Colégio Planeta
Prof.: Fagner
Lista de Língua Portuguesa
Aluno(a):
ENEMais
Data: 08 / 05 / 2015
Turma:
Lista
07
Turno: Noturno
TEXTO: 1 - Comuns às questões: 1, 2, 3, 4, 5, 6
O ROLEZINHO DA JUVENTUDE NAS RUAS
DO CONSUMO E DO PROTESTO
Renato Souza de Almeida
Os jovens têm criado formas cada vez mais
interessantes de manifestação. Desde as jornadas de junho de
2013 – que levou às ruas milhares de brasileiros – até os
chamados “rolezinhos” – que também vêm colocando centenas
em circulação – se instalou uma crise na análise daqueles que
insistiam em afirmar uma possível apatia dessa geração juvenil.
“Sair de rolê...” significa dar uma circulada despretensiosa pela vila ou pela cidade. É possível dar um rolê de trem, de
ônibus ou a pé. Geralmente, o rolê está ligado ao lazer ou a
alguma prática cultural. Sai de rolê o pichador, o skatista, o
caminhante... O que vem chamando a atenção de muita gente é
como um simples gesto de sair e circular de forma livre tem
ocupado um papel central nas principais mobilizações juvenis na
cidade de São Paulo nos últimos tempos.
[...] Quem não é mais jovem e sempre morou nas
periferias de São Paulo, com raras exceções, vai se recordar que
a rua era o espaço por excelência da sociabilidade, do lazer e da
convivência. Com a chegada do asfalto, vieram também muitos
carros e se instituiu como verdade o discurso de que a rua é lugar
perigoso e violento. Para muitos adultos, as políticas culturais só
se justificam se for para “tirar os jovens das ruas”. Para os jovens,
ao contrário, suas ações culturais só têm força e sentido quando
acontecem na rua, no espaço público.
A condenação da rua como espaço da violência veio
acompanhada da chegada dos shopping centers também às
periferias. Muita gente vai ao shopping tentar encontrar um vazio
deixado pelo “fim” das ruas. Para além do consumo, busca-se
num shopping um passeio mais livre, solto, e a possibilidade de
encontro com pessoas de fora do círculo mais próximo, familiar.
No entanto, esse encontro não acontece. Tampouco a livre
circulação. As pessoas só encontram uma multidão “sem rosto e
coração” – nos dizeres dos Racionais MC’s –, e a circulação no
interior do shopping não pode ocorrer de forma livre e
espontânea. Ela tem regras claras e rígidas: os pobres podem
circular pelo shopping, contanto que finjam pertencer a outra
classe social. Mesmo que circulem no shopping sem recursos
para consumir, eles devem desejar consumir. Da mesma forma,
os negros podem circular pelo shopping tranquilamente, desde
que finjam ser brancos nas vestimentas, nos cabelos, no
comportamento etc.
Os rolezinhos em shoppings – da periferia ou das áreas
abastadas –, que se tornaram um fenômeno neste verão, têm
características muito semelhantes com os pancadões de rua
realizados de forma espontânea e congregam um número
significativo de jovens que se reúnem, sobretudo, em torno da
expressão cultural do funk. O polêmico e famigerado funk é um
dos principais mobilizadores dos jovens na metrópole paulistana.
E um dos segredos da sua força não está necessariamente no
apelo sexual de algumas músicas ou na sua batida envolvente,
mas na forma como ressignificou as ruas para esses jovens. “No
dia em que tem pancadão, a rua é nossa!” E se a rua é “nossa”,
pode-se fazer qualquer coisa, inclusive não fazer nada... E, se o
“som é de preto, de favelado e, quando toca, ninguém fica
parado”, não há necessidade de fingir ser outra coisa, como
exigem os shoppings centers. Ao contrário, é um momento de
afirmação dessa mesma identidade periférica.
Nesse sentido, estar no shopping – no local que a
sociedade estabeleceu para substituir a rua – é bastante
provocador. Os rolezinhos levaram para dentro do paraíso do
consumo a afirmação daquilo que esse mesmo espaço lhes
nega: sua identidade periférica. Se quando o jovem vai ao
shopping namorar ou consumir com alguns amigos ele deve
fingir algo que não é, com os rolezinhos ele afirma aquilo que é!
E quando faz essa afirmação ele revela a contradição na lógica
dos shopping centers. Ou seja, os rolezinhos põem por terra a
aparente circulação livre e o espaço aberto que os shoppings
dizem proporcionar. Quando o jovem afirma, por meio do
rolezinho, sua identidade de negro e pobre, a contradição se
evidencia e a polícia é acionada, e tão logo o paraíso do
consumo e do prazer se revela como o inferno do preconceito
racial e da violência.
Esses jovens que hoje mobilizam os rolezinhos são
intitulados “geração shopping center”, consumista, por parte dos
mais velhos. Porém a prática dos rolezinhos nos shoppings está
revelando a contradição mais aguda desse espaço que tentou
tomar o locus simbólico da rua. Nos rolezinhos, os jovens não
são consumidores, mas produtores. Produzem um novo jeito de
circular pelo shopping. Produzem uma prática cultural que se
contradiz com esse lugar. Produzem contradição e desordem
no sistema. E produzem uma nova gramática política ao afirmar
sua classe num espaço que existe para negá-la. [...]
Disponível em: < http://www.diplomatique.org.br>. Acesso em: 29
ago. 2014 - Artigo publicado em 03 fev. 2014 (fragmento de texto)
Questão 01)
O principal objetivo do texto é
A)
tecer elogios a jovens que se manifestam de forma crítica
frente a problemas sociais.
B) denunciar a falta de espaço público para manifestações
culturais nos grandes centros.
C) defender o funk como uma manifestação cultural que
representa a juventude atual.
D) demonstrar como um movimento social é capaz de
explicitar o preconceito entre classes.
Questão 02)
No primeiro parágrafo, a referência a fatos como as
manifestações de junho de 2013 e a ocorrência de rolezinhos
tem a finalidade de
A) analisar impactos da ação juvenil sobre a sociedade.
B) apresentar a opinião da sociedade sobre os adolescentes.
C) contextualizar a discussão sobre o comportamento de
jovens.
D) demonstrar a visão de algumas pessoas a respeito da
apatia juvenil.
Questão 03)
De acordo com a opinião defendida pelo autor, o fenômeno do
“rolezinho” evidencia a(o)
A) interesse da juventude por atividades de consumo.
B) valorização dos indivíduos por causa do poder de compra.
C) descaso de jovens de periferia por espaços de circulação
pública.
D) contradição de shopping centers por se considerarem
democráticos.
Questão 04)
No 5º parágrafo, a comparação entre o rolezinho e o funk aponta
para uma
A)
B)
C)
D)
discriminação da cultura urbana.
afirmação da identidade dos jovens.
crítica aos grupos sociais de periferia.
valorização da juventude na sociedade.
Questão 05)
“E produzem uma nova gramática política ao afirmar sua classe
num espaço que existe para negá-la.”
Nessa passagem, a palavra em destaque remete ao
A) livro que contém as normas do bem escrever.
B) modelo da competência linguística do falante nativo.
C) conjunto de regras de uma arte, de uma ciência, de uma
técnica.
D) sistema de regras determinantes do uso correto da língua
falada.
Questão 06)
Considere a charge a seguir.
Essa charge estabelece uma correspondência de sentido com a
passagem transcrita em:
“’Sair de rolê...’ significa dar uma circulada despretensiosa
pela vila ou pela cidade.”
B) “Muita gente vai ao shopping tentar encontrar um vazio
deixado pelo “fim” das ruas.”
C) “(...) a circulação no interior do shopping não pode ocorrer de
forma livre e espontânea.”
D) “(...) os pobres podem circular pelo shopping, contanto que
finjam pertencer a outra classe social.”
A)
Questão 07)
Considere o livro Max e os felinos, de Moacyr Scliar.
“[...]. Max não sabia a que atribuir o fato de o jaguar não tê-lo
ainda devorado; àquela altura, nada mais deveria restar dele.
Ossos sangrentos talvez. Um pé. Fragmentos do couro cabeludo.
No momento, contudo, o animal não parecia disposto a atacá-lo.
Continuava imóvel, tranquilo, e até com certo ar de tédio.
Por que, Max não sabia. Pouco conhecia dos hábitos dos felinos;
e mesmo que fosse um especialista nesta área, simplesmente
não estava em condições de raciocinar. Talvez o animal não
tivesse fome, naquele momento; talvez tivessem-no alimentado
antes do naufrágio (para que, se estava destinado a morrer?).”
No final dessa passagem, a pergunta entre parênteses referese ao fato de Max
A)
B)
C)
D)
saber que o naufrágio foi criminoso.
preocupar-se em alimentar o jaguar.
desconhecer os hábitos dos felinos.
julgar que não sobreviveria.
TEXTO: 2 - Comuns às questões: 8, 9, 10, 11, 12
A FALÁCIA DO MUNDO JUSTO E A
CULPABILIZAÇÃO DAS VÍTIMAS
Ana Carolina Prado
“É claro que o cara que estuprou é o culpado, mas as
mulheres também ficam andando na rua de saia curta e em
hora errada!”. “O hacker que roubou as fotos dessas
celebridades nuas está errado, mas ninguém mandou tirar as
fotos!”. “Se você trabalhar duro vai ser bem-sucedido, não
importa quem você seja. Quem morreu pobre é porque não se
esforçou o bastante.” Você sabe o que essas afirmações têm
em comum?
Há algum tempo falei aqui sobre como os humanos
têm diversas formas de se enganar em relação à ideia que têm
de si mesmos, quase sempre para proteger sua autoestima ou
para saciar sua vontade de estar sempre certos. Mas nosso
cérebro não nos engana só em relação a como vemos a nós
mesmos: temos também a tendência de nos iludir em relação
aos outros e à vida em geral. E as frases acima exemplificam
uma maneira como isso pode acontecer: por meio da falácia do
mundo justo.
Por exemplo, embora os estupros raramente tenham
qualquer coisa a ver com o comportamento ou vestimenta da
vítima e sejam normalmente cometidos por um conhecido e
não por um estranho numa rua deserta, a maioria das
campanhas de conscientização são voltadas para as mulheres,
não para os homens – e trazem a absurda mensagem de “não
faça algo que poderia levá-la a ser violentada”.
Em um estudo sobre bullying feito em 2010 na
Universidade Linkoping, na Suécia, 42% dos adolescentes
culparam a vítima por ser “um alvo fácil”. Para os
pesquisadores, esses julgamentos estão relacionados à noção
– amplamente difundida na ficção – de que coisas boas
acontecem a quem é bom e coisas más acontecem a quem
merece. A tendência a acreditar que o mundo é assim é
chamada, na psicologia, de falácia do mundo justo. “Não
importa quão liberal ou conservador você seja, alguma noção
dela entra na sua reação emocional quando ouve sobre o
sofrimento dos outros”, diz o jornalista David McRaney no livro
“Você não é tão esperto quanto pensa”. Ele acrescenta que,
embora muitas pessoas não acreditem conscientemente em
carma, no fundo ainda acreditam em alguma versão disso,
adaptando o conceito para a sua própria cultura.
E dá para entender por que somos levados a pensar
assim: viver em um mundo injusto e imprevisível é meio
assustador e queremos nos sentir seguros e no controle. O
problema é que crer cegamente nisso leva a ainda mais
injustiças, como o julgamento de que pessoas pobres ou
viciadas em drogas são vagabundas [...], que mulher de roupa
curta merece ser maltratada ou que programas sociais são um
desperdício de dinheiro e uma muleta para preguiçosos. Todas
essas crenças são falaciosas porque partem do princípio de
que o sistema em que vivemos é justo e cada um tem
exatamente o que merece.
[...] a falácia do mundo justo desconsidera os
inúmeros outros fatores que influenciam quão bem-sucedida
a pessoa vai ser, como o local onde ela nasceu, a situação
socioeconômica da sua família, os estímulos e situações
pelas quais passou ao longo da vida e o acaso. Programas
sociais e ações afirmativas não rompem o equilíbrio natural
das coisas, como seus críticos podem crer – pelo contrário, a
ideia é justamente minimizar os efeitos da injustiça social.
Uma pessoa extremamente pobre pode virar a dona de uma
empresa multimilionária, mas o esforço que vai ter de fazer
para chegar lá é muito maior do que o esforço de alguém
nascido em uma família rica que sempre teve acesso à melhor
educação e a bons contatos. “Se olhar os excluídos e se
questionar por que eles não conseguem sair da pobreza e ter
um bom emprego como você, está cometendo a falácia do
mundo justo. Está ignorando as bênçãos não merecidas da sua
posição”, diz McRaney.
Em casos de abusos contra outras pessoas, como
bullying ou estupro, a injustiça é ainda maior, pois eles nunca
são justificados – e aí a falácia do mundo justo se mostra ainda
mais perversa. Portanto, toda vez que você se sentir movido a
dizer coisas como “O estuprador é quem está errado, é claro,
mas…”, pare por aí. O que vem depois do, “mas” é quase
sempre fruto de uma tendência a ver o mundo de uma forma
distorcida só para ele parecer menos injusto.
Questão 12)
Há algum tempo falei aqui sobre como os humanos têm
diversas formas de se enganar em relação à ideia que têm de si
mesmos, quase sempre para proteger sua autoestima ou para
saciar sua vontade de estar sempre certos.
Os verbos “haver” e “ter”, em destaque, foram empregados,
respectivamente, com o sentido de
A)
B)
C)
D)
existência/posse.
posse/existência.
tempo decorrido/posse.
tempo decorrido/existência.
TEXTO: 3 - Comum à questão: 13
Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs>.
Questão 08)
Considerando-se o percurso argumentativo do texto, é correto
afirmar que, nele, a autora tem por objetivo
A)
criticar algumas das ações governamentais destinadas ao
combate à criminalidade.
B) condenar o discurso favorável à culpa de vítimas em
situações de violência e/ ou pobreza.
C) induzir o leitor a mobilizar-se contra práticas de preconceito
presentes no cotidiano social.
D) apoiar opiniões relacionadas ao envolvimento das vítimas em
atos de violência física e/ou moral.
Questão 09)
A palavra falácia, utilizada no título e em algumas sentenças ao
longo do texto, pode ser interpretada como
A)
B)
C)
D)
ineficácia.
inverdade.
ingenuidade.
incompetência.
Questão 10)
A palavra destacada foi utilizada para retomar um termo
antecedente na passagem transcrita em:
“A tendência a acreditar que o mundo é assim é chamada, na
psicologia, de falácia do mundo justo.” (4º parágrafo)
B) “[...] a falácia do mundo justo desconsidera os inúmeros
outros fatores que influenciam quão bem-sucedida a pessoa
vai ser [...]” (6º parágrafo)
C) “O problema é que crer cegamente nisso leva a ainda mais
injustiças, como o julgamento de que pessoas pobres ou
viciadas em drogas são vagabundas [...].” (5º parágrafo)
D) “Ele acrescenta que, embora muitas pessoas não acreditem
conscientemente em carma, no fundo ainda acreditam em
alguma versão disso, adaptando o conceito para a sua
própriacultura.” (4º parágrafo)
A)
MEU IDEAL SERIA ESCREVER...
Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada
que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta
quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que
chegasse a chorar e dissesse – “ai meu Deus, que história
mais engraçada!”. E então a contasse para a cozinheira e
telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e
todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem
alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha
história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro,
quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente.
Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e
depois repetisse para si própria – “mas essa história é mesmo
muito engraçada!”. [...]
Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de
espera a minha história chegasse – e tão fascinante de graça,
tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu
coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito,
depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados
e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes
dissesse – “por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto
de prender ninguém!”. E que assim todos tratassem melhor
seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em
alegre e espontânea homenagem à minha história. [...]
E quando todos me perguntassem – “mas de onde é
que você tirou essa história?” – eu responderia que ela não é
minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido
que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara
a contar assim: “Ontem ouvi um sujeito contar uma história...”.
E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu
inventei toda a minha história em um só segundo, quando
pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre
está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena
casa cinzenta de meu bairro.
BRAGA, Rubem. In: A traição das elegantes.
Record: Rio de Janeiro, 1982, p. 93.
Questão 13)
Questão 11)
Em casos de abusos contra outras pessoas, como bullying ou
estupro, a injustiça é ainda maior, pois eles nunca são justificados
– e aí a falácia do mundo justo se mostra ainda mais perversa.
Portanto, toda vez que você se sentir movido a dizer coisas como
“O estuprador é quem está errado, é claro, mas…”, pare por aí. O
que vem depois do, “mas” é quase sempre fruto de uma
tendência a ver o mundo de uma forma distorcida só para ele
parecer menos injusto.
Ao abordar seu próprio processo de escrita, Rubem Braga, em
sua crônica, alude a uma importante função social da literatura.
Segundo o texto, o que motiva o autor a escrever é uma
preocupação artística de natureza
Nesse fragmento, a autora sugere interromper a enunciação de
certas frases construídas com o “mas” porque, caso contrário, se
evidenciaria um discurso
TEXTO: 4 - Comum à questão: 14
A)
B)
C)
D)
acrítico.
ambíguo.
impreciso.
contraditório.
A)
B)
C)
D)
humorística.
transgressiva.
humanizadora.
histórico-social.
1 A tão repetida ideia de aldeia global é uma
fabulação. 2 O fato de que a comunicação se tornou possível à
escala do 3 planeta, deixando saber instantaneamente o que se
passa em 4 qualquer lugar, permitiu que fosse cunhada essa
expressão, 5 quando, na verdade, ao contrário do que se dá
nas verdadeiras 6 aldeias, é frequentemente mais fácil
comunicar com quem está 7 longe do que com o vizinho. A
informação sobre o que 8 acontece não vem da interação entre
pessoas, mas do que é 9 veiculado pela mídia, uma interpretação
interessada, senão 10 interesseira, dos fatos.
11 Um outro mito é o do espaço e do tempo contraídos,
12 graças, outra vez, aos prodígios da velocidade. Só que a 13
velocidade está ao alcance apenas de um número limitado de 14
pessoas, de tal forma que, segundo as possibilidades de cada 15
um, as distâncias têm significações e efeitos diversos e o uso do
16 mesmo relógio não permite igual economia do tempo.
17 A ideia de aldeia global, tanto quanto a de
espaçotempo 18 contraído, permitiria imaginar a realização do
sonho de 19 um mundo só, já que, pelas mãos do mercado global,
coisas, 20 relações, dinheiros, gostos largamente se difundem por
sobre 21 continentes, raças, línguas, religiões, como se as 22
particularidades tecidas ao longo de séculos houvessem sido 23
todas esgarçadas. Tudo seria conduzido e, ao mesmo tempo, 24
homogeneizado pelo mercado global regulador. Será, todavia, 25
esse mercado regulador? Será ele global?
26
Fala-se, também, de uma humanidade 27
desterritorializada, entre cujas características estaria o 28
desfalecimento das fronteiras como imperativo da globalização, 29
e a essa ideia dever-se-ia uma outra: a da existência, já agora, 30
de uma cidadania universal. De fato, as fronteiras mudaram de 31
significação, mas nunca estiveram tão vivas, na medida em que 32
o próprio exercício das atividades globalizadas não prescinde 33
de uma ação governamental capaz de torná-las efetivas dentro 34
do território. A humanidade desterritorializada é apenas um 35
mito. O exercício da cidadania, mesmo se avança a noção de 36
moralidade internacional, é, ainda, um fato que depende da 37
presença e da ação dos Estados nacionais. Sem essas fábulas e
38 mitos, este período histórico não existiria como é: também não
39 seria possível a violência do dinheiro. Este só se torna violento
40 e tirânico porque é servido pela violência da informação.
Milton Santos. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência
universal. Rio de Janeiro: Record, 2006 (com adaptações).
Questão 14)
No que se refere aos sentidos do texto acima e às informações
nele veiculadas, assinale a opção correta.
A palavra “desfalecimento” (Ref.28) está empregada, no
texto, em sentido denotativo.
B) Conclui-se do texto que a “violência da informação” (Ref.40),
associada ao processo de mediação da informação
disponibilizada ao público pelos meios de comunicação,
serve, no momento histórico tratado, aos interesses do
capital.
C) As palavras “interessada” (Ref.9) e “interesseira” (Ref.10) são
empregadas para caracterizar, respectivamente, de forma
positiva e negativa, a interpretação dada pela mídia à
informação por ela veiculada.
D) Conclui-se do segundo parágrafo do texto que a velocidade
da comunicação é responsável pelo aumento da
desigualdade associado à globalização, o que é reforçado
pela afirmação “o uso do mesmo relógio não permite igual
economia do tempo” (Refs. 15 e 16).
A)
TEXTO: 5 - Comum à questão: 15
Paulo M. Buss. Globalização, pobreza e saúde. In: Ciência e Saúde Coletiva.
Vol. 12, n.º 6, Rio de Janeiro, nov./dez., 2007. Internet: <www.scielo.br>
Questão 15)
Assinale a opção correta a respeito de aspectos linguísticos do
texto.
A palavra “iniquidades” (Ref.29) remete aos conceitos de
igualdade e justiça, ainda que pela via da negação.
B) As palavras “novas” e “reemergentes”, na linha 4,
classificam-se como substantivo.
C) Feitas as devidas alterações na pontuação e nas letras
maiúsculas e minúsculas, a expressão “na África” (Ref.12),
de caráter adverbial, poderia ser deslocada para o início do
período, sem prejuízo do sentido original do texto.
D) O trecho “pela difusão global de doenças infecciosas”
(Ref.21) exerce, no período em que ocorre, a função de
agente da passiva.
A)
GABARITO:
1) Gab: D
2) Gab: C
3) Gab: D
4) Gab: B
5) Gab: C
6) Gab: C
7) Gab: A
8) Gab: B
GLOBALIZAÇÃO E DOENÇA
1
virais, como os casos das febres Marburg e Ebola, na África, 13
que apresentam grande potencial epidêmico, é facilitada pelos
14 rápidos deslocamentos em viagens aéreas internacionais, o
que 15 aponta para a necessidade e a importância do reforço
das redes 16 globais de diagnóstico e vigilância em saúde,
operadas pela 17 OMS e parceiros ao redor do mundo.
18 Um caso já clássico é a difusão do vírus da AIDS,
que 19 surgiu possivelmente em região remota da África e se
espalhou 20 por todo o mundo. Até mesmo aves migratórias
podem ser 21 responsabilizadas pela difusão global de doenças
infecciosas, 22 como é o caso da gripe aviária e do vírus da
febre do Oeste do 23 Nilo. Infecções como Salmoneloses e E.
coli têm sido 24 frequentemente relacionadas com contaminação
de alimentos 25 frescos ou industrializados que circulam entre
países.
26 Outra dimensão importante da globalização da
27
saúde
são as reformas setoriais orientadas ao mercado,
preconizadas 28 por organizações internacionais. Elas
resultaram em mais 29 iniquidades em saúde. Não há espaço
para a saúde pública ou 30 para a promoção da saúde nessas
reformas. Seu tema exclusivo 31 são a atenção médica aos
indivíduos e os esquemas de 32 financiamento. O mesmo se
pode dizer dos modelos 33 importados de formação de recursos
humanos, pouco ajustados 34 aos padrões culturais ou aos
sistemas nacionais de saúde.
9) Gab: B
2
Uma destacada faceta das consequências da
globalização sobre a saúde é a possibilidade da 3 transnacionalização das doenças transmissíveis, 4 particularmente as novas
e as reemergentes. Com as facilidades 5 das viagens
internacionais e a difusão do comércio em escala 6 planetária,
microrganismos podem ser rapidamente 7 transportados, por meio
de pessoas, animais, insetos e 8 alimentos, de um país a outro e
de um ponto a outro do globo. 9 Exemplos recentes são as
propagações de microrganismos 10 relacionados à SARS, à
dengue e à gripe aviária.
11 A transmissão interpessoal das febres hemorrágicas 12
10) Gab: B
11) Gab: D
12) Gab: C
13) Gab: C
14) Gab: B
15) Gab: A
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