enganar, é
denominado sofisma. O estudo das falácias é sempre muito divertido. Foi Aristóteles quem formulou e deu nome
às várias falácias que podemos encontrar no dia-a-dia. Nós já conhecemos duas. Agora conheceremos mais
nove:
1. Argumento contra o Homem ou “Envenenar o Poço”
a. Alguém diz: “- Você não vai acreditar no que ele lhe falou sobre mim, vai? O pai dele era um presidiário!”
b. Alguém diz: “- Eu não acredito no que ela fala, pois é uma viciada”.
Esta falácia ocorre quando se ataca diretamente a pessoa ou uma circunstância especial em que ela se encontra,
com a finalidade de rebater sua afirmação. Fala-se mal da pessoa para que ninguém mais acredite nela, para
que ninguém mais “beba suas palavras”, pois “seu poço está envenenado”.
Comentários:
a. O fato de o pai dele já ter sido ser presidiário impede que ele possa falar uma coisa verdadeira? É uma falácia.
Está falando mal da pessoa, ao invés de discutir o argumento.
b. E será que ela não pode falar verdades quando está lúcida? Falácia de Envenenar o Poço!
2. Falácia Naturalista ou de Apelo à Maioria
a. Alguém diz: “- Você vai casar com um cara de outra cor?”
b. Alguém diz: “- Ele é tão bonzinho, não deve ter querido fazer o que fez”.
Esta falácia ocorre quando se conclui que, só porque algo acontece freqüentemente de determinada maneira,
sempre deva acontecer dessa mesma maneira.
As pessoas não podem decidir o que devem fazer a partir daquilo que já fazem. Mesmo que todos estejam
fazendo algo, esse algo pode estar errado. Não se pode concluir que “deve ser assim” só porque “é assim”. O
que a maioria dos jovens faz talvez não nos demonstre o que os jovens devam fazer. Ao defendermos alguém
que fez algo errado só porque nunca fez algo errado, podemos estar incorrendo na falácia naturalista.
Comentários:
a. Só porque o comum sejam casamentos entre pessoas da mesma cor, isso não significa que deva sempre ser
assim. Apelo à maioria. Falácia!
. Pode até ser que não tenha querido fazer o que fez, mas não se pode concluir isso pelo que está sendo dito,
pois a maioria dos atos anteriores dele não garantem a inocência no caso atual. Não incorra em Falácia
Naturalista!
3. Falácia de Círculo Vicioso
a. Na década de sessenta, o juiz foi à rádio e declarou: “- Este bordel é o defensor da virgindade das moças de
‘boa família’”.
b. O ministro diz: “- Se aumentamos o salário mínimo, os empresários terão que aumentar o preço de seus
produtos para poderem pagar aos seus empregados. Se aumentarem o preço dos produtos, ocorrerá inflação,
que é o aumento geral dos preços”.
Esta falácia ocorre quando é usado um argumento na tentativa de provar uma conclusão baseada num ponto de
partida não demonstrado.
Comentários:
a. Já foi provado que o aumento da prostituição diminui a liberação sexual? Se formos defender isso veremos
que é um círculo vicioso. Falácia!
b. Já foi provado que o aumento dos salários é a causa da inflação? Falácia de Círculo Vicioso!
4. Falácia de Causa Comum
a. Alguém diz: “- Por que ele está tão mal? Está mal por causa da febre”.
b. Alguém diz: “- Por que o ensino é ruim? Porque os professores são despreparados”.
Esta falácia ocorre quando se afirma que um fato é causa de outro, sem considerar que pode haver um outro
fato anterior que seja a causa dos dois. Se 1 causa 2 que causa 3, quem está diante do 3 e diz que o 2 é a sua
causa errou, pois o 1 é a causa e o 2 é apenas um sintoma.
Comentários:
a. Será que a causa inicial, tanto do ensino de baixa qualidade, quanto do despreparo dos professores não é
outra? Será que não é a falta de uma política educacional eficiente? Vejamos: Uma política educacional
ineficiente (que é o 1) causa um despreparo dos professores (que é o 2) que causa um ensino ruim (que é o
3). Quem causou o 2 e o 3 foi o 1. Quem aponta o 2 como causa primeira está apontando um sintoma e não
uma causa. É uma causa comum, não é a causa profunda. Falácia!
b. Houve uma virose (que é o 1) que causou a febre (que é o 2) que causou o mal-estar (que é o 3). Quem
aponta o 2 como causador do 3 está apontando um sintoma e não uma causa. Falácia de Causa Comum, pois
não está vendo a causa inicial!
5. Falácia de Comparação Indevida
a. Alguém diz: “- Seres humanos e cachorros são animais. Se o homem tem esperança, por que os cachorros
não haveriam de ter?”
b. Alguém diz: “- A minha primeira namorada sempre cortava as minhas unhas na sexta-feira, antes de a gente
sair na noite. Por que você, que é minha namorada agora, não corta também?”
Esta falácia ocorre quando se chega a conclusões incorretas a partir da semelhança entre dois conceitos, sem
levar em conta as diferenças que os separam.
Comentários:
a. A animalidade é uma semelhança entre homens e cachorros que não é suficiente para afirmar algo desse tipo.
Comparação indevida. Falácia!
b. A nova namorada pode cortar as unhas dele, se quiser. Mas ela não é obrigada a cortar por causa deste
argumento. Falácia de Comparação Indevida!
6. Falácia de Equívoco
a. Alguém diz: “- Paredes são coisas duras. Mas dura mesmo é a minha professora. Quem vai me impedir de
chamá-la de parede?”
b. Alguém diz: “- Todo aquele que é dono de um banco é rico. Aquele mendigo é dono de um banco. Então
aquele mendigo é rico!”
Esta falácia ocorre quando, num raciocínio, uma mesma palavra é usada com um sentido na segunda premissa e
com outro significado na conclusão. Quando falamos “Houve um equívoco.” ou “Eu me equivoquei!”, uma
causas mais comuns é essa ambigüidade de palavras, que causa um mal-entendido.
Comentários:
a. A lógica é que vai impedir, pois ela prova os erros de raciocínio. Vejamos. Na primeira parte, a palavra “dura”
é usada de ser uma coisa sólida. Na segunda parte, a palavra “dura” é usada no sentido de pessoa enérgica.
Na conclusão, pretende-se misturar as duas partes, dizendo que uma pessoa é coisa sólida. Equívoco!
Falácia! Vejamos o equívoco através silogismo:
Toda parede é dura (coisa sólida)
A professora é dura (pessoa enérgica)
A professora é dura (coisa sólida) = conclusão falsa
b. Na primeira parte, a expressão “dono de banco” está sendo usada no sentido de dono de instituição financeira
e, portanto, pessoa rica. Na segunda parte, a expressão dono de banco está sendo usada no sentido de dono
de um banco de praça pública e, portanto, no máximo pessoa que tem privilégios em relação a outros
mendigos por ter domínio sobre um local para dormir. Na conclusão, mistura-se as duas partes
indevidamente, dizendo-se que o dono do banco de praça é rico. Isso é uma falácia de equívoco! Vejamos o
erro no silogismo:
Todo dono de banco (financeiro) é pessoa rica.
Este mendigo é dono de banco (de praça)
Este mendigo é pessoa rica = conclusão falsa
7. Falácia de Petição de Princípio ou de Argumento Circular
a. Alguém diz: “- Ela é inocente!”, “- Como você sabe?”, “- Ela me disse isso”.
b. Alguém diz: - “Este livro contém a verdadeira palavra de Deus!”, “Como você sabe?”, “Está escrito aqui
dentro!”
Esta falácia ocorre quando se toma como explicação de um fato algo que está para ser explicado, ou seja,
quando se dá como certo algo que na verdade é duvidoso e deveria ser ainda demonstrado. Assim , o
raciocínio fica sempre retornando ao início.
Comentários:
a. Ela até pode ser inocente, mas o depoimento pessoal dela não serve como prova. Petição de Princípio!
b. Pode até ser que o livro seja o que diz ser, mas estar escrito dentro dele não vale como prova. Argumento
Circular!
8. Falácia de Apelo à Ignorância de casos
a. Alguém diz: “- Nesta área não tem perigo de furtos noturnos. Pelo menos eu não tenho notícias.”
b. Alguém diz: “- Não existe perigo de que a AIDS seja transmitida em salões de beleza. Eu não conheço um só
caso.
Esta falácia ocorre quando alguém quer demonstrar que algo é verdadeiro pelo simples fato de que o contrário
da sua tese ainda não foi constatado.
Comentários:
a. Pode até não ter havido, mas o fato de a pessoa não ter tido notícias não prova isso. Apelo
desconhecimento do fato. Apelo à ignorância!
ao
b. Pode até não ser perigoso, mas não pelo que está sendo dito. Está apelando que o raciocínio é verdadeiro pelo
desconhecimento do fato contrário. Falácia de Apelo à Ignorância de caso!
9. Falácia de Apelo à Força ou Recurso à Força
a. O patrão diz: “- Não posso aumentar o salário dadesse setor. Sinto por isso, se bem que todos os dias há
candidatos a estas vagas com esse salário preenchendo ficha no departamento pessoal. Vocês é que
decidem!”
b. Depois de bater numa colega que havia falado mal dela, a garota pergunta para a outra: “- Você não vai
querer defender essa menina, vai?”
Esta falácia ocorre quando tenta-se convencer não por argumentos racionais, mas pela ameaça, mesmo que de
forma sutil.
Comentários:
a. A fala do patrão está parecendo uma sutil ameaça. Apelo à força...
b. Depois da demonstração de força, a garota que foi questionada não se sente muito à vontade para discordar...
É claro! Foi feito um apelo à força quase declarado...
Falácia; dados falsos com cara de verdadeiros
Como pudemos perceber por esses exemplos, a falácia constitui uma armadilha intelectual. Mesmo que
aparentemente corretos em sua forma de expressão, os dados utilizados nesse tipo de argumento são
racionalmente duvidosos.
Pelos exemplos, você deve ter percebido que o uso de falácias é comum em nosso meio. Alguém consegue
passar um dia sem ouvir ou usar uma falácia? Talvez isso se deva ao fato de que há pessoas que se deixam
levar pelo desejo de vencer a qualquer custo, mesmo ao custo da verdade. Quem estuda Lógica é levado a estar
preparado para distinguir os dados verdadeiros dos dados duvidosos. É levado a identificar os dados
apresentados numa bela e colorida embalagem mas falsificados.
EXERCITANDO A MENTE
I. Nos caso a seguir, diga de qual falácia se trata:
1. Argumento contra o Homem ou “Envenenar o Poço”
2. Falácia Naturalista ou de Apelo à Maioria
3. Falácia de Círculo Vicioso
4. Falácia de Causa Comum
5. Falácia de Comparação Indevida
6. Falácia de Equívoco
7. Fal. de Petição de Princípio ou de Argumento Circular
8. Falácia de Apelo à Ignorância de casos
9. Falácia de Apelo à Força
a. (
b. (
) Disse o traficante: “Você até pode não aceitar namorar comigo, mas se eu fosse você não faria isso”.
) Disse alguém: “- Eu não vou votar nele, pois ele não tem nenhum curso superior”.
c. ( ) Disse alguém: “- São os cidadãos brasileiros que devem dirigir os destinos do país. Os militares não são
cidadãos brasileiros? Pois então eles é que devem dirigir os destinos do Brasil”.
d. (
) Disse o prefeito: “Eu não vou dar moradia para as famílias da favela porque elas acabam voltando
todas para lá. Daí eu vou acabar tendo que dar mais moradias”.
e.
(
) Disse alguém: “- Os namorados atual-mente têm suas primeiras relações sexuais mais cedo. Por isso
não vejo problema em que você as tenha também”.
.
(
) Duas pessoas conversavam: “- Ele já se formou?”, “- Sim”, “- Porque ainda não conseguiu
emprego?”, “- Não lhe dão vaga porque não tem experiência”.
g. (
) Alguém disse: “- Esse vazamento no box do banheiro é por causa desta infiltração de água no piso”.
h. (
) Disse o filho: “– Mãe, o meu cachorrinho fazia tantas coisas. Por que esta tartaruga não faz?”
i. (
) Disse a menina: “Nunca vi um rapaz que não seja aproveitador. Por isso, não acredito que exista”.
II. Agora é a sua vez. Você lembra de alguma falácia que já tenha falado ou presenciado? Escreva aqui qual foi.
Lembre-se que uma falácia é um argumento, ou seja, alguém está defendendo um raciocínio que não é
verdadeiro. Então, sempre será alguém defendendo algo do tipo: isso acontece por causa daquilo… Não
esqueça de dizer qual é o tipo de falácia que você está exemplificando.
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