A Propriedade Intelectual e o seu impacto no acesso a medicamentos: Desafios para a Região IIª Reunião Ordinária da Câmara Setorial de Medicamentos Brasília DF, 8 de Fevereiro 2006 James Fitzgerald Gerente Unidade de Medicamentos e Tecnologias OPAS/OMS Brasil Organização Panamericana da Saúde 1 A Cooperação Técnica da OPAS Acesso a Medicamentos e Propriedade Intelectual Desafios Futuros Organização Panamericana da Saúde 2 O Marco da Cooperação Técnica da OPAS: Alcançar as metas de desenvolvimento do milênio Colocar no centro da agenda global de desenvolvimento o investimento na saúde dos povos Organização Panamericana da Saúde 3 A estratégia de implementação Resolver a agenda inconclusa “Pela última vez” Desenvolvimento Nacional da Saúde “Pela primeira vez” Organização Panamericana da Saúde Enfrentar os novos desafios Proteger os logros alcançados “Para sempre” 4 O avanço das MDM relacionadas com saúde é muito lento, particularmente nos países de baixos recursos IT Pobreza Medicamentos Essenciais Fome Educação Primária Trabalho Disparidade de sexos Mortalidade infantil de < 5 anos Perdão da dívida MDG Pequenos Países Mortalidade Materna Comércio HIV/AIDS Sistema Financeiro Favelas Organização Panamericana da Saúde MAL/INF DIS Água Ambiente potável 5 A Cooperação Técnica da OPAS Acesso a Medicamentos e Propriedade Intelectual Desafios Futuros Organização Panamericana da Saúde 6 Ordem na prateleira Nome genérico nas embalagens dos medicamentos vai ajudar o consumidor a comprar o que precisa por um menor preço Isto é, Nº 1531 – 3 de fevereiro de 1999 Organização Panamericana da Saúde Fonte: Bermudez 2005 7 Os medicamentos salvam vidas e melhoram as condições de saúde das populações • • • • • • • • Infecções respiratórias - 10% dos óbitos nos países em desenvolvimento (4 milhões de mortes) poderiam ser evitados com o uso de antibióticos orais de baixo custo. Infecções intestinais – 2ª causa de óbito infantil. Terapia de Rehidratação Oral (TRO) com solução caseira de glicose e eletrólitos. Sarampo e Tétanos - Vacina. Malária - 1 milhão de mortes/ano. Antimaláricos. Mortalidade materna e fetal - atenção pré-natal (ferro p/ anemia), planejamento familiar (contraceptivos). Infecções de transmissão sexual (ITS) - uso de preservativos e tratamento como método preventivo e tratamento medicamentoso para as infecções (incluindo HIV/AIDS). Tuberculose - medicamentos. Doenças Cardiovasculares - aumento da demanda por tratamento para hipertensão, cardiopatia isquêmica, diabetes... Organização Panamericana da Saúde 8 Agenda inconclusa: muita gente não tem acesso a medicamentos • • • Mais de 1/3 da população mundial não tem acesso Na África menos de 50% da população tem acesso regular A pressão econômica agrava a situação Porcentagem de populações e número de países com acesso regular a medicamentos essenciais = <50% = 50-80% = 80-95% = >95% = Dados não disponíveis Organização Panamericana da Saúde 43 64 30 41 1 9 Perspectivas políticas da OMS sobre medicamentos essenciais • O acesso a medicamentos essenciais é um direito humano • Os medicamentos essenciais não são uma mercadoria como outra qualquer • Um medicamento que pode salvar uma vida deve ser tratado como um "bem público" • É necessário identificar incentivos apropriados para assegurar a I&D de novos medicamentos Organização Panamericana da Saúde 10 O contexto internacional e tendências recentes • 1994 Marrakesh, Marrocos: do GATT ao Acordo TRIPS, encerrando a Rodada Uruguai. • 1995 criada a OMC (Organização Mundial do Comércio), com um Conselho de TRIPS. • Patentes no Acordo TRIPS: obrigatoriedade de conceder proteção às invenções por um mínimo de 20 anos, admitidas exclusões. • 2001 Doha: A Declaração do Acordo TRIPS e a Saúde Pública, os impasses com o Parágrafo 6 até Cancun. • A adequação das legislações patentárias nos países em desenvolvimento e as falhas na utilização das flexibilidades previstas no Acordo TRIPS. Organização Panamericana da Saúde 11 Acesso a Medicamentos e Propriedade Intelectual Mandatos das Assembléias Mundiais da Saúde • 1999 (WHA52.19):Estratégia Revisada de Medicamentos (o extenso processo de discussão, Grupo ad hoc e as dificuldades no consenso). • 2001 (WHA54.11): Estratégia de medicamentos da OMS (proposta inicial da delegação brasileira, discussão com a União Européia e os não-alinhados; reafirma CDH da ONU, produção local, genéricos, preços). • 2002 (WHA55.14): Assegurando acessibilidade dos medicamentos essenciais (reafirmando a Declaração de Doha, o monitoramento do Acordo TRIPS, preços diferenciados, banco de dados de preços). • 2003 (WHA56.27): Direitos de Propriedade Intelectual, Inovação e Saúde Pública (Buscando o equilíbrio entre os interesses dos países em desenvolvimento [Saúde Pública] e as propostas dos EUA [Inovação na indústria farmacêutica]). Organização Panamericana da Saúde 12 Programa de trabalho da OPAS/OMS em Globalização e Acesso a Medicamentos • Orientação sobre mecanismos de contenção de custo de • • • • • medicamentos, incluídos os ARV Formação e instruções sobre as salvaguardas dos ADPIC Elaboração de documentos técnicos de orientação Assessoria para a revisão da legislação farmacêutica (ex. Cambodia, Colômbia, Indonésia, Quênia, Tailândia) Organização de reuniões inter-ministeriais (Saúde, Comércio e Patentes) sobre globalização, PI e acesso a medicamentos Acompanhamento e apoio aos países na discussão do impacto dos TLC na Saúde Organização Panamericana da Saúde 13 Acesso a Medicamentos: O Marco Conceitual para Guiar Intervenções na OPAS Seleção POLÍTICA Financiamento REGULAÇÃO ACESSO Preços USO RACIONAL QUALIDADE Fornecimento (Fonte: 45º Conselho Diretivo da OPAS, setembro 2004) Organização Panamericana da Saúde 14 Acesso a medicamentos (OPAS e diretrizes gerais / CD45/R7, 2004) • Promoção de políticas de medicamentos genéricos (disponibilidade, uso e qualidade); • Estratégias de contenção de custos para os insumos essenciais de saúde pública (preços e propriedade intelectual); • Fortalecer os sistemas de fornecimento; • Reforçar os mecanismos regionais de aquisições (Fundo Estratégico; rodadas de negociação; iniciativas sub-regionais). Organização Panamericana da Saúde 15 Acordo N.5/00 MERCOSUL (Patentes) Prevê-se (...), um impacto significativo nos custos (...), em decorrência do monopólio patentário ... Propõe-se: • O estudo, em cada Estado Membro, sobre o impacto do reconhecimento de patentes no acesso aos medicamentos; • O estudo das legislações atuais na perspectiva de alternativas viáveis para um melhor abastecimento dos medicamentos sob patente, considerados essenciais à população da região; • A ação conjunta dos Estados Membros e Associados, no sentido de flexibilizar as exigências patentárias, em casos de alta relevância para a saúde. Política de Medicamentos Comparada do MERCOSUL, Bolívia e Chile (compromisso assumido na Reunião do Grupo Ad Hoc Política de Medicamentos, novembro 2003) Organização Panamericana da Saúde 16 Monitoramento dos efeitos da globalização no acesso a medicamentos • A pesquisa mundial sobre medicamentos (2003) inclui um capítulo sobre Propriedade Intelectual e Medicamentos – respostas recebidas de 145 países • Rede para o monitoramento do impacto da globalização e dos ADPIC no acesso a medicamentos: – 4 Centros colaboradores da OMS: Brasil, Espanha, Tailândia e Inglaterra – Definição de metodologias, critérios e indicadores – Dados sobre países sobre o uso das salvaguardas dos ADPIC Organização Panamericana da Saúde 17 Foram as Flexibilidades do TRIPS incorporadas na legislação dos países das Américas1? Área / País Licença Obrigatória Importações Opção Paralelas Antecipação Argentina + + (art.36) - Brasil + _ + (10.196/2001) Comunidade Andina (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela) + + (art.54) - Rep. Dominicana + + Honduras México + + Panamá - + (art. 30) + + (art.19) Organização Panamericana da Saúde - 1. Oliveira MA, Bermudez JAZ, Chaves GC, Velasquez G. Boletim da Organização Mundial da Saúde. novembro 2004, 82 (11). Pág. 815-820. 18 As flexibilidades do TRIPS foram incorporadas na legislação dos países das Américas? ÁREA / PAÍS LICENÇA OBRIGATÓRIA IMPORTAÇÕES PARALELAS OPÇÃO ANTECIPAÇÃO Barbados + - - Belize + - - Costa Rica + + + Guatemala + + - Nicarágua + - - Paraguai + + + Trinidad e Tobago + - - Uruguai + + + Organização Panamericana da Saúde 19 Licenças Obrigatórias: sob qual condição pode uma licença ser emitida? Comunidade Andina Argentina Brasil República Dominicana Honduras México Falta de exploração da patente X X X X X X Interesse Público X X X X X X X Emergência Nacional ou Sanitária Remediar práticas anti-competitivas e concorrência desleal Organização Panamericana da Saúde X X X X X X X X 20 Impacto das Avaliações sobre Livre Comércio nos preços de medicamentos em Colômbia, Guatemala, Costa Rica, Peru, Equador e Bolívia Organização Panamericana da Saúde Fonte: OPAS/IFARMA / Universidade de Barcelona, Colômbia março 2005 21 Organização Panamericana da Saúde Fonte: OPAS/IFARMA / Universidade de Barcelona, Colômbia março 2005 22 Resultados do Estudo na Colômbia • A aplicação de um sistema de patente na Colômbia vai incrementar os custos farmacêuticos no país em 68% durante o período 2005 - 2050 • Aumentar a duração da patente de um ano incrementará os gastos de mercados em 5.7% • Aumentar a exclusividade de dado de um ano incrementará os custos totais no mercado em 1.5%. • Aumentar o número de produtos patenteáveis de 80 para 90% dos produto no mercado aumentará os custos em 7.7% para o mesmo período. Organização Panamericana da Saúde Fonte: OPAS/IFARMA / Universidade de Barcelona, Colômbia março 2005 23 A Cooperação Técnica da OPAS Acesso a Medicamentos e Propriedade Intelectual Desafios Futuros Organização Panamericana da Saúde 24 Outros acordos internacionais para avaliar e acompanhar o que diz respeito ao impacto na saúde e ao acesso a medicamentos • GATS (General Agreement on Trade in Services, 1994) – Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços • ALCA (Asociación de Libre Comercio de las Américas; 2005?) – Associação de Livre Comércio das Américas • ICH (International Conference on Harmonization [agencias reguladoras y productores de los EUA, UE y Japón]) – Conferência Internacional sobre Harmonização [agências reguladoras e produtores dos EUA, UE e Japão]) • As pressões atuais decorrentes dos TLC e acordos bilaterais. Organização Panamericana da Saúde 25 Propriedade Intelectual, Investimentos, Inovação e Concorrência Estratégia Tridimensional nas negociações: – Negociações globais – Negociações regionais – Negociações bilaterais (Fonte: MFJ International, abril 2004) Organização Panamericana da Saúde 26 Estratégia Tridimensional (Fonte: MFJ International, 2004) NAFTA Rep. Dominicana URA TRIPS Equador FTAA CAFTA Panamá Chile Peru Colômbia Organização Panamericana da Saúde Verde: acordos concluídos Amarelo: em processo de negociação Rosa: acordos futuros Israel SACU Bolívia EAI Vietnã Cingapura Austrália Jordânia Maroccos Bahrein Tailândia 27 Desafios e foros de discussão • OPAS (SPP, CE, Conselho Diretor; Grupos de Trabalho) • OMS (Conselho Executivo, Assembléia Mundial da Saúde) • CIPIH • Negociações sub-regionais (CAFTA, AFTA [TLC EUA com COL, ECU, PER], ALCA) • REMSAA, REMSUR Santiago, CHILE (30-31 de março / 01 de abril 2005) • Negociação de preços de ARV (10 países em Lima 2003; 2ª Rodada ARG agosto 2005) Organização Panamericana da Saúde 28 Desafios atuais na Região • • • • • • • • TRIPS e TRIPS-Plus Implementar a Declaração de Doha e Cancun TLC’s em curso na Região Mandatos para a OPAS e a OMS (um trabalho inter-agencial) integrados nos foros sub-regionais Intercâmbio de experiências e métodos, p.e. anuência prévia da ANVISA, métodos de avaliação de impacto Linhas de direcionamento para os países Disseminação e Instruções de documentos da OPAS Treinamento de Profissionais da Saúde Organização Panamericana da Saúde 29 Desafios e conclusões 1. As patentes podem representar uma barreira para o acesso a medicamentos, elas conferem um monopólio que retarda a introdução da concorrência (versões genéricas) e afeta os preços. 2. As patentes beneficiam os países centrais porque consolidam a hegemonia das companhias farmacêuticas transnacionais. 3. As patentes aumentam a dependência tecnológica e econômica dos países periféricos. 4. Existem estratégias explícitas em curso hoje em dia para tornar o sistema de Propriedade Intelectual ainda mais rígido ou restritivo (CAFTA, AFTA, ALCA, acordos bilaterais). Organização Panamericana da Saúde 30 Desafios e conclusões (continuação) 5. Os países ainda têm a oportunidade de reformar suas legislações para incorporar plenamente as flexibilidades e as salvaguardas do Acordo TRIPS. Poderão eles fazer uso das mesmas no contexto dos TLC? 6. Empenhadas para conseguir alcançar um equilíbrio entre os direitos de propriedade intelectual e o direito humano de acesso a medicamentos, as organizações internacionais e a sociedade civil organizada estão tendo um papel fundamental e continuarão a tê-lo (exemplo CAFTA). 7. Cabe levantar a discussão: o sistema atual de Propriedade Intelectual deve ser revisto e rediscutido no que diz respeito a produtos farmacêuticos para os países em desenvolvimento – isto é, a recuperação dos investimentos em I&D é justa e deve ser igual? Organização Panamericana da Saúde 31