Colégio Planeta Prof.: Fagner Lista de Língua Portuguesa Aluno(a): ENEMais Data: 08 / 05 / 2015 Turma: Lista 07 Turno: Noturno TEXTO: 1 - Comuns às questões: 1, 2, 3, 4, 5, 6 O ROLEZINHO DA JUVENTUDE NAS RUAS DO CONSUMO E DO PROTESTO Renato Souza de Almeida Os jovens têm criado formas cada vez mais interessantes de manifestação. Desde as jornadas de junho de 2013 – que levou às ruas milhares de brasileiros – até os chamados “rolezinhos” – que também vêm colocando centenas em circulação – se instalou uma crise na análise daqueles que insistiam em afirmar uma possível apatia dessa geração juvenil. “Sair de rolê...” significa dar uma circulada despretensiosa pela vila ou pela cidade. É possível dar um rolê de trem, de ônibus ou a pé. Geralmente, o rolê está ligado ao lazer ou a alguma prática cultural. Sai de rolê o pichador, o skatista, o caminhante... O que vem chamando a atenção de muita gente é como um simples gesto de sair e circular de forma livre tem ocupado um papel central nas principais mobilizações juvenis na cidade de São Paulo nos últimos tempos. [...] Quem não é mais jovem e sempre morou nas periferias de São Paulo, com raras exceções, vai se recordar que a rua era o espaço por excelência da sociabilidade, do lazer e da convivência. Com a chegada do asfalto, vieram também muitos carros e se instituiu como verdade o discurso de que a rua é lugar perigoso e violento. Para muitos adultos, as políticas culturais só se justificam se for para “tirar os jovens das ruas”. Para os jovens, ao contrário, suas ações culturais só têm força e sentido quando acontecem na rua, no espaço público. A condenação da rua como espaço da violência veio acompanhada da chegada dos shopping centers também às periferias. Muita gente vai ao shopping tentar encontrar um vazio deixado pelo “fim” das ruas. Para além do consumo, busca-se num shopping um passeio mais livre, solto, e a possibilidade de encontro com pessoas de fora do círculo mais próximo, familiar. No entanto, esse encontro não acontece. Tampouco a livre circulação. As pessoas só encontram uma multidão “sem rosto e coração” – nos dizeres dos Racionais MC’s –, e a circulação no interior do shopping não pode ocorrer de forma livre e espontânea. Ela tem regras claras e rígidas: os pobres podem circular pelo shopping, contanto que finjam pertencer a outra classe social. Mesmo que circulem no shopping sem recursos para consumir, eles devem desejar consumir. Da mesma forma, os negros podem circular pelo shopping tranquilamente, desde que finjam ser brancos nas vestimentas, nos cabelos, no comportamento etc. Os rolezinhos em shoppings – da periferia ou das áreas abastadas –, que se tornaram um fenômeno neste verão, têm características muito semelhantes com os pancadões de rua realizados de forma espontânea e congregam um número significativo de jovens que se reúnem, sobretudo, em torno da expressão cultural do funk. O polêmico e famigerado funk é um dos principais mobilizadores dos jovens na metrópole paulistana. E um dos segredos da sua força não está necessariamente no apelo sexual de algumas músicas ou na sua batida envolvente, mas na forma como ressignificou as ruas para esses jovens. “No dia em que tem pancadão, a rua é nossa!” E se a rua é “nossa”, pode-se fazer qualquer coisa, inclusive não fazer nada... E, se o “som é de preto, de favelado e, quando toca, ninguém fica parado”, não há necessidade de fingir ser outra coisa, como exigem os shoppings centers. Ao contrário, é um momento de afirmação dessa mesma identidade periférica. Nesse sentido, estar no shopping – no local que a sociedade estabeleceu para substituir a rua – é bastante provocador. Os rolezinhos levaram para dentro do paraíso do consumo a afirmação daquilo que esse mesmo espaço lhes nega: sua identidade periférica. Se quando o jovem vai ao shopping namorar ou consumir com alguns amigos ele deve fingir algo que não é, com os rolezinhos ele afirma aquilo que é! E quando faz essa afirmação ele revela a contradição na lógica dos shopping centers. Ou seja, os rolezinhos põem por terra a aparente circulação livre e o espaço aberto que os shoppings dizem proporcionar. Quando o jovem afirma, por meio do rolezinho, sua identidade de negro e pobre, a contradição se evidencia e a polícia é acionada, e tão logo o paraíso do consumo e do prazer se revela como o inferno do preconceito racial e da violência. Esses jovens que hoje mobilizam os rolezinhos são intitulados “geração shopping center”, consumista, por parte dos mais velhos. Porém a prática dos rolezinhos nos shoppings está revelando a contradição mais aguda desse espaço que tentou tomar o locus simbólico da rua. Nos rolezinhos, os jovens não são consumidores, mas produtores. Produzem um novo jeito de circular pelo shopping. Produzem uma prática cultural que se contradiz com esse lugar. Produzem contradição e desordem no sistema. E produzem uma nova gramática política ao afirmar sua classe num espaço que existe para negá-la. [...] Disponível em: < http://www.diplomatique.org.br>. Acesso em: 29 ago. 2014 - Artigo publicado em 03 fev. 2014 (fragmento de texto) Questão 01) O principal objetivo do texto é A) tecer elogios a jovens que se manifestam de forma crítica frente a problemas sociais. B) denunciar a falta de espaço público para manifestações culturais nos grandes centros. C) defender o funk como uma manifestação cultural que representa a juventude atual. D) demonstrar como um movimento social é capaz de explicitar o preconceito entre classes. Questão 02) No primeiro parágrafo, a referência a fatos como as manifestações de junho de 2013 e a ocorrência de rolezinhos tem a finalidade de A) analisar impactos da ação juvenil sobre a sociedade. B) apresentar a opinião da sociedade sobre os adolescentes. C) contextualizar a discussão sobre o comportamento de jovens. D) demonstrar a visão de algumas pessoas a respeito da apatia juvenil. Questão 03) De acordo com a opinião defendida pelo autor, o fenômeno do “rolezinho” evidencia a(o) A) interesse da juventude por atividades de consumo. B) valorização dos indivíduos por causa do poder de compra. C) descaso de jovens de periferia por espaços de circulação pública. D) contradição de shopping centers por se considerarem democráticos. Questão 04) No 5º parágrafo, a comparação entre o rolezinho e o funk aponta para uma A) B) C) D) discriminação da cultura urbana. afirmação da identidade dos jovens. crítica aos grupos sociais de periferia. valorização da juventude na sociedade. Questão 05) “E produzem uma nova gramática política ao afirmar sua classe num espaço que existe para negá-la.” Nessa passagem, a palavra em destaque remete ao A) livro que contém as normas do bem escrever. B) modelo da competência linguística do falante nativo. C) conjunto de regras de uma arte, de uma ciência, de uma técnica. D) sistema de regras determinantes do uso correto da língua falada. Questão 06) Considere a charge a seguir. Essa charge estabelece uma correspondência de sentido com a passagem transcrita em: “’Sair de rolê...’ significa dar uma circulada despretensiosa pela vila ou pela cidade.” B) “Muita gente vai ao shopping tentar encontrar um vazio deixado pelo “fim” das ruas.” C) “(...) a circulação no interior do shopping não pode ocorrer de forma livre e espontânea.” D) “(...) os pobres podem circular pelo shopping, contanto que finjam pertencer a outra classe social.” A) Questão 07) Considere o livro Max e os felinos, de Moacyr Scliar. “[...]. Max não sabia a que atribuir o fato de o jaguar não tê-lo ainda devorado; àquela altura, nada mais deveria restar dele. Ossos sangrentos talvez. Um pé. Fragmentos do couro cabeludo. No momento, contudo, o animal não parecia disposto a atacá-lo. Continuava imóvel, tranquilo, e até com certo ar de tédio. Por que, Max não sabia. Pouco conhecia dos hábitos dos felinos; e mesmo que fosse um especialista nesta área, simplesmente não estava em condições de raciocinar. Talvez o animal não tivesse fome, naquele momento; talvez tivessem-no alimentado antes do naufrágio (para que, se estava destinado a morrer?).” No final dessa passagem, a pergunta entre parênteses referese ao fato de Max A) B) C) D) saber que o naufrágio foi criminoso. preocupar-se em alimentar o jaguar. desconhecer os hábitos dos felinos. julgar que não sobreviveria. TEXTO: 2 - Comuns às questões: 8, 9, 10, 11, 12 A FALÁCIA DO MUNDO JUSTO E A CULPABILIZAÇÃO DAS VÍTIMAS Ana Carolina Prado “É claro que o cara que estuprou é o culpado, mas as mulheres também ficam andando na rua de saia curta e em hora errada!”. “O hacker que roubou as fotos dessas celebridades nuas está errado, mas ninguém mandou tirar as fotos!”. “Se você trabalhar duro vai ser bem-sucedido, não importa quem você seja. Quem morreu pobre é porque não se esforçou o bastante.” Você sabe o que essas afirmações têm em comum? Há algum tempo falei aqui sobre como os humanos têm diversas formas de se enganar em relação à ideia que têm de si mesmos, quase sempre para proteger sua autoestima ou para saciar sua vontade de estar sempre certos. Mas nosso cérebro não nos engana só em relação a como vemos a nós mesmos: temos também a tendência de nos iludir em relação aos outros e à vida em geral. E as frases acima exemplificam uma maneira como isso pode acontecer: por meio da falácia do mundo justo. Por exemplo, embora os estupros raramente tenham qualquer coisa a ver com o comportamento ou vestimenta da vítima e sejam normalmente cometidos por um conhecido e não por um estranho numa rua deserta, a maioria das campanhas de conscientização são voltadas para as mulheres, não para os homens – e trazem a absurda mensagem de “não faça algo que poderia levá-la a ser violentada”. Em um estudo sobre bullying feito em 2010 na Universidade Linkoping, na Suécia, 42% dos adolescentes culparam a vítima por ser “um alvo fácil”. Para os pesquisadores, esses julgamentos estão relacionados à noção – amplamente difundida na ficção – de que coisas boas acontecem a quem é bom e coisas más acontecem a quem merece. A tendência a acreditar que o mundo é assim é chamada, na psicologia, de falácia do mundo justo. “Não importa quão liberal ou conservador você seja, alguma noção dela entra na sua reação emocional quando ouve sobre o sofrimento dos outros”, diz o jornalista David McRaney no livro “Você não é tão esperto quanto pensa”. Ele acrescenta que, embora muitas pessoas não acreditem conscientemente em carma, no fundo ainda acreditam em alguma versão disso, adaptando o conceito para a sua própria cultura. E dá para entender por que somos levados a pensar assim: viver em um mundo injusto e imprevisível é meio assustador e queremos nos sentir seguros e no controle. O problema é que crer cegamente nisso leva a ainda mais injustiças, como o julgamento de que pessoas pobres ou viciadas em drogas são vagabundas [...], que mulher de roupa curta merece ser maltratada ou que programas sociais são um desperdício de dinheiro e uma muleta para preguiçosos. Todas essas crenças são falaciosas porque partem do princípio de que o sistema em que vivemos é justo e cada um tem exatamente o que merece. [...] a falácia do mundo justo desconsidera os inúmeros outros fatores que influenciam quão bem-sucedida a pessoa vai ser, como o local onde ela nasceu, a situação socioeconômica da sua família, os estímulos e situações pelas quais passou ao longo da vida e o acaso. Programas sociais e ações afirmativas não rompem o equilíbrio natural das coisas, como seus críticos podem crer – pelo contrário, a ideia é justamente minimizar os efeitos da injustiça social. Uma pessoa extremamente pobre pode virar a dona de uma empresa multimilionária, mas o esforço que vai ter de fazer para chegar lá é muito maior do que o esforço de alguém nascido em uma família rica que sempre teve acesso à melhor educação e a bons contatos. “Se olhar os excluídos e se questionar por que eles não conseguem sair da pobreza e ter um bom emprego como você, está cometendo a falácia do mundo justo. Está ignorando as bênçãos não merecidas da sua posição”, diz McRaney. Em casos de abusos contra outras pessoas, como bullying ou estupro, a injustiça é ainda maior, pois eles nunca são justificados – e aí a falácia do mundo justo se mostra ainda mais perversa. Portanto, toda vez que você se sentir movido a dizer coisas como “O estuprador é quem está errado, é claro, mas…”, pare por aí. O que vem depois do, “mas” é quase sempre fruto de uma tendência a ver o mundo de uma forma distorcida só para ele parecer menos injusto. Questão 12) Há algum tempo falei aqui sobre como os humanos têm diversas formas de se enganar em relação à ideia que têm de si mesmos, quase sempre para proteger sua autoestima ou para saciar sua vontade de estar sempre certos. Os verbos “haver” e “ter”, em destaque, foram empregados, respectivamente, com o sentido de A) B) C) D) existência/posse. posse/existência. tempo decorrido/posse. tempo decorrido/existência. TEXTO: 3 - Comum à questão: 13 Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs>. Questão 08) Considerando-se o percurso argumentativo do texto, é correto afirmar que, nele, a autora tem por objetivo A) criticar algumas das ações governamentais destinadas ao combate à criminalidade. B) condenar o discurso favorável à culpa de vítimas em situações de violência e/ ou pobreza. C) induzir o leitor a mobilizar-se contra práticas de preconceito presentes no cotidiano social. D) apoiar opiniões relacionadas ao envolvimento das vítimas em atos de violência física e/ou moral. Questão 09) A palavra falácia, utilizada no título e em algumas sentenças ao longo do texto, pode ser interpretada como A) B) C) D) ineficácia. inverdade. ingenuidade. incompetência. Questão 10) A palavra destacada foi utilizada para retomar um termo antecedente na passagem transcrita em: “A tendência a acreditar que o mundo é assim é chamada, na psicologia, de falácia do mundo justo.” (4º parágrafo) B) “[...] a falácia do mundo justo desconsidera os inúmeros outros fatores que influenciam quão bem-sucedida a pessoa vai ser [...]” (6º parágrafo) C) “O problema é que crer cegamente nisso leva a ainda mais injustiças, como o julgamento de que pessoas pobres ou viciadas em drogas são vagabundas [...].” (5º parágrafo) D) “Ele acrescenta que, embora muitas pessoas não acreditem conscientemente em carma, no fundo ainda acreditam em alguma versão disso, adaptando o conceito para a sua própriacultura.” (4º parágrafo) A) MEU IDEAL SERIA ESCREVER... Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse – “ai meu Deus, que história mais engraçada!”. E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria – “mas essa história é mesmo muito engraçada!”. [...] Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse – e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – “por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!”. E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história. [...] E quando todos me perguntassem – “mas de onde é que você tirou essa história?” – eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: “Ontem ouvi um sujeito contar uma história...”. E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro. BRAGA, Rubem. In: A traição das elegantes. Record: Rio de Janeiro, 1982, p. 93. Questão 13) Questão 11) Em casos de abusos contra outras pessoas, como bullying ou estupro, a injustiça é ainda maior, pois eles nunca são justificados – e aí a falácia do mundo justo se mostra ainda mais perversa. Portanto, toda vez que você se sentir movido a dizer coisas como “O estuprador é quem está errado, é claro, mas…”, pare por aí. O que vem depois do, “mas” é quase sempre fruto de uma tendência a ver o mundo de uma forma distorcida só para ele parecer menos injusto. Ao abordar seu próprio processo de escrita, Rubem Braga, em sua crônica, alude a uma importante função social da literatura. Segundo o texto, o que motiva o autor a escrever é uma preocupação artística de natureza Nesse fragmento, a autora sugere interromper a enunciação de certas frases construídas com o “mas” porque, caso contrário, se evidenciaria um discurso TEXTO: 4 - Comum à questão: 14 A) B) C) D) acrítico. ambíguo. impreciso. contraditório. A) B) C) D) humorística. transgressiva. humanizadora. histórico-social. 1 A tão repetida ideia de aldeia global é uma fabulação. 2 O fato de que a comunicação se tornou possível à escala do 3 planeta, deixando saber instantaneamente o que se passa em 4 qualquer lugar, permitiu que fosse cunhada essa expressão, 5 quando, na verdade, ao contrário do que se dá nas verdadeiras 6 aldeias, é frequentemente mais fácil comunicar com quem está 7 longe do que com o vizinho. A informação sobre o que 8 acontece não vem da interação entre pessoas, mas do que é 9 veiculado pela mídia, uma interpretação interessada, senão 10 interesseira, dos fatos. 11 Um outro mito é o do espaço e do tempo contraídos, 12 graças, outra vez, aos prodígios da velocidade. Só que a 13 velocidade está ao alcance apenas de um número limitado de 14 pessoas, de tal forma que, segundo as possibilidades de cada 15 um, as distâncias têm significações e efeitos diversos e o uso do 16 mesmo relógio não permite igual economia do tempo. 17 A ideia de aldeia global, tanto quanto a de espaçotempo 18 contraído, permitiria imaginar a realização do sonho de 19 um mundo só, já que, pelas mãos do mercado global, coisas, 20 relações, dinheiros, gostos largamente se difundem por sobre 21 continentes, raças, línguas, religiões, como se as 22 particularidades tecidas ao longo de séculos houvessem sido 23 todas esgarçadas. Tudo seria conduzido e, ao mesmo tempo, 24 homogeneizado pelo mercado global regulador. Será, todavia, 25 esse mercado regulador? Será ele global? 26 Fala-se, também, de uma humanidade 27 desterritorializada, entre cujas características estaria o 28 desfalecimento das fronteiras como imperativo da globalização, 29 e a essa ideia dever-se-ia uma outra: a da existência, já agora, 30 de uma cidadania universal. De fato, as fronteiras mudaram de 31 significação, mas nunca estiveram tão vivas, na medida em que 32 o próprio exercício das atividades globalizadas não prescinde 33 de uma ação governamental capaz de torná-las efetivas dentro 34 do território. A humanidade desterritorializada é apenas um 35 mito. O exercício da cidadania, mesmo se avança a noção de 36 moralidade internacional, é, ainda, um fato que depende da 37 presença e da ação dos Estados nacionais. Sem essas fábulas e 38 mitos, este período histórico não existiria como é: também não 39 seria possível a violência do dinheiro. Este só se torna violento 40 e tirânico porque é servido pela violência da informação. Milton Santos. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2006 (com adaptações). Questão 14) No que se refere aos sentidos do texto acima e às informações nele veiculadas, assinale a opção correta. A palavra “desfalecimento” (Ref.28) está empregada, no texto, em sentido denotativo. B) Conclui-se do texto que a “violência da informação” (Ref.40), associada ao processo de mediação da informação disponibilizada ao público pelos meios de comunicação, serve, no momento histórico tratado, aos interesses do capital. C) As palavras “interessada” (Ref.9) e “interesseira” (Ref.10) são empregadas para caracterizar, respectivamente, de forma positiva e negativa, a interpretação dada pela mídia à informação por ela veiculada. D) Conclui-se do segundo parágrafo do texto que a velocidade da comunicação é responsável pelo aumento da desigualdade associado à globalização, o que é reforçado pela afirmação “o uso do mesmo relógio não permite igual economia do tempo” (Refs. 15 e 16). A) TEXTO: 5 - Comum à questão: 15 Paulo M. Buss. Globalização, pobreza e saúde. In: Ciência e Saúde Coletiva. Vol. 12, n.º 6, Rio de Janeiro, nov./dez., 2007. Internet: <www.scielo.br> Questão 15) Assinale a opção correta a respeito de aspectos linguísticos do texto. A palavra “iniquidades” (Ref.29) remete aos conceitos de igualdade e justiça, ainda que pela via da negação. B) As palavras “novas” e “reemergentes”, na linha 4, classificam-se como substantivo. C) Feitas as devidas alterações na pontuação e nas letras maiúsculas e minúsculas, a expressão “na África” (Ref.12), de caráter adverbial, poderia ser deslocada para o início do período, sem prejuízo do sentido original do texto. D) O trecho “pela difusão global de doenças infecciosas” (Ref.21) exerce, no período em que ocorre, a função de agente da passiva. A) GABARITO: 1) Gab: D 2) Gab: C 3) Gab: D 4) Gab: B 5) Gab: C 6) Gab: C 7) Gab: A 8) Gab: B GLOBALIZAÇÃO E DOENÇA 1 virais, como os casos das febres Marburg e Ebola, na África, 13 que apresentam grande potencial epidêmico, é facilitada pelos 14 rápidos deslocamentos em viagens aéreas internacionais, o que 15 aponta para a necessidade e a importância do reforço das redes 16 globais de diagnóstico e vigilância em saúde, operadas pela 17 OMS e parceiros ao redor do mundo. 18 Um caso já clássico é a difusão do vírus da AIDS, que 19 surgiu possivelmente em região remota da África e se espalhou 20 por todo o mundo. Até mesmo aves migratórias podem ser 21 responsabilizadas pela difusão global de doenças infecciosas, 22 como é o caso da gripe aviária e do vírus da febre do Oeste do 23 Nilo. Infecções como Salmoneloses e E. coli têm sido 24 frequentemente relacionadas com contaminação de alimentos 25 frescos ou industrializados que circulam entre países. 26 Outra dimensão importante da globalização da 27 saúde são as reformas setoriais orientadas ao mercado, preconizadas 28 por organizações internacionais. Elas resultaram em mais 29 iniquidades em saúde. Não há espaço para a saúde pública ou 30 para a promoção da saúde nessas reformas. Seu tema exclusivo 31 são a atenção médica aos indivíduos e os esquemas de 32 financiamento. O mesmo se pode dizer dos modelos 33 importados de formação de recursos humanos, pouco ajustados 34 aos padrões culturais ou aos sistemas nacionais de saúde. 9) Gab: B 2 Uma destacada faceta das consequências da globalização sobre a saúde é a possibilidade da 3 transnacionalização das doenças transmissíveis, 4 particularmente as novas e as reemergentes. Com as facilidades 5 das viagens internacionais e a difusão do comércio em escala 6 planetária, microrganismos podem ser rapidamente 7 transportados, por meio de pessoas, animais, insetos e 8 alimentos, de um país a outro e de um ponto a outro do globo. 9 Exemplos recentes são as propagações de microrganismos 10 relacionados à SARS, à dengue e à gripe aviária. 11 A transmissão interpessoal das febres hemorrágicas 12 10) Gab: B 11) Gab: D 12) Gab: C 13) Gab: C 14) Gab: B 15) Gab: A