A PERGUNTA ETERNA: QUAL É O SENTIDO DA VIDA? Mariana Maciel da Silva1 Resumo Este texto trabalha com a grande inquietação humana em busca do sentido para a vida e onde está a resposta para tal inquietação. Trabalha-se com a importância da Bíblia em tal busca e como ela é a única que responde tais questões. Como o ser humano pode aprender a estudar textos tão antigos para responder seu questionamento interior. Busca-se ressaltar a importância das condições históricas e culturais para uma melhor compreensão do texto bíblico. Palavras-chaves: Completude; Inquietação; Existencialismo; Sentido da vida. Abstract This text deals with the great concern in human search for meaning in life and where is the answer to that concern. Works with the importance of the Bible in such a search and as it is the one that answers such questions. Since humans can learn to study ancient texts so to answer his own questions inside. It aims to highlight the importance of historical and cultural conditions for a better understanding of the biblical text. 1 Mestranda em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná. Professora de Ensino Religioso e Filosofia. E-mail: [email protected]. Via Teológica | Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 151 Key words: Completeness; Caring; Existentialism; Meaning of life. Introdução Dentro do ser humano há um vazio, no texto do terceiro capítulo de Eclesiastes no verso 11 é dito que Deus colocou a eternidade no coração do homem. O que poderia ser mais eterno para o ser humano do que entender qual é o sentido de sua vida? A busca do sentido da vida não é um problema atual, o homem sempre buscou um propósito para sua vida. Esse questionamento é intrínseco a todos, mesmo em diferentes épocas e culturas, também não é apenas individual, mas da civilização como um todo; segundo Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, o ser humano permanece com questões existenciais significativas, donde emerge uma angústia dificilmente dominável2. É facilmente observável que embora esse questionamento sempre tenha existido, ele tem aumentado muito, principalmente com o humanismo e o antropocentrismo. A grande mudança que esses movimentos trouxeram foi a retirada da certeza da presença de Deus. Ao falar de cultura, declara ser mais fácil compreender aquilo que é a cultura, aquilo que ela traz para nossa vida diária, quando nos falta3. A história demonstrou de forma clara e inequívoca a 2 Sérgio Rogério Azevedo Junqueira. Construir espaços não imaginados interpretando a fluidez dos tempos. Em Revista Diálogo Educacional, volume 4, número 9, maio/agosto de 2003, p. 61. 3 Tania Ogay. Por uma abordagem intercultural da educação: levar a cultura a sério. Em Revista Diálogo Educacional, volume 10, número 30, maio/agosto de 2010, p. 399. 152 Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 | Via Teológica diferença que ocorre com as pessoas sem a presença da Bíblia. Observe a Revolução Francesa, no seu início foram queimadas Bíblias e proibidas por cerca de três anos, período conhecido como reinado do terror por ter trazido uma instabilidade humana tão intensa. Como a pergunta pelo sentido da vida já foi colocada É inerente do ser humano buscar uma lógica para o seu viver, de certa forma é sempre esse questionamento que está inserido nos diferentes discursos filosóficos, mesmo de forma não tão intencional. Até em uma obra considerada infanto-juvenil, como o livro O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, é colocado exatamente esse questionamento. A obra começa com os desenhos da infância do personagem principal, ele expõe como desejava desenhar e buscar a carreira de pintor4. Mesmo crianças pequenas já buscam por um direcionamento de sua vida, porque elas existem e são importantes, o que podem fazer. O ser humano tem uma capacidade infindável de aprendizagem e crescimento, mas muitos são podados tantas vezes que não desenvolvem todo o seu potencial. Mas embora fosse desiludido, não desistiu da carreira de artista, não mudou sua opinião. É muito importante ser firme, independente da situação, mesmo nos momentos de poda é possível manter seu desejo interior e desenvolver-se. O detalhe é como se lida com diferentes situações. O personagem continuava 4 Antoine de Saint-Exupéry. O pequeno príncipe, p.10. Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora, 1957. Via Teológica | Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 153 a mostrar seu desenho; quando não reconheciam a imagem, ele não mudava sua opinião, mas se adaptava ao grupo, variava o assunto para inserir-se ao meio5. Adaptava-se, mas não desistia de sua busca por resposta; continuava incompleto: “vivi só, sem amigo com quem pudesse realmente conversar” 6. Ele tinha a necessidade de alguém que conseguisse entender até o que era incapaz de explicar com relação aos anseios e frustrações da vida. Alguém que o conhecesse tão bem que fosse capaz de lhe dar um caminho para o propósito de sua vida, ser plenamente feliz.7 Muitas vezes, a vida pode ser comparada a um quebracabeças, quando o homem age racionalmente ou por instinto8 é como se colocasse uma peça em seu jogo, o objetivo final é montá-lo todo, mas é preciso colocar uma peça de cada vez; as ações humanas, quer racionais ou passionais, especificam-se pelo fim.9 É preciso ter paciência que aos poucos se consegue alcançar o propósito inicial: ser feliz encontrando algo que o complete. Na obra de Exupéry, a experiência do personagem muda quando se encontra com o Pequeno Príncipe. Este conseguia entendê-lo, de certa forma sabia o que ele queria, aceitava suas limitações e o preenchia. O Pequeno Príncipe era diferente de tudo o que o personagem conhecia, havia vindo do céu. Ele mostra a 5 Antoine de Saint-Exupéry. O pequeno príncipe, p. 11. 6 Antoine de Saint-Exupéry. O pequeno príncipe, p.11. 7 Tomás de Aquino. Suma Teológica, volume 3, p.1025. 8 Tomás de Aquino. Suma Teológica, volume 3, p. 1027. 9 Tomás de Aquino. Suma Teológica, volume 3, p. 1029. 154 Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 | Via Teológica necessidade de não ir apenas para frente10, de saber quando parar e refletir por onde já se passou. O autor coloca esse conceito novamente quando o Príncipe visita o rei: tu julgarás a ti mesmo... É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio.11 Quando se olha apenas para frente, sem aprender com os erros passados e com as pessoas que estão em torno não é possível ir longe. O detalhe é como julgar a si mesmo e aos demais. Às vezes se apega em detalhes sem importância12. Nem sempre o que é visível é como o ser humano se sente e pensa, só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos 13. Mas no processo de busca por resposta, deve-se estudar de tudo, tentar diversas coisas, mas guardar somente o que é bom. É preciso saber selecionar o que pode responder os questionamentos interiores, é preciso que a gente se conforme em arrancar regularmente os baobás logo que se distingam das roseiras. 14 O Príncipe segue ensinado o caminho para o personagem, mostrando a não valorizar justamente itens que não são tão importantes como: o poder, o valor próprio exagerado ou diminuído, o apego aos defeitos, o estudo e ciência sem experiência pessoal, o emprego como o sentido da vida, a riqueza... A riqueza é tida para preencher o vazio interior, dando um sentido equivocado para a vida, buscar riquezas.15 Mas independente da quantidade de dinheiro que se possua não se 10 Antoine de Saint-Exupéry . O pequeno príncipe, p. 18. 11 Antoine de Saint-Exupéry. O pequeno príncipe, p. 41. 12 Antoine de Saint-Exupéry. O pequeno príncipe, p. 19. 13 Antoine de Saint-Exupéry. O pequeno príncipe, p. 74. 14 Antoine de Saint-Exupéry. O pequeno príncipe, p. 24. 15 Tomás de Aquino. Suma Teológica, volume 3, p. 1035. Via Teológica | Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 155 pode comprar uma amizade sincera e não se pode adquirir um sentido para a vida.16 Mesmo que alguém possua autoridade para ordenar e seja reverenciado por grupos de pessoas, tal fato não é garantia de felicidade completa, pois a fama e a glória podem ser falsas. E ainda assim, o indivíduo se sentirá sozinho, com um vazio.17 Formas de encontrar a resposta Um dos instrumentos que busca responder à grande inquietude humana é a educação. Paulo Freire, um dos grandes nomes da educação brasileira, tinha mais que um método de ensino, tinha uma filosofia de educação. E essa era marcada pelo grande objetivo que tal pensador tinha com o processo educativo, transformar o homem dando um sentido maior para a sua vida e demonstrando como o indivíduo poderia ajudar onde estivesse inserido. Tal objetivo é praticamente algo religioso, os objetivos educacionais poderiam ser comparados aos objetivos da Palavra de Deus. Ting-Toomey coloca o papel da educação comparando a cultura, observe: Quatro funções da cultura: em primeiro lugar, fornecendo ao indivíduo um quadro de referência (por exemplo, valores e normas que definem como é suposto comportar-se uma “boa pessoa”), permite-lhe definir e manter a sua identidade. Assim, a cultura compartilhada permite sentir a inclusão ao grupo, o que satisfaz a nossa necessidade de pertença e permite-nos sentir a segurança e a aceitação. Mas, ao mesmo tempo, essa identificação ao grupo faz-nos sentir as diferenças em relação aos outros grupos: a cultura serve igualmente à regulação das 16 Tomás de Aquino. Suma Teológica, volume 3, 1036. 17 Tomás de Aquino. Suma Teológica, volume 3, 1038. 156 Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 | Via Teológica fronteiras entre os grupos, orienta-nos nas nossas percepções do endogrupo e do exogrupo. Assim, se ela nos conforta na nossa identidade e nos tranquiliza, a cultura limita também o nosso campo de visão, alimenta as nossas atitudes e comportamentos etnocêntricos (razão pela qual a formação intercultural terá como centralidade favorecer a decentração cultural). A última função da cultura que menciona Ting-Toomey (1999) é a da comunicação, central para a educação: em primeiro lugar, é a cultura que dá forma à comunicação, e que nos indica como comunicar (o código linguístico a utilizar, certamente, mas igualmente o quê dizer, a quem, quando e como). A cultura fornece, assim, um guia para realizar a interação com pessoas da mesma comunidade cultural, mas também com pessoas de outras culturas, vincula os indivíduos entre si por meio dos códigos, normas e certificados de interação compartilhados. É pela comunicação que a cultura é transmitida e continuamente reinterpretada.18 As similaridades entre o objetivo da educação e o objetivo da Bíblia são facilmente percebidas em tal citação. Na Palavra Divina, encontra-se um quadro de referências de como o homem deveria agir para manter sua identidade e seu valor próprio. Quando o ser humano percebe que faz parte do amor de Deus se sente incluído em um grupo bastante significativo. Segundo Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, desenvolver a humanidade em cada ser humano é, efetivamente, o objetivo complexo proposto pela educação19, pode haver uma nova visão do ser humano e a promoção da justiça social20, uma educação que tenha como objetivo a igualdade, a solidariedade, 18 Ting-Toomey, S. Communicating across cultures. New York: Guilford, 1999. 19 Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, Construir espaços não imaginados interpretando a fluidez dos tempos. Em Revista Diálogo Educacional, volume 4, número 9, maio/agosto de 2003, p. 62. 20 Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, Construir espaços não imaginados interpretando a fluidez dos tempos. Em Revista Diálogo Educacional, volume 4, número 9, maio/agosto de 2003, p. 64. Via Teológica | Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 157 a aprendizagem instrumental de conhecimentos e habilidades e a transformação21. Ao se observar os dois mandamentos que resumem a Lei de Deus em Mateus capítulo 2 versos 37 até 40, há de se perceber que Deus espera que o homem ame a Ele e ao seu próximo, promovendo justiça social, igualdade e solidariedade, Paulo Freire já dizia que amar é um ato de coragem. Para que tais mudanças ocorram, tais como: reformas sociais, crescimento da humanidade e a compreensão do sentido da vida, é preciso que cada pessoa se conheça. A frase do templo de Delfos “conhece-te a ti mesmo” será sempre um eco filosófico e ao mesmo tempo um clamor para aqueles que pretendem investir e gastar suas energias na educação. Construir no homem o verdadeiro e autêntico homem exige constante e incansável dedicação. 22 O ser humano busca preencher o vazio interior com muitos itens, como drogas, riquezas, trabalho, família, conhecimento, beleza, prazer... Mas mesmo todos esses itens juntos não darão a resposta, não completarão o vácuo como fala o pequeno príncipe: não encontram o que procuram... É preciso buscar com o coração...23 A felicidade plena á algo espiritual, por isso, itens passageiros não completam e não colocam um propósito para a existência humana. Onde seria possível encontrar tal resposta? Será que existe algo onde é declarado claramente o 21 Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, Construir espaços não imaginados interpretando a fluidez dos tempos. Em Revista Diálogo Educacional, volume 4, número 9, maio/agosto de 2003, p. 71. 22 Sérgio Rogério Azevedo Junqueira, Construir espaços não imaginados interpretando a fluidez dos tempos. Em Revista Diálogo Educacional, volume 4, número 9, maio/agosto de 2003, p. 79. 23 Antoine de Saint-Exupéry, O pequeno príncipe, p. 82. 158 Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 | Via Teológica sentido da vida? Somente na Palavra Divina, somente na bondade infinita de Deus pode-se encontrar a felicidade completa.24 Somente na Bíblia o ser humano percebe que faz parte do amor de Deus, pode sentir-se incluído em um grupo bastante significativo, encontra conforto, tranquilidade, alimento para o comportamento e reposta para sua inquietude. A felicidade completa consiste no conhecimento de Deus25, até mesmo porque a perfeição última de um ser consiste em unir-se ao seu princípio26, e o princípio do ser humano é Deus, criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26). É com dedicação que se encontram respostas para diferentes questões, mas para a grande questão do sentido da vida, uma pergunta eterna e infinita só uma resposta é possível, somente o Eterno e Infinito Deus pode ser essa resposta. Poucas coisas podem aquecer o coração como o texto de Jeremias no capítulo 31 verso 3, onde o Senhor fala: com amor eterno te amei e com bondade te atraí. Mesmo Antoine de Saint-Exupéry percebe a única resposta possível para a eterna pergunta do interior humano, a busca pela completude. Os seres humanos são belos, mas frágeis, exatamente como uma flor. E como a rosa do livro, há alguém que ama este ser fraco, frágil e tão cheio de defeitos, o Príncipe. Para o Príncipe, o homem, individualmente, é: Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que 24 Tomás de Aquino, Suma Teológica, volume 3, p. 1047. 25 Tomás de Aquino. Suma Teológica, volume 3, p. 1051. 26 Tomás de Aquino. Suma Teológica, volume 3, p. 1055. Via Teológica | Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 159 abriguei com o paravento... Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. Ela é a minha rosa.27 O amor do Príncipe era tão enorme que optou por morrer para estar ao lado de sua rosa28, o Grande Príncipe fez exatamente a mesma escolha, optou por morrer para ter o homem ao seu lado. Quem é o Príncipe não é um mistério tão grande, e para quem ama o Príncipe a vida toma sentido e o vazio desaparece. Amando o princípe O ponto é saber como desenvolver amor pelo Príncipe. Deus ama a todos, individualmente, conhecendo cada detalhe da vida, até mesmo os pequenos, como quantos fios de cabelo se têm. Mas Ele criou o ser humano com liberdade de escolha, então o amor ao divino não é automático, é uma opção. Para começar a amar o Príncipe é preciso escolher amá-lo e permitir que Ele se achegue. O processo pelo o qual se passa é permitir ser cativado, permitir criar laços... Mas cria-se afeição somente pelo o que se conhece e experimenta. O primeiro passo seria conhecer o Príncipe, Ele é tão maior que o entendimento humano que somente é possível compreendê-lo em partes com a guia e a ajuda do Espírito Santo. O caminho é a Palavra, pois é nela que Ele se revela. Então é necessário lê-la e, ao fazê-lo, encontrar-se-ão as peças para montar este quebra-cabeça. A Bíblia fornece exemplos de personagens que tinham o anseio eterno, ao perceber que homens e mulheres bíblicos 27 Antoine de Saint-Exupéry. O pequeno príncipe, p. 72. 28 Antoine de Saint-Exupéry. O pequeno príncipe, p. 86. 160 Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 | Via Teológica também tinham essa inquietação, será facilmente notado que encontraram respostas e direcionamento. Foram muito amados e sua vida foi muito importante para Deus, pensar que o Senhor do Universo, que tem o mundo na palma de sua mão, se preocupa com os detalhes da vida de cada pessoa é fenomenal, Ele conhece a capacidade e o limite. O amor de Deus é tão grande que Ele ama e escolhe apesar das falhas e fracassos. Uma maneira de conhecer melhor uma pessoa é em sua residência, seu ambiente e sua propriedade. Talvez então o primeiro passo seja ir à casa do Príncipe. Ana, a mãe do profeta Samuel, era estéril, o que para aquele período era o mesmo que ter uma vida sem sentido; afinal, a principal ocupação das mulheres era educar seus filhos. Ela buscou por um direcionamento diante de tamanho vazio, ela percebeu que as respostas que ela procurava não estavam nela e sim muito além e acima. Foi à casa de Deus, é claro que Ele está em todos os lugares, mas em seu templo é quase como se pudesse vê-lo. Lá ela derramou o coração a Deus, orou e chorou ao mesmo tempo, às vezes mais se chora que se ora, mas Deus entende tal oração e sabe como confortar. Não há como estudar um amor tão profundo e completo sem que se atraia por ele. Ao observar a força do amor de Deus, o homem pode tornar-se vencedor; o fator decisivo é o amor do divino. E é por ele, este amor, que não se precisa aguardar uma vitória futura e distante, mas ser vencedor em meio aos conflitos presentes. O amor de Deus é tão imenso que mesmo nos momentos de maiores aflições ele está ao lado. [Deus] apresenta-se como Via Teológica | Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 161 nosso aliado e é a própria fonte onde podemos encontrar nosso poder de suportar, nossa capacidade de superar e ainda nossa determinação de continuar em direção aos nossos objetivos.29 Paulo escreve em sua carta aos romanos belos textos sobre o amor de Deus, no capítulo 11 verso 36, ele relata: tal versículo ressalta o senhorio absoluto do Criador (todas as coisas vêm dele), que dá graciosamente vida e salvação a todos (todas as coisas existem por meio dele), encaminhando a humanidade à comunhão com Deus (todas as coisas vão para Ele). A atitude fundamental do cristão é a do reconhecimento e louvor (a Ele pertence a glória para sempre).30 E o apóstolo afirma anteriormente que nada pode separar o indivíduo do amor de Deus, no capítulo 8 da mesma carta nos versos 38 e 39, Paulo afirma: “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” Morte e vida: o amor de Deus tem força para vencer a morte e renovar a vida para sempre; anjos, principados e potestades: nenhuma força é superior ao poder do amor de Deus; presente e porvir: nem o tempo pode diminuir ou anular tal amor; altura e profundidade: nada, nem mesmo o mais alto do céu ou o profundo do mar pode ser maior que o amor divino; nenhuma criatura: nem o próprio indivíduo com os mais profundos 29 Luiz Alexandre Solano Rossi, Jesus vai ao Mcdonalds: teologia e sociedade de consumo, p. 52. 30 José Bortolini, Como ler a carta aos Romanos: o evangelho é a força de Deus que salva, p. 75. 162 Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 | Via Teológica pecados diminui o amor de Deus. Não há como não amar um Deus tão maravilhoso assim. Conclusão Embora pareça ser um desafio tremendo encontrar um sentido para vida, algo que faça o ser humano se sentir mais completo e preencha o vazio interior, tal ação é possível. O início da existência humana encontra-se no primeiro livro bíblico, Gênesis; nesse livro é dito que o homem foi feito por Deus. Se Deus criou o ser humano Ele tem um propósito. É normal pensar que Deus considera os homens no coletivo, criou a todos e morreu por todos. Mas Deus vê individualmente, criou a cada um e salvou a cada um. E cada indivíduo é conhecido e amado por Deus. Nem sempre se encontram respostas rápidas, Deus respeita o entendimento humano, seus limites e sabe quando o ser estará preparado para uma determinada ação. Mesmo que alguém se sinta pequeno e incapaz, sem muito para oferecer, Deus toma tudo o que Lhe é dado, multiplica-o e lhe dá dimensões completamente novas as quais nunca se teria sonhado. O vazio interior é preenchido quando se conhece a Deus e o seu amor. Nele encontra-se a resposta para qualquer inquietação, o consolo para qualquer angústia, o carinho ansiado, a compreensão necessária... Tem-se o privilégio de saber que não importa quão difícil seja a situação, talvez se esteja cheio de ansiedade, preocupações e medo; mas tem-se certeza de que Deus faz por todos muito mais do que se merece e se consegue pedir. Por isso, nos momentos Via Teológica | Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 163 de maiores aflições, pode-se descansar na certeza de que se está no colinho de Deus. Talvez a questão não seja entender por que Deus permite situações difíceis em que não se consiga nem mesmo explicar como se sente. O ponto é ver Deus, através e em meio ao sofrimento. Nos momentos das lágrimas, Deus não impedirá que elas corram, mas chorará com seu filho. Um Deus assim, tão maravilhoso, merece ser adorado e muito amado. Referências AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, volume 3. Porto Alegre: E. S. de Teologia S. Lourenço de Brindes, 1980. BORTOLINI, José. Como ler a carta aos Romanos: o evangelho é a força de Deus que salva. São Paulo: Paulus, 1997. JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. Construir espaços não imaginados interpretando a fluidez dos tempos. Em Revista Diálogo Educacional, volume 4, número 9, maio/agosto de 2003. OGAY, Tania. Por uma abordagem intercultural da educação: levar a cultura a sério. Em Revista Diálogo Educacional, volume 10, número 30, maio/agosto de 2010. ROSSI, Luiz Alexandre Solano Rossi. Jesus vai ao Mcdonalds: teologia e sociedade de consumo. São Paulo: Fonte Editorial Ltda., 2008. SAINT-EXUPÉRY Antoine de. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora, 1957. 164 Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 | Via Teológica TING-TOOMEY, S. Communicating across cultures. New York: Guilford, 1999. Via Teológica | Mariana Maciel da Silva, Vol. 13, n.25, jun.2012, p. 151- 165 165